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Custódia de Jesus Gonçalves Pereira Do Sentimento em Florbela ...

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<strong>Florbela</strong>, aos 12 anos, t<strong>em</strong> autonomia para <strong>de</strong>cidir se vai ou não<br />

para casa e não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso este precoce interesse pelos aspectos<br />

domésticos – os aventais.<br />

Este lado doméstico é visível, paralelo à literatura e ao sofrimento,<br />

ao longo <strong>de</strong> quase toda a sua vida. Quando habitava no Redondo, casada<br />

com Alberto Moutinho, pe<strong>de</strong> a Henriqueta, a segunda madrasta, que lhe<br />

envie azeite. [ESPANCA: 1986 a , p. 104].<br />

Mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> Matosinhos, já casada com Mário Lage, o terceiro<br />

marido, queixa-se da falta <strong>de</strong> dinheiro a Henriqueta a propósito <strong>de</strong> uma<br />

possível visita a Vila Viçosa. “E <strong>de</strong>pois gastava-se muito dinheiro que nos<br />

faria falta, pois estamos no princípio da nossa vida e os nossos<br />

rendimentos são apenas o trabalho <strong>de</strong>le.” [ESPANCA: 1986 b , p. 39].<br />

Em 2.12. 1930, <strong>em</strong> carta dirigida à sua amiga Helena Calás Lopes,<br />

na sequência <strong>de</strong> um convite para passar com ela o aniversário – 8 <strong>de</strong><br />

Dez<strong>em</strong>bro que será também o dia final, completando a rota circular da<br />

sua vida -, diz-lhe que manda “dinheiro para o bilhete <strong>de</strong> ida <strong>em</strong> 2ª classe<br />

no rápido, e mais 20$00 para carregador e táxi <strong>em</strong> Lisboa”.<br />

No entanto, pe<strong>de</strong>-lho <strong>de</strong> volta caso não possa ir. [ESPANCA: 1986 b , pp.<br />

215-16], o que parece um exagero <strong>de</strong> preocupação económica, pouco<br />

consentânea com “o seu t<strong>em</strong>peramento <strong>de</strong> sensitiva no convívio íntimo <strong>de</strong><br />

cada dia”. [ALEXANDRINA: 1964, p. 12] e com o facto <strong>de</strong> o marido ganhar “20<br />

contos por mês”, segundo diz ao pai <strong>em</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1925 quando lhe<br />

anuncia o 3º casamento [ESPANCA: 1986 b , p. 26].<br />

As cartas <strong>de</strong> <strong>Florbela</strong> são uma fonte inesgotável <strong>de</strong> informações, por<br />

vezes contraditórias, mas a contradição habita o ser humano. Elas<br />

mostram o lado positivo e negativo da mulher que se escon<strong>de</strong> por <strong>de</strong>trás<br />

da poetisa. Uma mulher com alma, gostos próprios, qualida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos,<br />

talvez alguma hipocrisia, e uma vida doméstica que ilustra o seu aspecto<br />

comum, banal e ao mesmo t<strong>em</strong>po universal, precisamente porque comum.<br />

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