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Número 7 - CEART - Udesc

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MÓIN-MÓIN<br />

promover alterações através de uma força externa (as peças<br />

artificiais), tal qual se fosse uma marionete. Essa poderia<br />

ser uma explicação de por que os dançarinos prolongam<br />

limites e usam extensões: pernas e braços metálicos, bogobol,<br />

patins, separador bucal, botas, joelheiras, proteções,<br />

roupas, animações etc. Essas próteses criam outras relações,<br />

que organizam os esforços de uma outra maneira.<br />

Andar numa perna-de-pau, por exemplo, altera o eixo de<br />

equilíbrio. Mudando isso, o corpo passa a aprender algo<br />

novo, fruto de sua interação com o artefato. Depois de<br />

tanto utilizar a prótese, o corpo do dançarino adquiriu a<br />

variação do movimento, corporificando-a. Ampliou, desse<br />

modo, o seu repertório de ação. Pôde, então, abrir mão<br />

do acessório. (SPANGHERO apud NORA, 2004: 39)<br />

Em Les Poupées, solo de dança da paulista Marta Soares criado<br />

em 1997, o ponto da partida para a investigação sobre o inanimado<br />

é a obra do artista plástico alemão Hans Bellmer (1902-1975). As<br />

bonecas de Bellmer dialogaram com questões ligadas aos movimentos<br />

dadaísta e surrealista, ao regime nazista, aos experimentos<br />

psicanalíticos, além dos contos de E.T.A. Hoffman, cujos enredos<br />

originaram obras clássicas, como o balé Copélia.<br />

Bellmer fotografava as bonecas em um processo de montagem,<br />

desmontagem e reconstrução. Ao mostrar fragmentos e entranhas<br />

do corpo aparentes, Bellmer desarticulava o corpo e o expunha em<br />

seu avesso, invertendo as relações já instituídas entre o interior e o<br />

exterior, problematizando o que chamava de “inconsciente físico”<br />

da matéria. Em Les Poupées Marta Soares explora as questões do<br />

feminino, da fragmentação do corpo e da multiplicidade do sujeito<br />

contemporâneo. Soares segue a lógica de Bellmer quando desloca<br />

e retorce o centro de gravidade de seu corpo e inverte as funções e<br />

posições originárias dos membros superiores e inferiores do corpo.<br />

Tal qual as imagens das meninas/bonecas de Bellmer, a criação coreográfica<br />

de Soares transita entre a marionete e a escultura, postas,<br />

contudo, em movimento. O corpo distorcido de Soares, diferente<br />

do balé mecanicamente ritmado da boneca Copélia, disfigura a<br />

noção de organismo, libertando a anatomia, seja humana ou inu-<br />

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Revista de Estudos sobre Teatro de Formas Animadas

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