m - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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AMAZÔNIA CIDADANIA<br />
ransporte: ^v. . Eleições 96:<br />
> drama da As carla^eslão v<br />
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6DU FbP ?/£-<br />
aumcir<br />
..■ f^á<br />
111 «ilWi<br />
Revisto CU/RA é uma pub/icoçao bimestral sem<br />
fins lucrativos do Instituto Universida<strong>de</strong> Popular,<br />
em parceria neste número com a Agência <strong>de</strong><br />
Noticias Emaús, Fase, Cepepo, /par, SPDDH,<br />
AE6A, e Comitê Cidadania - PA. As matérias<br />
assinadas não representam necessariamente a<br />
opinião da UNIPOP e seus parceiros.<br />
CUIRA: termo originário do tupi-guarani, significa<br />
inquietação.<br />
Um terço do arrecadada em banca é doado à<br />
Campanha <strong>de</strong> Combate à Fome.<br />
Conselho Editorial: Unipop, Agência Emaús,<br />
'epepo. Fase, /par.<br />
Edição: João Claudia Arroyo<br />
Jornalista Resp.: Cabriela Athias - MTbl073/<br />
DRT-Pa<br />
Edição <strong>de</strong> Fotografia: Miguel Chikaoka<br />
Chorges: Paulo Emmanuel<br />
Jornalista Estagiária: Mileny Matos<br />
Secretária: Marisselma.<br />
Projeto Gráfico e Editoração: Nonato Moreira,<br />
Augusto Henrique e Luiz Pinto<br />
Impressão: Be/ Graff Offset<br />
Apoio: Pão para o Mundo, ICCO, Cristian Aid,<br />
Campo Limpo, Unicef, Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral,<br />
Basa e UFPA.<br />
OS J^N 1995<br />
5 Editorial: Uma página não virada<br />
VL Cidadania: Pessoas que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhece<br />
14 Economia: Fim <strong>de</strong> linha para o transporte público<br />
10 Política: Cartas marcadas nas eleições municipais<br />
±u Perfil: Norton Nascimento fala <strong>de</strong> vida e arte<br />
Li Cultura: o clip <strong>de</strong> Vlichacl Jackson na Amazônia<br />
Z4 Direitos Humanos: Um arquivo <strong>de</strong>saparecido<br />
.Zo Esporte: Giovanni, o nosso homem-gol<br />
3 \ Memória: Jinkings e sua vida <strong>de</strong> lutas<br />
%JTP Especial: Seca no Solimões faz rio virar sertão<br />
Ò I Ensaio: Michel Chikaoka entre crianças c adolescentes<br />
nrU Ecologia: Atrás do paraíso no Parque do Jaú<br />
44 Teoria e Estratégia: Os índios e a <strong>de</strong>marcação<br />
4 / Humor: Paulo Emmanuel e sua versão do "Caso Sivam'<br />
Instituto Universida<strong>de</strong> Popular: Av. Senador Lemos, 557<br />
- Telégrafo - Fone-Fax: (091) 241-8716 (direto) - Caixa<br />
Postal 1098 - Cep. 66050-000 - Belém - Pará - Brasil<br />
Coletivo c/e Educadores: Aldalice Otferloo, Cristina<br />
Alcântara, Dirk Oesselmann, Elias Araújo, João Claudia<br />
Arroyo, Olinda Charone e Roso Marga Rothe.<br />
Conselho <strong>de</strong> Representantes: CUT, CBB, Fetagri, CPB,<br />
IECLB, /PAR, /gre;a Anglicana, SPDDH, FASE, CIPES, <strong>Centro</strong><br />
19 <strong>de</strong> Julho, Campos, CPT, NAEA, PROEX/UFPA, Movimento<br />
República <strong>de</strong> Emaús, Igreja Metodista e CEDENPA.
n<br />
E. n<br />
PERU<br />
AMAZONAS<br />
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Hangar: (068) 224-1578 • (box aeroporto)<br />
fax: (068) 224-3654 • Caixa Postal 484<br />
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o<br />
RONDÔNIA<br />
BOLÍVIA
E d 1 t o r i a 1<br />
Uma página<br />
não virada<br />
O dia internacional dos Direitos Humanos, infelizmente, vai pas-<br />
sar em branco para os brasileiros, e mais ainda para os paraenses. O<br />
país não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> freqüentar relatórios que <strong>de</strong>nunciam, na comuni-<br />
da<strong>de</strong> internacional, maus-tratos cometidos contra cidadãos pobres, e<br />
geralmente, sem parentes importantes.<br />
No Pará, o capítulo dos presos pohticos ainda é uma página não<br />
virada da nossa história recente. O arquivo do extinto Doi-Codi, a<br />
exemplo do que aconteceu com centenas <strong>de</strong> militantes <strong>de</strong> esquerda,<br />
<strong>de</strong>sapare^u. Está em "lugar incerto e não sabido". Os jornalistas<br />
Iran <strong>de</strong> Souza e Suely Leitão rastrearam os registros oficiais, mas<br />
tudo o que encontraram foram informações absurdas, obtidas atra-<br />
vés <strong>de</strong> "arapongas" incompetentes, que classificaram o coronel Jarbas<br />
Passarinho como "simpatizante do comunismo".<br />
Gabriela Athias conta os bastidores da corrida à prefeitura<br />
dé Belém, que mal <strong>de</strong>u partida, mas já se assemelha a um labirin-<br />
to, cuja saída é bem pouco iluminada. Luciana Miranda foi ao<br />
Amazonas e fez um raio-X do parque do Jaú, um dos maiores do<br />
país, que é assaltado por exploradores em busca <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ani-<br />
mai| raros, sçm que o Ibama tenha condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>tê-los. Kátia<br />
Brasil, <strong>de</strong> Novo Airão, no Amazonas, assina uma reportagem dra-<br />
rhãtica sobre a segunda maior seca dós rios Solimões e Negro, que<br />
isolou comunida<strong>de</strong>s riberinhas ç matou milhares <strong>de</strong> peixes. Iran<br />
<strong>de</strong> Souza foi a Santos, em São Paulo, trazer o craque Giovanni aos<br />
nossos leitores da Cuíra. Dènio Maués foi encontrar Michael<br />
Jackson em Alter-do-Chão (Santarém), mas surpreen<strong>de</strong>-se ao sa-<br />
ber que o megaestar gravou seu novo ví<strong>de</strong>o Clip, que se passa na-<br />
quele balneário, sem sair <strong>de</strong> casa.
? :<br />
Enfim, chegou!<br />
.^^-.s^^<br />
5<br />
o»'<br />
A gente estava Cuíra para trazer o jornal<br />
"FOLHA DO AMAPÁ" até os nossos leitores. Agora<br />
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Saiba mais sobre a Amazônia. Leia<br />
ACRE<br />
JoraalPessoal i Página 20<br />
091 ) 223-7690 e 223-1929 (068) 224-1327<br />
r<br />
■
Vers ao<br />
Lobby po<strong>de</strong>roso da Associação<br />
dos Municípios do Araguaia e Tocantins<br />
(Amat), a mais rica e organizada repre-<br />
sentação municipal do Pará, mobilizou a<br />
Comissão Financeira e Orçamentária da<br />
Assembléia Legislativa durante a vota-<br />
ção do projeto do govemo que prevê o<br />
repasse <strong>de</strong> verbas do ílindo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvol-<br />
vimento da Companhia Vale do Rio<br />
Doce.<br />
A versão original do projeto be-<br />
neficia os 12 municípios que estão sob<br />
influência direta do projeto Gran<strong>de</strong><br />
Carajás. Emenda do <strong>de</strong>putado Aloisio<br />
Chaves tentou dividir as verbas do fun-<br />
do - que acrescido <strong>de</strong> investimento do<br />
Executivo estadual virou R$ 11 milhões<br />
- com municípios localizados na área <strong>de</strong><br />
influencia dos seguintes projetos: Mine-<br />
ração Rio do Norte, Albras e Alunorte.<br />
Detalhe: o lucro <strong>de</strong>sses projetos<br />
<strong>de</strong> mineração não compõe o fundo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento da Vale, e coinci<strong>de</strong>nte-<br />
mente essas cida<strong>de</strong>s são redutos eleito-<br />
rais <strong>de</strong> Chaves.<br />
Acabaram entrando na partilha<br />
somente os municípios que constavam<br />
no projeto original. São eles: Parauape-<br />
bas, Marabá, Água Azul, Bom Jesus do<br />
Tocantins,Curíonópolis, Abel Figueire-<br />
do, Brejo Gran<strong>de</strong> do Araguaia, Eldora-<br />
do <strong>de</strong> Carajás, Itupiranga, Rondon do<br />
Pará, São domingos do Araguaia e São<br />
Jorge do Araguaia. Ficaram fora da área:<br />
Oriximmá, Óbidos, Terra Santa, Faro,<br />
Ipixuna, Paragominas e Tomé-Açú.<br />
Os municípios que estão fora da<br />
área <strong>de</strong> influência do projeto Gran<strong>de</strong><br />
Carajás <strong>de</strong>vem ser beneficiados pelo fun-<br />
do da CVRD ?<br />
Fora <strong>de</strong> área<br />
SIM<br />
"Ao excluir esses municípios, a Vale<br />
não está consi<strong>de</strong>rando os empreendimen-<br />
tos Mineração Rio do Norte, Parapigmentos,<br />
Albrás e Alunorte como área <strong>de</strong> atuação<br />
sua. Será que só para pressionar o Estado,<br />
a fim <strong>de</strong> obter incentivos fiscais, essas em-<br />
presas têm participação e influência da<br />
CVRD ? Sabemos que ao mesmo tempo<br />
que essas empresas trazem riqueza e <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento para o Estado, criam uma situação <strong>de</strong> contraste nas regi-<br />
ões circunvizinhas. O fundo, sem dúvida, vem saldar o débito social que<br />
a Vale tem com o Pará. Entretanto, AL e govemo <strong>de</strong>vem lutar junto a<br />
diretoria da Vale pera revisão do conceito <strong>de</strong> área Geo-econômica <strong>de</strong><br />
Influência da Companhia".<br />
Deputado Aloisio Chaves (PMDB)<br />
NAO<br />
" O espírito <strong>de</strong>sse fundo é dar<br />
uma forma <strong>de</strong> compensação àqueles<br />
municípios que estão na área direta<br />
<strong>de</strong> influência da CVRD e não rece-<br />
bem nenhum benefício direto dos pro-<br />
jetos, nem Royalties. Os municípios do sul do Pará que já recebem<br />
Royalties não <strong>de</strong>vem receber os 8% do fundo. Deveria ser criado outro<br />
fundo especificamente para os projetos da Mineração Rio do Norte, Albras<br />
e Alunorte. Mas não pegar esse fundo do Projeto Carajás e pulverizá-lo"<br />
Parsifal Pontes (PPB) - Prefeito <strong>de</strong> Tucurui - Vice-presi<strong>de</strong>nte da Amat<br />
Sabe por que o carro equipado na Koly<br />
é chamado dce avião?<br />
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Cüira<br />
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V<br />
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Foto: Arquivo<br />
Cuíra<br />
Cartas<br />
**Nolas<br />
Chico Men<strong>de</strong>s<br />
sob holofotes<br />
0 diretório Nacional do PT e o<br />
Conselho Nacional dos Serin<br />
gueiros promovem <strong>de</strong> 20 a 24<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, no Acre, a Semana<br />
Chico Men<strong>de</strong>s que vai lembrar a data<br />
<strong>de</strong> aniversário e <strong>de</strong> morte<br />
do mais famoso lí<strong>de</strong>r se-<br />
ringueiro. O evento vai<br />
levar a Rio Branco duas<br />
estrelas do PT, o ex e o<br />
atual presi<strong>de</strong>nte do parti-<br />
do: Lula e José Dirceu.<br />
No cardápio da Semana<br />
consta palestras e <strong>de</strong>bates<br />
sobre a luta <strong>de</strong> Chico<br />
Men<strong>de</strong>s na Amazônia. As<br />
surpresas ficam por con-<br />
ta das estrelas que lutam por direi-<br />
tos humanos e brilham no jet set in-<br />
ternacional.<br />
Fora ONCs<br />
O Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) que<br />
reúne diversas entida<strong>de</strong>s ligadas em <strong>de</strong>fesa dos<br />
intereses da Amazônia, não conseguiu que a As-<br />
sembléia Legislativa do Estado aprovasse o Proje-<br />
to <strong>de</strong> lei que cria o Conselho Estadual <strong>de</strong> Ciência e<br />
Tecnologia, que vai coor<strong>de</strong>nar o Fundo Estadual<br />
<strong>de</strong> Ciência e Tecnologia (Funtec), com a emenda<br />
que garante assento aos representantes da Univer-<br />
sida<strong>de</strong> Popular (Unipop), Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Preserva-<br />
ção dos Recursos Naturais e Culturais da Amazô-<br />
nia (Sopren), Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores em Agri-<br />
cultura (Fetagri) e Central Única dos Trabalhado-<br />
res (CUT).<br />
A bancada do PT tentou aprovar pelo menos a<br />
representação da Fetagri, mas se <strong>de</strong>u mal. Os contra-<br />
Ong's explicaram que a participação das entida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>scumpria a Constituição Estadual. Motivo: a Carta<br />
amarra a composição do Conselho. Ficando assim;<br />
Presi<strong>de</strong>nte, o secretário <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia, Nilson<br />
Pinto, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, do Estado do Pará e da<br />
Amazônia, IDESP, Comissão Coor<strong>de</strong>nadora Regio-<br />
nal <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s da Amazônia, Fiepa, Faepa, SBPC e<br />
Fe<strong>de</strong>ração dos Municípios do Pará.<br />
Denúncia <strong>de</strong> corrupção<br />
indigna acreanos<br />
V r ai ser difícil para os acreanos terem motivação para festejar o aniversário<br />
<strong>de</strong> Rio Branco que se comemora em 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Em clima <strong>de</strong><br />
indignação geral a população acreana aguarda as investigações da<br />
representação da Procuradoria da Republica no Acre sobre as 16 <strong>de</strong>-<br />
núncias contra o governador Orleir Cameli (PPB) . Entre os escânda-<br />
los, o que mais irrita os cidadãos são <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> negociatas, frusta-<br />
das, em que Cameli iria arrendar 2/3 do território do Estado para a<br />
empresa Mobil Ami Resear em troca <strong>de</strong> R$165 milhões. Pesam ainda<br />
contra o governador acusações <strong>de</strong> sonegação <strong>de</strong> impostos, contraban-<br />
do e até falsida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica. No embalo da crise política, empresas<br />
estão quebrando e as greves pipocam por toda parte.<br />
Confraria Solidária<br />
Confraria o quê ? Para quem<br />
não sabe ai vai: a Confraria Hannah é<br />
mais um aliado que Belém ganhou na<br />
luta contra a Aids. Um grupo <strong>de</strong> ami-<br />
gos após assistir ao filme And the<br />
handgoes on (E a vida continua) en-<br />
trou numa cruzada em favor dos por-<br />
tadores do virus H1V.<br />
A personagem Hannah é o<br />
nome da judia que namora o sol-<br />
dado interpretado por Charlie<br />
Chaplin em O Gran<strong>de</strong> Ditador e<br />
que simboliza as minorias. A Con-<br />
fraria vai atuar em parceria com o<br />
Grupo Paravida (ONG que traba-<br />
lha com portadores do vírus H1V).<br />
Hannah,segundo os confra-<br />
<strong>de</strong>s, "está mais para grupo que<br />
quer confraternizar a alegria e ce-<br />
lebrar a vida", explica Reinaldo<br />
Bulgarelli ,diretor do Fundo das<br />
Nações Unidas para a Infância,<br />
(Unicef), um dos amigos da Han-<br />
nah. A confraria reuniu mais <strong>de</strong><br />
mil pessoas, no final do mês pas-<br />
sado, no Sarau pela vida e con-<br />
tra a Aids, promovido no ginásio<br />
do Sesc.<br />
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completa livraria <strong>de</strong> Belém<br />
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Santarém<br />
Pai da criança<br />
O distribuidor <strong>de</strong> revista santareno Emanuel<br />
Júlio Leite está em pé <strong>de</strong> guerra com a prefeitura<br />
municpal da segunda maior cida<strong>de</strong> do Estado. Por<br />
ter empunhado a ban<strong>de</strong>ira do eco-turismo da região,<br />
ganhou a inveja da Divisão Municipal <strong>de</strong> Turismo,<br />
principalmente quando foi entrevistado - com status<br />
<strong>de</strong> voz oficial- pela revista Nossa Amazônia. Antes<br />
disso, bateu na porte da Isto É, e conseguiu ven<strong>de</strong>r<br />
a idéia <strong>de</strong> uma matéria sobre o balneário <strong>de</strong> Alter-<br />
do-Chão, conhecido como o caribe amazônico, que<br />
recebe semanalmente iates lotados <strong>de</strong> turistas ame-<br />
ricanos e europeus, que nem sequer aportam em<br />
Belém. Disposto a apostar na dissidência, Júlio está<br />
coletando em ví<strong>de</strong>o imagens praticamente <strong>de</strong>sco-<br />
nhecidas <strong>de</strong> Santarém para divulgá-las através <strong>de</strong><br />
documentário, que será distribuído a veículos <strong>de</strong><br />
comunicação <strong>de</strong> todo o mundo.<br />
Separatismo<br />
Judiciário sai da loca<br />
O Judiciário para- s<br />
ense resolveu dar um i<br />
basta na política murista |<br />
que vem tocando ao |<br />
longo <strong>de</strong> vários gover- |<br />
nos. O <strong>de</strong>sembargador !<br />
Humberto <strong>de</strong> Castro foi £<br />
o único membro dos<br />
po<strong>de</strong>res representados<br />
na comissão parlamen-<br />
tar mista, que aprovou<br />
o relatório sobre a<br />
emancipação das regiões <strong>de</strong> Cara-<br />
Direito Sindical • Direito do Trabalho<br />
Jarbas Vasconcelos do Carmo<br />
OAB/PA - 5206<br />
•<br />
João José Soares Geraldo<br />
OAB/PA - 4842<br />
jás e do Tapajós, que<br />
resolveu votar. Optou<br />
pela divisão, enquanto a<br />
turma do Ministério Pú-<br />
blico e do governo do<br />
, Estado preferiu aabsten-<br />
Hi ção. A mesma postura foi<br />
^fcfl adotada por parlamentares<br />
^ contrários à divisão, como é<br />
o caso <strong>de</strong> Zé Carlos Lima,<br />
Zé Carlos Lima lí<strong>de</strong>r da bancada do PT na<br />
Assembléia Legislativa.<br />
"Não recebemos o relatório antes da<br />
AnUK.ADl<br />
votação. Além disso, o parecer geral<br />
não apresentava elementos técnicos su-<br />
ficientes para tomar posicionamentos.<br />
Se eu votasse seria um voto político",<br />
diz Zé Carlos.<br />
O relatório segue agora para o<br />
plenário, on<strong>de</strong> Zenaldo Coutinho, pre-<br />
si<strong>de</strong>nte da AL, um dos caciques do<br />
antidivisionismo, jura ter maioria<br />
para rejeitá-lo e para agradar um<br />
dos maiores interessados na inte-<br />
grida<strong>de</strong> territorial do Pará: o gover-<br />
nador Almir Gabriel.<br />
Direito Administrativo • Ações Aci<strong>de</strong>ntárias<br />
Núbia Soraya da Silva Gue<strong>de</strong>s<br />
OAB/PA-6418<br />
Meíre Araújo Costa<br />
OAB/PA-6551<br />
Ana Kelly Jansen <strong>de</strong> Amorím<br />
OAB/PA-6535<br />
Rua Manoel Barata, 532 • Ed. Cosmorama, 2 Ç andar, salas 209 / 211 • CEP. 66019-000 • Fone: 224-2075 / 222-5399 • Fax: (091) 225-1357 • Belém - PA.
QlÍKl<br />
Caftas<br />
Notas<br />
Informação<br />
É com grata satisfação que<br />
envio estas linhas para este exem-<br />
plar, que aliás tem sido <strong>de</strong> mais dig-<br />
na confiança ao nivel das informa-<br />
ções sobre nossa Amazônia, que<br />
confere com as realida<strong>de</strong>s básicas<br />
comprovadas em seu <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento que, <strong>de</strong> um lado empobre-<br />
ce, e <strong>de</strong> outro enriquece, tornando-<br />
os inertes a este Estado.<br />
Estas informações são justas,<br />
básicas e tecnicamente comprova-<br />
das, merecendo o mais alto nível<br />
<strong>de</strong> aprovação e apreço no editorial<br />
<strong>de</strong>sta obra.<br />
Antônio Carlos Cardoso<br />
Esclarecimento<br />
Prezados Senhores,<br />
Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assinantes da revista CUIRA, vimos<br />
solicitar esclarecimentos acerca <strong>de</strong> informações contidas na<br />
página 11 da revista ANO V, N 0 16, mais especificamente o<br />
box intitulado "Quem te viu, quem te vê". Nele aparece o Sr.<br />
João Marques em dois momentos. Em 1995 a revista firma<br />
que o referido senhor está "às voltas com uma das instituições<br />
que mais <strong>de</strong>srespeita os direitos do cidadão. Que instituição é<br />
esta? O procedimento do Sr. João Marques é positivo ou ne-<br />
gativo do ponto <strong>de</strong> vista ético?<br />
Na luta permanente pela dignida<strong>de</strong> profissional.<br />
Resposta<br />
Dr. Waldir Araújo Cardoso<br />
Diretoria Colegiada do Sindicato<br />
dos Médicos do Pará (SIMEPA)<br />
A instituição é o Detran. Vale esclarecer que o objetivo<br />
<strong>de</strong>sta seção é levantar curiosida<strong>de</strong>s da trajetória <strong>de</strong> nossas<br />
personalida<strong>de</strong>s, sem a menor pretensão em julgar quem quer<br />
que seja.<br />
Grato por sua participação.<br />
SEJA,UM SOCIQ<br />
SOLIDÁRIO EMAUS<br />
Entre em contato<br />
conosco, através<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong> nossos<br />
agenciadores<br />
autorizados, ou pelos<br />
fones :<br />
241-0321 (direto), j<br />
242-2444, 224-7967<br />
ou 242-0752, !<br />
que nós iremos até você.<br />
SUA DOAÇÃO<br />
RETORNARÁABATIDA<br />
NOIMPOSTODERENDA
^VnPjgfe '>HSaB* p ^iwflP WM Ml HB<br />
te<br />
1979<br />
Vic Pires Franco apresentan-<br />
do o jornal Liberal segunda<br />
edição, sem gran<strong>de</strong>s preten-<br />
sões.<br />
BASTIDORES<br />
ve<br />
Foto: Mira Jatene<br />
7 995<br />
Deputado Fe<strong>de</strong>ral pelo PFL.<br />
Comíchao<br />
Imperador <strong>de</strong> Igapó<br />
João Cláudio Arroyo<br />
Presi<strong>de</strong>nte do diretório municipal<br />
do PSDB <strong>de</strong> Gurupá, Mário Oli<br />
veira, 46, passou o mês <strong>de</strong> outu-<br />
bro sem conseguir dormir. Quando<br />
voltou da reunião com membros do<br />
diretório regional do PSDB paraense,<br />
tentou esfriar a cabeça assistindo a uma<br />
reportagem sobre Mike Tyson, mas<br />
acabou sentido-se abatido como os ad-<br />
versários do ex-campeão. A angústia era<br />
tamanha que confessou só sentir coisa<br />
igual quando foi preso pela ditadura, em<br />
1969, juntamente com Haroldo Lima,<br />
Wladmir Pomar e outros, quando era<br />
membro do PC do B, em Brasília.<br />
A situação que <strong>de</strong>ixou Mário tão<br />
<strong>de</strong>snorteado foi a comunicação dada pela<br />
nova direção regional do PSDB: em seu<br />
município, Gurupá, o partido <strong>de</strong>veria<br />
receber a filiação <strong>de</strong> três personalida<strong>de</strong>s:<br />
Zé Vicente, ex-prefeito que hoje proces-<br />
sa boa parte da população da cida<strong>de</strong> por<br />
ter invadido suas terras. Max Alves, pre-<br />
si<strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> Vereadores e Ed-<br />
son Lima, vice-prefeito, que em maio<br />
<strong>de</strong>ste ano se uniram para protagonizar<br />
uma tentativa <strong>de</strong> golpe contra o prefeito<br />
Moacir Alho (PT) usando como artifí-<br />
cio uma renúncia comprovadamente<br />
falsificada.<br />
Em Gumpá, o PSDB foi parceiro<br />
do PT <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, dando importante<br />
ajuda na administração <strong>de</strong> Moacir. Como<br />
po<strong>de</strong>ria agora, Mário, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Diretório Municipal, aceitar tal <strong>de</strong>cisão<br />
vinda <strong>de</strong> cima?<br />
Contudo, sua <strong>de</strong>cepção não parou<br />
por aí. Mário logo soube que o seu pe-<br />
queno município não era o único a so-<br />
frer com as "novas"diretrizes. Soube que<br />
seu correligionário Haroldo Bezerra,<br />
prefeito <strong>de</strong> Marabá - terceiro mais im-<br />
portante município do Estado - também<br />
sofrerá impacto ao receber um telefone-<br />
ma <strong>de</strong> Gerson Peres (PPB, antigo PPR)<br />
comunicando que acertara com Flexa<br />
Ribeiro, atual presi<strong>de</strong>nte Regional do<br />
PSDB e com o próprio governador, a<br />
candidatura <strong>de</strong> uma das integrantes dos<br />
quadros do PPB <strong>de</strong> Marabá à sucessão<br />
do indignado Haroldo, que revidou à in-<br />
tervenção branca afirmando que em seu<br />
terreiro é ele quem canta mais alto. Nas<br />
contas <strong>de</strong> Mário, cerca <strong>de</strong> 12 municípi-<br />
os receberam orientações semelhantes.<br />
Juntando as peças do quebra-cabe-<br />
Políticos do Baixo Amazonas e do Su<strong>de</strong>ste do<br />
Estado afirmam que o secretário <strong>de</strong> Justiça, Aldir<br />
Viana (PSDB) po<strong>de</strong> tirar o cavalo da chuva para que<br />
ele não se molhe esperando que o governador Almir<br />
Gabriel apoie seu candidato na disputa pela prefeitu-<br />
ra <strong>de</strong> Itaituba. Gabriel, segundo a turma <strong>de</strong> lá, vai<br />
apoiar quem for mais conveniente para manter a ali-<br />
ança com o PMDB, que na terra do ouro é capitane-<br />
ado pelo prefeito Wirland Freire, e por seu filho, o<br />
<strong>de</strong>putado estadual Wilmar Freire.***A quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> funcionários da Assembléia Legislativa que<br />
estão cedidos a outros órgãos chega a R$ 60 mil<br />
por mês. Há casos em que um mesmo casal recebe<br />
do Legislativo R$ 10 mil, mas está a serviço <strong>de</strong><br />
prefeituras distantes, pelo menos 500 km, do Pa-<br />
lácio da Cabanagem. Zenaldo Coutinho (PSDB)<br />
diz que as "cessões" vêm <strong>de</strong> outras gestões e pro-<br />
mete resolver o assunto no plenário. Mas a pro-<br />
messa já está ficando velha. Foi feita há mais <strong>de</strong><br />
um mês.<br />
ça (quebra cabeça mesmo), Mário conclui<br />
que tanto a mudança da direção regional<br />
quanto as "novas" diretrizes são produto<br />
da gran<strong>de</strong> articulação nacional <strong>de</strong> FHC que<br />
busca novos parceiros na direita, além do<br />
PFL, fortalecendo sua posição no Congres-<br />
so e nas disputas municipais <strong>de</strong> 1996. As-<br />
sim é que ele enten<strong>de</strong> o afastamento da jor-<br />
nalista Ana Diniz, ex-secretária executiva<br />
do diretório regional do PSDB. Segundo<br />
Mário, o novo diretório regional surgiu em<br />
função da aliança com Ja<strong>de</strong>r, Gerson Peres<br />
e Manoel Ribeiro em contraposição ao es-<br />
tremecimento das relações com Hélio<br />
Gueiros. Mário revela ainda que, entre os<br />
<strong>de</strong>scontentes do próprio PSDB, Almir<br />
Gabriel é chamado <strong>de</strong> "Imperador <strong>de</strong><br />
Igapó".<br />
Concluindo que "acabou a serie-<br />
da<strong>de</strong> e a ética no partido" Mário, ergue<br />
a vista e diz que a "panela achou a tam-<br />
pa" ao anunciar que resolveu fundar o<br />
PPS em Gurupá, assim como fez com o<br />
PSDB. Mário ressaltou que vai fazer com<br />
o partido do vereador Arnaldo Jordy o<br />
mesmo que fez com o <strong>de</strong> Almir Gabriel:<br />
"Criá-lo do nada".<br />
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Cuíra<br />
Milharares <strong>de</strong> crianças no Pará<br />
não po<strong>de</strong>m freqüentar escola<br />
. e nem ser atendidas em pos-<br />
tos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
adultos trabalha, mas não tem férias,<br />
décimo terceiro e salário família; não<br />
po<strong>de</strong> casar ou vislumbrar velhice com<br />
direito a aposentadoria. Mais: alguém<br />
que ao morrer não vai ter o seu atesta-<br />
do <strong>de</strong> óbito e, logo, não po<strong>de</strong>rá ser en-<br />
terrada em nenhum cemitério público<br />
ou privado.<br />
Você <strong>de</strong>ve estar se perguntando<br />
como essas pessoas vivem. Não vivem.<br />
Ou melhor, legalmente não existem. É<br />
o caso <strong>de</strong> Jocelina <strong>de</strong> Nazaré Costa,<br />
37, moradora do bairro do Telégrafo,<br />
periferia <strong>de</strong> Belém. Jô, como é conhe-<br />
cida, nasceu no município <strong>de</strong> Limoei-<br />
ro do Ajuru (140 kms <strong>de</strong> Belém) e veio<br />
para a capital aos 18 anos sem certi-<br />
dão <strong>de</strong> nascimento. Conseguiu empre-<br />
go <strong>de</strong> doméstica na casa <strong>de</strong> uma famí-<br />
lia que a ajudou a tirar seus documen-<br />
tos. Algum tempo <strong>de</strong>pois, Jô não sabe<br />
como, per<strong>de</strong>u toda papelada e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
aí sente na pele a falta que faz.<br />
Ela conta que várias vezes teve<br />
dificulda<strong>de</strong>s para ser atendida em pos-<br />
Cidadã<br />
<strong>de</strong><br />
tos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. "Uma vez, meu filho<br />
Jailson estava ar<strong>de</strong>ndo em febre e a<br />
moça do posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disse que pre-<br />
cisava <strong>de</strong> um documento meu para ele<br />
ser atendido, me <strong>de</strong>sesperei e disse que<br />
a vida <strong>de</strong> meu filho era mais importan-<br />
te do que uma carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
Acabei convencendo ela a me aten<strong>de</strong>r".<br />
Em outra ocasião Jô não teve a<br />
mesma sorte: não conseguiu que seu<br />
pai se submetesse a raio-x no Hospital<br />
dos Servidores, por falta <strong>de</strong> documen-<br />
tos. Ela diz que não lhe falta vonta<strong>de</strong><br />
para tirá-los. Falta dinheiro. Com cin-<br />
co filhos para sustentar, ela e o mari-<br />
do, pedreiro, fazem milagre para so-<br />
breviver com pouco mais <strong>de</strong> um salá-<br />
rio mínimo mensal.<br />
Mileny Matos<br />
~ A história <strong>de</strong> Jô se parece com a<br />
<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas em todo o Bra-<br />
sil que não po<strong>de</strong>m "comprar" cidada-<br />
nia. Nascem e morrem sem nunca ter<br />
tido certidão <strong>de</strong> nascimento , o docu-<br />
mento básico para obter todos os ou-<br />
tros. "Apesar <strong>de</strong> não se ter dados con-<br />
cretos, sabe-se que na Amazônia é<br />
muito gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> pessoas que<br />
simplesmente não existem", diz Luís<br />
Cláudio D'Aguilar, coor<strong>de</strong>nador da<br />
campanha Criança Cidadã, lançada no<br />
mês passado como parte do Projeto<br />
Cidadania da Secretaria <strong>de</strong> Justiça do<br />
Estado (Seju).<br />
"A importância <strong>de</strong>sse projeto<br />
está no resgate da cidadania. Porque<br />
se você não tem documentos, não é
cidadão. Não vai ter direitos, vai ser<br />
enganado e <strong>de</strong>srespeitado", enfatiza<br />
Luís Cláudio.A Campanha distribuiu<br />
30 mil senhas para que crianças <strong>de</strong> 0 a<br />
12 anos, entre Belém e Ananin<strong>de</strong>ua,<br />
ganhassem certidão <strong>de</strong> nascimento. A<br />
previsão inicial da Seju era distribuir<br />
20 mil documentos, mas nem os 10 mil<br />
adicionais foram suficientes para aten-<br />
<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda.<br />
No interior do Estado a quanti-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas que estão a margem<br />
da cidadania é bem maior. É comum<br />
em localida<strong>de</strong>s afastadas das cida<strong>de</strong>s,<br />
famílias inteiras que não têm nenhum<br />
documento. Em áreas <strong>de</strong> acampamen-<br />
tos <strong>de</strong> trabalhadores rurais, por exem-<br />
plo, os nascimentos acontecem <strong>de</strong>ntro<br />
dos barracos nas mãos <strong>de</strong> parteiras, a<br />
centenas <strong>de</strong> quilômetros do cartório<br />
mais próximo.<br />
Ir em busca das certidões nas ci-<br />
da<strong>de</strong>s mais próximas significa horas <strong>de</strong><br />
caminhadas, às vezes dias, em vias ge-<br />
ralmente não asfaltadas. Levar a par-<br />
teira como testemunha significa <strong>de</strong>sem-<br />
bolsar muitos reais. No município <strong>de</strong><br />
Tucumã, no Pará, um cartório chega a<br />
cobrar R$ 40,00 por uma certidão, re-<br />
vela Francisco Ferreira da Silva, da Fe-<br />
<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores na Agricul-<br />
tura (Fetagri). "Quem não tem dinhei-<br />
ro nem para comer vai ter para tirar<br />
documentos? indaga Luís Cláudio, da<br />
Seju.<br />
PARADOXO- Sem contar que<br />
para um adulto obter o re-<br />
gistro <strong>de</strong> nascimento ele tem<br />
que enfrentar um processo<br />
burocrático que muitas ve-<br />
zes vai além <strong>de</strong> sua paciên-<br />
cia, ele tem que recorrer a *<br />
um juiz, acompanhado <strong>de</strong><br />
testemunhas que compro-<br />
vem que "ele nasceu" ape-<br />
sar <strong>de</strong> estar frente-a-frente<br />
com o juiz, e fazer exames<br />
médicos. Só com a autori-<br />
zação do magistrado ele vai<br />
po<strong>de</strong>r ir ao cartório e pagar<br />
pela sua certidão. Por isso,<br />
milhares <strong>de</strong> pessoas sofrem<br />
os transtornos <strong>de</strong> não "exis-<br />
tirem".<br />
Uma das dificulda<strong>de</strong>s<br />
que o Instituto Nacional <strong>de</strong><br />
Colonização c Reforma<br />
Agrária (Incra) enfrenta cm<br />
áreas <strong>de</strong> assentamento <strong>de</strong><br />
si li vM'<br />
trabalhadores rurais é que na hora <strong>de</strong><br />
entregar o título <strong>de</strong> terra para o pos-<br />
seiro, <strong>de</strong>scobre-se que ele não tem do-<br />
cumentos. Então como dar posse <strong>de</strong><br />
terra para alguém que legalmente não<br />
existe ?<br />
Francisco, da Fetagri, revela<br />
que o fato <strong>de</strong> muitos trabalhadores<br />
não terem carteira <strong>de</strong> trabalho, esti-<br />
mula e serve <strong>de</strong> justificativa para os<br />
especuladores do trabalho escravo.<br />
Até o início <strong>de</strong>ste ano, conta o sin-<br />
dicalista, em Tucumã, um gran<strong>de</strong> em-<br />
preiteiro do Sul do Pará, conhecido<br />
como " Sr. Angelim", manteve 300<br />
trabalhadores sem carteira assinada.<br />
"Ele justificava dizendo: quem man-<br />
da esse povo não ter documentos",<br />
conta.<br />
Algumas situações prejudicam<br />
até o meio ambiente. Exemplo: pesca-<br />
dores que não têm carteira <strong>de</strong> traba-<br />
lho, não estão aptos a receber segu-<br />
ro-<strong>de</strong>semprego à época da <strong>de</strong>sova dos<br />
peixes, logo são obrigados a trabalhar<br />
no período proibido por lei. "Essa si-<br />
tuação é muito comum nas colônias<br />
pesqueiras e acaba prejudicando a<br />
fauna aquática", diz Jaime Soeiro, da<br />
Comissão <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Pesca<br />
e Agricultura, do Instituto <strong>de</strong> Desen-<br />
volvimento Econômico e Social do<br />
Estado do Pará (I<strong>de</strong>sp).<br />
Para amenizar essa situação, o<br />
Projeto Justiça Itinerante, do Tribunal<br />
<strong>de</strong> Justiça do Estado do Pará, vai per-<br />
correr o interior do Estado em busca<br />
da cidadania perdida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong><br />
pessoas. Dois projetos já estão em an-<br />
damento. Um envolve Seju, Incra, Fe-<br />
tagri, DRT e vai emitir 30 mil docu-<br />
mentos em cinco áreas <strong>de</strong> assentamen-<br />
to <strong>de</strong> terras (Cidapar, Óbidos, Transa-<br />
mazônia. Conceição do Araguaia e<br />
Santana do Araguaia). O outro, vai<br />
expedir carteira <strong>de</strong> trabalho nas colô-<br />
nias pesqueiras <strong>de</strong> 54 municípios do<br />
Pará.<br />
Pioneiro no Brasil, o projeto que<br />
envolve parcerias já exporta o mo<strong>de</strong>lo<br />
para os Estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, São<br />
Paulo e Espírito Santo.<br />
Milhares <strong>de</strong> pessoas fizeram fila para receber documentos<br />
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Governo do Estado quer mudar a lei das<br />
concessões <strong>de</strong> transporte íntermun/apa/s<br />
Roberto Paiva<br />
Transporte no Pará é sinônimo <strong>de</strong><br />
drama. Nesse filme, todos sabem<br />
quem morre no último ato: o<br />
usuário. Ele, o protagonista diário, que<br />
paga, mas que, em troca, recebe péssimos<br />
serviços, pouquíssima infra-estrutura<br />
e muito, mas muito, maltrato.<br />
O vilão do monopólio, com suas poucas<br />
empresas explorando diversas linhas,<br />
oferecendo serviços ao seu bel<br />
prazer, acredita-se que seria o nó da<br />
trama. Parece que o Governo do Estado<br />
<strong>de</strong>cidiu acreditar nessa versão,<br />
nada fictícia, <strong>de</strong> que as concessões,<br />
sempre feitas por critérios políticos,<br />
variáveis conforme o perfil do<br />
governante, <strong>de</strong>vem, a partir <strong>de</strong> agora,<br />
ser regidas por lei.<br />
E foi assim que o Executivo <strong>de</strong>cidiu<br />
enviar à apreciação da Assembléia<br />
Legislativa, o projeto <strong>de</strong> lei 162/<br />
95, que dispõe sobre os critérios <strong>de</strong><br />
fixação <strong>de</strong> tarifas dos transportes<br />
intermunicipais, rodofluviais,<br />
além <strong>de</strong> legislar sobre<br />
as concessões das linhas.<br />
O projeto, se aprovado, preten<strong>de</strong><br />
mudar a cara dos serviços<br />
oferecidos no Estado,<br />
como prevê o próprio texto<br />
do dispositivo.<br />
A primeira gran<strong>de</strong><br />
modificação são os critérios<br />
para a fixação das tarifas. A<br />
regra, acompanhando a política<br />
nacional <strong>de</strong>finida pelo<br />
PSDB para fortalecimento do<br />
Plano Real, prevê a preservação<br />
dos preços por um ano.<br />
Para que o valor da tarifa seja<br />
reajustado, terá que obe<strong>de</strong>cer<br />
a Lei Fe<strong>de</strong>ral 8.987, que normatiza<br />
a matéria. Mesmo<br />
assim, aumentos só serão<br />
autorizados após seis meses<br />
da assinatura do contrato <strong>de</strong><br />
concessão. Esse não é o único<br />
requisito: o governador<br />
Cuíia<br />
e o Conselho Estadual <strong>de</strong> Transpor-<br />
tes, um órgão que será criado após a<br />
aprovação da lei, têm que avalizar o<br />
aumento.<br />
O Conselho serve como uma es-<br />
pécie <strong>de</strong> garantia da participação po-<br />
pular nas <strong>de</strong>cisões sobre aumento <strong>de</strong><br />
tarifas e qualida<strong>de</strong> dos transportes.<br />
"Não acredito em muita polêmi-<br />
ca nesse ponto", <strong>de</strong>clarou o <strong>de</strong>putado<br />
Zenaldo Coutinho (PSDB), presi<strong>de</strong>n-<br />
te da AL. "Até porque é <strong>de</strong>sejo da Casa<br />
<strong>de</strong>cidir sobre essa matéria. As conces-<br />
sões, no entanto, vão causar muitas dis-<br />
cussões", antecipa. Talvez os <strong>de</strong>puta-<br />
dos <strong>de</strong>monstrem receptivida<strong>de</strong> em re-<br />
solver os preços das tarifas porque em<br />
mais <strong>de</strong> 16 meses não há reajuste. Se-<br />
gundo Almiro Santos, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Sindicato das Empresas <strong>de</strong> Transpor-<br />
tes Rodoviários Intermunicipais do<br />
Estado do Pará, caso não houvesse<br />
Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó<br />
Transporte: a vitima sempre é o usuário<br />
reajuste, até novembro, a <strong>de</strong>fasagem<br />
da tarifa chegaria a 50%. "O governo<br />
só está seguindo a orientação fe<strong>de</strong>ral,<br />
que exige que se discipline os valores<br />
tarifários dos transportes urbanos",<br />
analisa. "Já não era sem tempo, as<br />
empresas não têm mais como agüen-<br />
tar".<br />
Quem também concorda que os<br />
preços precisam <strong>de</strong> urgente reajuste é<br />
o <strong>de</strong>putado Gervásio Ban<strong>de</strong>ira<br />
(PMDB), Gervásio, no início do ano,<br />
apresentou projeto que limitava a<br />
gratuida<strong>de</strong> do transporte intermunici-<br />
pal a quem comprovasse falta <strong>de</strong> con-<br />
dições financeiras, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser<br />
idoso ou <strong>de</strong>ficiente. Policiais civis mi-<br />
litares em serviço ou carteiros também<br />
passariam a pagar passagens intermu-<br />
nicipais. Para ele, a agilida<strong>de</strong> na vota-<br />
ção, que <strong>de</strong>ve ser feita em caráter <strong>de</strong><br />
"urgência urgentíssima", significa que<br />
a Assembléia vai estar prestando bons<br />
serviços à população. "A votação não<br />
será difícil", diz, contrariando as pre-<br />
visões <strong>de</strong> Zenaldo. "É nosso interesse<br />
garantir o melhor atendimento à po-<br />
pulação em matéria <strong>de</strong> transportes".<br />
Concessões:<br />
"X" da questão<br />
Se todos <strong>de</strong>monstram interesse<br />
em reajustar as tarifas, as concessões,<br />
prometem ser o fermento <strong>de</strong> muitas<br />
discussões e bate-bocas. Segundo o<br />
dispositivo <strong>de</strong> lei do governo, as con-<br />
cessões <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser um mimo<br />
político. Respeitariam critérios técni-<br />
cos e estariam <strong>de</strong> acordo com as leis<br />
<strong>de</strong> mercado. Ganha quem oferece me-<br />
lhores serviços e menores preços e cai<br />
por terra a lei do direito adquirido, que<br />
está sendo invocada para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r em-<br />
presas que atuam há muito tempo no<br />
Estado.<br />
E, é aí que queima o fogo dos<br />
interesses. A maioria das concessões<br />
feitas no Estado, conforme o próprio<br />
presi<strong>de</strong>nte do Legislativo, obe<strong>de</strong>ceu<br />
a um único critério: o bom relaciona-<br />
mento entre empresários e governado-<br />
res <strong>de</strong> plantão. "Somente a linha<br />
Belém-Mosqueiro, explorada pela<br />
Beiradão, foi concedida através <strong>de</strong> li-<br />
citação séria", garante Zenaldo Couti-<br />
nho.<br />
Os <strong>de</strong>putados divi<strong>de</strong>m-se em<br />
dois grupos. Há os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a li-<br />
citação imediata, a bem da melhoria<br />
dos serviços oferecidos e os que acre-<br />
ditam no respeito aos direitos adquiri-<br />
dos pelas empresas, que investiram ca-<br />
pital, mão-<strong>de</strong>-obra e tempo <strong>de</strong> serviço<br />
na execução <strong>de</strong> um bem essencial para<br />
a socieda<strong>de</strong>. Ainda é cedo para dizer<br />
quem vai levar a melhor nesse cabo-<br />
<strong>de</strong>-guerra.<br />
A única emenda apresentada por<br />
Gervásio Ban<strong>de</strong>ira, caso seja aprova-<br />
da, po<strong>de</strong> fazer com que o projeto do<br />
governo não dê em nada. Ele preten-<br />
<strong>de</strong> preservar "direitos adquiridos, o ato<br />
jurídico perfeito e a coisa julgada" dos<br />
empresários que já atuam no Estado,<br />
ainda que tenham obtido concessão<br />
para explorar trechos <strong>de</strong> forma pouco<br />
ortodoxa, à revelia da lei.<br />
Caso a emenda <strong>de</strong> Gervásio não<br />
seja aprovada, a concessão dos trans-<br />
portes intermunicipais <strong>de</strong>ve ir parar nos<br />
tribunais. Os empresários já avisaram<br />
que não vão abrir mão do "direito ad-<br />
quirido". Ainda que tenha sido conquis-<br />
tado por obra e graça <strong>de</strong> govemanantes,<br />
o que não está previsto na Constituição.
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Cartas marcadas<br />
Eleição para prefeito <strong>de</strong> Belém já está com<br />
candidatos praticamente <strong>de</strong>finidos<br />
GABRIELA ATHIAS<br />
0 prefeito Hélio Gueiros garante<br />
que só vai escolher seu candida-<br />
to à sucessão municipal em abril,<br />
mas se a indicação fosse feita hoje, o<br />
<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Vic Pires Franco<br />
(PFL), que apareceu com 5% na pre-<br />
ferência popular, segundo pesquisa do<br />
Ibope feita em novembro, seria sem<br />
dúvida o eleito.<br />
Dificilmente a escolha <strong>de</strong> Gueiros<br />
vai se modificar. Pires Franco, que já vem<br />
acompanhando o prefeito em inaugura-<br />
ções e campanhas populares, está sendo<br />
esperado para o lançamento da distribui-<br />
ção do leite, que vai começar a chegar,<br />
aos quilos, na casa dos pimpolhos <strong>de</strong> bai-<br />
xa renda a partir <strong>de</strong>ste mês.<br />
Mais: para ajudar a memória do<br />
eleitor que vai respon<strong>de</strong>r à pesquisa <strong>de</strong><br />
opinião que Gueiros vai encomendar,<br />
entre março e abril. Pires Franco e<br />
Gueiros Júnior, o filho do prefeito que<br />
virou vice-govemador, estão aparecen-<br />
do todas as noites ao lado <strong>de</strong> Gueiros no<br />
programa "Caminhando com o Povo".<br />
O <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral chega a ligar<br />
para a secretaria <strong>de</strong> Comunicação Soci-<br />
al da prefeitura para perguntar se apare-<br />
ce no programa institucional <strong>de</strong> Gueiros.<br />
Não é só isso que <strong>de</strong>monstra a preferên-<br />
cia do prefeito por Pires Franco. Dois<br />
automóveis odontológicos foram colo-<br />
cados à disposição do ex-apresentador<br />
do jomal Liberal, um <strong>de</strong>les já está estaci-<br />
onado em Belém. Ao saber do resultado<br />
do Ibope, que lhe conferiu apenas 5%<br />
das intenções <strong>de</strong> voto, Pires Franco, que<br />
estava em Nova Iorque com a mulher,<br />
Valéria, e André Gueiros - filho do pre-<br />
feito - enviou ao Liberal fax atribuindo a<br />
Gueiros os louros da pesquisa, em que<br />
ele aparece com 86% <strong>de</strong> aprovação po-<br />
pular. Traduzindo: Pará Pires Franco os<br />
86% do prefeito po<strong>de</strong>m ser transferidos<br />
para quem for indicado para ocupar seu<br />
lugar as Antônio Lemos.<br />
Para não <strong>de</strong>ixar dúvidas das mu-<br />
ralhas que passaram a separar os comen-<br />
sais da Granja Mo<strong>de</strong>lo (residência ofici-<br />
al do prefeito) do <strong>de</strong>putado estadual Luiz<br />
Otávio Campos (PFL) que há até bem<br />
pouco tempo era presença certa no fim-<br />
<strong>de</strong>-tar<strong>de</strong> dos Gueiros, ele foi limado do<br />
"Caminhando" pelo secretário <strong>de</strong> Comu-<br />
nicação da Prefeitura, Walter Júnior, que<br />
aliás também é o proprietário da produ-<br />
tora que faz Osprograma diário do pre-<br />
feito, ^p<br />
Oficialmente, Campos, após con-<br />
ce<strong>de</strong>r entrevista pormenorizando a rota<br />
do acordo que uniu PSDB e PMDB pas-<br />
sou a ser persona non grata entre os<br />
Gueiros. Motivo: Hélio vinha sustentan-<br />
do na imprensa ha vários dias seu <strong>de</strong>sco-<br />
nhecimento em relação ao envolvimento<br />
do senador Ja<strong>de</strong>r Barbalho (PMDB), seu<br />
arquinimigo, com a aliança. Campos foi<br />
lá e entregou o jogo: Gueiros sabia <strong>de</strong><br />
tudo.<br />
No entanto, existe outra versão<br />
para o afastamento dos dois políticos que<br />
fizeram dobradinhas incansáveis nos úl-<br />
timos quatro anos. Gueiros teria se agar-<br />
rado às <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> Campos para li-<br />
vrar-se <strong>de</strong>le, pelo menos por hora, e fi-<br />
car ao lado do filho, que além <strong>de</strong> tam-<br />
bém querer ser prefeito, tem várias ares-<br />
tas não aparadas com o ex-melhor ami-<br />
go do prefeito. Ou, apoiar Pires Franco,<br />
que notabilizou-se por recitar textos es-<br />
critos por terceiros durante a campanha,<br />
e é mais fácil <strong>de</strong> controlar .Além do mais,<br />
o abismo colocado entre Gueiros e<br />
Almir, vem a calhar com a intenção do<br />
PFL <strong>de</strong> lançar candidato próprio à pre-<br />
feitura, sem precisar discutir com o<br />
PSDB quem seria o vice <strong>de</strong> quem.<br />
Fato: Gueiros não vai disputar sem<br />
concorrentes. Muito Pelo contrário. A <strong>de</strong>-<br />
putada fe<strong>de</strong>ral e ex-primeira-dama Elcione<br />
Barbalho <strong>de</strong>sponta como a preferida dos<br />
eleitores e tem a seu favor dois trunfos: ca-<br />
bos eleitorais que trabalham voluntariamente<br />
(como os petistas fazem com seus candida-<br />
tos), uma Organização Não Governamen-<br />
tal que está <strong>de</strong>senvolvendo projetos com a<br />
população carente e sua gestão frente à Ação<br />
Social do Estado, quando passava boa par-<br />
te das 24 horas do dia doando tudo o que é<br />
possível imaginar aos pobres (com dinhei-<br />
ro do contribuinte) e elaborando projetos<br />
<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda.<br />
O <strong>de</strong>putado estadual, Cipriano Sa-<br />
bino (PPB), candidato assumido, conta com<br />
7% da preferência do eleitorado, e tem ao<br />
seu lado a vantagem <strong>de</strong> não estar sendo<br />
incomodado pelos rumores pré-eleitorais.<br />
Nas últimas eleições municipais, começou<br />
a corrida ao Antônio Lemos como um tra-<br />
ço nas pesquisas <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ir<br />
para o segundo turno com Gueiros por um<br />
ponto percentual. Por outro lado, Ronaldo<br />
Passarinho, lí<strong>de</strong>r do PPB na Assembléianão<br />
está entusiasmado com a candidatura <strong>de</strong><br />
Sabino. Motivo: teme que o pÉi do candi-<br />
dato seja uma pedra no sapato durante as<br />
eleições, e vire uma rocha intransponível<br />
caso o íilho seja eleito.<br />
Sahid Xerfan surpreen<strong>de</strong>. Passou<br />
muito tempo fora da mídia, mas voltou "nos<br />
braços do povo" na pesquisa do Ibope em<br />
terceiro lugar. Sua candidatura tem tudo para<br />
crescer, principalmente por ser um pré-can-<br />
didato que agrada tanto ao prefeito Hélio<br />
Gueiros quanto ao governador Almir<br />
Gabriel. A candidatura <strong>de</strong> Xerfan po<strong>de</strong> ter<br />
a textura <strong>de</strong> uma doce reconciliação entre<br />
os inquilinos do Lauro Sodré e do Antônio<br />
Lemos.<br />
No plantei dos candidatos, há ainda<br />
o senador Coutinho Jorge que já confirmou<br />
filiação no partido <strong>de</strong> Fernando Henrique<br />
Cardoso, mas diz <strong>de</strong>scartar a prefeitura.<br />
Preten<strong>de</strong> sair candidato ao govemo do Es-<br />
tado ou ao Senado, em 1998.<br />
Edmilson Rodrigues, o candidato<br />
petista, conseguiu 200 mil votos na última<br />
eleição, quando foi <strong>de</strong>rrotado ao Senado.<br />
Ele acredita no fortalecimento do PT na<br />
capital, e vai investir nos exemplos <strong>de</strong><br />
administrações bem sucedidas feitas pelo<br />
seu partido em municípios e Estados bra-<br />
sileiros, nos últimos 10 anos.<br />
Mestrinho x Amazonino<br />
Assim como no Pará, a política<br />
do Amazonas está encarcerada entre<br />
dois gran<strong>de</strong>s grupos: Amazonino Men-<br />
<strong>de</strong>s (PPB) e Gilberto Mestrinho<br />
(PMDB). Aparentemente, eles são ad-<br />
versários, mas informações <strong>de</strong> basti-<br />
dores dão conta <strong>de</strong> que a dupla fez<br />
"aliança para 20 anos". Quando não é<br />
um que está no po<strong>de</strong>r é o outro. E<br />
Mestrinho, que passou os últimos qua-<br />
tro anos governando o Amazonas e <strong>de</strong>-<br />
fen<strong>de</strong>ndo a caça aos jacarés, é a bola<br />
da vez. Quer concorrer à prefeitura <strong>de</strong><br />
Manaus, a segunda maior cida<strong>de</strong> da<br />
Amazônia.<br />
Os únicos políticos que têm al-<br />
guma chance <strong>de</strong> dificultar sua esca-<br />
lada à prefeitura <strong>de</strong> Manaus são o <strong>de</strong>-<br />
putado fe<strong>de</strong>ral Arthur Virgílio Neto<br />
(PSDB) e a vereadora Vanessa<br />
Grazzotin (PCdoB). Nas últimas<br />
eleições, Vanessa concorreu a uma<br />
vaga na Câmara dos Deputados, em<br />
Brasília, foi a nona candidata mais<br />
votada, mas não elegeu-se por falta<br />
<strong>de</strong> força da legenda.<br />
Ela e o marido, o <strong>de</strong>putado es-<br />
tadual Heron Bezerra (PCdoB) são<br />
autores da maioria das <strong>de</strong>núncias fei-<br />
tas contra as administrações amazo-<br />
nenses mais recentes. Virgílio Neto é<br />
consi<strong>de</strong>rado o porta-voz da Amazônia<br />
junto ao governo fe<strong>de</strong>ral, mas anda<br />
meio afastado <strong>de</strong> Manaus. Mesmo as-<br />
sim, durante o mês <strong>de</strong> novembro, bro-<br />
taram comentários <strong>de</strong> que ele estaria<br />
disposto a voltar pela segunda vez à<br />
prefeitura da capital do Amazonas.
lli<br />
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O.<br />
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Cuira<br />
8 ■%:-:-■■>-<br />
O ator paraense Norton Nascimen-<br />
to, 33, solta a voz e lança em<br />
Belém o show que percorrerá o<br />
Brasil com músicus que vão do funk à<br />
MPB.<br />
"Nasci dos vinhos, das orgias<br />
primitivas .... Eu vim aqui te possuir,<br />
sou seu negão armagedon". O trecho<br />
é da música "Negão armagedon", <strong>de</strong><br />
Fausto Fawcett que parece ter sido<br />
feita sob encomenda para Norton<br />
Nascimento, o Sidney, da novela<br />
A próxima vitima.<br />
Norton, que na pele <strong>de</strong><br />
Sidney, passou os últimos nove<br />
meses tentando convencer o<br />
público a não ser racista, ago-<br />
ra vai rodar o país provando<br />
que sabe cantar, assim como<br />
muitos dos seus irmãos da raça<br />
negra.<br />
Aliás, para Norton colocar<br />
a mochila nas costas e dar uma <strong>de</strong><br />
cigano, não é novida<strong>de</strong>. Aos três<br />
anos, sua família trocou Belém por<br />
São Luís, on<strong>de</strong> também não ficou por<br />
muito tempo. Aos sete anos, Norton<br />
já estava instalado na capital paulista.<br />
"Eu canto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 14 anos, tinha<br />
até uma banda, Bichos da Bwa", diz<br />
Norton ao contar que a carreira <strong>de</strong><br />
ator "atropelou " a <strong>de</strong> cantor. Sem Â<br />
disfarçar o orgulho, Norton re- jff<br />
vela que a superstar Liza , •<br />
Minelli chegou a convidá-lo |<br />
para morar em Nova York,<br />
quando numa <strong>de</strong> suas viagens ^H<br />
ao Brasil, encantou-se ao<br />
ouvi-lo cantar.<br />
Um curso <strong>de</strong> teatro, '<br />
feito em 1980, foi o passo<br />
inicial da carreira <strong>de</strong>ste para-<br />
ense, que muito antes <strong>de</strong> chegar aos<br />
estúdios globais, foi jogador profissi-<br />
onal <strong>de</strong> basquete. Depois das primei-<br />
ras experiências cênicas, vieram co-<br />
merciais <strong>de</strong> TV, <strong>de</strong>sfiles, novelas na<br />
Re<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>irantes e pequenas participa-<br />
ções no Veja o Gordo, o extinto programa<br />
<strong>de</strong> Jô Soares, no SBT.<br />
Antes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>finitivamente do<br />
anonimato, Norton viveu Chicão, na<br />
minissérie^goíto, em que fez papel <strong>de</strong><br />
um boxeur assassino que era o par mais<br />
do que constante <strong>de</strong> José Wilker. Mas<br />
foi Wotan, na chatérrima Fera Feri-<br />
:<br />
"Liza Minelli ouviu<br />
Norton cantar e o con-<br />
vidou para morar em<br />
Nova Yorque".<br />
da, que o lançou como o primeiro sím-<br />
bolo sexual negro da TV. "Acho mui-<br />
to legal a convivência com os fãs, nós<br />
<strong>de</strong>vemos muito a essas pessoas."<br />
O show "Eu sou assim" mostra<br />
um pouco das reviravoltas na trajetória<br />
<strong>de</strong> Norton, que <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> educa-<br />
ção física (formado em Mogi das Cru-<br />
zes) acabou sob holofotes. Músicas <strong>de</strong><br />
Fausto Fawcett ,aquele fissurado em<br />
louraças belzebu e calcinhas exocet, e<br />
Luiz Melodia, um dos mais aplaudidos<br />
da MPB, compõem o repertório que va-<br />
ria do soul ao funk, passando pelo<br />
charm (estilo <strong>de</strong> música negra).<br />
O namoradinho <strong>de</strong> ébano<br />
do Brasil também está fazen-<br />
do uma tumê apresentando<br />
0 musical "Orfeu da Con-<br />
ceição", com poemas <strong>de</strong><br />
Vinícius <strong>de</strong> Morais e mú-<br />
' sica <strong>de</strong> Tom Jobim. No iní-<br />
B» cio <strong>de</strong> outubro, a agenda <strong>de</strong><br />
Norton voltou a abrir espa-<br />
ço ao esporte. Passou<br />
a comandar um pro-<br />
grama esportivo, na<br />
rádio Imprensa, do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Ao pisar em<br />
solo paraense, Nor-<br />
ton preten<strong>de</strong> com-<br />
pensar os anos que<br />
passou longe da co-<br />
1 i mida paraense. "Sin-<br />
to muita sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Belém, principalmen-<br />
te da comida", con-<br />
fessa. Depois <strong>de</strong> se<br />
encharcar <strong>de</strong> pato no<br />
tucupi e tacacá, Nor-<br />
ton quer ampliar seu<br />
leque <strong>de</strong> colaboradores e, <strong>de</strong> quebra,<br />
tirar compositores paraenses do ano-<br />
nimato. Ele espera receber, e gravar,<br />
letras <strong>de</strong> conterrâneos. Os interessa-<br />
dos, habilitem-se.
e-ixJUaifl<br />
Colir v\<br />
Criação e arte: Nonato Moreira<br />
se você é,<br />
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1) y^çêiés favor da criação do Estado do^Tapaós?<br />
( )NÃO ( ) TANTO FAZ<br />
( ) TANTO FAZ<br />
( )NÀOSABE<br />
2) ..e do Estado <strong>de</strong> Carajás?<br />
( )SIM<br />
END.:<br />
CIDADE:<br />
FONE:<br />
Amazônia e<br />
( )NAOSABE<br />
3) Você acha que o separatis-<br />
mo é:<br />
( ) Uma manobra política<br />
( ) Uma necessida<strong>de</strong> imediata<br />
( ) Uma necessida<strong>de</strong> futura<br />
( ) Não sabe<br />
NOME<br />
CER<br />
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Cuíra
aw^"'
Desmatamento, animais assusta-<br />
dos e índios inofensivos. Esta situação<br />
tão amazônica, comum em <strong>de</strong>núncias<br />
<strong>de</strong> instituições e organizações não go-<br />
vernamentais <strong>de</strong> cunho ecológico, po-<br />
<strong>de</strong>rá ser vista em breve, com uma rou-<br />
pagem/wp: o "<strong>de</strong>nunciante" é ninguém<br />
menos que Michael Jackson, consi<strong>de</strong>-<br />
rado uma das maiores estrelas do mun-<br />
do musical. O "<strong>de</strong>smatamento" acon-<br />
teceu em outubro nas matas do Oeste<br />
paraense e fará parte do vi<strong>de</strong>oclip da<br />
nova música do cantor, "The : 'Èarth<br />
Song" ( "A Canção da Terra"}* a ser<br />
lançado em <strong>de</strong>zembro e filmado em<br />
parte no Pará.<br />
Amazônia<br />
Dênia Maués<br />
Novo ví<strong>de</strong>o do cantor<br />
simula <strong>de</strong>smafamento na<br />
região, mas duranfe as<br />
gravações, em Alter do<br />
Chõo, o megaesfar<br />
permaneceu em Los<br />
Angeles<br />
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Não, Michael Jackson não veio.<br />
As filmagens, realizadas em uma fa-<br />
zenda na estrada Santarém-Cuiabá e<br />
em uma ma<strong>de</strong>ireira, dispensaram a pre-<br />
sença do astro, cuja pele foi poupada<br />
das agruras e dos mistérios das matas<br />
amazônicas. Sua imagems vai ser<br />
inserida no vi<strong>de</strong>oclip posteriormente,<br />
nos Estados Unidos, via computador<br />
- para isso, cada cena foi meticulosa-<br />
mente estudada, <strong>de</strong>ixando o espaço<br />
reservado para a performance do ma-<br />
rido da filha <strong>de</strong> Elvis Presley.<br />
O diretor norte-americano Nick<br />
Brandt comandou uma equipe <strong>de</strong> apro-<br />
ximadamente vinte pessoas, a maioria<br />
brasileiros. Destes, alguns vieram do<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, pela produtora cario-<br />
ca WB, que trouxe duas toneladas <strong>de</strong><br />
equipamentos <strong>de</strong> iluminação e maqui-<br />
naria.<br />
Sete paraenses com traços<br />
indígenas compuseram o elen-<br />
co do ví<strong>de</strong>o, interpretando ín-<br />
dios que exibem no corpo pin-<br />
tura inspirada em motivos<br />
Caiapó, concebida por um<br />
maquiador também paraense.<br />
Entre os atores, <strong>de</strong>stacou-se<br />
Ana Paula Monteiro da Silva,<br />
experiente em produções inter-<br />
nacionais.<br />
A Amazônia foi o ponto final das<br />
viagens feitas por Nick Brandt e sua e-<br />
quipe direta, composta por quatro pro-<br />
fissionais norte-americanos, que já havi-<br />
am filmado na Croácia e na Tanzânia -<br />
igualmente sem Jackson -, obe<strong>de</strong>cendo<br />
ao roteiro <strong>de</strong> "The Earth Song". Além<br />
<strong>de</strong> conferir mais realismo às cenas, um<br />
dos fatores que estimulam empreitadas<br />
<strong>de</strong>ste tipo são os baixos custos dos ser-<br />
viços em países do Ter-<br />
ceiro e do Qi<br />
Mundo, em es-<br />
pecial a mão-<br />
<strong>de</strong>-obra, cara<br />
em países<br />
<strong>de</strong>senvolvi-<br />
dos.<br />
As filmagens no Pará consumi-<br />
ram três dias, em um ritmo puxado,<br />
das cinco da manhã às oito da noite,<br />
exigindo fôlego <strong>de</strong> técnicos e figuran-<br />
tes. Apesar <strong>de</strong> baratas - ou talvez por<br />
causa disso -, as filmagens in loco fi-<br />
zeram a equipe sentir na pele condi-<br />
ções <strong>de</strong>sfavoráveis como poeira, mui-<br />
to calor e os amazônidas carapanãs<br />
(mosquitos), que causaram um certo<br />
estresse em todos, principalriiénte nos<br />
profissionais norte-americanos, longe<br />
da urbanida<strong>de</strong> dos gran<strong>de</strong>s estúdios.<br />
Mesmo em uma floresta <strong>de</strong> ver-<br />
da<strong>de</strong>, a equipe <strong>de</strong> Nick Brandt adicio-<br />
nou alguns animais, alugados em<br />
Manaus, para melhor i<strong>de</strong>ntificar o ce-<br />
nário: araras, tucanos, papagaios e um<br />
macaco-aranha também dividirão com<br />
Michael Jackson o espaço na tela.<br />
Como o roteiro <strong>de</strong> "The Earth<br />
Song" pedia cenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento<br />
para <strong>de</strong>nunciar quando este é feito <strong>de</strong><br />
forma indiscriminada, elas foram fei-<br />
tas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma ma<strong>de</strong>ireira que co-<br />
laborou com a produção norte-ameri-<br />
cana. A árvore que aparecerá caindo<br />
no vi<strong>de</strong>oclip foi realmente <strong>de</strong>rrubada.<br />
As conseqüências para o ecossistema<br />
foram tratadas <strong>de</strong> forma artística: um<br />
gran<strong>de</strong> ventilador simulou uma forte<br />
ventania e os atores interpretaram so-<br />
frer o abalo <strong>de</strong> um terremoto na selva.<br />
Sem ter para quem apelar, os in-<br />
dígenas fazem uma evocação à Mãe-Ter-<br />
i, em contato direto com o solo,<br />
para que tudo renasça, o que<br />
acontece na cena final, quando<br />
todos aparecem pescando e<br />
banhando-se em um tranqüilo<br />
rio.<br />
Para Michael Jackson,<br />
o <strong>de</strong>stino da Amazônia está<br />
nas mãos <strong>de</strong> Deus - ou me-<br />
lhor, <strong>de</strong> Tupã.
ÍÍP<br />
^<br />
Tipo exportação<br />
Os clientes <strong>de</strong> uma sorveteria da travessa 14 <strong>de</strong><br />
Março talvez nem imaginem que são atendidos<br />
por uma atriz <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> produções interna-<br />
cionais. Ana Paula Monteiro da Silva, 30, nuncacur-<br />
sou arte dramática mas, graças à seus traços indíge-<br />
nas, teve a chance <strong>de</strong> ser dirigida por Hector Babenco<br />
em "Brincando nos Campos do Senhor", filmado em<br />
Belém em 1990. O clip <strong>de</strong> "The Earth Song" é seu<br />
terceiro trabalho.<br />
A linguagem dos vi<strong>de</strong>oclips foi uma experiên-<br />
cia nova para Ana Paula: "tínhamos que sentir o per-<br />
sonagem sem falar nada, não tinha texto nem ouvi-<br />
mos a música do clip. Era só concentração e expres-<br />
são corporal." À interpretação <strong>de</strong> Ana Paula, Nick<br />
Brandt saudava com "ótimo" e "muito bom" em ar-<br />
rastado português. Mas como nada é fácil, além da<br />
extrema concentração, Ana Paula recorda a cena em<br />
que uma árvore <strong>de</strong> 50 metros <strong>de</strong> altura foi <strong>de</strong>rrubada<br />
para cair exatamente na frente do grupo indígena. Deta-<br />
lhe: todos <strong>de</strong>veriam estar dançando compenetradamen-<br />
te, sem olhar para a árvore que <strong>de</strong>sabava. O jeito foi<br />
confiar nos técnicos da produção que, felizmente,<br />
acertaram nos cálculos.<br />
O fato <strong>de</strong> ser requisitada apenas para papéis <strong>de</strong><br />
índias não incomoda nem um pouco Ana Paula. Afi-<br />
nal, foram essas índias que lhe possibilitaram passar<br />
dois meses no México e conhecer o ator Sean Connery<br />
- no seu segundo filme, "O Curan<strong>de</strong>iro da Selva", em<br />
91 - além <strong>de</strong> comprar seu apartamento próprio em<br />
Belém. Os três dias que passou filmando "The Earth<br />
Song" lhe ren<strong>de</strong>ram o equivalente a cinco meses <strong>de</strong><br />
salário do seu emprego na sorveteria<br />
Ana Paula Monteiro em três momentos: caracterizada nos<br />
filmes "O Curan<strong>de</strong>iro da Selva"e "Brincando nos Campos<br />
do Senhor", e ao natural, durante entrevista à Cuira.
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B<br />
Arquive moit<br />
•íí/e/j Leitão<br />
No Pará,a galeria <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecidos políticos ainda é<br />
informação confi<strong>de</strong>ncial<br />
O dia <strong>de</strong>z <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro é a data<br />
marcada para que ex-presos<br />
políticos comemorem com pa-<br />
rentes e amigos o fim da didatura, que<br />
durante mais <strong>de</strong> 20 anos pren<strong>de</strong>u, tor-<br />
turou e matou centenas <strong>de</strong> militantes<br />
<strong>de</strong> esquerda. Durante as comemorações<br />
do Dia Internacional dos Direitos Hu-<br />
manos, anistiados brindarão à <strong>de</strong>cisão<br />
Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) - à direita,<br />
guerrilheiro no Araguaia<br />
do governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> reconhecer como<br />
mortos os "<strong>de</strong>saparecidos" e instituir<br />
pensão especial às famílias.<br />
Fato: quem passou pelos po-<br />
rões das prisões parenses não tem o<br />
que comemorar. Apesar <strong>de</strong> a ditadura<br />
ter sido oficialmente página virada, os<br />
<strong>de</strong>saparecidos políticos continuam sen-<br />
do fantasmas na memória do Pará.<br />
Custódio Saraiva Neto (Lauro)<br />
Se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos arquivos do<br />
antigo Departamento <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Polí-<br />
tica e Social (DOPS), o Pará é prota-<br />
gonista <strong>de</strong> um capítulo vazio da histó-<br />
ria da repressão e, por conseqüência,<br />
dos movimentos políticos <strong>de</strong> oposição<br />
durante o regime militar (1964-85) no<br />
Brasil. Depois <strong>de</strong> 16 anos da abertura<br />
política « a partir da Lei da Anistia pro-<br />
mulgada em 79 - os arquivos do DOPS<br />
continuam imersos em mistério para a<br />
socieda<strong>de</strong>. Até hoje, nenhuma infor-<br />
mação oficial sobre as prisões òu ou-<br />
tras operações da polícia política do<br />
regime foi divulgada.
O pouco que se conhece são os<br />
absurdos que os arapongas do serviço<br />
secreto do Exército colheram por aqui<br />
sem nenhuma competência. Um <strong>de</strong>s-<br />
ses absurdos - verda<strong>de</strong>ira aberração -<br />
foi indicar um dos arautos do próprio<br />
regime (na planície) como "simpatizan-<br />
te do comunismo". Nada <strong>de</strong>mais para<br />
a época se a ficha não pertencesse a<br />
um homem chamado Jarbas Passari-<br />
nho.<br />
Mas o Pará não po<strong>de</strong> assumir um<br />
papel <strong>de</strong> omissão na história da oposi-<br />
ção aos militares. Afinal, foi no Sul do<br />
Estado que se <strong>de</strong>u um dos maiores<br />
movimentos guerrilheiros da década <strong>de</strong><br />
70. Nas margens do Rio Araguaia,<br />
entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Domingos das<br />
Latas e São Geraldo, 69 militantes do<br />
PC do B - além <strong>de</strong> 17 camponeses que<br />
se integraram ao movimento -, orga-<br />
nizavam uma guerrilha. Foram elimi-<br />
nados por um exército <strong>de</strong> 20 mil sol-<br />
dados do Exército, Marinha, Aeronáu-<br />
tica e das polícias militar e civil do<br />
Pará, Goiás e Maranhão.<br />
Quase meta<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sapareci-<br />
dos políticos - 136 pelas estimativas<br />
do Governo Fe<strong>de</strong>ral, 369 para enti-<br />
da<strong>de</strong>s civis - foi seqüestrada e morta<br />
na região do Araguaia, segundo o<br />
"Dossiê dos Mortos e Desaparecidos<br />
Políticos a partir <strong>de</strong> 1964". Também<br />
nos limites do Pará com o Tocantins,<br />
mais exatamente no cemitério <strong>de</strong><br />
Xambioá, foram encontradas duas<br />
ossadas, possivelmente <strong>de</strong> guerrilhei-<br />
ros, diz o documento elaborado por<br />
três entida<strong>de</strong>s, entre elas o Grupo Tor-<br />
tura Nunca Mais.<br />
Enquanto a guerrilha era<br />
sufocada no Araguaia, a falta <strong>de</strong> um<br />
movimento guerrilheiro organizado em<br />
Belém não impedia que pessoas con-<br />
si<strong>de</strong>radas suspeitas pelo regime fossem<br />
presas ou perseguidas. O alvo estava<br />
concentrado na incipiente elite cultu-<br />
ral da época. "A região (Norte) não<br />
foi um gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> resistência e,<br />
por isso mesmo, não foi on<strong>de</strong> a repres-<br />
são foi mais intensa", diz o ex-<strong>de</strong>puta-<br />
do do PT Edmilson Rodrigues.<br />
Apesar <strong>de</strong> não haver notícias <strong>de</strong><br />
tortura praticada contra presos políti-<br />
cos nas <strong>de</strong>legacias do Pará, os<br />
paraenses não passaram ilesos pela<br />
face mais cruel da ditadura militar. Os<br />
militantes Humberto Cunha e Iza Cu-<br />
nha foram torturados no Rio <strong>de</strong> Janei-<br />
Antânio Carlos M Teixeira (Antônio)<br />
Kieber Lemos da Siiva (Quelé/Carlito)<br />
Lúcia Maria <strong>de</strong> Souza (Sônia)
Maria Célia Corrêa (Rosa)<br />
Vandick Reidner<br />
Dinaelza S.S. Coqueiro (Dinà)<br />
Telma Regina Corrêa Cor<strong>de</strong>iro (Lia)<br />
Idalísio S.<br />
(Aparício)<br />
ro. Paulo Fontelles e Hecilda Veiga<br />
(casados na época) também sofreram<br />
torturas fora do Pará. Outro paraense,<br />
o estudante secundarista Edson Luiz<br />
<strong>de</strong> Lima Souto, foi morto a tiros no<br />
restaurante Calabouço, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Ainda que sendo vítimas da repressão<br />
em outra cida<strong>de</strong>, os Fontelles,<br />
os Cunha e Edson Luiz dificilmente<br />
não tiveram informações sobre eles arquivadas<br />
pelo DOPS em Belém.<br />
Sumiço - A dúvida sobre os<br />
nomes e as informações contidas nas<br />
papeladas do DOPS esbarra noutro<br />
mistério: on<strong>de</strong> estão os arquivos? Na<br />
Divisão <strong>de</strong> Investigação e Operações<br />
Especiais (DIOE), que<br />
hoje substitui o DOPS,<br />
não há vestígios. "Aqui<br />
só tem arquivos a partir<br />
da criação do DIOE, não<br />
se sabe nem se existem arquivos<br />
do antigo DOPS",<br />
diz um policial. "Esses arquivos<br />
existem, mas nem<br />
a própria polícia sabe ao<br />
certo on<strong>de</strong> estão", afirma<br />
um <strong>de</strong>legado.<br />
O ex-<strong>de</strong>putado Edmilson<br />
Rodrigues, que há<br />
dois anos tentou acessar os<br />
arquivos quando era presi<strong>de</strong>nte<br />
da Comissão <strong>de</strong><br />
Direitos Humanos da Assembléia<br />
Legislativa, suspeita<br />
<strong>de</strong> que "eles foram<br />
<strong>de</strong>struídos ou transferidos<br />
para outro local,<br />
como a PM". O diretor<br />
do DOPS na época, <strong>de</strong>legado<br />
Paulo Tamer, alegou<br />
que os arquivos não<br />
existiam. "Aqui na PM<br />
atualmente também não<br />
tem arquivo nenhum",<br />
garante um oficial graduado.<br />
Acesso obrigatório<br />
- A assembléia Legislativa<br />
espera a hora <strong>de</strong> ser<br />
colocado em pauta um<br />
projeto <strong>de</strong> lei do <strong>de</strong>putado<br />
José Geraldo (PT)<br />
que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar a<br />
existência nebulosa das<br />
fichas do DOPS. Se for<br />
aprovado, o projeto tornará<br />
obrigatório o aces-<br />
Aranha Filho<br />
Dinalva Oliveira Teixeira
Paulo Fontelles, vítima <strong>de</strong> tortura<br />
nm.<br />
I<br />
,&****%% H*"*CM*X<br />
.31 i\<br />
rrialicia'<br />
"^(Pwgp)<br />
.çettena'<br />
■arijuivos do DOPS e da PM.<br />
Os documéltos seriam transferidos<br />
pelo Governo do Estado para a Bibli-<br />
oteca Pública, que organizaria um ar-<br />
quivo próprio. \<br />
Capixaba <strong>de</strong> 33 anos que che-<br />
gou ao Pará èm 1979 pelos elos do<br />
sindicalismo rurW, Zé Geraldo \stá<br />
convencido <strong>de</strong> que 5s arquivos air^a<br />
existem e, entre outras fichas, conter^<br />
atWi; próprio. "Mas nãl é essa a mo-|<br />
tivaçaè» A idéia é abri-ld| para a pes-<br />
quisa histórica", justifica l <strong>de</strong>putado.<br />
Par| a coor<strong>de</strong>nador! da Socie-<br />
da<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos<br />
Humanos (SPDDH), Veral Tavares, a 1<br />
abertura dos arquivos vqí preencher |<br />
uma lacuna da história política no Pará.<br />
"É fundamental que a socieda<strong>de</strong> tenha?<br />
acesso a esses docurpfentos que irãé<br />
mostrar como íuncigriava a repressãp'.<br />
É idéia da SPDDJfentrar com proces-<br />
sos <strong>de</strong> habcas-data para permi|if que<br />
pessoas interessadas tenham acesso<br />
itídividual aos arquivos, um direito<br />
garantido pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />
'olaborou Iran <strong>de</strong> Souza<br />
Foto: Miguel Chikaoha/Kamara Kó<br />
Hecilda Veiga também foi torturada<br />
perimente uma<br />
itia da história nas<br />
Reservas<br />
Extrativistas<br />
R$20,00<br />
Pedidos pelos Correios para:<br />
Livraria Paim<br />
Rua Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, 331 •<br />
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fones: (068) 224-3432 • 224-8972
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iii<br />
::<br />
«I<br />
O homem-gol<br />
Giovonni, do Sonfos e do Seleção, admite o próprio timi<strong>de</strong>z, diz que<br />
o futebol paraense não se revela por falta <strong>de</strong> organização e que vai<br />
investir no Pará tudo que ganhar como jogador.<br />
Para um rapaz <strong>de</strong> 23 anos que ain-<br />
da preserva o jeitão <strong>de</strong> adolescen-<br />
te, Giovanni Silva <strong>de</strong> Oliveira fala<br />
pouco e ri menos ainda. Mas se joga<br />
mal com as palavras, prejudicado pela<br />
gagueira insdisfarçável, atinge níveis<br />
<strong>de</strong> excelência com a bola. Tanto que<br />
já é consi<strong>de</strong>rado um craque - privilé-<br />
gio cada vez mais raro no futebol mo-<br />
<strong>de</strong>rno.<br />
Morando em São Paulo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
segundo semestre do ano passado, ar-<br />
tilheiro do Santos, Giovanni não é<br />
protagonista <strong>de</strong> uma história linear e<br />
sem graça. Não parecia pre<strong>de</strong>stinado<br />
ao sucesso que conheceu em 95 ao se-<br />
<strong>de</strong>stacar nos Campeonatos Paulista e<br />
Brasileiro e nos últimos jogos da Se-<br />
leção.<br />
Nascido em Belém, filho <strong>de</strong> um<br />
funcionário da Eletronorte, Giovanni<br />
foi morar com a família em Abaetetuba<br />
com a transferência do pai para lá em<br />
87. Ali, durante um jogo <strong>de</strong> futebol <strong>de</strong><br />
salão, conheceu a professora <strong>de</strong> Edu-<br />
cação Física Ana Rosa, com quem está<br />
casado há quase um ano, após oito <strong>de</strong><br />
namoro; e teve o talento reconhecido<br />
em primeira mão por um amigo que o<br />
levou para a Tuna em 91. "Fiquei na<br />
equipe júnior até 92 e <strong>de</strong>pois passei<br />
pro time profissional", conta Giovanni.<br />
Ü<br />
"Os dirigentes da<br />
Tuna atrapalharam a<br />
minha vida"<br />
Por empréstimo o meio-campis-<br />
ta jogou no Clube do Remo entre agos-<br />
to e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 93, retornando no-<br />
vamente à Tuna, clube do qual não<br />
escon<strong>de</strong> as mágoas. "Os dirigentes da<br />
Tuna atrapalharam a minha vida.<br />
Quando o jogador se <strong>de</strong>staca, como<br />
foi o meu caso, eles pe<strong>de</strong>m um preço<br />
absurdo para <strong>de</strong>ixá-lo seguir em fren-<br />
te", <strong>de</strong>sabafa.<br />
Em maio <strong>de</strong> 94, ainda que por<br />
empréstimo, Giovanni se livrou do far-<br />
do luso e foi para o inexpressivo São<br />
Carlense (da Série A-2 do Campeona-<br />
to Paulista). Em São Carlos, noroeste<br />
<strong>de</strong> São Paulo, o rapaz <strong>de</strong> formação<br />
católica se converteu à igreja evangé-<br />
lica "100% Vida" e hoje é "Atleta <strong>de</strong><br />
Cristo". Emprestado ao Santos no se-<br />
gundo semestre, Giovanni amargou<br />
Iran <strong>de</strong> Souza<br />
seis meses no banco <strong>de</strong> reservas. "O<br />
técnico Serginho Chulapa tinha um<br />
esquema <strong>de</strong>fensivo e as características<br />
do Giovanni são ofensivas", justifica<br />
Roberto Bolonha, diretor do clube.<br />
j^<br />
Giovanni e a mulher,<br />
Ana Rosa, preten<strong>de</strong>m<br />
instalar uma escola<br />
<strong>de</strong> I o grau em<br />
Abaetetuba.<br />
::::-:MS . ■'<br />
:■:.■.:!.;:;:■ ■:;:
«ülCCÜ<br />
/IMO ><br />
Com o passe comprado pelo<br />
Santos por R$ 300 mil - Pele, com<br />
quem mais tar<strong>de</strong> o atleta teria discus-<br />
sões públicas, emprestou R$ 150 mil<br />
para que o clube fechasse o negócio -<br />
Giovanni ganhou a vaga <strong>de</strong> titular em<br />
95 e não per<strong>de</strong>u mais. Convocado<br />
nove vezes por Zagalo até o mês <strong>de</strong><br />
outubro, o jogador se tomou um pro-<br />
duto valioso no mercado especulativo<br />
do futebol. Supervalorizado, o passe<br />
do adolescente magro e bom <strong>de</strong> bola<br />
que estudou nos colégios Mário<br />
Chermont e Rui Barbosa em Belém, e<br />
no Instituto Nossa Senhora dos Anjos<br />
em Abaetetuba, não custa atualmente<br />
menos <strong>de</strong> R$ 5 milhões (o São Paulo<br />
já teria oferecido R$ 4 milhões). Tal-<br />
vez até mais. "Não posso falar em hi-<br />
pótese. O preço só seria <strong>de</strong>finido em<br />
uma negociação concreta", <strong>de</strong>sconver-<br />
sa Samir Abdur Hak, presi<strong>de</strong>nte do<br />
Santos.<br />
Por enquanto - precisamente até<br />
31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando vence seu<br />
contrato com o time - o jogador ga-<br />
nha menos <strong>de</strong> R$ 10 mil mensais, sa-<br />
lário irrisório entre as estrelas do es-<br />
porte.<br />
Se faz da timi<strong>de</strong>z um emblema<br />
<strong>de</strong> si mesmo, Giovanni também revela<br />
<strong>de</strong> cara outra faceta: autoconfiança<br />
como atleta. Está certo <strong>de</strong> que vai dis-<br />
putar com Juninho (Middlesbrough,<br />
Inglaterra), Rivaldo e Edilson (Palmei-<br />
ras) a vaga <strong>de</strong> titular na meia-esquer-<br />
da da Seleção na Copa <strong>de</strong> 98 na Fran-<br />
ça. Ninguém duvida <strong>de</strong> que esteja no<br />
páreo, mas suas qualida<strong>de</strong>s técnicas<br />
ainda divi<strong>de</strong>m opiniões.<br />
"O Giovanni é habilidoso, o<br />
melhor com a bola no pé, mas não bri-<br />
ga muito por ela, é meio lento", critica<br />
a estudante Maeve Guimarães, 16<br />
anos, torcedora do Santos. "Ele <strong>de</strong>mo-<br />
ra nas arrancadas, que são poucas, e<br />
não gosta muito <strong>de</strong> voltar para mar-<br />
car", espeta o torcedor Josivaldo<br />
Cabral, 18 anos.<br />
'Não gosto mesmo<br />
<strong>de</strong> falar. É o meu i<br />
jeito' »"<br />
Para o admnistrador <strong>de</strong> fu<br />
tebol do Santos, o ex-jogador ar-<br />
gentino Ramos Delgado,<br />
"Giovanni tem um domínio <strong>de</strong><br />
bola excepcional, um drible<br />
<strong>de</strong>sconcertante, cabeceia bem<br />
e po<strong>de</strong> vir a ser um craque, até<br />
um gênio". Delgado alega ra-<br />
zões <strong>de</strong> ética para não apon-<br />
tar fraquezas no jogador, que<br />
encontra no atual técnico do<br />
time um analista preciso <strong>de</strong><br />
suas virtu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ficiências.<br />
Carlos Roberto Cabral, o<br />
Cabralzinho, 50 anos, ex-jogador<br />
que foi reserva <strong>de</strong> Pele no próprio<br />
Santos, não concorda com a alegada<br />
lentidão <strong>de</strong> Giovanni. "Pelo biotipo<br />
<strong>de</strong>le, longilíneo, pela altura <strong>de</strong>le,<br />
l,90m, é um jogador que em espaço<br />
curto consegue arrancar, explodir e<br />
concluir as jogadas com alto nível <strong>de</strong><br />
aproveitamento", analisa o técnico.<br />
Para leigos em futebol, Cabralzinho<br />
quer dizer que o jogador paraense,<br />
"ainda que às vezes se <strong>de</strong>sligue no<br />
meio do jogo", é vocacionado para o<br />
ataque, um homem-gol. "O Giovanni<br />
é frio, pensa e faz na hora", elogia o<br />
goleiro Edson Nascimento, Edinho, 21<br />
anos.<br />
Habilida<strong>de</strong> + força + velocida<strong>de</strong><br />
= craque. Se esta é realmente a fór-<br />
mula contemporânea do futebol para<br />
a concessão do mérito da excepciona-<br />
lida<strong>de</strong>, Giovanni ainda não chegou lá<br />
^m<br />
OUSWi<br />
■ ■■■■■. ■
por problemas <strong>de</strong> formação profissio-<br />
nal. "Talvez ele não tenha passado por<br />
um trabalho a<strong>de</strong>quado nas categorias<br />
infantil, juvenil ou júnior. Me parece<br />
que os clubes paraenses não têm boa<br />
infra-estrutura e o Giovanni careceu <strong>de</strong><br />
um bom laboratório", diz Cabralzinho<br />
medindo as palavras.<br />
O jogador é que não economiza<br />
nos termos. "O futebol paraense, que já<br />
é discriminado no resto do país, piora a<br />
própria situação porque é <strong>de</strong>sorganiza-<br />
do. Joguei na Tuna e no Remo, posso<br />
falar. Os dirigentes têm mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
amador. Não são apenas os salários que<br />
são ruins, eles também <strong>de</strong>veriam dar me-<br />
lhor assistência aos jogadores. Enquan-<br />
to não mudarem isso, o futebol paraense<br />
não vai melhorar", <strong>de</strong>sabafa.<br />
Futuro próximo - Apesar do <strong>de</strong>-<br />
sabafo, Giovanni não pensa no passado.<br />
Tem gran<strong>de</strong>s expectativas e o futuro, para<br />
ele, é sinônimo <strong>de</strong> Pará. "É pra lá que<br />
vou voltar quando um dia parar <strong>de</strong> jogar<br />
futebol. Por isso vou comprar minha casa<br />
e investir tudo lá e não aqui", diz com<br />
segurança. Na volta também preten<strong>de</strong> fa-<br />
zer o curso <strong>de</strong> Educação Física, para<br />
completar os estudos interrompidos após<br />
a conclusão do 2 o grau. "Ainda fiz até o<br />
5 o semestre <strong>de</strong> Eletrotécnica na Escola<br />
áà&íMyua, ~?
Falta um Jínkíngs na<br />
estante <strong>de</strong> Belém<br />
w<br />
Sauda<strong>de</strong> e orgulho. Dois sentimen<br />
tos caminham juntos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele<br />
cinco <strong>de</strong> outubro passado quan-<br />
do faleceu, <strong>de</strong> maneira lenta e sofrida.<br />
Raimundo Antônio Jinkings. Parentes.<br />
amigos e assíduos freqüentadores da<br />
mais tradicional livraria <strong>de</strong> Belém la-<br />
mentavam ter que se <strong>de</strong>spedir daquela<br />
figura meio bonachona, <strong>de</strong> sorriso tris-<br />
te, com trajetória ligada a<br />
<strong>de</strong>fesa das liberda<strong>de</strong>s e da<br />
<strong>de</strong>mocracia e que, com cer-<br />
teza, tem páginas garantidas<br />
no livro <strong>de</strong> estórias dos per-<br />
sonagens que fizeram histó-<br />
ria nesse Pará.<br />
Lembranças chegam<br />
aos turbilhões. Trazem o<br />
Jinkings pai, amigo e mili-<br />
tante. Roberto Corrêa, ami-<br />
go <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aqueles difíceis<br />
tempos <strong>de</strong> ditadura, lembra<br />
bem <strong>de</strong> uma das maiores<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quem foi um<br />
gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r sindical e diri-<br />
gente político: "Jinkings ti-<br />
nha a capacida<strong>de</strong> nata <strong>de</strong><br />
combinar teoria e prática.<br />
Infundia a autoconfiança e<br />
o ânimo necessários a uma<br />
geração que viria a se<br />
engajar na resistência <strong>de</strong>mo-<br />
crática".<br />
jnlcíngs: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infundir<br />
<br />
autoconfiança aos novos militantes<br />
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ftajetória<br />
O Jinkings menino viveu no<br />
interior do Maranhão on<strong>de</strong> foi<br />
boia<strong>de</strong>iro, peixeiro, caixeiro e ar-<br />
tesão (confeccionava tamancos).<br />
Em São Luís, vendia quadros, es-<br />
tudava e lia tudo o que lhe caía nas<br />
mãos, principalmente livros <strong>de</strong> ten-<br />
dência socialista.<br />
Veio para Belém aos 15 anos<br />
como militar da FAB. Foi funcio-<br />
nário do BASA, quando começou<br />
atuar no sindicalismo. E como todo<br />
bom jornalista, não tinha papas na<br />
língua, se indispôs com a diretoria<br />
do Basa, per<strong>de</strong>u o emprego. Logo<br />
foi escolhido para dirigente do<br />
PCB. Foi aí que começaram as per-<br />
seguições e nascia a livraria, na sala<br />
<strong>de</strong> visitas da casa da rua Tamoios.<br />
Vieram os filhos, os netos (onze) e<br />
o Jinkings continuou pelas estan-<br />
tes da Jinkings passando a mensa-<br />
gem <strong>de</strong> quem também escreveu<br />
muitas páginas no livro <strong>de</strong> história<br />
da liberda<strong>de</strong>.<br />
Jinkings: o m/7;tante comunista que<br />
entrou na Igreja para casar com<br />
isa. Nas fofos, ele está com a<br />
esposa, com quem viveu mais <strong>de</strong><br />
40 anos, e com quatro filhos.<br />
• i
Jinkings foi lí<strong>de</strong>r do PCB e<br />
usou sua livraria para as<br />
clan<strong>de</strong>stinas reuniões do<br />
partido. Lutou por sua<br />
legalização. Foi cassado,<br />
per<strong>de</strong>u seus direitos<br />
políticos e <strong>de</strong> cidadão. Teve<br />
sua casa apedrejada.<br />
Amargou noites na ca<strong>de</strong>ia e<br />
certa vez foi seqüestrado,<br />
indo parar num forte em<br />
Macapá - " Vi a morte <strong>de</strong><br />
perto, pensei que não sairia<br />
vivo dali "- dizia ele.<br />
Amarílis Tupiassú conta sobre<br />
essa época <strong>de</strong> sobressaltos. "Foram<br />
duros aqueles tempos <strong>de</strong> ameaças no<br />
ar, sumiços, assassinatos e inseguran-<br />
ças. Bastava o anúncio <strong>de</strong> vinda a<br />
Belém <strong>de</strong> alguns daqueles gencrais-<br />
presi<strong>de</strong>ntes e lá se ia ele. E lá ficava a<br />
Isa e as crianças em vigília, os ami-<br />
gos, parentes, em aflição, tentando<br />
<strong>de</strong>scobrir para on<strong>de</strong> tinham sumido<br />
com o Jinkings".<br />
Mas Raimundo Jinkings resistiu<br />
à ditadura lutando pela anistia, pela li-<br />
berda<strong>de</strong>, contra os <strong>de</strong>cretos-lei <strong>de</strong> ar-<br />
rocho salarial, pelas eleições diretas,<br />
pelo socialismo e criando sua fortale-<br />
za <strong>de</strong> livros.<br />
Erguer a livraria foi outra bata-<br />
lha dura, lembra Amarílis. "Primeiro<br />
foi a casa, o lar sendo sacrificado na<br />
acomodação dos livros, centenas <strong>de</strong><br />
livros. Sala e varanda tomadas por<br />
pacotes, catálogos, faturas... Era<br />
transtornante ver Isa (mulher <strong>de</strong><br />
Jinkings) querendo impor or<strong>de</strong>m<br />
àquilo".<br />
Com as freqüentes invasões na<br />
casa da rua Tamoios, os prejuízos fi-<br />
nanceiros eram gran<strong>de</strong>s. Mas<br />
Jinkings não se <strong>de</strong>ixava abater e mes-<br />
mo em fase tão difícil não era me-<br />
nos solidário: dava-se ao luxo <strong>de</strong><br />
ven<strong>de</strong>r fiado. Não apenas aos ami-<br />
gos, mas também aos fiéis<br />
freqüentadores da casa-livraria. "Ha-<br />
via um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações dos<br />
<strong>de</strong>vedores, alguns levavam meses<br />
para saldar as dividas sem que em<br />
nenhum momento lhe viesse o fiador<br />
cora cobranças", conta Amarílis.<br />
Nesses duros tempos foi pre-<br />
ciso muito jogo <strong>de</strong> cintura, muita<br />
força e <strong>de</strong>terminação para não esmo-<br />
recer. Jinkings tinha tudo isso e jun-<br />
to com a família montou uma<br />
barraquinha <strong>de</strong> vendas na praça Ba-<br />
tista Campos para continuar viven-<br />
do sem abrir mão das suas convic-<br />
ções. " Poucos como ele souberam<br />
lutar por seus projetos políticos e en-<br />
frentaram <strong>de</strong> peito aberto tantos<br />
constrangimentos", diz Amarílis.<br />
"Jinkings era um sonhador que<br />
empenhou todas suas energias em<br />
consolidar seus sonhos. Belém <strong>de</strong>ve<br />
muito a sua tenacida<strong>de</strong> e as esquer-<br />
das a sua <strong>de</strong>terminação na luta con-<br />
tra as injustiças sociais, diz o amigo<br />
escritor Jocelyn Brasil. Lembrando<br />
a frase <strong>de</strong> Victor Pires Franco, Bra-<br />
sil ressalta: Jinkings foi o baluarte das<br />
esquerdas do Pará.
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a<br />
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i ■-v^m^.<br />
Cuíia<br />
Imagine ver lagos, igarapés e<br />
paranás secarem a ponto <strong>de</strong> se<br />
transformarem em enormes tape-<br />
tes ver<strong>de</strong>s. E milhares <strong>de</strong> peixes mor-<br />
rerem por falta <strong>de</strong> oxigênio. Navios,<br />
barcos regionais, voa<strong>de</strong>iras e canoas<br />
encalharem por falta <strong>de</strong> trafegabilida<strong>de</strong><br />
nos rios. E ver ainda isoladas centenas<br />
<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas. Tudo isso<br />
em plena bacia do maior rio do mun-<br />
do, o Amazonas. O quadro é um <strong>de</strong>-<br />
sastre ecológico. Mas foi quase o que<br />
aconteceu nos últimos quatro meses <strong>de</strong><br />
vazante (período <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida das águas)<br />
dos rios Ma<strong>de</strong>ira, Negro e Solimões -<br />
hidrovias para o acesso aos 62 muni-<br />
cípios do Amazonas.<br />
A seca, como dizem os caboclos,<br />
é a segunda maior dos últimos 32 anos<br />
no rio Negro. Em 1963 ele chegou a<br />
<strong>de</strong>scer 15 metros e 8 centímetros em<br />
relação ao nível do mar. Este ano, a<br />
vazante chegou a 13m64, e por ape-<br />
nas lm44 não atingiu a marca anteri-<br />
or, segundo dados do Instituto Nacio-<br />
nal <strong>de</strong> Meteorologia. Nessa região, os<br />
municípios <strong>de</strong> Novo Airão, Santa<br />
Izabel e São Gabriel <strong>de</strong> Cachoeira fo-<br />
ram os mais prejudicados.<br />
Na região do Ma<strong>de</strong>ira, os muni-<br />
cípios <strong>de</strong> Borba e Humaita ficaram<br />
quase isolados. No solimões a vazan-<br />
te foi mais grave e fez a prefeitura <strong>de</strong><br />
Caapiranga, a 145 km <strong>de</strong> Manaus, <strong>de</strong>-<br />
cretar estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública.<br />
"É a maior vazante do Solimões em<br />
30 anos", confirma Jaime Azevedo da<br />
Silva, conferente da Portobrás no mu-<br />
nicípio <strong>de</strong> Tabatinga.<br />
Localizada a 1.200 km <strong>de</strong><br />
SERTÃO<br />
as secam, viram grama,<br />
e <strong>de</strong>ságuam em tragédia<br />
Kátia Brasil<br />
Manaus, Tabatinga é entrada importan-<br />
te para as mercadorias vindas em na-<br />
vios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte do Equador pelo<br />
rio Putumayo (Amazonas) para Zona<br />
Franca <strong>de</strong> Manaus. Mas no auge da<br />
seca, dia 30 <strong>de</strong> outubro, a metragem<br />
do Solimões coletada foi <strong>de</strong> 46 centí-<br />
metros abaixo do nível do mar, impe-<br />
dindo até a locomoção <strong>de</strong> pequenas<br />
canoas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. "Com 3.600 km <strong>de</strong><br />
extensão no território do Amazonas a<br />
largura do Solimões nessa região é <strong>de</strong><br />
oito km em tempos <strong>de</strong> cheia e com a<br />
seca ficou reduzida a menos <strong>de</strong> 800<br />
metros e com apenas 1 metro <strong>de</strong> pro-<br />
fundida<strong>de</strong>", afirma Silva.<br />
O fenômeno da seca<br />
do Amazonas foi<br />
conseqüência <strong>de</strong> um<br />
bloqueio das frentes<br />
frias do pólo sul,<br />
normais nos períodos<br />
<strong>de</strong> julho e agosto,<br />
explica o chefe do I o<br />
Distrito <strong>de</strong><br />
Meteorologia do<br />
Amazonas, Veríssimo<br />
Farias <strong>de</strong> Assis.<br />
"O bloqueio <strong>de</strong>sviou as<br />
preciptações pluviométricas - as chu-<br />
vas (veja quadro) que equilibram a<br />
enchente e a vazante em nossa região.<br />
Então houve um <strong>de</strong>svio negativo <strong>de</strong><br />
precipitações nesse período <strong>de</strong> vazan-<br />
te intensificando a seca nas calhas dos<br />
rios Ma<strong>de</strong>ira, Negro e Solimões", afir-
ma Assis, prevendo : o qua-<br />
dro já está começando a mu-<br />
dar com as chuvas <strong>de</strong>ste<br />
mês. Mas o início da cheia<br />
só ocorre mesmo a partir<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando os<br />
rios voltam a ter os níveis<br />
normais".<br />
Os lagos do Janauacá<br />
e Jaraqui, e o paraná <strong>de</strong><br />
Manaquiri que dão acesso<br />
fluvial para o médio<br />
solimões praticamente seca-<br />
ram <strong>de</strong>ixando mais <strong>de</strong> 10 mil<br />
habitantes isolados, sem<br />
água e luz nos municípios <strong>de</strong><br />
Manaquiri e Careiro-Casta-<br />
nho, a pelo menos 70 km <strong>de</strong><br />
Manaus. "Estamos andando<br />
uns 4 quilômetros para pe-<br />
gar um barco no Solimões, porque o<br />
nosso paraná impossibilita qualquer<br />
embarcação ancorar no porto", diz<br />
Antônio Carlos Alves, 42 anos, funci-<br />
onário do posto médico <strong>de</strong> Manaquiri,<br />
que já registrou três casos <strong>de</strong> hepatite<br />
e 13 <strong>de</strong> malária.<br />
De acordo com Alves, sacrifí-<br />
cio quem passa mesmo são os ribei-<br />
rinhos que moram distante dos ra-<br />
mais que ligam as comunida<strong>de</strong>s à BR<br />
319, outra via <strong>de</strong> acesso a Manaus.<br />
Muitos per<strong>de</strong>ram as lavouras <strong>de</strong> mi-<br />
lho, mandioca, melancia e hortaliças<br />
porque não tiveram como escoar a<br />
produção. "Os doentes chegaram<br />
aqui em re<strong>de</strong>s trazidas por 10 a 15<br />
homens cm longas caminhadas em<br />
Caapiranga: estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública.<br />
Manaquiri secou <strong>de</strong>ixando mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mii pessoas isoladas.<br />
meio da lama e capina. Foi o que<br />
restou do rio. Muitas escolas estão<br />
fechadas porque as crianças não con-<br />
seguem chegar lá".<br />
Morte <strong>de</strong> peixes - Foi também<br />
no paraná do Manaquiri que o Institu-<br />
to Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e Re-<br />
cursos Renováveis (Ibama) observou<br />
um dos <strong>de</strong>sastres ecológicos da vazan-<br />
te do Solimões. Milhares <strong>de</strong> peixes<br />
morreram pela falta <strong>de</strong> oxigênio e ele-<br />
vação da temperatura das águas, com-<br />
prometendo o ciclo <strong>de</strong> reprodução. "A<br />
mortalida<strong>de</strong> trará um <strong>de</strong>créscimo para<br />
as espécies, pois não vão se reprodu-<br />
zir o suficiente para repovoar os esto-<br />
ques afetados. E quem vai sentir os im-<br />
pactos nos próximos 10 anos é o ri-<br />
beirinho", afirma Leland Barroso, che-<br />
fe da Divisão <strong>de</strong> Fiscalização do<br />
Ibama.<br />
As espécies <strong>de</strong> peixes que con-<br />
seguem respirar em altas temperatu-<br />
ras <strong>de</strong> até 50 o C escapa da morte, mas<br />
são alvo dos pescadores, diz Barroso.<br />
Até a captura do peixe-boi, cuja pesca<br />
é proibida por lei pelo risco <strong>de</strong><br />
Desequilíbrio das chuvas<br />
De acordo com o Instituto <strong>de</strong><br />
Meteorologia, o bloqueio das frentes fri-<br />
as do pólo sul ocasionou a gran<strong>de</strong> va-<br />
zante nos rios do Amazonas. Os técni-<br />
cos não acertaram as previsões. Os nú-<br />
meros mostram os <strong>de</strong>sequilíbrios das<br />
precipitações pulviométricas.<br />
Chuvas cm:<br />
JUNHO<br />
previsão: 87.5 mm<br />
só choveu: 76.9mm<br />
AGOSTO<br />
previsão: 57.9mm<br />
só choveu: 34.2mm<br />
SETEMBRO<br />
previsão: 83,3mm<br />
só choveu: 72.4mm<br />
OUTUBRO<br />
previsão: 125.7mm<br />
só choveu: Sl.OOmm<br />
Fonte: Primeiro Distrito <strong>de</strong><br />
Meteorologia do Amazonas
So ei cii í<br />
mmv ms<br />
tm como um<br />
tmmfonmiu m<br />
abalou o paul<br />
Fernando Graf<br />
TT<br />
Guíia<br />
extinção, voltou nos tempos <strong>de</strong> vazan-<br />
te. Em outubro, seis foram apreendi-<br />
dos vivos pelos fiscais e retomaram aos<br />
lagos do Piranha. Quatrocentos quilos<br />
<strong>de</strong> came foram doadas a instituições<br />
<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />
Conforme dados do Ibama, que<br />
mobilizou 40 fiscais em operações no<br />
Amazonas, a pesca predatória do pi-<br />
rarucu e do tambaqui aumentou em<br />
30% nesse ano em ralação a 1994. E<br />
a maior parte <strong>de</strong>sses peixes estavam<br />
em ida<strong>de</strong> imatura para a comercializa-<br />
ção. Por lei o pirarucu tem que atingir<br />
1 metro e 50 centímetros para ser pes-<br />
cado e o tambaqui 55 centímetros.<br />
"Isso não é respeitado. Como medida<br />
urgente para impedir o <strong>de</strong>créscimo das<br />
espécies, a partir <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
zembro a pesca comercial do tamba-<br />
qui e do pirarucu ficará proibida por<br />
dois anos", revela Barroso.<br />
As chuvas <strong>de</strong>ste início <strong>de</strong> mês<br />
começam a cair na calha dos rio Soli-<br />
mões e po<strong>de</strong>m por fim aos estragos<br />
causados pela gran<strong>de</strong> vazante nos mu-<br />
nicípios <strong>de</strong> Manacapuru, Manaquiri,<br />
Anama, Anori, Tefé e Tabatinga. Mas<br />
em Caapiranga, a 145 quilômetros <strong>de</strong><br />
Manaus, o estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pú-<br />
blica <strong>de</strong>cretada pela Prefeitura conti-<br />
nua. Lá o acesso a se<strong>de</strong> do município<br />
só é possível através <strong>de</strong> pequenas ca-<br />
noas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. São mais <strong>de</strong> 10 mil<br />
habitantes sem água e luz.<br />
Os telefones não funcionavam.<br />
A agricultura forte foi completamente<br />
prejudicada. "Nossas estradas nunca<br />
acabaram. E hoje para chegar no mu-<br />
nicípio mais próximo que é Manaca-<br />
puru é necessário mais <strong>de</strong> 15 horas <strong>de</strong><br />
viagem <strong>de</strong> motor. O que sobra pra gen-<br />
te é pedir a Deus que nos salve do<br />
pior", disse o agricultor José Raimun-<br />
do, que chegou ao porto <strong>de</strong> Manaus<br />
com a produção <strong>de</strong> banana para co-<br />
mercialização após enfrentar 2 dias <strong>de</strong><br />
viagem. Em período normal, a vinda à<br />
capital é feita em 6 horas. "É difícil<br />
levar até o gás <strong>de</strong> cozinha para casa.<br />
Quem tem barco <strong>de</strong> linha também tá<br />
no prejuízo, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> setembro não<br />
tem jeito <strong>de</strong> chegar a Caapiranga"<br />
O Exército e o Governo do<br />
Amazonas já levaram para Caapiran-<br />
ga e Manaquiri em helicópteros 20 to-<br />
neladas <strong>de</strong> alimentos e remédios. É<br />
<strong>de</strong>ver do Estado equacionar o proble-<br />
ma e encontrar soluções capazes <strong>de</strong><br />
assegurar a sobrevivência <strong>de</strong>ssas fa-<br />
mílias, disse Amazonino Men<strong>de</strong>s, go-<br />
vernador do Amazonas.<br />
Mas a assistência, que só che-<br />
gou dois meses após o isolamento <strong>de</strong><br />
muitas comunida<strong>de</strong>s, recebeu protes-<br />
to dos moradores <strong>de</strong> Anori, a 100 qui-<br />
lômetros <strong>de</strong> Manaus. "Nós não temos<br />
medicamentos, já tivemos um caso <strong>de</strong><br />
cólera e ninguém vem aqui para mos-<br />
trar a nossa situação na televisão", diz<br />
Maria Batista Veras, 44 anos, auxiliar<br />
<strong>de</strong> enfermagem do posto médico <strong>de</strong><br />
Anori, que nas horas difíceis faz papel<br />
<strong>de</strong> médica, ganhando salário <strong>de</strong> R$<br />
122,00 por mês.
wmmmm<br />
ihikaok<br />
1 yí criançu e o ado-<br />
I lescente têm direito<br />
l « proteção à vida e<br />
m<br />
1 á saú<strong>de</strong>, mediante<br />
j
A Criança e o adolescente<br />
têfn direité à liberda<strong>de</strong>, ao<br />
respeito e à dignida<strong>de</strong><br />
como pessoas humanas em<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimen-<br />
to e como sujeitos <strong>de</strong> direi-<br />
tos civis, humanos e soci-<br />
ais garantidos na Consti-<br />
tuição e nas leis. (Ari XVII,<br />
capitulo I, titulo II)<br />
A Criança, e o adolescente<br />
têm direito à educação, vi-<br />
sando ao pleno <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento da sua pessoa, pre-<br />
paro para o exercício da ci-<br />
dadania e qualificação<br />
para o trabalho. (Art. LIII,<br />
capítulo IV, título II)
:■■.■ ;■ ■:■:■■■ .<br />
Ê proibido qualquer traba-<br />
lho a menores <strong>de</strong> quatorze<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, [salvo na con-<br />
dição <strong>de</strong> aprendiz. (Art. LX,<br />
capítulo V, título II)<br />
■<br />
E <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos prevenir a<br />
ocorrência <strong>de</strong> ameaça e vi-<br />
olação dos direitos da crian-<br />
çae do adolescente. (Art.<br />
LXX, capítulo I, título III)<br />
m<br />
A criança e o adolescente<br />
têm direito à informação,<br />
cultura, lazer, esportes, di-<br />
versões, espetáculos e produ-<br />
tos e serviços que respeitem<br />
a sua condição peculiar <strong>de</strong><br />
pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
(Art. LXXI, capítulo I, título<br />
iii)':
3<br />
o<br />
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Qma<br />
Atrás do paraíso<br />
Textt) e Fntns: f.uciana Miranda<br />
Moradores, uma ONG e o Ibama enfrentam dificulda<strong>de</strong>s no Amazonas<br />
As águas cor <strong>de</strong> café do Rio Ne-<br />
gro emprestam sua tonalida<strong>de</strong> ao<br />
. Jaú, um rio com cerca <strong>de</strong> 450<br />
km <strong>de</strong> extensão, que começa e termi-<br />
na na maior reserva florestai do país,<br />
o Parque Nacional do Jaú. São 2 mi-<br />
lhões 272 mil hectares ou 23 mil 353<br />
km 2 - uma área maior que o Estado <strong>de</strong><br />
Sergipe. O percurso pelo rio é uma via-<br />
gem a um Brasil on<strong>de</strong> o dinheiro ainda é<br />
pouco utilizado e a luz elétrica pratica-<br />
mente não existe. A maioria dos mil ha-<br />
bitantes do Parque, localizado a 200 km<br />
<strong>de</strong> Manaus em linha reta, nunca foi à es-<br />
cola e vive sem posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional do Par-<br />
que, segundo levantamentos do Insti-<br />
para proteger o maior parque nacional do país<br />
tuto Nacional <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s da Ama-<br />
zônia (Inpa), é a menor do mundo:<br />
0,04% por km2. Um estudo sócio-eco-<br />
nômico realizado em 1992 pela Fun-<br />
dação Vitória Amazônica, uma orga-<br />
nização não-govemamental que reali-<br />
za pesquisas na Bacia do Rio Negro,<br />
revelou muitos dados e histórias sobre<br />
moradores do Jaú.<br />
Na parte mais alta do rio, o último<br />
morador se espantou ao ver o pequeno<br />
barco que trazia a bióloga Regina Oli-<br />
veira. Quase ninguém, em 40 anos, com<br />
exceção <strong>de</strong> um ou dois regatões (ven<strong>de</strong>-<br />
dores que percorrem os rios parando <strong>de</strong><br />
casa em casa), chegou naquele ponto do<br />
Jaú. A bióloga era uma das integrantes<br />
da equipe <strong>de</strong> pesquisadores da Funda-<br />
ção. Regina perguntou se ele já havia<br />
saído algum dia daquela área; o mora-<br />
dor suspirou e disse que sim, mas há 40<br />
anos. Ele sentia sauda<strong>de</strong>s do pão com<br />
manteiga e do café com leite que sempre<br />
tomava quando ia a Manaus. E disse<br />
também que nunca mais havia comido<br />
arroz, "Você tem um pouco aí, moça ? ,<br />
perguntou.<br />
Criado em 1980 pelo Decreto-lei<br />
85.200 e localizado nos municípios <strong>de</strong><br />
Novo Airão e Barcelos, o Parque do<br />
Jaú foi assim chamado por ficar na<br />
bacia do rio Jaú, que é nome <strong>de</strong> um<br />
dos maiores peixes brasileiro e vem do<br />
tupi ya 'ú.
Apelidos também não<br />
faltam. Os<br />
pesquisadores, até bem<br />
pouco tempo,<br />
chamavam-no <strong>de</strong><br />
"Parque <strong>de</strong> Papel": foi<br />
<strong>de</strong>senhado no mapa,<br />
registrado como uma<br />
área protegida, mas<br />
abandonado à própria<br />
sorte pelo Governo<br />
fe<strong>de</strong>ral.<br />
Pela legislação brasileira, que segue<br />
o mo<strong>de</strong>lo norte-americano, não po<strong>de</strong>-<br />
ria haver moradores no parque. Mas o<br />
Ibama não teve força política, dinhei-<br />
ro e funcionários suficientes para tirá-<br />
los <strong>de</strong> lá. Um grupo <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, en-<br />
tre as quais o Inpa e a Fundação Vitó-<br />
ria Amazônica, está lutando para man-<br />
ter os moradores do Jaú. Defen<strong>de</strong>m<br />
que a população po<strong>de</strong> ajudar o Ibama<br />
na fiscalização e manutenção da fauna<br />
e da flora e querem que ela seja inte-<br />
grada a um projeto ambientalista, como<br />
vem ocorrendo na estação Ecológica<br />
ulheres:<br />
vida dura<br />
A população do Parque Nacional do Jaú é predo-<br />
minantemente jovem. Dos mil habitantes, cerca <strong>de</strong> 600<br />
têm entre 15 e 20 anos. No entanto, aos 8 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
as crianças já começam a trabalhar com os pais. Aos 16<br />
anos, as adolescentes começam a ter filhos, constituin-<br />
do novas famílias.<br />
As mulheres do Parque do Jaú pegam no pesado.<br />
Além <strong>de</strong> cuidar da casa e das crianças, elas geralmente<br />
são responsáveis pela roça. Sabem pescar, caçar, tirar<br />
cipó da mata e <strong>de</strong>sfiá-lo para ven<strong>de</strong>r. Francisca Viana<br />
<strong>de</strong> Almeida, <strong>de</strong> 55 anos é um exemplo . O marido se<br />
feriu cortando cipó, ficou cego <strong>de</strong> um olho e com pro-<br />
blemas <strong>de</strong> coluna. Dona Francisca teve que cuidar sozi-<br />
<strong>de</strong> Mamirauá, também no Amazonas.<br />
"Com essa legislação, o governo<br />
cria um problema social e político e<br />
não consegue preservar o ecossistema"<br />
raciocina o biólogo e diretor da FVA,<br />
Carlos Miler. Em 1993 foi firmado um<br />
convênio <strong>de</strong> co-gestão entre a FVA e<br />
o Ibama. Objetivo: apoiar as ações <strong>de</strong><br />
vigilância, fiscalização, administração,<br />
pesquisa, educação ambiental e mane-<br />
jo do Parque Nacional do Jaú.<br />
Os recursos para pesquisa e ativi-<br />
da<strong>de</strong>s complementares, estimados em<br />
U$ 300 mil por ano, estão sendo for-<br />
necidos pela Comunida<strong>de</strong> Econômica<br />
Européia, Fundo Mundial para a Na-<br />
tureza (WWF) e o próprio Ibama.<br />
Em 1988, o governo fe<strong>de</strong>ral provi-<br />
<strong>de</strong>nciou a transferência <strong>de</strong> recursos do<br />
projeto Calha Norte no valor <strong>de</strong> 480<br />
mil cruzados novos - a moeda da épo-<br />
ca - para in<strong>de</strong>nização das famílias.<br />
Entretanto, os moradores do Parque,<br />
apoiados pela prefeitura <strong>de</strong> Novo<br />
Airão, avaliaram que o valor das in<strong>de</strong>-<br />
nizações não era satisfatório e não acei-<br />
taram sair. "Se a in<strong>de</strong>nização fosse boa<br />
não tinha mais ninguém aqui" , <strong>de</strong>duz<br />
Bernaldo Meruoca, um dos morado-<br />
res mais antigos.<br />
Mas nem todos têm a mesma opi-<br />
nião. Leonardo Queirós, pai <strong>de</strong> 7 fi-<br />
lhos e morador do Parque há 28 anos,<br />
acredita que sua família morreria <strong>de</strong><br />
fome na cida<strong>de</strong>. "Do trabalho da mata<br />
a gente sabe tudo. Sabe tirar ma<strong>de</strong>ira,<br />
fazer roça, pegar peixe. Mas na cida-<br />
<strong>de</strong> precisa ter profissão".<br />
Existem apenas quatro escolas pú-<br />
blicas no Parque Nacional do Jaú,<br />
mantidas pela prefeitura <strong>de</strong> Barcelos e<br />
concentradas no Rio Unini. A taxa <strong>de</strong><br />
nha dos 13 filhos, da roça, da casa e, evi<strong>de</strong>ntemente, do<br />
marido. Dois <strong>de</strong> seus filhos morreram afogados e os<br />
corpos estão enterrados ao lado da casa. "Foi o boto",<br />
diz com a natural superstição amazônica.<br />
Com tanto trabalho e sem usar métodos anticoncep-<br />
cionais, as mulheres do Parque envelhecem cedo. "Se a<br />
mulher tem muitos filhos é porque Deus quer", <strong>de</strong>fine João<br />
Meruoca, morador do Parque há mais <strong>de</strong> 30 anos. "O ruim<br />
é que ela fica logo velha e feia", completa. O irmão <strong>de</strong><br />
João, Francisco, prefere fazer uma análise econômica da<br />
questão. " Filha mulher é mais prejuízo para os pais. Ela<br />
sai logo <strong>de</strong> casa para casar. Nem dá tempo <strong>de</strong> pagar a cri-<br />
ação com o trabalho na roça", lamenta. (L.M.)<br />
Cuira
Cuíia<br />
analfabetismo entre os moradores é <strong>de</strong><br />
74%. O ensino se restringe às primei-<br />
ras séries <strong>de</strong> 1° grau e não há educa-<br />
ção pré-escolar. Existem cerca <strong>de</strong> 274<br />
crianças em ida<strong>de</strong> escolar - <strong>de</strong> 6 a 14<br />
anos - no parque. Destas, apenas 36%<br />
freqüentam a escola.<br />
A Fundação Vitória Amazônica<br />
também <strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>s educa-<br />
tivas. Constrói, no município <strong>de</strong> Novo<br />
Airão, uma Associação <strong>de</strong> Artesãos e<br />
um clubinho ecológico para crianças<br />
<strong>de</strong> 5 a 15 anos, com oficinas <strong>de</strong> teatro,<br />
corte-costura, marcenaria e alfabetiza-<br />
ção. O objetivo é conscientizar as cri-<br />
anças sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preser-<br />
var o meio ambiente e viabilizar ativi-<br />
da<strong>de</strong>s econômicas para os adultos.<br />
A população do Parque ainda <strong>de</strong>-<br />
pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> regatões como fornecedores<br />
<strong>de</strong> mercadorias e paga com produtos<br />
extrativistas. A principal fonte <strong>de</strong> ren-<br />
dimento dos moradores é a extração<br />
<strong>de</strong> cipó, castanha, borracha e copaíba.<br />
O cultivo <strong>de</strong> mandioca e banana tam-<br />
bém contribui para aumentar o orça-<br />
mento familiar. Homens, às vezes tam-<br />
bém as mulheres, saem em pequenas<br />
canoas por volta <strong>de</strong> quatro horas da<br />
manhã e entram pelos furos dos rios<br />
até alcançar os cipozeiros. Um homem<br />
consegue cortar e carregar até 25 qui-<br />
los <strong>de</strong> cipó. A volta para casa é por<br />
volta <strong>de</strong> duas da tar<strong>de</strong>. Para <strong>de</strong>sfiar um<br />
quilo <strong>de</strong> cipó, leva-se em média duas<br />
horas - tarefa geralmente dada às mu-<br />
lheres e crianças.<br />
Segurança <strong>de</strong><br />
Faz-<strong>de</strong>-Conta<br />
Praticamente não existe fiscalização<br />
no Parque Nacional do Jaú. São ape-<br />
nas três vigias <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> se-<br />
gurança privada contratados pelo<br />
Ibama. Segundo os registros da admi-<br />
nistração do Parque, nos últimos três<br />
anos somente três operações foram<br />
efetuadas na área.<br />
O superinten<strong>de</strong>nte do Ibama no<br />
Amazonas, Amilton Casara, disse<br />
que o Instituto <strong>de</strong>ve adquirir ainda<br />
esse ano algumas viaturas e barcos<br />
para fiscalização do Parque. Além<br />
disso, o órgão preten<strong>de</strong> contratar<br />
mais três fiscais. Os moradores <strong>de</strong>-<br />
nunciam que muitas pessoas <strong>de</strong> fora<br />
vão caçar e pescar no Parque. Para<br />
driblar a fiscalização, passam por<br />
"furos" - áreas <strong>de</strong> floresta alagada,<br />
formadas no período <strong>de</strong> cheia dos<br />
tivida<strong>de</strong>s<br />
rotina no maioi<br />
Comerciantes ou "geladores",<br />
como também são chamados, cap-<br />
turam peixes ornamentais e pirarucu<br />
em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s, no Jaú,<br />
para vendê-los na capital. Entre 1975<br />
a 1988, <strong>de</strong> 10 a 20 milhões <strong>de</strong> pei-<br />
xes ornamentais foram exportados<br />
anualmente por Manaus.<br />
Outro problema grave, que vem<br />
chamando a atenção dos pesquisa-<br />
dores e do Ibama, é a captura ilegal<br />
<strong>de</strong> quelônios, especialmente tartaru-<br />
gas e tracajás. Comerciantes da ca-<br />
pital e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s próximas, como<br />
Novo Airão, entram no Parque e le-<br />
vam indiscriminadamente ovos, fi-<br />
lhotes e bichos adultos para serem<br />
vendidos em Manaus, on<strong>de</strong> a carne<br />
<strong>de</strong> quelônio é muito apreciada. Al-<br />
guns moradores ajudam na captura<br />
ilegal, como fonte adicional <strong>de</strong> ren-<br />
da. O preço <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> um bicho<br />
<strong>de</strong> casco po<strong>de</strong> chegar a R$ 5,00 <strong>de</strong>n-<br />
rios. "Um barco estranho entra e a<br />
gente não po<strong>de</strong> fazer nada. Se eu ti-<br />
vesse uma or<strong>de</strong>m por escrito, igual<br />
a dos guardas do Ibama, pedia para<br />
eles saírem", diz o morador Leonar-<br />
do Queirós.<br />
No Brasil existem 35 parques, en-<br />
tre nacionais e estaduais, mas o<br />
Ibama só possui 722 fiscais. Cada um<br />
<strong>de</strong>sses funcionários "protege" 441<br />
km2. No Amazonas, só existem 13<br />
fiscais. Por isso, apenas cinco das 56<br />
áreas <strong>de</strong> preservação existentes na-<br />
quele estado são fiscalizadas. Lá,<br />
cada fiscal é responsável, em média,<br />
por 10,8 km 2 .<br />
Animais em extinção<br />
são "moradores" do<br />
parque<br />
Em julho do próximo ano, a<br />
Fundação Vitória Amazônica terá<br />
<strong>de</strong> entregar ao Ibama um plano <strong>de</strong><br />
manejo para o Parque, <strong>de</strong>finindo
edatórias são<br />
parque do país<br />
tro do Parque. Por um quilo <strong>de</strong> cipó,<br />
os moradores não conseguem mais<br />
que R$ 0,80. Por ser uma ativida<strong>de</strong><br />
proibida pelo Ibama, os moradores<br />
negam a participação no comércio<br />
<strong>de</strong> quelônios. "Quando era penuiti-<br />
do nós vendia tracajá e cabeçuda pra<br />
ajudar a comprar o rancho (manti-<br />
mentos). Agora a gente só pega pra<br />
comer", diz Francisco Meruoca, 31<br />
anos, que nasceu e vive no Parque.<br />
A extração ilegal <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira tam-<br />
bém ocorre com freqüência no Par-<br />
que do Jaú. As áreas próximas ao<br />
rio Unini, on<strong>de</strong> não existe fiscaliza-<br />
ção do Ibama, são as mais atingidas.<br />
A Fundação Vitória Amazônica ca-<br />
talogou 21 espécies <strong>de</strong> árvores utili-<br />
zadas para fins comerciais. A<br />
Acariquara, utilizada como poste e<br />
esteio, e a Itaúba, utilizada na cons-<br />
trução naval, são as mais explora-<br />
das. (LM.)<br />
áreas para pesquisas, turismo e<br />
moradia.<br />
O plano <strong>de</strong> manejo vai <strong>de</strong>finir<br />
quais ativida<strong>de</strong>s, e exercidas por<br />
quem, po<strong>de</strong>m ser admitidas no<br />
parque. A etapa mais importante<br />
é o zoneamento, para <strong>de</strong>limitar as<br />
áreas intocáveis (exclusivas), <strong>de</strong><br />
manejo (uso estritamente científi-<br />
co), <strong>de</strong> lazer e recreação (hotéis,<br />
barcos, serviços, campings) e <strong>de</strong><br />
uso coletivo (comunida<strong>de</strong>s, esco-<br />
las, postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e do Ibama).<br />
De 1990 para cá, já foram cata-<br />
logadas 400 espécies <strong>de</strong> aves no<br />
A<br />
CRIAÇÕES<br />
Sm MELHOR OPCãO<br />
Parque Nacional do Jaú. A espécie<br />
Nonnula amaurocephala, um pe-<br />
queno joão-bobo, não era observa-<br />
da <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1936 e foi encontrada no<br />
Parque em 93. Cientificamente, essa<br />
espécie era consi<strong>de</strong>rada extinta.<br />
Foram também catalogadas 400<br />
espécies <strong>de</strong> plantas e 263 <strong>de</strong> pei-<br />
xes. Macaco-prego, sussuarana<br />
(onça), peixe-boi, capivara e cotia<br />
são as principais espécies animais<br />
do Parque. As pesquisas realiza-<br />
das pela Fundação Vitória Amazô-<br />
nica, Inpa e Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
do Amazonas já possibilitaram a<br />
catalogação <strong>de</strong> 38 espécies <strong>de</strong> an-<br />
fíbios, 22 lagartos, 31 <strong>de</strong> serpen-<br />
tes, 10 <strong>de</strong> quelônios e quatro ja-<br />
carés. Algumas, como o jacaré-<br />
açu, a tartaruga da Amazônia, a<br />
onça-pintada e o gavião real, es-<br />
tão ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
Amilton Casara, superinten<strong>de</strong>nte do Ibama no Amazonas<br />
Parques Nacionais:<br />
o que são e como<br />
surgiram<br />
1. Os parques nacionais foram cria-<br />
dos com base na Lei 4.771 (1965) e na<br />
Lei <strong>de</strong> Proteção à Faunan 0 5.197 (1967).<br />
A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> parque nacional surgiu<br />
em 1979, através do Decreto 84.017,<br />
quando foi aprovado o Regulamento dos<br />
Parques Nacionais Brasileiros. Eles pas-<br />
saram a ser <strong>de</strong>finidos como extensas áre-<br />
as contendo atributos excepcionais da<br />
natureza. Essas áreas são <strong>de</strong>terminadas<br />
pelo Po<strong>de</strong>r Público para garantir a pro-<br />
teção integral da flora e da fauna silves-<br />
tres, dos solos, das águas e das belezas<br />
cênicas, com objetivos científicos, edu-<br />
cacionais, recreativos e culturais. E livre<br />
<strong>de</strong> moradores. (L.M.)<br />
Promova sua entida<strong>de</strong> usando brin<strong>de</strong>s.<br />
Uma alternativa para qualquer<br />
época do ano.<br />
oamisas • bonés • a<strong>de</strong>sivos<br />
flanelas • mochilas ,<br />
Trav. 14 <strong>de</strong> Abril, 1711 ( entre Gentil e Conselheiro) * ® 249- t f 74<br />
Cuíra
5<br />
I<br />
IÃ<br />
III<br />
III<br />
<<br />
s<br />
o<br />
IU<br />
ÍNDIOS<br />
Demarcação com<br />
suslentabílída<strong>de</strong><br />
Experiêncio no Amapá quer aperfeiçoar futuras <strong>de</strong>marcações<br />
<strong>de</strong> ferras indígenas na Amazônia<br />
A preocupação com a sustentabi-<br />
lida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>marcação das áreas<br />
indígenas surgiu no Brasil, di-<br />
ante da evidência <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>marca-<br />
ção física - um conjunto <strong>de</strong> procedi-<br />
mentos técnicos que materializam in<br />
loco os contornos da área <strong>de</strong>limitada -<br />
não vem garantindo aos índios o usu-<br />
fruto exclusivo dos bens naturais que<br />
vicejam na área, conforme prevê a<br />
Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Na maior parte<br />
dos casos, as áreas indígenas legalmen-<br />
te <strong>de</strong>marcadas estão invadidas por pre-<br />
dadores <strong>de</strong> seus recursos naturais. Esse<br />
<strong>de</strong>scompasso é, sobretudo, produto<br />
das ambigüida<strong>de</strong>s que permeiam as po-<br />
líticas públicas para o índio no país: o<br />
mesmo governo que encena, a caneta-<br />
das, a respeito da legislação vigente,<br />
exime-se das medidas que efetivariam<br />
suas <strong>de</strong>cisões, como, por exemplo,<br />
dotar os órgãos oficiais (Funai e Iba-<br />
ma) <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para executar a fis-<br />
calização e a repressão à intrusão.<br />
No Amapá, uma experiência con-<br />
testatória a esse mo<strong>de</strong>lo está em cur-<br />
so. A <strong>de</strong>marcação da área indígena<br />
Waíãpí - com 583 mil hectares encra-<br />
vados na <strong>de</strong>nsa floresta equatorial do<br />
oeste do Estado - quer transcen<strong>de</strong>r a<br />
mera <strong>de</strong>marcação, garantindo a susten-<br />
tabilida<strong>de</strong> futura da posse da terra pe-<br />
los índios, através <strong>de</strong> medidas que não<br />
só superem o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>marcatório<br />
convencional mas, ao mesmo tempo,<br />
lhes restitua a autonomia socio-econô-<br />
mica perdida em contato com o bran-<br />
co.<br />
Entre os Waíãpí, a crônica disputa<br />
entre os índios e predadores <strong>de</strong> bens<br />
indígenas se repetiu num passado re-<br />
lativamente recente. Des<strong>de</strong> a década<br />
<strong>de</strong> 70, hordas <strong>de</strong> garimpeiros invadi-<br />
am as terras historicamente ocupadas<br />
por esses índios,<br />
atrás do ouro <strong>de</strong><br />
seus rios. Em<br />
1973, a Funai em-<br />
preen<strong>de</strong>u uma<br />
frente <strong>de</strong> atração<br />
para <strong>de</strong>sobstruir o<br />
caminho da Peri-<br />
metral Norte da<br />
presença indígena.<br />
Obe<strong>de</strong>cendo à si-<br />
nistra cartilha po-<br />
lítica dos generais,<br />
o órgão indigenis-<br />
ta investiu na se-<br />
<strong>de</strong>ntarização <strong>de</strong>s-<br />
se povo <strong>de</strong> língua<br />
Tupi, reünindo-o em tomo <strong>de</strong> um "pos-<br />
to <strong>de</strong> assistência". Atrás dos sertanis-<br />
tas, vieram tratores e escava<strong>de</strong>iras,<br />
novos contingentes <strong>de</strong> garimpeiros e<br />
levas <strong>de</strong> pequenos agricultores, uma<br />
missão fundamentalísta americana<br />
(Missão Novas Tribos do Brasil), a<br />
malária, a gripe, a tuberculose e a con-<br />
juntivite.<br />
O contato oficial com os Waiãpi<br />
seguiu à risca o mo<strong>de</strong>lo consagrado<br />
pela política indigenista oficial da épo-<br />
ca. Primeiro, <strong>de</strong>stitui-se os índios <strong>de</strong> suas<br />
terras, através da criação <strong>de</strong> postos fixos<br />
<strong>de</strong> atração e assistência. Postos instala-<br />
dos, põe-se em prática mecanismos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência, com o objetivo <strong>de</strong> quebrar<br />
o mo<strong>de</strong>lo indigenista baseado na circu-<br />
lação por vastas áreas. Por fim, livres<br />
da in<strong>de</strong>sejável presença indígena, as<br />
"terras sem homens" po<strong>de</strong>m servir,<br />
então, aos objetivos do Estado. Pou-<br />
cos anos <strong>de</strong>pois do contato, os Waiãpi<br />
chegaram a ser consi<strong>de</strong>rados uma et-<br />
nia nos limites <strong>de</strong> extinção.<br />
No entanto, menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos fo-<br />
ram o suficiente para revelar aos índí-<br />
Marco Gonçalves (AEN)<br />
Li<strong>de</strong>ranças Waiãpi discutem os limites <strong>de</strong> sua área sobre um mapa da Funai.<br />
os que a concentração populacional<br />
imposta pelos brancos era inimiga <strong>de</strong><br />
sua sobrevivência física e cultural. Por<br />
iniciativa <strong>de</strong> alguns lí<strong>de</strong>res, a se<strong>de</strong>nta-<br />
rização, que lhes legou gran<strong>de</strong>s per-<br />
das territoriais, passou a ser abando-<br />
nada e, aos poucos, o modo tradicio-<br />
nal <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong>scentralizada foi<br />
retomado. Em 1976, o projeto da Pe-<br />
rimetral Norte malogrou por alegada<br />
falta <strong>de</strong> verbas.<br />
Hoje, o posto da Funai se converteu<br />
em uma das 13 al<strong>de</strong>ias existentes e a pre-<br />
sença missionária está na iminência <strong>de</strong> ser<br />
extirpada da área. Os Waiãpi assumiram<br />
também a tarefa <strong>de</strong> expulsar os garimpei-<br />
ros e outros intrusos <strong>de</strong> suas terras e ze-<br />
lam autonomamente pela vigilância dos<br />
pontos mais assediados. O artesanato, ati-<br />
vida<strong>de</strong> muito estimulada na época do con-<br />
tato, por seu caráter se<strong>de</strong>ntário, passou a<br />
ser uma das várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pro-<br />
dução econômica indígena. As iniciativas<br />
Waiãpi traduziam, assim, um novo ânimo,<br />
expresso na <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus<br />
chefes: "temos que fazer tudo sozinhos".<br />
Como fora no passado.
Controle territorial autônomo<br />
A reativação da ocupação tradicio-<br />
nal foi, sem dúvida, o capítulo mais<br />
importante na volta por cima dos índi-<br />
os Waiãpi. A partir <strong>de</strong> 1989, seus lí<strong>de</strong>-<br />
res iniciaram a saga pela <strong>de</strong>marcação<br />
da área e começaram a reclamar à Fu-<br />
nai, a fim <strong>de</strong> assegurar a posse legal do<br />
território. Ao mesmo tempo, na aventu-<br />
ra <strong>de</strong> fiscalizar os pontos cobiçados pe-<br />
los garimpeiros, acabaram por experi-<br />
mentar a faiscação manual do ouro <strong>de</strong><br />
aluvião <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas terras.<br />
O contato com o garimpo engen-<br />
drou uma alternativa às ativida<strong>de</strong>s pro-<br />
dutivas tradicionais. Necessitados <strong>de</strong><br />
alguns dos bens aos quais foram acos-<br />
tumados nos anos seguintes ao conta-<br />
to e, sabedores da liqui<strong>de</strong>z monetária<br />
do ouro, os índios saíram em busca <strong>de</strong><br />
novas grotas e a faiscação foi amplia-<br />
da. Zelosos pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu meio<br />
ambiente, buscaram assessoria exter-<br />
na e eliminaram o mercúrio da técnica<br />
<strong>de</strong> garimpagem. Atualmente, cerca <strong>de</strong><br />
um terço dos grupos familiares Waiãpi<br />
se <strong>de</strong>dicam à ativida<strong>de</strong> garimpeira sazo-<br />
nal, já completamente integrada ao ciclo<br />
econômico interno. Com a garimpagem,<br />
fiscalização e extrativismo mineral tor-<br />
naram-se facetas <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong><br />
controle territorial, o que vem assegu-<br />
rando o <strong>de</strong>sintrusamento da área e<br />
abreviando o caminho em direção à<br />
emancipação do assistencialismo <strong>de</strong>-<br />
pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outrora.<br />
No entanto, as iniciativas Waiãpi<br />
não repercutiram nos gabinetes <strong>de</strong> Bra-<br />
silia. Por estar na faixa <strong>de</strong> fronteira e<br />
por <strong>de</strong>ter um subsolo percorrido por<br />
diversos veios minerais, a <strong>de</strong>cisão pela<br />
<strong>de</strong>marcação esbarrou em entraves po-<br />
líticos até 1993 quando, cansados <strong>de</strong><br />
esperar, os índios resolveram tomar<br />
nas mãos a <strong>de</strong>marcação física dá área.<br />
Para ajudá-los nos trabalhos técnicos,<br />
chamaram o <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Trabalho Indi-<br />
genista (CTI), uma ONG <strong>de</strong> São Pau-<br />
lo, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1990 vem asssessoran-<br />
do essa etnia na luta por sua emanci-<br />
pação político-econômica.<br />
Convite feito, convite aceito. Nego-<br />
ciações com a Funai foram iniciadas<br />
visando a assinatura <strong>de</strong> um convênio<br />
<strong>de</strong> cooperação técnica, até que a Agên-<br />
cia Brasileira <strong>de</strong> Cooperação, ligada ao<br />
Itamarati, encaminhou uma solicitação<br />
à República Fe<strong>de</strong>ral da Alemanha para<br />
financiar, como <strong>de</strong>marcação piloto no<br />
âmbito do PP-G7, os trabalhos da Área<br />
Indígena Waiãpi. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1993, representantes da Funai, do CTT<br />
e da agência financiadora alemã (GTZ)<br />
reuniram-se cOm os Waiãpi para plane-<br />
jar a <strong>de</strong>marcação e, no mês seguinte, a<br />
primeira parcela do financiamento foi<br />
repassada.<br />
Por consenso, <strong>de</strong>cidiu-se que a pro-<br />
posta <strong>de</strong>veria exce<strong>de</strong>r a mera fixação<br />
<strong>de</strong> marcos e placas nos limites da área,<br />
evoluindo para a implementação <strong>de</strong><br />
medidas que legassem a inviolabilida-<br />
<strong>de</strong> futura dos limites da área. A <strong>de</strong>-<br />
marcação, também pelo envolvimento<br />
dos diversos grupos familiares, <strong>de</strong>man-<br />
daria mais tempo e mais recursos que<br />
uma <strong>de</strong>marcação convencional. Mas<br />
importava, nesse momento, mais os<br />
resultados concretos do empreendime-<br />
to do que o placar geral das <strong>de</strong>marca-<br />
ções <strong>de</strong> terras indígenas na Amazônia.<br />
Uma a mais, <strong>de</strong>certo, e com sustenta-<br />
bilida<strong>de</strong> garantida.<br />
Demarcação e mitologia<br />
O entrelaçamento das ativida<strong>de</strong>s<br />
produtivas e <strong>de</strong> controle territorial com<br />
a <strong>de</strong>marcação da área indígena Waiãpi<br />
é o traço distintivo do Projeto <strong>de</strong> De-<br />
marcação Waiãpi (PDW). A dinâmica<br />
<strong>de</strong> ocupação dispersa, sobre a qual os<br />
grupos Waiãpi se apoiam, não tem sido<br />
alterada pela <strong>de</strong>marcação. Ao contrá-<br />
rio, estimulados a circular até os pon-<br />
tos mais distantes da área, os Waiãpi<br />
vêm fomentando o reconhecimento <strong>de</strong><br />
suas terras e <strong>de</strong> suas tradições cultu-<br />
rais junto às gerações mais novas.<br />
Numa recente expedição à região<br />
do Jari, para executar o planejamento<br />
das embocaduras dos rios do limite<br />
oeste da área, a interfase <strong>de</strong>marcação-<br />
mitologia esteve presente. Os vinte ín-<br />
dios que para lá se <strong>de</strong>slocaram tive-<br />
ram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> porem-se em<br />
contato com o berço da humanida<strong>de</strong><br />
Waiãpi. É ali, diante das águas do rio<br />
Jari, que a tradição oral localiza o ce-<br />
nário on<strong>de</strong> o herói-criador, Yanejar,<br />
<strong>de</strong>u vida ao seu povo - os Waiãpi.<br />
Desse contato, emergiram histórias <strong>de</strong><br />
um tempo sobre o qual se fixam as<br />
genealogias e a própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
Waiãpi.<br />
Dentro do espírito <strong>de</strong> conjugar o<br />
extrativismo com a fiscalização das<br />
terras, o PDW implantou um progra-<br />
ma <strong>de</strong> viveiros com espécies nativas<br />
na al<strong>de</strong>ia Aramirá, o antigo posto <strong>de</strong><br />
atração da Funai. Desses viveiros, que<br />
vêm sendo cultivados pelos Waiãpi<br />
com assessoria dos técnicos contrata-<br />
dos pelo CTI; saíram as mudas a se-<br />
rem plantadas, tanto nas picadas aber-<br />
tas pelas equipes <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação quan-<br />
to em áreas <strong>de</strong>gradadas no passado<br />
pela exploração garimpeira. Em subs-<br />
tituição às placas <strong>de</strong> sinalização das<br />
chamadas linhas secas (limites não flu-<br />
viais), as mudas <strong>de</strong> plantas nativas se<br />
converterão em limites vivos, que in-<br />
centivarão visitas dos índios tanto para<br />
coleta <strong>de</strong> frutos - um novo item a ser<br />
comercializado com os brancos - quan-<br />
to para a vigilância das fronteiras.<br />
Outras medidas <strong>de</strong> caráter comple-<br />
mentar ao controle político das terras<br />
pelos índios estão previstas. Uma pri-<br />
meira, prevê o acompanhamento peri-<br />
ódico dos confrontantes da área, atra-<br />
vés <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> satélite. Outra quer<br />
aplicar, pela primeira vèz em favor <strong>de</strong><br />
terras indígenas, a legislação ambien-<br />
tal e indígena vigente em sua plenitu-<br />
<strong>de</strong>, para fortalecer a <strong>de</strong>fesa do entor-<br />
no da área <strong>de</strong>marcada - Lei 7.754, que<br />
prevê proteção especial das cabecei-<br />
ras <strong>de</strong> rios em áreas florestais. Decre-<br />
to n 0 24, que trata da proteção em tor-<br />
no <strong>de</strong> terras indígenas, é Resolução do<br />
Conselho Nacional do Meio Ambien-<br />
te (Conama) n 0 13, que exige controle<br />
ambiental sobre ativida<strong>de</strong>s que afetem<br />
a biota das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />
num raio <strong>de</strong> 10 km a partir <strong>de</strong> seus li-<br />
mites.<br />
A Funai estima que, no início <strong>de</strong> 96,<br />
a <strong>de</strong>marcação da Área Indígena Waiã-<br />
pi esteja homologada e registrada em<br />
cartório, legalizando <strong>de</strong>finitivamente a<br />
posse das terras pelos índios. O PDW<br />
continua <strong>de</strong>monstrando que a <strong>de</strong>mar-<br />
cação <strong>de</strong> tetras indígenas está muito<br />
além <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s burocráticas. Afinal,<br />
a lógica <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação Waiãpi atenta<br />
contra o senso comum, segundo o<br />
qual, não há lugar para os índios no<br />
futuro da Amazônia. Vai ainda mais<br />
longe, ao legar uma experiência que<br />
<strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong> da intensa<br />
participação indígena em todo o pro-<br />
cesso <strong>de</strong>marcatório, das visitas a gabi-<br />
netes ao acompanhamento dos traba-<br />
lhos técnicos na área.
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Aurora<br />
O amanhecer, brilho celestial,<br />
a esperança e a certeza <strong>de</strong> um novo dia...<br />
Energia, luz, vida,<br />
tudo se retrata em tua beleza serena.<br />
A palavra amiga, sincera,<br />
os pensamentos sábios.<br />
O toque sutil, afetuoso,<br />
que me enxuga o pranto,<br />
me dá força e segurança,<br />
e me chama a vida...<br />
Sauda<strong>de</strong>, não-sinônimo<br />
para tudo que sinto neste momento...<br />
Em um momento, o meu pranto encobriu meus olhos,<br />
como as nuvens<br />
espessas e escuras <strong>de</strong> um dia chuvoso,<br />
e minhas lágrimas escorreram pelo meu rosto e<br />
junto a elas as gotas das chuvas,<br />
símbolo da vida.<br />
Vida esta que tu amavas e me ensinaste<br />
como a muitos outros, a amar...<br />
E as gotas molharam as plantas e flores,<br />
e os raios do sol surgiram novamente<br />
refletindo-se sobre o orvalho, formando um arco-íris,<br />
como em um gesto típico seu,<br />
enxugaste o meu pranto, mostrando-me a beleza da vida,<br />
e que é necessário continuar vivendo.<br />
(Eu só posso dizer-te que teu pensamento estará sempre em mim,<br />
Alberto Pereira (F.N.)