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1º Ano A – “A história não contada” Chegou o momento das ...

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Convivemos com uma branquitude que exerce o seu poder simbólico através da<br />

migração forçada, do alarmante número de mortes por negligência, da apropriação de terras,<br />

da institucionalização do racismo, da destruição <strong>das</strong> culturas, a péssima qualidade de ensino e<br />

a escravidão de trabalhadores.<br />

Aqueles que desafiam o poder simbólico causam transtornos a normalidade<br />

institucional e aqueles que têm privilégios. Os mesmos que definiram o modelo pelo qual a branquitude<br />

mantém suas formas de poder vêm desde as capitanias hereditárias. Assim qualquer manifestação dos<br />

<strong>não</strong> brancos contra esta opressão é vista como uma “esquisitice” que pretende abalar a democracia<br />

racial, a segurança jurídica e a igualdade entre todos os baianos. Uma afronta à supremacia invisível da<br />

branquitude.<br />

Os africanos desenvolveram uma civilização afro-baiana muito forte. É da África a origem de<br />

77% dos baianos e 83,7% dos soteropolitanos. O presidente do Benin, Boni Yayi declarou: "Vocês são<br />

meus compatriotas, meus parentes, meus irmãos. E <strong>não</strong> falem que estou louco, o que eu digo é de<br />

coração profundo".<br />

Somos nós os loucos ao <strong>não</strong> percebemos a forte influência Africana em nossa sociedade?<br />

A idéia da África sempre foi muito confusa, para a maioria dos baianos de origem africana e<br />

<strong>não</strong> africana. Será a África um país? Uma nação? Ou algo uno e indivisível?<br />

A primeira vez que fui à África (1986) com Pierre Verger visitamos a Costa do Marfim e a<br />

cosmopolita Abdjan. Na cidade de Cotonu capital do Benin, o antigo Daomé, visitei meus<br />

“compatriotas, parentes e irmãos”. A emoção e as lágrimas foram do fundo do coração. Minha cabeça<br />

de jovem militante negro sofreu um duro golpe.<br />

Descobri que na África real tinha pouco do candomblé, da capoeira e muito do marxismo real<br />

convivendo com as religiões tradicionais. A forte presença <strong>das</strong> redes de hotéis internacionais, a miséria<br />

e o islamismo na superfície <strong>das</strong> relações humanas. Os povos de etnia Fons dominando os Yorubas, a<br />

alegria dos habitantes da cidade sagrada de Ouidah a forte influência da cultura baiana entre os<br />

descendentes africanos que depois da abolição retornaram para o Benin.<br />

Mas na África de ontem e de hoje existem surpresas. O que é segredo no candomblé na Bahia,<br />

no Benin é estimulado e praticado abertamente para que a transmissão do conhecimento se faça de uma<br />

forma direta. Vi muitas realidades, visitei os locais de saí<strong>das</strong> dos meus antepassados: A casa dos<br />

escravos na Ilha de Gore (Senegal) e sua porta de saída para o mar. No Benin o templo <strong>das</strong> cobras píton<br />

e o templo de Xangô em Sakete. A cidade de Ogum Pobe, e a vila Ganvie em palafitas.<br />

Em Luanda o Castelo de São Paulo (ponto de partida de escravos). A árvore da vida em que os<br />

africanos Angolanos davam voltas antes de embarcar para o mar desconhecido. Os livros sobre o Egito<br />

negro africano, as teses sobre a independência econômica dos povos do terceiro mundo, o poder na<br />

África, o pós-colonialismo. Um mundo mágico, real e moderno, que une tradição e anterioridade.<br />

A Bahia de ontem e hoje <strong>não</strong> reconhece a importância do legado civilizatório que nossos<br />

antepassados deram a esta terra. Busquei em algumas cidades do mundo um pouco desta historia. Nos<br />

museus sobre a escravidão em Liverpool, Londres, Paris, Nantes, em New York, senti a vergonha de<br />

confirmar que a Bahia foi o lugar em que mais africanos foram comprados, vendidos, mortos,<br />

humilhados e perseguidos.<br />

Nos livros, o nome dos oito maiores traficantes de africanos do mundo e entre eles dois<br />

homens brancos da Bahia. Ainda na lista, o maior traficante em África, o baiano Francisco de Souza<br />

(Xaxa), com 96 navios dedicados ao tráfico transatlântico de africanos.<br />

Este passado explica os ataques recentes à comunidade negra através do racismo institucional<br />

que sobrevive nas instituições e no Estado. Fazer parte da resistência africana na Bahia me faz forte,<br />

luto por diversidade, justiça e dignidade. No dia 25 de maio de 1963, 32 chefes de Estado africanos em<br />

Adis Abeba (A flor nova), capital da Etiópia, criaram a OUA (Organização da Unidade Africana), hoje<br />

a União Africana, esta data foi instituída pela ONU (Organização <strong>das</strong> Nações Uni<strong>das</strong>), em 1972, como o<br />

Dia da Libertação da África. Comemoramos a África e sua diversidade, a “pátria mãe de milhões de<br />

brasileiros”. Espero um dia comemorar a diversidade da Bahia, a implantação (de forma natural) de<br />

2008Salvador/sec./extraclasse/ OficinConcert/ 20080808_RoteiroGeralFina-EM.doc/prof-nJ

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