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Deste mo<strong>do</strong>, apesar de o sistema de organização <strong>do</strong> espaço rural ter sofri<strong>do</strong><br />
importantes modificações com a conquista romana, afasta-se um pouco <strong>do</strong> ideal latino<br />
segun<strong>do</strong> o qual grandes e luxuosas explorações agrícolas abastece<strong>do</strong>ras de amplos centros<br />
urbanos (e dependentes destes) estruturavam as paisagens. De facto, somente três villae<br />
são mencionadas para to<strong>do</strong> Trás-os-Montes Oriental (Lemos, 1993).<br />
Não obstante, um conceito é generaliza<strong>do</strong>: as pequenas unidades uni-familiares<br />
(Casais rurais) localizadas perto de férteis terrenos agrícolas. Estes casais seriam muito<br />
abundantes em to<strong>do</strong> o Nordeste Transmontano, conjuntamente com outros<br />
estabelecimentos de maior dimensão (Povoa<strong>do</strong>s Romanos) também de fundação romana 2 .<br />
Saliente-se que prospecções arqueológicas realizadas em torno da sede da Civitas<br />
Zoelarum permitiram identificar uma importante concentração destes estabelecimentos<br />
rurais (Lemos, 1993).<br />
Ao mesmo tempo subsistiam inúmeros povoa<strong>do</strong>s fortifica<strong>do</strong>s e outros aglomera<strong>do</strong>s<br />
indígenas, sen<strong>do</strong> ainda pouco claro o mo<strong>do</strong> como se enquadravam no modelo económico e<br />
social <strong>do</strong> império. Tal deve-se, em parte, à concentração <strong>do</strong>s esforços interpretativos acerca<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> rural romano nos estabelecimentos de carácter uni-familiar. Estes, em especial<br />
nestas áreas montanhosas, interiores e com pouco estimulo urbano orientariam as<br />
produções essencialmente para a sua própria subsistência e algum, escasso, comércio<br />
(Carvalho, 2006).<br />
Mais difícil é pensar no papel desempenha<strong>do</strong> pelos povoa<strong>do</strong>s indígenas romaniza<strong>do</strong>s,<br />
fortifica<strong>do</strong>s ou não. Acreditamos, contu<strong>do</strong>, que também estes destinariam a maior parte das<br />
suas produções agrícolas ao consumo e troca no próprio povoa<strong>do</strong>, prolongan<strong>do</strong> assim os<br />
modelos de auto-suficiência proto-históricos. Efectivamente, a escolha <strong>do</strong> local de<br />
implantação <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> obedeceria a critérios que assegurariam o acesso a uma grande<br />
variedade de recursos (Fernández-Posse e Sánchez-Palencia, 1998). Deste mo<strong>do</strong>, parece<br />
justificável que, como sustenta F. S. Lemos (1993), no território <strong>do</strong>s Zoelae em época<br />
romana os aglomera<strong>do</strong>s indígenas controlassem os melhores solos agrícolas.<br />
Tal não impediria, bem pelo contrário, a existência de relações comerciais com outros<br />
estabelecimentos, inclusive com as recém criadas unidades uni-familiares, numa óptica de<br />
abertura e de algum dinamismo e complementaridade económica mais característicos <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> romano. Realmente, a integração nas rotas comerciais proporcionada pela rede<br />
viária e pela paz romana facilitaria a troca e venda de bens, tanto produtos agrícolas<br />
(produções para venda ou meros excedentes) como artesanato e utensílios de diversas<br />
ordens.<br />
2 A designação “Casal rural” é entendida aqui como sinónimo de “Quinta”, outro terno comum na bibliografia.<br />
Para considerações mais aprofundadas acerca destas nomenclaturas deve ser consultada a obra de F. S. Lemos<br />
(1993), aqui seguida.<br />
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