18.04.2013 Views

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

momento, sob pena <strong>de</strong> se lastimar, não o vivido, mas sim o não-vivido, o<br />

que está <strong>em</strong> consonância com o convite do sujeito poético florbeliano<br />

en<strong>de</strong>reçado ao Amor.<br />

[...]<br />

Mais tar<strong>de</strong> será tar<strong>de</strong> e já é tar<strong>de</strong>.<br />

O t<strong>em</strong>po apaga tudo menos esse<br />

Longo in<strong>de</strong>lével rasto<br />

Que o não-vivido <strong>de</strong>ixa.<br />

[...]<br />

E como po<strong>de</strong> o Amor recusar o convite anteriormente formulado se<br />

o “Eu” é conotado com uma pintura <strong>de</strong> palavras feita, cuja sensual beleza<br />

encontra eco na paisag<strong>em</strong> e na arte. Com “a cinta esbelta e fina...”,<br />

l<strong>em</strong>bra os finos caules do trigo maduro; “pele doirada <strong>de</strong> alabastro<br />

antigo...”, qual estátua <strong>de</strong> mármore; as mãos, metonímia do corpo,<br />

apresentam-se frágeis, r<strong>em</strong>etendo para o antigo mundo florentino, num<br />

quadro renascentista, fazendo assim com que o erotismo, a beleza, e a<br />

arte caminh<strong>em</strong> lado a lado.<br />

Há rendas gramíneas pelos montes...<br />

Papoilas rubras nos trigais maduros...<br />

Água azulada a cintilar nas fontes...<br />

A plasticida<strong>de</strong> das palavras, o mundo cromático que se entrelaça no<br />

texto poético pinta a natureza <strong>de</strong> forma aprazível, plena <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> e<br />

sensualida<strong>de</strong>, com cores rútilas como o rubro das papoilas, a tonalida<strong>de</strong><br />

da paixão, o amarelo dos trigais maduros, ou o azul cintilante da água<br />

nas fontes, as quais introduz<strong>em</strong> no cenário uma nota <strong>de</strong> frescura que<br />

termina nas “alfombras/ dos caminhos selvagens e escuros,”, tornando-se<br />

estes num refúgio para o “Eu” e o “Tu”.<br />

O amor e a alegria manifestam-se, assim, num hino à felicida<strong>de</strong>: “-<br />

Vamos correr e rir por entre o trigo!-”, on<strong>de</strong> há “Papoilas rubras” pelos<br />

montes, on<strong>de</strong> “há rendas <strong>de</strong> gramíneas” e “Água azulada a cintilar nas<br />

fontes...”, numa tela <strong>de</strong> cores que faz l<strong>em</strong>brar o “Pic-nic <strong>de</strong> burguesas” <strong>de</strong><br />

Cesário Ver<strong>de</strong>. Em Cesário, o “rubro das papoulas” surge por entre o<br />

“granzoal azul”, qual “água azulada a cintilar nas fontes...”, e a “renda<br />

129

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!