Cartas Familiares e Bilhetes de Paris - Logo Metasys
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luterana, recebera um espírito piedoso e sério, que, <strong>de</strong>senvolvido através <strong>de</strong> uma forte<br />
educação inglesa, o assemelhava sobretudo ao gentleman inglês na sua expressão perfeita.<br />
Ora o feitio moral inglês nunca po<strong>de</strong> ser popular em França. O con<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paris</strong> daria antes um<br />
rei do tipo <strong>de</strong> seu avô Luís Filipe – com mais elevação, mais requinte, uma ciência mais funda<br />
do governo e um sentimento mais exacto das i<strong>de</strong>ias e i<strong>de</strong>ais do seu tempo. Seria como ele um<br />
príncipe sóbrio e casto, impondo o salutar exemplo <strong>de</strong> todas as virtu<strong>de</strong>s domésticas – mas sem<br />
ter como o avô, no seu palácio, lacaios especialmente encarregados <strong>de</strong> mostrar às famílias o<br />
leito real, com as duas fronhas postas lado a lado, numa ostentação oficial <strong>de</strong> união conjugal.<br />
Seria um rei simples, eliminando da realeza toda a pompa e luxo nocivo – mas sem passear<br />
pelas ruas <strong>de</strong> <strong>Paris</strong> com um enorme guarda-sol vermelho <strong>de</strong>baixo do braço, como emblema<br />
constitucional <strong>de</strong> patriarcalismo. Culto e letrado também, como Luís Filipe – mas mais sensível<br />
do que ele às letras e à sua força e dignida<strong>de</strong>, e preferindo sempre governar pelas i<strong>de</strong>ias a<br />
governar pelos interesses. Incapaz, como ele, <strong>de</strong> amargura ou rancor – mas capaz, como o<br />
outro não era, <strong>de</strong> gratidão e reconhecimento aos serviços prestados e aos bons servidores.<br />
Forte, como Luís Filipe, na ciência dos <strong>de</strong>talhes, dos factos, das datas, dos nomes, dos<br />
números – mas sabendo também, o que o avô ignorava, as tendências, as aspirações, as<br />
correntes invisíveis das consciências. Cioso <strong>de</strong>certo da autorida<strong>de</strong> real – mas preferindo<br />
exercer a influência a exercer a vonta<strong>de</strong>, e a dominar mais pela cabeça do que pela coroa. De<br />
resto, como Luís Filipe, tranquilo, trabalhador, minucioso, intrépido, observador, organizador,<br />
afável, superiormente bom. Com todas estas qualida<strong>de</strong>s, numa gran<strong>de</strong> nação, é fácil ser um<br />
gran<strong>de</strong> rei.<br />
E estas qualida<strong>de</strong>s vêm da família, são ingénitas nos Orleães. O grupo doméstico que saiu <strong>de</strong><br />
Luís Filipe é realmente admirável. Dos filhos <strong>de</strong>le, já dizia o velho Metternich serem «rapazes<br />
como se não vêem e príncipes como não há». Todos os homens, entre os Orleães, são<br />
bravos, todas as mulheres virtuosas. O talento neles anda misturado com a bonda<strong>de</strong>. Poucas<br />
famílias representaram em França, com mais brilho, as virtu<strong>de</strong>s próprias da raça francesa – a<br />
coragem, o senso, a graça, a sociabilida<strong>de</strong>, a or<strong>de</strong>m, o gosto, a elegância afável. Mesmo<br />
fisicamente, são excelentes exemplares <strong>de</strong> força viril, ou <strong>de</strong> beleza plácida e doce. As suas<br />
existências têm sempre uma dignida<strong>de</strong> especial, e não caem nunca na inutilida<strong>de</strong> tumultuosa<br />
ou mole que parece ser o <strong>de</strong>stino dos príncipes. Uns escrevem livros <strong>de</strong> história ou compõem<br />
memórias, outros viajam e exploram regiões remotas, outros aperfeiçoam sem <strong>de</strong>scanso os<br />
seus talentos militares, todos <strong>de</strong> qualquer maneira procuram servir a França, <strong>de</strong> que são uma<br />
honra.<br />
E do con<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paris</strong> se po<strong>de</strong> ainda dizer que ele serviu a França mostrando por toda a parte,<br />
da Europa até à América, através dos seus dois exílios, o que é a virtu<strong>de</strong>, a coragem, o saber,<br />
a poli<strong>de</strong>z, a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um príncipe francês. Por este lado, o seu <strong>de</strong>sterro foi uma espécie <strong>de</strong><br />
emprego público cheio <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s: e ele achou ainda aí o meio <strong>de</strong> se dar todo a um<br />
<strong>de</strong>ver e <strong>de</strong> exercer, com amor e nobreza, uma alta função patriótica. Exilado <strong>de</strong> França, o<br />
con<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paris</strong>, por toda a parte e em todas as circunstâncias, nas cortes, nos acampamentos,<br />
nas aca<strong>de</strong>mias, na vida social, como príncipe, como soldado, como pensador, como escritor,<br />
como homem <strong>de</strong> família, incessantemente e magnificamente, ocupou-se em popularizar e<br />
fazer amar a França.<br />
CHINESES E JAPONESES<br />
A nor<strong>de</strong>ste da China, ou antes da Manchúria chinesa, entre o mar do Japão e o mar Amarelo,<br />
há uma tristonha península <strong>de</strong> costas escarpadas, que a si própria se enfeitou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong><br />
1392, quando começou a reinar a dinastia que ainda hoje reina (ou que ainda reinava no mês,<br />
passado) com o nome risonho, luminoso e fresco <strong>de</strong> Reino da Serenida<strong>de</strong> Matutina. Os<br />
Japoneses, seus vizinhos, chamam a esta terra Ko Rai; nós, mais comodamente, Coreia. E um<br />
país tão silencioso, tão recluso, tão separado <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>, mesmo dos seus<br />
parentes asiáticos, que no Japão e na China o <strong>de</strong>signam pela alcunha <strong>de</strong> País Ermitão.<br />
O que <strong>de</strong>le, na Europa, nós melhor conhecemos, por estampas, é a figura dos seus<br />
habitantes, homens esguios e graves, <strong>de</strong> longos bigo<strong>de</strong>s pen<strong>de</strong>ntes, que usam o mais