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Versão em PDF – 14.9 MB - Fundação Cultural Palmares

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1<br />

existência de um investimento<br />

material que sustenta<br />

essas representações. Ao se<br />

pronunciar uma “verdade”<br />

que contradiga essa representação<br />

ela não se desfaz<br />

<strong>em</strong> um passe de mágica,<br />

pelo contrário, tende a erigir<br />

suas estruturas materiais<br />

contra essa suposta verdade<br />

adversa. Nesse nosso pequeno<br />

esboço seguimos algumas<br />

orientações propostas<br />

por Said para a análise<br />

da música de MV Bill, no<br />

que se refere à representação<br />

da sociedade brasileira.<br />

Uma das idéias que se<br />

apresentou como fundamental<br />

para se compreender<br />

a representação contra-heg<strong>em</strong>ônica<br />

da nação brasileira<br />

nos raps de MV Bill foi à<br />

oposição entre sociedade e<br />

comunidade. Essa oposição<br />

configura-se como uma estrutura<br />

modular que baliza<br />

todas as formulações sobre<br />

a realidade brasileira. Mesmo<br />

que se comuniqu<strong>em</strong><br />

constant<strong>em</strong>ente, sociedade<br />

e comunidade se difer<strong>em</strong><br />

entre sí pelos seus conteúdos<br />

éticos. Pode se compreender<br />

a idéia de conflito na<br />

obra de MV Bill é oriunda<br />

do choque entre esses conteúdos.<br />

Na música “Contraste<br />

Social” MV Bill apresenta<br />

uma relação desses conteúdos<br />

antagônicos existentes<br />

na cidade do Rio de Janeiro<br />

expresso pela diferença<br />

entre a vida na comunidade<br />

e ao posicionamento<br />

da sociedade.<br />

Eu quero denunciar<br />

o contraste<br />

social /<br />

Enquanto o rico<br />

vive b<strong>em</strong>, o povo<br />

pobre vive mal /<br />

Cidade Maravilhosa<br />

é uma<br />

grande ilusão<br />

/ Des<strong>em</strong>prego,<br />

pobreza, miséria,<br />

corpos no chão / As<br />

crianças da favela não têm<br />

direito ao lazer / Governantes<br />

só falam e nada quer<strong>em</strong><br />

fazer / O posto de saúde é<br />

uma indecência / Só atende<br />

se o caso for uma <strong>em</strong>ergência<br />

/ Sociedade capitalista<br />

com sorriso aberto / Rir de<br />

longe é melhor que sofrer<br />

de perto / Pelo menos entre<br />

nós não existe judaria<br />

(Contraste Social. MV Bill.<br />

Traficando Informação,<br />

1999)<br />

Os el<strong>em</strong>entos contraditórios<br />

existentes na “Cidade<br />

Maravilhosa” são marcados<br />

por um sist<strong>em</strong>a de carências<br />

que alimenta a distância entre<br />

a vida na comunidade e a<br />

na sociedade. Ricos e pobres<br />

se opõ<strong>em</strong> pelo seu modo de<br />

vida. As instituições governamentais<br />

se omit<strong>em</strong> sobre<br />

as condições precárias da<br />

infância e da saúde nas comunidades<br />

carentes e favelas<br />

enquanto a racionalidade<br />

econômica, representada<br />

como<br />

a sociedade capitalista na<br />

letra, é identificado<br />

como a beneficiara de um<br />

sist<strong>em</strong>a que gera pobreza<br />

e exclusão. No entanto é<br />

a comunidade que cria<br />

suas próprias formas de<br />

lealdade.<br />

Gilberto Velho(2000) <strong>em</strong><br />

artigo sobre a violência, reciprocidade<br />

e desigualdade<br />

social apresenta a necessidade<br />

de se preocupar, nos<br />

estudos antropológicos,<br />

mais com a percepção dos n<br />

tipos de alteridade associados<br />

às diferenças entre os<br />

atores, suas visões de mundo,<br />

perspectivas, interesses<br />

e, sobretudo, aos variados<br />

modelos de construção da<br />

realidade. O que Velho propõe<br />

é um redirecionamento<br />

do enfoque dos estudos sobre<br />

a violência para as formas<br />

de representação que<br />

os atores, ao contrário do

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