Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
famoso e adulado confidente, podia prestar os mais decididos serviços aos planos<br />
da grande ambiciosa.<br />
Por isso, naquela bonita noite de verão, noite romântica de luar, foi com um<br />
sorriso encantador que a Sra. Marquesa de Santos acolheu o perfumado amigo do<br />
Imperador:<br />
— Seja s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong>-vindo, meu caro Chalaça!<br />
— Deus a salve e guarde, Sra. Marquesa!<br />
Brejeira, a irradiar graças e feitiços, D. Domitila começou risonhamente:<br />
— Recebi ont<strong>em</strong>, com as rosas, o convite para o banquete. E n<strong>em</strong> sei o que<br />
mais deva agradecer: se o convite, se as rosas.<br />
— Oh, Sra. Marquesa, as rosas...<br />
— Lindas! Lá estão na jarra do meu toucador. É pena que <strong>em</strong>urcheçam tão<br />
breve. Se não, meu caro Chalaça, havia de me florir com elas para ir ao banquete.<br />
— A Sra. Marquesa não precisa florir-se... atalhou o Chalaça madrigalesco;<br />
Vossa Excelência, mesmo s<strong>em</strong> uma flor, será fatalmente a primavera da festa!<br />
— S<strong>em</strong>pre caçoista, tornou D. Domitila com um sorriso. S<strong>em</strong>pre a dizer<br />
chalaças!<br />
E tomando bruscamente um ar de desconsolo:<br />
— Primavera! Pobre primavera... Uma primavera que escandaliza as festas<br />
<strong>em</strong> que vai! Não é verdade, Chalaça?<br />
— Escandalizar, Sra. Marquesa, escandalizar, propriamente, não<br />
escandaliza. O povo anda aí a comentar, de fato, o convite feito Vossa Excelência.<br />
Mas o povo é s<strong>em</strong>pre o mesmo linguarudo, comenta tudo e todos! E não dar trela<br />
n<strong>em</strong> ouvidos a esse velho maledicente...<br />
— Mas há, realmente, muito comentário?<br />
— Muito! Um comentário enorme, respondeu o Chalaça; foi um choque!<br />
— Mas por que Chalaça? Por quê? Qual a razão para tanto alarma?<br />
O Chalaça sorriu. E melífluo, com a sua voz açucarada, explicou<br />
ingenuamente a D. Domitila aquilo que a paulista já estava cansada de saber:<br />
— É que todo mundo está convencido que houve completo ma pimento<br />
entre Vossa Excelência e Sua Majestade...<br />
— Ora veja que tolice, aparteou a Marquesa. Não houve rompimento algum.<br />
Tudo é pura invencionice. O Imperador, depois que enviuvou, anda muito recluso.<br />
Não recebe ninguém. N<strong>em</strong> a mim! Mas isso não significa que sejamos inimigos.<br />
Longe disso...<br />
— Pois olhe, Sra. Marquesa, continuou o valido, eu, que sou íntimo do Paço,<br />
eu também julguei que Vossa Excelência estivesse arrufada com o Imperador.<br />
— Eu? Que idéia... E por quê?<br />
O Chalaça ergueu-se. Aprumou-se. Consertou o nó do plastron. E maldoso,<br />
com o seu sorrisozinho diabólico, murmurou:<br />
117