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[1º Ano] Platão - Fedro - Charlezine

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FEDRO: - Com efeito. Mas não queres repetir tudo isso, em resumo?<br />

SÓCRATES: - A análise que fizemos demonstrou o seguinte: não é possível fazer<br />

discursos artísticos naturais, quer se trate de ensinar ou de persuadir, posto que se não<br />

conheça a verdade sobre os objetos a respeito dos quais se fala ou se escreve, se não se<br />

estiver em condições de defini-los e de dividi-los em espécies e gêneros, se não se<br />

houver estudado a natureza da alma e determinado quais gêneros de discursos se<br />

adaptam às suas espécies; se não se tiver redigido e ordenado o discurso de tal modo<br />

que ofereça à alma complexa um discurso complexo e à alma simples um discurso<br />

simples.<br />

FEDRO: - Tudo isso é evidente.<br />

SÓCRATES: - E o pouco que dissemos forneceu a solução deste problema: é ou não<br />

conveniente pronunciar e escrever discursos, e em que condições um discurso é<br />

censurado com razão ou injustamente?<br />

FEDRO: - Explica-te melhor.<br />

SÓCRATES: - Imagina que Lísias ou qualquer outro indivíduo tenha escrito ou<br />

escreva um dia a respeito de um assunto privado ou público; que venha a escrever<br />

propostas legislativas, e que publique um livro político na convicção de possuir uma<br />

grande força lógica e convincente; isso mereceria censura. Porque ignorar, tanto no<br />

estado de vigília como em sonhos, o que é justo e o que não é, não saber distinguir o<br />

bom do mau, é coisa que não escapa a condenação, embora o povo inteiro louve<br />

semelhante homem.<br />

FEDRO: - Naturalmente.<br />

SÓCRATES: - Ora, o homem com o qual nós dois desejaríamos nos identificar,<br />

<strong>Fedro</strong>, pensaria do seguinte modo: um discurso escrito, não importa sobre qual assunto,<br />

contém forçosamente grande número de fantasias; nenhum discurso, pois, seja ele<br />

escrito em prosa ou em verso, merece que se envide grande esforço na sua composição.<br />

E isso também se aplica aos discursos escritos ou recitados à maneira dos rapsodos, sem<br />

exame nem instrução, simplesmente para efeito persuasivo. Os melhores discursos<br />

escritos são os que servem para reavivar as lembranças dos conhecedores; só as palavras<br />

pronunciadas com o fim de instruir, e que de fato se gravam na alma, sobre o que é<br />

justo, belo e bom, apenas nelas se encontra uma força eficaz, perfeita e divina a ponto<br />

de nelas empregarmos os nossos esforços; somente tais discursos merecem ser chamos<br />

filhos legítimos do orador, gerados por ele próprio, quando esse orador possui um gênio<br />

inventivo, e quando nas almas de outras pessoas eles engendram descendentes e irmãos<br />

que sejam dignos da família. Quanto aos demais discursos, podemos desprezá-los.<br />

FEDRO: - Eu, pelo menos, assim o desejo.<br />

SÓCRATES: - Bem, já nos divertimos o bastante com discursos. Vai ter com Lísias<br />

e dize-lhe que descemos à fonte e ao santuário das ninfas, e ali ouvimos admoestações<br />

que nos encarregaram desta tarefa: falar a Lísias e a qualquer outro homem que redija<br />

discursos; falar a Homero e a qualquer outro autor de poesias que se destinam ou não a<br />

ser cantadas; e, em terceiro lugar, falar a Sólon e a todos os que escreveram sobre<br />

assuntos políticos. Devemos dizer-lhes o seguinte: se eles estão certos de possuir a<br />

verdade e capazes de a defender, se podem com as suas palavras ir além dos seus<br />

escritos, não devem chamar-se retóricos, e que devem tomar a sua denominação da<br />

ciência que que se dedicam.<br />

FEDRO: - E que nome é esse que tu lhes queres dar?<br />

SÓCRATES: - Chamá-los sábios, <strong>Fedro</strong>, me parece excessivo e só aplicável a um<br />

deus; mas o nome de filósofo ou um epíteto semelhante lhes caberia melhor e seria mais<br />

apropriado.<br />

FEDRO: - E seria o nome que corresponderia à sua atividade.

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