18.04.2013 Views

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sido vista e entendida como um ser s<strong>em</strong> sentimentos e sobretudo<br />

assexuada.<br />

A militância <strong>de</strong> <strong>Florbela</strong> foi a sua poesia que perdurou, in<strong>de</strong>lével, até<br />

hoje, e ainda hoje nos surpreen<strong>de</strong> ao glorificar a alma da mulher que<br />

pô<strong>de</strong>, enfim, viver as suas “Horas Rubras”, “[...] risos <strong>de</strong> virgens<br />

<strong>de</strong>smaiadas...” no “Crepúsculo”, quando “A Noite Desce”.<br />

Também a vida <strong>de</strong> <strong>Florbela</strong> se po<strong>de</strong> encarar como uma militância ao<br />

serviço da libertação da mulher. Viveu três casamentos e dois divórcios,<br />

quando este, permitido com restrições pela lei, era rejeitado pela<br />

socieda<strong>de</strong>, tornando a mulher divorciada num ser marginal.<br />

E não se pense que para <strong>Florbela</strong> o divórcio foi uma levianda<strong>de</strong>. São<br />

da poetisa estas palavras, dirigidas ao irmão <strong>em</strong> 1923, reveladoras <strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> sofrimento e <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>.<br />

Eu <strong>de</strong>ixei que tivesses da minha vida uma certeza <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong> que ela <strong>de</strong> forma alguma possuía; nunca me<br />

ouviste uma queixa, nunca ninguém me viu uma lágrima,<br />

e no entanto a minha vida há 2 anos foi um calvário que<br />

me dá direito a ter razão e a não me envergonhar <strong>de</strong> mim.<br />

Sofri todas as humilhações, suportei todas as brutalida<strong>de</strong>s<br />

e grosserias, resignei-me a viver no maior dos abandonos<br />

morais, na mais fria das indiferenças; mas um dia chegou<br />

<strong>em</strong> que eu me l<strong>em</strong>brei que a vida passava, que a minha<br />

bela e ar<strong>de</strong>nte mocida<strong>de</strong> se apagava, que eu estava a<br />

transformar-me na mais vulgar das mulheres, e por<br />

orgulho, e mais ainda por dignida<strong>de</strong>, olhei <strong>em</strong> frente, s<strong>em</strong><br />

covardias n<strong>em</strong> fraquezas. [ESPANCA: 1986 b , p. 21].<br />

Nesta carta, tão diferente daquelas a que anteriormente aludimos, o<br />

peso da socieda<strong>de</strong> e o preconceito foram tidos <strong>em</strong> conta, mas a dignida<strong>de</strong><br />

e o amor falaram mais alto.<br />

Pensei na socieda<strong>de</strong>, pensei na família, nas relações, nos<br />

amigos e principalmente <strong>em</strong> ti, mas que queres? Eu não<br />

podia sacrificar-me a isso tudo que é muito, mas que é<br />

nada comparado a isto que eu sinto. [ESPANCA: 1986 b , p.<br />

22].<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!