Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ouviu?<br />
www.nead.unama.br<br />
— Zefa! Traga uma xícara de café para o Sr. João Pinto. B<strong>em</strong> quente,<br />
Enquanto esperam o café, põ<strong>em</strong>-se ambos a conversar amistosamente.<br />
— Então, Sr. João Pinto, que novidades há?<br />
— Poucas, Sra. D. Domitila. Muito poucas! Só São Paulo, a sua querida<br />
Província, é que está <strong>em</strong> polvorosa.<br />
— Mas que é que sucede <strong>em</strong> São Paulo? Toda gente só fala de São Paulo!<br />
Ainda agora cá esteve Moraizinho...<br />
— O Moraizinho?<br />
— O Sr. João Pinto não conhece o Moraizinho? Conhece! É o Tenente<br />
Morais. Aquele do Batalhão do Imperador.<br />
— Ah, já sei! Um rapaz louro...<br />
— Exatamente! É muito meu amigo. Ele esteve aqui a me contar da<br />
fervedura que vai pela minha Província.<br />
— Pois é verdade, continuou João Pinto. Causa lástima o que por lá<br />
acontece. Causa lástima!<br />
— Mas enfim, Sr. João Pinto, que há de tão grave por São Paulo?<br />
— Pois Vossa Senhoria ainda não sabe? Ah, Sra. D. Domitila, aquilo está<br />
perdido! Os Andradas revolucionaram tudo.<br />
— Mas será mesmo certo o que andam contando dos Andradas?<br />
— Certíssimo! José Bonifácio, sob o pretexto de apurar responsáveis da<br />
bernarda de Francisco Inácio, mandou trancafiar na cadeia todos os inimigos<br />
políticos da família. Aquilo por lá, hoje <strong>em</strong> dia, é só devassa! E é processo! E é<br />
perseguição! E é o diabo!<br />
— Pois é de pasmar!<br />
— É de pasmar e de indignar, exclama o valido.<br />
— E o Imperador, Sr. João Pinto, que diz de tudo isso?<br />
— O Imperador? Oh, Sra. D. Domitila, retorna João Pinto com maldoso<br />
sorriso; b<strong>em</strong> se percebe que Vossa Senhoria ainda não conhece b<strong>em</strong> as tricas da<br />
Corte. O Imperador não sonha, n<strong>em</strong> de leve, com o que se está passando! E o<br />
Primeiro-Ministro qu<strong>em</strong> governa. É o Primeiro-Ministro qu<strong>em</strong> põe e qu<strong>em</strong> dispõe. E o<br />
Primeiro-Ministro neste momento, o dono absoluto do Brasil!<br />
E meneando a cabeça, com ar de grande tristura, murmura desolado:<br />
— Este senhor José Bonifácio, Sra. D. Domitila, t<strong>em</strong> uma alma de déspota.<br />
É o hom<strong>em</strong> mais duro do Brasil!<br />
— Diz<strong>em</strong>, realmente, que o Primeiro-Ministro é um hom<strong>em</strong> de ferro.<br />
— De ferro? Não, Sra. D. Domitila, vocifera João Pinto, exaltado. Não! É<br />
hom<strong>em</strong> de maus bofes. Hom<strong>em</strong> de más entranhas. Isso sim! Veja Vossa Senhoria o<br />
que aconteceu ao Ledo. E ao Pe. Januário. E ao Cl<strong>em</strong>ente Pereira. E a tantos<br />
outros.. Haverá maior crueza do que aquilo?<br />
— É verdade, concorda D. Domitila; o desterro daqueles homens foi<br />
desapiedado. Mas que se há de fazer?<br />
— E Vossa Senhoria, atalha João Pinto vivamente, com muita e maldosa<br />
tonalidade na voz: e Vossa Senhoria, mais do que ninguém pode afirmar que José<br />
Bonifácio é violento e mau.<br />
— Eu? exclama a paulista, admirada. E por quê?<br />
38