projeto intensivo no ciclo i - Secretaria Municipal de Educação
projeto intensivo no ciclo i - Secretaria Municipal de Educação
projeto intensivo no ciclo i - Secretaria Municipal de Educação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PROJETO INTENSIVO NO CICLO 1<br />
muitas tentativas inúteis voltamos ao automóvel, abandonamos a cida<strong>de</strong><br />
por um trilha <strong>de</strong> ciprestes sem indicações viárias e uma velha pastora <strong>de</strong><br />
gansos indicou-<strong>no</strong>s com precisão on<strong>de</strong> estava o castelo. Antes <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spedir<br />
perguntou-<strong>no</strong>s se pensávamos dormir por lá, e respon<strong>de</strong>mos, pois era o que<br />
tínhamos planejado, que só íamos almoçar.<br />
Ainda bem – disse ela –, porque a casa é assombrada.<br />
Minha esposa e eu, que não acreditamos em aparição do meio-dia,<br />
<strong>de</strong>bochamos <strong>de</strong> sua credulida<strong>de</strong>. Mas <strong>no</strong>ssos dois filhos, <strong>de</strong> <strong>no</strong>ve e sete a<strong>no</strong>s,<br />
ficaram alvoroçados com a idéia <strong>de</strong> conhecer um fantasma em pessoa.<br />
Miguel Ottero Silva, que além <strong>de</strong> bom escritor era um anfitrião esplêndido<br />
e um comilão refinado, <strong>no</strong>s esperava com um almoço <strong>de</strong> nunca esquecer.<br />
Como havia ficado tar<strong>de</strong> não tivemos tempo <strong>de</strong> conhecer o interior do castelo<br />
antes <strong>de</strong> sentarmos à mesa, mas seu aspecto, visto <strong>de</strong> fora, não tinha nada<br />
<strong>de</strong> pavoroso, e qualquer inquietação se dissipava com a visão completa da<br />
cida<strong>de</strong> vista do terraço florido on<strong>de</strong> almoçávamos. Era difícil acreditar que<br />
naquela colina <strong>de</strong> casas empoeiradas, on<strong>de</strong> mal cabiam <strong>no</strong>venta mil pessoas,<br />
houvessem nascido tantos homens <strong>de</strong> gênio perdurável. Ainda assim, Miguel<br />
Ottero Silva <strong>no</strong>s disse, com seu humor caribenho, que nenhum <strong>de</strong> tantos era<br />
o mais insigne <strong>de</strong> Arezzo.<br />
O maior – sentenciou – foi Ludovico.<br />
Assim, sem sobre<strong>no</strong>me, Ludovico, o gran<strong>de</strong> senhor das artes e da guerra,<br />
que havia construído aquele castelo <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>sgraça, e <strong>de</strong> quem Miguel Ottero<br />
<strong>no</strong>s falou durante o almoço inteiro. Falou-<strong>no</strong>s <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r imenso, <strong>de</strong> seu<br />
amor contrariado e <strong>de</strong> sua morte espantosa. Contou-<strong>no</strong>s como foi que, num<br />
instante <strong>de</strong> loucura do coração, havia apunhalado sua dama <strong>no</strong> leito on<strong>de</strong><br />
tinham acabado <strong>de</strong> se amar, e <strong>de</strong>pois atiçara contra si mesmo seus ferozes<br />
cães <strong>de</strong> guerra, que o <strong>de</strong>spedaçaram a <strong>de</strong>ntadas. Garantiu-<strong>no</strong>s muito a sério<br />
que a partir da meia-<strong>no</strong>ite o espectro <strong>de</strong> Ludovico perambulava pela casa em<br />
trevas, tentando conseguir sossego em seu purgatório <strong>de</strong> amor.<br />
O castelo, na realida<strong>de</strong>, era imenso e sombrio. Mas em ple<strong>no</strong> dia, com<br />
o estômago cheio e o coração contente, o relato <strong>de</strong> Miguel só podia parecer<br />
outra <strong>de</strong> suas tantas brinca<strong>de</strong>iras para entreter seus convidados. Os oitenta<br />
e dois quartos que percorremos sem assombro <strong>de</strong>pois da sesta tinham<br />
pa<strong>de</strong>cido <strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong> mudanças, graças aos seus do<strong>no</strong>s sucessivos.<br />
Miguel havia restaurado por completo o primeiro andar e tinha construído para<br />
si um dormitório mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, com piso <strong>de</strong> mármore e instalações para sauna<br />
e cultura física, e o terraço <strong>de</strong> flores imensas on<strong>de</strong> havíamos almoçado. O<br />
segundo andar, que tinha sido mais usado <strong>no</strong> curso dos séculos, era uma<br />
sucessão <strong>de</strong> quartos sem nenhuma personalida<strong>de</strong>, com móveis <strong>de</strong> diferentes<br />
épocas abandonados à própria sorte. Mas <strong>no</strong> último andar era conservado um<br />
89<br />
8<br />
T<br />
4<br />
a<br />
Z<br />
i<br />
s<br />
11<br />
e<br />
5<br />
M<br />
6<br />
j<br />
R<br />
%<br />
=<br />
9<br />
+