1º Ano A – “A história não contada” Chegou o momento das ...
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formulação de princípios políticos, éticos e morais. Princípios esses que embasaram toda a<br />
mentalidade colonialista, legitimando a escravidão.<br />
Os pensadores do século XIX, embasados no racionalismo, vêem africanos como<br />
“seres” sem cultura e incapazes de produzir <strong>história</strong>. Leila Hernandez no livro África na Sala<br />
de Aula, nos mostra três pontos da literatura moderna que negam a existência da <strong>história</strong> no<br />
continente Africano, são eles:<br />
• A África como um estado de selvageria, onde apenas a selvageria e natureza predominam, sendo<br />
incapaz de produzir cultura e <strong>história</strong>.<br />
• A distinção entre europeus e africanos, e os africanos entre si (A África dividida pelo deserto do<br />
Saara).<br />
• Referindo-se ao africano subsaariano como sujeito sem “vontade racional”, incapaz de<br />
transformar a realidade de acordo com critérios “racionais”.<br />
Esses pensadores ditos “bem-dotados”, ou seja, se acham mais capazes, e por essa razão se vêem<br />
no direito de formular uma nova noção de mundo, legitimados no cientificismo. Esse último vai dar<br />
origem a uma “ciência” ou corrente de pensamento, chamada de racismo ou racialismo, que prevê a<br />
superioridade através <strong>das</strong> diferenças biológicas encontra<strong>das</strong> na espécie humana. Muitas vezes essas<br />
teorias, são equivoca<strong>das</strong> interpretações <strong>das</strong> teorias evolucionistas, como a de Charles Darwin que<br />
escreve em 1859 A origem <strong>das</strong> Espécies, que mostra, entre tantas outras coisas, a ancestralidade comum<br />
do Homo Sapiens e primatas. Os racialistas vão “usar” o continente africano como um laboratório para<br />
suas teorias, e mostrar a “barbárie” e o “estado primitivo” dos povos africanos:<br />
“Encontramos [...], aqui o homem no seu estado bruto. Tal é o homem na África. Porquanto o<br />
homem aparece como homem, põe-se em oposição à natureza; assim é como faz homem. Mas,<br />
porquanto se limita a diferenciar-se da natureza, encontra-se no primeiro estágio, dominado pela paixão,<br />
pelo orgulho e a pobreza; é um homem estúpido. No estado de selvageria achamos o africano, enquanto<br />
podemos observá-lo e assim tem permanecido. O negro representa o homem natural em toda a sua<br />
barbárie e violência; para compreendê-lo devemos esquecer to<strong>das</strong> as representações européias.<br />
Devemos esquecer Deus e a lei moral. Para compreendê-lo exatamente, devemos abstrair de todo<br />
respeito e moralidade, de todo o sentimento, tudo isso está no homem em seu estado bruto, em cujo<br />
caráter nada se encontra que pareça humano [...]”. 2<br />
Mas afinal, qual foi o motivo para que os europeus negassem a <strong>história</strong> no continente Africano?<br />
A <strong>história</strong> ocidental é baseada em fontes escritas e <strong>não</strong> consegue conceber que povos sem escrita<br />
tenham <strong>história</strong>. Os povos sem escrita são majoritários no continente africano, onde a tradição oral é a<br />
fonte primordial da <strong>história</strong>. 3<br />
Ou seja, a fala para os africanos é muito mais importante do que um<br />
pedaço de papel escrito, que <strong>não</strong> passa de uma memória artificial. Respeitar a fala é questão de honra, e<br />
é assim que a <strong>história</strong> da África é contada e passada entre os africanos. A Tradição oral tem dois tipos<br />
de portadores, como cita Leila Hernandez, “guardiões da palavra falada”, que são os tradicionalistas e<br />
os griôs.<br />
Os tradicionalistas fazem parte de uma “elite” de guardiões da palavra, eles têm o<br />
“conhecimento da palavra falada”, pois tem ligação com o divino e suas revelações são sempre<br />
fidedignas, pois prezam a verdade, sem a verdade eles perderiam “o dom de pôr a ordem, manter a<br />
4<br />
coesão e harmonizar as gentes” . Os tradicionalistas têm o conhecimento total da tradição, são eles os<br />
portadores da gênese do cosmo, e a criação de to<strong>das</strong> as coisas.<br />
Já os griôs, são incumbidos de transmitir a verdade de uma forma mais livre da rigidez<br />
tradicional. Usando a dança e suas coreografias juntamente com a música, esses narradores contam os<br />
grandes feitos dos heróis, a origem do mundo, as genealogias e a formação dos impérios, nunca<br />
2 HEGEL, George W. F. Filosofia de la <strong>história</strong> universal. Madri: Revista de Occidente, 1928, t. 1, p. 187. IN: HERNANDEZ,<br />
Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005. p. 21.<br />
3 É importante saber que a escrita surgiu no continente africano.<br />
4 HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula. São Paulo: Summus Editorial/Selo Negro, 2005. p. 29.<br />
2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ