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Diário de - pucrs

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Como muita gente boa, não acredito em sonhos. Mas tem se dado ultimamente coincidências tão estranhas,<br />

que não po<strong>de</strong>m passar sem comentários. Nas vésperas do espancamento do Jõao pelo seu amigo Capivara, a Chininha<br />

sonhara com uma mulher, muito sua conhecida, que agredia-a raivosa, sem fazer caso da amiza<strong>de</strong> existente entre<br />

ellas e que a Chininha allegava constantemente. Ainda nesta noite, o próprio João sonhara ter sido atacado por um<br />

touro brabo e, para fugir, saltava <strong>de</strong> um para o outro lado da cerca, tal qual se <strong>de</strong>u no dia seguinte, em que chegou a<br />

rasgar a capa no arame farpado. Outra coincidência, boa é verda<strong>de</strong>: ante hontem sonhei com uma carta vinda dos<br />

parentes <strong>de</strong> Passo Fundo (Annes); horas <strong>de</strong>pois recebe, o Raul, uma carta do Carlos noticiando a sua chegada e que<br />

faria a viagem juncto com a Eloah até Sta. Maria, visto ella seguir para Passo Fundo... Para não existir a allegação <strong>de</strong><br />

que esses acasos só são notados <strong>de</strong>pois do facto realizado e que <strong>de</strong>ixamos passar milhares <strong>de</strong> sonhos para nos admirar<br />

<strong>de</strong> uma mera coincidência, registro aqui hoje, os dois sonhos seguintes tidos nessa noite, <strong>de</strong> 6 para 7, por mim e pela<br />

Chininha - a adivinha do Tarumã. Sonhei que um enterro passava pela estrada que atravessa o potreiro aqui da<br />

frente. Montado no meu tordilho fui-lhe assistir ao <strong>de</strong>sfile. Mulatas a pé, acompanhavam o caixão... Logo da minha<br />

chegada, uma das velhas iniciou um choro, em alta voz, no que foi acompanhada por todos os presentes. Cavalleiros<br />

formavam a retaguarda do féretro. Recordo-me ainda, <strong>de</strong> ter tomado uma feição triste, fazendo coro ao sentimento geral.<br />

Há pouco estava eu cortando uns pus <strong>de</strong> lenha, quando a Chininha surpreen<strong>de</strong>u-me, com a narração<br />

seguinte: -“Sonhei, tio Paulo, que, lá do bolicho, via velando um homem aqui em casa. Enxergava tão bem o <strong>de</strong>funto<br />

encima da mesa, as vellas se mexendo com o vento que vinha <strong>de</strong> cá - e mostrou o sul -. Não pu<strong>de</strong> conhecer o morto,<br />

mas parecia-me “Gonha” bolicheiro no Sobradinho. Havia muita gente chorando. Quase tudo mulatos, que eu não<br />

conhecia, mas que eu lhes dizia a<strong>de</strong>us. Contei o sonho ao Raul antes <strong>de</strong> elle sahir.<br />

E o povo diz que sonhar com negro ou gente trigueira é <strong>de</strong> mau agouro.<br />

Ahi fica o registro; vejamos o futuro.<br />

Acrescente-se a isto, que a chaleira do galpão, hontem à noite, virou e, hoje pela manhã, tornou a cahir, mas<br />

foi suspensa a tempo pelo Raul que a calçou com o pé.<br />

À hora que comecei estas notas, 2 pica paus vieram cavocar o pau secco da mangueira dos<br />

cavallos...Sem commentários.<br />

Terça, 8<br />

O patrão sol ainda não appareceu no galpão do mundo. São 8 horas e a peonada das coxilhas, preguiçosa,<br />

dorme enrolada no poncho da cerração. O guaypéca do galpão se enroscou entre dois gaúchos...<br />

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