Versão em PDF – 14.9 MB - Fundação Cultural Palmares
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malefícios do escravismo<br />
e do colonialismo, possibilitando<br />
aos grupos, outrora<br />
escravizados e colonizadas,<br />
uma grande mobilidade e<br />
plasticidade social por ser<br />
as formações culturais mestiças,<br />
supostamente, mais<br />
maleáveis que as formações<br />
culturais não-mestiças. Segundo<br />
Freyre (op. cit.) essa<br />
seria uma das principais características<br />
da colonização<br />
portuguesa nos trópicos e a<br />
principal herança cultural<br />
que vão conferir ao Brasil<br />
sua especificidade histórica.<br />
Essa visão foi um dos<br />
principais el<strong>em</strong>entos geradores<br />
da identidade nacional.<br />
Os el<strong>em</strong>entos de brasilidade<br />
quase s<strong>em</strong>pre r<strong>em</strong>et<strong>em</strong><br />
a uma tentativa de negar o<br />
conflito, seja ele de classe<br />
ou étnico-racial, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que revela uma<br />
narrativa histórica que tende<br />
para a harmonia racial<br />
e a acomodação de classe.<br />
Segundo Damir Francisco<br />
“a identidade é um jogo de<br />
s<strong>em</strong>elhança e diferenciação<br />
e esse jogo é linguageiro.<br />
É jogo discursivo ou narrativo<br />
que abrange desde<br />
um certo modo de contar<br />
a história [...], à produção<br />
literária e artística [...], à<br />
valorização de certa produção<br />
musical-popular, à produção<br />
simbólica midiática<br />
[...] e também, as anedotas,<br />
piadas e ditos folclóricos<br />
ou populares” (Francisco,<br />
2000, 125).<br />
O que se percebe nas<br />
músicas do rapper MV Bill<br />
é uma narrativa que recria<br />
esse “jogo linguageiro” <strong>em</strong><br />
outras bases que não a da<br />
cooperação e do equilíbrio<br />
de antagonismos.<br />
Como se observam nos<br />
estudos de musicologia e<br />
etnomusicologia, a simples<br />
abordag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>iótica das<br />
letras significa atentar-se<br />
para uma parcela irrisória<br />
do universo da produção<br />
musical (Carvalho & Segato,<br />
1994; Pinho, 2002).<br />
Por esse motivo buscamos<br />
apreender nas músicas de<br />
MV Bill os conteúdos de<br />
uma determinada representação<br />
da sociedade brasileira.<br />
Representação é identificada<br />
aqui como um sist<strong>em</strong>a<br />
de pensamento baseado<br />
na diferenciação ontológica<br />
e epist<strong>em</strong>ológica entre uma<br />
realidade sócio-histórica<br />
vivida e uma outra a qual<br />
se pretende conhecer. Nesses<br />
termos, a representação<br />
é uma figuração cognitiva<br />
baseada <strong>em</strong> uma herança<br />
histórico-cultural específica<br />
que busca imputar <strong>em</strong><br />
uma outra realidade<br />
social<br />
uma gama de significados<br />
culturais com a intenção de<br />
lhe exercer alguma forma<br />
de controle (Said, 2001).<br />
No estudo das representações<br />
proposto por Said<br />
(op. cit.) observou-se três<br />
pressupostos fundamentais<br />
para se compreender a relação<br />
existente entre as representações<br />
e a realidade<br />
<strong>em</strong>pírica. O primeiro é estar<br />
convicto que existe uma<br />
correspondência entre esse<br />
sist<strong>em</strong>a específico de idéias<br />
e uma realidade material.<br />
A representação não é uma<br />
falsificação da realidade,<br />
esta se relaciona com a realidade<br />
a que se pretende<br />
explicar. O segundo pressuposto<br />
é que essas relações<br />
de idéias contidas na representação<br />
são, sobre tudo,<br />
relações de poder, ou seja,<br />
as idéias se prestam a um<br />
jogo de dominação/liberação<br />
social. O terceiro e último<br />
pressuposto refere-se à<br />
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