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1º Ano A – “A história não contada” Chegou o momento das ...

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Texto 1:<br />

<strong>1º</strong> <strong>Ano</strong> A <strong>–</strong> <strong>“A</strong> <strong>história</strong> <strong>não</strong> <strong>contada”</strong><br />

Eu sou carvão!<br />

E tu arrancas-me brutalmente do chão<br />

E faz-me tua mina Patrão!<br />

Eu sou carvão<br />

E tu acende-me patrão,<br />

para te servir eternamente como força motriz<br />

mas eternamente <strong>não</strong><br />

Patrão!<br />

Eu sou carvão<br />

E tenho que arder sim<br />

E queimar tudo<br />

com a força da minha combustão<br />

Texto 2:<br />

<strong>Chegou</strong> o <strong>momento</strong> <strong>das</strong> questões. “Porque a melhor parte me<br />

foi negada?” “Porque vocês <strong>não</strong> me contaram a verdadeira <strong>história</strong>?”<br />

Um Grito Negro ecoaria no início, com a cena de um livro,<br />

intitulado, <strong>“A</strong> <strong>história</strong> da África contada pelo colonizador”, sendo<br />

rasgado de ponta a ponta. A África diz: “Deixem que eu conte a<br />

minha <strong>história</strong>”.<br />

A música Babá Alapalá, de Gilberto Gil, proposta para a cena,<br />

da um significado a toda a trajetória da <strong>história</strong> <strong>não</strong> contada, passando<br />

de geração a geração até atingir à religiosidade.<br />

Grito Negro<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Eu sou carvão<br />

Tenho que arder na exploração<br />

Arder até as cinzas da maldição<br />

Arder vivo como alcatrão, meu irmão<br />

Até <strong>não</strong> ser mais sua mina<br />

Patrão!<br />

Eu sou carvão<br />

Tenho que arder<br />

E queimar tudo com o fogo da minha combustão<br />

Sim, eu serei o seu carvão<br />

Patrão!<br />

(José Craveirinha)<br />

<strong>“A</strong> África propriamente dita é a parte característica deste continente, porque em<br />

seguida podemos deixá-lo de lado, por assim dizer. Não tem interesse histórico<br />

próprio, se<strong>não</strong> o de que os homens vivem ali na barbárie e na selvageria, sem fornecer<br />

nenhum elemento à civilização. Por mais que retrocedemos na <strong>história</strong>, acharemos que<br />

a África está sempre fechada no contato com o resto do mundo, é um Eldorado<br />

recolhido em sim mesmo, é o país criança, envolvido na escuridão da noite, aquém da<br />

luz da <strong>história</strong> consciente [...] Nesta parte da África, <strong>não</strong> pode haver <strong>história</strong>.” 1<br />

É corriqueiro o tratamento equivocado que o continente Africano e os seus povos vêm<br />

recebendo de alguns estudiosos ocidentais ao longo dos séculos. Esse erro está associado ao<br />

racionalismo, método que surge no século de XVI e que passa dominar o pensamento ocidental na<br />

metade do século XIX. O racionalismo propõe um discurso cientifico matemático, ou seja, ele permeia a<br />

1 HEGEL, George W. F. Filosofia de la <strong>história</strong> universal. Madri: Revista de Occidente, 1928, t. 1, p. 187. IN: HERNANDEZ,<br />

Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005. p. 20.


formulação de princípios políticos, éticos e morais. Princípios esses que embasaram toda a<br />

mentalidade colonialista, legitimando a escravidão.<br />

Os pensadores do século XIX, embasados no racionalismo, vêem africanos como<br />

“seres” sem cultura e incapazes de produzir <strong>história</strong>. Leila Hernandez no livro África na Sala<br />

de Aula, nos mostra três pontos da literatura moderna que negam a existência da <strong>história</strong> no<br />

continente Africano, são eles:<br />

• A África como um estado de selvageria, onde apenas a selvageria e natureza predominam, sendo<br />

incapaz de produzir cultura e <strong>história</strong>.<br />

• A distinção entre europeus e africanos, e os africanos entre si (A África dividida pelo deserto do<br />

Saara).<br />

• Referindo-se ao africano subsaariano como sujeito sem “vontade racional”, incapaz de<br />

transformar a realidade de acordo com critérios “racionais”.<br />

Esses pensadores ditos “bem-dotados”, ou seja, se acham mais capazes, e por essa razão se vêem<br />

no direito de formular uma nova noção de mundo, legitimados no cientificismo. Esse último vai dar<br />

origem a uma “ciência” ou corrente de pensamento, chamada de racismo ou racialismo, que prevê a<br />

superioridade através <strong>das</strong> diferenças biológicas encontra<strong>das</strong> na espécie humana. Muitas vezes essas<br />

teorias, são equivoca<strong>das</strong> interpretações <strong>das</strong> teorias evolucionistas, como a de Charles Darwin que<br />

escreve em 1859 A origem <strong>das</strong> Espécies, que mostra, entre tantas outras coisas, a ancestralidade comum<br />

do Homo Sapiens e primatas. Os racialistas vão “usar” o continente africano como um laboratório para<br />

suas teorias, e mostrar a “barbárie” e o “estado primitivo” dos povos africanos:<br />

“Encontramos [...], aqui o homem no seu estado bruto. Tal é o homem na África. Porquanto o<br />

homem aparece como homem, põe-se em oposição à natureza; assim é como faz homem. Mas,<br />

porquanto se limita a diferenciar-se da natureza, encontra-se no primeiro estágio, dominado pela paixão,<br />

pelo orgulho e a pobreza; é um homem estúpido. No estado de selvageria achamos o africano, enquanto<br />

podemos observá-lo e assim tem permanecido. O negro representa o homem natural em toda a sua<br />

barbárie e violência; para compreendê-lo devemos esquecer to<strong>das</strong> as representações européias.<br />

Devemos esquecer Deus e a lei moral. Para compreendê-lo exatamente, devemos abstrair de todo<br />

respeito e moralidade, de todo o sentimento, tudo isso está no homem em seu estado bruto, em cujo<br />

caráter nada se encontra que pareça humano [...]”. 2<br />

Mas afinal, qual foi o motivo para que os europeus negassem a <strong>história</strong> no continente Africano?<br />

A <strong>história</strong> ocidental é baseada em fontes escritas e <strong>não</strong> consegue conceber que povos sem escrita<br />

tenham <strong>história</strong>. Os povos sem escrita são majoritários no continente africano, onde a tradição oral é a<br />

fonte primordial da <strong>história</strong>. 3<br />

Ou seja, a fala para os africanos é muito mais importante do que um<br />

pedaço de papel escrito, que <strong>não</strong> passa de uma memória artificial. Respeitar a fala é questão de honra, e<br />

é assim que a <strong>história</strong> da África é contada e passada entre os africanos. A Tradição oral tem dois tipos<br />

de portadores, como cita Leila Hernandez, “guardiões da palavra falada”, que são os tradicionalistas e<br />

os griôs.<br />

Os tradicionalistas fazem parte de uma “elite” de guardiões da palavra, eles têm o<br />

“conhecimento da palavra falada”, pois tem ligação com o divino e suas revelações são sempre<br />

fidedignas, pois prezam a verdade, sem a verdade eles perderiam “o dom de pôr a ordem, manter a<br />

4<br />

coesão e harmonizar as gentes” . Os tradicionalistas têm o conhecimento total da tradição, são eles os<br />

portadores da gênese do cosmo, e a criação de to<strong>das</strong> as coisas.<br />

Já os griôs, são incumbidos de transmitir a verdade de uma forma mais livre da rigidez<br />

tradicional. Usando a dança e suas coreografias juntamente com a música, esses narradores contam os<br />

grandes feitos dos heróis, a origem do mundo, as genealogias e a formação dos impérios, nunca<br />

2 HEGEL, George W. F. Filosofia de la <strong>história</strong> universal. Madri: Revista de Occidente, 1928, t. 1, p. 187. IN: HERNANDEZ,<br />

Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005. p. 21.<br />

3 É importante saber que a escrita surgiu no continente africano.<br />

4 HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005. p. 29.<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


perdendo o compromisso com a verdade. Os griôs, <strong>não</strong> são, mas podem vir a se tornar<br />

tradicionalistas conhecedores, e estão excluídos da tradição maior, que se refere ao mito da<br />

criação do universo e do homem.<br />

A partir de meados do século XX, que a historiografia e antropologia sobre a África<br />

foram reconheci<strong>das</strong> e trata<strong>das</strong> de forma crítica, questionando toda a literatura sobre África nos<br />

períodos anteriores. Utilizando métodos europeus para construir a <strong>história</strong> do continente, os africanos<br />

buscam as suas fontes de diferentes tipos:<br />

• Na tradição oral, passada pelos Griôs e Tradicionalistas.<br />

• Em crônicas islâmicas chamados Tarikhs no século XVIII.<br />

• Pela Arqueologia através dos objetos-testemunho.<br />

• Manuscritos europeus do século XV ao início do XX.<br />

To<strong>das</strong> essas fontes serviram para entendermos como a História da África foi construída, essas<br />

contribuições serviram para identificarmos as origens de organizações políticas e econômicas no<br />

continente africano, como também os movimentos migratórios e as mudanças históricas que ocorreram<br />

entre os séculos XVIII e XIX.<br />

Sendo assim, podemos verificar a riqueza de fontes históricas que existem na África, e através<br />

<strong>das</strong> produções de historiadores africanos podemos ver uma <strong>história</strong> da África sem os preconceitos<br />

europeus, dando o devido valor aos povos africanos, restabelecendo assim sua auto-estima, que foi<br />

roubada por mais de quatrocentos anos.<br />

Contudo ainda fala-se muito pouco sobre <strong>história</strong> da África, tanto nas universidades quanto nas<br />

escolas, e perdendo esse elo com a África perdemos muito da nossa identidade como brasileiros e<br />

cidadãos do mundo.<br />

Texto 3:<br />

Aganju, Xangô<br />

Alapalá, Alapalá, Alapalá<br />

Xangô, Aganju<br />

O filho perguntou pro pai:<br />

"Onde é que tá o meu avô<br />

O meu avô, onde é que tá?"<br />

O pai perguntou pro avô:<br />

"Onde é que tá meu bisavô<br />

Meu bisavô, onde é que tá?"<br />

Avô perguntou bisavô:<br />

"Onde é que tá tataravô<br />

Tataravô, onde é que tá?"<br />

Fonte: HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005.<br />

Babá Alapalá<br />

Tataravô, bisavô, avô<br />

Pai Xangô, Aganju<br />

Viva egum, babá Alapalá!<br />

Aganju, Xangô<br />

Alapalá, Alapalá, Alapalá<br />

Xangô, Aganju<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Alapalá, egum, espírito elevado ao céu<br />

Machado alado, asas do anjo Aganju<br />

Alapalá, egum, espírito elevado ao céu<br />

Machado astral, ancestral do metal<br />

Do ferro natural<br />

Do corpo preservado<br />

Embalsamado em bálsamo sagrado<br />

Corpo eterno e nobre de um rei nagô<br />

Xangô<br />

(Gilberto Gil)


<strong>1º</strong> <strong>Ano</strong> B <strong>–</strong> <strong>“A</strong> estética gratinada”<br />

A estética é um ramo da filosofia que tem por objeto o<br />

estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte.<br />

A estética gratinada significa que você concebeu uma<br />

determinada coisa após ela ter se moldado aos seus costumes, ao<br />

seu gosto.<br />

Com esse eixo temático o 2º ano B tem uma ótima<br />

oportunidade de surpreender a todos utilizando a arte como o<br />

ponto principal para discutir a questão da estética gratinada. A<br />

música, a pintura e a dança gratina<strong>das</strong>.<br />

A sugestão musical aqui é a música Cor da Cultura do<br />

grupo Conguê, onde o compositor perpassa do ritmo puramente da<br />

“música negra”, para ritmos negros com influências <strong>das</strong> “músicas brancas”.<br />

Texto 1:<br />

Picasso, nos anos 20, baseou-se na arte africana para produzir obras de<br />

arte. A obra acima Esta obra representa, para além de uma obra-prima do<br />

cubismo mundial, a violação de to<strong>das</strong> as tradições e convenções visuais<br />

naturalistas ocidentais, ao apresentar cinco aleivosas (prostitutas), representa<strong>das</strong><br />

de forma cubista, como se nota na mulher nua sentada à direita, vista<br />

simultaneamente de frente e de costas. Os rostos <strong>das</strong> personagens refletem o<br />

início do Período Negro, na obra de Pablo Picasso.<br />

“Horrível!”, “Chocante!”, “Monstruosa!”. As reações de horror <strong>não</strong><br />

faltaram quando Pablo Picasso apresentou, há exatos 100 anos, a pintura “Les<br />

demoiselles d'Avignon”, que seria reconhecida como a obra fundadora da arte moderna.<br />

A representação de cinco prostitutas, duas delas com o rosto coberto por máscaras africanas, já<br />

<strong>não</strong> provoca mais escândalo, mas segue sendo uma impressão visual, "inclusive depois de um século de<br />

arte onde a única ambição foi sobrepujar a obra de Picasso", escreveu Michael Kimmelman, crítico do<br />

"The New York Times".<br />

Por volta de 1907, as esculturas do romeno Constantin Brancusi (1876 - 1957) causavam<br />

grande sensação no Salon d'Automne em Paris, França, despertando o interesse de artistas como Pablo<br />

Picasso (1881 - 1973), Henri Matisse (1869 - 1954) e André Derain (1880 - 1954). Assim como as<br />

obras de Brancusi, nessa mesma época, as esculturas e máscaras africanas também eram alvo de<br />

interesse para esses mesmos artistas, tornando-se referências para as suas criações.<br />

Texto 2:<br />

A influência da música negra na formação da identidade cultural do Ocidente<br />

Com a força do negro africano e sua musicalidade, o Blues surgiu da rejeição ao novo, da<br />

restrição da cultura nativa, do grito contra o açoite, da fé em uma religião, e por conseqüência o<br />

sincretismo adotado. Fatos que contrariaram to<strong>das</strong> as barbáries causa<strong>das</strong> pela ignorância, intolerância e<br />

ganância pelo mercantilismo por parte dos brancos, norte-americanos. A música, uma <strong>das</strong> únicas<br />

heranças culturais do povo africano, influenciou, mais tarde, todo o mundo. Contribuindo para o<br />

surgimento e evolução do Rock’n’Roll britânico, do Jazz, do R’n’B, do Country, do Funk e do Soul.<br />

Estilos musicais que têm certa relevância e referência nas produções fonográficas brasileiras.<br />

A nítida influência do Jazz de New Orleans na MPB e na Bossa Nova. O samba misturado com<br />

rock de Jackson do Pandeiro e Trio Mocotó. O Country sulista do Texas e do Alabama, criando uma<br />

identidade extra ao sertanejo brasileiro. O Soul, o Funk e o R’n’B marcando características<br />

significativas no Hip Hop da periferia de São Paulo e o Rock Britânico dando base para a estrutura do<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


Pop Rock e do Rock’n’Roll nacional. Todos esses estilos indiscriminadamente influenciados<br />

pelo negro africano.<br />

A multideterminação da identidade musical do ocidente tem como base, o Blues, estilo<br />

caracterizado pelo grito de liberdade, pelas mazelas da vida do negro na colheita do algodão,<br />

pela imposição de uma religião européia, pelas injustiças da segregação racial. Motivos que<br />

deterioraram a vida de inúmeros seres humanos, e viabilizaram e criaram uma atmosfera propícia para a<br />

revolução de uma cultura oprimida, tendo na música, sua válvula de escape para confrontar com a<br />

realidade branca e opressora.<br />

Esta realidade que motivou o surgimento do Blues assemelha-se ao processo de escravidão no<br />

Brasil, vide o surgimento do samba e o sincretismo religioso. Tal analogia se encontra em determinados<br />

pontos históricos da música mundial. Com a união de João Gilberto e Stan Getz no Carnegie Hall, o<br />

encontro de Tom Jobim e Frank Sinatra, o de Elis Regina e Toots Thielmans, entre outros. Os grandes<br />

intérpretes do cancioneiro popular brasileiro beberam da fonte, do elixir musical, a cultura negra.<br />

Determinante na identidade de uma musicalidade representativa em âmbito mundial. O samba e o blues<br />

andam juntos, devido à diversidade tribal da África os estilos se distinguem tanto, o samba com os<br />

instrumentos de percussão como principal base e o blues com o canto, dos hollers e <strong>das</strong> work songs.<br />

Rompendo barreiras, quebrando o preconceito, na música o negro conseguiu amenizar todo o<br />

sofrimento causado pelo branco. Toda a aversão doentia pela raça quebra-se, ao passo que todos os<br />

ocidentais sofreram direta ou indiretamente a saliente preponderância da cultura negra na formação da<br />

identidade cultural. Todo branco ocidental tem historicamente um resquício de navio negreiro.<br />

Fonte: http://camara40.blogspot.com/2005/11/influncia-da-msica-negra-na-formao-da.html<br />

Texto 3:<br />

Quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável pela "criação" do rock’n’roll?<br />

Obviamente um estilo musical tão complexo <strong>não</strong> poderia Ter sua invenção atribuída incontestavelmente a apenas<br />

um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome associado à "criação" do rock como<br />

o conhecemos este alguém <strong>não</strong> seria Elvis ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader.<br />

O "inventor" do termo rock’n’roll e grande responsável pela difusão do estilo foi o disk jokey Allan Freed,<br />

radialista de programas de rhythm’n’blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do<br />

público jovem consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu o potencial comercial<br />

da música negra.<br />

Os conservadores <strong>não</strong> gostavam muito do termo "rhythm’n’blues", porque lembrava as boates e clubes<br />

aonde os negros tocavam. Allan Freed na palavra "rock’n’roll” encontrou o termo ideal para associar a fusão dos<br />

diversos gêneros que compõem o ritmo. Os conservadores "aprovaram", pois o termo <strong>não</strong> fazia tanta associação<br />

ao termo rítmico que lembrava os negros catadores de algodão. Mas eles <strong>não</strong> sabiam que tanto "rock" quanto<br />

"roll" era a gíria usada pelos negros, que significa “trepar”. Rock Me Baby (me embale, nenê) inverte o sentido do<br />

verbo e do ato de embalar a criança, o bebê (baby) que, no caso, designa a garota, a namorada, num tom<br />

carinhoso de tratamento. Rock’n’roll, vertido para o português, numa expressão livre, daria então "deite & role".<br />

Em 1951 Allan Freed criou o programa Moon Dog Show mais tarde renomeado para Moon Dog<br />

Rock’n’Roll Party ao mesmo tempo em que promovia festas de dança com o mesmo nome, movi<strong>das</strong> inicialmente<br />

a blues e rhythm & blues e mais tarde pelo ritmo que havia ajudado a definir e divulgar. Suas festas apesar dos<br />

constantes atritos e reclamações por parte <strong>das</strong> autoridades eram um sucesso. Tumultos lhe valeram dezenas de<br />

processos por incitação à violência.<br />

Enquanto a juventude adotava o novo ritmo como sua marca registrada, os adultos, principalmente <strong>das</strong><br />

parcelas mais conservadoras da sociedade, a taxavam como causa de toda delinqüência juvenil. Apesar do<br />

exagero dos protestos, <strong>não</strong> estavam de todo errados, o gosto pelo rock era realmente parte do estilo <strong>das</strong> gangues<br />

juvenis. A partir daí o rock se desprende de seu velho pai, o rhythm & blues, e começa a caminhar com suas<br />

próprias pernas. A criatividade do rock inglês só tem a acrescentar nesta jornada, inspirando e criando novas<br />

vertentes, até o <strong>momento</strong> em que a ovelha negra da família "liberdade de expressão" nasce, o jovem Heavy Metal.<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: http://br.geocities.com/historias_ocultas/metal/influenciadobiabo.htm


2º <strong>Ano</strong> A <strong>–</strong> “ A encruzilhada contemporânea: O mar que nos aproxima”<br />

A proposta é embarcarmos na imagem do navio<br />

que atravessa o Atlântico, e olharmos a travessia como<br />

um sistema vivo. Nossa ancoragem se faz no aqui e<br />

agora, compreendendo as ressonâncias da diáspora<br />

africana em formações culturais moderna e<br />

contemporânea.<br />

“O mar é testemunha e depositário de um<br />

período histórico”.<br />

A tarefa do 2º ano A é representar a estética<br />

diaspórica na metáfora do Atlântico Negro (Paul<br />

Gilroy), como um sistema de comunicação global. A<br />

contribuição do negro, na construção de outros mundos,<br />

interferindo e modificando a cultura nos EUA, Portugal,<br />

Cuba, Brasil, Caribe se revela: nas imagens de<br />

identidades rizoma; na desterritorialização da cultura <strong>–</strong><br />

formação de cultura híbrida <strong>–</strong> em oposição à idéia de<br />

uma cultura territorial fechada.<br />

A imagem do mar é uma importante referência para sugerir a idéia de mistura e movimento em<br />

uma rede entrelaçada entre o local e o global. A diáspora produziu intensamente um movimento de<br />

criatividade intercultural.<br />

Cultura é produção, é tornar-se, sem perder de vista as relações de poder tensas e assimétricas<br />

entre culturas dominantes e domina<strong>das</strong>.<br />

Texto 1:<br />

A imagem do Laser que pretende se perder no mar na direção da África, saindo do Solar do<br />

Unhão para a Baía de Todos os Santos. No nosso caso, África e mundo num caminho intocável e<br />

paralelo à luz, até juntos desaparecerem no horizonte.<br />

Ponte virtual, cruzando séculos de separação e diáspora, a coluna de laser pode quem sabe<br />

sofrer aqui uma certa comparação com aquelas torres de luz que, no ground zero nova iorquino,<br />

pretendem substituir as torres gêmeas. Afinal, <strong>não</strong> foram vários “onze de setembro” que vitimaram a<br />

população negra na <strong>história</strong> <strong>das</strong> Américas? Ainda que utópica, uma ponte de laser quem sabe uniria uma<br />

<strong>história</strong> fragmentada, seqüestrada por invasores alienígenas, numa diáspora mais que forçada.<br />

Em nossa época de simulações e duplicações, de sampling e revisões, Daniel Lima <strong>não</strong> se<br />

prende em identidades fixas, <strong>não</strong> cultiva raízes, mas antes faz um remix de técnicas, em ações<br />

desestabilizadoras de conceitos. Nele, como em outros contemporâneos (...), talvez devamos ver a<br />

identidade como uma flutuação intermitente, como um foco de vetores diversos que se cruzam numa<br />

consciência multipolar, multiplex.<br />

Texto 2:<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: www.rizoma.net/interna.php?id=208&secao=afrof<br />

“Consciência dupla”, uma sensação estranha, “essa sensação de estar sempre a se olhar com os olhos de<br />

outros” (Du Bois).<br />

Fonte: Fonte: Revista de Antropologia Print vol.45 no.1 São Paulo 2002


Texto 3:<br />

Atlântico Negro <strong>–</strong> Diáspora<br />

Atlântico Negro (Paul Gilroy) o termo refere-se metaforicamente às estruturas<br />

transnacionais cria<strong>das</strong> na modernidade que se desenvolveram e deram origem a um sistema de<br />

comunicações globais marcado por fluxos e trocas culturais. A formação dessa rede possibilitou às<br />

populações negras durante a diáspora africana formarem uma cultura que <strong>não</strong> pode ser identificada<br />

exclusivamente como caribenha, africana, americana, ou britânica, mas to<strong>das</strong> elas ao mesmo tempo.<br />

Trata-se da cultura do Atlântico Negro, uma cultura que pelo seu caráter híbrido <strong>não</strong> se encontra<br />

circunscrita às fronteiras étnicas ou nacionais.<br />

O autor repudia a idéia de uma identidade enraizada, supostamente autêntica, natural e estável,<br />

veiculada pelo pensamento nacionalista negro nos anos 60. Para ele a rede de comunicação<br />

transnacional criou uma nova topografia de lealdade e identidade que desconsidera as estruturas e os<br />

pressupostos do Estado-nação e redefine as formas de ligação e identificação no tempo e no espaço. O<br />

modelo do Atlântico Negro remete ao sentimento de desterritorialização da cultura em oposição à idéia<br />

de uma cultura territorial fechada e codificada no corpo. "Sob a chave da diáspora nós poderemos então<br />

ver <strong>não</strong> a raça, e sim formas geopolíticas e geoculturais de vida que são resultantes da interação entre<br />

sistemas comunicativos e contextos que elas <strong>não</strong> só incorporam, mas também modificam e<br />

transcendem" (: 25).<br />

<strong>“A</strong> mistura <strong>não</strong> deve ser interpretada como perda de pureza, e sim como um princípio de<br />

crescimento que ajudou a formar o mundo moderno. É dele a definição do seu livro como um ensaio<br />

sobre a inevitável hibridez e mistura de idéias. A análise da cultura do Atlântico Negro é<br />

particularmente valiosa, entre outros aspectos, por dar visibilidade a uma face da <strong>história</strong> cultural<br />

obscurecida pelo véu do absolutismo étnico: a relação dos negros com a modernidade ocidental. Este<br />

constitui, sem dúvida, um dos principais pontos de análise apresentado. Segundo Gilroy, durante a<br />

diáspora, os negros criaram um corpo único de reflexão sobre a modernidade e seus dissabores que<br />

continua presente nas lutas culturais e políticas de seus descendentes. No entanto, o racismo moderno<br />

<strong>não</strong> reconheceu os negros como pessoas com capacidades cognitivas, ou mesmo com uma <strong>história</strong><br />

intelectual. Um dos aspectos mais explorados no livro é o reconhecimento da duplicidade como sinal<br />

diacrítico da <strong>história</strong> intelectual do Atlântico Negro - integra o ocidente sem fazer parte completamente<br />

dele.<br />

A teoria da dupla consciência elaborada por Du Bois constitui um dos principais temas<br />

abordados pelo autor, a partir do qual, discute a construção e a plasticidade <strong>das</strong> identidades negras. O<br />

sujeito negro de Du Bois vive uma certa dualidade, encontra-se dividido entre as afirmações de<br />

particularidade racial e o apelo aos universais modernos que transcendem a raça. No seu quadro de<br />

análise a dupla consciência emerge <strong>das</strong> experiências de deslocamento e reterritorialização <strong>das</strong><br />

populações negras, que acabam redefinindo o sentimento de pertença. Ele compartilha ao lado de outros<br />

escritores negros "a percepção de que o mundo moderno estava fragmentado ao longo de eixos<br />

constituídos pelo conflito racial e poderia acomodar modos de vida social assíncronos e heterogêneos<br />

em estreita proximidade" (: 368). Com esse conceito, Du Bois objetiva dar às experiências pósescravidão<br />

vivencia<strong>das</strong> pelos negros ocidentais uma significação mundial. Essas formulações casam<br />

perfeitamente com a preocupação de Gilroy na formação de uma transcultura negra que possa<br />

relacionar, combinar e unir as experiências e os interesses dos negros em várias partes do mundo.<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


Paul Gilroy, sublinha a importância dos elementos antidiscursivos e extralingüísticos<br />

dos atos comunicativos definidos pela instituição da escravidão. As expressões artísticas que<br />

emergiram da cultura dos escravos encontraram na música e na dança um substituto para as<br />

liberdades políticas formais que lhes eram nega<strong>das</strong>, "a arte se tornou a espinha dorsal <strong>das</strong><br />

culturas políticas dos escravos e da sua <strong>história</strong> cultural" (: 129), e até hoje representa uma importante<br />

aliada nos processos de luta rumo à emancipação, à cidadania e à autonomia negra. O poder da música<br />

negra para o desenvolvimento <strong>das</strong> lutas políticas <strong>das</strong> comunidades negras da diáspora exige atenção aos<br />

seus atributos formais e à sua base moral distintiva: "Ela é ao mesmo tempo, produção e expressão<br />

dessa transvalorização de todos os valores precipitada pela <strong>história</strong> do terror racial no Novo Mundo" (:<br />

94). O acesso restrito dos escravos à alfabetização fez crescer o poder da música em proporção inversa<br />

ao poder expressivo da língua, seu refinamento tem proporcionado um mecanismo de comunicação que<br />

<strong>não</strong> se limita ao poder <strong>das</strong> palavras fala<strong>das</strong> ou escritas. A música tem exercido um papel fundamental na<br />

reprodução da cultura do Atlântico Negro e na conexão entre as diferentes comunidades da diáspora.<br />

A <strong>história</strong> do Atlântico Negro nos ensina que a reprodução <strong>das</strong> tradições culturais <strong>não</strong> pode ser<br />

interpretada como a transmissão pura e simples de uma essência fixa ao longo do tempo, ela se dá nas<br />

rupturas e interrupções sugerindo que "a invocação da tradição pode ser, em si mesma, uma resposta<br />

distinta, porém oculta, ao fluxo desestabilizante do mundo contemporâneo" (: 208).<br />

2º <strong>Ano</strong> A <strong>–</strong> “Não estou... Eu sou o entre - lugar”<br />

Fonte: Revista de Antropologia Print vol.45 no.1 São Paulo 2002<br />

O navio acaba de aportar. Agora, depois de<br />

relembrarmos ou conhecermos a contribuição<br />

africana nos diversos mundos, chegou o <strong>momento</strong><br />

de nos reencontrarmos. A oportunidade de nos<br />

redefinirmos enquanto afro, enquanto brasileiro e<br />

enquanto afro-brasileiro. A tarefa do 2ºD é mostrar<br />

o caminho que trilhamos no <strong>momento</strong> em que nos<br />

deparamos com a encruzilhada. Resgatarmos todos<br />

os questionamentos feitos anteriormente.<br />

Reconhecermos a nova identidade que surge a partir<br />

deste “entre-lugar”. “É como fazer que ele se volte e olhe para ela e conheça <strong>não</strong> uma África antiga, e,<br />

sim, a de hoje, moderna e dinâmica. É importante criar um laço com essa África contemporânea”.<br />

Texto 1:<br />

Atrás do cordão umbilical<br />

Enterrado lá no Senegal<br />

E em toda a África negra gritando<br />

O Atlântico ouça um conselho<br />

Que se abra como o Mar Vermelho<br />

E a Bahia, o Olodum n´lar adentro voltando.<br />

Texto 2:<br />

Fonte: REIS, Artúlio. Tambores e cores. A Música do Olodum: a revolução da emoção. Salvador: Olodum, 2002. p.153<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


a minha pele de ébano é...<br />

a minha alma nua<br />

espalhando a luz do sol<br />

espelhando a luz da lua<br />

tenho a plumagem da noite<br />

e a liberdade da rua<br />

minha pele é linguagem<br />

e a leitura é toda sua<br />

será que você <strong>não</strong> viu<br />

<strong>não</strong> entendeu o meu toque<br />

no coração da América eu sou o jazz, sou o<br />

rock<br />

Texto 3:<br />

Alegria da Cidade <strong>–</strong> Voz da Banda Didá (soul)<br />

eu sou parte de você, mesmo que você me negue<br />

na beleza do afrouxei, ou no balanço no reggae<br />

eu sou o sol da Jamaica<br />

sou o som da Bahia<br />

eu sou você e você <strong>não</strong> sabia<br />

liberdade curuzum ralé tomare soué do velei soué<br />

nosso chão é todo blues e o mundo é um grande<br />

gueto<br />

apesar de tanto <strong>não</strong> e tanta dor que nos invade,<br />

somos nós a alegria da cidade<br />

apesar de tanto <strong>não</strong> e tanta marginalidade, somos<br />

nós a alegria da cidade<br />

Conexão Atlântica: História, memória e identidade<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

(Jorge Portugal & Lazzo)<br />

Para compreender o processo permanente de elaboração da identidade negra neste país africano<br />

da Bahia, é necessário, sobretudo, <strong>não</strong> esquecer o cordão umbilical pelo qual os baianos acreditam estar<br />

ligados à África. Ao longo da <strong>história</strong>, depois do tempo da escravidão, este mito fundador dos negros da<br />

Bahia se adapta, se transforma, muda suas máscaras e seus hábitos para desempenhar o papel mágico de<br />

uma espantalho que afasta a tentação, aliás sempre proposta pelas elites brancas, de aceitar a idéia<br />

segundo a qual os negros brasileiros seriam um simples produto da sociedade escravista luso-tropical.<br />

Para esses negros da Bahia, é necessário estabelecer suas raízes antes e fora da escravidão. Assim, o<br />

tempo e o lugar da liberdade original <strong>não</strong> podem estar dentro do Brasil. Utopia, anacronismo, pouco<br />

importa, esse refugio da herança cultural da escravidão é o núcleo duro da identidade negra baiana. Esta<br />

utopia identitária fundamenta-se em uma constante evocação e reelaboração da <strong>das</strong> matrizes culturais<br />

africanas, o que só é possível, graças às comunidades religiosas do Candomblé, verdadeiros arquivos da<br />

memória africana na Bahia.<br />

Texto 4:<br />

O Dia da África na Bahia - Por que celebrar?<br />

Fonte: ARAÚJO, Ubiratan Castro de.<br />

Bahia uma sociedade moderna, complexa e sensível aos temas raciais e de igualdade. São<br />

temas polêmicos, visto os embates recentes; terreiro de candomblé, declarações do professor da UFBA e<br />

a intervenção da procuradoria federal nos patrocínio dos blocos afros.


Convivemos com uma branquitude que exerce o seu poder simbólico através da<br />

migração forçada, do alarmante número de mortes por negligência, da apropriação de terras,<br />

da institucionalização do racismo, da destruição <strong>das</strong> culturas, a péssima qualidade de ensino e<br />

a escravidão de trabalhadores.<br />

Aqueles que desafiam o poder simbólico causam transtornos a normalidade<br />

institucional e aqueles que têm privilégios. Os mesmos que definiram o modelo pelo qual a branquitude<br />

mantém suas formas de poder vêm desde as capitanias hereditárias. Assim qualquer manifestação dos<br />

<strong>não</strong> brancos contra esta opressão é vista como uma “esquisitice” que pretende abalar a democracia<br />

racial, a segurança jurídica e a igualdade entre todos os baianos. Uma afronta à supremacia invisível da<br />

branquitude.<br />

Os africanos desenvolveram uma civilização afro-baiana muito forte. É da África a origem de<br />

77% dos baianos e 83,7% dos soteropolitanos. O presidente do Benin, Boni Yayi declarou: "Vocês são<br />

meus compatriotas, meus parentes, meus irmãos. E <strong>não</strong> falem que estou louco, o que eu digo é de<br />

coração profundo".<br />

Somos nós os loucos ao <strong>não</strong> percebemos a forte influência Africana em nossa sociedade?<br />

A idéia da África sempre foi muito confusa, para a maioria dos baianos de origem africana e<br />

<strong>não</strong> africana. Será a África um país? Uma nação? Ou algo uno e indivisível?<br />

A primeira vez que fui à África (1986) com Pierre Verger visitamos a Costa do Marfim e a<br />

cosmopolita Abdjan. Na cidade de Cotonu capital do Benin, o antigo Daomé, visitei meus<br />

“compatriotas, parentes e irmãos”. A emoção e as lágrimas foram do fundo do coração. Minha cabeça<br />

de jovem militante negro sofreu um duro golpe.<br />

Descobri que na África real tinha pouco do candomblé, da capoeira e muito do marxismo real<br />

convivendo com as religiões tradicionais. A forte presença <strong>das</strong> redes de hotéis internacionais, a miséria<br />

e o islamismo na superfície <strong>das</strong> relações humanas. Os povos de etnia Fons dominando os Yorubas, a<br />

alegria dos habitantes da cidade sagrada de Ouidah a forte influência da cultura baiana entre os<br />

descendentes africanos que depois da abolição retornaram para o Benin.<br />

Mas na África de ontem e de hoje existem surpresas. O que é segredo no candomblé na Bahia,<br />

no Benin é estimulado e praticado abertamente para que a transmissão do conhecimento se faça de uma<br />

forma direta. Vi muitas realidades, visitei os locais de saí<strong>das</strong> dos meus antepassados: A casa dos<br />

escravos na Ilha de Gore (Senegal) e sua porta de saída para o mar. No Benin o templo <strong>das</strong> cobras píton<br />

e o templo de Xangô em Sakete. A cidade de Ogum Pobe, e a vila Ganvie em palafitas.<br />

Em Luanda o Castelo de São Paulo (ponto de partida de escravos). A árvore da vida em que os<br />

africanos Angolanos davam voltas antes de embarcar para o mar desconhecido. Os livros sobre o Egito<br />

negro africano, as teses sobre a independência econômica dos povos do terceiro mundo, o poder na<br />

África, o pós-colonialismo. Um mundo mágico, real e moderno, que une tradição e anterioridade.<br />

A Bahia de ontem e hoje <strong>não</strong> reconhece a importância do legado civilizatório que nossos<br />

antepassados deram a esta terra. Busquei em algumas cidades do mundo um pouco desta historia. Nos<br />

museus sobre a escravidão em Liverpool, Londres, Paris, Nantes, em New York, senti a vergonha de<br />

confirmar que a Bahia foi o lugar em que mais africanos foram comprados, vendidos, mortos,<br />

humilhados e perseguidos.<br />

Nos livros, o nome dos oito maiores traficantes de africanos do mundo e entre eles dois<br />

homens brancos da Bahia. Ainda na lista, o maior traficante em África, o baiano Francisco de Souza<br />

(Xaxa), com 96 navios dedicados ao tráfico transatlântico de africanos.<br />

Este passado explica os ataques recentes à comunidade negra através do racismo institucional<br />

que sobrevive nas instituições e no Estado. Fazer parte da resistência africana na Bahia me faz forte,<br />

luto por diversidade, justiça e dignidade. No dia 25 de maio de 1963, 32 chefes de Estado africanos em<br />

Adis Abeba (A flor nova), capital da Etiópia, criaram a OUA (Organização da Unidade Africana), hoje<br />

a União Africana, esta data foi instituída pela ONU (Organização <strong>das</strong> Nações Uni<strong>das</strong>), em 1972, como o<br />

Dia da Libertação da África. Comemoramos a África e sua diversidade, a “pátria mãe de milhões de<br />

brasileiros”. Espero um dia comemorar a diversidade da Bahia, a implantação (de forma natural) de<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


Texto 5:<br />

políticas publicas de ações afirmativas como forma de produzir justiça e igualdade para a<br />

maior cidade africana fora de África. Um dia seremos todos iguais.<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: http://www.nucleoomidudu.org.br/pastas/noticias/2008/16_06/2.html<br />

A temática sobre etnicidade é complexa, envolvendo perspectivas teóricas que devem ser<br />

leva<strong>das</strong> em conta de acordo com o contexto cultural do qual está se falando, na medida em que<br />

etnicidade reflete tendências de identificação e inclusão de um grupo étnico em uma sociedade. Na sua<br />

grande maioria, o fenômeno da etnicidade emerge em contexto de reivindicação por cidadania em sua<br />

situação de desigualdade social.<br />

O cuidado que devemos ter com a idéia de globalização, pois ao mesmo tempo em que esta<br />

idéia produz ideologias multiculturais, também produz novas formas de racismo. A globalização pode<br />

ser um instrumento a serviço do recrudescimento <strong>das</strong> identidades a ponto de produzir novos equívocos e<br />

formas de desigualdade sutis. De que maneira aconteceu esta relação identitária e histórica?


Texto 1:<br />

2º <strong>Ano</strong> B <strong>–</strong> “Resisto, logo persisto”<br />

A proposta da turma B é nos contar sobre a produção cultural diaspórica<br />

transnacional e translocal através de seus artefatos <strong>–</strong> grafite, jazz, blues, black power, cinema<br />

negro, arte contemporânea pan-africana. Perceber quais os<br />

mecanismos utilizados por esses artefatos para contar a<br />

<strong>história</strong> negra e impedir as tentativas de epistemícidio <strong>–</strong><br />

termo utilizado por Boaventura para explicar o processo de<br />

apagar e de ocultar o conhecimento de uma cultura, tida<br />

como estranha na visão eurocêntrica. É importante<br />

lembrarmos que os artefatos culturais, como práticas<br />

sociais, é o local de negociação dos discursos de poder e,<br />

portanto, de ideologia.<br />

O canto da negritude<br />

Vozes que outrora se elevaram em reverência aos orixás nas selvas e savanas da África e que<br />

mais tarde, em lamento, cruzaram o Atlântico nos porões dos navios negreiros. Vozes que durante<br />

séculos confortaram dores e sofrimentos nas senzalas.<br />

Vozes que acalentaram a esperança incitaram lutas e revoltas pela libertação, adormeceram e<br />

embalaram os sonhos de crianças nos quilombos. Vozes que hoje nos encorajam a seguir em frente.<br />

Vozes que celebram a alegria dos que nunca desistem de construir um novo mundo.<br />

Texto 2:<br />

Ideologia <strong>–</strong> Produção de sentidos e significados<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: Textos do CIAD<br />

É que a ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da<br />

linguagem para penumbrar ou opacizar a realidade ao mesmo tempo em que nos torna ‘míopes’. O<br />

poder da ideologia me faz pensar nessas manhãs orvalha<strong>das</strong> de nevoeiro em que mal vemos o perfil dos<br />

ciprestes como sombras que parecem muito mais manhãs <strong>das</strong> sombras mesmas. Sabemos que a algo<br />

metido na penumbra, mas <strong>não</strong> o divisamos bem. A própria ‘miopia’ que nos acomete dificulta a<br />

percepção mais clara, mais nítida da sombra. Mais séria ainda é a possibilidade que temos de<br />

docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e <strong>não</strong> a verdade distorcida<br />

(FREIRE, 2005, p.126).<br />

Aliás, cumpre observar, que o termo cinema negro nasce com Glauber Rocha, ideólogo do<br />

cinema novismo. No filme “Leão de sete cabeças”, o autor Glauber Rocha mostra uma hermenêutica, na<br />

qual a africanidade se traduz em um terreno fértil, para a visão revolucionária do socialismo<br />

internacional. Percebe-se nesse projeto cinematográfico glauberiano um sentimento Afro-Latino-<br />

América. O “Leão” de Rocha, rodado no Congo de Brazaville, narra a luta pela descolonização e as<br />

dificuldades, que se dão na trajetória consubstancial da libertação. A ambiência do filme, caracterizando<br />

a cosmovisão africana, se configura ganhando intensidade do som signo, no canto afro-brasileiro de


Clementina de Jesus. Ainda assim, Glauber Rocha insistia em desenhar uma espécie de<br />

africanidade, valendo-se de signos que dimensionavam o universo africano.<br />

Constata-se que o cinema negro é uma postura conceitual para expressar o<br />

discernimento da nova posição sociocultural do afro-descendente, na construção da imagem<br />

afirmativa do negro e de sua cultura.<br />

Furtar a um grupo a condição de conhecimento significa anulá-lo da possibilidade <strong>das</strong> relações<br />

de plenitude existencial. A marginalização de uma força étnico-racial se caracteriza no processo do<br />

cerceamento desse vetor ao acesso à produção de conhecimento. Parece existir relação estreita entre a<br />

condição de subordinação e o processamento da expressão da ausência do saber. O nível de<br />

conhecimento dos segmentos subalternos é determinado pelo grau de necessidade tecnológica, do modo<br />

de produção em voga.<br />

Com efeito, o cinema negro no Brasil e no mundo, enquanto postura conceitual, em favor de<br />

uma imagética que reconstitui o ser do afro-descendente, em meio ao dinamismo da cosmovisão<br />

africana. Exercício de uma práxis que se constitui no esforço da construção <strong>das</strong> matrizes do<br />

conhecimento negro, para por fim a nefasta iconografia da orfandade do afro-saber, que a imagem do<br />

negro tem sido vítima na África e na Diáspora.<br />

O cinema negro torna-se, com isso, um importante instrumento na luta libertária, na construção<br />

da imagem afirmativa do negro no sonho de recriação de um imaginário com base no saber e na<br />

ontologia do negro no mundo. Merleau Ponty chama atenção do imaginário como complexidade do<br />

olhar do artista: O quadro como a mímica do ator, pertence ao imaginário. “O olhar do pintor vê o<br />

mundo e o que falta no mundo para ser quadro e o que falta ao quadro para ser ele mesmo”.<br />

Texto 3:<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: PRUDENTE, Celso. Revista palmares nº 3<br />

<strong>“A</strong> literatura negra <strong>não</strong> é feita só de banzo, para isso o samba existe. O corpo esteve escravo, mas houve<br />

e sempre há a esperança de quilombo. Escrevivências negras existem por esse Brasil afora, vozes<br />

quilombolas que se fazem ouvir na literatura brasileira”<br />

Texto 4:<br />

Fonte: EVARISTO, Conceição. Revista palmares nº 3<br />

O movimento hip-hop: manifesto de insatisfação social do jovem negro<br />

O movimento Hip Hop, foi gradativamente se construindo, em um processo iniciado no final<br />

dos anos 60 e princípio da década de 70. Quando os elementos de expressão artística foram<br />

incorporando-se uns aos outros, eles já tinham caráter contestador. Por exemplo, o Break (a dança),<br />

enriqueceu-se com a participação dos jovens de origem hispânica residentes nos EUA, contrários a<br />

Guerra do Vietnã. Em suas performances imitavam os helicópteros da guerra e os soldados feridos ou<br />

mutilados que voltavam da guerra. Para estes jovens, o Break era uma forma de protesto, que mesmo


<strong>não</strong> modificando as decisões dos políticos, os ajudava a expressar toda a sua contrariedade. O<br />

Grafite <strong>não</strong> fugiu a regra. Grafitar em letras enormes, fugindo da estética da arte tradicional,<br />

era para aqueles jovens dos guetos nova-iorquinos, vivendo em quase total exclusão social,<br />

oportunidade de romper padrões e ser diferentes. Desenhar em lugares proibidos; trens do<br />

metrô, estabelecimentos comerciais, edifícios públicos, etc, garantiam toda a adrenalina, aventura e<br />

agitação que buscavam. Quanto ao Rap, o mais importante dos três elementos artísticos do Hip Hop,<br />

retrata através de um discurso ora ofensivo, ora informativo, todo o seu conteúdo contestatório. Ele tem<br />

uma <strong>história</strong> que se difere dos outros dois elementos, o Break e o Grafite. Foi introduzido nos guetos de<br />

Nova Iorque por um DJ (abreviação de disc jockey) jamaicano chamado Kool Herc, que impulsionou a<br />

criatividade dos jovens dos guetos, especialmente os jovens negros, com os quais ele tinha mais contato<br />

justamente por ser negro.<br />

O Rap é uma música de origem negra, faz parte do repertório da “Black Music”. Sua forma de<br />

expressão, deriva do hábito de alguns povos da África Ocidental de cantar falando. Alguns deles foram<br />

seqüestrados para tornar-se escravos no Caribe, daí a origem jamaicana. Nos Estados Unidos, na época<br />

em que lá vigorava a escravidão, os escravos <strong>das</strong> plantações de algodão, muitos deles “griots”,<br />

cantavam falando. No Brasil por volta dos séculos 18/19, negros que trabalhavam nas ruas de Salvador,<br />

Bahia, faziam um canto falado reclamando da atitude opressiva da política escravista. Havia o puxador<br />

(uma espécie de MC) e os outros repetiam o canto em refrão. Daí decorre o estilo repentista da cultura<br />

nordestina. Nos EUA a rima se sofisticou, mas sua característica básica foi, e ainda é, uma manifestação<br />

de origem do povo negro.<br />

No Brasil o Hip Hop chegou no início da década de 80, mais especificamente na cidade de São<br />

Paulo. Por intermédio dos bailes voltados para a juventude negra, realizados pelas equipes como Chic<br />

Show, por exemplo, dos discos importados vendidos na famosa Galeria 24 de Maio (na verdade Grande<br />

Galeria) e do impulso dado por figuras como Nelson Triunfo, Thaide e DJ Hum e os Racionais, entre<br />

outros.<br />

O período de ascensão do Hip Hop, 15 anos depois, trás ao movimento uma nova dinâmica.<br />

Ele encontra-se estruturado socialmente em grupos específicos de estudos e formação política de<br />

adeptos da cultura Hip Hop. Desde 1989 existia o Movimento Hip Hop Organizado - MH2O, que<br />

incentivou a criação <strong>das</strong> “posses”, <strong>das</strong> quais posso destacar a Posse Hausa, do município de São<br />

Bernardo do Campo, que continua ativa e atuante. Ainda na metade da década de 90, o Hip Hop obteve<br />

um patamar de linguagem para chegar aos jovens de periferia, notadamente o jovem negro, e os rappers<br />

passaram a ser respeitados como sujeitos políticos em alguns focos educativos.<br />

Após este relato, para finalizar, penso ser oportuno fazer uma breve comparação dos anos 90,<br />

auge da visibilidade do MHH, com os anos 2000. Percebo no MHH um enorme crescimento e uma<br />

mudança na abordagem de alguns temas. Quando falo de crescimento cito o surgimento e a<br />

solidificação de diversos grupos, ou posses, buscando fazer do movimento e da cultura Hip Hop um<br />

exemplo de ação transformadora e promotora de igualdade. Todos eles apresentam como eixo norteador<br />

à juventude negra. Isso pode ser a partida para inserção, ou ao menos o interesse, nos partidos políticos<br />

e da luta pelo controle da produção da cultura que é protagonizada pelo jovem pobre, em especial o<br />

jovem negro.<br />

Não podemos esquecer que desde seu início o Movimento Hip Hop é um movimento<br />

considerado uma contra cultura do mundo, um alerta, de reinvidicação, já que é feito por pessoas em<br />

situação de exploração. O que explica que mesmo com o passar do tempo, o tema violência se faz<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ


presente, porque o tema continua atual. Jovens negras e jovens negros continuam sofrendo<br />

vários tipos de violências. Política, políticos e violência ganham um destaque especial na<br />

medida que o MHH usa <strong>das</strong> questões como forma de obter políticas públicas que garantam o<br />

direito de viver e <strong>não</strong> o direito de morrer de forma diferenciada. Exemplo disso foi à<br />

modificação da discussão da temática racial nas escolas, muito por influência do Rap na construção da<br />

identidade <strong>das</strong> crianças e jovens que cresceram ouvindo Rap, dançando Break e fazendo Grafite, e na<br />

contestação contra as imagens pejorativas produzi<strong>das</strong> por valores de uma sociedade que tentava, e ainda<br />

tenta, deturpar a cultura negra brasileira.<br />

Texto 5:<br />

O Brasil na rota do pan-africanismo<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

Fonte: DIPRETO, Marco. Fundação Palmares Seleta Nº02.<br />

Em sua versão contemporânea, a idéia de pan-africanismo, ou seja, de que existem laços comuns, de ordem<br />

cultural e histórica, entre os povos africanos e afro-descendentes, é a de que esses laços devem servir de base à<br />

construção de estratégias comuns para o enfrentamento dos múltiplos problemas gerados pela escravidão, o<br />

colonialismo e o racismo. Diferentemente da interpretação distorcida dos que pretendem associar essa idéia,de<br />

caráter progressista e libertário, a um “essencialismo” racial fomentador de ódios e divisões, o ideal pan-africano,<br />

como jáo exprimia, pouco menos de um século atrás, o grande pensador afro-americano W.E.B. DuBois, enfatiza<br />

a solidariedade dos povos de origem africana, <strong>não</strong> para apartá-los do conjunto maior da humanidade, mas com o<br />

objetivo de melhor inseri-los nesse conjunto, reconhecendo e valorizando as suas características e contribuições<br />

ao patrimônio comum de todos os seres humanos, e simultaneamente garantindo a sua participação igualitária na<br />

partilha desse patrimônio.<br />

Texto 6:<br />

Palco<br />

Subo nesse palco, minha alma cheira a talco<br />

Como bumbum de bebê, de bebê<br />

Minha aura clara, só quem é clarividente pode<br />

ver<br />

Pode ver<br />

Trago a minha banda, só quem sabe onde é<br />

Luanda<br />

Saberá me dar valor, dar valor<br />

Vale quanto pesa prá quem preza o louco<br />

bumbum do tambor<br />

Do tambor<br />

Fogo eterno prá afugentar<br />

O inferno prá outro lugar<br />

Fonte: MEDEIROS, Carlos Alberto. http://www.palmares.gov.br/<br />

Fogo eterno prá consumir<br />

O inferno, fora daqui<br />

Venho para a festa, sei que muitos têm na testa<br />

O deus-sol como um sinal, um sinal<br />

Eu como devoto trago um cesto de alegrias de<br />

quintal<br />

De quintal<br />

Há também um cântaro, quem manda é Deus a<br />

música<br />

Pedindo prá deixar, prá deixar<br />

Derramar o bálsamo, fazer o canto, cantar o<br />

cantar<br />

Lá, lá, ia<br />

(Gilberto Gil)


3º <strong>Ano</strong> <strong>–</strong> “Essa é a África que permanece entre nós”<br />

O povo brasileiro foi constituído por diversos povos e etnias,<br />

principalmente por indígenas autóctones, portugueses e<br />

africanos, de diversas nações. Em to<strong>das</strong> as latitudes geográficas e<br />

manifestações culturais brasileiras, está presente a influência<br />

africana: na música, dança, religião, culinária, artes plásticas e na<br />

arquitetura. Ao retornarem para a África, muitos africanos e seus<br />

descendentes levaram um pouco do Brasil e nos deixaram muito<br />

do continente africano. Portanto, caberá ao 3º ano mostrar as<br />

influências transversais entre os países africanos e o Brasil, cuja<br />

<strong>história</strong> comum está documentada por seus patrimônios culturais,<br />

materiais e intangíveis tanto aqui quanto lá. Possibilitar reflexões<br />

a respeito da influência africana na formação do povo brasileiro.<br />

Texto 1:<br />

Libertar <strong>não</strong> só significa tirar gênio de garrafa, entregar-lhe ao campo.<br />

Libertar <strong>não</strong> só significa tirar preso de cadeia entregar-lhe ao mundo.<br />

Libertar é trabalhar mente e corpo, nutrir o moço, calçar seus pés, ensinar-lhe o caminho e desse jeito<br />

finalmente ele(a) pode andar sozinho(a).<br />

Texto 2:<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

(Rita Mota)<br />

A ligação entre o Brasil e a África está muita além da inegável herança africana, que pode ser sentida<br />

nas mais diversas manifestações culturais do povo brasileiro, seja na religião, na culinária ou na música. É muito<br />

mais que isso: a África está presente na própria constituição do povo brasileiro. Se há certos traços capazes de<br />

caracterizar um povo, <strong>não</strong> pode haver dúvi<strong>das</strong> de que o povo brasileiro <strong>não</strong> seria o que é sem que o espírito da<br />

mãe África estivesse presente em toda a cultura brasileira. (CIAD)<br />

É de suma importância o intercâmbio desses dois povos, visto que os africanos tiveram grande<br />

influência na base estrutural da cultura do povo brasileiro, os afro-descendentes caminham para um conhecimento<br />

mais profundo de suas origens e uma construção mais sólida de cidadania, buscando assim a verdadeira<br />

democracia, deixando de lado o tratamento desigual.<br />

Texto 3:<br />

Segundo prefácio do crítico e pensador Antônio Cândido para a edição de 1967, "uma <strong>das</strong> forças de<br />

Raízes do Brasil foi ter mostrado como o estudo do passado, longe de ser uma operação saudosista, modo de<br />

legitimar as estruturas vigentes, ou simples verificação, pode ser uma arma para abrir caminho aos grandes<br />

movimentos democráticos integrais, isto é, os que contam com a iniciativa do povo trabalhador e <strong>não</strong> o confinam<br />

ao papel de massa de manobra, como é uso".<br />

A herança africana está muitas vezes mascarada, travestida de folclore, de exotismo, de algo marginal e<br />

secundário, frente à precedência <strong>das</strong> contribuições européias.<br />

A força da ideologia é tamanha que até há pouco tempo o próprio afro-descendente ignorava sua<br />

herança cultural africana, tendo como ideal exclusivo os valores europeus.<br />

Há muito já se percebeu que a grande riqueza cultural e o diferencial do Brasil reside em ser um país<br />

mestiço, em que povos se misturam. Pretos, brancos e amarelos; bantos, iorubas, tupinambás, guaranis, carijós,<br />

portugueses, espanhóis, italianos, japoneses, libaneses e tantos outros.<br />

Enquanto a Europa se desnorteia diante da invasão de africanos e árabes que vão buscar na metrópole<br />

aquilo que lhes foi prometido na época dos grandes impérios <strong>–</strong> que tomaram conta de suas riquezas e de suas


Texto 5:<br />

sociedades, e quase nada deixaram em troca <strong>–</strong>, nós estamos calejados para viver o contato com a<br />

diferença. Mas percebemos pouco essas vantagens, porque ainda temos preconceitos dentro de nós,<br />

dando menos valor às nossas heranças ameríndias e africanas do que às européias.<br />

Fonte: Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda<br />

Texto 4:<br />

Eita negro!<br />

quem foi que disse<br />

que a gente <strong>não</strong> é gente?<br />

quem foi esse demente,<br />

se tem olhos <strong>não</strong> vê...<br />

- Que foi que fizeste mano<br />

pra tanto falar assim?<br />

- Plantei os canaviais do nordeste<br />

- E tu, mano, o que fizeste?<br />

Eu plantei algodão<br />

nos campos do sul<br />

pros homens de sangue azul<br />

que pagavam o meu trabalho<br />

com surra de cipó-pau<br />

Projeto de futuro<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ<br />

(Solano Trindade)<br />

Filho separado de pai, quebrando as linhagens que identificavam as etnias e nações; filha<br />

separada de mãe, destruindo as famílias que consolidavam as solidariedades grupais: esta foi a tragédia<br />

que se abateu sobre os povos africanos. Desde meados do século XV até meados do século XIX, mais<br />

de 20 milhões de homens e mulheres foram arrancados da África e mais de 12 milhões chegaram às<br />

Américas. Acorrentados, vendidos como mercadorias (peças), jogados na máquina infernal dos<br />

engenhos e plantações, com seu trabalho, com a sua inteligência, com as suas culturas, eles construíram<br />

o Novo Mundo. Os muitos milhões de seus descendentes formam hoje esta Nova África desterrada que<br />

nós chamamos de Diáspora Africana.<br />

Os que ficaram na Velha África suportaram durante mais de um século a dominação colonial<br />

européia, que explorou as suas forças, que sugou as suas riquezas naturais, que aboliu suas<br />

independências e liberdades.<br />

Durante meio milênio, os africanos e seus descendentes em todo o mundo estiveram<br />

subordinados à expansão e desenvolvimento de um capitalismo mundializado, com sede na Europa,<br />

para a afirmação de uma pretensa superioridade da civilização ocidental. Resistentes em toda a parte,<br />

durante todo o tempo, contra a escravidão, contra o colonialismo, contra o racismo, contra as<br />

desigualdades socioeconômicas em cada país e contra as desigualdades impostas nas relações<br />

internacionais, este mundo africano levantou-se contra to<strong>das</strong> as formas de opressão.<br />

A força de nossa aliança está em nossa herança cultural comum. Para cultivar nossas<br />

identidades, várias atividades culturais estarão sendo realiza<strong>das</strong> nestes dias, em toda a cidade. Serão<br />

exposições, espetáculos de música, de dança, de teatro, lançamento de livros, mostras de filmes, feiras e<br />

degustações <strong>das</strong> delícias de nossa culinária.<br />

Unidos pela nossa ancestralidade comum, solidários no presente e referenciados por um projeto<br />

de futuro, certamente poderemos estimular a formação de uma opinião pública internacional africana e<br />

construir uma nova parceria pela igualdade e pelo desenvolvimento, capaz de estabelecer uma<br />

interlocução eficaz com os demais blocos e agrupamentos que gerem interesses dos países que se<br />

definem como ricos predominantemente brancos. Deste modo, contribuiremos efetivamente para uma<br />

ordem internacional fundada no respeito a todos os povos, na diversidade cultural com igualdade e na<br />

repartição eqüitativa de todos os bens materiais e imateriais produzidos pela humanidade.<br />

Fonte: www.fundacaopalmares.com.br

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