Livro em PDF (2,1MB) - Valdir Aguilera
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— Avise a Sua Majestade!<br />
www.nead.unama.br<br />
O Imperador acabava de almoçar. Estranhou receber visita assim tão<br />
matutina. E foi logo ao encontro do Ministro.<br />
— Que há, Conselheiro?<br />
— Coisa de pouca monta, Majestade.<br />
Austero, com seu aspecto venerando, com aquele peso no dizer, com<br />
aquela medida no gesticular, o grande paulista explicou a causa de sua ida ao Paço:<br />
— Circunstâncias muito particulares, Majestade, forçaram-me a vir neste<br />
momento, solicitar d<strong>em</strong>issão do cargo de Ministro. A minha resolução é irrevogável.<br />
Agradeço as muitas deferências que me foram dispensadas. Com os meus<br />
agradecimentos, deponho nas mãos de Vossa Majestade a pasta com que me<br />
honrou.<br />
D. Pedro não contava jamais com essa estranha atitude de José Bonifácio.<br />
Ergueu-se, surpreso.<br />
— A sua d<strong>em</strong>issão, Conselheiro? Mas é exatamente nesse momento <strong>em</strong><br />
que a Bahia ferve, <strong>em</strong> que o General Madeira pega <strong>em</strong> armas, <strong>em</strong> que o Pará e o<br />
Piauí se rebelam, <strong>em</strong> que todo o Norte nos ameaça, é num momento destes,<br />
Conselheiro, que Vossa Excelência toma a resolução de abandonar o seu posto?<br />
— Vossa Majestade b<strong>em</strong> sabe, retorquiu serenamente o Ministro que eu<br />
nunca fui hom<strong>em</strong> de abandonar o posto na hora da luta. Mas é Vossa Majestade<br />
qu<strong>em</strong> obriga a minha saída do Governo.<br />
— Vossa Majestade, Sr. D. Pedro! E fácil dizer por que. Na noite <strong>em</strong> que<br />
Vossa Majestade, tão inexplicavelmente assinou, <strong>em</strong> branco, aquelas três folhas de<br />
papel, entregando uma a Cl<strong>em</strong>ente Pereira, outra a Gonçalves Ledo, outra ao<br />
Coronel Nóbrega, nessa noite, Vossa Majestade lavrou o decreto de minha<br />
d<strong>em</strong>issão.<br />
D. Pedro, ao ouvir o seu segredo nos lábios do Ministro, <strong>em</strong>palideceu.<br />
Aquela revelação, desfechada assim, à queima-roupa, sacudiu-o.<br />
— Os três amigos de Vossa Majestade, continuou impavidamente o ancião,<br />
foram os primeiros a alardear aquele ajuste. Era necessário, para o prestígio deles,<br />
que se soubesse no Grande Oriente da arma terrível que o Sr. D. Pedro lhes<br />
colocara nas mãos. Pois b<strong>em</strong>; agora que os fatos estão consumados, pergunto eu<br />
ao Imperador: Vossa Majestade já pensou b<strong>em</strong> as conseqüências que pod<strong>em</strong> advir<br />
desse ato? Pois Vossa Majestade já pensou que, amanhã, com a assinatura do<br />
próprio punho do Imperador, pod<strong>em</strong> surgir por aí os decretos mais<br />
comprometedores? As ordens mais abusivas? E como poderá Vossa Majestade,<br />
num caso de escândalo, justificar-se perante o País?<br />
O Imperador era um colegial apanhado <strong>em</strong> flagrante. Ouvia cabisbaixo a<br />
acusação irrespondível do juiz. A palavra sensata do velho entrou-lhe pela alma<br />
vencedoramente. E D. Pedro, aquele estouvado sincero, impulsivo cheio de coração,<br />
exclamou logo:<br />
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