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Os jogos teatrais no ensino de português para estrangeiros

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES<br />

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS<br />

HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA<br />

EDJA CAMILA GOMES DE ARAÚJO<br />

OS JOGOS TEATRAIS NO ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS<br />

JOÃO PESSOA<br />

NOVEMBRO DE 2011


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES<br />

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS<br />

HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA<br />

EDJA CAMILA GOMES DE ARAÚJO<br />

OS JOGOS TEATRAIS NO ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS<br />

Trabalho apresentado ao Curso <strong>de</strong> Licenciatura em Letras<br />

da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba como requisito <strong>para</strong><br />

obtenção do grau <strong>de</strong> Licenciado em Letras, habilitação em<br />

Língua Portuguesa.<br />

Prof.ª Dr.ª Mônica Ma<strong>no</strong> Trinda<strong>de</strong> Ferraz, orientadora<br />

JOÃO PESSOA<br />

NOVEMBRO DE 2011


Catalogação da Publicação na Fonte.<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba.<br />

Biblioteca Setorial do Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA).<br />

Araújo, Edja Camila.<br />

<strong>Os</strong> <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>português</strong> <strong>para</strong> <strong>estrangeiros</strong>. / Edja<br />

Camila Gomes <strong>de</strong> Araújo. - João Pessoa, 2011.<br />

33 f.<br />

Mo<strong>no</strong>grafia (Graduação em Letras) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba -<br />

Centro <strong>de</strong> Ciências Humanas, Letras e Artes.<br />

Orientadora: Profª. Drª. Mônica Ma<strong>no</strong> Trinda<strong>de</strong> Ferraz<br />

1. Língua Portuguesa. 2. Jogos <strong>teatrais</strong>. 3. Alu<strong>no</strong>s <strong>estrangeiros</strong>. I.<br />

Título.<br />

BSE-CCHLA CDU 811.134.3


Resumo<br />

<strong>Os</strong> Jogos Teatrais da americana Viola Spolin (1973) po<strong>de</strong>m auxiliar na educação. No<br />

fichário elaborado pela dramaturga, existem <strong>jogos</strong> que privilegiam o uso da linguagem<br />

verbal, que forçam uma interação e que levam os jogadores a utilizarem a pragmática da<br />

língua. Esse material permitiu o uso <strong>de</strong> tais <strong>jogos</strong> <strong>para</strong> o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> PLE (<strong>português</strong><br />

como língua estrangeira). O alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> PLE utiliza todo seu conhecimento adquirido nas<br />

aulas <strong>de</strong> <strong>português</strong> (leitura, gramática, produção <strong>de</strong> texto e conversação) em situações-<br />

problema simuladas, em que há um contexto <strong>de</strong> uso da língua (que Viola <strong>de</strong>fine como<br />

On<strong>de</strong>, Quem e O quê – Cenário, Personagem e Situação <strong>de</strong> Cena) e o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>rem a língua na forma prática do cotidia<strong>no</strong>. Apesar <strong>de</strong> serem <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong>,<br />

eles são voltados também <strong>para</strong> indivíduos que não trabalham na aérea <strong>de</strong> artes cênicas.<br />

O objetivo dos <strong>jogos</strong> não é <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> atores, e sim <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas,<br />

tudo sendo feito através <strong>de</strong> uma forma lúdica. Este trabalho preten<strong>de</strong> relatar a aplicação<br />

<strong>de</strong>sses <strong>jogos</strong> em uma turma do curso <strong>de</strong> Português <strong>para</strong> <strong>estrangeiros</strong> ministrado pelo<br />

PLEI (Programa Linguistico Cultural <strong>para</strong> Estudantes Internacionais), composta <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s vindos dos seguintes países: República Democrática do Congo, República do<br />

Benim, Camarões, Haiti e Espanha. Exporemos a metodologia utilizada <strong>no</strong> curso, e os<br />

resultados obtidos (produtivos ou não) nas aulas ministradas, através <strong>de</strong> uma avaliação<br />

realizada segundo os Postulados Conversacionais <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong>, relevância e<br />

modo, do filósofo Herbert Paul Grice. (apud KOCH, 2007)


SUMÁRIO<br />

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: CONTEXTUALIZANDO O PORTUGUÊS COMO<br />

LÍNGUA ESTRANGEIRA............................................................................................07<br />

2. O JOGO DO IMPROVISO ........................................................................................11<br />

3. O IMPROVISO DO TEATRO NO IMPROVISO DA LÍNGUA .............................15<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................24<br />

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................26<br />

ANEXOS........................................................................................................................27


Consi<strong>de</strong>rações Iniciais:<br />

Contextualizando o Português como Língua Estrangeira<br />

Por que o Brasil? Essa era a pergunta que eu fazia aos meus alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> PLE. As<br />

respostas prontas que estavam na minha cabeça eram: "Oh, o Brasil é um <strong>para</strong>íso",<br />

"Tem muitas festas aqui", "<strong>Os</strong> brasileiros são mais relaxados, o país exala liberda<strong>de</strong>",<br />

"As mulheres brasileiras são muito bonitas" etc. Nós, brasileiros, <strong>no</strong>s<br />

assustamos/surpreen<strong>de</strong>rmos ao ver <strong>estrangeiros</strong> estudando em <strong>no</strong>ssas universida<strong>de</strong>s.<br />

Reclamamos tanto do <strong>no</strong>sso sistema educacional que não enten<strong>de</strong>mos quando pessoas<br />

trocam as universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> primeiro mundo, tão almejadas por nós, pelas salas<br />

sucateadas e professores mal pagos. Então, o que <strong>no</strong>s vem em mente é que esses<br />

<strong>estrangeiros</strong> são aventureiros em busca <strong>de</strong> exotismo.<br />

Porém, as respostas que obtive foram bastante positivas. As que imaginei, <strong>de</strong><br />

fato, foram ditas. Entretanto vieram outras que me fizeram sentir mais orgulho do meu<br />

país. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a curiosida<strong>de</strong> sobre <strong>no</strong>ssa cultura (língua, manifestações<br />

artísticas, modo <strong>de</strong> vida), <strong>no</strong>sso país tem atraído pesquisadores <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

Segundo relatos <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>estrangeiros</strong>, temos uma infraestrutura <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong><br />

pesquisas tão boa quanto à da China, por exemplo. As bolsas <strong>de</strong> estudos brasileiras são<br />

bem maiores do que as bolsas <strong>de</strong> pesquisas europeias. Muitos estudantes <strong>de</strong> outros<br />

países resolvem fazer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma parte da graduação até um pós doutorado nas<br />

universida<strong>de</strong>s públicas brasileiras, <strong>de</strong>vido à qualida<strong>de</strong> e à amplitu<strong>de</strong> das pesquisas<br />

realizadas em <strong>no</strong>sso território nacional. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> citar a hospitalida<strong>de</strong> do<br />

povo brasileiro que também ajuda na permanência <strong>de</strong>sses pesquisadores.<br />

Também cresce a busca por empregos <strong>no</strong> Brasil. Graduados e especialistas<br />

resolvem investir cada vez mais <strong>no</strong> país. Des<strong>de</strong> 2010, o investimento em pesquisas e<br />

empresas brasileiras tem crescido, segundo dados da CGig (Coor<strong>de</strong>nação Geral <strong>de</strong><br />

Imigração) e MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Do a<strong>no</strong> passado até o a<strong>no</strong><br />

corrente, cerca <strong>de</strong> 56.000 <strong>estrangeiros</strong> tiveram autorização <strong>para</strong> trabalharem <strong>no</strong> Brasil. A<br />

exploração da camada do Pré-sal tem sido a maior motivação da vinda <strong>de</strong>sses<br />

investidores. Além disso, há os eventos esportivos que irão acontecer: a Copa do Mundo<br />

e as Olimpíadas.<br />

7


<strong>Os</strong> estados mais visados ainda são os da região Su<strong>de</strong>ste, como São Paulo e Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, pelo fato <strong>de</strong> serem reconhecidos como pólos industrial e cultural. Todavia,<br />

muitos <strong>estrangeiros</strong> procuram os estados <strong>no</strong>r<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>s, por questões culturais, pelo baixo<br />

custo <strong>de</strong> moradia, pelas belezas naturais e pelo clima ensolarado. João Pessoa tem<br />

recebido <strong>estrangeiros</strong> que fogem da agitação das cida<strong>de</strong>s gran<strong>de</strong>s, como São Paulo e<br />

Recife, e <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> turística, como Rio <strong>de</strong> Janeiro, Salvador e Natal.<br />

Essa crescente busca pela capital <strong>para</strong>ibana vem permitindo a realização <strong>de</strong><br />

intercâmbios entre as universida<strong>de</strong>s <strong>no</strong>s níveis <strong>de</strong> graduação e pós-graduação. Neste<br />

contexto, a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba possui convênios com diversas<br />

universida<strong>de</strong>s estrangeiras, o que acarreta o aumento na <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>estrangeiros</strong><br />

que <strong>de</strong>sejam ingressar <strong>no</strong>s diversos cursos ofertados pela instituição. Destarte, os<br />

intercambistas precisam apren<strong>de</strong>r ou aperfeiçoar a língua portuguesa. Sendo assim, é<br />

imprescindível haver um programa permanente que ofereça cursos <strong>de</strong> PLE, com<br />

regularida<strong>de</strong> semestral. O Programa Linguístico-cultural <strong>para</strong> Estudantes Internacionais<br />

(PLEI) foi criado por esta razão. É um programa <strong>de</strong> extensão que oferta cursos <strong>de</strong> PLE<br />

<strong>no</strong>s níveis básico, intermediário e avançado, com uma proposta metodológica pautada<br />

na abordagem comunicativa.<br />

Optamos por essa abordagem que, segundo Larsen-Freeman (1986), consiste em<br />

centralizar o ensi<strong>no</strong> da língua estrangeira na comunicação, isto é, o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong>ve se<br />

comunicar apenas na língua alvo (<strong>português</strong>) e, com a prática, adquirir as competências<br />

comunicativas. Saber se comunicar é elaborar enunciados linguísticos a<strong>de</strong>quados à<br />

intenção da comunicação e à situação (contexto) <strong>de</strong> comunicação. Devem-se conhecer<br />

as regras do jogo. Ser competente comunicativamente significa dominar diversos<br />

contextos <strong>de</strong> uso da língua alvo, o que compreen<strong>de</strong> uma competência gramatical,<br />

sociolinguística e estratégica. A reprodução <strong>de</strong> diálogos pré-formulados, cópias <strong>de</strong><br />

frases, repetições <strong>de</strong> estruturas entre outras ativida<strong>de</strong>s resumem-se a uma reprodução<br />

automática que não aparenta trazer gran<strong>de</strong> enriquecimento <strong>para</strong> as habilida<strong>de</strong>s<br />

comunicativas do alu<strong>no</strong>. Ao invés <strong>de</strong>sses exercícios formais e repetitivos, aplicam-se<br />

exercícios <strong>de</strong> situações reais ou simuladas em que o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>scobrir as regras do<br />

funcionamento da língua aprendida. Usam-se trabalhos em grupo que permitem a<br />

interação dos alu<strong>no</strong>s, os <strong>jogos</strong> dramáticos que simulam situações do cotidia<strong>no</strong>, a leitura<br />

<strong>de</strong> textos autênticos (esquecendo daqueles textos que são elaborados com um objetivo<br />

8


apenas pedagógico) e trabalhos individuais em que o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong>ve participar <strong>de</strong> uma<br />

autoaprendizagem. O alu<strong>no</strong> entra em contato com diversos gêneros textuais da língua<br />

escrita e da língua falada que serão aplicados em seu cotidia<strong>no</strong>.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que a proposta baseada na abordagem comunicativa auxilia o<br />

alu<strong>no</strong> que fará o exame do CELPE-Bras 1 . Nessa prova, o candidato é avaliado por meio<br />

<strong>de</strong> tarefas que envolvem a produção <strong>de</strong> vários gêneros textuais. Não se foca numa<br />

microcorreção gramatical, mas na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>ssa língua, logo o candidato<br />

<strong>de</strong>ve saber se comunicar, ser entendido. Assim, além da produção escrita, o alu<strong>no</strong> é<br />

avaliado em uma entrevista oral, o que possibilita que a avaliação perpasse pelas quatro<br />

habilida<strong>de</strong>s: compreensão oral e escrita (ouvir/ler); produção oral e escrita<br />

(falar/escrever).<br />

O PLEI tem a responsabilida<strong>de</strong>, também, <strong>de</strong> pre<strong>para</strong>r alu<strong>no</strong>s conveniados ao<br />

PEC-G 2 <strong>para</strong> o exame do CELPE-Bras. Esse grupo <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s, provenientes <strong>de</strong> países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento, frequentam um curso intensivo específico <strong>de</strong> 20 horas semanais,<br />

durantes <strong>no</strong>ve meses seguidos. Se aprovados <strong>no</strong> exame, ingressam em uma universida<strong>de</strong><br />

brasileira <strong>para</strong> cursar uma graduação inteira.<br />

Por essas características, os alu<strong>no</strong>s do grupo PEC-G (2011) foram eleitos os<br />

sujeitos participantes <strong>de</strong>sta pesquisa. A turma é composta por quinze alu<strong>no</strong>s<br />

provenientes dos países: República Democrática do Congo, República do Benim,<br />

Camarões e Haiti.<br />

Para auxiliar na <strong>de</strong>senvoltura da competência oral <strong>de</strong>sses aprendizes, foram<br />

usados alguns <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> que possuem o objetivo <strong>de</strong> forçar a comunicação verbal<br />

pela fala. Nesses <strong>jogos</strong>, os alu<strong>no</strong>s são postos em situações simuladas, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

contexto. A prática frequente, adicionada ao fato <strong>de</strong> os alu<strong>no</strong>s estarem em processo <strong>de</strong><br />

imersão, possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> oral, tornando-os mais pre<strong>para</strong>dos<br />

e seguros <strong>para</strong> o uso cotidia<strong>no</strong> e <strong>para</strong> a entrevista a ser realizada <strong>no</strong> exame CELPE-Bras.<br />

Este trabalho objetiva a apresentação das práticas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, em que se<br />

utilizam os <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong>, analisando como tais ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m auxiliar <strong>no</strong><br />

1 Certificado <strong>de</strong> Proficiência e Língua Portuguesa. O PLEI é um posto aplicador <strong>de</strong>sse exame.<br />

2 Programa <strong>de</strong> Estudantes-convênio <strong>de</strong> Graduação.<br />

9


<strong>de</strong>senvolvimento da comunicação na língua alvo, <strong>de</strong>limitando aqui as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

compreensão e produção oral (escuta/fala).<br />

Desse modo, dando sequência a este capítulo inicial, organizamos o texto da<br />

seguinte forma: No segundo capítulo, há uma explanação dos <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong>. De on<strong>de</strong><br />

eles vieram; quem criou esses <strong>jogos</strong>; qual a sua relação com a educação e,<br />

especificamente, com o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> língua estrangeira. No terceiro capítulo, traremos uma<br />

breve análise do corpus recolhido em duas aulas: uma aula do nível básico e outra do<br />

nível intermediário, aplicadas à mesma turma. Esta análise é baseada <strong>no</strong>s Postulados<br />

Conversacionais do filósofo Grice (KOCH, 2007).<br />

10


O jogo do improviso na educação<br />

O teatro improvisacional está em alta <strong>no</strong> Brasil. Grupos <strong>de</strong> atores lotam teatros<br />

com espetáculos feitos na hora e participação da platéia. Existem concursos nacionais e<br />

copas mundiais, em que os atores/jogadores competem <strong>para</strong> saber quem improvisa<br />

melhor, quem tem a melhor intuição, quem faz a platéia rir mais. Esses grupos até<br />

possuem programas <strong>de</strong> TV em que são expostos esses <strong>jogos</strong> <strong>de</strong> improviso tão inéditos<br />

<strong>para</strong> o povo brasileiro. Acontece que esses <strong>jogos</strong> em que os atores <strong>de</strong>vem dialogar<br />

apenas através <strong>de</strong> perguntas, ou construir uma narrativa com palavras randômicas, ou<br />

elaborar uma cena através <strong>de</strong> frases fornecidas pela platéia, não foram criados por esses<br />

grupos famosos brasileiros. Usados <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> atores <strong>de</strong> uma companhia em<br />

Chicago, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60, esses <strong>jogos</strong> foram elaborados pela dramaturga americana: Viola<br />

Spolin.<br />

Consi<strong>de</strong>rada por muitos a “avó da improvisação”, Spolin teve como fonte<br />

inspiradora a educadora e socióloga Neva L. Boyd, com quem trabalhou na famosa Hull<br />

House - uma casa <strong>de</strong> abrigo e apoio a imigrantes com ativida<strong>de</strong>s sociais e culturais dos<br />

Estados Unidos, que se localiza em Chicago. Boyd ensi<strong>no</strong>u Spolin a usar <strong>jogos</strong><br />

recreativos, contação <strong>de</strong> estórias e danças folclóricas <strong>para</strong> estimular a criativida<strong>de</strong> tanto<br />

das crianças como dos adultos que frequentavam o espaço. Em 1963, Viola publicou o<br />

seu primeiro livro, Improvisação <strong>para</strong> o Teatro 3 , que reúne mais <strong>de</strong> cem <strong>jogos</strong> <strong>de</strong><br />

improviso, frutos <strong>de</strong> uma longa análise da aplicação <strong>de</strong>stes em salas <strong>de</strong> aula. O livro se<br />

tor<strong>no</strong>u a Bíblia <strong>para</strong> atores em formação e um “baú” <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>para</strong> educadores<br />

que trabalham com o lúdico em sala <strong>de</strong> aula.<br />

“Todas as pessoas são capazes <strong>de</strong> atuar <strong>no</strong> palco. Todas as pessoas são capazes<br />

<strong>de</strong> improvisar. As pessoas que <strong>de</strong>sejarem são capazes <strong>de</strong> jogar e apren<strong>de</strong>r a ter valor <strong>no</strong><br />

palco.” (SPOLIN, 2010, p. 3). A diretora teatral acredita que o talento vem com o<br />

trabalho. <strong>Os</strong> <strong>jogos</strong> iriam auxiliar <strong>no</strong> aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação do ator/jogador<br />

em formação. Eles foram aplicados numa época em que o teatro estava preso <strong>no</strong> palco,<br />

em que os atores <strong>de</strong>viam interpretar <strong>de</strong> acordo com preceitos românticos, assim como<br />

nas óperas. Algo tão artificial que se<strong>para</strong>va os atores da platéia. E se o ator ou a atriz<br />

errasse o texto? Naturalmente iria se <strong>de</strong>sfazer do personagem carregado <strong>de</strong> emoções e<br />

3 Improvisation for the Theather – traduzido por Ingrid Dormien Kou<strong>de</strong>la, principal pesquisadora da área<br />

<strong>no</strong> Brasil.<br />

11


assumir o erro através <strong>de</strong> uma expressão insegura. O objetivo <strong>de</strong> Viola Spolin era <strong>de</strong><br />

naturalizar a interpretação dos atores através da espontaneida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Os</strong> <strong>jogos</strong> têm como base a solução <strong>de</strong> problemas. O objetivo, isto é, o problema<br />

a ser solucionado é chamado <strong>de</strong> “Foco”. As regras do jogo são inseridas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

contexto dado ao ator que Viola chama <strong>de</strong> “On<strong>de</strong>” (o espaço em que acontece o jogo),<br />

“Quem” (a personagem assumida pelo jogador) e “O Quê” (o que o jogador estará<br />

fazendo <strong>no</strong> momento do jogo). O jogador não joga sozinho, ele interage com um grupo<br />

e recebe instruções (não recebe or<strong>de</strong>ns) do diretor (o mestre do jogo). Dessa forma, o<br />

jogador apren<strong>de</strong> a solucionar os problemas com a cooperação dos colegas e sempre está<br />

atento aos problemas a serem solucionados <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong> comentários feitos pelo<br />

diretor.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, em 1975, Spolin reuniu todos os seus <strong>jogos</strong> num Fichário <strong>de</strong> Jogos<br />

Teatrais 4 . O fichário possui um manual <strong>de</strong> instruções, dividido em três partes. A<br />

primeira parte dá dicas <strong>de</strong> como ministrar uma oficina usando os <strong>jogos</strong>. Na segunda, há<br />

uma exposição da abordagem ensi<strong>no</strong>/aprendizagem, <strong>para</strong> a compreensão do uso dos<br />

<strong>jogos</strong>. A terceira parte consiste em um leque <strong>de</strong> sugestões <strong>de</strong> <strong>jogos</strong> se<strong>para</strong>das por<br />

categorias, <strong>para</strong> que o professor selecione e adapte os <strong>jogos</strong> <strong>para</strong> o seu pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> aula.<br />

As fichas foram elaboradas <strong>de</strong> uma forma bem simples <strong>para</strong> serem seguidas, cada uma<br />

possui uma explicação da ativida<strong>de</strong> a ser aplicada, como essa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

aplicada e como os jogadores <strong>de</strong>vem ser avaliados. As fichas são divididas em três<br />

níveis <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>. Mas o professor tem total liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar qualquer nível<br />

fazendo a sua própria programação sequencial.<br />

Colocados em sala <strong>de</strong> aula, os <strong>jogos</strong> não <strong>de</strong>vem ser reconhecidos como<br />

ativida<strong>de</strong>s lúdicas que fogem ao contexto do conteúdo passado e sim como “suportes<br />

que po<strong>de</strong>m ser tecidos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>” (SPOLIN, 2001, p. 20), atuando <strong>no</strong> envolvimento<br />

do aprendiz, trazendo uma aprendizagem mais prazerosa. “Ensinar/apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>veria ser<br />

uma experiência feliz, alegre, tão plena <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta quanto à superação da criança que<br />

sai das limitações do engatinhar <strong>para</strong> o primeiro passo – o andar” (SPOLIN, 2001, p.<br />

20)! Com os <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong>, professores e alu<strong>no</strong>s são companheiros e cooperadores <strong>de</strong><br />

um ensi<strong>no</strong>-aprendizagem mútuo, em que se apren<strong>de</strong> experimentando. São <strong>jogos</strong>, mas<br />

4 Jogos Teatrais – o fichário <strong>de</strong> Viola Spolin - Theater Game File<br />

12


não há competição. As competições e com<strong>para</strong>ções isolam os jogadores, pois eles se<br />

sentem inferiores ou melhores que os outros e aí não há uma aprendizagem mútua.<br />

Infelizmente, em alguns casos, a competição é uma estratégia que funciona, pois<br />

provoca <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> um interesse pela disciplina. Mas o objetivo <strong>de</strong> Viola é <strong>de</strong>senvolver o<br />

trabalho em grupo, algo tão importante na atualida<strong>de</strong>. Uns ajudam os outros nas suas<br />

dificulda<strong>de</strong>s e, <strong>de</strong>sse modo, possibilita-se que a turma cresça quase que <strong>de</strong> forma<br />

homogênea.<br />

Não tendo competição e com<strong>para</strong>ção, não há aprovação ou <strong>de</strong>saprovação. “A<br />

liberda<strong>de</strong> pessoal <strong>para</strong> fazer isso leva-<strong>no</strong>s a experimentar e adquirir<br />

autoconsciência”(SPOLIN 2010, p. 6). Quando não se preocupa com o julgamento <strong>de</strong><br />

certo ou errado, o alu<strong>no</strong> se torna livre <strong>no</strong> meio do jogo <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r experimentar diversas<br />

soluções <strong>para</strong> o problema a ser resolvido. O julgamento tolhe a criativida<strong>de</strong> do alu<strong>no</strong>,<br />

pois ele estanca, pren<strong>de</strong>-se, bloqueia-se com medo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>saprovado e não há<br />

tentativas. Então, “Todas as palavras que fecham portas, que têm implicações ou<br />

conteúdo emocional, atacam a personalida<strong>de</strong> do alu<strong>no</strong>/ator ou mantém o alu<strong>no</strong><br />

totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do julgamento do professor, <strong>de</strong>vem ser evitadas” (SPOLIN,<br />

2010, p.7). Mas isso é algo bastante difícil <strong>de</strong> controlar, já que fomos educados pelo<br />

método da aprovação/<strong>de</strong>saprovação. Sabemos o que é certo e o que é errado. Contudo, é<br />

possível equilibrar, <strong>de</strong>ixando o alu<strong>no</strong> fazer a sua auto-observação e auto-correção, pois<br />

“os atuantes „ensinam‟ a si mesmos. Eles apren<strong>de</strong>m por meio da conscientização <strong>de</strong> suas<br />

experiências” (KOUDELA, 2007, p. 31). Mas o professor não <strong>de</strong>ve se distanciar do<br />

alu<strong>no</strong>, <strong>para</strong> que ele não se sinta perdido. O professor, sabendo das regras do jogo,<br />

servirá como um guia.<br />

É importante ressaltar que o professor <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar os alu<strong>no</strong>s à vonta<strong>de</strong>. Não há<br />

obrigações <strong>no</strong> jogo, por isso joga quem tem vonta<strong>de</strong>. O professor/diretor <strong>de</strong>ve certificar-<br />

se <strong>de</strong> que o alu<strong>no</strong>/jogador está participando livremente da ativida<strong>de</strong>. Quando se planeja<br />

uma aula, espera-se que tudo o que está <strong>de</strong>scrito em seu pla<strong>no</strong> seja realizado. Mas a<br />

experiência em sala <strong>de</strong> aula <strong>no</strong>s mostra que muitas vezes o pla<strong>no</strong> não se encaixa à aula.<br />

As ativida<strong>de</strong>s não se a<strong>de</strong>quam ao perfil da turma, ou simplesmente, a turma não está<br />

disposta a fazer o que se planejou em um <strong>de</strong>terminado dia. Um jogo po<strong>de</strong> não ser<br />

a<strong>de</strong>quado <strong>para</strong> o perfil da turma. “Nem sempre o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong> fazer o que o professor<br />

13


acha que ele <strong>de</strong>veria fazer, mas na medida em que ele progri<strong>de</strong>, suas capacida<strong>de</strong>s<br />

aumentarão” (SPOLIN , 2010, p. 9).<br />

A Abordagem Comunicativa permite que o professor insira esses <strong>jogos</strong> <strong>no</strong><br />

ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> língua estrangeira. Simulando diálogos, os alu<strong>no</strong>s apren<strong>de</strong>m o aspecto da<br />

língua que está sendo exposto na aula. Acontece que muitas vezes essas dramatizações<br />

são constrangedoras, pois nem sempre há alu<strong>no</strong>s que gostam <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> aprendizado,<br />

são mais acostumados com o método tradicional focado <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> gramatical. Por isso<br />

que os <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> <strong>de</strong>vem ser inseridos aos poucos. Deve-se sentir a recepção da<br />

turma e essa ativida<strong>de</strong> não precisa ser imposta valendo <strong>no</strong>ta. <strong>Os</strong> alu<strong>no</strong>s que se sentirem<br />

a vonta<strong>de</strong>, jogam. Ao jogarem, os alu<strong>no</strong>s vêem que a “brinca<strong>de</strong>ira” auxilia numa<br />

aprendizagem séria.<br />

Sabemos que a língua falada possui algumas características <strong>de</strong> improvisação. Ela<br />

é exposta em sua própria gênese, isto é, enquanto na língua escrita nós planejamos o que<br />

queremos dizer, apagamos o que foi errado, organizamos o <strong>no</strong>sso pensamento, na língua<br />

falada o que é dito é o próprio rascunho, não há borracha que apague o que foi dito. Mas<br />

há a correção <strong>de</strong> um interlocutor, ou até mesmo do próprio locutor. Há a adição <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vas informações e, conjuntamente, a mensagem vai sendo construída. É a partir <strong>de</strong>ste<br />

ponto que os <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> po<strong>de</strong>m ser utilizados <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da oralida<strong>de</strong><br />

em uma língua estrangeira. <strong>Os</strong> alu<strong>no</strong>s são inseridos num contexto ( On<strong>de</strong>, Quem e O<br />

Quê) e <strong>de</strong>vem resolver um problema. Esse po<strong>de</strong> ser, por exemplo, apenas concordar os<br />

verbos na construção <strong>de</strong> uma narrativa. Mas a maior dificulda<strong>de</strong> a ser superada é a<br />

efetuação da comunicação. <strong>Os</strong> alu<strong>no</strong>s precisam se compreen<strong>de</strong>r <strong>para</strong> que haja uma<br />

continuação <strong>no</strong> jogo.<br />

Nacionalida<strong>de</strong>s, culturas e sotaques diferentes também se tornam mais um<br />

problema, pois causam um ruído entre os interlocutores. Mas os <strong>jogos</strong> têm o objetivo <strong>de</strong><br />

solucionar problemas e esse na medida em que eles são aplicados, po<strong>de</strong> ser solucionado.<br />

Basta ter paciência e perseverança.<br />

No próximo capítulo, po<strong>de</strong>remos observar um pouco da aplicação <strong>de</strong>sses <strong>jogos</strong><br />

numa sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Língua Portuguesa <strong>para</strong> Estrangeiros.<br />

14


O improviso do teatro <strong>no</strong> improviso da língua<br />

A interação entre falantes é um jogo. Cada jogo tem um objetivo a ser atingido.<br />

<strong>Os</strong> jogadores, por sua vez, atuam (locutores) e reagem (interlocutores). Às vezes<br />

ocorrem algumas <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s, como repetição, correção, explicação, reparo, etc.<br />

Mas o foco (tópico) é mantido, pelo me<strong>no</strong>s é o que se espera.<br />

A língua falada possui características <strong>de</strong> improvisação, po<strong>de</strong> ser uma espécie <strong>de</strong><br />

rascunho do pensamento em alguns momentos espontâneos. <strong>Os</strong> interlocutores se<br />

ajudam na formação da mensagem a ser falada. Há uma interação cooperativa. Sendo<br />

feita por improviso e construída em conjunto, é necessário que haja entendimento, ou<br />

seja, comunicação. <strong>Os</strong> falantes <strong>de</strong>vem estar num mesmo contexto, <strong>de</strong>vem saber o que<br />

está sendo tratado <strong>no</strong> tópico conversacional.<br />

Se é exato que “falamos através <strong>de</strong> textos”, isto é, se os discursos<br />

constituem <strong>de</strong> fato o objeto a<strong>de</strong>quado da lingüística; se, <strong>de</strong> outro lado,<br />

admitimos que a língua é um meio <strong>de</strong> resolver problemas que se<br />

apresentam constantemente na vida social, então a conversação po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rada a forma <strong>de</strong> base <strong>de</strong> organização da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

linguagem, já que ela é a forma da vida cotidiana, uma forma<br />

interativa, inseparável da situação. (BANGE, 1983, p.3)<br />

Baseado nessa <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> língua falada como jogo <strong>de</strong> improviso, iniciou-se um<br />

estudo da utilização <strong>de</strong> <strong>jogos</strong> <strong>de</strong> improviso teatral <strong>no</strong> auxílio da competência oral <strong>de</strong><br />

alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> Língua Portuguesa como língua estrangeira (PLE). A turma do PEC-G,<br />

composta por quinze alu<strong>no</strong>s <strong>estrangeiros</strong> (treze congoleses, um haitia<strong>no</strong> e uma<br />

camaronesa) foi escolhida <strong>para</strong> a aplicação <strong>de</strong>sses <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> com o fim <strong>de</strong> analisar a<br />

melhora na competência oral, sendo avaliados pelas Máximas <strong>de</strong> Grice (apud KOCH,<br />

2007, p. 27), que consistem em:<br />

Máxima da quantida<strong>de</strong>: dizer apenas a quantida<strong>de</strong> necessária <strong>para</strong> o<br />

entendimento da mensagem;<br />

Máxima <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>: falar sobre fatos verda<strong>de</strong>iros;<br />

Máxima <strong>de</strong> relevância: dizer apenas o que for relevante, importante;<br />

Máxima <strong>de</strong> modo: ser claro e conciso, sem prolixida<strong>de</strong>.<br />

Esses são princípios que regem a comunicação, segundo o filósofo, além <strong>de</strong><br />

também firmar que a comunicação exige um princípio <strong>de</strong> cooperação. “Isto é, quando<br />

duas ou mais pessoas se propõem interagir verbalmente, elas <strong>no</strong>rmalmente irão cooperar<br />

15


<strong>para</strong> que a interlocução transcorra <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada”. (KOCH, 2007, p. 27) Quando<br />

não há comunicação, significa dizer que essas máximas foram infringidas.<br />

Foram escolhidos dois <strong>jogos</strong>: um elaborado pela professora da turma e outro<br />

selecionado <strong>no</strong> fichário. Cada jogo foi aplicado em um nível diferente. O primeiro jogo<br />

foi aplicado <strong>no</strong> início do curso intensivo, quando os alu<strong>no</strong>s ainda estavam <strong>no</strong> nível<br />

básico e o segundo foi aplicado próximo ao final do curso, quando os alu<strong>no</strong>s estavam <strong>no</strong><br />

nível intermediário.<br />

Em seguida, faremos a análise do corpus recolhido na aplicação dos <strong>jogos</strong>.<br />

No primeiro jogo, os alu<strong>no</strong>s foram se<strong>para</strong>dos em dois grupos. Nem todos<br />

partici<strong>para</strong>m, mas os que tomaram parte foram <strong>de</strong> livre e espontânea vonta<strong>de</strong>, <strong>para</strong> que<br />

não houvesse constrangimento. Cada grupo recebeu um papel com um ditado popular 5<br />

acompanhado <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho que a representava “ao pé da letra”. <strong>Os</strong> alu<strong>no</strong>s, doravante<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minados jogadores, <strong>de</strong>veriam encenar um exemplo do uso <strong>de</strong>sse ditado. Foram<br />

dados 5 minutos <strong>para</strong> que eles <strong>de</strong>scobrissem o sentido do ditado e elaborasse um<br />

peque<strong>no</strong> roteiro <strong>de</strong> cena, pois as falas <strong>de</strong>veriam ser improvisadas.<br />

O primeiro grupo recebeu o ditado “Quem compra o que quer, ven<strong>de</strong> o que não<br />

quer”. <strong>Os</strong> jogadores simularam o seguinte exemplo: uma pessoa queria comprar um<br />

dicionário <strong>de</strong> <strong>português</strong> brasileiro, mas este era muito caro, então negociou uma forma<br />

<strong>de</strong> pagamento com o ven<strong>de</strong>dor. Esta forma não <strong>de</strong>u certo, pois o consumidor não tinha<br />

dinheiro <strong>para</strong> as outras parcelas. Desta forma, o consumidor ven<strong>de</strong>u alguns <strong>de</strong> seus<br />

pertences e conseguiu o dinheiro <strong>para</strong> pagar o restante das parcelas.<br />

Vamos analisar alguns trechos do jogo. A transcrição, na íntegra, se encontra em<br />

anexo <strong>para</strong> consulta.<br />

1.A1: Quem compra:: o que não po<strong>de</strong>... van<strong>de</strong> o que não qué (( se dirigindo a uma estante com<br />

dicionários))<br />

2.A2: Olá...Tudo bem? O que você quer?<br />

3.A1: Tudo bem... Eu preciso:: um dicionário:: <strong>português</strong><br />

4.A2: Sim... Tem... Português da Brasil ou da Portugal?<br />

5 Esses ditados fora retirados do livro Meu livro <strong>de</strong> folclore, <strong>de</strong> Ricardo Azevedo. Ver nas Referências<br />

Bibliográficas.<br />

16


5.A1: Do Brasil<br />

6.A2: ((procurando os dicionários na estante))<br />

7.A1: ( ) Quanto?<br />

8.A2: Eh::: cem cinqüenta reais<br />

9.A1: caRAMba::... Caro:: ((risos da platéia))<br />

10.A2: ( ) compra:: ... boa dicionário::<br />

11.A1: mas... não tenho:: cento cinqüenta reais<br />

12.A2: não não não (( acenando a cabeça))<br />

13.A1: por favo:::: ... cinqüenta::: {não<br />

14.A2: não não não ((acenando a cabeça)){ tenho::<br />

15.A1: prova amanha... por favo:: por favo:: me ajuda::<br />

16.A2: (( fazendo o gesto <strong>de</strong> negação com os <strong>de</strong>dos)) se você não tem dinheiro:: <strong>de</strong>ixa isso ( ) {<br />

me ajuda::<br />

17.A1: ( ) amanhã ou agorra::<br />

18.A2: eu vou te ajudar... ( ) da me o dinheiro você tem agora::... <strong>de</strong>pois... eh::... três dias...<br />

você vai... me ( ) dinheiro.<br />

19.A1: muito obrigado... ((pega o dicionário e aperta a mão <strong>de</strong> A2))<br />

Percebe-se, claramente, que os jogadores se encontram <strong>no</strong> nível básico, pois não<br />

conseguem formar uma oração sintaticamente completa, o que aparece em todos os<br />

segmentos da transcrição. Por exemplo, na linha 10, há “prova amanhã”, em vez <strong>de</strong><br />

“farei uma prova amanhã” ou “haverá uma prova amanhã”. No entanto, eles selecionam<br />

alguns itens lexicais que são essenciais <strong>para</strong> a compreensão. Apesar dos itens lexicais<br />

estarem isolados, eles possuem uma carga semântica que auxilia na compreensão dos<br />

jogadores. Isso contribui <strong>para</strong> a coerência e clareza <strong>no</strong> discurso. <strong>Os</strong> jogadores, então,<br />

obe<strong>de</strong>cem às Máximas <strong>de</strong> relevância, falando apenas o que é necessário <strong>para</strong> a conversa,<br />

e <strong>de</strong> modo, evitando ruídos na comunicação. Isso também se <strong>de</strong>ve ao fato dos jogadores<br />

envolvidos serem da mesma nacionalida<strong>de</strong>, então, enten<strong>de</strong>m o sotaque e possuem gestos<br />

comuns que auxiliam na interação.<br />

Rigorosamente, a <strong>no</strong>ção interacional <strong>de</strong> coerência toma como base<br />

<strong>para</strong> a produção <strong>de</strong> sentido os processos colaborativos <strong>no</strong> uso efetivo<br />

17


da língua. O sentido passa a ser uma construção social realizada na<br />

comunicação. (MARCUSCHI, 2007, p. 15)<br />

Porém, é muito interessante ressaltar a importância da imersão cultural <strong>de</strong>sses<br />

jogadores. Na linha <strong>no</strong>ve, o jogador A1 usa uma expressão coloquial característica <strong>de</strong><br />

falantes nativos da língua alvo: “caramba”. Certamente, se ele estivesse apren<strong>de</strong>ndo a<br />

Língua Portuguesa em seu país <strong>de</strong> origem, não conheceria tantas expressões, nem as<br />

usaria tão naturalmente. Além disso também usa marcas <strong>de</strong> interação, como aparece <strong>no</strong><br />

segmento treze, “por favor”.<br />

Nesse primeiro grupo, não há muita diferença <strong>de</strong> nível entre os jogadores, o que<br />

também facilita a interação entre eles e possibilita-os alcançarem o objetivo do jogo. De<br />

modo diferente, <strong>no</strong> segundo grupo, que recebeu a expressão “Gaiola bonita não alimenta<br />

canário”, há uma gran<strong>de</strong> diferença <strong>de</strong> nível entre os jogadores. Esse grupo simulou a<br />

situação <strong>de</strong> um mendigo que estava com muita fome, mas que não tinha dinheiro. Pediu<br />

dinheiro <strong>para</strong> uma pessoa aparentemente bonita e rica, pois estava muito bem vestida.<br />

Mas esta pessoa lhe dá apenas um real. Ao fim da encenação, entra uma outra pessoa<br />

que não estava tão bem vestida e dá ao mendigo alguns dólares.<br />

Como já foi dito anteriormente, a transcrição na íntegra se encontra em anexo.<br />

Vamos analisar alguns trechos <strong>de</strong>ssa encenação.<br />

62.A1: estou com uma sorte... parece que este este este... homem... tem algo <strong>para</strong> dar-me... que<br />

rOupa... que telefones... ((<strong>para</strong> A2)) você po<strong>de</strong>... ajudar-me? Todo dia não comi... não comi<br />

nada todo dia... se você po<strong>de</strong> ajudar-me com um pouco ...<br />

63.A2: <strong>de</strong> dinheiro?<br />

64.A1: sim...sim... <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r comprar alguma coisa pra comer porque ... sim...sim...<br />

65.A2: ((dá uma moeda))<br />

66.A1: ((aborrecido)) ê:: que isso? Um real? ((risadas da turma)) na::o ... não...a::::: meu <strong>de</strong>us...<br />

que coisa o que vou comer com um real?<br />

67.A3 ((entra na sala))<br />

68.A1: tudo bem? Por favor... eu... eu não... não tenho nada... <strong>para</strong> comer... durante todo o dia...<br />

eu propopropro curei procurei... alguém pra dar se se se você pu<strong>de</strong>r me dar um... um pouco <strong>de</strong><br />

dinheiro... <strong>para</strong> comprar só um pão<br />

69.A3: você quer dinheiro?<br />

18


70.A1: sim... não tEnho dinheiro... você po<strong>de</strong> ajudar-me? Com um pouco que você tem lá? ( )<br />

por favor... ar ((mão na barriga))<br />

71.A3: (( tirou dólares da carteira))<br />

72.A3: eu vou <strong>para</strong> você... eu vou <strong>para</strong> dAr... <strong>para</strong> você...dinheirro...<br />

73.Turma: que isso?<br />

74.A1: muito obrigado... e/r... muito obrigado senhor...ar...<br />

75.Turma: que i::::sso?<br />

76.A1: não sabia que... esta pessoa ((apontando <strong>para</strong> A3)) que... que... não ES... que não<br />

estava...bem... bem... bem vestIdo... po<strong>de</strong>ria ter um... uma moneta como assim? mUito... Ah<br />

((grito)) muito obrigado dEus... dEus muito obrigAdo...por tudo...<br />

Logo <strong>de</strong> início, po<strong>de</strong>mos perceber que há uma diferença <strong>de</strong> nível entre A1, A2 e A3.<br />

Diferença justificada pelo fato <strong>de</strong> A1 já ter feito curso <strong>de</strong> língua portuguesa em Angola, antes<br />

<strong>de</strong> iniciar seus estudos na UFPB. Díspar do resto da turma, A1 já falava bem <strong>português</strong>,<br />

construindo frases completas e complexas, usando preposições, pro<strong>no</strong>mes pessoais do caso reto<br />

e oblíquo, a negação redundante, apesar <strong>de</strong> possuir algumas <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s, o que é<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>no</strong>rmal <strong>para</strong> o nível básico.<br />

No segmento 66, A1 <strong>de</strong>monstra que não há o que comer com um real. Embora seja uma<br />

simulação, o jogador traz uma situação que ocorre na realida<strong>de</strong>: o que dá pra comer com apenas<br />

um real? Não se po<strong>de</strong> comer bem com um real. Uma boa alimentação é cara <strong>no</strong> país que agora<br />

eles vivem. Com a imersão, os jogadores po<strong>de</strong>m simular situações que são muito próximas à<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

O jogador A3 possui muita dificulda<strong>de</strong> em formular orações completas. No segmento<br />

72 vemos isso claramente. No início da frase, o jogador não obe<strong>de</strong>ce à máxima <strong>de</strong> modo, pois é<br />

uma frase confusa e fora do contexto, mas, em seguida, ele faz um reparo, que tem como função<br />

“formular melhor ou reformular um segmento maior ou me<strong>no</strong>r do texto já produzido, às vezes<br />

<strong>para</strong> sanar problemas <strong>de</strong>tectados quer pelo próprio locutor, quer pelo parceiro” (KOCH, 2007.<br />

p.114). Pela observação em sala <strong>de</strong> aula, o jogador A3 não é participativo, não fala. O jogo,<br />

espontâneo, forçou a interação pela linguagem entre este jogador e os outros participantes, fato<br />

que o ajuda bastante <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a sua habilida<strong>de</strong> oral na língua alvo.<br />

Quando os alu<strong>no</strong>s atingiram o nível intermediário, foi aplicado o segundo jogo à turma.<br />

Essa turma também possuía dois alu<strong>no</strong>s espanhóis, o que dificultou a interação dos jogadores.<br />

19


Por serem “<strong>no</strong>vatos”, os espanhóis não estavam bem integrados à turma. A interação não era tão<br />

espontânea. Havia diferenças culturais e o sotaque espanhol prejudicava um pouco a<br />

compreensão dos <strong>de</strong>mais.<br />

O segundo jogo é baseado em um que está contido <strong>no</strong> fichário <strong>de</strong> Viola Spolin, é<br />

chamado “Construindo uma história a partir <strong>de</strong> seleção randômica <strong>de</strong> palavras”. O foco, ou<br />

objetivo, é construir uma história a partir <strong>de</strong> palavras diferentes. Originalmente, os jogadores<br />

<strong>de</strong>vem, trabalhando em conjunto, escrever uma história com fichas contendo palavras diversas<br />

com carga semântica isolada. Mas adaptamos esse jogo <strong>para</strong> uma aula <strong>de</strong> conversação. Ao invés<br />

dos jogadores escreverem uma história, eles <strong>de</strong>vem contá-la <strong>de</strong> forma improvisada. O grupo<br />

recebe um título e algumas palavras escritas em pequenas fichas <strong>de</strong> papel, as quais são<br />

guardadas <strong>no</strong>s bolsos dos jogadores e retiradas <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr da narrativa. O jogador <strong>de</strong>ve inserir a<br />

palavra <strong>no</strong> contexto da narrativa oral. Nesta aplicação, os grupos possuíam cerca <strong>de</strong> 5 jogadores,<br />

cada jogador com duas fichas <strong>no</strong> bolso. Quando um jogador inseria as duas palavras na<br />

narrativa, “passava a vez” <strong>para</strong> o jogador seguinte, que, da mesma forma, <strong>de</strong>veria continuar a<br />

história. O ultimo jogador <strong>de</strong>ve encerrar a narrativa.<br />

sonho”.<br />

O primeiro grupo, que continha dois alu<strong>no</strong>s espanhóis, recebeu o título “Meu gran<strong>de</strong><br />

77.A1: ((mostra a palavra)) não sei qualé o meu gran<strong>de</strong> sonho...mas... há:::: dois meses...<br />

assim... que cheguei ao Brasil... e estou conhecendo a sua ((mostra o papel)) cultura... ((pega<br />

outra palavra e aponta)) o Brasil... tem um gover<strong>no</strong>... socialista ((risos))eh::: eu não conheço a<br />

sua presi<strong>de</strong>nta mas... o anterior foi lula da silba... Ele tinha um gran<strong>de</strong> sonho... acho...<br />

78.Professora: continua A2... não esqueça do titulo da estória... meu gran<strong>de</strong> sonho...<br />

79.A2: ((mostra o papel e ri)) em::: ((olha <strong>para</strong> o colega e ri)) eh:::: fala... não...<br />

80.Professora: continua o que ele tava falando<br />

81.A2: essos eram meus pensamentos...<strong>de</strong> ontem... em::: muito::: tar<strong>de</strong> da <strong>no</strong>ite? Em:::: quando<br />

eu::::acor<strong>de</strong>i...pra ir...ala gela<strong>de</strong>ira...em... a buscar? Água...mas...quando eu saí do quarto... a<br />

porta ((mostra o papel)) queda fechada...<br />

82.Professora: a porta estava fechada...<br />

83A2: e eu... fiquei... lá...( ) voltar a cama<br />

84.A3: ( ) meu sonho... é... viajar... <strong>para</strong> o Brasil...estudar... mas há gente que diz que... os<br />

<strong>estrangeiros</strong> não po<strong>de</strong> fazer o vestibular ((mostra o papel))...mas... acho que os brasileiros fazem<br />

o vestibular <strong>para</strong> começar a universida<strong>de</strong> mas eu não posso fazer o vestibular...só estudar a<br />

língua e <strong>de</strong>pois fazer aula <strong>no</strong>rmal...curso <strong>no</strong>rmal... mas... também quando começar a aula ( ) sou<br />

estudante (( mostra papel)) é isso... meu sonho...<br />

20


Nota-se que A1 e A2 são espanhóis pelas marcas do idioma. O som do “v” que é<br />

trocado pelo “β”, algumas palavras espanholas como “queda” (<strong>no</strong> segmento 81), entre<br />

outras marcas registradas na transcrição. Esses dois jogadores, por terem uma língua<br />

semelhante à <strong>no</strong>ssa, <strong>de</strong>senvolveram melhor a narrativa, tendo mais fluência. Porém, A3<br />

não compreen<strong>de</strong>u o foco do jogo e quebrou a narrativa que estava sendo <strong>de</strong>sconstruída.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que ele infringiu a máxima <strong>de</strong> relevância, pois ele não falou o que era<br />

importante <strong>para</strong> aquele momento da narrativa. O título recebido pelo grupo provoca um<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> si mesmo, principalmente com os alu<strong>no</strong>s congoleses. Observando a<br />

sala <strong>de</strong> aula, <strong>no</strong>tamos que os congoleses possuem um <strong>de</strong>sejo muito forte <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>les<br />

mesmos. E foi o que aconteceu com A3, pois ele <strong>de</strong>sconstruiu a história <strong>para</strong> falar do<br />

seu próprio sonho. Percebe-se aí um <strong>de</strong>slocamento. Por um lado, o alu<strong>no</strong> foge do jogo,<br />

não cumprindo a tarefa proposta, que é a sequência da narrativa previamente posta. Por<br />

outro lado, surge a fala espontânea, a fala <strong>de</strong> si mesmo, a fala real e não simulada,<br />

provocada pela temática em jogo.<br />

O segundo grupo foi contemplado com um título fantasioso que incita a<br />

narrativa fictícia: “A flor mágica”.<br />

90.A1: Era uma vez... na foresta... na floresta... uma criança...que estava... fazendo ((é<br />

atrapalhado por um alu<strong>no</strong>)) shiu... que estava... fazendo... e encontro::::u uma flo::::r... tão<br />

bonIta... que ela queria... ficar com Ela... e então... ela pegou água ((mostra o papel))... e...<br />

((olha pra um alu<strong>no</strong> e faz um gesto <strong>de</strong> regar plantas)) shiii... AM?<br />

91.A2: regar<br />

92.A1: regar... a flor... pra que ela fica bem bonita e pra sempre... essa menina... tinha... uma<br />

gata ((mostra o papel))... e essa gata... era tão inteligente... ela queria ficar com tudo... com a<br />

gata e com a flor...<br />

93.A2: mas... aquela menina que queria ficar com a flor mágica... não estava compreen<strong>de</strong>ndo o<br />

meu sotaque ((mostra o papel))... porque eu era estrangeiro... então não dava pra me enten<strong>de</strong>r<br />

((risos da turma)) quase estava per<strong>de</strong>ndo a minha flor mágica... que eu tinha <strong>de</strong>scoberto... mas<br />

caminhei com aquela menina ((mostra o papel))... segurava a flor mágica até a praia...<br />

aproveitarmos um por do sol mágico... ((risos da turma))... e todo mundo ficou feliz...<br />

No segmento 90, A1 inicia a narrativa com uma marca “era uma vez” que propõe uma<br />

narrativa fantasiosa. No discurso <strong>de</strong> A1 há <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s que não impe<strong>de</strong>m o entendimento<br />

da mensagem. No mesmo segmento, o jogador faz um reparo na própria fala e pe<strong>de</strong> ajuda a<br />

21


outro jogador <strong>para</strong> dizer um verbo que não sabia. <strong>Os</strong> jogadores cooperam mutuamente <strong>para</strong> que<br />

o objetivo seja cumprido. Eles próprios se ensinam.<br />

Nesse grupo não houve uma quebra da narrativa. Todos os jogadores se enten<strong>de</strong>ram e<br />

compreen<strong>de</strong>ram o foco do jogo. Apesar <strong>de</strong> alguns erros gramaticais (permitidos <strong>no</strong> nível<br />

intermediário), as orações são bem construídas, diferente das orações elaboradas <strong>no</strong> nível<br />

básico. Houve, então, a obediência das máximas <strong>de</strong> relevância e <strong>de</strong> modo.<br />

96.A4: voltando da praia... com a flor mágica... coloc... coloquei na mesa... e a caneta tava...<br />

bem.. tava... e... perto <strong>de</strong> um prato... aí a flor... a flor... voava... <strong>no</strong> prato e pegou... pegou a<br />

caneta... e... jogou lá na gata que tava <strong>de</strong>baixo da mesa... ((tosse)) aí...a gata comprimiu... aí..<br />

daí... a gata...começou uma briga entre a gata e a flor...a flor... que era uma flor mágica... bateu<br />

em a gata e... na gata... e a gata acho que ficou chorando...<br />

97.A5: ê... a gata... queria comer muito...a flor mágica... ((risos)) o flor mágica...<br />

98.A1: a flor...<br />

99.A5: a flor... a flor...a flor mágica... mas ela não tem.... meio <strong>para</strong> comer... e ela gosta muito<br />

<strong>de</strong> passear... <strong>para</strong> a praia e <strong>para</strong> outros lugares... ((coçando a cabeça)) cabou...<br />

Nessa sequência, po<strong>de</strong>mos observar a utilização do marcador “aí”, frequente <strong>no</strong><br />

discurso oral e narrativo. Trata-se <strong>de</strong> um marcador temporal, que indica a continuida<strong>de</strong><br />

das ações, o <strong>de</strong>senrolar do enredo. Essa marca é resultado da imersão cultural do<br />

jogador que, ao observar nativos falando, absorveu-a. No segmento 99, A5 diz “cabou”,<br />

fragmento <strong>de</strong> “acabou” que é usado informalmente na língua falada, também resultado<br />

da imersão.<br />

“O jogo é uma das peças mais importantes <strong>para</strong> a solução <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m pedagógica, <strong>de</strong>vendo ser elevado à categoria <strong>de</strong> fundamento <strong>de</strong> métodos<br />

educacionais” (KOUDELA, 2007, p. 21). Ao usar o lúdico em sala <strong>de</strong> aula, o alu<strong>no</strong> se<br />

sente mais à vonta<strong>de</strong> <strong>para</strong> “errar”, pois o aprendizado se torna mais espontâneo. Com o<br />

auxilio da simulação, <strong>jogos</strong> dramáticos, a turma <strong>de</strong> PLE é levada a <strong>de</strong>senvolver<br />

competências orais, que po<strong>de</strong>m influenciar na escrita, por meio <strong>de</strong> aulas dinâmicas e<br />

tornam produtivas, em que há o interesse por parte dos aprendizes.<br />

Como posto anteriormente, se a abordagem metodológica utilizada nas aulas <strong>de</strong><br />

PLE prioriza a comunicação, <strong>de</strong>vemos ter como meta <strong>de</strong>senvolver, <strong>de</strong> modo integrado,<br />

as quatro habilida<strong>de</strong>s. As práticas <strong>de</strong>monstradas neste trabalho sugerem que os <strong>jogos</strong><br />

<strong>teatrais</strong> são alternativas <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> oral, pois simulam<br />

22


situações que levam o alu<strong>no</strong> a agir como se estivesse em situações reais <strong>de</strong> uso da<br />

língua.<br />

23


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

“O „brinquedo‟ é, sob as suas diferentes formas, ainda hoje praticamente<br />

excluído do sistema educacional, sendo que diversão e ensi<strong>no</strong> são em gran<strong>de</strong> parte tidos<br />

como fatores incompatíveis” (KOUDELA, 2007, p. 21). Quando <strong>no</strong>s <strong>de</strong><strong>para</strong>mos com<br />

uma sala repleta <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s adultos, temos medo <strong>de</strong> usar o lúdico, pois este é visto como<br />

perda <strong>de</strong> tempo. Po<strong>de</strong> ser que quando usado, é <strong>de</strong> forma que obrigue o alu<strong>no</strong> a participar<br />

da “dinâmica” ou “brinca<strong>de</strong>ira”, o que o constrange. Porém, sempre ouvimos falar que<br />

quando <strong>no</strong>s divertimos apren<strong>de</strong>mos melhor.<br />

Como foi visto <strong>no</strong> primeiro capítulo, os <strong>jogos</strong> <strong>teatrais</strong> não são <strong>no</strong>vos, nem são<br />

<strong>de</strong>sconhecidos e foram criados <strong>para</strong> auxiliar também <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e<br />

aprendizagem. Já <strong>no</strong> segundo capítulo, pu<strong>de</strong>mos observar o quanto esses <strong>jogos</strong>, sendo<br />

aplicados <strong>de</strong> forma espontânea, <strong>de</strong>ixando o alu<strong>no</strong> livre <strong>para</strong> participar ou não,<br />

facilitaram, por meio da interação e cooperação dos jogadores, a aquisição da língua<br />

alvo.<br />

Além <strong>de</strong> trazer um aspecto lúdico, divertido <strong>para</strong> uma aula que possui uma carga<br />

horária diária extensa, as simulações fizeram os alu<strong>no</strong>s usarem o que foi aprendido em<br />

sala <strong>de</strong> aula e acrescentarem, sem medo <strong>de</strong> serem reprovados, as expressões apreendidas<br />

<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> imersão, que são usadas pelos seus colegas nativos <strong>no</strong> dia a dia.<br />

Diante disso, os alu<strong>no</strong>s/jogadores se tornam mais capazes <strong>de</strong> interagir em um<br />

momento <strong>de</strong> avaliação, como o exame Celpe-Bras, pois não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar<br />

que a prática do teatro também <strong>no</strong>s tira a timi<strong>de</strong>z e <strong>de</strong>senvolve a <strong>no</strong>ssa oralida<strong>de</strong>, seja na<br />

língua materna ou na língua estrangeira.<br />

A interação <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> diferentes culturas e diferentes sotaques enriquece uma<br />

aula, já que haverá uma maior dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão e o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong>verá se focar e<br />

se concentrar mais <strong>para</strong> que haja entendimento. E a própria cultura brasileira é mostrada<br />

e vivida com veracida<strong>de</strong>.<br />

A elaboração <strong>de</strong>ste trabalho foi um pouco difícil pelo fato <strong>de</strong> não haver muitas<br />

pesquisas na área <strong>de</strong> PLE. São poucas, recentes e <strong>de</strong> bibliografia restrita. Porém, pelo<br />

mesmo motivo, ainda há muito que se pesquisar. É uma área promissora, pois como<br />

vimos <strong>no</strong> início do trabalho, o interesse dos <strong>estrangeiros</strong> em apren<strong>de</strong>r a língua<br />

24


portuguesa vem crescendo. E as pesquisas estão se formalizando aca<strong>de</strong>micamente há<br />

pouco tempo, como diz o presi<strong>de</strong>nte da SIPLE 6 , José Carlos Paes <strong>de</strong> Almeida Filho<br />

(2007).<br />

Nas universida<strong>de</strong>s brasileiras não existe uma graduação que capacite os alu<strong>no</strong>s<br />

<strong>de</strong> Letras <strong>para</strong> seguir a profissão <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> PLE, ou pesquisador. O PLEI foi<br />

importante <strong>para</strong> a minha formação, pois tive acesso a essa escassa pesquisa, o que me<br />

possibilitou elaborar melhor as minhas aulas. O programa foi fundamental <strong>para</strong> a minha<br />

formação como professora. Aprendi a elaborar aulas, material didático, controlar tempo<br />

<strong>de</strong> aula, entre outras coisas que só se apren<strong>de</strong>m na prática.<br />

Este trabalho foi o início <strong>de</strong> uma pesquisa que pretendo aprofundar futuramente.<br />

Trabalhar e pesquisar <strong>no</strong> PLEI foi uma experiência muito importante <strong>para</strong> a minha<br />

formação e <strong>para</strong> a elaboração <strong>de</strong>ste trabalho. Outros participantes do programa também<br />

se inserem nessa <strong>no</strong>va área <strong>de</strong> pesquisa. Em breve, muitos outros trabalhos serão<br />

elaborados <strong>para</strong> enriquecer a pesquisa em PLE.<br />

6 Socieda<strong>de</strong> Internacional <strong>de</strong> Português Língua Estrangeira<br />

25


Referência Bibliográfica<br />

ALMEIDA FILHO, JCP & CUNHA, MJC Projetos iniciais <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Português<br />

a falantes <strong>de</strong> outras línguas. Campinas e Brasília: Pontes Editores e Editora da UnB,<br />

2007.<br />

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. Ed.10, 1ª<br />

reimpressão. São Paulo: Contexto, 2007.<br />

KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht: um jogo <strong>de</strong> aprendizagem. São Paulo:<br />

Perspectiva, 2007.<br />

LARSEN-FREEMAN, D. Techniques and principles in language teaching. New<br />

York: OUP, 1986.<br />

MARCUSCHI, Luís Antônio. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Lucerna, 2007.<br />

SPOLIN, Viola. Jogos <strong>teatrais</strong>: o fichário <strong>de</strong> Viola Spolin. Tradução <strong>de</strong><br />

KOUDELA, Ingrid Dormien. São Paulo: Perspectiva, 2001.<br />

_____________ Improvisação <strong>para</strong> o teatro Tradução e revisão <strong>de</strong> KOUDELA,<br />

Ingrid Dormien e AMOS, Eduardo José <strong>de</strong> Almeida. São Paulo: Perspectiva, 2010.<br />

_____________ O jogo teatral <strong>no</strong> livro do direto. Tradução <strong>de</strong> KOUDELA, Ingrid<br />

Dormien e AMOS, Eduardo. São Paulo: Perspectiva, 2008.<br />

26


ANEXO<br />

27


1º Jogo<br />

Transcrições<br />

Grupo 1: Quem compra o que quer, ven<strong>de</strong> o que não quer.<br />

1.A1: Quem compra:: o que não po<strong>de</strong>... van<strong>de</strong> o que não qué (( se dirigindo a uma estante com<br />

dicionários))<br />

2.A2: Olá...Tudo bem? O que você quer?<br />

3.A1: Tudo bem... Eu preciso:: um dicionário:: <strong>português</strong><br />

4.A2: Sim... Tem... Português da Brasil ou da Portugal?<br />

5.A1: Do Brasil<br />

6.A2: ((procurando os dicionários na estante))<br />

7.A1: ( ) Quanto?<br />

8.A2: Eh::: cem cinqüenta reais<br />

9.A1: caRAMba::... Caro:: ((risos da platéia)<br />

10.A2: ( ) compra:: ... boa dicionário::<br />

11.A1: mas... não tenho:: cento cinqüenta reais<br />

12.A2: não não não (( acenando a cabeça))<br />

13.A1: por favo:::: ... cinqüenta::: {não<br />

14.A2: não não não ((acenando a cabeça)){ tenho::<br />

15.A1: prova amanha... por favo:: por favo:: me ajuda::<br />

16.A2: (( fazendo o gesto <strong>de</strong> negação com os <strong>de</strong>dos)) se você não tem dinheiro:: <strong>de</strong>ixa isso ( ) {<br />

me ajuda::<br />

17.A1: ( ) amanhã ou agorra::<br />

18.A2: eu vou te ajudar... ( ) da me o dinheiro você tem agora::... <strong>de</strong>pois... eh::... três dias...<br />

você vai... me ( ) dinheiro.<br />

19.A1: muito obrigado... ((pega o dicionário e aperta a mão <strong>de</strong> A2))<br />

20.A2: mais tar<strong>de</strong>... ((espera um pouco)) ei ei ei ei (( <strong>para</strong> A1 que passa em sua frente)) meu<br />

dinhEIrro::<br />

21.A1: eu não tenho isso agorra...<br />

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22.A2: (( pegando <strong>de</strong> volta o dicionário <strong>de</strong> A1)) meu dinheirro meu dinheirro... meu dinheirro...<br />

23.A1: va va va vamos fazer isso... eu vou procurar dinheiro... { da-me<br />

24.A2: da-me essa camisa... ((puxando a mohila <strong>de</strong> A1))<br />

25.A1: Vou procurrar dinheirro... vou prourrar dinheirro... espere... eu conheço ele((apontando<br />

<strong>para</strong> A3)) O..o...oi... meu amigo... eu preciso <strong>de</strong> dinheiro agora!<br />

26.A3: Eu tenho não dinheiro<br />

27.A1: que isso:: que isso:: ?<br />

28.A3: o que você fazer com...com.. dinheiro?<br />

29.A1: comprei um dicionário::<br />

30.A3: a::::::... eu não tem dinheiro...hum hum... não tem dinheiro...<br />

31.A1: não po<strong>de</strong> fazer alguma coisa por mim?<br />

32.A3: a::::rra:::: não tenho dinheiro...<br />

33.A1: ta bom... ta bom... ta bom... (( <strong>para</strong> A4)) oi... amigo... preciso <strong>de</strong> dinheiro<br />

34.A4: o:: tudo bem?<br />

35.A1: preciso <strong>de</strong> dinheiro...<br />

36.A4: dinheiro?<br />

37.A1: preciso <strong>de</strong> dinheiro agora... eh importente...<br />

38.A4: Por que?<br />

39.A1: vou comprar a ele ((aponta <strong>para</strong> A1)) um dicionário...<br />

40.A4: dicionario?<br />

41.A1: preciso fazer... tenho prova<br />

42.A4: Quanto é o dicionário?<br />

43.A1: cem reais...<br />

44.A4: cem reais? Cem reais?<br />

45.A1: cem...cem reais<br />

46.A4: muito carro...<br />

47.A1: dgia dgia dgia <strong>de</strong>i... cinqüenta<br />

48.A4: cinqüenta? Ah:: falta cem reais<br />

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49.A1: falta...falta<br />

50.A4: ((mexe <strong>no</strong> bolso)) espere... não... não tenho... não tenho... mas... espera... vim cá... vim<br />

cá... você tem... uma... uma boa bolsa...<br />

51.A1: gosta? Gosta?<br />

52.A4: mi gosto moito...<br />

53.A1: primeira... primeira carida<strong>de</strong>...<br />

54.A4: mas... po<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r <strong>para</strong> mim essa bolsa?<br />

55.A1: com isso? ((dá os óculos escuros))<br />

56.A4: Com isso? Au... Quanto?<br />

57.A1: junto... junto... cem reais<br />

58.A4: cem reais? Não... cem e cinqüenta... cem cinqüenta reais...<br />

ALUNA DE FORA DO EXERCÍCIO: na:::o... cento e trinta<br />

59.A1: ta bom... ta bom... ((apertam as mãos)) a::::... bolsa... minha bolsa... ((mão na cabeça))<br />

60.A2: ((recebendo o dinheiro)) muito obrigado... muito obrigado...<br />

Grupo 2: Gaiola bonita não alimenta canário<br />

61.A1: quer dizer que ((lendo)) “se alguém se apaixona por uma pessoa bonita... po<strong>de</strong> ver que<br />

esta pessoa não paga o que ele quer” ((largando o papel)) estou muito muito com fome<br />

fome...não sabe...o que fa... não sEi o que fazer... eu...hoje... eu vou comEr... o que eu vou<br />

comer <strong>de</strong>us? Durante todo o dia... durante todo o dia... eu... eu... ((põe as mãos <strong>no</strong>s joelhos)) me<br />

sinto mal...a:::i ((senta <strong>no</strong> chão))<br />

((entram 3 alu<strong>no</strong>s na sala bem vestidos))<br />

62.A1: estou com uma sorte... parece que este este este... homem... tem algo <strong>para</strong> dar-me... que<br />

rOupa... que telefones... ((<strong>para</strong> A2)) você po<strong>de</strong>... ajudar-me? Todo dia não comi... não comi<br />

nada todo dia... se você po<strong>de</strong> ajudar-me com um pouco ...<br />

63.A2: <strong>de</strong> dinheiro?<br />

64.A1: sim...sim... <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r comprar alguma coisa pra comer porque ... sim...sim...<br />

65.A2: ((dá uma moeda))<br />

66.A1: ((aborrecido)) ê:: que isso? Um real? ((risadas da turma)) na::o ... não...a::::: meu <strong>de</strong>us...<br />

que coisa o que vou comer com um real?<br />

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67.A3 ((entra na sala))<br />

68.A1: tudo bem? Por favor... eu... eu não... não tenho nada... <strong>para</strong> comer... durante todo o dia...<br />

eu propopropro curei procurei... alguém pra dar se se se você pu<strong>de</strong>r me dar um... um pouco <strong>de</strong><br />

dinheiro... <strong>para</strong> comprar só um pão<br />

69.A3: você quer dinheiro?<br />

70.A1: sim... não tEnho dinheiro... você po<strong>de</strong> ajudar-me? Com um pouco que você tem lá? ( )<br />

por favor... ar ((mão na barriga))<br />

71.A3: (( tirou dólares da carteira))<br />

(( a turma fia alvoroçada)) Turma: que isso? Ê...<br />

72.A3: eu vou <strong>para</strong> você... eu vou <strong>para</strong> dAr... <strong>para</strong> você...dinheirro...<br />

73.Turma: que isso?<br />

74.A1: muito obrigado... e/r... muito obrigado senhor...ar...<br />

75.Turma: que i::::sso?<br />

76.A1: não sabia que... esta pessoa ((apontando <strong>para</strong> A3)) que... que... não ES... que não<br />

estava...bem... bem... bem vestIdo... po<strong>de</strong>ria ter um... uma moneta como assim? mUito... Ah<br />

((grito)) muito obrigado dEus... dEus muito obrigAdo...por tudo...<br />

2º Jogo<br />

Grupo 1: Meu gran<strong>de</strong> sonho<br />

77.A1: ((mostra a palavra)) não sei qualé o meu gran<strong>de</strong> sonho...mas... há:::: dois meses...<br />

assim... que cheguei ao Brasil... e estou conhecendo a sua ((mostra o papel)) cultura... ((pega<br />

outra palavra e aponta)) o Brasil... tem um gover<strong>no</strong>... socialista ((risos))eh::: eu não conheço a<br />

sua presi<strong>de</strong>nta mas... o anterior foi lula da silba... Ele tinha um gran<strong>de</strong> sonho... acho...<br />

78.Professora: continua A2... não esqueça do titulo da estória... meu gran<strong>de</strong> sonho...<br />

79.A2: ((mostra o papel e ri)) em::: ((olha <strong>para</strong> o colega e ri)) eh:::: fala... não...<br />

80.Professora: continua o que ele tava falando<br />

81.A2: essos eram meus pensamentos...<strong>de</strong> ontem... em::: muito::: tar<strong>de</strong> da <strong>no</strong>ite? Em:::: quando<br />

eu::::acor<strong>de</strong>i...pra ir...ala gela<strong>de</strong>ira...em... a buscar? Água...mas...quando eu saí do quarto... a<br />

porta ((mostra o papel)) queda fechada...<br />

82.Professora: a porta estava fechada...<br />

83A2: e eu... fiquei... lá...( ) voltar a cama<br />

84.A3: ( ) meu sonho... é... viajar... <strong>para</strong> o Brasil...estudar... mas há gente que diz que... os<br />

<strong>estrangeiros</strong> não po<strong>de</strong> fazer o vestibular ((mostra o papel))...mas... acho que os brasileiros fazem<br />

o vestibular <strong>para</strong> começar a universida<strong>de</strong> mas eu não posso fazer o vestibular...só estudar a<br />

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língua e <strong>de</strong>pois fazer aula <strong>no</strong>rmal...curso <strong>no</strong>rmal... mas... também quando começar a aula ( ) sou<br />

estudante (( mostra papel)) é isso... meu sonho...<br />

85.A4: (( abre o primeiro papel))<br />

86.Professora: lembrem <strong>de</strong> continuar a estória... aí você não po<strong>de</strong> entrar <strong>no</strong> quarto... por que o<br />

quarto estava fechado... aí... o que aconteceu?<br />

87.A4: eu olho... ao redor ao redor... pra ver se tem um vizinho... pra me ajudar... pra me<br />

ajudar... por que a portA estava ... fechada então... eu não tinha a chave comigo... então... vou<br />

busc... então quando eu Olho... <strong>no</strong> meu lado tive um vizinho lá... que me::: ajudou pra... pra<br />

quebrAr a minha porta ((risos)) ... porque não tinha a chave comigo... e também ((mostra o<br />

papel)) eu pensei nesse momento que tinha muita sauda<strong>de</strong> da minha família... eh por ela que eu<br />

estou aqui estudando... eh um gran<strong>de</strong> sonho também... ( ) satisfazer minha família<br />

88.A5: vamos ver que... vem nesses papéis... (( pega um papel))<br />

Professora: agora tem que terminar a estória... tava com sauda<strong>de</strong> da família...<br />

89.A5: sim... sauda<strong>de</strong> da família... porta fechada... eu tenho um maior sonho... sobre isso... vai<br />

ser sanar a doença ((mostra o papel))... mas a doença não po<strong>de</strong> impedir o meu sonho pra que<br />

ele não seja cumprida... eu tenho que lutar... nenhum sonho foi faxil <strong>de</strong> conseguir... temos que<br />

olhar através da estória... ( ) todas pessoas que sonharam ficaram doente... mas um bom sonho<br />

começa quando você é criança ((mostra o papel)) quando você é criança... e <strong>de</strong>sse jeito que um<br />

bom sonho começa... até quando você vai crescer... vai conseguir o sonho... nunca <strong>de</strong>sista...<br />

((palmas))<br />

Grupo 2: Uma flor mágica<br />

90.A1: Era uma vez... na foresta... na floresta... uma criança...que estava... fazendo ((é<br />

atrapalhado por um alu<strong>no</strong>)) shiu... que estava... fazendo... e encontro::::u uma flo::::r... tão<br />

bonIta... que ela queria... ficar com Ela... e então... ela pegou água ((mostra o papel))... e...<br />

((olha pra um alu<strong>no</strong> e faz um gesto <strong>de</strong> regar plantas)) shiii... AM?<br />

91.A2: regar<br />

92.A1: regar... a flor... pra que ela fica bem bonita e pra sempre... essa menina... tinha... uma<br />

gata ((mostra o papel))... e essa gata... era tão inteligente... ela queria ficar com tudo... com a<br />

gata e com a flor...<br />

93.A2: mas... aquela menina que queria ficar com a flor mágica... não estava compreen<strong>de</strong>ndo o<br />

meu sotaque ((mostra o papel))... porque eu era estrangeiro... então não dava pra me enten<strong>de</strong>r<br />

((risos da turma)) quase estava per<strong>de</strong>ndo a minha flor mágica... que eu tinha <strong>de</strong>scoberto... mas<br />

caminhei com aquela menina ((mostra o papel))... segurava a flor mágica até a praia...<br />

aproveitarmos um por do sol mágico... ((risos da turma))... e todo mundo ficou feliz...<br />

94.A3: a flor mágica... foi muito:: foi muito legA::l... <strong>de</strong>scobrira uma flora mágica...que<br />

maravilha <strong>de</strong> dEus... ((mostra o papel)) que maravilha...e... caminhando até a praia...é...teve...<br />

uma gran<strong>de</strong>... uma gran<strong>de</strong>...uma gran<strong>de</strong>::: oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir uma gente muito<br />

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importante... mas... eu vi que::: como sou danado... era muito ruim ((mostra o papel)) <strong>de</strong> passar<br />

uma <strong>no</strong>i... <strong>de</strong> passar um dia... um dia:: um dia tão... um dia tão che cheio fora... e é por isso que<br />

eu:: eu <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> caminhar até... até meia <strong>no</strong>ite...<br />

95.Professora: <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> caminhar até meia <strong>no</strong>ite... e cadê a flor mágica? Cadê a flor mágica?<br />

96.A4: voltando da praia... com a flor mágica... coloc... coloquei na mesa... e a caneta tava...<br />

bem.. tava... e... perto <strong>de</strong> um prato... aí a flor... a flor... voava... <strong>no</strong> prato e pegou... pegou a<br />

caneta... e... jogou lá na gata que tava <strong>de</strong>baixo da mesa... ((tosse)) aí...a gata comprimiu... aí..<br />

daí... a gata...começou uma briga entre a gata e a flor...a flor... que era uma flor mágica... bateu<br />

em a gata e... na gata... e a gata acho que ficou chorando...<br />

97.A5: ê... a gata... queria comer muito...a flor mágica... ((risos)) o flor mágica...<br />

98.A1: a flor...<br />

99.A5: a flor... a flor...a flor mágica... mas ela não tem.... meio <strong>para</strong> comer... e ela gosta muito<br />

<strong>de</strong> passear... <strong>para</strong> a praia e <strong>para</strong> outros lugares... ((coçando a cabeça)) cabou...<br />

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