Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
Lá está o Marquês de Caravelas, fardão bordeaux, com seu espadim<br />
dourado de Primeiro-Ministro. A Viscondessa do Rio Seco, trigueira e fina, exibe,<br />
com vaidade, o seu riquíssimo vestido chegado de Paris. O Sr. Conde de Palma, o<br />
peito a faiscar de crachás, muito efusivo, conversa ruidosamente com a Marquesa<br />
de Gabriac, Embaixatriz da França. O velho Marquês de Maricá, barba-piolho e<br />
calva filosófica, discute Platão com o venerando e erudito Visconde de Cairú. O<br />
Barão de Santo Amaro, camarista Honorário de Sua Majestade, cochicha num canto,<br />
sisudo e grave, com o encarquilhado Marquês de Inhambupe, Ministro dos<br />
Estrangeiros. O Visconde de São Leopoldo, com as suas maneiras adocicadas,<br />
comenta política com o Baependi, aquele afável, gentilíssimo Manuel Jacinto<br />
Nogueira da Gama. D. Lídia Mafalda de Souza Queirós e Ribeiro de Rezende, a<br />
educadíssima senhora Marquesa de Valença, cont<strong>em</strong>pla, com o "lorgnon", b<strong>em</strong><br />
d<strong>em</strong>oradamente, a "Morte do Doge Mascantoni", famosa tela da Sra. Marquesa de<br />
Santos.<br />
Na sala do cravo, o vaidoso Marcos Portugal, aquele <strong>em</strong>proado compositor<br />
chegado do Reino, vai prelecionando com sonoridade sobre as excelências da<br />
música italiana. E o pintor Debret, com o seu nariz pontudo e as suas suíças<br />
grisalhas, narra pitorescamente ao seu amigo e companheiro, Nicolau Taunay,<br />
artista de talento que o Conde de Barca mandara vir da França, aquela viag<strong>em</strong> de<br />
arte que fizera à Itália <strong>em</strong> companhia do grande David.<br />
A Sra. Marquesa de Santos, soberba e refulgente, com o seu olhar sutil, a<br />
reparar <strong>em</strong> tudo, adeja de sala <strong>em</strong> sala, encantadora, a distribuir sorrisos para todos,<br />
com frases de mel a cada passo. O Moraizinho, o Tenente esbelto e louro,<br />
encostado a um batente de porta, vai seguindo com os olhos a Sra. Marquesa.<br />
seguindo-a por todo o canto, romanticamente, com aqueles seus olhos muito<br />
languidos e muito compridos...<br />
Nisto, com espanto de toda a gente, o Marquês de Paranaguá, velho e<br />
casquilho, todo cortesão, surge inesperado naquele burburinho de festa. D. Domitila,<br />
ao ver aparecer o elegante Ministro, o seu grande e feroz inimigo, corre alvoroçada<br />
para recebê-lo.<br />
— Oh, Sr. Marquês! Que honra...<br />
Mas o Sr. Marquês viera por um instante. Um instante só! E explicou<br />
desolado:<br />
— Uma enxaqueca, Sra. Marquesa! Uma enxaqueca impiedosa! Mas eu,<br />
apesar disso, não quis me furtar o prazer de vir felicitá-la. Vim por um instante. Um<br />
instante só...<br />
A Sra. D. Domitila, desfazendo-se cm agradecimentos, com o seu melhor<br />
sorriso, lá vai, com muitas mesuras e rapapés, conduzindo o altaneiro Ministro até o<br />
salão. A assistência, entre risinhos e cochichos, goza aquele delicioso bocado de<br />
cena. É um pratinho incomparável. Mas a senhora Marquesa, com redobrada<br />
amabilidade, <strong>em</strong> pleno salão, b<strong>em</strong> alto, para que todos a ouviss<strong>em</strong>:<br />
— Já viu a Duquesa, Sr. Marquês?<br />
— Ainda não tive essa honra, Sra. Marquesa! E estou ansioso por tê-la.<br />
96