17.04.2013 Views

m - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

m - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

m - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

u<br />

D<br />

C<br />

a<br />

E<br />

ca<br />

b<br />

'O<br />

u<br />

m<br />

o<br />

JQ<br />

E<br />

o<br />

N<br />

a><br />

■o<br />

o<br />

-Q<br />

E<br />

><br />

o<br />

c<br />

o<br />

c<br />

<<br />

.->*<br />

AMAZÔNIA CIDADANIA<br />

ransporte: ^v. . Eleições 96:<br />

> drama da As carla^eslão v<br />

oncessão r<br />

Preço:<br />

R$ 4,50


:<br />

TEM OFERTAS<br />

QUE SÓ A<br />

OVEIS<br />

FAZ PRA VOCÊ<br />

Vá ver e comprove<br />

Rua Tíra<strong>de</strong>ntes, 200<br />

fones: 223-7299 • fax 222-2689<br />

A Bel-Grall não dorme em serviço<br />

A gráfica 2i bs • Rm Tira<strong>de</strong>ntes, 200 'fone; 241-5128


6DU FbP ?/£-<br />

aumcir<br />

..■ f^á<br />

111 «ilWi<br />

Revisto CU/RA é uma pub/icoçao bimestral sem<br />

fins lucrativos do Instituto Universida<strong>de</strong> Popular,<br />

em parceria neste número com a Agência <strong>de</strong><br />

Noticias Emaús, Fase, Cepepo, /par, SPDDH,<br />

AE6A, e Comitê Cidadania - PA. As matérias<br />

assinadas não representam necessariamente a<br />

opinião da UNIPOP e seus parceiros.<br />

CUIRA: termo originário do tupi-guarani, significa<br />

inquietação.<br />

Um terço do arrecadada em banca é doado à<br />

Campanha <strong>de</strong> Combate à Fome.<br />

Conselho Editorial: Unipop, Agência Emaús,<br />

'epepo. Fase, /par.<br />

Edição: João Claudia Arroyo<br />

Jornalista Resp.: Cabriela Athias - MTbl073/<br />

DRT-Pa<br />

Edição <strong>de</strong> Fotografia: Miguel Chikaoka<br />

Chorges: Paulo Emmanuel<br />

Jornalista Estagiária: Mileny Matos<br />

Secretária: Marisselma.<br />

Projeto Gráfico e Editoração: Nonato Moreira,<br />

Augusto Henrique e Luiz Pinto<br />

Impressão: Be/ Graff Offset<br />

Apoio: Pão para o Mundo, ICCO, Cristian Aid,<br />

Campo Limpo, Unicef, Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral,<br />

Basa e UFPA.<br />

OS J^N 1995<br />

5 Editorial: Uma página não virada<br />

VL Cidadania: Pessoas que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhece<br />

14 Economia: Fim <strong>de</strong> linha para o transporte público<br />

10 Política: Cartas marcadas nas eleições municipais<br />

±u Perfil: Norton Nascimento fala <strong>de</strong> vida e arte<br />

Li Cultura: o clip <strong>de</strong> Vlichacl Jackson na Amazônia<br />

Z4 Direitos Humanos: Um arquivo <strong>de</strong>saparecido<br />

.Zo Esporte: Giovanni, o nosso homem-gol<br />

3 \ Memória: Jinkings e sua vida <strong>de</strong> lutas<br />

%JTP Especial: Seca no Solimões faz rio virar sertão<br />

Ò I Ensaio: Michel Chikaoka entre crianças c adolescentes<br />

nrU Ecologia: Atrás do paraíso no Parque do Jaú<br />

44 Teoria e Estratégia: Os índios e a <strong>de</strong>marcação<br />

4 / Humor: Paulo Emmanuel e sua versão do "Caso Sivam'<br />

Instituto Universida<strong>de</strong> Popular: Av. Senador Lemos, 557<br />

- Telégrafo - Fone-Fax: (091) 241-8716 (direto) - Caixa<br />

Postal 1098 - Cep. 66050-000 - Belém - Pará - Brasil<br />

Coletivo c/e Educadores: Aldalice Otferloo, Cristina<br />

Alcântara, Dirk Oesselmann, Elias Araújo, João Claudia<br />

Arroyo, Olinda Charone e Roso Marga Rothe.<br />

Conselho <strong>de</strong> Representantes: CUT, CBB, Fetagri, CPB,<br />

IECLB, /PAR, /gre;a Anglicana, SPDDH, FASE, CIPES, <strong>Centro</strong><br />

19 <strong>de</strong> Julho, Campos, CPT, NAEA, PROEX/UFPA, Movimento<br />

República <strong>de</strong> Emaús, Igreja Metodista e CEDENPA.


n<br />

E. n<br />

PERU<br />

AMAZONAS<br />

TAVAJ - TRANSPORTES REGULARES S.A.<br />

Aeroporto Internacional Presi<strong>de</strong>nte Médice<br />

S/N - Hangar "TAVAJ" • tels. PABX (068) 223-2866<br />

Hangar: (068) 224-1578 • (box aeroporto)<br />

fax: (068) 224-3654 • Caixa Postal 484<br />

C.G.C (M.F.) 04.012.258/0001-69 • Insc. Estadual: 01.40.0982-0<br />

CEP. 69901-320 • RIO BRANCO «ACRE<br />

o<br />

RONDÔNIA<br />

BOLÍVIA


E d 1 t o r i a 1<br />

Uma página<br />

não virada<br />

O dia internacional dos Direitos Humanos, infelizmente, vai pas-<br />

sar em branco para os brasileiros, e mais ainda para os paraenses. O<br />

país não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> freqüentar relatórios que <strong>de</strong>nunciam, na comuni-<br />

da<strong>de</strong> internacional, maus-tratos cometidos contra cidadãos pobres, e<br />

geralmente, sem parentes importantes.<br />

No Pará, o capítulo dos presos pohticos ainda é uma página não<br />

virada da nossa história recente. O arquivo do extinto Doi-Codi, a<br />

exemplo do que aconteceu com centenas <strong>de</strong> militantes <strong>de</strong> esquerda,<br />

<strong>de</strong>sapare^u. Está em "lugar incerto e não sabido". Os jornalistas<br />

Iran <strong>de</strong> Souza e Suely Leitão rastrearam os registros oficiais, mas<br />

tudo o que encontraram foram informações absurdas, obtidas atra-<br />

vés <strong>de</strong> "arapongas" incompetentes, que classificaram o coronel Jarbas<br />

Passarinho como "simpatizante do comunismo".<br />

Gabriela Athias conta os bastidores da corrida à prefeitura<br />

dé Belém, que mal <strong>de</strong>u partida, mas já se assemelha a um labirin-<br />

to, cuja saída é bem pouco iluminada. Luciana Miranda foi ao<br />

Amazonas e fez um raio-X do parque do Jaú, um dos maiores do<br />

país, que é assaltado por exploradores em busca <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ani-<br />

mai| raros, sçm que o Ibama tenha condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>tê-los. Kátia<br />

Brasil, <strong>de</strong> Novo Airão, no Amazonas, assina uma reportagem dra-<br />

rhãtica sobre a segunda maior seca dós rios Solimões e Negro, que<br />

isolou comunida<strong>de</strong>s riberinhas ç matou milhares <strong>de</strong> peixes. Iran<br />

<strong>de</strong> Souza foi a Santos, em São Paulo, trazer o craque Giovanni aos<br />

nossos leitores da Cuíra. Dènio Maués foi encontrar Michael<br />

Jackson em Alter-do-Chão (Santarém), mas surpreen<strong>de</strong>-se ao sa-<br />

ber que o megaestar gravou seu novo ví<strong>de</strong>o Clip, que se passa na-<br />

quele balneário, sem sair <strong>de</strong> casa.


? :<br />

Enfim, chegou!<br />

.^^-.s^^<br />

5<br />

o»'<br />

A gente estava Cuíra para trazer o jornal<br />

"FOLHA DO AMAPÁ" até os nossos leitores. Agora<br />

você po<strong>de</strong> ler, assinar, reven<strong>de</strong>r, anunciar etc.<br />

Ligue para: (QÇl) 241-8716<br />

m m m. m ES m EI; EE m m m E- m um wm EE EE m »» Ei» ?ES 11 SE »« EE m EE m si<br />

Saiba mais sobre a Amazônia. Leia<br />

ACRE<br />

JoraalPessoal i Página 20<br />

091 ) 223-7690 e 223-1929 (068) 224-1327<br />

r<br />


Vers ao<br />

Lobby po<strong>de</strong>roso da Associação<br />

dos Municípios do Araguaia e Tocantins<br />

(Amat), a mais rica e organizada repre-<br />

sentação municipal do Pará, mobilizou a<br />

Comissão Financeira e Orçamentária da<br />

Assembléia Legislativa durante a vota-<br />

ção do projeto do govemo que prevê o<br />

repasse <strong>de</strong> verbas do ílindo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvol-<br />

vimento da Companhia Vale do Rio<br />

Doce.<br />

A versão original do projeto be-<br />

neficia os 12 municípios que estão sob<br />

influência direta do projeto Gran<strong>de</strong><br />

Carajás. Emenda do <strong>de</strong>putado Aloisio<br />

Chaves tentou dividir as verbas do fun-<br />

do - que acrescido <strong>de</strong> investimento do<br />

Executivo estadual virou R$ 11 milhões<br />

- com municípios localizados na área <strong>de</strong><br />

influencia dos seguintes projetos: Mine-<br />

ração Rio do Norte, Albras e Alunorte.<br />

Detalhe: o lucro <strong>de</strong>sses projetos<br />

<strong>de</strong> mineração não compõe o fundo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento da Vale, e coinci<strong>de</strong>nte-<br />

mente essas cida<strong>de</strong>s são redutos eleito-<br />

rais <strong>de</strong> Chaves.<br />

Acabaram entrando na partilha<br />

somente os municípios que constavam<br />

no projeto original. São eles: Parauape-<br />

bas, Marabá, Água Azul, Bom Jesus do<br />

Tocantins,Curíonópolis, Abel Figueire-<br />

do, Brejo Gran<strong>de</strong> do Araguaia, Eldora-<br />

do <strong>de</strong> Carajás, Itupiranga, Rondon do<br />

Pará, São domingos do Araguaia e São<br />

Jorge do Araguaia. Ficaram fora da área:<br />

Oriximmá, Óbidos, Terra Santa, Faro,<br />

Ipixuna, Paragominas e Tomé-Açú.<br />

Os municípios que estão fora da<br />

área <strong>de</strong> influência do projeto Gran<strong>de</strong><br />

Carajás <strong>de</strong>vem ser beneficiados pelo fun-<br />

do da CVRD ?<br />

Fora <strong>de</strong> área<br />

SIM<br />

"Ao excluir esses municípios, a Vale<br />

não está consi<strong>de</strong>rando os empreendimen-<br />

tos Mineração Rio do Norte, Parapigmentos,<br />

Albrás e Alunorte como área <strong>de</strong> atuação<br />

sua. Será que só para pressionar o Estado,<br />

a fim <strong>de</strong> obter incentivos fiscais, essas em-<br />

presas têm participação e influência da<br />

CVRD ? Sabemos que ao mesmo tempo<br />

que essas empresas trazem riqueza e <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento para o Estado, criam uma situação <strong>de</strong> contraste nas regi-<br />

ões circunvizinhas. O fundo, sem dúvida, vem saldar o débito social que<br />

a Vale tem com o Pará. Entretanto, AL e govemo <strong>de</strong>vem lutar junto a<br />

diretoria da Vale pera revisão do conceito <strong>de</strong> área Geo-econômica <strong>de</strong><br />

Influência da Companhia".<br />

Deputado Aloisio Chaves (PMDB)<br />

NAO<br />

" O espírito <strong>de</strong>sse fundo é dar<br />

uma forma <strong>de</strong> compensação àqueles<br />

municípios que estão na área direta<br />

<strong>de</strong> influência da CVRD e não rece-<br />

bem nenhum benefício direto dos pro-<br />

jetos, nem Royalties. Os municípios do sul do Pará que já recebem<br />

Royalties não <strong>de</strong>vem receber os 8% do fundo. Deveria ser criado outro<br />

fundo especificamente para os projetos da Mineração Rio do Norte, Albras<br />

e Alunorte. Mas não pegar esse fundo do Projeto Carajás e pulverizá-lo"<br />

Parsifal Pontes (PPB) - Prefeito <strong>de</strong> Tucurui - Vice-presi<strong>de</strong>nte da Amat<br />

Sabe por que o carro equipado na Koly<br />

é chamado dce avião?<br />

Não?!!<br />

Venha nos visitar e <strong>de</strong>scobrir.<br />

Aqui você encontra todos os acessórios para<br />

seu automóvel.<br />

Aceitamos todos os cartões <strong>de</strong> crédito.<br />

(D<br />

(asa koly<br />

Trav. Padre Eutíquio, N 0 1379<br />

Fones: 223-1014 - 222-7519 - Fax: 241-1774<br />

Cüira<br />

-I<br />

o<br />

a<br />

m<br />

u<br />

mJi<br />

O<br />

o<br />

2<br />

f<br />

■ : :'.-. : : . : .<br />

V<br />

1 f


Foto: Arquivo<br />

Cuíra<br />

Cartas<br />

**Nolas<br />

Chico Men<strong>de</strong>s<br />

sob holofotes<br />

0 diretório Nacional do PT e o<br />

Conselho Nacional dos Serin<br />

gueiros promovem <strong>de</strong> 20 a 24<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, no Acre, a Semana<br />

Chico Men<strong>de</strong>s que vai lembrar a data<br />

<strong>de</strong> aniversário e <strong>de</strong> morte<br />

do mais famoso lí<strong>de</strong>r se-<br />

ringueiro. O evento vai<br />

levar a Rio Branco duas<br />

estrelas do PT, o ex e o<br />

atual presi<strong>de</strong>nte do parti-<br />

do: Lula e José Dirceu.<br />

No cardápio da Semana<br />

consta palestras e <strong>de</strong>bates<br />

sobre a luta <strong>de</strong> Chico<br />

Men<strong>de</strong>s na Amazônia. As<br />

surpresas ficam por con-<br />

ta das estrelas que lutam por direi-<br />

tos humanos e brilham no jet set in-<br />

ternacional.<br />

Fora ONCs<br />

O Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) que<br />

reúne diversas entida<strong>de</strong>s ligadas em <strong>de</strong>fesa dos<br />

intereses da Amazônia, não conseguiu que a As-<br />

sembléia Legislativa do Estado aprovasse o Proje-<br />

to <strong>de</strong> lei que cria o Conselho Estadual <strong>de</strong> Ciência e<br />

Tecnologia, que vai coor<strong>de</strong>nar o Fundo Estadual<br />

<strong>de</strong> Ciência e Tecnologia (Funtec), com a emenda<br />

que garante assento aos representantes da Univer-<br />

sida<strong>de</strong> Popular (Unipop), Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Preserva-<br />

ção dos Recursos Naturais e Culturais da Amazô-<br />

nia (Sopren), Fe<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores em Agri-<br />

cultura (Fetagri) e Central Única dos Trabalhado-<br />

res (CUT).<br />

A bancada do PT tentou aprovar pelo menos a<br />

representação da Fetagri, mas se <strong>de</strong>u mal. Os contra-<br />

Ong's explicaram que a participação das entida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>scumpria a Constituição Estadual. Motivo: a Carta<br />

amarra a composição do Conselho. Ficando assim;<br />

Presi<strong>de</strong>nte, o secretário <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia, Nilson<br />

Pinto, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, do Estado do Pará e da<br />

Amazônia, IDESP, Comissão Coor<strong>de</strong>nadora Regio-<br />

nal <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s da Amazônia, Fiepa, Faepa, SBPC e<br />

Fe<strong>de</strong>ração dos Municípios do Pará.<br />

Denúncia <strong>de</strong> corrupção<br />

indigna acreanos<br />

V r ai ser difícil para os acreanos terem motivação para festejar o aniversário<br />

<strong>de</strong> Rio Branco que se comemora em 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Em clima <strong>de</strong><br />

indignação geral a população acreana aguarda as investigações da<br />

representação da Procuradoria da Republica no Acre sobre as 16 <strong>de</strong>-<br />

núncias contra o governador Orleir Cameli (PPB) . Entre os escânda-<br />

los, o que mais irrita os cidadãos são <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> negociatas, frusta-<br />

das, em que Cameli iria arrendar 2/3 do território do Estado para a<br />

empresa Mobil Ami Resear em troca <strong>de</strong> R$165 milhões. Pesam ainda<br />

contra o governador acusações <strong>de</strong> sonegação <strong>de</strong> impostos, contraban-<br />

do e até falsida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica. No embalo da crise política, empresas<br />

estão quebrando e as greves pipocam por toda parte.<br />

Confraria Solidária<br />

Confraria o quê ? Para quem<br />

não sabe ai vai: a Confraria Hannah é<br />

mais um aliado que Belém ganhou na<br />

luta contra a Aids. Um grupo <strong>de</strong> ami-<br />

gos após assistir ao filme And the<br />

handgoes on (E a vida continua) en-<br />

trou numa cruzada em favor dos por-<br />

tadores do virus H1V.<br />

A personagem Hannah é o<br />

nome da judia que namora o sol-<br />

dado interpretado por Charlie<br />

Chaplin em O Gran<strong>de</strong> Ditador e<br />

que simboliza as minorias. A Con-<br />

fraria vai atuar em parceria com o<br />

Grupo Paravida (ONG que traba-<br />

lha com portadores do vírus H1V).<br />

Hannah,segundo os confra-<br />

<strong>de</strong>s, "está mais para grupo que<br />

quer confraternizar a alegria e ce-<br />

lebrar a vida", explica Reinaldo<br />

Bulgarelli ,diretor do Fundo das<br />

Nações Unidas para a Infância,<br />

(Unicef), um dos amigos da Han-<br />

nah. A confraria reuniu mais <strong>de</strong><br />

mil pessoas, no final do mês pas-<br />

sado, no Sarau pela vida e con-<br />

tra a Aids, promovido no ginásio<br />

do Sesc.<br />

A mais confortável e<br />

completa livraria <strong>de</strong> Belém<br />

A única a dispor <strong>de</strong><br />

estacionamento próprio.<br />

Rua Dr. Moraes, 604<br />

entre Conselheiro e Mundurucus<br />

fones: (091) 223-4582 • 223-4376<br />

223-4378 • fax: 223-4408


Santarém<br />

Pai da criança<br />

O distribuidor <strong>de</strong> revista santareno Emanuel<br />

Júlio Leite está em pé <strong>de</strong> guerra com a prefeitura<br />

municpal da segunda maior cida<strong>de</strong> do Estado. Por<br />

ter empunhado a ban<strong>de</strong>ira do eco-turismo da região,<br />

ganhou a inveja da Divisão Municipal <strong>de</strong> Turismo,<br />

principalmente quando foi entrevistado - com status<br />

<strong>de</strong> voz oficial- pela revista Nossa Amazônia. Antes<br />

disso, bateu na porte da Isto É, e conseguiu ven<strong>de</strong>r<br />

a idéia <strong>de</strong> uma matéria sobre o balneário <strong>de</strong> Alter-<br />

do-Chão, conhecido como o caribe amazônico, que<br />

recebe semanalmente iates lotados <strong>de</strong> turistas ame-<br />

ricanos e europeus, que nem sequer aportam em<br />

Belém. Disposto a apostar na dissidência, Júlio está<br />

coletando em ví<strong>de</strong>o imagens praticamente <strong>de</strong>sco-<br />

nhecidas <strong>de</strong> Santarém para divulgá-las através <strong>de</strong><br />

documentário, que será distribuído a veículos <strong>de</strong><br />

comunicação <strong>de</strong> todo o mundo.<br />

Separatismo<br />

Judiciário sai da loca<br />

O Judiciário para- s<br />

ense resolveu dar um i<br />

basta na política murista |<br />

que vem tocando ao |<br />

longo <strong>de</strong> vários gover- |<br />

nos. O <strong>de</strong>sembargador !<br />

Humberto <strong>de</strong> Castro foi £<br />

o único membro dos<br />

po<strong>de</strong>res representados<br />

na comissão parlamen-<br />

tar mista, que aprovou<br />

o relatório sobre a<br />

emancipação das regiões <strong>de</strong> Cara-<br />

Direito Sindical • Direito do Trabalho<br />

Jarbas Vasconcelos do Carmo<br />

OAB/PA - 5206<br />

•<br />

João José Soares Geraldo<br />

OAB/PA - 4842<br />

jás e do Tapajós, que<br />

resolveu votar. Optou<br />

pela divisão, enquanto a<br />

turma do Ministério Pú-<br />

blico e do governo do<br />

, Estado preferiu aabsten-<br />

Hi ção. A mesma postura foi<br />

^fcfl adotada por parlamentares<br />

^ contrários à divisão, como é<br />

o caso <strong>de</strong> Zé Carlos Lima,<br />

Zé Carlos Lima lí<strong>de</strong>r da bancada do PT na<br />

Assembléia Legislativa.<br />

"Não recebemos o relatório antes da<br />

AnUK.ADl<br />

votação. Além disso, o parecer geral<br />

não apresentava elementos técnicos su-<br />

ficientes para tomar posicionamentos.<br />

Se eu votasse seria um voto político",<br />

diz Zé Carlos.<br />

O relatório segue agora para o<br />

plenário, on<strong>de</strong> Zenaldo Coutinho, pre-<br />

si<strong>de</strong>nte da AL, um dos caciques do<br />

antidivisionismo, jura ter maioria<br />

para rejeitá-lo e para agradar um<br />

dos maiores interessados na inte-<br />

grida<strong>de</strong> territorial do Pará: o gover-<br />

nador Almir Gabriel.<br />

Direito Administrativo • Ações Aci<strong>de</strong>ntárias<br />

Núbia Soraya da Silva Gue<strong>de</strong>s<br />

OAB/PA-6418<br />

Meíre Araújo Costa<br />

OAB/PA-6551<br />

Ana Kelly Jansen <strong>de</strong> Amorím<br />

OAB/PA-6535<br />

Rua Manoel Barata, 532 • Ed. Cosmorama, 2 Ç andar, salas 209 / 211 • CEP. 66019-000 • Fone: 224-2075 / 222-5399 • Fax: (091) 225-1357 • Belém - PA.


QlÍKl<br />

Caftas<br />

Notas<br />

Informação<br />

É com grata satisfação que<br />

envio estas linhas para este exem-<br />

plar, que aliás tem sido <strong>de</strong> mais dig-<br />

na confiança ao nivel das informa-<br />

ções sobre nossa Amazônia, que<br />

confere com as realida<strong>de</strong>s básicas<br />

comprovadas em seu <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento que, <strong>de</strong> um lado empobre-<br />

ce, e <strong>de</strong> outro enriquece, tornando-<br />

os inertes a este Estado.<br />

Estas informações são justas,<br />

básicas e tecnicamente comprova-<br />

das, merecendo o mais alto nível<br />

<strong>de</strong> aprovação e apreço no editorial<br />

<strong>de</strong>sta obra.<br />

Antônio Carlos Cardoso<br />

Esclarecimento<br />

Prezados Senhores,<br />

Na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assinantes da revista CUIRA, vimos<br />

solicitar esclarecimentos acerca <strong>de</strong> informações contidas na<br />

página 11 da revista ANO V, N 0 16, mais especificamente o<br />

box intitulado "Quem te viu, quem te vê". Nele aparece o Sr.<br />

João Marques em dois momentos. Em 1995 a revista firma<br />

que o referido senhor está "às voltas com uma das instituições<br />

que mais <strong>de</strong>srespeita os direitos do cidadão. Que instituição é<br />

esta? O procedimento do Sr. João Marques é positivo ou ne-<br />

gativo do ponto <strong>de</strong> vista ético?<br />

Na luta permanente pela dignida<strong>de</strong> profissional.<br />

Resposta<br />

Dr. Waldir Araújo Cardoso<br />

Diretoria Colegiada do Sindicato<br />

dos Médicos do Pará (SIMEPA)<br />

A instituição é o Detran. Vale esclarecer que o objetivo<br />

<strong>de</strong>sta seção é levantar curiosida<strong>de</strong>s da trajetória <strong>de</strong> nossas<br />

personalida<strong>de</strong>s, sem a menor pretensão em julgar quem quer<br />

que seja.<br />

Grato por sua participação.<br />

SEJA,UM SOCIQ<br />

SOLIDÁRIO EMAUS<br />

Entre em contato<br />

conosco, através<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong> nossos<br />

agenciadores<br />

autorizados, ou pelos<br />

fones :<br />

241-0321 (direto), j<br />

242-2444, 224-7967<br />

ou 242-0752, !<br />

que nós iremos até você.<br />

SUA DOAÇÃO<br />

RETORNARÁABATIDA<br />

NOIMPOSTODERENDA


^VnPjgfe '>HSaB* p ^iwflP WM Ml HB<br />

te<br />

1979<br />

Vic Pires Franco apresentan-<br />

do o jornal Liberal segunda<br />

edição, sem gran<strong>de</strong>s preten-<br />

sões.<br />

BASTIDORES<br />

ve<br />

Foto: Mira Jatene<br />

7 995<br />

Deputado Fe<strong>de</strong>ral pelo PFL.<br />

Comíchao<br />

Imperador <strong>de</strong> Igapó<br />

João Cláudio Arroyo<br />

Presi<strong>de</strong>nte do diretório municipal<br />

do PSDB <strong>de</strong> Gurupá, Mário Oli<br />

veira, 46, passou o mês <strong>de</strong> outu-<br />

bro sem conseguir dormir. Quando<br />

voltou da reunião com membros do<br />

diretório regional do PSDB paraense,<br />

tentou esfriar a cabeça assistindo a uma<br />

reportagem sobre Mike Tyson, mas<br />

acabou sentido-se abatido como os ad-<br />

versários do ex-campeão. A angústia era<br />

tamanha que confessou só sentir coisa<br />

igual quando foi preso pela ditadura, em<br />

1969, juntamente com Haroldo Lima,<br />

Wladmir Pomar e outros, quando era<br />

membro do PC do B, em Brasília.<br />

A situação que <strong>de</strong>ixou Mário tão<br />

<strong>de</strong>snorteado foi a comunicação dada pela<br />

nova direção regional do PSDB: em seu<br />

município, Gurupá, o partido <strong>de</strong>veria<br />

receber a filiação <strong>de</strong> três personalida<strong>de</strong>s:<br />

Zé Vicente, ex-prefeito que hoje proces-<br />

sa boa parte da população da cida<strong>de</strong> por<br />

ter invadido suas terras. Max Alves, pre-<br />

si<strong>de</strong>nte da Câmara <strong>de</strong> Vereadores e Ed-<br />

son Lima, vice-prefeito, que em maio<br />

<strong>de</strong>ste ano se uniram para protagonizar<br />

uma tentativa <strong>de</strong> golpe contra o prefeito<br />

Moacir Alho (PT) usando como artifí-<br />

cio uma renúncia comprovadamente<br />

falsificada.<br />

Em Gumpá, o PSDB foi parceiro<br />

do PT <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, dando importante<br />

ajuda na administração <strong>de</strong> Moacir. Como<br />

po<strong>de</strong>ria agora, Mário, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Diretório Municipal, aceitar tal <strong>de</strong>cisão<br />

vinda <strong>de</strong> cima?<br />

Contudo, sua <strong>de</strong>cepção não parou<br />

por aí. Mário logo soube que o seu pe-<br />

queno município não era o único a so-<br />

frer com as "novas"diretrizes. Soube que<br />

seu correligionário Haroldo Bezerra,<br />

prefeito <strong>de</strong> Marabá - terceiro mais im-<br />

portante município do Estado - também<br />

sofrerá impacto ao receber um telefone-<br />

ma <strong>de</strong> Gerson Peres (PPB, antigo PPR)<br />

comunicando que acertara com Flexa<br />

Ribeiro, atual presi<strong>de</strong>nte Regional do<br />

PSDB e com o próprio governador, a<br />

candidatura <strong>de</strong> uma das integrantes dos<br />

quadros do PPB <strong>de</strong> Marabá à sucessão<br />

do indignado Haroldo, que revidou à in-<br />

tervenção branca afirmando que em seu<br />

terreiro é ele quem canta mais alto. Nas<br />

contas <strong>de</strong> Mário, cerca <strong>de</strong> 12 municípi-<br />

os receberam orientações semelhantes.<br />

Juntando as peças do quebra-cabe-<br />

Políticos do Baixo Amazonas e do Su<strong>de</strong>ste do<br />

Estado afirmam que o secretário <strong>de</strong> Justiça, Aldir<br />

Viana (PSDB) po<strong>de</strong> tirar o cavalo da chuva para que<br />

ele não se molhe esperando que o governador Almir<br />

Gabriel apoie seu candidato na disputa pela prefeitu-<br />

ra <strong>de</strong> Itaituba. Gabriel, segundo a turma <strong>de</strong> lá, vai<br />

apoiar quem for mais conveniente para manter a ali-<br />

ança com o PMDB, que na terra do ouro é capitane-<br />

ado pelo prefeito Wirland Freire, e por seu filho, o<br />

<strong>de</strong>putado estadual Wilmar Freire.***A quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> funcionários da Assembléia Legislativa que<br />

estão cedidos a outros órgãos chega a R$ 60 mil<br />

por mês. Há casos em que um mesmo casal recebe<br />

do Legislativo R$ 10 mil, mas está a serviço <strong>de</strong><br />

prefeituras distantes, pelo menos 500 km, do Pa-<br />

lácio da Cabanagem. Zenaldo Coutinho (PSDB)<br />

diz que as "cessões" vêm <strong>de</strong> outras gestões e pro-<br />

mete resolver o assunto no plenário. Mas a pro-<br />

messa já está ficando velha. Foi feita há mais <strong>de</strong><br />

um mês.<br />

ça (quebra cabeça mesmo), Mário conclui<br />

que tanto a mudança da direção regional<br />

quanto as "novas" diretrizes são produto<br />

da gran<strong>de</strong> articulação nacional <strong>de</strong> FHC que<br />

busca novos parceiros na direita, além do<br />

PFL, fortalecendo sua posição no Congres-<br />

so e nas disputas municipais <strong>de</strong> 1996. As-<br />

sim é que ele enten<strong>de</strong> o afastamento da jor-<br />

nalista Ana Diniz, ex-secretária executiva<br />

do diretório regional do PSDB. Segundo<br />

Mário, o novo diretório regional surgiu em<br />

função da aliança com Ja<strong>de</strong>r, Gerson Peres<br />

e Manoel Ribeiro em contraposição ao es-<br />

tremecimento das relações com Hélio<br />

Gueiros. Mário revela ainda que, entre os<br />

<strong>de</strong>scontentes do próprio PSDB, Almir<br />

Gabriel é chamado <strong>de</strong> "Imperador <strong>de</strong><br />

Igapó".<br />

Concluindo que "acabou a serie-<br />

da<strong>de</strong> e a ética no partido" Mário, ergue<br />

a vista e diz que a "panela achou a tam-<br />

pa" ao anunciar que resolveu fundar o<br />

PPS em Gurupá, assim como fez com o<br />

PSDB. Mário ressaltou que vai fazer com<br />

o partido do vereador Arnaldo Jordy o<br />

mesmo que fez com o <strong>de</strong> Almir Gabriel:<br />

"Criá-lo do nada".<br />

Guíià


<<br />

i<br />

o<br />

<<br />

'■ ■ . ■ : ■<br />

B<br />

|<br />

:<br />

s<br />

•.iS,<br />

!!■<br />

s<br />

'? tf<br />

imet<br />

Cuíra<br />

Milharares <strong>de</strong> crianças no Pará<br />

não po<strong>de</strong>m freqüentar escola<br />

. e nem ser atendidas em pos-<br />

tos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

adultos trabalha, mas não tem férias,<br />

décimo terceiro e salário família; não<br />

po<strong>de</strong> casar ou vislumbrar velhice com<br />

direito a aposentadoria. Mais: alguém<br />

que ao morrer não vai ter o seu atesta-<br />

do <strong>de</strong> óbito e, logo, não po<strong>de</strong>rá ser en-<br />

terrada em nenhum cemitério público<br />

ou privado.<br />

Você <strong>de</strong>ve estar se perguntando<br />

como essas pessoas vivem. Não vivem.<br />

Ou melhor, legalmente não existem. É<br />

o caso <strong>de</strong> Jocelina <strong>de</strong> Nazaré Costa,<br />

37, moradora do bairro do Telégrafo,<br />

periferia <strong>de</strong> Belém. Jô, como é conhe-<br />

cida, nasceu no município <strong>de</strong> Limoei-<br />

ro do Ajuru (140 kms <strong>de</strong> Belém) e veio<br />

para a capital aos 18 anos sem certi-<br />

dão <strong>de</strong> nascimento. Conseguiu empre-<br />

go <strong>de</strong> doméstica na casa <strong>de</strong> uma famí-<br />

lia que a ajudou a tirar seus documen-<br />

tos. Algum tempo <strong>de</strong>pois, Jô não sabe<br />

como, per<strong>de</strong>u toda papelada e <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

aí sente na pele a falta que faz.<br />

Ela conta que várias vezes teve<br />

dificulda<strong>de</strong>s para ser atendida em pos-<br />

Cidadã<br />

<strong>de</strong><br />

tos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. "Uma vez, meu filho<br />

Jailson estava ar<strong>de</strong>ndo em febre e a<br />

moça do posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disse que pre-<br />

cisava <strong>de</strong> um documento meu para ele<br />

ser atendido, me <strong>de</strong>sesperei e disse que<br />

a vida <strong>de</strong> meu filho era mais importan-<br />

te do que uma carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Acabei convencendo ela a me aten<strong>de</strong>r".<br />

Em outra ocasião Jô não teve a<br />

mesma sorte: não conseguiu que seu<br />

pai se submetesse a raio-x no Hospital<br />

dos Servidores, por falta <strong>de</strong> documen-<br />

tos. Ela diz que não lhe falta vonta<strong>de</strong><br />

para tirá-los. Falta dinheiro. Com cin-<br />

co filhos para sustentar, ela e o mari-<br />

do, pedreiro, fazem milagre para so-<br />

breviver com pouco mais <strong>de</strong> um salá-<br />

rio mínimo mensal.<br />

Mileny Matos<br />

~ A história <strong>de</strong> Jô se parece com a<br />

<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas em todo o Bra-<br />

sil que não po<strong>de</strong>m "comprar" cidada-<br />

nia. Nascem e morrem sem nunca ter<br />

tido certidão <strong>de</strong> nascimento , o docu-<br />

mento básico para obter todos os ou-<br />

tros. "Apesar <strong>de</strong> não se ter dados con-<br />

cretos, sabe-se que na Amazônia é<br />

muito gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> pessoas que<br />

simplesmente não existem", diz Luís<br />

Cláudio D'Aguilar, coor<strong>de</strong>nador da<br />

campanha Criança Cidadã, lançada no<br />

mês passado como parte do Projeto<br />

Cidadania da Secretaria <strong>de</strong> Justiça do<br />

Estado (Seju).<br />

"A importância <strong>de</strong>sse projeto<br />

está no resgate da cidadania. Porque<br />

se você não tem documentos, não é


cidadão. Não vai ter direitos, vai ser<br />

enganado e <strong>de</strong>srespeitado", enfatiza<br />

Luís Cláudio.A Campanha distribuiu<br />

30 mil senhas para que crianças <strong>de</strong> 0 a<br />

12 anos, entre Belém e Ananin<strong>de</strong>ua,<br />

ganhassem certidão <strong>de</strong> nascimento. A<br />

previsão inicial da Seju era distribuir<br />

20 mil documentos, mas nem os 10 mil<br />

adicionais foram suficientes para aten-<br />

<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda.<br />

No interior do Estado a quanti-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas que estão a margem<br />

da cidadania é bem maior. É comum<br />

em localida<strong>de</strong>s afastadas das cida<strong>de</strong>s,<br />

famílias inteiras que não têm nenhum<br />

documento. Em áreas <strong>de</strong> acampamen-<br />

tos <strong>de</strong> trabalhadores rurais, por exem-<br />

plo, os nascimentos acontecem <strong>de</strong>ntro<br />

dos barracos nas mãos <strong>de</strong> parteiras, a<br />

centenas <strong>de</strong> quilômetros do cartório<br />

mais próximo.<br />

Ir em busca das certidões nas ci-<br />

da<strong>de</strong>s mais próximas significa horas <strong>de</strong><br />

caminhadas, às vezes dias, em vias ge-<br />

ralmente não asfaltadas. Levar a par-<br />

teira como testemunha significa <strong>de</strong>sem-<br />

bolsar muitos reais. No município <strong>de</strong><br />

Tucumã, no Pará, um cartório chega a<br />

cobrar R$ 40,00 por uma certidão, re-<br />

vela Francisco Ferreira da Silva, da Fe-<br />

<strong>de</strong>ração dos Trabalhadores na Agricul-<br />

tura (Fetagri). "Quem não tem dinhei-<br />

ro nem para comer vai ter para tirar<br />

documentos? indaga Luís Cláudio, da<br />

Seju.<br />

PARADOXO- Sem contar que<br />

para um adulto obter o re-<br />

gistro <strong>de</strong> nascimento ele tem<br />

que enfrentar um processo<br />

burocrático que muitas ve-<br />

zes vai além <strong>de</strong> sua paciên-<br />

cia, ele tem que recorrer a *<br />

um juiz, acompanhado <strong>de</strong><br />

testemunhas que compro-<br />

vem que "ele nasceu" ape-<br />

sar <strong>de</strong> estar frente-a-frente<br />

com o juiz, e fazer exames<br />

médicos. Só com a autori-<br />

zação do magistrado ele vai<br />

po<strong>de</strong>r ir ao cartório e pagar<br />

pela sua certidão. Por isso,<br />

milhares <strong>de</strong> pessoas sofrem<br />

os transtornos <strong>de</strong> não "exis-<br />

tirem".<br />

Uma das dificulda<strong>de</strong>s<br />

que o Instituto Nacional <strong>de</strong><br />

Colonização c Reforma<br />

Agrária (Incra) enfrenta cm<br />

áreas <strong>de</strong> assentamento <strong>de</strong><br />

si li vM'<br />

trabalhadores rurais é que na hora <strong>de</strong><br />

entregar o título <strong>de</strong> terra para o pos-<br />

seiro, <strong>de</strong>scobre-se que ele não tem do-<br />

cumentos. Então como dar posse <strong>de</strong><br />

terra para alguém que legalmente não<br />

existe ?<br />

Francisco, da Fetagri, revela<br />

que o fato <strong>de</strong> muitos trabalhadores<br />

não terem carteira <strong>de</strong> trabalho, esti-<br />

mula e serve <strong>de</strong> justificativa para os<br />

especuladores do trabalho escravo.<br />

Até o início <strong>de</strong>ste ano, conta o sin-<br />

dicalista, em Tucumã, um gran<strong>de</strong> em-<br />

preiteiro do Sul do Pará, conhecido<br />

como " Sr. Angelim", manteve 300<br />

trabalhadores sem carteira assinada.<br />

"Ele justificava dizendo: quem man-<br />

da esse povo não ter documentos",<br />

conta.<br />

Algumas situações prejudicam<br />

até o meio ambiente. Exemplo: pesca-<br />

dores que não têm carteira <strong>de</strong> traba-<br />

lho, não estão aptos a receber segu-<br />

ro-<strong>de</strong>semprego à época da <strong>de</strong>sova dos<br />

peixes, logo são obrigados a trabalhar<br />

no período proibido por lei. "Essa si-<br />

tuação é muito comum nas colônias<br />

pesqueiras e acaba prejudicando a<br />

fauna aquática", diz Jaime Soeiro, da<br />

Comissão <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong> Pesca<br />

e Agricultura, do Instituto <strong>de</strong> Desen-<br />

volvimento Econômico e Social do<br />

Estado do Pará (I<strong>de</strong>sp).<br />

Para amenizar essa situação, o<br />

Projeto Justiça Itinerante, do Tribunal<br />

<strong>de</strong> Justiça do Estado do Pará, vai per-<br />

correr o interior do Estado em busca<br />

da cidadania perdida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong><br />

pessoas. Dois projetos já estão em an-<br />

damento. Um envolve Seju, Incra, Fe-<br />

tagri, DRT e vai emitir 30 mil docu-<br />

mentos em cinco áreas <strong>de</strong> assentamen-<br />

to <strong>de</strong> terras (Cidapar, Óbidos, Transa-<br />

mazônia. Conceição do Araguaia e<br />

Santana do Araguaia). O outro, vai<br />

expedir carteira <strong>de</strong> trabalho nas colô-<br />

nias pesqueiras <strong>de</strong> 54 municípios do<br />

Pará.<br />

Pioneiro no Brasil, o projeto que<br />

envolve parcerias já exporta o mo<strong>de</strong>lo<br />

para os Estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro, São<br />

Paulo e Espírito Santo.<br />

Milhares <strong>de</strong> pessoas fizeram fila para receber documentos<br />

Cuím


i<br />

o<br />

m<br />

O<br />

o<br />

u<br />

m<br />

Q<br />

■ ■■:■■■■■<br />

■mi'-'<br />

%ã<br />

mi:<br />

o<br />

i "■<<br />

rnsm<br />

m<br />

Governo do Estado quer mudar a lei das<br />

concessões <strong>de</strong> transporte íntermun/apa/s<br />

Roberto Paiva<br />

Transporte no Pará é sinônimo <strong>de</strong><br />

drama. Nesse filme, todos sabem<br />

quem morre no último ato: o<br />

usuário. Ele, o protagonista diário, que<br />

paga, mas que, em troca, recebe péssimos<br />

serviços, pouquíssima infra-estrutura<br />

e muito, mas muito, maltrato.<br />

O vilão do monopólio, com suas poucas<br />

empresas explorando diversas linhas,<br />

oferecendo serviços ao seu bel<br />

prazer, acredita-se que seria o nó da<br />

trama. Parece que o Governo do Estado<br />

<strong>de</strong>cidiu acreditar nessa versão,<br />

nada fictícia, <strong>de</strong> que as concessões,<br />

sempre feitas por critérios políticos,<br />

variáveis conforme o perfil do<br />

governante, <strong>de</strong>vem, a partir <strong>de</strong> agora,<br />

ser regidas por lei.<br />

E foi assim que o Executivo <strong>de</strong>cidiu<br />

enviar à apreciação da Assembléia<br />

Legislativa, o projeto <strong>de</strong> lei 162/<br />

95, que dispõe sobre os critérios <strong>de</strong><br />

fixação <strong>de</strong> tarifas dos transportes<br />

intermunicipais, rodofluviais,<br />

além <strong>de</strong> legislar sobre<br />

as concessões das linhas.<br />

O projeto, se aprovado, preten<strong>de</strong><br />

mudar a cara dos serviços<br />

oferecidos no Estado,<br />

como prevê o próprio texto<br />

do dispositivo.<br />

A primeira gran<strong>de</strong><br />

modificação são os critérios<br />

para a fixação das tarifas. A<br />

regra, acompanhando a política<br />

nacional <strong>de</strong>finida pelo<br />

PSDB para fortalecimento do<br />

Plano Real, prevê a preservação<br />

dos preços por um ano.<br />

Para que o valor da tarifa seja<br />

reajustado, terá que obe<strong>de</strong>cer<br />

a Lei Fe<strong>de</strong>ral 8.987, que normatiza<br />

a matéria. Mesmo<br />

assim, aumentos só serão<br />

autorizados após seis meses<br />

da assinatura do contrato <strong>de</strong><br />

concessão. Esse não é o único<br />

requisito: o governador<br />

Cuíia<br />

e o Conselho Estadual <strong>de</strong> Transpor-<br />

tes, um órgão que será criado após a<br />

aprovação da lei, têm que avalizar o<br />

aumento.<br />

O Conselho serve como uma es-<br />

pécie <strong>de</strong> garantia da participação po-<br />

pular nas <strong>de</strong>cisões sobre aumento <strong>de</strong><br />

tarifas e qualida<strong>de</strong> dos transportes.<br />

"Não acredito em muita polêmi-<br />

ca nesse ponto", <strong>de</strong>clarou o <strong>de</strong>putado<br />

Zenaldo Coutinho (PSDB), presi<strong>de</strong>n-<br />

te da AL. "Até porque é <strong>de</strong>sejo da Casa<br />

<strong>de</strong>cidir sobre essa matéria. As conces-<br />

sões, no entanto, vão causar muitas dis-<br />

cussões", antecipa. Talvez os <strong>de</strong>puta-<br />

dos <strong>de</strong>monstrem receptivida<strong>de</strong> em re-<br />

solver os preços das tarifas porque em<br />

mais <strong>de</strong> 16 meses não há reajuste. Se-<br />

gundo Almiro Santos, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Sindicato das Empresas <strong>de</strong> Transpor-<br />

tes Rodoviários Intermunicipais do<br />

Estado do Pará, caso não houvesse<br />

Foto: Miguel Chikaoka/Kamara Kó<br />

Transporte: a vitima sempre é o usuário<br />

reajuste, até novembro, a <strong>de</strong>fasagem<br />

da tarifa chegaria a 50%. "O governo<br />

só está seguindo a orientação fe<strong>de</strong>ral,<br />

que exige que se discipline os valores<br />

tarifários dos transportes urbanos",<br />

analisa. "Já não era sem tempo, as<br />

empresas não têm mais como agüen-<br />

tar".<br />

Quem também concorda que os<br />

preços precisam <strong>de</strong> urgente reajuste é<br />

o <strong>de</strong>putado Gervásio Ban<strong>de</strong>ira<br />

(PMDB), Gervásio, no início do ano,<br />

apresentou projeto que limitava a<br />

gratuida<strong>de</strong> do transporte intermunici-<br />

pal a quem comprovasse falta <strong>de</strong> con-<br />

dições financeiras, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser<br />

idoso ou <strong>de</strong>ficiente. Policiais civis mi-<br />

litares em serviço ou carteiros também<br />

passariam a pagar passagens intermu-<br />

nicipais. Para ele, a agilida<strong>de</strong> na vota-<br />

ção, que <strong>de</strong>ve ser feita em caráter <strong>de</strong><br />

"urgência urgentíssima", significa que<br />

a Assembléia vai estar prestando bons<br />

serviços à população. "A votação não<br />

será difícil", diz, contrariando as pre-<br />

visões <strong>de</strong> Zenaldo. "É nosso interesse<br />

garantir o melhor atendimento à po-<br />

pulação em matéria <strong>de</strong> transportes".<br />

Concessões:<br />

"X" da questão<br />

Se todos <strong>de</strong>monstram interesse<br />

em reajustar as tarifas, as concessões,<br />

prometem ser o fermento <strong>de</strong> muitas<br />

discussões e bate-bocas. Segundo o<br />

dispositivo <strong>de</strong> lei do governo, as con-<br />

cessões <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser um mimo<br />

político. Respeitariam critérios técni-<br />

cos e estariam <strong>de</strong> acordo com as leis<br />

<strong>de</strong> mercado. Ganha quem oferece me-<br />

lhores serviços e menores preços e cai<br />

por terra a lei do direito adquirido, que<br />

está sendo invocada para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r em-<br />

presas que atuam há muito tempo no<br />

Estado.<br />

E, é aí que queima o fogo dos<br />

interesses. A maioria das concessões<br />

feitas no Estado, conforme o próprio<br />

presi<strong>de</strong>nte do Legislativo, obe<strong>de</strong>ceu<br />

a um único critério: o bom relaciona-<br />

mento entre empresários e governado-<br />

res <strong>de</strong> plantão. "Somente a linha<br />

Belém-Mosqueiro, explorada pela<br />

Beiradão, foi concedida através <strong>de</strong> li-<br />

citação séria", garante Zenaldo Couti-<br />

nho.<br />

Os <strong>de</strong>putados divi<strong>de</strong>m-se em<br />

dois grupos. Há os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a li-<br />

citação imediata, a bem da melhoria<br />

dos serviços oferecidos e os que acre-<br />

ditam no respeito aos direitos adquiri-<br />

dos pelas empresas, que investiram ca-<br />

pital, mão-<strong>de</strong>-obra e tempo <strong>de</strong> serviço<br />

na execução <strong>de</strong> um bem essencial para<br />

a socieda<strong>de</strong>. Ainda é cedo para dizer<br />

quem vai levar a melhor nesse cabo-<br />

<strong>de</strong>-guerra.<br />

A única emenda apresentada por<br />

Gervásio Ban<strong>de</strong>ira, caso seja aprova-<br />

da, po<strong>de</strong> fazer com que o projeto do<br />

governo não dê em nada. Ele preten-<br />

<strong>de</strong> preservar "direitos adquiridos, o ato<br />

jurídico perfeito e a coisa julgada" dos<br />

empresários que já atuam no Estado,<br />

ainda que tenham obtido concessão<br />

para explorar trechos <strong>de</strong> forma pouco<br />

ortodoxa, à revelia da lei.<br />

Caso a emenda <strong>de</strong> Gervásio não<br />

seja aprovada, a concessão dos trans-<br />

portes intermunicipais <strong>de</strong>ve ir parar nos<br />

tribunais. Os empresários já avisaram<br />

que não vão abrir mão do "direito ad-<br />

quirido". Ainda que tenha sido conquis-<br />

tado por obra e graça <strong>de</strong> govemanantes,<br />

o que não está previsto na Constituição.


O<br />

&<br />

O<br />

&<br />

iSíii<br />

o<br />

a<br />

:5o<br />

|H<br />

■■■■■- iSSíííiíí<br />

MM<br />

1<br />

^•■^<br />

:::,:::,Í<br />

CUíEI<br />

"<br />

Cartas marcadas<br />

Eleição para prefeito <strong>de</strong> Belém já está com<br />

candidatos praticamente <strong>de</strong>finidos<br />

GABRIELA ATHIAS<br />

0 prefeito Hélio Gueiros garante<br />

que só vai escolher seu candida-<br />

to à sucessão municipal em abril,<br />

mas se a indicação fosse feita hoje, o<br />

<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Vic Pires Franco<br />

(PFL), que apareceu com 5% na pre-<br />

ferência popular, segundo pesquisa do<br />

Ibope feita em novembro, seria sem<br />

dúvida o eleito.<br />

Dificilmente a escolha <strong>de</strong> Gueiros<br />

vai se modificar. Pires Franco, que já vem<br />

acompanhando o prefeito em inaugura-<br />

ções e campanhas populares, está sendo<br />

esperado para o lançamento da distribui-<br />

ção do leite, que vai começar a chegar,<br />

aos quilos, na casa dos pimpolhos <strong>de</strong> bai-<br />

xa renda a partir <strong>de</strong>ste mês.<br />

Mais: para ajudar a memória do<br />

eleitor que vai respon<strong>de</strong>r à pesquisa <strong>de</strong><br />

opinião que Gueiros vai encomendar,<br />

entre março e abril. Pires Franco e<br />

Gueiros Júnior, o filho do prefeito que<br />

virou vice-govemador, estão aparecen-<br />

do todas as noites ao lado <strong>de</strong> Gueiros no<br />

programa "Caminhando com o Povo".<br />

O <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral chega a ligar<br />

para a secretaria <strong>de</strong> Comunicação Soci-<br />

al da prefeitura para perguntar se apare-<br />

ce no programa institucional <strong>de</strong> Gueiros.<br />

Não é só isso que <strong>de</strong>monstra a preferên-<br />

cia do prefeito por Pires Franco. Dois<br />

automóveis odontológicos foram colo-<br />

cados à disposição do ex-apresentador<br />

do jomal Liberal, um <strong>de</strong>les já está estaci-<br />

onado em Belém. Ao saber do resultado<br />

do Ibope, que lhe conferiu apenas 5%<br />

das intenções <strong>de</strong> voto, Pires Franco, que<br />

estava em Nova Iorque com a mulher,<br />

Valéria, e André Gueiros - filho do pre-<br />

feito - enviou ao Liberal fax atribuindo a<br />

Gueiros os louros da pesquisa, em que<br />

ele aparece com 86% <strong>de</strong> aprovação po-<br />

pular. Traduzindo: Pará Pires Franco os<br />

86% do prefeito po<strong>de</strong>m ser transferidos<br />

para quem for indicado para ocupar seu<br />

lugar as Antônio Lemos.<br />

Para não <strong>de</strong>ixar dúvidas das mu-<br />

ralhas que passaram a separar os comen-<br />

sais da Granja Mo<strong>de</strong>lo (residência ofici-<br />

al do prefeito) do <strong>de</strong>putado estadual Luiz<br />

Otávio Campos (PFL) que há até bem<br />

pouco tempo era presença certa no fim-<br />

<strong>de</strong>-tar<strong>de</strong> dos Gueiros, ele foi limado do<br />

"Caminhando" pelo secretário <strong>de</strong> Comu-<br />

nicação da Prefeitura, Walter Júnior, que<br />

aliás também é o proprietário da produ-<br />

tora que faz Osprograma diário do pre-<br />

feito, ^p<br />

Oficialmente, Campos, após con-<br />

ce<strong>de</strong>r entrevista pormenorizando a rota<br />

do acordo que uniu PSDB e PMDB pas-<br />

sou a ser persona non grata entre os<br />

Gueiros. Motivo: Hélio vinha sustentan-<br />

do na imprensa ha vários dias seu <strong>de</strong>sco-<br />

nhecimento em relação ao envolvimento<br />

do senador Ja<strong>de</strong>r Barbalho (PMDB), seu<br />

arquinimigo, com a aliança. Campos foi<br />

lá e entregou o jogo: Gueiros sabia <strong>de</strong><br />

tudo.<br />

No entanto, existe outra versão<br />

para o afastamento dos dois políticos que<br />

fizeram dobradinhas incansáveis nos úl-<br />

timos quatro anos. Gueiros teria se agar-<br />

rado às <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> Campos para li-<br />

vrar-se <strong>de</strong>le, pelo menos por hora, e fi-<br />

car ao lado do filho, que além <strong>de</strong> tam-<br />

bém querer ser prefeito, tem várias ares-<br />

tas não aparadas com o ex-melhor ami-<br />

go do prefeito. Ou, apoiar Pires Franco,<br />

que notabilizou-se por recitar textos es-<br />

critos por terceiros durante a campanha,<br />

e é mais fácil <strong>de</strong> controlar .Além do mais,<br />

o abismo colocado entre Gueiros e<br />

Almir, vem a calhar com a intenção do<br />

PFL <strong>de</strong> lançar candidato próprio à pre-<br />

feitura, sem precisar discutir com o<br />

PSDB quem seria o vice <strong>de</strong> quem.<br />

Fato: Gueiros não vai disputar sem<br />

concorrentes. Muito Pelo contrário. A <strong>de</strong>-<br />

putada fe<strong>de</strong>ral e ex-primeira-dama Elcione<br />

Barbalho <strong>de</strong>sponta como a preferida dos<br />

eleitores e tem a seu favor dois trunfos: ca-<br />

bos eleitorais que trabalham voluntariamente<br />

(como os petistas fazem com seus candida-<br />

tos), uma Organização Não Governamen-<br />

tal que está <strong>de</strong>senvolvendo projetos com a<br />

população carente e sua gestão frente à Ação<br />

Social do Estado, quando passava boa par-<br />

te das 24 horas do dia doando tudo o que é<br />

possível imaginar aos pobres (com dinhei-<br />

ro do contribuinte) e elaborando projetos<br />

<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda.<br />

O <strong>de</strong>putado estadual, Cipriano Sa-<br />

bino (PPB), candidato assumido, conta com<br />

7% da preferência do eleitorado, e tem ao<br />

seu lado a vantagem <strong>de</strong> não estar sendo<br />

incomodado pelos rumores pré-eleitorais.<br />

Nas últimas eleições municipais, começou<br />

a corrida ao Antônio Lemos como um tra-<br />

ço nas pesquisas <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ir<br />

para o segundo turno com Gueiros por um<br />

ponto percentual. Por outro lado, Ronaldo<br />

Passarinho, lí<strong>de</strong>r do PPB na Assembléianão<br />

está entusiasmado com a candidatura <strong>de</strong><br />

Sabino. Motivo: teme que o pÉi do candi-<br />

dato seja uma pedra no sapato durante as<br />

eleições, e vire uma rocha intransponível<br />

caso o íilho seja eleito.<br />

Sahid Xerfan surpreen<strong>de</strong>. Passou<br />

muito tempo fora da mídia, mas voltou "nos<br />

braços do povo" na pesquisa do Ibope em<br />

terceiro lugar. Sua candidatura tem tudo para<br />

crescer, principalmente por ser um pré-can-<br />

didato que agrada tanto ao prefeito Hélio<br />

Gueiros quanto ao governador Almir<br />

Gabriel. A candidatura <strong>de</strong> Xerfan po<strong>de</strong> ter<br />

a textura <strong>de</strong> uma doce reconciliação entre<br />

os inquilinos do Lauro Sodré e do Antônio<br />

Lemos.<br />

No plantei dos candidatos, há ainda<br />

o senador Coutinho Jorge que já confirmou<br />

filiação no partido <strong>de</strong> Fernando Henrique<br />

Cardoso, mas diz <strong>de</strong>scartar a prefeitura.<br />

Preten<strong>de</strong> sair candidato ao govemo do Es-<br />

tado ou ao Senado, em 1998.<br />

Edmilson Rodrigues, o candidato<br />

petista, conseguiu 200 mil votos na última<br />

eleição, quando foi <strong>de</strong>rrotado ao Senado.<br />

Ele acredita no fortalecimento do PT na<br />

capital, e vai investir nos exemplos <strong>de</strong><br />

administrações bem sucedidas feitas pelo<br />

seu partido em municípios e Estados bra-<br />

sileiros, nos últimos 10 anos.<br />

Mestrinho x Amazonino<br />

Assim como no Pará, a política<br />

do Amazonas está encarcerada entre<br />

dois gran<strong>de</strong>s grupos: Amazonino Men-<br />

<strong>de</strong>s (PPB) e Gilberto Mestrinho<br />

(PMDB). Aparentemente, eles são ad-<br />

versários, mas informações <strong>de</strong> basti-<br />

dores dão conta <strong>de</strong> que a dupla fez<br />

"aliança para 20 anos". Quando não é<br />

um que está no po<strong>de</strong>r é o outro. E<br />

Mestrinho, que passou os últimos qua-<br />

tro anos governando o Amazonas e <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>ndo a caça aos jacarés, é a bola<br />

da vez. Quer concorrer à prefeitura <strong>de</strong><br />

Manaus, a segunda maior cida<strong>de</strong> da<br />

Amazônia.<br />

Os únicos políticos que têm al-<br />

guma chance <strong>de</strong> dificultar sua esca-<br />

lada à prefeitura <strong>de</strong> Manaus são o <strong>de</strong>-<br />

putado fe<strong>de</strong>ral Arthur Virgílio Neto<br />

(PSDB) e a vereadora Vanessa<br />

Grazzotin (PCdoB). Nas últimas<br />

eleições, Vanessa concorreu a uma<br />

vaga na Câmara dos Deputados, em<br />

Brasília, foi a nona candidata mais<br />

votada, mas não elegeu-se por falta<br />

<strong>de</strong> força da legenda.<br />

Ela e o marido, o <strong>de</strong>putado es-<br />

tadual Heron Bezerra (PCdoB) são<br />

autores da maioria das <strong>de</strong>núncias fei-<br />

tas contra as administrações amazo-<br />

nenses mais recentes. Virgílio Neto é<br />

consi<strong>de</strong>rado o porta-voz da Amazônia<br />

junto ao governo fe<strong>de</strong>ral, mas anda<br />

meio afastado <strong>de</strong> Manaus. Mesmo as-<br />

sim, durante o mês <strong>de</strong> novembro, bro-<br />

taram comentários <strong>de</strong> que ele estaria<br />

disposto a voltar pela segunda vez à<br />

prefeitura da capital do Amazonas.


lli<br />

m<br />

O.<br />

mm<br />

m<br />

Mim<br />

&<br />

m<br />

iii<br />

Mm<br />

m<br />

m<br />

ft:<br />

" ::<br />

mm<br />

Wk.<br />

m<br />

Cuira<br />

8 ■%:-:-■■>-<br />

O ator paraense Norton Nascimen-<br />

to, 33, solta a voz e lança em<br />

Belém o show que percorrerá o<br />

Brasil com músicus que vão do funk à<br />

MPB.<br />

"Nasci dos vinhos, das orgias<br />

primitivas .... Eu vim aqui te possuir,<br />

sou seu negão armagedon". O trecho<br />

é da música "Negão armagedon", <strong>de</strong><br />

Fausto Fawcett que parece ter sido<br />

feita sob encomenda para Norton<br />

Nascimento, o Sidney, da novela<br />

A próxima vitima.<br />

Norton, que na pele <strong>de</strong><br />

Sidney, passou os últimos nove<br />

meses tentando convencer o<br />

público a não ser racista, ago-<br />

ra vai rodar o país provando<br />

que sabe cantar, assim como<br />

muitos dos seus irmãos da raça<br />

negra.<br />

Aliás, para Norton colocar<br />

a mochila nas costas e dar uma <strong>de</strong><br />

cigano, não é novida<strong>de</strong>. Aos três<br />

anos, sua família trocou Belém por<br />

São Luís, on<strong>de</strong> também não ficou por<br />

muito tempo. Aos sete anos, Norton<br />

já estava instalado na capital paulista.<br />

"Eu canto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 14 anos, tinha<br />

até uma banda, Bichos da Bwa", diz<br />

Norton ao contar que a carreira <strong>de</strong><br />

ator "atropelou " a <strong>de</strong> cantor. Sem Â<br />

disfarçar o orgulho, Norton re- jff<br />

vela que a superstar Liza , •<br />

Minelli chegou a convidá-lo |<br />

para morar em Nova York,<br />

quando numa <strong>de</strong> suas viagens ^H<br />

ao Brasil, encantou-se ao<br />

ouvi-lo cantar.<br />

Um curso <strong>de</strong> teatro, '<br />

feito em 1980, foi o passo<br />

inicial da carreira <strong>de</strong>ste para-<br />

ense, que muito antes <strong>de</strong> chegar aos<br />

estúdios globais, foi jogador profissi-<br />

onal <strong>de</strong> basquete. Depois das primei-<br />

ras experiências cênicas, vieram co-<br />

merciais <strong>de</strong> TV, <strong>de</strong>sfiles, novelas na<br />

Re<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>irantes e pequenas participa-<br />

ções no Veja o Gordo, o extinto programa<br />

<strong>de</strong> Jô Soares, no SBT.<br />

Antes <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>finitivamente do<br />

anonimato, Norton viveu Chicão, na<br />

minissérie^goíto, em que fez papel <strong>de</strong><br />

um boxeur assassino que era o par mais<br />

do que constante <strong>de</strong> José Wilker. Mas<br />

foi Wotan, na chatérrima Fera Feri-<br />

:<br />

"Liza Minelli ouviu<br />

Norton cantar e o con-<br />

vidou para morar em<br />

Nova Yorque".<br />

da, que o lançou como o primeiro sím-<br />

bolo sexual negro da TV. "Acho mui-<br />

to legal a convivência com os fãs, nós<br />

<strong>de</strong>vemos muito a essas pessoas."<br />

O show "Eu sou assim" mostra<br />

um pouco das reviravoltas na trajetória<br />

<strong>de</strong> Norton, que <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> educa-<br />

ção física (formado em Mogi das Cru-<br />

zes) acabou sob holofotes. Músicas <strong>de</strong><br />

Fausto Fawcett ,aquele fissurado em<br />

louraças belzebu e calcinhas exocet, e<br />

Luiz Melodia, um dos mais aplaudidos<br />

da MPB, compõem o repertório que va-<br />

ria do soul ao funk, passando pelo<br />

charm (estilo <strong>de</strong> música negra).<br />

O namoradinho <strong>de</strong> ébano<br />

do Brasil também está fazen-<br />

do uma tumê apresentando<br />

0 musical "Orfeu da Con-<br />

ceição", com poemas <strong>de</strong><br />

Vinícius <strong>de</strong> Morais e mú-<br />

' sica <strong>de</strong> Tom Jobim. No iní-<br />

B» cio <strong>de</strong> outubro, a agenda <strong>de</strong><br />

Norton voltou a abrir espa-<br />

ço ao esporte. Passou<br />

a comandar um pro-<br />

grama esportivo, na<br />

rádio Imprensa, do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Ao pisar em<br />

solo paraense, Nor-<br />

ton preten<strong>de</strong> com-<br />

pensar os anos que<br />

passou longe da co-<br />

1 i mida paraense. "Sin-<br />

to muita sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Belém, principalmen-<br />

te da comida", con-<br />

fessa. Depois <strong>de</strong> se<br />

encharcar <strong>de</strong> pato no<br />

tucupi e tacacá, Nor-<br />

ton quer ampliar seu<br />

leque <strong>de</strong> colaboradores e, <strong>de</strong> quebra,<br />

tirar compositores paraenses do ano-<br />

nimato. Ele espera receber, e gravar,<br />

letras <strong>de</strong> conterrâneos. Os interessa-<br />

dos, habilitem-se.


e-ixJUaifl<br />

Colir v\<br />

Criação e arte: Nonato Moreira<br />

se você é,<br />

assuma<br />

100 reais em livros<br />

Você respon<strong>de</strong> à pesquisa <strong>de</strong> opinião Cuira, recortando e <strong>de</strong>positando o questionário em uma<br />

das umas coletoras e concorra a cem reais em livros, ofertados pela Nossa Livraria <strong>de</strong><br />

Belém. As urnas estão localizadas na:<br />

Banca do Branco, na UFPA<br />

Banca do Alvino, na Praça da República<br />

Nossa Livraria <strong>de</strong> Belém, na Dr. Moraes com Mundurucus<br />

Unipop, na Senador Lemos, 557<br />

ou por carta para a Unipop, no en<strong>de</strong>reço acima, CEP: 66.050-000 - Belém-Pará<br />

Participe já<br />

<strong>Pesquisa</strong> <strong>de</strong> opinião Cuíra - Separatismo no Pará<br />

1) y^çêiés favor da criação do Estado do^Tapaós?<br />

( )NÃO ( ) TANTO FAZ<br />

( ) TANTO FAZ<br />

( )NÀOSABE<br />

2) ..e do Estado <strong>de</strong> Carajás?<br />

( )SIM<br />

END.:<br />

CIDADE:<br />

FONE:<br />

Amazônia e<br />

( )NAOSABE<br />

3) Você acha que o separatis-<br />

mo é:<br />

( ) Uma manobra política<br />

( ) Uma necessida<strong>de</strong> imediata<br />

( ) Uma necessida<strong>de</strong> futura<br />

( ) Não sabe<br />

NOME<br />

CER<br />

ESTADO:<br />

Boné ou<br />

camisa?<br />

Você apresenta três novos<br />

assinantes e escolhe uma cami-<br />

seta ou um boné da Cuíra.<br />

Ligue para (091) 241-8716<br />

J<br />

Clube do<br />

assinante<br />

Estamos organizando o Clube<br />

do Assinante Cuíra. Você cadastra o<br />

seu estabelecimento oferecendo <strong>de</strong>s-<br />

contos e nós indicaremos você para<br />

os nossos assinantes. Veja só quem já<br />

topou:<br />

CD Sound, Lavasexy, América<br />

Importados, BMW Áudio Ví<strong>de</strong>o Pro-<br />

duções, Carbeni Artevisual, Buffet <strong>de</strong><br />

Sorvetes, Drogaria Tropical,<br />

Farmabem, Alternativa Aca<strong>de</strong>mia,<br />

PRD. Passe, Repasse <strong>de</strong> Desconto,<br />

Livraria Acadêmico, Banca Popular,<br />

Magic Photos, Unipop e André Reis<br />

(Serviços Fotográficos)<br />

Ligue para: (091) 241-8716<br />

Assine CUÍRA: a única revista da Amazônia comprometida com a<br />

cidadania.<br />

Nome:<br />

En<strong>de</strong>reço:<br />

Cida<strong>de</strong>:<br />

Ativida<strong>de</strong>:<br />

Cheque n 0 ;<br />

_ Estado:<br />

Fone:<br />

Banco:<br />

CEP:<br />

Preencha o cupom com letra <strong>de</strong> forma e envie para UNIPOP anexado ao cheque nominal para o Instituto<br />

FAX:<br />

Universida<strong>de</strong> Popular no valor <strong>de</strong> R$ 25,00. Sua assinatura dará direito a seis números <strong>de</strong> CUIRA.<br />

Unipop - Instituto Universida<strong>de</strong> Popular - Av. Senador Lemos, 557 - Telégrafo - 66050-000<br />

Fone-Fax: (091) 241-8716 - Belém-PA<br />

Cuíra


aw^"'


Desmatamento, animais assusta-<br />

dos e índios inofensivos. Esta situação<br />

tão amazônica, comum em <strong>de</strong>núncias<br />

<strong>de</strong> instituições e organizações não go-<br />

vernamentais <strong>de</strong> cunho ecológico, po-<br />

<strong>de</strong>rá ser vista em breve, com uma rou-<br />

pagem/wp: o "<strong>de</strong>nunciante" é ninguém<br />

menos que Michael Jackson, consi<strong>de</strong>-<br />

rado uma das maiores estrelas do mun-<br />

do musical. O "<strong>de</strong>smatamento" acon-<br />

teceu em outubro nas matas do Oeste<br />

paraense e fará parte do vi<strong>de</strong>oclip da<br />

nova música do cantor, "The : 'Èarth<br />

Song" ( "A Canção da Terra"}* a ser<br />

lançado em <strong>de</strong>zembro e filmado em<br />

parte no Pará.<br />

Amazônia<br />

Dênia Maués<br />

Novo ví<strong>de</strong>o do cantor<br />

simula <strong>de</strong>smafamento na<br />

região, mas duranfe as<br />

gravações, em Alter do<br />

Chõo, o megaesfar<br />

permaneceu em Los<br />

Angeles<br />

>=.<br />

íajór,<br />

3<br />

I-<br />

mt<br />

u<br />

3<br />

,, ,,:<br />

■ :<br />

i''<br />

mm.


Não, Michael Jackson não veio.<br />

As filmagens, realizadas em uma fa-<br />

zenda na estrada Santarém-Cuiabá e<br />

em uma ma<strong>de</strong>ireira, dispensaram a pre-<br />

sença do astro, cuja pele foi poupada<br />

das agruras e dos mistérios das matas<br />

amazônicas. Sua imagems vai ser<br />

inserida no vi<strong>de</strong>oclip posteriormente,<br />

nos Estados Unidos, via computador<br />

- para isso, cada cena foi meticulosa-<br />

mente estudada, <strong>de</strong>ixando o espaço<br />

reservado para a performance do ma-<br />

rido da filha <strong>de</strong> Elvis Presley.<br />

O diretor norte-americano Nick<br />

Brandt comandou uma equipe <strong>de</strong> apro-<br />

ximadamente vinte pessoas, a maioria<br />

brasileiros. Destes, alguns vieram do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, pela produtora cario-<br />

ca WB, que trouxe duas toneladas <strong>de</strong><br />

equipamentos <strong>de</strong> iluminação e maqui-<br />

naria.<br />

Sete paraenses com traços<br />

indígenas compuseram o elen-<br />

co do ví<strong>de</strong>o, interpretando ín-<br />

dios que exibem no corpo pin-<br />

tura inspirada em motivos<br />

Caiapó, concebida por um<br />

maquiador também paraense.<br />

Entre os atores, <strong>de</strong>stacou-se<br />

Ana Paula Monteiro da Silva,<br />

experiente em produções inter-<br />

nacionais.<br />

A Amazônia foi o ponto final das<br />

viagens feitas por Nick Brandt e sua e-<br />

quipe direta, composta por quatro pro-<br />

fissionais norte-americanos, que já havi-<br />

am filmado na Croácia e na Tanzânia -<br />

igualmente sem Jackson -, obe<strong>de</strong>cendo<br />

ao roteiro <strong>de</strong> "The Earth Song". Além<br />

<strong>de</strong> conferir mais realismo às cenas, um<br />

dos fatores que estimulam empreitadas<br />

<strong>de</strong>ste tipo são os baixos custos dos ser-<br />

viços em países do Ter-<br />

ceiro e do Qi<br />

Mundo, em es-<br />

pecial a mão-<br />

<strong>de</strong>-obra, cara<br />

em países<br />

<strong>de</strong>senvolvi-<br />

dos.<br />

As filmagens no Pará consumi-<br />

ram três dias, em um ritmo puxado,<br />

das cinco da manhã às oito da noite,<br />

exigindo fôlego <strong>de</strong> técnicos e figuran-<br />

tes. Apesar <strong>de</strong> baratas - ou talvez por<br />

causa disso -, as filmagens in loco fi-<br />

zeram a equipe sentir na pele condi-<br />

ções <strong>de</strong>sfavoráveis como poeira, mui-<br />

to calor e os amazônidas carapanãs<br />

(mosquitos), que causaram um certo<br />

estresse em todos, principalriiénte nos<br />

profissionais norte-americanos, longe<br />

da urbanida<strong>de</strong> dos gran<strong>de</strong>s estúdios.<br />

Mesmo em uma floresta <strong>de</strong> ver-<br />

da<strong>de</strong>, a equipe <strong>de</strong> Nick Brandt adicio-<br />

nou alguns animais, alugados em<br />

Manaus, para melhor i<strong>de</strong>ntificar o ce-<br />

nário: araras, tucanos, papagaios e um<br />

macaco-aranha também dividirão com<br />

Michael Jackson o espaço na tela.<br />

Como o roteiro <strong>de</strong> "The Earth<br />

Song" pedia cenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento<br />

para <strong>de</strong>nunciar quando este é feito <strong>de</strong><br />

forma indiscriminada, elas foram fei-<br />

tas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma ma<strong>de</strong>ireira que co-<br />

laborou com a produção norte-ameri-<br />

cana. A árvore que aparecerá caindo<br />

no vi<strong>de</strong>oclip foi realmente <strong>de</strong>rrubada.<br />

As conseqüências para o ecossistema<br />

foram tratadas <strong>de</strong> forma artística: um<br />

gran<strong>de</strong> ventilador simulou uma forte<br />

ventania e os atores interpretaram so-<br />

frer o abalo <strong>de</strong> um terremoto na selva.<br />

Sem ter para quem apelar, os in-<br />

dígenas fazem uma evocação à Mãe-Ter-<br />

i, em contato direto com o solo,<br />

para que tudo renasça, o que<br />

acontece na cena final, quando<br />

todos aparecem pescando e<br />

banhando-se em um tranqüilo<br />

rio.<br />

Para Michael Jackson,<br />

o <strong>de</strong>stino da Amazônia está<br />

nas mãos <strong>de</strong> Deus - ou me-<br />

lhor, <strong>de</strong> Tupã.


ÍÍP<br />

^<br />

Tipo exportação<br />

Os clientes <strong>de</strong> uma sorveteria da travessa 14 <strong>de</strong><br />

Março talvez nem imaginem que são atendidos<br />

por uma atriz <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> produções interna-<br />

cionais. Ana Paula Monteiro da Silva, 30, nuncacur-<br />

sou arte dramática mas, graças à seus traços indíge-<br />

nas, teve a chance <strong>de</strong> ser dirigida por Hector Babenco<br />

em "Brincando nos Campos do Senhor", filmado em<br />

Belém em 1990. O clip <strong>de</strong> "The Earth Song" é seu<br />

terceiro trabalho.<br />

A linguagem dos vi<strong>de</strong>oclips foi uma experiên-<br />

cia nova para Ana Paula: "tínhamos que sentir o per-<br />

sonagem sem falar nada, não tinha texto nem ouvi-<br />

mos a música do clip. Era só concentração e expres-<br />

são corporal." À interpretação <strong>de</strong> Ana Paula, Nick<br />

Brandt saudava com "ótimo" e "muito bom" em ar-<br />

rastado português. Mas como nada é fácil, além da<br />

extrema concentração, Ana Paula recorda a cena em<br />

que uma árvore <strong>de</strong> 50 metros <strong>de</strong> altura foi <strong>de</strong>rrubada<br />

para cair exatamente na frente do grupo indígena. Deta-<br />

lhe: todos <strong>de</strong>veriam estar dançando compenetradamen-<br />

te, sem olhar para a árvore que <strong>de</strong>sabava. O jeito foi<br />

confiar nos técnicos da produção que, felizmente,<br />

acertaram nos cálculos.<br />

O fato <strong>de</strong> ser requisitada apenas para papéis <strong>de</strong><br />

índias não incomoda nem um pouco Ana Paula. Afi-<br />

nal, foram essas índias que lhe possibilitaram passar<br />

dois meses no México e conhecer o ator Sean Connery<br />

- no seu segundo filme, "O Curan<strong>de</strong>iro da Selva", em<br />

91 - além <strong>de</strong> comprar seu apartamento próprio em<br />

Belém. Os três dias que passou filmando "The Earth<br />

Song" lhe ren<strong>de</strong>ram o equivalente a cinco meses <strong>de</strong><br />

salário do seu emprego na sorveteria<br />

Ana Paula Monteiro em três momentos: caracterizada nos<br />

filmes "O Curan<strong>de</strong>iro da Selva"e "Brincando nos Campos<br />

do Senhor", e ao natural, durante entrevista à Cuira.


IA<br />

O<br />

IA<br />

O<br />

IA<br />

;í: ■■■.-.<br />

KM<br />

III<br />

mm<br />

í ■■■■<br />

s;s<br />

€::!*<br />

vmomM<br />

*::::<br />

m<br />

wmf<br />

t<br />

B<br />

Arquive moit<br />

•íí/e/j Leitão<br />

No Pará,a galeria <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecidos políticos ainda é<br />

informação confi<strong>de</strong>ncial<br />

O dia <strong>de</strong>z <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro é a data<br />

marcada para que ex-presos<br />

políticos comemorem com pa-<br />

rentes e amigos o fim da didatura, que<br />

durante mais <strong>de</strong> 20 anos pren<strong>de</strong>u, tor-<br />

turou e matou centenas <strong>de</strong> militantes<br />

<strong>de</strong> esquerda. Durante as comemorações<br />

do Dia Internacional dos Direitos Hu-<br />

manos, anistiados brindarão à <strong>de</strong>cisão<br />

Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) - à direita,<br />

guerrilheiro no Araguaia<br />

do governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> reconhecer como<br />

mortos os "<strong>de</strong>saparecidos" e instituir<br />

pensão especial às famílias.<br />

Fato: quem passou pelos po-<br />

rões das prisões parenses não tem o<br />

que comemorar. Apesar <strong>de</strong> a ditadura<br />

ter sido oficialmente página virada, os<br />

<strong>de</strong>saparecidos políticos continuam sen-<br />

do fantasmas na memória do Pará.<br />

Custódio Saraiva Neto (Lauro)<br />

Se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos arquivos do<br />

antigo Departamento <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m Polí-<br />

tica e Social (DOPS), o Pará é prota-<br />

gonista <strong>de</strong> um capítulo vazio da histó-<br />

ria da repressão e, por conseqüência,<br />

dos movimentos políticos <strong>de</strong> oposição<br />

durante o regime militar (1964-85) no<br />

Brasil. Depois <strong>de</strong> 16 anos da abertura<br />

política « a partir da Lei da Anistia pro-<br />

mulgada em 79 - os arquivos do DOPS<br />

continuam imersos em mistério para a<br />

socieda<strong>de</strong>. Até hoje, nenhuma infor-<br />

mação oficial sobre as prisões òu ou-<br />

tras operações da polícia política do<br />

regime foi divulgada.


O pouco que se conhece são os<br />

absurdos que os arapongas do serviço<br />

secreto do Exército colheram por aqui<br />

sem nenhuma competência. Um <strong>de</strong>s-<br />

ses absurdos - verda<strong>de</strong>ira aberração -<br />

foi indicar um dos arautos do próprio<br />

regime (na planície) como "simpatizan-<br />

te do comunismo". Nada <strong>de</strong>mais para<br />

a época se a ficha não pertencesse a<br />

um homem chamado Jarbas Passari-<br />

nho.<br />

Mas o Pará não po<strong>de</strong> assumir um<br />

papel <strong>de</strong> omissão na história da oposi-<br />

ção aos militares. Afinal, foi no Sul do<br />

Estado que se <strong>de</strong>u um dos maiores<br />

movimentos guerrilheiros da década <strong>de</strong><br />

70. Nas margens do Rio Araguaia,<br />

entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Domingos das<br />

Latas e São Geraldo, 69 militantes do<br />

PC do B - além <strong>de</strong> 17 camponeses que<br />

se integraram ao movimento -, orga-<br />

nizavam uma guerrilha. Foram elimi-<br />

nados por um exército <strong>de</strong> 20 mil sol-<br />

dados do Exército, Marinha, Aeronáu-<br />

tica e das polícias militar e civil do<br />

Pará, Goiás e Maranhão.<br />

Quase meta<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sapareci-<br />

dos políticos - 136 pelas estimativas<br />

do Governo Fe<strong>de</strong>ral, 369 para enti-<br />

da<strong>de</strong>s civis - foi seqüestrada e morta<br />

na região do Araguaia, segundo o<br />

"Dossiê dos Mortos e Desaparecidos<br />

Políticos a partir <strong>de</strong> 1964". Também<br />

nos limites do Pará com o Tocantins,<br />

mais exatamente no cemitério <strong>de</strong><br />

Xambioá, foram encontradas duas<br />

ossadas, possivelmente <strong>de</strong> guerrilhei-<br />

ros, diz o documento elaborado por<br />

três entida<strong>de</strong>s, entre elas o Grupo Tor-<br />

tura Nunca Mais.<br />

Enquanto a guerrilha era<br />

sufocada no Araguaia, a falta <strong>de</strong> um<br />

movimento guerrilheiro organizado em<br />

Belém não impedia que pessoas con-<br />

si<strong>de</strong>radas suspeitas pelo regime fossem<br />

presas ou perseguidas. O alvo estava<br />

concentrado na incipiente elite cultu-<br />

ral da época. "A região (Norte) não<br />

foi um gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> resistência e,<br />

por isso mesmo, não foi on<strong>de</strong> a repres-<br />

são foi mais intensa", diz o ex-<strong>de</strong>puta-<br />

do do PT Edmilson Rodrigues.<br />

Apesar <strong>de</strong> não haver notícias <strong>de</strong><br />

tortura praticada contra presos políti-<br />

cos nas <strong>de</strong>legacias do Pará, os<br />

paraenses não passaram ilesos pela<br />

face mais cruel da ditadura militar. Os<br />

militantes Humberto Cunha e Iza Cu-<br />

nha foram torturados no Rio <strong>de</strong> Janei-<br />

Antânio Carlos M Teixeira (Antônio)<br />

Kieber Lemos da Siiva (Quelé/Carlito)<br />

Lúcia Maria <strong>de</strong> Souza (Sônia)


Maria Célia Corrêa (Rosa)<br />

Vandick Reidner<br />

Dinaelza S.S. Coqueiro (Dinà)<br />

Telma Regina Corrêa Cor<strong>de</strong>iro (Lia)<br />

Idalísio S.<br />

(Aparício)<br />

ro. Paulo Fontelles e Hecilda Veiga<br />

(casados na época) também sofreram<br />

torturas fora do Pará. Outro paraense,<br />

o estudante secundarista Edson Luiz<br />

<strong>de</strong> Lima Souto, foi morto a tiros no<br />

restaurante Calabouço, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Ainda que sendo vítimas da repressão<br />

em outra cida<strong>de</strong>, os Fontelles,<br />

os Cunha e Edson Luiz dificilmente<br />

não tiveram informações sobre eles arquivadas<br />

pelo DOPS em Belém.<br />

Sumiço - A dúvida sobre os<br />

nomes e as informações contidas nas<br />

papeladas do DOPS esbarra noutro<br />

mistério: on<strong>de</strong> estão os arquivos? Na<br />

Divisão <strong>de</strong> Investigação e Operações<br />

Especiais (DIOE), que<br />

hoje substitui o DOPS,<br />

não há vestígios. "Aqui<br />

só tem arquivos a partir<br />

da criação do DIOE, não<br />

se sabe nem se existem arquivos<br />

do antigo DOPS",<br />

diz um policial. "Esses arquivos<br />

existem, mas nem<br />

a própria polícia sabe ao<br />

certo on<strong>de</strong> estão", afirma<br />

um <strong>de</strong>legado.<br />

O ex-<strong>de</strong>putado Edmilson<br />

Rodrigues, que há<br />

dois anos tentou acessar os<br />

arquivos quando era presi<strong>de</strong>nte<br />

da Comissão <strong>de</strong><br />

Direitos Humanos da Assembléia<br />

Legislativa, suspeita<br />

<strong>de</strong> que "eles foram<br />

<strong>de</strong>struídos ou transferidos<br />

para outro local,<br />

como a PM". O diretor<br />

do DOPS na época, <strong>de</strong>legado<br />

Paulo Tamer, alegou<br />

que os arquivos não<br />

existiam. "Aqui na PM<br />

atualmente também não<br />

tem arquivo nenhum",<br />

garante um oficial graduado.<br />

Acesso obrigatório<br />

- A assembléia Legislativa<br />

espera a hora <strong>de</strong> ser<br />

colocado em pauta um<br />

projeto <strong>de</strong> lei do <strong>de</strong>putado<br />

José Geraldo (PT)<br />

que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar a<br />

existência nebulosa das<br />

fichas do DOPS. Se for<br />

aprovado, o projeto tornará<br />

obrigatório o aces-<br />

Aranha Filho<br />

Dinalva Oliveira Teixeira


Paulo Fontelles, vítima <strong>de</strong> tortura<br />

nm.<br />

I<br />

,&****%% H*"*CM*X<br />

.31 i\<br />

rrialicia'<br />

"^(Pwgp)<br />

.çettena'<br />

■arijuivos do DOPS e da PM.<br />

Os documéltos seriam transferidos<br />

pelo Governo do Estado para a Bibli-<br />

oteca Pública, que organizaria um ar-<br />

quivo próprio. \<br />

Capixaba <strong>de</strong> 33 anos que che-<br />

gou ao Pará èm 1979 pelos elos do<br />

sindicalismo rurW, Zé Geraldo \stá<br />

convencido <strong>de</strong> que 5s arquivos air^a<br />

existem e, entre outras fichas, conter^<br />

atWi; próprio. "Mas nãl é essa a mo-|<br />

tivaçaè» A idéia é abri-ld| para a pes-<br />

quisa histórica", justifica l <strong>de</strong>putado.<br />

Par| a coor<strong>de</strong>nador! da Socie-<br />

da<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos<br />

Humanos (SPDDH), Veral Tavares, a 1<br />

abertura dos arquivos vqí preencher |<br />

uma lacuna da história política no Pará.<br />

"É fundamental que a socieda<strong>de</strong> tenha?<br />

acesso a esses docurpfentos que irãé<br />

mostrar como íuncigriava a repressãp'.<br />

É idéia da SPDDJfentrar com proces-<br />

sos <strong>de</strong> habcas-data para permi|if que<br />

pessoas interessadas tenham acesso<br />

itídividual aos arquivos, um direito<br />

garantido pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />

'olaborou Iran <strong>de</strong> Souza<br />

Foto: Miguel Chikaoha/Kamara Kó<br />

Hecilda Veiga também foi torturada<br />

perimente uma<br />

itia da história nas<br />

Reservas<br />

Extrativistas<br />

R$20,00<br />

Pedidos pelos Correios para:<br />

Livraria Paim<br />

Rua Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, 331 •<br />

CEP. 69903-420 • Rio Branco • AC<br />

fones: (068) 224-3432 • 224-8972


o<br />

&<br />

IA<br />

m<br />

i-<br />

m<br />

o<br />

«1<br />

|M|<br />

O<br />

«I<br />

Ui<br />

tu<br />

m<br />

o<br />

&<br />

III<br />

■<br />

:.:■■.■:.:<br />

:-. ■ ■■:■.■.■: :■:<br />

ffi;<br />

mm<br />

«1<br />

iii<br />

::<br />

«I<br />

O homem-gol<br />

Giovonni, do Sonfos e do Seleção, admite o próprio timi<strong>de</strong>z, diz que<br />

o futebol paraense não se revela por falta <strong>de</strong> organização e que vai<br />

investir no Pará tudo que ganhar como jogador.<br />

Para um rapaz <strong>de</strong> 23 anos que ain-<br />

da preserva o jeitão <strong>de</strong> adolescen-<br />

te, Giovanni Silva <strong>de</strong> Oliveira fala<br />

pouco e ri menos ainda. Mas se joga<br />

mal com as palavras, prejudicado pela<br />

gagueira insdisfarçável, atinge níveis<br />

<strong>de</strong> excelência com a bola. Tanto que<br />

já é consi<strong>de</strong>rado um craque - privilé-<br />

gio cada vez mais raro no futebol mo-<br />

<strong>de</strong>rno.<br />

Morando em São Paulo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

segundo semestre do ano passado, ar-<br />

tilheiro do Santos, Giovanni não é<br />

protagonista <strong>de</strong> uma história linear e<br />

sem graça. Não parecia pre<strong>de</strong>stinado<br />

ao sucesso que conheceu em 95 ao se-<br />

<strong>de</strong>stacar nos Campeonatos Paulista e<br />

Brasileiro e nos últimos jogos da Se-<br />

leção.<br />

Nascido em Belém, filho <strong>de</strong> um<br />

funcionário da Eletronorte, Giovanni<br />

foi morar com a família em Abaetetuba<br />

com a transferência do pai para lá em<br />

87. Ali, durante um jogo <strong>de</strong> futebol <strong>de</strong><br />

salão, conheceu a professora <strong>de</strong> Edu-<br />

cação Física Ana Rosa, com quem está<br />

casado há quase um ano, após oito <strong>de</strong><br />

namoro; e teve o talento reconhecido<br />

em primeira mão por um amigo que o<br />

levou para a Tuna em 91. "Fiquei na<br />

equipe júnior até 92 e <strong>de</strong>pois passei<br />

pro time profissional", conta Giovanni.<br />

Ü<br />

"Os dirigentes da<br />

Tuna atrapalharam a<br />

minha vida"<br />

Por empréstimo o meio-campis-<br />

ta jogou no Clube do Remo entre agos-<br />

to e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 93, retornando no-<br />

vamente à Tuna, clube do qual não<br />

escon<strong>de</strong> as mágoas. "Os dirigentes da<br />

Tuna atrapalharam a minha vida.<br />

Quando o jogador se <strong>de</strong>staca, como<br />

foi o meu caso, eles pe<strong>de</strong>m um preço<br />

absurdo para <strong>de</strong>ixá-lo seguir em fren-<br />

te", <strong>de</strong>sabafa.<br />

Em maio <strong>de</strong> 94, ainda que por<br />

empréstimo, Giovanni se livrou do far-<br />

do luso e foi para o inexpressivo São<br />

Carlense (da Série A-2 do Campeona-<br />

to Paulista). Em São Carlos, noroeste<br />

<strong>de</strong> São Paulo, o rapaz <strong>de</strong> formação<br />

católica se converteu à igreja evangé-<br />

lica "100% Vida" e hoje é "Atleta <strong>de</strong><br />

Cristo". Emprestado ao Santos no se-<br />

gundo semestre, Giovanni amargou<br />

Iran <strong>de</strong> Souza<br />

seis meses no banco <strong>de</strong> reservas. "O<br />

técnico Serginho Chulapa tinha um<br />

esquema <strong>de</strong>fensivo e as características<br />

do Giovanni são ofensivas", justifica<br />

Roberto Bolonha, diretor do clube.<br />

j^<br />

Giovanni e a mulher,<br />

Ana Rosa, preten<strong>de</strong>m<br />

instalar uma escola<br />

<strong>de</strong> I o grau em<br />

Abaetetuba.<br />

::::-:MS . ■'<br />

:■:.■.:!.;:;:■ ■:;:


«ülCCÜ<br />

/IMO ><br />

Com o passe comprado pelo<br />

Santos por R$ 300 mil - Pele, com<br />

quem mais tar<strong>de</strong> o atleta teria discus-<br />

sões públicas, emprestou R$ 150 mil<br />

para que o clube fechasse o negócio -<br />

Giovanni ganhou a vaga <strong>de</strong> titular em<br />

95 e não per<strong>de</strong>u mais. Convocado<br />

nove vezes por Zagalo até o mês <strong>de</strong><br />

outubro, o jogador se tomou um pro-<br />

duto valioso no mercado especulativo<br />

do futebol. Supervalorizado, o passe<br />

do adolescente magro e bom <strong>de</strong> bola<br />

que estudou nos colégios Mário<br />

Chermont e Rui Barbosa em Belém, e<br />

no Instituto Nossa Senhora dos Anjos<br />

em Abaetetuba, não custa atualmente<br />

menos <strong>de</strong> R$ 5 milhões (o São Paulo<br />

já teria oferecido R$ 4 milhões). Tal-<br />

vez até mais. "Não posso falar em hi-<br />

pótese. O preço só seria <strong>de</strong>finido em<br />

uma negociação concreta", <strong>de</strong>sconver-<br />

sa Samir Abdur Hak, presi<strong>de</strong>nte do<br />

Santos.<br />

Por enquanto - precisamente até<br />

31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando vence seu<br />

contrato com o time - o jogador ga-<br />

nha menos <strong>de</strong> R$ 10 mil mensais, sa-<br />

lário irrisório entre as estrelas do es-<br />

porte.<br />

Se faz da timi<strong>de</strong>z um emblema<br />

<strong>de</strong> si mesmo, Giovanni também revela<br />

<strong>de</strong> cara outra faceta: autoconfiança<br />

como atleta. Está certo <strong>de</strong> que vai dis-<br />

putar com Juninho (Middlesbrough,<br />

Inglaterra), Rivaldo e Edilson (Palmei-<br />

ras) a vaga <strong>de</strong> titular na meia-esquer-<br />

da da Seleção na Copa <strong>de</strong> 98 na Fran-<br />

ça. Ninguém duvida <strong>de</strong> que esteja no<br />

páreo, mas suas qualida<strong>de</strong>s técnicas<br />

ainda divi<strong>de</strong>m opiniões.<br />

"O Giovanni é habilidoso, o<br />

melhor com a bola no pé, mas não bri-<br />

ga muito por ela, é meio lento", critica<br />

a estudante Maeve Guimarães, 16<br />

anos, torcedora do Santos. "Ele <strong>de</strong>mo-<br />

ra nas arrancadas, que são poucas, e<br />

não gosta muito <strong>de</strong> voltar para mar-<br />

car", espeta o torcedor Josivaldo<br />

Cabral, 18 anos.<br />

'Não gosto mesmo<br />

<strong>de</strong> falar. É o meu i<br />

jeito' »"<br />

Para o admnistrador <strong>de</strong> fu<br />

tebol do Santos, o ex-jogador ar-<br />

gentino Ramos Delgado,<br />

"Giovanni tem um domínio <strong>de</strong><br />

bola excepcional, um drible<br />

<strong>de</strong>sconcertante, cabeceia bem<br />

e po<strong>de</strong> vir a ser um craque, até<br />

um gênio". Delgado alega ra-<br />

zões <strong>de</strong> ética para não apon-<br />

tar fraquezas no jogador, que<br />

encontra no atual técnico do<br />

time um analista preciso <strong>de</strong><br />

suas virtu<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ficiências.<br />

Carlos Roberto Cabral, o<br />

Cabralzinho, 50 anos, ex-jogador<br />

que foi reserva <strong>de</strong> Pele no próprio<br />

Santos, não concorda com a alegada<br />

lentidão <strong>de</strong> Giovanni. "Pelo biotipo<br />

<strong>de</strong>le, longilíneo, pela altura <strong>de</strong>le,<br />

l,90m, é um jogador que em espaço<br />

curto consegue arrancar, explodir e<br />

concluir as jogadas com alto nível <strong>de</strong><br />

aproveitamento", analisa o técnico.<br />

Para leigos em futebol, Cabralzinho<br />

quer dizer que o jogador paraense,<br />

"ainda que às vezes se <strong>de</strong>sligue no<br />

meio do jogo", é vocacionado para o<br />

ataque, um homem-gol. "O Giovanni<br />

é frio, pensa e faz na hora", elogia o<br />

goleiro Edson Nascimento, Edinho, 21<br />

anos.<br />

Habilida<strong>de</strong> + força + velocida<strong>de</strong><br />

= craque. Se esta é realmente a fór-<br />

mula contemporânea do futebol para<br />

a concessão do mérito da excepciona-<br />

lida<strong>de</strong>, Giovanni ainda não chegou lá<br />

^m<br />

OUSWi<br />

■ ■■■■■. ■


por problemas <strong>de</strong> formação profissio-<br />

nal. "Talvez ele não tenha passado por<br />

um trabalho a<strong>de</strong>quado nas categorias<br />

infantil, juvenil ou júnior. Me parece<br />

que os clubes paraenses não têm boa<br />

infra-estrutura e o Giovanni careceu <strong>de</strong><br />

um bom laboratório", diz Cabralzinho<br />

medindo as palavras.<br />

O jogador é que não economiza<br />

nos termos. "O futebol paraense, que já<br />

é discriminado no resto do país, piora a<br />

própria situação porque é <strong>de</strong>sorganiza-<br />

do. Joguei na Tuna e no Remo, posso<br />

falar. Os dirigentes têm mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

amador. Não são apenas os salários que<br />

são ruins, eles também <strong>de</strong>veriam dar me-<br />

lhor assistência aos jogadores. Enquan-<br />

to não mudarem isso, o futebol paraense<br />

não vai melhorar", <strong>de</strong>sabafa.<br />

Futuro próximo - Apesar do <strong>de</strong>-<br />

sabafo, Giovanni não pensa no passado.<br />

Tem gran<strong>de</strong>s expectativas e o futuro, para<br />

ele, é sinônimo <strong>de</strong> Pará. "É pra lá que<br />

vou voltar quando um dia parar <strong>de</strong> jogar<br />

futebol. Por isso vou comprar minha casa<br />

e investir tudo lá e não aqui", diz com<br />

segurança. Na volta também preten<strong>de</strong> fa-<br />

zer o curso <strong>de</strong> Educação Física, para<br />

completar os estudos interrompidos após<br />

a conclusão do 2 o grau. "Ainda fiz até o<br />

5 o semestre <strong>de</strong> Eletrotécnica na Escola<br />

áà&íMyua, ~?


Falta um Jínkíngs na<br />

estante <strong>de</strong> Belém<br />

w<br />

Sauda<strong>de</strong> e orgulho. Dois sentimen<br />

tos caminham juntos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele<br />

cinco <strong>de</strong> outubro passado quan-<br />

do faleceu, <strong>de</strong> maneira lenta e sofrida.<br />

Raimundo Antônio Jinkings. Parentes.<br />

amigos e assíduos freqüentadores da<br />

mais tradicional livraria <strong>de</strong> Belém la-<br />

mentavam ter que se <strong>de</strong>spedir daquela<br />

figura meio bonachona, <strong>de</strong> sorriso tris-<br />

te, com trajetória ligada a<br />

<strong>de</strong>fesa das liberda<strong>de</strong>s e da<br />

<strong>de</strong>mocracia e que, com cer-<br />

teza, tem páginas garantidas<br />

no livro <strong>de</strong> estórias dos per-<br />

sonagens que fizeram histó-<br />

ria nesse Pará.<br />

Lembranças chegam<br />

aos turbilhões. Trazem o<br />

Jinkings pai, amigo e mili-<br />

tante. Roberto Corrêa, ami-<br />

go <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aqueles difíceis<br />

tempos <strong>de</strong> ditadura, lembra<br />

bem <strong>de</strong> uma das maiores<br />

qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quem foi um<br />

gran<strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r sindical e diri-<br />

gente político: "Jinkings ti-<br />

nha a capacida<strong>de</strong> nata <strong>de</strong><br />

combinar teoria e prática.<br />

Infundia a autoconfiança e<br />

o ânimo necessários a uma<br />

geração que viria a se<br />

engajar na resistência <strong>de</strong>mo-<br />

crática".<br />

jnlcíngs: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infundir<br />

<br />

autoconfiança aos novos militantes<br />

O<br />

üf<br />

m<br />

"•O<br />

■■ms<br />

■:■ '?■:<br />

"1.<br />

•S<br />

•O<br />

■J<br />

■1


ftajetória<br />

O Jinkings menino viveu no<br />

interior do Maranhão on<strong>de</strong> foi<br />

boia<strong>de</strong>iro, peixeiro, caixeiro e ar-<br />

tesão (confeccionava tamancos).<br />

Em São Luís, vendia quadros, es-<br />

tudava e lia tudo o que lhe caía nas<br />

mãos, principalmente livros <strong>de</strong> ten-<br />

dência socialista.<br />

Veio para Belém aos 15 anos<br />

como militar da FAB. Foi funcio-<br />

nário do BASA, quando começou<br />

atuar no sindicalismo. E como todo<br />

bom jornalista, não tinha papas na<br />

língua, se indispôs com a diretoria<br />

do Basa, per<strong>de</strong>u o emprego. Logo<br />

foi escolhido para dirigente do<br />

PCB. Foi aí que começaram as per-<br />

seguições e nascia a livraria, na sala<br />

<strong>de</strong> visitas da casa da rua Tamoios.<br />

Vieram os filhos, os netos (onze) e<br />

o Jinkings continuou pelas estan-<br />

tes da Jinkings passando a mensa-<br />

gem <strong>de</strong> quem também escreveu<br />

muitas páginas no livro <strong>de</strong> história<br />

da liberda<strong>de</strong>.<br />

Jinkings: o m/7;tante comunista que<br />

entrou na Igreja para casar com<br />

isa. Nas fofos, ele está com a<br />

esposa, com quem viveu mais <strong>de</strong><br />

40 anos, e com quatro filhos.<br />

• i


Jinkings foi lí<strong>de</strong>r do PCB e<br />

usou sua livraria para as<br />

clan<strong>de</strong>stinas reuniões do<br />

partido. Lutou por sua<br />

legalização. Foi cassado,<br />

per<strong>de</strong>u seus direitos<br />

políticos e <strong>de</strong> cidadão. Teve<br />

sua casa apedrejada.<br />

Amargou noites na ca<strong>de</strong>ia e<br />

certa vez foi seqüestrado,<br />

indo parar num forte em<br />

Macapá - " Vi a morte <strong>de</strong><br />

perto, pensei que não sairia<br />

vivo dali "- dizia ele.<br />

Amarílis Tupiassú conta sobre<br />

essa época <strong>de</strong> sobressaltos. "Foram<br />

duros aqueles tempos <strong>de</strong> ameaças no<br />

ar, sumiços, assassinatos e inseguran-<br />

ças. Bastava o anúncio <strong>de</strong> vinda a<br />

Belém <strong>de</strong> alguns daqueles gencrais-<br />

presi<strong>de</strong>ntes e lá se ia ele. E lá ficava a<br />

Isa e as crianças em vigília, os ami-<br />

gos, parentes, em aflição, tentando<br />

<strong>de</strong>scobrir para on<strong>de</strong> tinham sumido<br />

com o Jinkings".<br />

Mas Raimundo Jinkings resistiu<br />

à ditadura lutando pela anistia, pela li-<br />

berda<strong>de</strong>, contra os <strong>de</strong>cretos-lei <strong>de</strong> ar-<br />

rocho salarial, pelas eleições diretas,<br />

pelo socialismo e criando sua fortale-<br />

za <strong>de</strong> livros.<br />

Erguer a livraria foi outra bata-<br />

lha dura, lembra Amarílis. "Primeiro<br />

foi a casa, o lar sendo sacrificado na<br />

acomodação dos livros, centenas <strong>de</strong><br />

livros. Sala e varanda tomadas por<br />

pacotes, catálogos, faturas... Era<br />

transtornante ver Isa (mulher <strong>de</strong><br />

Jinkings) querendo impor or<strong>de</strong>m<br />

àquilo".<br />

Com as freqüentes invasões na<br />

casa da rua Tamoios, os prejuízos fi-<br />

nanceiros eram gran<strong>de</strong>s. Mas<br />

Jinkings não se <strong>de</strong>ixava abater e mes-<br />

mo em fase tão difícil não era me-<br />

nos solidário: dava-se ao luxo <strong>de</strong><br />

ven<strong>de</strong>r fiado. Não apenas aos ami-<br />

gos, mas também aos fiéis<br />

freqüentadores da casa-livraria. "Ha-<br />

via um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações dos<br />

<strong>de</strong>vedores, alguns levavam meses<br />

para saldar as dividas sem que em<br />

nenhum momento lhe viesse o fiador<br />

cora cobranças", conta Amarílis.<br />

Nesses duros tempos foi pre-<br />

ciso muito jogo <strong>de</strong> cintura, muita<br />

força e <strong>de</strong>terminação para não esmo-<br />

recer. Jinkings tinha tudo isso e jun-<br />

to com a família montou uma<br />

barraquinha <strong>de</strong> vendas na praça Ba-<br />

tista Campos para continuar viven-<br />

do sem abrir mão das suas convic-<br />

ções. " Poucos como ele souberam<br />

lutar por seus projetos políticos e en-<br />

frentaram <strong>de</strong> peito aberto tantos<br />

constrangimentos", diz Amarílis.<br />

"Jinkings era um sonhador que<br />

empenhou todas suas energias em<br />

consolidar seus sonhos. Belém <strong>de</strong>ve<br />

muito a sua tenacida<strong>de</strong> e as esquer-<br />

das a sua <strong>de</strong>terminação na luta con-<br />

tra as injustiças sociais, diz o amigo<br />

escritor Jocelyn Brasil. Lembrando<br />

a frase <strong>de</strong> Victor Pires Franco, Bra-<br />

sil ressalta: Jinkings foi o baluarte das<br />

esquerdas do Pará.


3<br />

ui<br />

IA<br />

Ü<br />

Ul<br />

&.<br />

«A<br />

Ml<br />

mã<br />

<<br />

u<br />

«Si<br />

lli<br />

a<br />

m<br />

i^- 4<br />

>•*.<br />

S^<br />

lU<br />

a » "**.<br />

IA<br />

; ÜP».^<br />

mm<br />

u<br />

m<br />

»^#<br />

a<br />

í<br />

i ■-v^m^.<br />

Cuíia<br />

Imagine ver lagos, igarapés e<br />

paranás secarem a ponto <strong>de</strong> se<br />

transformarem em enormes tape-<br />

tes ver<strong>de</strong>s. E milhares <strong>de</strong> peixes mor-<br />

rerem por falta <strong>de</strong> oxigênio. Navios,<br />

barcos regionais, voa<strong>de</strong>iras e canoas<br />

encalharem por falta <strong>de</strong> trafegabilida<strong>de</strong><br />

nos rios. E ver ainda isoladas centenas<br />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas. Tudo isso<br />

em plena bacia do maior rio do mun-<br />

do, o Amazonas. O quadro é um <strong>de</strong>-<br />

sastre ecológico. Mas foi quase o que<br />

aconteceu nos últimos quatro meses <strong>de</strong><br />

vazante (período <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida das águas)<br />

dos rios Ma<strong>de</strong>ira, Negro e Solimões -<br />

hidrovias para o acesso aos 62 muni-<br />

cípios do Amazonas.<br />

A seca, como dizem os caboclos,<br />

é a segunda maior dos últimos 32 anos<br />

no rio Negro. Em 1963 ele chegou a<br />

<strong>de</strong>scer 15 metros e 8 centímetros em<br />

relação ao nível do mar. Este ano, a<br />

vazante chegou a 13m64, e por ape-<br />

nas lm44 não atingiu a marca anteri-<br />

or, segundo dados do Instituto Nacio-<br />

nal <strong>de</strong> Meteorologia. Nessa região, os<br />

municípios <strong>de</strong> Novo Airão, Santa<br />

Izabel e São Gabriel <strong>de</strong> Cachoeira fo-<br />

ram os mais prejudicados.<br />

Na região do Ma<strong>de</strong>ira, os muni-<br />

cípios <strong>de</strong> Borba e Humaita ficaram<br />

quase isolados. No solimões a vazan-<br />

te foi mais grave e fez a prefeitura <strong>de</strong><br />

Caapiranga, a 145 km <strong>de</strong> Manaus, <strong>de</strong>-<br />

cretar estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública.<br />

"É a maior vazante do Solimões em<br />

30 anos", confirma Jaime Azevedo da<br />

Silva, conferente da Portobrás no mu-<br />

nicípio <strong>de</strong> Tabatinga.<br />

Localizada a 1.200 km <strong>de</strong><br />

SERTÃO<br />

as secam, viram grama,<br />

e <strong>de</strong>ságuam em tragédia<br />

Kátia Brasil<br />

Manaus, Tabatinga é entrada importan-<br />

te para as mercadorias vindas em na-<br />

vios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte do Equador pelo<br />

rio Putumayo (Amazonas) para Zona<br />

Franca <strong>de</strong> Manaus. Mas no auge da<br />

seca, dia 30 <strong>de</strong> outubro, a metragem<br />

do Solimões coletada foi <strong>de</strong> 46 centí-<br />

metros abaixo do nível do mar, impe-<br />

dindo até a locomoção <strong>de</strong> pequenas<br />

canoas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. "Com 3.600 km <strong>de</strong><br />

extensão no território do Amazonas a<br />

largura do Solimões nessa região é <strong>de</strong><br />

oito km em tempos <strong>de</strong> cheia e com a<br />

seca ficou reduzida a menos <strong>de</strong> 800<br />

metros e com apenas 1 metro <strong>de</strong> pro-<br />

fundida<strong>de</strong>", afirma Silva.<br />

O fenômeno da seca<br />

do Amazonas foi<br />

conseqüência <strong>de</strong> um<br />

bloqueio das frentes<br />

frias do pólo sul,<br />

normais nos períodos<br />

<strong>de</strong> julho e agosto,<br />

explica o chefe do I o<br />

Distrito <strong>de</strong><br />

Meteorologia do<br />

Amazonas, Veríssimo<br />

Farias <strong>de</strong> Assis.<br />

"O bloqueio <strong>de</strong>sviou as<br />

preciptações pluviométricas - as chu-<br />

vas (veja quadro) que equilibram a<br />

enchente e a vazante em nossa região.<br />

Então houve um <strong>de</strong>svio negativo <strong>de</strong><br />

precipitações nesse período <strong>de</strong> vazan-<br />

te intensificando a seca nas calhas dos<br />

rios Ma<strong>de</strong>ira, Negro e Solimões", afir-


ma Assis, prevendo : o qua-<br />

dro já está começando a mu-<br />

dar com as chuvas <strong>de</strong>ste<br />

mês. Mas o início da cheia<br />

só ocorre mesmo a partir<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando os<br />

rios voltam a ter os níveis<br />

normais".<br />

Os lagos do Janauacá<br />

e Jaraqui, e o paraná <strong>de</strong><br />

Manaquiri que dão acesso<br />

fluvial para o médio<br />

solimões praticamente seca-<br />

ram <strong>de</strong>ixando mais <strong>de</strong> 10 mil<br />

habitantes isolados, sem<br />

água e luz nos municípios <strong>de</strong><br />

Manaquiri e Careiro-Casta-<br />

nho, a pelo menos 70 km <strong>de</strong><br />

Manaus. "Estamos andando<br />

uns 4 quilômetros para pe-<br />

gar um barco no Solimões, porque o<br />

nosso paraná impossibilita qualquer<br />

embarcação ancorar no porto", diz<br />

Antônio Carlos Alves, 42 anos, funci-<br />

onário do posto médico <strong>de</strong> Manaquiri,<br />

que já registrou três casos <strong>de</strong> hepatite<br />

e 13 <strong>de</strong> malária.<br />

De acordo com Alves, sacrifí-<br />

cio quem passa mesmo são os ribei-<br />

rinhos que moram distante dos ra-<br />

mais que ligam as comunida<strong>de</strong>s à BR<br />

319, outra via <strong>de</strong> acesso a Manaus.<br />

Muitos per<strong>de</strong>ram as lavouras <strong>de</strong> mi-<br />

lho, mandioca, melancia e hortaliças<br />

porque não tiveram como escoar a<br />

produção. "Os doentes chegaram<br />

aqui em re<strong>de</strong>s trazidas por 10 a 15<br />

homens cm longas caminhadas em<br />

Caapiranga: estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública.<br />

Manaquiri secou <strong>de</strong>ixando mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mii pessoas isoladas.<br />

meio da lama e capina. Foi o que<br />

restou do rio. Muitas escolas estão<br />

fechadas porque as crianças não con-<br />

seguem chegar lá".<br />

Morte <strong>de</strong> peixes - Foi também<br />

no paraná do Manaquiri que o Institu-<br />

to Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e Re-<br />

cursos Renováveis (Ibama) observou<br />

um dos <strong>de</strong>sastres ecológicos da vazan-<br />

te do Solimões. Milhares <strong>de</strong> peixes<br />

morreram pela falta <strong>de</strong> oxigênio e ele-<br />

vação da temperatura das águas, com-<br />

prometendo o ciclo <strong>de</strong> reprodução. "A<br />

mortalida<strong>de</strong> trará um <strong>de</strong>créscimo para<br />

as espécies, pois não vão se reprodu-<br />

zir o suficiente para repovoar os esto-<br />

ques afetados. E quem vai sentir os im-<br />

pactos nos próximos 10 anos é o ri-<br />

beirinho", afirma Leland Barroso, che-<br />

fe da Divisão <strong>de</strong> Fiscalização do<br />

Ibama.<br />

As espécies <strong>de</strong> peixes que con-<br />

seguem respirar em altas temperatu-<br />

ras <strong>de</strong> até 50 o C escapa da morte, mas<br />

são alvo dos pescadores, diz Barroso.<br />

Até a captura do peixe-boi, cuja pesca<br />

é proibida por lei pelo risco <strong>de</strong><br />

Desequilíbrio das chuvas<br />

De acordo com o Instituto <strong>de</strong><br />

Meteorologia, o bloqueio das frentes fri-<br />

as do pólo sul ocasionou a gran<strong>de</strong> va-<br />

zante nos rios do Amazonas. Os técni-<br />

cos não acertaram as previsões. Os nú-<br />

meros mostram os <strong>de</strong>sequilíbrios das<br />

precipitações pulviométricas.<br />

Chuvas cm:<br />

JUNHO<br />

previsão: 87.5 mm<br />

só choveu: 76.9mm<br />

AGOSTO<br />

previsão: 57.9mm<br />

só choveu: 34.2mm<br />

SETEMBRO<br />

previsão: 83,3mm<br />

só choveu: 72.4mm<br />

OUTUBRO<br />

previsão: 125.7mm<br />

só choveu: Sl.OOmm<br />

Fonte: Primeiro Distrito <strong>de</strong><br />

Meteorologia do Amazonas


So ei cii í<br />

mmv ms<br />

tm como um<br />

tmmfonmiu m<br />

abalou o paul<br />

Fernando Graf<br />

TT<br />

Guíia<br />

extinção, voltou nos tempos <strong>de</strong> vazan-<br />

te. Em outubro, seis foram apreendi-<br />

dos vivos pelos fiscais e retomaram aos<br />

lagos do Piranha. Quatrocentos quilos<br />

<strong>de</strong> came foram doadas a instituições<br />

<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />

Conforme dados do Ibama, que<br />

mobilizou 40 fiscais em operações no<br />

Amazonas, a pesca predatória do pi-<br />

rarucu e do tambaqui aumentou em<br />

30% nesse ano em ralação a 1994. E<br />

a maior parte <strong>de</strong>sses peixes estavam<br />

em ida<strong>de</strong> imatura para a comercializa-<br />

ção. Por lei o pirarucu tem que atingir<br />

1 metro e 50 centímetros para ser pes-<br />

cado e o tambaqui 55 centímetros.<br />

"Isso não é respeitado. Como medida<br />

urgente para impedir o <strong>de</strong>créscimo das<br />

espécies, a partir <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

zembro a pesca comercial do tamba-<br />

qui e do pirarucu ficará proibida por<br />

dois anos", revela Barroso.<br />

As chuvas <strong>de</strong>ste início <strong>de</strong> mês<br />

começam a cair na calha dos rio Soli-<br />

mões e po<strong>de</strong>m por fim aos estragos<br />

causados pela gran<strong>de</strong> vazante nos mu-<br />

nicípios <strong>de</strong> Manacapuru, Manaquiri,<br />

Anama, Anori, Tefé e Tabatinga. Mas<br />

em Caapiranga, a 145 quilômetros <strong>de</strong><br />

Manaus, o estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pú-<br />

blica <strong>de</strong>cretada pela Prefeitura conti-<br />

nua. Lá o acesso a se<strong>de</strong> do município<br />

só é possível através <strong>de</strong> pequenas ca-<br />

noas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. São mais <strong>de</strong> 10 mil<br />

habitantes sem água e luz.<br />

Os telefones não funcionavam.<br />

A agricultura forte foi completamente<br />

prejudicada. "Nossas estradas nunca<br />

acabaram. E hoje para chegar no mu-<br />

nicípio mais próximo que é Manaca-<br />

puru é necessário mais <strong>de</strong> 15 horas <strong>de</strong><br />

viagem <strong>de</strong> motor. O que sobra pra gen-<br />

te é pedir a Deus que nos salve do<br />

pior", disse o agricultor José Raimun-<br />

do, que chegou ao porto <strong>de</strong> Manaus<br />

com a produção <strong>de</strong> banana para co-<br />

mercialização após enfrentar 2 dias <strong>de</strong><br />

viagem. Em período normal, a vinda à<br />

capital é feita em 6 horas. "É difícil<br />

levar até o gás <strong>de</strong> cozinha para casa.<br />

Quem tem barco <strong>de</strong> linha também tá<br />

no prejuízo, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> setembro não<br />

tem jeito <strong>de</strong> chegar a Caapiranga"<br />

O Exército e o Governo do<br />

Amazonas já levaram para Caapiran-<br />

ga e Manaquiri em helicópteros 20 to-<br />

neladas <strong>de</strong> alimentos e remédios. É<br />

<strong>de</strong>ver do Estado equacionar o proble-<br />

ma e encontrar soluções capazes <strong>de</strong><br />

assegurar a sobrevivência <strong>de</strong>ssas fa-<br />

mílias, disse Amazonino Men<strong>de</strong>s, go-<br />

vernador do Amazonas.<br />

Mas a assistência, que só che-<br />

gou dois meses após o isolamento <strong>de</strong><br />

muitas comunida<strong>de</strong>s, recebeu protes-<br />

to dos moradores <strong>de</strong> Anori, a 100 qui-<br />

lômetros <strong>de</strong> Manaus. "Nós não temos<br />

medicamentos, já tivemos um caso <strong>de</strong><br />

cólera e ninguém vem aqui para mos-<br />

trar a nossa situação na televisão", diz<br />

Maria Batista Veras, 44 anos, auxiliar<br />

<strong>de</strong> enfermagem do posto médico <strong>de</strong><br />

Anori, que nas horas difíceis faz papel<br />

<strong>de</strong> médica, ganhando salário <strong>de</strong> R$<br />

122,00 por mês.


wmmmm<br />

ihikaok<br />

1 yí criançu e o ado-<br />

I lescente têm direito<br />

l « proteção à vida e<br />

m<br />

1 á saú<strong>de</strong>, mediante<br />

j


A Criança e o adolescente<br />

têfn direité à liberda<strong>de</strong>, ao<br />

respeito e à dignida<strong>de</strong><br />

como pessoas humanas em<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimen-<br />

to e como sujeitos <strong>de</strong> direi-<br />

tos civis, humanos e soci-<br />

ais garantidos na Consti-<br />

tuição e nas leis. (Ari XVII,<br />

capitulo I, titulo II)<br />

A Criança, e o adolescente<br />

têm direito à educação, vi-<br />

sando ao pleno <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento da sua pessoa, pre-<br />

paro para o exercício da ci-<br />

dadania e qualificação<br />

para o trabalho. (Art. LIII,<br />

capítulo IV, título II)


:■■.■ ;■ ■:■:■■■ .<br />

Ê proibido qualquer traba-<br />

lho a menores <strong>de</strong> quatorze<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, [salvo na con-<br />

dição <strong>de</strong> aprendiz. (Art. LX,<br />

capítulo V, título II)<br />

■<br />

E <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos prevenir a<br />

ocorrência <strong>de</strong> ameaça e vi-<br />

olação dos direitos da crian-<br />

çae do adolescente. (Art.<br />

LXX, capítulo I, título III)<br />

m<br />

A criança e o adolescente<br />

têm direito à informação,<br />

cultura, lazer, esportes, di-<br />

versões, espetáculos e produ-<br />

tos e serviços que respeitem<br />

a sua condição peculiar <strong>de</strong><br />

pessoa em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

(Art. LXXI, capítulo I, título<br />

iii)':


3<br />

o<br />

o<br />

si<br />

íilil<br />

% v/<br />

o<br />

u<br />

,:•■■:■<br />

¥:■:::;:■•<br />

' ii ::<br />

i: ::.,<br />

:■:■: ■<br />

Qma<br />

Atrás do paraíso<br />

Textt) e Fntns: f.uciana Miranda<br />

Moradores, uma ONG e o Ibama enfrentam dificulda<strong>de</strong>s no Amazonas<br />

As águas cor <strong>de</strong> café do Rio Ne-<br />

gro emprestam sua tonalida<strong>de</strong> ao<br />

. Jaú, um rio com cerca <strong>de</strong> 450<br />

km <strong>de</strong> extensão, que começa e termi-<br />

na na maior reserva florestai do país,<br />

o Parque Nacional do Jaú. São 2 mi-<br />

lhões 272 mil hectares ou 23 mil 353<br />

km 2 - uma área maior que o Estado <strong>de</strong><br />

Sergipe. O percurso pelo rio é uma via-<br />

gem a um Brasil on<strong>de</strong> o dinheiro ainda é<br />

pouco utilizado e a luz elétrica pratica-<br />

mente não existe. A maioria dos mil ha-<br />

bitantes do Parque, localizado a 200 km<br />

<strong>de</strong> Manaus em linha reta, nunca foi à es-<br />

cola e vive sem posto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional do Par-<br />

que, segundo levantamentos do Insti-<br />

para proteger o maior parque nacional do país<br />

tuto Nacional <strong>de</strong> <strong>Pesquisa</strong>s da Ama-<br />

zônia (Inpa), é a menor do mundo:<br />

0,04% por km2. Um estudo sócio-eco-<br />

nômico realizado em 1992 pela Fun-<br />

dação Vitória Amazônica, uma orga-<br />

nização não-govemamental que reali-<br />

za pesquisas na Bacia do Rio Negro,<br />

revelou muitos dados e histórias sobre<br />

moradores do Jaú.<br />

Na parte mais alta do rio, o último<br />

morador se espantou ao ver o pequeno<br />

barco que trazia a bióloga Regina Oli-<br />

veira. Quase ninguém, em 40 anos, com<br />

exceção <strong>de</strong> um ou dois regatões (ven<strong>de</strong>-<br />

dores que percorrem os rios parando <strong>de</strong><br />

casa em casa), chegou naquele ponto do<br />

Jaú. A bióloga era uma das integrantes<br />

da equipe <strong>de</strong> pesquisadores da Funda-<br />

ção. Regina perguntou se ele já havia<br />

saído algum dia daquela área; o mora-<br />

dor suspirou e disse que sim, mas há 40<br />

anos. Ele sentia sauda<strong>de</strong>s do pão com<br />

manteiga e do café com leite que sempre<br />

tomava quando ia a Manaus. E disse<br />

também que nunca mais havia comido<br />

arroz, "Você tem um pouco aí, moça ? ,<br />

perguntou.<br />

Criado em 1980 pelo Decreto-lei<br />

85.200 e localizado nos municípios <strong>de</strong><br />

Novo Airão e Barcelos, o Parque do<br />

Jaú foi assim chamado por ficar na<br />

bacia do rio Jaú, que é nome <strong>de</strong> um<br />

dos maiores peixes brasileiro e vem do<br />

tupi ya 'ú.


Apelidos também não<br />

faltam. Os<br />

pesquisadores, até bem<br />

pouco tempo,<br />

chamavam-no <strong>de</strong><br />

"Parque <strong>de</strong> Papel": foi<br />

<strong>de</strong>senhado no mapa,<br />

registrado como uma<br />

área protegida, mas<br />

abandonado à própria<br />

sorte pelo Governo<br />

fe<strong>de</strong>ral.<br />

Pela legislação brasileira, que segue<br />

o mo<strong>de</strong>lo norte-americano, não po<strong>de</strong>-<br />

ria haver moradores no parque. Mas o<br />

Ibama não teve força política, dinhei-<br />

ro e funcionários suficientes para tirá-<br />

los <strong>de</strong> lá. Um grupo <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, en-<br />

tre as quais o Inpa e a Fundação Vitó-<br />

ria Amazônica, está lutando para man-<br />

ter os moradores do Jaú. Defen<strong>de</strong>m<br />

que a população po<strong>de</strong> ajudar o Ibama<br />

na fiscalização e manutenção da fauna<br />

e da flora e querem que ela seja inte-<br />

grada a um projeto ambientalista, como<br />

vem ocorrendo na estação Ecológica<br />

ulheres:<br />

vida dura<br />

A população do Parque Nacional do Jaú é predo-<br />

minantemente jovem. Dos mil habitantes, cerca <strong>de</strong> 600<br />

têm entre 15 e 20 anos. No entanto, aos 8 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

as crianças já começam a trabalhar com os pais. Aos 16<br />

anos, as adolescentes começam a ter filhos, constituin-<br />

do novas famílias.<br />

As mulheres do Parque do Jaú pegam no pesado.<br />

Além <strong>de</strong> cuidar da casa e das crianças, elas geralmente<br />

são responsáveis pela roça. Sabem pescar, caçar, tirar<br />

cipó da mata e <strong>de</strong>sfiá-lo para ven<strong>de</strong>r. Francisca Viana<br />

<strong>de</strong> Almeida, <strong>de</strong> 55 anos é um exemplo . O marido se<br />

feriu cortando cipó, ficou cego <strong>de</strong> um olho e com pro-<br />

blemas <strong>de</strong> coluna. Dona Francisca teve que cuidar sozi-<br />

<strong>de</strong> Mamirauá, também no Amazonas.<br />

"Com essa legislação, o governo<br />

cria um problema social e político e<br />

não consegue preservar o ecossistema"<br />

raciocina o biólogo e diretor da FVA,<br />

Carlos Miler. Em 1993 foi firmado um<br />

convênio <strong>de</strong> co-gestão entre a FVA e<br />

o Ibama. Objetivo: apoiar as ações <strong>de</strong><br />

vigilância, fiscalização, administração,<br />

pesquisa, educação ambiental e mane-<br />

jo do Parque Nacional do Jaú.<br />

Os recursos para pesquisa e ativi-<br />

da<strong>de</strong>s complementares, estimados em<br />

U$ 300 mil por ano, estão sendo for-<br />

necidos pela Comunida<strong>de</strong> Econômica<br />

Européia, Fundo Mundial para a Na-<br />

tureza (WWF) e o próprio Ibama.<br />

Em 1988, o governo fe<strong>de</strong>ral provi-<br />

<strong>de</strong>nciou a transferência <strong>de</strong> recursos do<br />

projeto Calha Norte no valor <strong>de</strong> 480<br />

mil cruzados novos - a moeda da épo-<br />

ca - para in<strong>de</strong>nização das famílias.<br />

Entretanto, os moradores do Parque,<br />

apoiados pela prefeitura <strong>de</strong> Novo<br />

Airão, avaliaram que o valor das in<strong>de</strong>-<br />

nizações não era satisfatório e não acei-<br />

taram sair. "Se a in<strong>de</strong>nização fosse boa<br />

não tinha mais ninguém aqui" , <strong>de</strong>duz<br />

Bernaldo Meruoca, um dos morado-<br />

res mais antigos.<br />

Mas nem todos têm a mesma opi-<br />

nião. Leonardo Queirós, pai <strong>de</strong> 7 fi-<br />

lhos e morador do Parque há 28 anos,<br />

acredita que sua família morreria <strong>de</strong><br />

fome na cida<strong>de</strong>. "Do trabalho da mata<br />

a gente sabe tudo. Sabe tirar ma<strong>de</strong>ira,<br />

fazer roça, pegar peixe. Mas na cida-<br />

<strong>de</strong> precisa ter profissão".<br />

Existem apenas quatro escolas pú-<br />

blicas no Parque Nacional do Jaú,<br />

mantidas pela prefeitura <strong>de</strong> Barcelos e<br />

concentradas no Rio Unini. A taxa <strong>de</strong><br />

nha dos 13 filhos, da roça, da casa e, evi<strong>de</strong>ntemente, do<br />

marido. Dois <strong>de</strong> seus filhos morreram afogados e os<br />

corpos estão enterrados ao lado da casa. "Foi o boto",<br />

diz com a natural superstição amazônica.<br />

Com tanto trabalho e sem usar métodos anticoncep-<br />

cionais, as mulheres do Parque envelhecem cedo. "Se a<br />

mulher tem muitos filhos é porque Deus quer", <strong>de</strong>fine João<br />

Meruoca, morador do Parque há mais <strong>de</strong> 30 anos. "O ruim<br />

é que ela fica logo velha e feia", completa. O irmão <strong>de</strong><br />

João, Francisco, prefere fazer uma análise econômica da<br />

questão. " Filha mulher é mais prejuízo para os pais. Ela<br />

sai logo <strong>de</strong> casa para casar. Nem dá tempo <strong>de</strong> pagar a cri-<br />

ação com o trabalho na roça", lamenta. (L.M.)<br />

Cuira


Cuíia<br />

analfabetismo entre os moradores é <strong>de</strong><br />

74%. O ensino se restringe às primei-<br />

ras séries <strong>de</strong> 1° grau e não há educa-<br />

ção pré-escolar. Existem cerca <strong>de</strong> 274<br />

crianças em ida<strong>de</strong> escolar - <strong>de</strong> 6 a 14<br />

anos - no parque. Destas, apenas 36%<br />

freqüentam a escola.<br />

A Fundação Vitória Amazônica<br />

também <strong>de</strong>senvolve ativida<strong>de</strong>s educa-<br />

tivas. Constrói, no município <strong>de</strong> Novo<br />

Airão, uma Associação <strong>de</strong> Artesãos e<br />

um clubinho ecológico para crianças<br />

<strong>de</strong> 5 a 15 anos, com oficinas <strong>de</strong> teatro,<br />

corte-costura, marcenaria e alfabetiza-<br />

ção. O objetivo é conscientizar as cri-<br />

anças sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preser-<br />

var o meio ambiente e viabilizar ativi-<br />

da<strong>de</strong>s econômicas para os adultos.<br />

A população do Parque ainda <strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> regatões como fornecedores<br />

<strong>de</strong> mercadorias e paga com produtos<br />

extrativistas. A principal fonte <strong>de</strong> ren-<br />

dimento dos moradores é a extração<br />

<strong>de</strong> cipó, castanha, borracha e copaíba.<br />

O cultivo <strong>de</strong> mandioca e banana tam-<br />

bém contribui para aumentar o orça-<br />

mento familiar. Homens, às vezes tam-<br />

bém as mulheres, saem em pequenas<br />

canoas por volta <strong>de</strong> quatro horas da<br />

manhã e entram pelos furos dos rios<br />

até alcançar os cipozeiros. Um homem<br />

consegue cortar e carregar até 25 qui-<br />

los <strong>de</strong> cipó. A volta para casa é por<br />

volta <strong>de</strong> duas da tar<strong>de</strong>. Para <strong>de</strong>sfiar um<br />

quilo <strong>de</strong> cipó, leva-se em média duas<br />

horas - tarefa geralmente dada às mu-<br />

lheres e crianças.<br />

Segurança <strong>de</strong><br />

Faz-<strong>de</strong>-Conta<br />

Praticamente não existe fiscalização<br />

no Parque Nacional do Jaú. São ape-<br />

nas três vigias <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> se-<br />

gurança privada contratados pelo<br />

Ibama. Segundo os registros da admi-<br />

nistração do Parque, nos últimos três<br />

anos somente três operações foram<br />

efetuadas na área.<br />

O superinten<strong>de</strong>nte do Ibama no<br />

Amazonas, Amilton Casara, disse<br />

que o Instituto <strong>de</strong>ve adquirir ainda<br />

esse ano algumas viaturas e barcos<br />

para fiscalização do Parque. Além<br />

disso, o órgão preten<strong>de</strong> contratar<br />

mais três fiscais. Os moradores <strong>de</strong>-<br />

nunciam que muitas pessoas <strong>de</strong> fora<br />

vão caçar e pescar no Parque. Para<br />

driblar a fiscalização, passam por<br />

"furos" - áreas <strong>de</strong> floresta alagada,<br />

formadas no período <strong>de</strong> cheia dos<br />

tivida<strong>de</strong>s<br />

rotina no maioi<br />

Comerciantes ou "geladores",<br />

como também são chamados, cap-<br />

turam peixes ornamentais e pirarucu<br />

em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s, no Jaú,<br />

para vendê-los na capital. Entre 1975<br />

a 1988, <strong>de</strong> 10 a 20 milhões <strong>de</strong> pei-<br />

xes ornamentais foram exportados<br />

anualmente por Manaus.<br />

Outro problema grave, que vem<br />

chamando a atenção dos pesquisa-<br />

dores e do Ibama, é a captura ilegal<br />

<strong>de</strong> quelônios, especialmente tartaru-<br />

gas e tracajás. Comerciantes da ca-<br />

pital e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s próximas, como<br />

Novo Airão, entram no Parque e le-<br />

vam indiscriminadamente ovos, fi-<br />

lhotes e bichos adultos para serem<br />

vendidos em Manaus, on<strong>de</strong> a carne<br />

<strong>de</strong> quelônio é muito apreciada. Al-<br />

guns moradores ajudam na captura<br />

ilegal, como fonte adicional <strong>de</strong> ren-<br />

da. O preço <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> um bicho<br />

<strong>de</strong> casco po<strong>de</strong> chegar a R$ 5,00 <strong>de</strong>n-<br />

rios. "Um barco estranho entra e a<br />

gente não po<strong>de</strong> fazer nada. Se eu ti-<br />

vesse uma or<strong>de</strong>m por escrito, igual<br />

a dos guardas do Ibama, pedia para<br />

eles saírem", diz o morador Leonar-<br />

do Queirós.<br />

No Brasil existem 35 parques, en-<br />

tre nacionais e estaduais, mas o<br />

Ibama só possui 722 fiscais. Cada um<br />

<strong>de</strong>sses funcionários "protege" 441<br />

km2. No Amazonas, só existem 13<br />

fiscais. Por isso, apenas cinco das 56<br />

áreas <strong>de</strong> preservação existentes na-<br />

quele estado são fiscalizadas. Lá,<br />

cada fiscal é responsável, em média,<br />

por 10,8 km 2 .<br />

Animais em extinção<br />

são "moradores" do<br />

parque<br />

Em julho do próximo ano, a<br />

Fundação Vitória Amazônica terá<br />

<strong>de</strong> entregar ao Ibama um plano <strong>de</strong><br />

manejo para o Parque, <strong>de</strong>finindo


edatórias são<br />

parque do país<br />

tro do Parque. Por um quilo <strong>de</strong> cipó,<br />

os moradores não conseguem mais<br />

que R$ 0,80. Por ser uma ativida<strong>de</strong><br />

proibida pelo Ibama, os moradores<br />

negam a participação no comércio<br />

<strong>de</strong> quelônios. "Quando era penuiti-<br />

do nós vendia tracajá e cabeçuda pra<br />

ajudar a comprar o rancho (manti-<br />

mentos). Agora a gente só pega pra<br />

comer", diz Francisco Meruoca, 31<br />

anos, que nasceu e vive no Parque.<br />

A extração ilegal <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira tam-<br />

bém ocorre com freqüência no Par-<br />

que do Jaú. As áreas próximas ao<br />

rio Unini, on<strong>de</strong> não existe fiscaliza-<br />

ção do Ibama, são as mais atingidas.<br />

A Fundação Vitória Amazônica ca-<br />

talogou 21 espécies <strong>de</strong> árvores utili-<br />

zadas para fins comerciais. A<br />

Acariquara, utilizada como poste e<br />

esteio, e a Itaúba, utilizada na cons-<br />

trução naval, são as mais explora-<br />

das. (LM.)<br />

áreas para pesquisas, turismo e<br />

moradia.<br />

O plano <strong>de</strong> manejo vai <strong>de</strong>finir<br />

quais ativida<strong>de</strong>s, e exercidas por<br />

quem, po<strong>de</strong>m ser admitidas no<br />

parque. A etapa mais importante<br />

é o zoneamento, para <strong>de</strong>limitar as<br />

áreas intocáveis (exclusivas), <strong>de</strong><br />

manejo (uso estritamente científi-<br />

co), <strong>de</strong> lazer e recreação (hotéis,<br />

barcos, serviços, campings) e <strong>de</strong><br />

uso coletivo (comunida<strong>de</strong>s, esco-<br />

las, postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e do Ibama).<br />

De 1990 para cá, já foram cata-<br />

logadas 400 espécies <strong>de</strong> aves no<br />

A<br />

CRIAÇÕES<br />

Sm MELHOR OPCãO<br />

Parque Nacional do Jaú. A espécie<br />

Nonnula amaurocephala, um pe-<br />

queno joão-bobo, não era observa-<br />

da <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1936 e foi encontrada no<br />

Parque em 93. Cientificamente, essa<br />

espécie era consi<strong>de</strong>rada extinta.<br />

Foram também catalogadas 400<br />

espécies <strong>de</strong> plantas e 263 <strong>de</strong> pei-<br />

xes. Macaco-prego, sussuarana<br />

(onça), peixe-boi, capivara e cotia<br />

são as principais espécies animais<br />

do Parque. As pesquisas realiza-<br />

das pela Fundação Vitória Amazô-<br />

nica, Inpa e Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Amazonas já possibilitaram a<br />

catalogação <strong>de</strong> 38 espécies <strong>de</strong> an-<br />

fíbios, 22 lagartos, 31 <strong>de</strong> serpen-<br />

tes, 10 <strong>de</strong> quelônios e quatro ja-<br />

carés. Algumas, como o jacaré-<br />

açu, a tartaruga da Amazônia, a<br />

onça-pintada e o gavião real, es-<br />

tão ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

Amilton Casara, superinten<strong>de</strong>nte do Ibama no Amazonas<br />

Parques Nacionais:<br />

o que são e como<br />

surgiram<br />

1. Os parques nacionais foram cria-<br />

dos com base na Lei 4.771 (1965) e na<br />

Lei <strong>de</strong> Proteção à Faunan 0 5.197 (1967).<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> parque nacional surgiu<br />

em 1979, através do Decreto 84.017,<br />

quando foi aprovado o Regulamento dos<br />

Parques Nacionais Brasileiros. Eles pas-<br />

saram a ser <strong>de</strong>finidos como extensas áre-<br />

as contendo atributos excepcionais da<br />

natureza. Essas áreas são <strong>de</strong>terminadas<br />

pelo Po<strong>de</strong>r Público para garantir a pro-<br />

teção integral da flora e da fauna silves-<br />

tres, dos solos, das águas e das belezas<br />

cênicas, com objetivos científicos, edu-<br />

cacionais, recreativos e culturais. E livre<br />

<strong>de</strong> moradores. (L.M.)<br />

Promova sua entida<strong>de</strong> usando brin<strong>de</strong>s.<br />

Uma alternativa para qualquer<br />

época do ano.<br />

oamisas • bonés • a<strong>de</strong>sivos<br />

flanelas • mochilas ,<br />

Trav. 14 <strong>de</strong> Abril, 1711 ( entre Gentil e Conselheiro) * ® 249- t f 74<br />

Cuíra


5<br />

I<br />

IÃ<br />

III<br />

III<br />

<<br />

s<br />

o<br />

IU<br />

ÍNDIOS<br />

Demarcação com<br />

suslentabílída<strong>de</strong><br />

Experiêncio no Amapá quer aperfeiçoar futuras <strong>de</strong>marcações<br />

<strong>de</strong> ferras indígenas na Amazônia<br />

A preocupação com a sustentabi-<br />

lida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>marcação das áreas<br />

indígenas surgiu no Brasil, di-<br />

ante da evidência <strong>de</strong> que a <strong>de</strong>marca-<br />

ção física - um conjunto <strong>de</strong> procedi-<br />

mentos técnicos que materializam in<br />

loco os contornos da área <strong>de</strong>limitada -<br />

não vem garantindo aos índios o usu-<br />

fruto exclusivo dos bens naturais que<br />

vicejam na área, conforme prevê a<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Na maior parte<br />

dos casos, as áreas indígenas legalmen-<br />

te <strong>de</strong>marcadas estão invadidas por pre-<br />

dadores <strong>de</strong> seus recursos naturais. Esse<br />

<strong>de</strong>scompasso é, sobretudo, produto<br />

das ambigüida<strong>de</strong>s que permeiam as po-<br />

líticas públicas para o índio no país: o<br />

mesmo governo que encena, a caneta-<br />

das, a respeito da legislação vigente,<br />

exime-se das medidas que efetivariam<br />

suas <strong>de</strong>cisões, como, por exemplo,<br />

dotar os órgãos oficiais (Funai e Iba-<br />

ma) <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para executar a fis-<br />

calização e a repressão à intrusão.<br />

No Amapá, uma experiência con-<br />

testatória a esse mo<strong>de</strong>lo está em cur-<br />

so. A <strong>de</strong>marcação da área indígena<br />

Waíãpí - com 583 mil hectares encra-<br />

vados na <strong>de</strong>nsa floresta equatorial do<br />

oeste do Estado - quer transcen<strong>de</strong>r a<br />

mera <strong>de</strong>marcação, garantindo a susten-<br />

tabilida<strong>de</strong> futura da posse da terra pe-<br />

los índios, através <strong>de</strong> medidas que não<br />

só superem o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>marcatório<br />

convencional mas, ao mesmo tempo,<br />

lhes restitua a autonomia socio-econô-<br />

mica perdida em contato com o bran-<br />

co.<br />

Entre os Waíãpí, a crônica disputa<br />

entre os índios e predadores <strong>de</strong> bens<br />

indígenas se repetiu num passado re-<br />

lativamente recente. Des<strong>de</strong> a década<br />

<strong>de</strong> 70, hordas <strong>de</strong> garimpeiros invadi-<br />

am as terras historicamente ocupadas<br />

por esses índios,<br />

atrás do ouro <strong>de</strong><br />

seus rios. Em<br />

1973, a Funai em-<br />

preen<strong>de</strong>u uma<br />

frente <strong>de</strong> atração<br />

para <strong>de</strong>sobstruir o<br />

caminho da Peri-<br />

metral Norte da<br />

presença indígena.<br />

Obe<strong>de</strong>cendo à si-<br />

nistra cartilha po-<br />

lítica dos generais,<br />

o órgão indigenis-<br />

ta investiu na se-<br />

<strong>de</strong>ntarização <strong>de</strong>s-<br />

se povo <strong>de</strong> língua<br />

Tupi, reünindo-o em tomo <strong>de</strong> um "pos-<br />

to <strong>de</strong> assistência". Atrás dos sertanis-<br />

tas, vieram tratores e escava<strong>de</strong>iras,<br />

novos contingentes <strong>de</strong> garimpeiros e<br />

levas <strong>de</strong> pequenos agricultores, uma<br />

missão fundamentalísta americana<br />

(Missão Novas Tribos do Brasil), a<br />

malária, a gripe, a tuberculose e a con-<br />

juntivite.<br />

O contato oficial com os Waiãpi<br />

seguiu à risca o mo<strong>de</strong>lo consagrado<br />

pela política indigenista oficial da épo-<br />

ca. Primeiro, <strong>de</strong>stitui-se os índios <strong>de</strong> suas<br />

terras, através da criação <strong>de</strong> postos fixos<br />

<strong>de</strong> atração e assistência. Postos instala-<br />

dos, põe-se em prática mecanismos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência, com o objetivo <strong>de</strong> quebrar<br />

o mo<strong>de</strong>lo indigenista baseado na circu-<br />

lação por vastas áreas. Por fim, livres<br />

da in<strong>de</strong>sejável presença indígena, as<br />

"terras sem homens" po<strong>de</strong>m servir,<br />

então, aos objetivos do Estado. Pou-<br />

cos anos <strong>de</strong>pois do contato, os Waiãpi<br />

chegaram a ser consi<strong>de</strong>rados uma et-<br />

nia nos limites <strong>de</strong> extinção.<br />

No entanto, menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos fo-<br />

ram o suficiente para revelar aos índí-<br />

Marco Gonçalves (AEN)<br />

Li<strong>de</strong>ranças Waiãpi discutem os limites <strong>de</strong> sua área sobre um mapa da Funai.<br />

os que a concentração populacional<br />

imposta pelos brancos era inimiga <strong>de</strong><br />

sua sobrevivência física e cultural. Por<br />

iniciativa <strong>de</strong> alguns lí<strong>de</strong>res, a se<strong>de</strong>nta-<br />

rização, que lhes legou gran<strong>de</strong>s per-<br />

das territoriais, passou a ser abando-<br />

nada e, aos poucos, o modo tradicio-<br />

nal <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong>scentralizada foi<br />

retomado. Em 1976, o projeto da Pe-<br />

rimetral Norte malogrou por alegada<br />

falta <strong>de</strong> verbas.<br />

Hoje, o posto da Funai se converteu<br />

em uma das 13 al<strong>de</strong>ias existentes e a pre-<br />

sença missionária está na iminência <strong>de</strong> ser<br />

extirpada da área. Os Waiãpi assumiram<br />

também a tarefa <strong>de</strong> expulsar os garimpei-<br />

ros e outros intrusos <strong>de</strong> suas terras e ze-<br />

lam autonomamente pela vigilância dos<br />

pontos mais assediados. O artesanato, ati-<br />

vida<strong>de</strong> muito estimulada na época do con-<br />

tato, por seu caráter se<strong>de</strong>ntário, passou a<br />

ser uma das várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pro-<br />

dução econômica indígena. As iniciativas<br />

Waiãpi traduziam, assim, um novo ânimo,<br />

expresso na <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus<br />

chefes: "temos que fazer tudo sozinhos".<br />

Como fora no passado.


Controle territorial autônomo<br />

A reativação da ocupação tradicio-<br />

nal foi, sem dúvida, o capítulo mais<br />

importante na volta por cima dos índi-<br />

os Waiãpi. A partir <strong>de</strong> 1989, seus lí<strong>de</strong>-<br />

res iniciaram a saga pela <strong>de</strong>marcação<br />

da área e começaram a reclamar à Fu-<br />

nai, a fim <strong>de</strong> assegurar a posse legal do<br />

território. Ao mesmo tempo, na aventu-<br />

ra <strong>de</strong> fiscalizar os pontos cobiçados pe-<br />

los garimpeiros, acabaram por experi-<br />

mentar a faiscação manual do ouro <strong>de</strong><br />

aluvião <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas terras.<br />

O contato com o garimpo engen-<br />

drou uma alternativa às ativida<strong>de</strong>s pro-<br />

dutivas tradicionais. Necessitados <strong>de</strong><br />

alguns dos bens aos quais foram acos-<br />

tumados nos anos seguintes ao conta-<br />

to e, sabedores da liqui<strong>de</strong>z monetária<br />

do ouro, os índios saíram em busca <strong>de</strong><br />

novas grotas e a faiscação foi amplia-<br />

da. Zelosos pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu meio<br />

ambiente, buscaram assessoria exter-<br />

na e eliminaram o mercúrio da técnica<br />

<strong>de</strong> garimpagem. Atualmente, cerca <strong>de</strong><br />

um terço dos grupos familiares Waiãpi<br />

se <strong>de</strong>dicam à ativida<strong>de</strong> garimpeira sazo-<br />

nal, já completamente integrada ao ciclo<br />

econômico interno. Com a garimpagem,<br />

fiscalização e extrativismo mineral tor-<br />

naram-se facetas <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong><br />

controle territorial, o que vem assegu-<br />

rando o <strong>de</strong>sintrusamento da área e<br />

abreviando o caminho em direção à<br />

emancipação do assistencialismo <strong>de</strong>-<br />

pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outrora.<br />

No entanto, as iniciativas Waiãpi<br />

não repercutiram nos gabinetes <strong>de</strong> Bra-<br />

silia. Por estar na faixa <strong>de</strong> fronteira e<br />

por <strong>de</strong>ter um subsolo percorrido por<br />

diversos veios minerais, a <strong>de</strong>cisão pela<br />

<strong>de</strong>marcação esbarrou em entraves po-<br />

líticos até 1993 quando, cansados <strong>de</strong><br />

esperar, os índios resolveram tomar<br />

nas mãos a <strong>de</strong>marcação física dá área.<br />

Para ajudá-los nos trabalhos técnicos,<br />

chamaram o <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Trabalho Indi-<br />

genista (CTI), uma ONG <strong>de</strong> São Pau-<br />

lo, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1990 vem asssessoran-<br />

do essa etnia na luta por sua emanci-<br />

pação político-econômica.<br />

Convite feito, convite aceito. Nego-<br />

ciações com a Funai foram iniciadas<br />

visando a assinatura <strong>de</strong> um convênio<br />

<strong>de</strong> cooperação técnica, até que a Agên-<br />

cia Brasileira <strong>de</strong> Cooperação, ligada ao<br />

Itamarati, encaminhou uma solicitação<br />

à República Fe<strong>de</strong>ral da Alemanha para<br />

financiar, como <strong>de</strong>marcação piloto no<br />

âmbito do PP-G7, os trabalhos da Área<br />

Indígena Waiãpi. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1993, representantes da Funai, do CTT<br />

e da agência financiadora alemã (GTZ)<br />

reuniram-se cOm os Waiãpi para plane-<br />

jar a <strong>de</strong>marcação e, no mês seguinte, a<br />

primeira parcela do financiamento foi<br />

repassada.<br />

Por consenso, <strong>de</strong>cidiu-se que a pro-<br />

posta <strong>de</strong>veria exce<strong>de</strong>r a mera fixação<br />

<strong>de</strong> marcos e placas nos limites da área,<br />

evoluindo para a implementação <strong>de</strong><br />

medidas que legassem a inviolabilida-<br />

<strong>de</strong> futura dos limites da área. A <strong>de</strong>-<br />

marcação, também pelo envolvimento<br />

dos diversos grupos familiares, <strong>de</strong>man-<br />

daria mais tempo e mais recursos que<br />

uma <strong>de</strong>marcação convencional. Mas<br />

importava, nesse momento, mais os<br />

resultados concretos do empreendime-<br />

to do que o placar geral das <strong>de</strong>marca-<br />

ções <strong>de</strong> terras indígenas na Amazônia.<br />

Uma a mais, <strong>de</strong>certo, e com sustenta-<br />

bilida<strong>de</strong> garantida.<br />

Demarcação e mitologia<br />

O entrelaçamento das ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas e <strong>de</strong> controle territorial com<br />

a <strong>de</strong>marcação da área indígena Waiãpi<br />

é o traço distintivo do Projeto <strong>de</strong> De-<br />

marcação Waiãpi (PDW). A dinâmica<br />

<strong>de</strong> ocupação dispersa, sobre a qual os<br />

grupos Waiãpi se apoiam, não tem sido<br />

alterada pela <strong>de</strong>marcação. Ao contrá-<br />

rio, estimulados a circular até os pon-<br />

tos mais distantes da área, os Waiãpi<br />

vêm fomentando o reconhecimento <strong>de</strong><br />

suas terras e <strong>de</strong> suas tradições cultu-<br />

rais junto às gerações mais novas.<br />

Numa recente expedição à região<br />

do Jari, para executar o planejamento<br />

das embocaduras dos rios do limite<br />

oeste da área, a interfase <strong>de</strong>marcação-<br />

mitologia esteve presente. Os vinte ín-<br />

dios que para lá se <strong>de</strong>slocaram tive-<br />

ram oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> porem-se em<br />

contato com o berço da humanida<strong>de</strong><br />

Waiãpi. É ali, diante das águas do rio<br />

Jari, que a tradição oral localiza o ce-<br />

nário on<strong>de</strong> o herói-criador, Yanejar,<br />

<strong>de</strong>u vida ao seu povo - os Waiãpi.<br />

Desse contato, emergiram histórias <strong>de</strong><br />

um tempo sobre o qual se fixam as<br />

genealogias e a própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

Waiãpi.<br />

Dentro do espírito <strong>de</strong> conjugar o<br />

extrativismo com a fiscalização das<br />

terras, o PDW implantou um progra-<br />

ma <strong>de</strong> viveiros com espécies nativas<br />

na al<strong>de</strong>ia Aramirá, o antigo posto <strong>de</strong><br />

atração da Funai. Desses viveiros, que<br />

vêm sendo cultivados pelos Waiãpi<br />

com assessoria dos técnicos contrata-<br />

dos pelo CTI; saíram as mudas a se-<br />

rem plantadas, tanto nas picadas aber-<br />

tas pelas equipes <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação quan-<br />

to em áreas <strong>de</strong>gradadas no passado<br />

pela exploração garimpeira. Em subs-<br />

tituição às placas <strong>de</strong> sinalização das<br />

chamadas linhas secas (limites não flu-<br />

viais), as mudas <strong>de</strong> plantas nativas se<br />

converterão em limites vivos, que in-<br />

centivarão visitas dos índios tanto para<br />

coleta <strong>de</strong> frutos - um novo item a ser<br />

comercializado com os brancos - quan-<br />

to para a vigilância das fronteiras.<br />

Outras medidas <strong>de</strong> caráter comple-<br />

mentar ao controle político das terras<br />

pelos índios estão previstas. Uma pri-<br />

meira, prevê o acompanhamento peri-<br />

ódico dos confrontantes da área, atra-<br />

vés <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> satélite. Outra quer<br />

aplicar, pela primeira vèz em favor <strong>de</strong><br />

terras indígenas, a legislação ambien-<br />

tal e indígena vigente em sua plenitu-<br />

<strong>de</strong>, para fortalecer a <strong>de</strong>fesa do entor-<br />

no da área <strong>de</strong>marcada - Lei 7.754, que<br />

prevê proteção especial das cabecei-<br />

ras <strong>de</strong> rios em áreas florestais. Decre-<br />

to n 0 24, que trata da proteção em tor-<br />

no <strong>de</strong> terras indígenas, é Resolução do<br />

Conselho Nacional do Meio Ambien-<br />

te (Conama) n 0 13, que exige controle<br />

ambiental sobre ativida<strong>de</strong>s que afetem<br />

a biota das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

num raio <strong>de</strong> 10 km a partir <strong>de</strong> seus li-<br />

mites.<br />

A Funai estima que, no início <strong>de</strong> 96,<br />

a <strong>de</strong>marcação da Área Indígena Waiã-<br />

pi esteja homologada e registrada em<br />

cartório, legalizando <strong>de</strong>finitivamente a<br />

posse das terras pelos índios. O PDW<br />

continua <strong>de</strong>monstrando que a <strong>de</strong>mar-<br />

cação <strong>de</strong> tetras indígenas está muito<br />

além <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s burocráticas. Afinal,<br />

a lógica <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação Waiãpi atenta<br />

contra o senso comum, segundo o<br />

qual, não há lugar para os índios no<br />

futuro da Amazônia. Vai ainda mais<br />

longe, ao legar uma experiência que<br />

<strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong> da intensa<br />

participação indígena em todo o pro-<br />

cesso <strong>de</strong>marcatório, das visitas a gabi-<br />

netes ao acompanhamento dos traba-<br />

lhos técnicos na área.


Seguro é<br />

qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida<br />

faça o seü<br />

THOMAZ SEGUROS<br />

o jeito mais fácil <strong>de</strong> estar seguro<br />

Av. Presi<strong>de</strong>nte Vargas, 351 • sala 903 <strong>Centro</strong> • Belém • Pará<br />

Tel. (091)212-3900


\<br />

v<br />

b>S<br />

%,<br />

.^ mm i<br />

7fi 1<br />

^<br />

^w^


Aurora<br />

O amanhecer, brilho celestial,<br />

a esperança e a certeza <strong>de</strong> um novo dia...<br />

Energia, luz, vida,<br />

tudo se retrata em tua beleza serena.<br />

A palavra amiga, sincera,<br />

os pensamentos sábios.<br />

O toque sutil, afetuoso,<br />

que me enxuga o pranto,<br />

me dá força e segurança,<br />

e me chama a vida...<br />

Sauda<strong>de</strong>, não-sinônimo<br />

para tudo que sinto neste momento...<br />

Em um momento, o meu pranto encobriu meus olhos,<br />

como as nuvens<br />

espessas e escuras <strong>de</strong> um dia chuvoso,<br />

e minhas lágrimas escorreram pelo meu rosto e<br />

junto a elas as gotas das chuvas,<br />

símbolo da vida.<br />

Vida esta que tu amavas e me ensinaste<br />

como a muitos outros, a amar...<br />

E as gotas molharam as plantas e flores,<br />

e os raios do sol surgiram novamente<br />

refletindo-se sobre o orvalho, formando um arco-íris,<br />

como em um gesto típico seu,<br />

enxugaste o meu pranto, mostrando-me a beleza da vida,<br />

e que é necessário continuar vivendo.<br />

(Eu só posso dizer-te que teu pensamento estará sempre em mim,<br />

Alberto Pereira (F.N.)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!