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Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera

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— Faça entrar o Primeiro-Ministro!<br />

www.nead.unama.br<br />

D. Pedro, com grande calma aparente, tomou da papelada das devassas.<br />

Começou a folhear tranqüilamente o calhamaço. José Bonifácio, com o seu aspecto<br />

venerando, s<strong>em</strong>pre sisudo e grave, penetrou no aposento <strong>em</strong> que estava Sua<br />

Majestade. D. Pedro apontou-lhe uma cadeira:<br />

— Sente-se, sr. Ministro!<br />

A cena, entre ambos, naquele ambiente carregado de eletricidade, foi rápida<br />

e fulminante. José Bonifácio começou:<br />

— Os bons amigos, Majestade, são aqueles que diz<strong>em</strong> a verdade. E eu, que<br />

me honro de ser devotado amigo do Imperador, careço de dizer-lhe uma verdade<br />

que, receio, talvez vá magoá-lo.<br />

— Não importa, Sr. José Bonifácio. Pode falar s<strong>em</strong> rebuço. A respeito de<br />

que v<strong>em</strong> Vossa Excelência conversar comigo?<br />

— D. Domitila de Castro.<br />

— Domitila de Castro? Ah! E que é que acontece, sr. Ministro?<br />

— Por toda a Corte, Majestade, não se fala de outra coisa a não ser desse<br />

caso. Há muito cochicho. Há muito comentário picante <strong>em</strong> torno dessa história.<br />

D<strong>em</strong>ais — Vossa Majestade me perdoe — mas há de concordar que t<strong>em</strong> sido afoito:<br />

o despejo do Teatrinho Constitucional, por ex<strong>em</strong>plo, foi imprudente.<br />

D. Pedro escutou aquilo s<strong>em</strong> irritação visível. José Bonifácio continuou:<br />

— Além disso, Majestade, o caso que acaba de suceder hoje, na Capela<br />

Imperial, é gravíssimo.<br />

O velho Andrada fitou o Imperador b<strong>em</strong> nos olhos. E com dest<strong>em</strong>or, severo<br />

e áspero, disse as coisas claras:<br />

— As Damas da Imperatriz têm razão <strong>em</strong> se mostrar agastadas. Nada mais<br />

justo do que a atitude que tiveram. Afinal de contas, Majestade, colocar a Domitila<br />

nas tribunas imperiais, é querer o Imperador nivelá-las a essa mundana. E afrontálas<br />

com a companhia duma decaída.<br />

O Imperador mordeu o lábio. Súbita palidez espalhou-se-lhe no rosto. Os<br />

seus olhos chamejaram.<br />

— E que pensa, sr. Ministro, que eu deva fazer?<br />

— Vossa Majestade, que t<strong>em</strong> a obrigação do ex<strong>em</strong>plo, deve, como Esposo,<br />

como Pai, como Imperador, terminar de vez com essa ligação. E preciso, Majestade,<br />

para o respeito e para o decoro do Trono, que Vossa Majestade obrigue essa mulher<br />

a sair imediatamente da Corte.<br />

— Sr. José Bonifácio! atalhou D. Pedro, com voz vibrante, que cortava: o<br />

respeito e o decoro do Trono são coisas que compet<strong>em</strong> ao Imperador, e não aos<br />

Ministros, de vigiar. E essa mulher, de que Vossa Excelência fala com tanto desdém,<br />

veio à Corte por minha ord<strong>em</strong>. Permanece na Corte por minha ord<strong>em</strong>. E é por minha<br />

ord<strong>em</strong> — fique sabendo! — que ela não sairá da Corte!<br />

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