18.04.2013 Views

Tese - Universidade do Porto

Tese - Universidade do Porto

Tese - Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

II. ENQUADRAMENTOS<br />

1. Paleoetnobotânica: conceitos de base<br />

Paleobotânica, Arqueobotânica, Paleoetnobotânica e Paleoecologia são<br />

designações distintas com significa<strong>do</strong>s diversos, embora inúmeras vezes usadas como<br />

sinónimos. Deste mo<strong>do</strong>, e na medida que se afirma a realização de um estu<strong>do</strong> numa destas<br />

áreas, reveste-se de particular interesse a sua definição.<br />

Jane Renfrew (1973, p.1) definiu Paleoetnobotânica como “the study of the remains<br />

of plants cultivated or utilized by man in ancient times, which have survived in archaeological<br />

contexts”. Coloca assim a ênfase nas relações entre os seres humanos e os vestígios de<br />

origem vegetal enquanto subprodutos das suas actividades num determina<strong>do</strong> local e num<br />

da<strong>do</strong> momento. Assume-se, assim, que a presença <strong>do</strong>s mesmos num contexto arqueológico<br />

é passível de ser explicada por aspectos sócio-culturais e funcionais (Espino, 2004). Alguns<br />

autores partem da assunção de que o termo Paleoetnobotânica corresponde unicamente ao<br />

estu<strong>do</strong> de frutos e sementes arqueológicas (Marinval, 1999). Compreenden<strong>do</strong>-se esta<br />

posição no contexto da generalização <strong>do</strong> termo, após a utilização <strong>do</strong> mesmo por J. Renfrew<br />

(1973) na sua obra centrada exclusivamente em sementes e frutos, a verdade é que nem a<br />

definição da autora (vide supra) nem a etimologia da palavra apontam nesse senti<strong>do</strong>. Uma<br />

visão mais lata deste conceito inclui outro tipo de restos, nomeadamente os teci<strong>do</strong>s<br />

lenhosos, e em última análise qualquer tipo de restos botânicos. É este o termo de<br />

abordagem e os seus pressupostos teóricos segui<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong> aqui apresenta<strong>do</strong>.<br />

O termo “Arqueobotânica” é frequentemente entendi<strong>do</strong>, numa posição de base<br />

etimológica, como o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vestígios vegetais recolhi<strong>do</strong>s em escavações arqueológicas.<br />

Esta postura quase inócua surge amiúde independente de uma posição teórica face ao<br />

tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s a obter nesse mesmo estu<strong>do</strong>, assumin<strong>do</strong> assim escasso valor<br />

epistemológico. De facto, dadas as limitações a nível interpretativo potenciadas pelo tipo e<br />

local de recolha, a Arqueobotânica, como definida acima, confunde-se repetidas vezes com<br />

a própria Paleoetnobotânica (Mateus, 1996). Outros autores, porém, assumem uma<br />

perspectiva mais aglutina<strong>do</strong>ra e arrojada <strong>do</strong> conceito “Arqueobotânica” enveredan<strong>do</strong> por<br />

aproximações às transformações da envolvente <strong>do</strong>s locais de habitação das comunidades<br />

humanas em análise, ou seja, a reconstituição <strong>do</strong>s paleo-ambientes locais e <strong>do</strong>s processos<br />

que lhes são inerentes (Badal et al., 2003; Espino, 2004). Parece, contu<strong>do</strong>, que esta<br />

abordagem conceptual se integra mais no <strong>do</strong>mínio da Paleoecologia, disciplina que atenta à<br />

compreensão e reconstituição imagética de paisagens e territórios antigos entendi<strong>do</strong>s numa<br />

perspectiva dinâmica e alargada. Não obstante, o material de origem arqueológica não se<br />

assume nesta disciplina como único, nem primordial, objecto de estu<strong>do</strong> (Mateus, 1996).<br />

18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!