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. DIRETOR<br />
P. Fernandes Costa<br />
RedaçSê e administração<br />
CENTRO REPUBLICANO JOSE' FALCÃO<br />
Largo da Freiria, 5<br />
Administrador e proprietário<br />
MANUEL DE OLIVEIRA AMARAL<br />
1<br />
O lcinas da composição • impressão<br />
8ot da Uoedt, 12 e 14 — Roa Direita, 9,11« ii Órgão do Partido Republicano de Coimbra<br />
N.° 1 3 2 7 GOIMBR. k Quinta-íeira, 9 de julho de. 1908 14.° A N N O<br />
0 ESCÂNDALO<br />
Continua na ordem do dia, e certamente<br />
não se liquidará quando a<br />
monarcl ia o quizer, o famoso escandalo<br />
dos adeantamentos illegaes.<br />
Por mais que os criminosos e os<br />
cúmplices sé empenhem, empregando<br />
para isso até os meios mais incorrectos,<br />
em deturpar o valor das<br />
palavras, na convicção de todos os<br />
de boa íé, está definitivamente assente<br />
que adeantamentos illegaes são puros<br />
furtos praticados conscientemente.<br />
Como tal têm de ser considerados<br />
por toda a gente, porque se impõe a<br />
evidencia e escusado será querer recusa-la.<br />
Ultimamente apparece nos jornaes<br />
dos homens comp; omettidos a<br />
doutrina nova, porque é muito recente<br />
e só agora apparece, tantos<br />
mezes depois de ser posta em publico<br />
esta magna questão, — de que se<br />
trata, não de adeantamentos—mas<br />
de encontros de contas, lançamentos<br />
em conta corrente, dadas as relações<br />
financeiras entre o thesouro e a casa<br />
do rei.<br />
Estão desnorteados, e só agora<br />
começam a assentar numa orientação<br />
que, suppõem elles, os poderá<br />
salvar das responsabilidades criminaes<br />
que os ameaçam.<br />
Contas correntes... mas quaes?<br />
O rei, já elles commetteram a heresia<br />
monarchica de o dizer, é um<br />
Íunccionario publico, e como tal recebe<br />
o seu ordenado, tendo direito<br />
também a certos adeantamentos, como<br />
os demais empregados públicos;<br />
— além d'isto na posse da coroa contem<br />
em usufructo certos bens, que a<br />
corôa deu de arrendamento á nação<br />
para installação de certos serviços<br />
públicos; — portanto, a casa real tem<br />
que receber os ordenados do rei, das<br />
rainhas, do príncipe, dos infantes, de<br />
tuti quanti apparece de parasitarismo<br />
real, vivendo á custa da nação,<br />
sem nada produzir para ella.<br />
D'estas relações financeiras resultou<br />
que o Estado nem sempre pagou<br />
ao rei o que lhe devia como arrendatário,<br />
ficando, pois, a íazenda real<br />
credora por'estas rendas. De modo<br />
que, os dinheiros fabulosos dados á<br />
casa real, têm sido dados como entregas<br />
á conta de débitos maiores.<br />
Assim, quando os ministros ordenavam<br />
aquellas extraordinarias entregas,<br />
de modo algum laziam adeantamentos<br />
illegaes; pois uns, eram<br />
adeantamentos a um íunccionario<br />
publico, outros eram entregas por<br />
conta, feitas em conta corrente!<br />
Eis a traços largos a extranha e<br />
inqualificável defeza que homens<br />
deshonrados põem em circulação,<br />
para edificação dos honestos, pasmo<br />
dos ingénuos e argumentação dos<br />
velhacos.<br />
Como íunccionario publico, o<br />
rei só poderia ter direito, se tivesse,<br />
a adeantamentos feitos dentro das<br />
prescripções legaes, na percentagem<br />
fixada por lei e para serem pagas<br />
dentro do anno economico respectivo;<br />
e não lhe poderia ter sido<br />
íeito outro sem se encontrar iritej^ments<br />
j?a£o o anterior, jjuç fa-<br />
talmente havia de ser liquidado no<br />
anno economico a que respeitasse<br />
Como senhorio, com direito a receber<br />
as suas rendas, — dando de ba^<br />
rato a hypothese inadmissível de o<br />
rei poder dar de arretidamento ao<br />
estado os bens do estado, o que é<br />
outra questão, perante a lei resol<br />
vida no sentido opposto ao que os<br />
adeantadores pretendem,— se o estado<br />
algumas rendas lhe devesse facillimo<br />
seria determinar o quaniwn,<br />
sem confusões mysteriosas e illegaes.<br />
Ora averiguado está já hoje e<br />
pelo proprio lallecido rei foi confessado,<br />
que ao estado deve centenas<br />
de contos de adeantamentos illegaes.<br />
Estes loram já confessados<br />
pelos que mais interesse tinham em<br />
os occultar, de modo que a defeza<br />
que agora surge é, além de inepta,<br />
impertinente e irritante.<br />
Façam o que fizerem os adeantadores,<br />
o significado moral e jurídico<br />
d'esses adeantamentos é incontrovertivel—praticaram<br />
um verdadeiro<br />
crime que o Cod. Penal define<br />
e pune.<br />
E urge que não se limite a questão<br />
dos adeantamentos á casa real,<br />
por criminosos que sejam, e são; é<br />
indispensável que em breve venha<br />
para publiso tudo o que respeita a<br />
adeantamentos a quem quer que<br />
seja. Não vão elles, os criminosos,<br />
procurar desviar as attenções somente<br />
para a família do rei, na ideia de<br />
que esta compromettida como já está,<br />
já não ha quem a salve, e por isso<br />
que se procure salvar os outros...<br />
Esclareça-se tudo; obriguem-se<br />
a repôr os adeantados} e castiguemse<br />
os adeantadores, que todos elles<br />
são réos do mesmo crime.<br />
Confirmando. . .<br />
0 manhoso do padre, crendo que<br />
alguém não tivesse comprehendido.<br />
vem ainda no mesmo artigo fornecer<br />
mais notas para aclarar a questão.<br />
Assim diz: «nas profundezas do<br />
coração existem semicobertas de cinzas<br />
vivas como brazas... lembranças<br />
de passadas grandezas saudosas»<br />
...<br />
Então não está claro agora que o<br />
pae exemplar pretende referir-se ás<br />
cinzas a que foram reduzidos muitíssimos<br />
dos nossos antepassados<br />
pelo Santo Tribunal ?...<br />
Providencias<br />
Pedimos a quem competir, se digne<br />
providenciar para que acabe o<br />
estado vergonhoso em qne se encontra<br />
a parte da rua do Corvo, para<br />
além do largo da Forninha, que está<br />
convertida num verdadeiro saguão,<br />
havendo occasiões em que não se pôde<br />
por ali passar devido ao mau cheiro<br />
das aguas e outras immudicies<br />
que lá se acumulam»<br />
No hospital de S. Thomé, falleceu<br />
o sr. José Maria da Encarnação, d'esta<br />
cidade.<br />
Foi nomeado para syndicar dos<br />
actos do reitor do lyceu"da Guarda,<br />
sr. João Monteiro Saccadura, e do<br />
professor provisorio no mesmo estabelecimento,<br />
sr. José Antonio da<br />
Silva, o sr. dr. Antonio Garcia Ribeiro<br />
de Vasconcellos, professor de<br />
Théologia aa yniverp$açie.<br />
A autonomia universitária<br />
Vimos nos jornaes que a Universidade,<br />
pela voz dos seus professores,<br />
representou ás camaras pedindo<br />
a approvação do bill, respeitante<br />
á lei dictatorial, que lhe havia concedido<br />
a autonomia administrativa.<br />
E' absolutamente indispensável<br />
que a representação seja devidamen<br />
te attendida, porque não se comprehende,<br />
como uma Universidade, onde<br />
se forjíim os administradores do<br />
paiz, não tenha capacidade para a si<br />
própria se administrai* como mais<br />
convenha aos seus interesses de toda<br />
a ordem.<br />
Quem melhor Ho que os professores<br />
da Universidade pode avaliar<br />
as necessidades e as urgências do<br />
seu ensino ? Porque motivo é que a<br />
despeza mais pequena e a mais re<br />
duzida tem de ser auctorisada sempre<br />
pela estação tutelar?<br />
Este regimen decentralisaçãoque<br />
de longa data se tem desenvolvido,<br />
é absolutamente injustificável, e só<br />
é comprehensivel em face da importância<br />
que os homens do governo<br />
com os respectivos directores geraes<br />
se querem arrogar, mostrando-se<br />
envolvidos sempre nos mais minus<br />
culos assumptos, fazendo depender<br />
da sua omnipotência o mais pequeno<br />
despacho, a mais comesinha au<br />
ctorisação.<br />
As ideias de centralisação administrativa,<br />
que parecem ter norteado<br />
alguns dos nossos estadistas, e que<br />
actualmente são ainda dominantes,<br />
não são a consequência lógica do<br />
conhecimento scientifico das necessidades<br />
d'um povo, correspondem<br />
antes a um plano d'absorpção, traçado<br />
com os intuitos mais censuráveis<br />
de se crearem grandezas, de se<br />
tornarem indispensáveis, esses homens<br />
nefastos dos adeantamentos.<br />
Dá-se, por vezes, como desculpa<br />
das medidas centralisadoras, alguns<br />
factos conhecidos de má administraçãs<br />
que tem apparecido num ou outro<br />
concelho, numa ou outra corporação.<br />
Não colhe a desculpa. E' como<br />
se a um futuro medico se negasse<br />
a aprendizagem juno da cama dos<br />
doentes, com receio dos perigos inherentes<br />
a tal convivência.<br />
E' este o motivo fundamental que<br />
tem levado á ruina economica e á<br />
desmoralisação administrativa este<br />
povo, outr'ora tão cioso das suas prerogativas<br />
locaes.<br />
Em vez de fomentar o desenvolvimento<br />
d'uma boa educação civica,<br />
respeitando as crenças e as iniciativas<br />
de cada um, único meio de crear<br />
o interesse pelas coisas publicas, os<br />
governantes teem feito precisamente<br />
o opoosto, dando occasião a que a<br />
indifferença, uma verdadeira ferrugem<br />
moral, ataque e corrompa um a<br />
um todos os caracteres de virilidade<br />
que fizeram a gloria d'um povo. As<br />
pequenas prevaricações despertavam<br />
os sábios da governação em sobresaltos<br />
moralistas, e com ellas se justificava<br />
mais uma medida reaccio^<br />
naria, que desde logo attingia todas<br />
as corporações locaes, cujo poderio<br />
ainda os affrontava.<br />
Qualquer coisa lhes tem servido<br />
de pretexto para apertar mais a rede<br />
espessa quê nos tolhe os movimentos<br />
e difficulta a vida, mas que não<br />
alcança os adeantadores, deixandoínes<br />
as mãos suficientemente livres<br />
para praticarem as grandes delapidações,<br />
mettendo-as ousadamente e<br />
cinicamente nos cofres públicos, onse<br />
accumula o sangue e a vida de<br />
tantos que labutam de sol a sol, sem<br />
regalias, sem commodidades. sem<br />
esperança de poderem um dia descançar,<br />
honrados e estimados pela<br />
eommunidade para a qual tanto trat>'ilham.<br />
Nem a Universidade escapou a<br />
essa onda de reacção. Foi declarada<br />
indigna de se administrar, ella que<br />
deveria ser considerada como o cerebro<br />
da nação, a parte mais nobre<br />
e mais altamente collocada, onde<br />
elles, os administradores infalíveis<br />
e . . . felizes, vinham buscar os conhecimentos<br />
que julgavam indispen<br />
sáveis aos seus planos de vida.<br />
A autonomia universitária é o<br />
primeiro passo a dar para a remodelação<br />
do nosso ensino superior, e<br />
ainda que a lei dictatorial até certo<br />
ponto tira com uma mão, o que dá<br />
com a outra, entretanto alguma coisa<br />
se obtém já. E' preciso, pois, pedir<br />
com urgência a approvação d'essa<br />
lei, e ouro sobre azul seria se o par<br />
lamento a modificasse, aperfeiçoando-a,<br />
fazendo entrar nella a jorros,<br />
a luz intensa e radiosa da liberdade.<br />
A existencia d'uma larga autonomia<br />
universitária é condição indispensável<br />
para que os benemeritos<br />
se lembrem do ensino superior,<br />
concedendo-lhes um pouco do òeu<br />
supérfluo, na certeza que esse pouco<br />
será sempre utilisado integralmente<br />
para o bem commum.<br />
Na situação actual, fazer dadivas<br />
á Universidade, seria atirar para o<br />
antro voraz do Terreiro do Paço<br />
mais um punhado d'ouro, que em<br />
breve se sumiria soflregamente por<br />
algum dos múltiplos escaninhos que<br />
a Lucta nos vem revelando, com<br />
assombro geral, de quantos só agora<br />
começam a esfregar os olhos longo<br />
tempo adormecidos.<br />
Venha, pois, a autonomia. Mesmo<br />
como estimulo aos professores,<br />
para melhor amarem e mais respeitarem<br />
a instituição, collaborando<br />
mais interessadamente na sua vida<br />
intima, não permittindo os aviltamentos<br />
que de vez em quando lhe<br />
rebaixam o prestigio e apoucam a<br />
sua influencia moral.<br />
E' indispensável fomentar o amor<br />
dos professores da Universidade pela<br />
instituição a que pertencem, não cuidando<br />
dos homens. Só assim se pôde<br />
ter a necessaria coragem e a precisa<br />
independencia para sacrificar alguns<br />
ramos apodrecidos e infectantes,<br />
que põem em perigo grave uma<br />
instituição por todos os titulos muito<br />
respeitável.<br />
Venha a autonomia universitária.<br />
Será o primeiro passo para o futuro<br />
que sonhamos.<br />
E a Resistencia, como um dos<br />
jornaes que a população de Coimbra<br />
mais estima e d*isso muito se<br />
pódem orgulhar os nossos directores,<br />
interpreta certamente os desejos<br />
da cidade, associando-se em seu<br />
nome e com o maior interesse, á representação<br />
que os professores da<br />
Universidade acabam de enviar ao<br />
parlamento.<br />
A Camara Municipal de Coimhra,<br />
oomo legitima representante da<br />
cidade, não deveria perder o ensejo<br />
de afirmar a existencia d'este sentimento<br />
de solidariedade, que dia a<br />
dia mais profundamente prende o<br />
povo de Coimbra á sua velha Uni-<br />
versidade.<br />
Apprehensão<br />
Hiegou a esta cidade, sob prisão,<br />
Albano Martins, casado, trabalhador,<br />
do logar de Trinhão, concel ho da Pampilhosa<br />
da Serra, a quem foram apprehendidos<br />
55 pés de erva santa<br />
(tabaco).<br />
Fizeram a apprehensão as rondas<br />
da guarda fiscal n. 06 17, de Espinho;<br />
18, da Louzã; 19, de Arganil;<br />
e as de Belmonte, Janeiro de Cima,<br />
Sarnadas e Estreitos, do concelho<br />
de Castello Branco, sob o cominando<br />
do fiscal da companhia dos tabacos<br />
José Ribeiro de Mendonça.<br />
O preso pagou a multa de 10$055<br />
réis e deu entrada na cadeia a fim<br />
de cumprir 6 mezes de prisão, penalidade<br />
a