Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
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www.nead.unama.br<br />
ficava ao longe, lá para as bandas do mar. Era a Sra. Marquesa de Santos, a grande<br />
paixão de D. Pedro I, que ia, seguida pelo Moraizinho, a caminho do seu desterro...<br />
AS TÁBUAS QUE LEVOU D. PEDRO...<br />
O Marquês de Barbacena, o neto ilustre daquele ilustre Felisberto Caldeira<br />
Brant, contratador de diamantes e ouro des<strong>em</strong>barcou no Rio de Janeiro, de volta da<br />
sua melindrosa missão diplomática <strong>em</strong> princípios de março de 1828. Alto e louro,<br />
tipo magnífico de hom<strong>em</strong>, o fidalgo mineiro ostentara, durante meses pelas mais<br />
<strong>em</strong>proadas Cortes da Europa, a sua bela e simpática estampa de plenipotenciário.<br />
Jorge IV recebera-o com grande acolhimento. Luís XVIII com muitas e decididas<br />
gentilezas. Francisco Leopoldo, com as mais significativas honras e magnificências.<br />
Tratara, <strong>em</strong> Saint James, com o famoso Wellington. Em Paris, com o inofensivo<br />
Barão de Damas. Em Viena, com o perigosíssimo Metternich. Recebera, no Hotel<br />
Crillon, a Duquesa de Clarence. Conferenciara, mais duma vez, com o Duque de<br />
Orleans. Comera, ao lado do fidalguíssimo Duque de São Carlos, amigo íntimo e<br />
confidente do Rei de Espanha, os jantares opulentos do Barão de Rothschild. Ao<br />
deixar a Áustria, como prova de subida honra, o Imperador Francisco Leopoldo, com<br />
as suas próprias mãos, entregou-lhe, numa caixa lavrada, a Grã-Cruz da Coroa de<br />
Ferro. E o grande Metternich, a mais t<strong>em</strong>ível cabeça diplomática do t<strong>em</strong>po,<br />
mimoseou-o, num gesto suntuoso, com um jogo de cristais e de porcelanas,<br />
maravilha de realização, que mandara fabricar, especialmente para o mineiro, na<br />
Imperial Fábrica de Viena.<br />
Ao saltar no Rio, ainda atordoado dos cambaleios da nau, Caldeira Brant<br />
dirigiu-se imediatamente para São Cristóvão. D. Pedro, que ardia <strong>em</strong> desejos de<br />
ouvir o diplomata, recebeu-o com grande ânsia.<br />
— Vamos, Marquês, ao meu caso. Vossa Excelência não pode calcular a<br />
minha irritação. Eu ando com os nervos sacudidos. Não compreendo, francamente,<br />
o fracasso do meu casamento. É inconcebível! Que é que estão fazendo os meus<br />
amigos lá pela Europa? E Metternich? E meu sogro? Eu tenho a impressão de que<br />
ninguém age. Vamos lá, Marquês! Diga-me que há. Explique-me b<strong>em</strong> esse<br />
negócio...<br />
Barbacena sentia, por aquele escachôo de frases, o quanto de azedume<br />
refervia no coração do Monarca. E s<strong>em</strong> poder disfarçar, n<strong>em</strong> atenuar, os insucessos<br />
humilhantes das negociações, lá se foi, ponto por ponto, a enumerar as catástrofes:<br />
— Em Turim, conforme eu já comuniquei a Vossa Majestade, não foi<br />
possível o casamento. Não houve meio de se convencer uma das princesas a vir<br />
para o Brasil. E a razão mais preponderante, ao que me informou Metternich, foi o<br />
não querer<strong>em</strong> as princesas separar-se dos pais. Aquilo é um apego... É uma<br />
adoração...<br />
— B<strong>em</strong>, b<strong>em</strong>, atalhou D. Pedro, isso <strong>em</strong> Turim. Mas a Baviera? Que é que<br />
houve <strong>em</strong> Munich?<br />
— Obstáculos de toda espécie. A Imperatriz da Áustria, que não se havia<br />
nunca separado do Imperador, foi, <strong>em</strong> pessoa, persuadir uma das princesas. Mas<br />
tudo <strong>em</strong> vão. A idéia de vir para tão longe, de vir morar na América, neste fim do<br />
mundo, amedrontou as princesas. Que é que se havia de fazer? No entanto, ao que<br />
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