CADERNO 02 - Colégio Oficina
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CURSO OFICINA<br />
tExtO pARA AS QUEStõES 14 E 15:<br />
Texto 04:<br />
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Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes arrevesados, por embromação. Via<br />
perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse... Ah!<br />
Se pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas.<br />
Bateu na cabeça, apertou-a. Que faziam aqueles sujeitos acocorados em torno do fogo? Que<br />
dizia aquele bêbedo que se esgoelava como um doido, gastando fôlego à toa? Sentiu vontade de<br />
gritar, de anunciar muito alto que eles não prestavam para nada. Ouviu uma voz fina. Alguém no<br />
xadrez das mulheres chorava e arrenegava as pulgas. Rapariga da vida, certamente de porta aberta.<br />
Essa também não prestava para nada. Fabiano queria berrar para a cidade inteira, afirmar ao doutor<br />
juiz de direito, ao delegado, a seu vigário e aos cobradores da prefeitura que ali dentro ninguém<br />
prestava para nada. Ele, os homens acocorados, o bêbedo, a mulher das pulgas, tudo era uma lástima,<br />
só servia para aguentar facão.<br />
Era o que ele queria dizer.<br />
E havia também aquele fogo-corredor que ia e vinha no espírito dele. Sim, havia aquilo. Como<br />
era? Precisava descansar. Estava com a testa doendo, provavelmente em consequência de uma<br />
pancada de cabo de facão. E doía-lhe. A cabeça toda, parecia-lhe que tinha fogo por dentro,<br />
parecia-lhe que tinha nos miolos uma panela fervendo.<br />
Questão 14<br />
Percebe-se claramente em Vidas Secas o uso do discurso<br />
indireto livre. Por meio dele, o narrador funde a sua voz<br />
(em terceira pessoa) com a da personagem, mergulha no<br />
mais profundo dos seus pensamentos, acompanha seus<br />
traumas, suas dores.<br />
O uso do discurso indireto, nessa obra de Graciliano Ramos<br />
a) revela as intenções surrealistas do autor, que,<br />
confundindo o leitor e conduzindo-o a um mundo em<br />
que o sonho e a magia constroem a realidade, consegue<br />
alcançar o domínio do inconsciente humano.<br />
b) desconstrói a dimensão humana de Fabiano, revelando<br />
um caráter frio e calculista, mais interessado em<br />
vingança, para poder “levantar a cabeça”, do que no<br />
bem-estar da família.<br />
c) reforça a visão romântica de mundo rural, em que o<br />
sertanejo é visto como um herói cujas características<br />
pertencem mais a uma idealização do ideal europeu<br />
do que à dura realidade do sertão.<br />
d) atrai o leitor para a obra, ao destacar a inteligência de<br />
Fabiano, que, embora calado, se revela conhecedor da<br />
realidade em que vive e passa a procurar maneiras de<br />
vencer os problemas.<br />
Fonte: Ramos, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro, são Paulo: Record, 20<strong>02</strong>, p. 92.<br />
e) torna o sofrimento de Fabiano mais intenso,<br />
revelando a distância entre o desejo de levantar a<br />
cabeça e a consciência de sua impotência. Desse<br />
modo, o leitor vivencia diretamente o intenso<br />
sofrimento da personagem.<br />
Questão 15<br />
Assinale a alternativa que exemplifique o discurso<br />
narrativo<br />
a) “Se pudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados<br />
amarelos que espancam as criaturas inofensivas.”<br />
b) “Que faziam aqueles sujeitos acocorados em torno<br />
do fogo? Que dizia aquele bêbedo que se esgoelava<br />
como um doido, gastando fôlego à toa?”<br />
c) “Ouviu uma voz fina. Alguém no xadrez das mulheres<br />
chorava e arrenegava as pulgas.”<br />
d) “Rapariga da vida, certamente de porta aberta. Essa<br />
também não prestava para nada.”<br />
e) “Ele, os homens acocorados, o bêbedo, a mulher<br />
das pulgas, tudo era uma lástima, só servia para<br />
aguentar facão.<br />
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