Concha Rousia - Universidade da Coruña
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A minha revolução<br />
Un artigo de: <strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong><br />
[28/03/2006]<br />
Vivemos num mundo em que se valora a informação por cima<br />
de tudo. Todos somos instruídos acerca do que sucedeu em<br />
determinados momentos históricos nos que o rumo do mundo<br />
mudou ou pôde ter mu<strong>da</strong>do.<br />
Ninguém ignora por exemplo o que sucedeu em Paris no Maio do 68,<br />
ou o que se está a passar em Euskal Herria estes dias, embora a<br />
alguns essa informação nos entre e nos saia sem causar muito<br />
alvoroto. E por vezes sentimo-nos mal por isso; porque o que mais<br />
se valora é que esse conhecimento seja partilhado por quanta mais<br />
gente melhor. Assim todos aqueles actos heróicos e mesmo<br />
revolucionários que não passaram aos livros de história estão<br />
condenados a ser esquecidos, ou se calhar já nem se registra a sua<br />
ocorrência.<br />
Eu, já sei… um bocado excêntrica, quero reivindicar uma revolução<br />
que teve lugar em Penacova (Covas) antes de eu ter nascido, e<br />
mesmo antes de nascer minha mãe; mas foi ela quem ma contou tal<br />
como lha contaram a ela. Aquela revolta que teve lugar,<br />
provavelmente nos primeiros anos do século XX, ou talvez um pouco<br />
antes, permaneceu sem nome até hoje, e embora eu lhe contara já<br />
varias vezes este facto <strong>da</strong> nossa história à minha filha de 6 anos,<br />
nunca se me ocorrera pôr-lhe nome. Hoje decidi chamá-la "A<br />
Revolução <strong>da</strong>s Malhas" e logo vereis porque…<br />
Os vizinhos –parece que estou a ouvir minha mãe- negaram-se a<br />
pagar um tributo que lhe chamavam "a paga do conde" –deviam ser<br />
os foros- Então a gente to<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>, que <strong>da</strong>ntes havia união, não é<br />
como agora, decidiram não pagar mais nunca esse tributo. O tempo<br />
foi-se passando e um dia, an<strong>da</strong>ndo a gente to<strong>da</strong> na malha dos <strong>da</strong> tia<br />
Firmina, que punham a me<strong>da</strong> nas airas <strong>da</strong> Fonteuzeira, apresentouse<br />
a guardia civil, vieram tantos guar<strong>da</strong>s que rodearam a malha e<br />
disseram que estava todo o mundo preso…<br />
A gente, que os vira chegar e repartir-se polas bor<strong>da</strong>s <strong>da</strong> aira,<br />
seguira coa malha… Os do malho; os <strong>da</strong> me<strong>da</strong>, que abriam e<br />
espargiam os molhos; os que retiravam a palha; os que faziam o<br />
palheiro; as coanhadeiras <strong>da</strong> moinha; os que juntavam o grão, e<br />
mais os miúdos que passavam o garrifo <strong>da</strong> água ou o vinho… todo o<br />
mundo seguiu como se na<strong>da</strong> se passasse. Se calhar os do malho, diz<br />
que se sentiam bater algo mais forte. Dantes enterravam-se os potes<br />
grandes de ferro na aira para que quando se malhasse se sentissem<br />
os golpes polas redondezas… "Malha Covas…!" (Quando eu agora lhe<br />
relato a história à minha filha tenho que fazer pausas para explicar<br />
ca<strong>da</strong> uma destas activi<strong>da</strong>des porque ela já não acor<strong>da</strong> as malhas).<br />
Contudo a malha rematou e a gente foi-se ca<strong>da</strong> um para a sua casa;<br />
os guar<strong>da</strong>s então se repartiram polo lugar e ficaram um tempo, uns<br />
por aqui e outros por acolá; quando alguém saía <strong>da</strong> sua casa para ir<br />
a algum lado, eles iam detrás. Contam que uma moça –aqui minha<br />
mãe sorri, e eu também- saía de casa cum canistrelo para ir procurar<br />
alguma cousa ao eido para aviar o jantar, e vendo que o guar<strong>da</strong> a<br />
seguia, agarrou-o de ganchete e seica ia dizendo polo meio do lugar<br />
"olhai que moço tenho" –<strong>da</strong>ntes a gente tinha muito humor, e havia<br />
harmonia…-<br />
Ele os guar<strong>da</strong>s, quando viram que tal, marcharam e aqui não se<br />
volveu saber <strong>da</strong> paga do conde. E diz que os guar<strong>da</strong>s foram por ai<br />
pola Límia adiante falando muito bem <strong>da</strong> gente de aqui, seica diziam<br />
que gente educa<strong>da</strong> e correcta como a de Covas nunca viram, que<br />
quando eles chegaram para fazer o arresto, encontraram a todo o<br />
mundo armado com galhas, engaços, rodos, foucinhos, malhos… e<br />
que ninguém erguera uma ferramenta contra eles.<br />
Pois bom, eu que não quero ignorar as revoluções do mundo, quero<br />
reivindicar aqui a minha "Revolução <strong>da</strong>s Malhas", sem dúvi<strong>da</strong> uma<br />
<strong>da</strong>s primeiras que eu aprendi, e também uma <strong>da</strong>s primeiras que<br />
http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=48866&Ed=1&cm=1 (1 of 4) [09-03-2007 3:17:41]<br />
<strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong><br />
<strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong> nasceu<br />
em 1962 em Covas,<br />
uma pequena aldeia<br />
no sul <strong>da</strong> Galiza. É<br />
psicoterapeuta na<br />
comarca de Compostela. No 2004<br />
ganhou o Prémio de Narrativa do<br />
Concelho de Marim. Tem publicado<br />
poemas e relatos em diversas revistas<br />
galegas como Agália ou A Folha <strong>da</strong><br />
Fouce. Fez parte <strong>da</strong> equipa fun<strong>da</strong>dora<br />
<strong>da</strong> revista cultural "A Regueifa".<br />
Colabora em diversos jornais galegos.<br />
O seu primeiro romance As sete fontes,<br />
foi publicado em formato e-book pola<br />
editora digital portuguesa ArcosOnline.<br />
Recentemente, em 2006, ganhou o<br />
Certame Literário Feminista do<br />
Con<strong>da</strong>do. Saber máis<br />
ÚLTIMOS ARTIGOS DE <strong>Concha</strong> <strong>Rousia</strong>:<br />
Aprender Inglês em 15 Minutos<br />
(05/03/2007)<br />
Eu detesto toura<strong>da</strong>s... (14/02/2007)<br />
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A Constitución: Garantia de<br />
igual<strong>da</strong>de de direitos para todos os<br />
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