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Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

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Entre a <strong>Florbela</strong> que dá os primeiros passos no mundo da poesia e a<br />

que nos é dada a conhecer nesta nova colectânea aperceb<strong>em</strong>o-nos <strong>de</strong> um<br />

lento caminhar rumo à libertação. Libertação enquanto mulher e<br />

enquanto poetisa, uma vez que uma e outra se interligam, não po<strong>de</strong>ndo a<br />

mulher presa a convenções e tabus produzir poesia que liberte o “Eu”<br />

através da palavra e do sentimento.<br />

Em “Horas Rubras” assistimos a uma mudança <strong>de</strong> rumo, on<strong>de</strong> o<br />

sujeito poético se divi<strong>de</strong> entre a sensualida<strong>de</strong> e a espiritualida<strong>de</strong>, numa<br />

paulatina subversão dos topoi estabelecidos pela socieda<strong>de</strong> patriarcal, <strong>em</strong><br />

função <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada atitu<strong>de</strong>, neste caso a submissão da mulher,<br />

objecto do amor, nunca sujeito <strong>de</strong>sse mesmo amor.<br />

Horas profundas, lentas e caladas<br />

Feitas <strong>de</strong> beijos rubros e ar<strong>de</strong>ntes,<br />

De noites <strong>de</strong> volúpia, noites quentes<br />

On<strong>de</strong> há risos <strong>de</strong> virgens <strong>de</strong>smaiadas...<br />

As horas arrastam-se mercê da aliteração <strong>em</strong> “n”, proporcionando<br />

uma atmosfera <strong>de</strong> sedução e sensualida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> não faltam os beijos<br />

“rubros e ar<strong>de</strong>ntes”, marcando o fogo da paixão, e os “risos <strong>de</strong> virgens<br />

<strong>de</strong>smaiadas...” que as reticências <strong>de</strong>ixam antever que o não são mais,<br />

r<strong>em</strong>etendo, assim, para a concretização do amor, já não apenas no plano<br />

do sonho como <strong>em</strong> “Esfinge”, mas no plano do concreto.<br />

Oiço olaias <strong>em</strong> flor às gargalhadas…<br />

Tombam astros <strong>em</strong> fogo, astros <strong>de</strong>mentes,<br />

Os dois primeiros versos da segunda quadra parec<strong>em</strong> r<strong>em</strong>eter para<br />

uma <strong>em</strong>briaguez dos sentidos, numa orgia amorosa on<strong>de</strong> entram os<br />

el<strong>em</strong>entos da Natureza, partilhando da loucura do amor vivenciado e<br />

fazendo ouvir o “tirso” do êxtase.<br />

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