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BENZEDURAS<br />
-“Dá isto aqui!” - exclamou o Cel. Sinhô, voltando-se ligeiro.<br />
- “Tu és um bôbo, não sabes nada!”<br />
E dobrando o papel, o Coronel, metteu-o no bolso.<br />
O velho Honório Balsemão, gaúcho dos bons tempos, posto à margem dos “mo<strong>de</strong>rnismos” com os seus<br />
hábitos e crenças peculiares a esse nosso povo da campanha, acredita piamente nas sympathias <strong>de</strong>stinadas a curar a<br />
todo e qualquer mal. Atacado continuamente por uma azia impertinente, grita elle pela afilhada: “Pôe-te ahi,: filha e<br />
benze-me esta azia”. A rapariga, alarife, para uns minutos atrás da ca<strong>de</strong>ira do velho, finge dizer alguma cousa e corre<br />
aos brinquedos. Dahi a pouco, cofiando as longas barbas brancas, chega-se o Honório p’ra cozinha.<br />
“Que bôa benzedura, comadre; faz um tempinho que a Chininha me benzeu, e eu já estou bom. Qual, não<br />
há como uma benzedura bem feita!”<br />
Quinta. 5 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1928<br />
A ociosida<strong>de</strong> é cousa chata, chatíssima... Passo os dias a vaguear em volta das casas a olhar a toa, matando o<br />
tempo que nunca morre, sempre o mesmo, impassível, quer nos momentos em que o vemos passar com pezar, quer<br />
nas horas aborrecidas, fastidiosas.<br />
Segunda começam os serviços da triha do arroz. Uns 20 dias <strong>de</strong> trabalho e, o que é pior, <strong>de</strong> incommodo.<br />
Mas passarão, é só ter paciência.<br />
Depois irei trabalhar só, romper terra até agosto, si Deus quizer!<br />
É só o tractor funcionar regularmente, e eu farei o maior cercado do Estado. O Rei do milho.<br />
Abril, 21. Sabbado<br />
Tira<strong>de</strong>ntes! Por coinci<strong>de</strong>ncia li há dias, as Razões da Inconfidência <strong>de</strong> Antonio Torres. Que acusação forte e<br />
triste contra os parentes d’além mar. E o pior, é que a gente fica, terminada a leitura, com um recibo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, dura<br />
e esmagadora. Si o livro não passa <strong>de</strong> um amontoado <strong>de</strong> calumnias, porque não sae a campo, em <strong>de</strong>fesa da raça<br />
offendida, um luxo, dos mllhões que habitam este Brasil? Este silencio ante uma obra <strong>de</strong> tal gênero, <strong>de</strong>vida à penna<br />
<strong>de</strong> Antonio Torres, bem po<strong>de</strong> tornar-se a melhor prova <strong>de</strong> que tudo ali é verídico, tristemente histórico...<br />
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