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GOjMBRA EM 1527<br />
Por cartas régias expedidas de<br />
Coimbra, a 17 de julho de 1527, foi<br />
mandado por D. João III aos corregedores<br />
das seis comarcas, em que<br />
0 reino se dividia, fazer o arrolamento<br />
dos moradores existentes na<br />
area do seu districto.<br />
Alguns d'esses cadernos perderam-se;<br />
um existe no Museu Britânico<br />
(o da Beira) para onde foi por<br />
processos que a honradez dos anglosaxões<br />
nunca quiz esclarecer.<br />
4 Oh! Os honrados anglo-saxões!<br />
O nosso illustre correligionário,<br />
sr. Braamcamp Freire, tem publicado<br />
no Archivo Historico Portuguez,<br />
monumento de probidade scientifica,<br />
ê de porfiado e benemerito trabalho<br />
que honra sobremaneira a imprensa<br />
portuguesa, o das çidades e vylas e<br />
loguares dAntre Doyro e Mynho e<br />
moradores delias e termos e asy com<br />
guempartem, e, no ultimo numero, o<br />
do Registo âas çidades mias e logares<br />
que ha em esta comarqua de Esrnadura<br />
e dos moradores que ha em<br />
cada um delles.<br />
E' um bello serviço que, como outros<br />
muitos, deve o nosso paiz ao illustre<br />
e modesto historiador.<br />
D'este ultimo trabalho, agora publicado,<br />
transcrevemos a parte que<br />
diz respeito a Coimbra.<br />
It. A cidade dè Coimbra tem 1209 vizinhos<br />
ho Corpo da cidáde, a saber: na Almedina, que<br />
he dos muros a dentro sã 370 moradores, e os<br />
tnais Vivem no arrabalde da cidade; e ha mais<br />
J20 conegos da Sé e clérigos beneficiados. Sam<br />
por todos 1329, e destes sã 134 cavaleiros, escudeiros,<br />
e o mais he povo.<br />
It. Tem esta cidade 29 quintas que sã de<br />
pessoas moradoras na cidade, que ja vão neste<br />
numero acima, e vivem dentro na cidade e as<br />
Vezes nas quintas,'<br />
Titolo do termo desta cidade — It. A quinta<br />
tía Porteia tem... — A quintã de Coselhas tem<br />
1 visinho.— A quintã dos Lagares, 1.—A quintã<br />
da Copeira de Sã Jorge, 2 — A quintã de Villarinho,<br />
1. — A quintã de Ponte de Seira, 1.<br />
Titolo das aldeas da parte dalém do rio<br />
contra Lixboa em que a cidade tem toda a<br />
jurdição cível e crime. — It. A aldea de Sá<br />
Martinho do Bispo tem 44 visinhos. — A aldea<br />
de fala, 71, com a Curujeira, Pedecão, Sogeira,<br />
Montesaom, que são provas desta juradia.—<br />
A aldea das Coalhadas, 48. — A aldea da Orvieíra,<br />
57, com- os tres Sylvaes, e da Ribeira e<br />
Rebolim e Apanl, povoas desta juradia— A<br />
aldea de Taveiro, 48, com os moradores das<br />
povoas de casal Brandão e Reveles. — A aldea<br />
de Vila Pouca do Campo, :8 — A aldea do<br />
Ameal, 33. — A aldeada Nohra, 5i. — A aldea<br />
do Sebal Gramde, 25.— A aldea do Sebal Pequeno,<br />
18 —A aldea do Sovereiro, ai. — A<br />
aidea de Vila Pouca e Pão Quente, 2.. — A<br />
aldea do Avenal, 6 —A aldea do Beiçudo, 14.<br />
— A aldea de Condeixa a Nova, 155. — A aldea<br />
de Casconha, 40, com os de Orelhudo e<br />
Vila Nova. — A aldéa de Condeixa a Velha,<br />
33, com as povoas de Valada, Atadoa, Amixieira,<br />
Avesada. — A aldea de Eira Pedrinha, 18.<br />
—A flldea dAlcabedea», 24. — A aldea da<br />
Fomte Cuberta tem...—A aldea da Faça-<br />
Japiym, tem 54, cô sua juradia. — A aldea de<br />
Legacãom, 20, com Alcalamonque, Casas No-<br />
Vas, Chanqua. —A aldea do AlVOrge, 73, com<br />
Aljzazede, Outsiro, Vila nova e a Bemposta. -4<br />
A aldea de Alfaiar, 32. — A aldea de Amsiãos,<br />
67 com Casal, Fonte Galega, Constantina,<br />
Ribeira do Açor, e Cervedêla, Lousal, Escampado,<br />
os Empojados e o casal dAfomso de Pera;<br />
era Ansião são 24 e os mais nestas povoas.<br />
— A aldeade Almoster,41. — A aldea de Traveíra,<br />
i3.'— A aldeá de Alcoéice, 20.— A aldea<br />
de Bemdafe, 12. — A aldea da Feiteira, 22.<br />
— A aldea da Palheira e Carvalhais, 18. — A<br />
aldea de Vila Nova junto de Çarnache, 5. —<br />
A aldea deMalega, t2. — A aldea da Cruz, 8.<br />
— A aldea dAntanhol dos Cavaleiros, 19. — A<br />
aldea da Cegonheira, 10 — A aldea dAllmalages,<br />
04. — A aldea de Rio de Galinhas, »5. — A aldea<br />
de Bruscos, 22. — A aldea da Brunheira<br />
tem 2.. — A aldea da Bera, 34. — A aldea dg<br />
Castel Viegas, 54. com a Conreiria, Curraes,<br />
P-ousada. — A aldea de Seira e Soveral, 47,<br />
com São Frutuoso, Alagoas, Anços, Ponte de<br />
Seira, Carvalho e Bouça. — A aldea de Orneres<br />
tem... — A aldea de Moçela tem.. — A<br />
aldea de Sam Migel ( ja vay no nnmero atras).<br />
A aldea de Oliveira tem... — A aldea dArnfana,<br />
19, —A aldea deSamFipo, 18.— A aldea<br />
de Algaça e Poiares, e em Algaça 38 vizinhos.<br />
Titolo dos logares é que á cidaee de Coimbra<br />
íl somente a jurdiçao crime, que está da<br />
dita baiiea de Lixboa. — It. Pereira té 121 vizinhos»<br />
— Vali de Todos, 24. — Vila Cham, 47.<br />
— Pombalinho, 42, — Semide, 100 viziuhos com<br />
a Granja.<br />
Titolo das aldeas que estam da banda daqué<br />
contra o Porto, é que a cidade tem toda<br />
a jurdiç'áo eivei e crime.— It. A a aldea da<br />
Pedrulha com as duas povoas das Ademeas,<br />
18 vizinhos.-^- A aldea de Vilela, 32. — A aldea<br />
de Brasfemes, 19, com Lapa Chã Gondira,<br />
Ribeira.— A aldea de Souselas, 23. — A aldea<br />
do Outeiro dapar de Botãom} i3. — A aldea<br />
da Marmeleira té .. — A aldeia de Trexomil,<br />
íõ. — A aldea da Sioga té...—A aldea da<br />
toucaria do Monte, 16. —A aldea dAlcara-<br />
•ues.. • — A aldea de Amtosede, 16. —A aldea<br />
cíe Sã Sylvestre, 43. — A aldea da Zouparia<br />
do Campo, 37 —A aldea dArduzube e<br />
Víila") Ver>tei i5. —A aldea de Qynbres...<br />
— A aldea àc Sã Mar(tinho) dArvore té 43<br />
vizinhos cÕ as ^usadas. - A aldea de Lamarosa,<br />
3o. —A aldeJ de Cedelgas, 16. —A aldea<br />
de Cepins a Grand.*,- 17- — A aldea de Cento*<br />
o Pequeno, 29, cõ oí de Oiantes e Caçois,<br />
Alfora. - A áldea de Vu2 ííova dOutil,<br />
17. — A aldea da Cordinha, 27. — A «*«« de<br />
Mçrtede, ty - A ald** Revira, 10.rr A #1*<br />
KESISTEJtfCf A — Domingo, 30 de agosto de 190S<br />
dea de Travaço, 6. — A aldea dos Bolhos, 25.<br />
— A aldea de Ventosa e Avenal, 24, a saber:<br />
10 é Vétosa e 14 no Avenal. — A aldea da<br />
Pampilhosa, 12. — A aldea de Larçã, 12.— A<br />
aldea de Cazes, 27.— A aldea da Figeira, 3o<br />
— A aldea de Lorvão, 6a — A aldea de Val<br />
de Canas, 21. — A aldea do Soveral, 38, cô as<br />
povoas das Alagoas, Sã Frutos, a Bouça, Coéços,<br />
a Pomte.<br />
Titolo dos logares que estam da dita parte<br />
do Porto é que a dita cidade té somente a<br />
jurdição crime. — It. Eyras té 5a (He do mosteiro<br />
daCelas (1). — Vilarinho, i3. — Botãom,<br />
76 (do mosteiro de Lorvão). — Monte Redondo.<br />
.. — (Pero Feo/. — Vila Nova de Moçarros...<br />
(do cabido de Coimbra). — A Vaqança,<br />
outenta... (He do Bispo de Coimbra). — Mealhada<br />
ma té... (He do Bispo).— Casal Conba<br />
.. (Do Bispo). — Outil, 21 (de Diogo Botelho).<br />
— Paredes, 8 (He couto do Cab'doJ. —<br />
Agim, 53 vizinhos (He do Cabido).<br />
Soma de todos os da cidade e termo, 4.570<br />
Aizinhos.<br />
Esta cidade de Coimbra tem de termo pera<br />
a parte de Lixboa sete legoas, e demt o deste<br />
termo jazé as vilas de Çarnache e Rabaçal. E<br />
pera a parte do Porto tem quatro legoas. E<br />
pera a parte da vila de Mõte Mor o Velho té<br />
duas legoas de termo.<br />
Parte a dita cidade cõ as vilas ds Tétugel<br />
e Amçam, e cõ Figueiró do Campo, e cõ a vila<br />
da Ega, e cõ a vila de Penacova, e com a vila<br />
da Lousam, e cõ a vila de Penela, 9 cõ o Rabaçal,<br />
Miranda e Çarnache, e Avelãs do Caminho<br />
e Cantanhede.<br />
E por todo asv achar ser verdade por éformação<br />
que tomey cõ Inofre de Põte, vereador<br />
em a dita cidade, ele ho asynou Jorge fernandez<br />
o esprevy no dito dia atras.<br />
O sr. dr. Antonio Thomé, presidente<br />
do tribunal de árbitros avindores<br />
em Coimbra, officiou á camara<br />
municipal propondo as gratificações<br />
de 60(51000 e 20)5000 réis, ao amanuense<br />
da camara sr. Antonio Maria da<br />
Costa e guarda da mesma sr. Joaquim<br />
da Mattos, que desempenharam<br />
durante o anno as funeções de secretario<br />
e official de diligencias do mesmo<br />
tribunal.<br />
A camara, accedendo a tão justo<br />
pedido, mandou pagar as gratificações<br />
propostas.<br />
EXClMO AS CAIDAS DA-RAMA<br />
Previnem-seas pessoas que mandaram<br />
guardar bilhetes para a excursão<br />
ás Caldas da Rainha, a qual<br />
se deve realisar no proximo dia 6 de<br />
Setembro, que estes devem ser procurados<br />
ate ao proximo dia 2, passado<br />
o qual terão o augraento de 200<br />
réis. v/<br />
A camara municipal auctorisou,<br />
ouvido o respectivo inspector, dez<br />
bombeiros municipaes e um chefe a<br />
acompanhar os bombeiros voluntários<br />
na excursão que promovem a<br />
Aveiro e para que convidaram a acompanhà-lop<br />
00 forabeíros mupieipaft»,<br />
Movimento republicano<br />
Foi nomeado porteiro do matadouro<br />
municipal, em substituição de<br />
José Nunes, fallecido, o sr. José do<br />
Espirito Santo.<br />
Escola de Sernache<br />
Foram hontem enviadas pela camara<br />
para a escola primaria do sexo<br />
masculinc de Sernache trinta<br />
carteiras articuladas, do medeio official.<br />
Hoje em Villa Pouca, freguezia<br />
do Ameal, cebbra-se a festa da Senhora<br />
da Conceição.<br />
A camara mandou executar com<br />
urgência na Companhia Alliança, de<br />
Massarellos, fara os serviços municipalisados<br />
ds agua, 530 metros de<br />
tubo de ferro fundido de 0 m ,195; 130<br />
metros de tubo de 0 m ,l; 100 metros<br />
de 0 m ,080; 5 tès de reduzir de 0 m ,l25<br />
a 0 hl ,080; 4 curvas de 0 m ,12õ; 3 curvas<br />
fazendo aais de 135 graus de<br />
Na Pampilhosa<br />
Reuniram no dia 27, no Centro<br />
Republicano José Falcão, as commissões<br />
paroquiaes republicanas de<br />
S. Bartholomeu e Santa Cruz, sob a<br />
presidencia do nosso prestante correligionário,<br />
sr. Evaristo José Cerveira.<br />
Tratou-se do recenseamento eleitoral<br />
das duas freguezias resolvendo-se:<br />
— Requerer á camara cópia do recenseamento<br />
eleitoral de S. Bartholomeu<br />
e Santa Cruz;<br />
— Nomear commissões que organisem<br />
os trabalhos de recenseamento<br />
em cada uma das ruas das duas<br />
freguezias;<br />
— Distribuir um manifesto convidando<br />
os cidadãos com direito ao voto,<br />
em cada freguezia a inscreverem-se<br />
no respectivo recenseamento.<br />
Ficou encarregado pela assembleia<br />
de requerer á camara cópia do<br />
recenseamento, o sr. Evaristo José<br />
Cerveira.<br />
E' este o primeiro trabalho a fazer<br />
e por isso muito nos apraz noticiar<br />
a iniciativa dos nossos correligionários.<br />
Cento e vinte conegos da sé e clé-<br />
Não é, na vesperade uma eleição<br />
rigos beneficiados e cento e trinta e<br />
que tudo se pôde fazer ou improvi-<br />
quatro cavalleiros e escudeiros 1.<br />
sar. O verdadeiro trabalho a fazer<br />
no Partido Republicano é o da orga-<br />
Como isto tem minguado em sannisação—<br />
organisação para a guertidade<br />
e nobreza....<br />
ra e organisação para a paz.<br />
Não queremos com isso dizer que<br />
a pi-opaganda seja desnecessária ou<br />
S. THIAGO<br />
inútil. A propaganda republicana,<br />
Têem continuado com actividade como missão educativa, impõe-se no<br />
as obras de demolição neste templo, nosso paiz em que tão descurada an-<br />
estando já a descoberto a parte da da a educação civica.<br />
abside que não foi cortada por occa- Mas por isso mesmo os trabalhos<br />
sião do alargamento da antiga rua de organisação partidaria são para<br />
do Coruche.<br />
applaudir, porque elles são o motivo,<br />
O absidiolo do lado da epistola<br />
como por mais de uma vez aqui te-<br />
foi cortado por as mesmas obras, e<br />
mos accentuado, da propaganda mais<br />
não pôde saber-se, por não desco-<br />
energica e mais efficaz.<br />
berto ainda, o que restará do absi- Os republicanos precisam de se<br />
diolo do lado do evangelho. conhecer todos, e de trabalhar em<br />
As obras de demolição dentro da commum; só assim conseguirão a<br />
egreja pozeram a claro mais uma confiança reciproca, a unidade que<br />
barbaridade das feitas, provavel- faz a força dos grandes partidos pomente<br />
no século passado, para említicos.bellezamento do templo.<br />
A força dos republicanos conhe-<br />
Toda a pareda da nave lateral que cida hoje, é enorme em Portugal.<br />
corria acima da ogiva da Capella do Contra elles é impossível o successo<br />
Santíssimo era decorada de uma rica para a monarquia, em lucta legal,<br />
composição gothica, d'um rendado em eleições não falsificadas.<br />
precioso, de um grande effeito deco- Pois muito maior é ainda do que<br />
rativo.<br />
se julga, a sua força, porque em Por-<br />
Vêem-sie ainda tanto nesta comtugal ha muitos republicanos que<br />
posição, que começa a pôr-se cuida- nunca se affirmaram por um acto<br />
dosamente a descoberto, somo nos publico, mas que se não recusariam<br />
fustes e capiteis das columnas do sem duvida, se a isso fossem incita-<br />
portico da capella vestígios de pindos.pintura e douradura antiga que fa- Ha exemplos de todos os dias.<br />
zem adivinhar o effeito decorativo e O recenseamento eleitoral é sob<br />
sumptuoso da capella.<br />
este ponto de vista um auxiliar po-<br />
Tudo isto foi partido a camarderoso de propaganda, alem do que<br />
tello, emplastrado de alvenaria, e co- representa como educação civica,<br />
berto de cal para dar á parede um como di^cij)iinador de vontades, co-<br />
aspecto liso que harmonisasse com mo lacior da organisação de um for-<br />
a regularidade fria que custosamente te partido politico.<br />
se deu ao venerando mouumento, tirando-lhe<br />
toda a belleza de linhas<br />
e decoração, tornando-o sombrio e Mercado D. Pedro V<br />
húmido como um cárcere da inquisição.<br />
Foi auctorisado até 31 de dezembro<br />
do corrente anno o trespasse da<br />
barraca n.° 72 que tinha de arrendamento<br />
a sr. a Nada mais bem combinado : jantava<br />
no Hotel Avenida com o Fernandes<br />
Costa ás 7 horas; cavaco<br />
puxa cavaco, levantava-se a gente<br />
aa meza ás 8 e meia; passeava um<br />
quarto de hora a ver se haveria motivo<br />
para ficar; ás 8 e 48 metia-se<br />
no rápido para a Pampilhosa ; assistia<br />
á inauguração do theatro e á uma<br />
hora estava em Coimbra outra vez.<br />
Uma noite bem passada!<br />
Não havia nada melhor combinado.<br />
Jantei alegremente, conversei, ri,<br />
e ás 9 e 20 estava eu só na Pampilhosa.<br />
Esperava ver muita luz, ouvir foguetes,<br />
uma philarmonica a tocar,<br />
gente a correr açodada, toda a animação<br />
ruidosa das inaugurações dos<br />
theatrinhos das terras pequenas.<br />
Olhei e não vi dos lados do theatro<br />
clarão de maior.<br />
Puz o ouvido á escuta e nada ouvi.<br />
Os empregados arrastavam-se<br />
com o andar lasso do costume pela<br />
estação.<br />
Havia manobras de trens, silenciosas,<br />
na sombra.<br />
Teriam transferido o espectáculo?<br />
Era o que faltava!<br />
Mal chego á porta ouço uma voz<br />
alegre dizer:<br />
— Ora ahi está quem vem representar<br />
1<br />
Tomo o dito como allusão ás minhas<br />
escandalosas barbas brancas e<br />
fico meio arreliado.<br />
— Ora viva o seu Zé !...<br />
Vou a corrigir e a dizer que não<br />
sou o Zé, que sou o Quim, quando<br />
me salta adeante de varapau e chapéu<br />
redondo um homem que se põe aos<br />
abraços ao outro.<br />
O Zé era elle, um rapagão corado,<br />
de gravata garrida, o rosto animado<br />
com a gravata, com um olhar vivo,<br />
e uma vontade de fallar em todo o<br />
rosto, que bem parecia em verdade<br />
que vinha para dizer um monologo.<br />
Entro e fico alegremente surprehendido.<br />
O theatro é alegre, com um tom<br />
artístico que se vê até na grade de<br />
madeira que ao fundo serve de teia<br />
á musica e que tem cora motivo decorativo<br />
uma lyra.<br />
No panno do fundo, Apollo de lyra<br />
contra o peito e braço estendido "recita<br />
a Judia ás musas.<br />
Estam só quatro.<br />
As outras fugiram de Apollo e<br />
fizeram bem, coitadas.<br />
O tecto é alegre, cheio de nuvens<br />
brancas, pequeninas, como algodão<br />
cardado, por detraz dos quaes anginhos<br />
estendem fitas coloridas de seda.<br />
As columnas que sustentam o tecto<br />
são elegantes, de um córte moderno.<br />
A meia altura correm os camarotes<br />
decorados com escudetes tendo<br />
os nomes dos nossos grandes autores<br />
dramáticos.<br />
O publico é aceiado, com um ar<br />
de alegria e festa, gente forte, cora<br />
Maria da Piedade rostos de saúde, e riso alto e franco<br />
Pessoa, no mercado D. Pedro V, ao Abundam os empregados do ca-<br />
sr. Joaquim Bento Raposo.<br />
minho de ferro, que olham para mim<br />
com um ar de quem me conhece bem<br />
E eu fico sem saber se hei de<br />
cumprimentar.<br />
Estou cada vez mais tímido...<br />
Rompe a orchestra, bem composta,<br />
superiormente dirigida por Ribeiro<br />
Alves.<br />
Acaba o trecho entre applausos.<br />
Os camarotes estão já cheios de<br />
senhoras, com toilettes elegantes, de<br />
bom córte, e um bom gosto que surprehende.<br />
Torna a tocar a musica.<br />
Deante de mim um clarinete pequenito<br />
com uma camisa de riscas<br />
azues, vermelhas e brancas,'que me<br />
parecem accentuadas por uma gravata<br />
vermelha, num symbolismo intencional.<br />
Tocam a Manon, e o trecho é do<br />
clarinete que, no esforço longo, baixa<br />
a ponta do nariz e arredonda os buracos<br />
pequeninos das narinas.<br />
O clarinete engole engasgado a<br />
ultima nota, acaba a Manon e sóbe o<br />
panno para o Desquite.<br />
Lembram-me as minhas noites<br />
do Theatro Académico, o Lagoaça,<br />
o Ferreira da Silva e o j|ay de Qliv«iraf|í<br />
r<br />
O publico ouve, interessa-se, r<br />
e acaba applaudindo.<br />
Chega o primeiro intervallo. No<br />
bufete ha animação extraordinaria.<br />
Por toda a parte encontro conhecidos<br />
Parece o jogo dos abraços.<br />
O Primeiro Marido de França é<br />
a historia dum pae de familia que<br />
vem a Paris, para casa do genro,<br />
em companhia da mulher que o julga<br />
o mais exemplar dos esposos,<br />
ao passo que desconfia do genro que<br />
é o mais exemplar dos maridos.<br />
Ora o sogro, que é o Cardoso, do<br />
Gymnasio, tem em Paris uma amante<br />
com quem se corresponde por o telephone<br />
do genro.<br />
A mulher, Elvira Torres, surprehendendo<br />
numa d'essas correspondências,<br />
julga que se dirigem ao genro,<br />
a quem exproba o procedimento<br />
e que corre para casa da amante do<br />
sogro. Este ao ser informado pela mulher<br />
corre para matar o genro.<br />
•A sogra corre a comprar a amante<br />
de fórma a conseguir o flagrante delicto<br />
com o genro.<br />
E Leonor, Palmyra Torres, a esposa<br />
falsamente trahida, fica a chorar.<br />
Cae o panno e a gente continua<br />
a rir...<br />
No intervallo corro a informarme<br />
do comboio.<br />
Parte ás 12 e 12.<br />
Tenho tempo.<br />
O segundo acto passa-se em casa<br />
de Aurora, a tal amante, Maria Pia.<br />
Eu gosto immensode coutar estas<br />
peças do meu tempo. Acho-lhe outra<br />
graça que não têem as de agora. Sinto-me<br />
mais novo quando fallo d'ellas.<br />
Porque será?<br />
Eín casa de Aurora, junta-se o<br />
sogro, o genro, um advogado que é<br />
o amante encartado.<br />
A sala de Aurora é alegre, de côr<br />
um pouco viva, mas bem pintada e<br />
revelando a habilidade bem conhecida<br />
do sr. Eduardo Ferraz.<br />
Succedem-se os episodios comicos<br />
e o genro, o Carlos de Oliveira,<br />
é apanhado num falso flagrante delicto.<br />
Maria Pia mostra em todo o acto<br />
toda a seducção da sua voz, a elegancia<br />
do seu corpo, a finura do seu<br />
sorriso, a malicia do seu olhar.<br />
Decididamente não ha mulheres<br />
como as do meu tempo...<br />
Perdão, minha senhora 1<br />
Demais a mais no meu tempo não<br />
havia mulheres!<br />
Que estou eu a dizer ?...<br />
Também a culpa é toda minha.<br />
Quem me manda a mim andar<br />
por fóra, por theatros, sem interesse<br />
nenhum ?...<br />
Mau I Agora és tu que vaes zangar-te<br />
1<br />
O melhor é voltar á peça...<br />
O acto acaba a rir, e, a rir, pergunto<br />
eu ao visinho que hotas são.<br />
— Meia noite e meia hora.<br />
— Meia noite e quê ?...<br />
— Meia noite e trinta e cinco.<br />
— Lá perdi eu o comboio!<br />
E queria o Carlos de Oliveira que<br />
eu lhe fosse fallar, depois de me fazer<br />
perder o comboio I<br />
Não me levanto do lugar.<br />
Olho para o clarinete e reconheço<br />
um musico pequeno que ha no 23.<br />
Era falso o symbolismo da camisa<br />
e da gravata I<br />
Desvio a vista e dou com o meu<br />
amigo Machado, tocando extasiado o<br />
seu vioioncello, o olhar vago. a cabeça<br />
num movimento sinuoso e cadenciado,<br />
como se boiasse pendida na<br />
calmaria de um mav de harmonia.<br />
Sóbe o panno.<br />
0 acto é de Cardoso que convence<br />
a mulher de que é o primeiro marido<br />
da França e que diz sacrificar-se<br />
pela felicidade de filha fazendo-se<br />
passar pelo amante da Aurora.<br />
Cae o panno e eu ando para o ho*<br />
tãl em procura de quarto.<br />
Chega um rapaz «.ovo, de cára<br />
rapada a correr, e eu vou a pedir-lhe<br />
quarto, quando reconheço um dos<br />
actores.<br />
Mette- se no quarto, fecha a porta»<br />
Chega o criado, emfim 1<br />
Ao mesmo tempo chega outro â<br />
entrega-lhe a chave d'um quarto, cujo<br />
nome procura ler.<br />
— È' o dois.<br />
— Que é o dois, sei eu l<br />
Vae para o quarto e» que f»