Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Sabbado. 15 <strong>de</strong> Setembro<br />
Friosito. Escrevo, assassinando o tempo, como diria o “Affonsão” <strong>de</strong> imperecível memória. São 7 horas; o<br />
pessoal já foi para o serviço e eu espero apenas o café para pular até lá.<br />
O Rangel me escreveu um postal, <strong>de</strong>sses <strong>de</strong> gravuras baratas, mui brejeiro. Vou respon<strong>de</strong>r-lhe, chamando-o<br />
a or<strong>de</strong>m. Fazer uma coisa <strong>de</strong>stas a mim, a um homem será como eu!<br />
Amanhã em trem especial, o Carlinhos vae ao Rosário disputar com os Santannenses o Campeonato<br />
Regional. Estive por ir mas o Dotte convidou-nos para uma surpreza que faz, amanhã à noite, ao capataz dos<br />
Escoteguy. Vacillo entre um e outro. Opino pelo baile. O tempo do foot-ball já passou. Lá jaz com o título <strong>de</strong> Campeão<br />
Estadual <strong>de</strong> 1927. É bom para gurys.<br />
O João trouxe umas laranjas da coxilha que estão aqui sobre a mesa, numa tentação à minha gulodice. Vou<br />
parar <strong>de</strong> escrever... sinão o povo come as bonitas e…<br />
Bueno - passe o termo que a época é <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> literária - já comi uma e vou escrever mais um pouco<br />
a guisa <strong>de</strong> aperitivo.<br />
O João entrou e sentou. Está enchendo a sala com as suas risadas. Falam <strong>de</strong> namoro e elle diz: “Eu não<br />
compreendo estas cousas”. Cousas são namoros. A não ser os escriptores, é esta a primeira pessoa que diz, em<br />
conversa natural, não enten<strong>de</strong>r o amor.<br />
A victrola geme: “Páginas do amor” O Raul lê XX (revista) e o resto conversa fazendo-me lembrar o<br />
Maiasinho com a sua mania <strong>de</strong> exigir silêncio sempre que tocavam victrola. Maia, Telmo, Km 9 (Granja Rapadura)<br />
como é doce recordar esses tempos que lá estão a bracejar na memória, em lucta com o esquecimento. E vencerão<br />
porque tem o longo preparo <strong>de</strong> 4 annos em que preparamos diariamente, com alegria ou pesar, os batalhões dos casos<br />
imperecíveis, das recordações fortes das excursões e reuniões, verda<strong>de</strong>iros marcos <strong>de</strong> pedra na curta existência do homem.<br />
Em Outubro vindouro <strong>de</strong>ve se realizar a reunião do turmo. Não queria que sahisse, embora sinto que vão<br />
ser 3 ou 4 dias <strong>de</strong>liciosos, semeados <strong>de</strong> anedoctas alegres, <strong>de</strong> evocações, tudo a luz <strong>de</strong> risadas cheias <strong>de</strong> vida. É o narrar<br />
das primeiras difficulda<strong>de</strong>s da vida. Creio que vou; espero apenas a certeza <strong>de</strong> que 5 dos 7 lá estarão. Certeza só tenho<br />
do Dário e Luz; parece porém que o Zé Carlos e Rangel comparecerão. A este escrevi hoje, tocando no assumpto.<br />
Bailes... é só <strong>de</strong> que falam.<br />
- A filha do velho Silvano vae?<br />
- Não, diz que foi para Sta. Rita.<br />
- Que peso! E a velha Teta?<br />
- Esta parece que vae. E <strong>de</strong>pois, quase que não gosta <strong>de</strong> sapecar!<br />
46