Concha Rousia - Universidade da Coruña
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Ortografia galega além do reintegracionismo<br />
Un artigo de: <strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong><br />
[07/03/2006]<br />
Eu, que não sou linguista nem experta em questão outra que não seja a fala,<br />
tenho-me feito muitas perguntas.<br />
Uma que me fez muito pensar teve a ver com a ortografia <strong>da</strong> minha língua. Eu, que nasci<br />
em Outubro de 1962, sou mais velha do que a norma ortográfica <strong>da</strong> Real Académia<br />
Galega para a nossa língua. De facto atrevo-me a dizer que eu já quase tinha i<strong>da</strong>de para<br />
que me falassem os moços quando a tal ortografia foi improvisa<strong>da</strong>. Mas a mim, quanto<br />
que utente duma língua que chegou até mim falando-se impecavelmente geração trás<br />
geração através dos séculos, não me quadrava essa ideia de que língua que eu falava, e<br />
na que existia, tivesse uma ortografia de tão curta i<strong>da</strong>de, de que fosse mais novinha do<br />
que era eu. A serio, eu não compreendia. Eu fazia-me muitas perguntas, e como quase<br />
sempre quando a resposta é extrema<strong>da</strong>mente óbvia, a pergunta fica por longo tempo sem<br />
ser respondi<strong>da</strong>. Levou-me o meu. Aqueles eram anos nos que as filhas e filhos do rural<br />
galego tínhamos que defender o status <strong>da</strong> nossa língua fronte aos <strong>da</strong> estepa que insistiam<br />
com o seu convencimento de que o galego era um dialecto do castelhano.<br />
E olha tu que em quanto ao que a ortografia se refere não iam eles lá muito<br />
desencaminhados, embora este descubrimento ia tar<strong>da</strong>r muitos anos em chegar a mim,<br />
de facto, como aquele que diz, chgou-me ontem; e agora julgo, e acho que a ninguém<br />
pilhará de surpresa, que a ortografia galega actualmente defendi<strong>da</strong> pola Real Academia<br />
Galega é, se se me permite dizer, um calco <strong>da</strong> ortografia castelhana.<br />
Quando eu descobri isso, quando descobri que a ortografia que se me oferecia tinha sido<br />
cria<strong>da</strong>, assim, sem ter em conta a raiz histórica <strong>da</strong> língua que durante séculos os meus<br />
antepassados tão bem conservaram para mim, senti-me decepciona<strong>da</strong> e indigna<strong>da</strong>. E<br />
num começo eu quis pensar que não era certo, que não podia ser. Mas era. Eu repassava<br />
mentalmente e via que sim, que a ortografia galega era um calco <strong>da</strong> castelhana, porque<br />
esta segun<strong>da</strong> eu conhecia-a muito bem, que sim ma ensinaram na escola. Num exercicio<br />
inicial de negação quis pensar que se calhar não era tão exacta à castelhana, por exemplo<br />
nós tínhamos o tão característico "xis". Um bom amigo ajudou-me a ver que o "xis" não<br />
era tão galego como eu pensava, que também se tinha usado no castelhano, mesmo em<br />
palavras tão castizas como "Quixote", mas que caíra em desuso. O "Xis" passou a fazer<br />
parte de palavras como: Xoam, Xulho, Xeografia, etc, etc. Palavras que em to<strong>da</strong>s as<br />
línguas se seguem a escrever com a sua grafia histórica, na que a sua raiz é respeita<strong>da</strong>,<br />
em to<strong>da</strong>s as línguas menos na nossa, é claro.<br />
E ai nasceu a seguinte pergunta: por que to<strong>da</strong>s as línguas conservam a raiz <strong>da</strong>s suas<br />
palavras e a minha língua não? Eu queria saber por que; e a resposta que a mim acudiu<br />
foi esta: porque é a mesma raiz que a do português, e a alguém isso não deveu agra<strong>da</strong>r,<br />
não é?. E eu insistia a me perguntar: e por que um senhor de Lisboa, onde nem sequer<br />
nasceu a nossa língua, tem o direito a essa raiz e eu não? Porque afinal a isso se resume<br />
o assunto, a ter ou não ter o direito à ortografia clássica <strong>da</strong> língua própria. Eu não quero<br />
tirar-lhe o direito ao senhor de Lisboa, que amais se veio ocupando de cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> língua<br />
mentres a outros não nos estava permitido, mas quero reclamar o meu direito.<br />
Já não se trata de ser ou não ser reintegracionista. De querer ou não querer ser<br />
entendidos no resto de países lusófonos; isso se acontecer será um plus, será para quem<br />
assim o desejar. Do que em reali<strong>da</strong>de se trata, tal e como eu o vejo, é de ter ou não ter<br />
direito à ortografia própria <strong>da</strong> nossa língua. Ora se o que temos é que inventar uma<br />
ortografia nova, porque a nossa ficou obsoleta por falha de evolução, eu digo: e se temos<br />
de fazer isso, temos que escolher precisamente a ortografia castelhana, a ortografia <strong>da</strong><br />
língua que ao longo <strong>da</strong> nossa existência nos esteve esmagando? Ficando com uma<br />
ortografia que converte as nossa palavras em: Xan, Xullo, Xeografía, Oxíxeno (ou algo<br />
pior)… pequenos frankensteins que a mim me causam arrepio; arrancando as nossas<br />
palavras <strong>da</strong> raiz que lhes <strong>da</strong>va a vi<strong>da</strong>. Estamos obrigados a fazer precisamente isso? A<br />
impor sobre nós mesmos a estrutura do inimigo (dum ponto de vista linguístico, enten<strong>da</strong>se).<br />
Aqui nasce a seguinte pergunta, que pode parecer ingénua mesmo: E por que? Porque os<br />
responsáveis políticos, e intelectuais, no seu momento, quando alguém lhes deu a ordem<br />
de: "ya podeis!" escolheram fazer isso. Fazer-lhe isso a nossa língua. Mas quis entender<br />
por que, por que fizeram tal, e cheguei a conclusão de que eles talvez pensaram que o<br />
povo, brutalizado e analfabetizado pola ditadura franquista, não ia ser capaz de<br />
interiorizar outra ortografia que diferisse <strong>da</strong> castelhana. Julgo que isso deveu de jogar um<br />
papel na sua decissão, quero pensar que essa decissão não foi causa<strong>da</strong> por motivos mais<br />
escuros.<br />
http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=48381&Ed=1&cm=1 (1 of 18) [09-03-2007 3:17:17]<br />
<strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong><br />
<strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong><br />
nasceu em 1962<br />
em Covas, uma<br />
pequena aldeia<br />
no sul <strong>da</strong> Galiza.<br />
É psicoterapeuta<br />
na comarca de<br />
Compostela. No<br />
2004 ganhou o<br />
Prémio de<br />
Narrativa do<br />
Concelho de<br />
Marim. Tem<br />
publicado<br />
poemas e<br />
relatos em<br />
diversas revistas<br />
galegas como<br />
Agália ou A<br />
Folha <strong>da</strong> Fouce.<br />
Fez parte <strong>da</strong><br />
equipa<br />
fun<strong>da</strong>dora <strong>da</strong><br />
revista cultural<br />
"A Regueifa".<br />
Colabora em<br />
diversos jornais<br />
galegos. O seu<br />
primeiro<br />
romance As sete<br />
fontes, foi<br />
publicado em<br />
formato e-book<br />
pola editora<br />
digital<br />
portuguesa<br />
ArcosOnline.<br />
Recentemente,<br />
em 2006,<br />
ganhou o<br />
Certame<br />
Literário<br />
Feminista do<br />
Con<strong>da</strong>do.<br />
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