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Obra Completa

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0$ ÉFFEITOS DA CRUZADA<br />

Circumveneamus ergo justum<br />

quoniam inutilis estnobis, et contrarius<br />

est operibus nostris et im-<br />

• properat nobis peccata legis.<br />

(Sap. II-12).<br />

«Façamos pois cahir o justo porque<br />

nos é incommodo, contrario ás<br />

.nossas obras, e nos lança em rosto<br />

as transgressões da lei... Estas coisas<br />

hão de pensar e nellas hão de<br />

errar porque a málicia os cegou»<br />

,(ibd.-21).<br />

Eis as palavras, tiradas do livro<br />

da Sabedoria, que no actual momento<br />

se ajustam rigorosamente á reacção<br />

politico-religiosa neste cahos<br />

em que se está tornando Portugal.<br />

E' na verdade intento manifesto,<br />

ainda que louco, d'esse bando, verdadeira<br />

escória que a humanidade<br />

tem deixado na via do progresso, fazer<br />

com que os homens justos que<br />

«lhe lançam em rosto as transgressões<br />

da lei» caiam no conceito da<br />

Nação que inegavelmente se vae demociatizaiido<br />

com uma velocidade<br />

que causa vertigens áquelles tartarugas<br />

sociaes.<br />

Perante os fulgores fulgentissimos,<br />

que a civilisação faz cl.ispar na<br />

incude onde se transformam as grilhetas<br />

do passado ominoso em armas<br />

de progresso, a reacção estarrecida<br />

sente-se inhabil para discutir o regime<br />

republicano, e por isso, cheia<br />

d'odio impotente, vae babujando os<br />

nossos homens no catholico intento<br />

de insinuar na turba ignara ou desprevenida<br />

o descredito da nossa causa!<br />

Por mais que façam não conseguirão<br />

jámais que a sombra sinistra<br />

de suas almas de lodo enturve a democracia<br />

que alastra e domina. Por<br />

isso, como o néscio do livro da Sabedoria,<br />

elles podem dizer: — «iVòs<br />

insensati vitam illorum aestimabamus<br />

insaniam, et fine illorum sine honore<br />

»<br />

Todavia é consolador ver a inópia<br />

tão pelintra de seus argumentos 1<br />

Quer lhes perscrutemos a sua imprensa<br />

periódica, ou passemos os<br />

olhos por sobre essa ultima invenção<br />

—• Folhas Soltas —não podemos deixar<br />

de esboçar um sorriso de comiseração<br />

observando esses pobres<br />

diabos esperneando esbaforidos na<br />

lucta inglória em que não conseguem<br />

senão produzir dislates insulsos de<br />

jaez dos que lá vem na Jolhita n.° 12<br />

Todavia é consolador, disse eu,<br />

e é consolador porque quando inimigos<br />

d'aquelles. repletos de manhoso<br />

odio, não encontram argumentos melhores<br />

para derruir o edifício que se<br />

levanta, é porque na verdade os não<br />

tem.<br />

Acabo de ler a ultima Folha Solta<br />

e fiquei deveras indeciso sobre a<br />

classificação que havia de dar ao estado<br />

d'alma que ditou aquella inutilidade.<br />

Foi cynismo? —Foi inépcia?<br />

— Foi troçà?<br />

E eu julgo que foi cvnismo e troça.<br />

O auctor bem sabe para quem<br />

escreve. Por isso assim escreveu.<br />

Aquilio não são motivos para intelligencias<br />

ponderarem, é pasto para<br />

rebanho dócil ingerir.<br />

Um grulha dum supposto estudante<br />

monarchico despeja um apontoado<br />

de patacoadas na face lorpa de<br />

um caixeiro republicano sui generis,<br />

feito ad hoc, e o pobre caixeiro fica<br />

boquiaberto e acceita as conclusões<br />

que o seu divertido interlocutor pretende<br />

tirar do aranzel insulso e exquisitol...<br />

Ora valha-o Deus, Fr.<br />

Sincera Verdade 1<br />

Mas, se a lucta emprehendida faz<br />

rir pela inconsistência e imbecilidade<br />

como é feita, nem por isso se<br />

podem nem devem esquecer as santas<br />

intenções dos que nos -«aem á estrada<br />

de trabuco aperrado dispostos<br />

a assassinar-nos.<br />

Não o conseguem porque as armas<br />

são demasiadamente antiquadas<br />

e falhas do alcance devido.<br />

Cautella, reverendos, que as vossas<br />

armas estão excessivamente ferrugentas<br />

e podem despedaçar-se nas<br />

vossas mãos !...<br />

Reverendos, estudae o livro da<br />

Sabedoria, e lá haveis de encontrar<br />

—«porque desgraçado é o que regeita<br />

a sabedoria e instrucção, e sua<br />

esperança é vã, os trabalhos sem<br />

fructo, inúteis as suas obras. (Ib.<br />

JII-17). , a<br />

, Oh! E os reverendos estão despregando<br />

a instrucção § hão 4? la^<br />

ttÉSiSViUClA- Seila-feíra, 14 de agosto de l»Oi<br />

timar-se quando já não tiverem remedio.<br />

Depois é o ranger dos dentes...<br />

Pois leiam a Biblia e leiam a Historia.<br />

Encontrarão numa e noutra<br />

ensinamentos que poderão afastal-os<br />

de se arrojarem ao pego revulso onde<br />

espernearão e onae têm de se atufar<br />

irremediavelmente!<br />

Se em vez de andarem a semear<br />

a discórdia, e a regai-a com o odio<br />

viperino das suas almas pequeninas,<br />

lessem a Biblia, lá encontrariam decerto<br />

as phrases cheias de verdade<br />

e de justiça que ahi lhes deixo; e se<br />

compulsassem a historia encontrariam<br />

lá factos, bem palpitantes ainda,<br />

que os perservariam suficientemente<br />

contra as desvairadas tropelias<br />

a que seus génios irrequietos e<br />

tacanhos os conduzem.<br />

Vamos, reverendíssimos senhores,<br />

divertamos os nossos ocios compulsando,<br />

ligeiramente embora, a<br />

Historia da Rev. de 1820, ou a Hist.<br />

da Rev. de Set.; vejamos como o<br />

momento se assimilhava tão perfei -<br />

tamente ao momento actual; comparemos<br />

como se comportavam os vossos<br />

antepassados, especialmente as<br />

ordens regulares, e depois vejamos<br />

qual o fructo.<br />

«O púlpito e o confessionário também<br />

se puzeram em campo a favor<br />

da cruzada exterminadora dos pedreiros<br />

livres... Em Lisboa tornaram-se<br />

salientes Fr. José Agostinho<br />

de Macedo e Fr. João de S. Boaventura.<br />

.. O confessionário não concorreu<br />

pouco para essas intrigas inclusivamente<br />

dos paes contra os filhos,<br />

dos filhos contra os paes, das esposas<br />

contra os esposos...» Eis como<br />

na Historia da Rev. de 1820 nos apparece<br />

pintada a interferencia dos<br />

frades na vida politica da Nação.<br />

Os taes pedreiros livres eram os<br />

liberaes desse tempo que, com sacrifício<br />

de suas pessoas e bens souberam<br />

derruir esse monstro — o absolutis<br />

mo descarado e insolente.<br />

«Todos os homens perdidos na<br />

opinião publica, cheios de vicios e<br />

crimes, se acoitaram na imprensa<br />

defensora do absolutismo puro. Nesta<br />

sobresae e torna-se saliente Fr. José<br />

A. de Macedo... Fugia de noite do<br />

convento, vestido á secular, e vinha<br />

para as tabernas e bordeis, onde se<br />

entregava a todo o genero de deboche.»<br />

(Id. Hist. da Rev. de Set.)<br />

Este frade Macedo, especie do pa<br />

dre Mattos desses tempos, foi o tristemente<br />

celebre pamphletario da Bes<br />

ta esfolada, onde se filiam perfeita<br />

mente as Folhas Soltas dos successores<br />

d'hoie.<br />

Quem ha ahi que não encontre<br />

perfeita paridade essencial enire os<br />

artigos que estão escrevendo os reverendos<br />

e as pessoas que lhe andam<br />

alugadas, em que aconselham<br />

o rei que faça uso da espada, e estas<br />

palavras do tal frade Macedo — «Trabalhar<br />

o cacete, desancar o bordão,<br />

descarregar o arrocho, são axiomas<br />

eternos e invariaveis regras de justiça...<br />

Haja carne fresca; o povo<br />

quer ver espectáculos; e os dias<br />

de Maio são grandes; chegam para<br />

tudo.» (Besta esfolada) — ?!...<br />

Foi com certeza na Besta esfolada<br />

de Fr. José Agostinho de Macedo<br />

que se inspirou o articulista do<br />

Portugal que queria espada.<br />

Mas, reverendos, a hora não vem<br />

longe em que haverá o tal ranger<br />

de dentes em que falia o Evangelho.<br />

E, se percorrerem a Historia, lá hão<br />

de encontrar elaborado e prompto o<br />

relatorio que ha de preceder o castigo.<br />

Leiam:<br />

«As casas religiosas foram convertidas<br />

em assembleias revolucionarias;<br />

os púlpitos em tribunaes de<br />

calumnias facciosas e sanguinolentas;<br />

e o confessionário em oráculo<br />

de fanatismo e de traição. A nação<br />

inteira viu uma parte do clero regular<br />

trocando a milicia de Deus<br />

pela secular... distribuindo em uma<br />

mão as relíquias dos santos e com a<br />

outra as armas fratricidas, alternando<br />

as verdades do Evangelho com as<br />

mentiras mais absurdas, as orações<br />

com as proclamações mais ferozes,<br />

e, para cumulo de horror, perpetrando<br />

na solidão da noite, desacatos<br />

inauditos, para os assoalhar de<br />

dia como obra dos liberaes.»<br />

Eis como era redigido o relatorio<br />

que precedeu o decreto de 28 de Maio<br />

de 1834 que extinguiu as ordens religiosas<br />

em Portugal.<br />

Onde diz clero regular leiam clero<br />

reaccionário e aquella parte do re»<br />

latorio celebre serve perfeitamente,<br />

pela correspondência aos factos contemporâneos,<br />

para ámanhã se applicar<br />

aos infames que andam envenenando<br />

a nossa nacionalidade que<br />

quer evoluir para o conceito da civilização<br />

que avança.<br />

Alfred Fouillée<br />

FLORO HENRIQUES.<br />

D'uma importante revista francêza<br />

começamos hoje a traduzir um<br />

artigo d'este notável homem de sciencia,<br />

que tão conhecido é em todos os<br />

meios scientificos, e cuja auctoridade<br />

é das que melhor appoio têem<br />

n'uma obra já muito extensa e d'um<br />

mérito excepcional.<br />

Vem a tradução a proposito do<br />

que por vezes temos ouvido dizer, a<br />

correligionários nossos sobretudo:<br />

que os"so

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