18.04.2013 Views

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Esfinge olhando a planície enorme...<br />

A poetisa encontra-se agora perante a solidão, “o mundo dorme”,<br />

enquanto ela espera, ansiosa um novo dia “olhando a planície enorme”<br />

cismando no abandono do Sol, seu amado, que ela fielmente espera,<br />

perscrutando os longes com o seu olhar enigmático <strong>de</strong> esfinge, com a<br />

cisma <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> tenta <strong>de</strong>svendar um mistério.<br />

É <strong>de</strong> salientar o papel da noite, o qual difere daquele que<br />

encontrámos <strong>em</strong> Livro <strong>de</strong> Mágoas: “E eu oiço a Noite imensa soluçar!/ E<br />

eu oiço soluçar a Noite escura!”.<br />

E como diz Cecília Barreira<br />

a noite triste e pessimista que se avizinha transformase<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>briaguez e loucura, <strong>em</strong> algo que se plasma no<br />

genisíaco, na <strong>em</strong>briaguez dos sentidos. A noite calma<br />

pressente o enlace dos amantes [BARREIRA: 1994, p.<br />

174].<br />

“A noite calma pressente o enlace dos amantes”, enquanto t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

“doce ansieda<strong>de</strong>”, da expectativa da <strong>em</strong>briaguez <strong>de</strong> um novo amplexo, na<br />

extensa planície, on<strong>de</strong> a Natureza e o amor se confun<strong>de</strong>m.<br />

A noite, “hora doce”, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> sofrimento traz a “ansieda<strong>de</strong>”, mas<br />

uma ansieda<strong>de</strong> suavizada pela música fúnebre que, paradoxalmente, se<br />

traduz na sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um dia que morreu e na esperança <strong>de</strong> um outro que<br />

há-<strong>de</strong> vir.<br />

O “Eu”, tendo passado por fases <strong>de</strong> <strong>de</strong>sânimo, <strong>de</strong> revolta, <strong>de</strong> procura<br />

infinita, vive agora momentos <strong>de</strong> sensualida<strong>de</strong> e erotismo, a que se segue<br />

a doce espera, simbolizando a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina imposta pela socieda<strong>de</strong>.<br />

Assim, o po<strong>em</strong>a, que se inicia sob a égi<strong>de</strong> da ruptura, face ao sonho<br />

<strong>de</strong> amor proclamado e concretizado, sucumbe perante a passiva aceitação<br />

da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina e da infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> masculina.<br />

4.3.4- Amor e poesia.<br />

116

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!