18.04.2013 Views

Tese - Universidade do Porto

Tese - Universidade do Porto

Tese - Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

João Pedro Vicente Tereso<br />

Paleoetnobotânica<br />

<strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> romano da<br />

Terronha de Pinhovelo<br />

(NE transmontano)<br />

DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA<br />

2007


João Pedro Vicente Tereso<br />

Paleoetnobotânica<br />

<strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> romano da<br />

Terronha de Pinhovelo<br />

(NE transmontano)<br />

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>,<br />

para a obtenção <strong>do</strong> grau de mestre em Ecologia da Paisagem e Conservação da<br />

Natureza.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Paula Fernanda Ribeiro Queiroz, Cientista Convidada <strong>do</strong><br />

IGESPAR<br />

Co-orienta<strong>do</strong>r: José Joaquim Saraiva Pissarra, Professor Associa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Departamento de Botânica da Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong><br />

2007<br />

3


5<br />

“Era uma vez…<br />

- Um rei! – dirão logo os meus pequenos<br />

leitores.<br />

Não, meus rapazes, estão engana<strong>do</strong>s.<br />

Era uma vez um pedaço de madeira.<br />

Não era madeira nobre, mas sim um<br />

simples pedaço de madeira para<br />

queimar, daqueles que, no Inverno, se<br />

colocam nos fogões e nas lareiras para<br />

acender o lume e aquecer os quartos.<br />

Carlo Collodi, As Aventuras de Pinóquio


Resumo<br />

A Terronha de Pinhovelo é uma elevação sobranceira à aldeia de Pinhovelo, no centro<br />

<strong>do</strong> Nordeste transmontano, habitada pelo menos desde a Idade <strong>do</strong> Ferro até ao século V<br />

d.C. A análise <strong>do</strong>s macro-restos vegetais decorreu em articulação com os trabalhos<br />

arqueológicos aí realiza<strong>do</strong>s, resultan<strong>do</strong> na obtenção de da<strong>do</strong>s importantes para a<br />

compreensão da jazida assim como das paleo-comunidades que aí habitaram. O presente<br />

estu<strong>do</strong> incide sobre as fases III e IV <strong>do</strong> Sector B, cronologicamente enquadradas nos<br />

séculos IV-V d.C.<br />

Entre os frutos e sementes são mais abundantes as espécies cultivadas, em especial<br />

os cereais. Triticum aestivum/durum, T. compactum , T. spelta e Hordeum vulgare são as<br />

espécies mais comuns, segui<strong>do</strong>s de T. dicoccum e raros T. monococcum, Panicum<br />

miliaceum e Setaria italica. A única leguminosa identificada no estu<strong>do</strong> carpológico foi Vicia<br />

faba var. minor que, embora seja abundante, está associada quase exclusivamente a uma<br />

área de combustão. A presença de fava é utilizada como um indício de possíveis práticas de<br />

alternância de cultivos.<br />

Foi possível obter alguns da<strong>do</strong>s acerca das estratégias de recolha de combustível<br />

através das análises antracológicas de diversos contextos, cuja composição florística<br />

espelha distintos padrões de selecção de lenha e diferentes áreas de recolha. Os tipos<br />

xilotómicos presentes num maior número de amostras são Pinus pinaster, Quercus<br />

pyrenaica, Q. faginea, Q. suber, Arbutus une<strong>do</strong> e Fraxinus angustifolia. As formações<br />

arbustivas encontram-se representadas por Cistus sp., Leguminosae e Erica spp.<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s diferentes macro-restos vegetais (carvões, sementes e frutos) permitiu<br />

encetar um estu<strong>do</strong> de ín<strong>do</strong>le paleoetnobotânica que contribuiu de forma decisiva para a<br />

melhor compreensão <strong>do</strong> sítio arqueológico. Consequentemente foram realizadas<br />

aproximações a determina<strong>do</strong>s aspectos da vida quotidiana das populações que habitaram<br />

esta povoação, nomeadamente no que respeita às práticas agrícolas, processamento de<br />

alimentos e vivência <strong>do</strong> espaço.<br />

7


Abstract<br />

Terronha de Pinhovelo is a small elevation near the village of Pinhovelo, in the centre<br />

of northeast Trás-os-Montes. It was inhabited since the Iron Age till the 5th century A.D. The<br />

study of plant macrofossils recovered during the archaeological excavations reveals new<br />

aspects of the site’s occupation and its community’s daily life. This study is centred in Sector<br />

B, namely the Phases III and IV, from the 4th or the 5th century A.D.<br />

The cereals are the most frequent group of plants represented in the fruit and seed<br />

assemblages. Triticum aestivum/durum, T. compactum , T. spelta and Hordeum vulgare are<br />

the <strong>do</strong>minant crops, followed by T. dicoccum and some rare T. monococcum, Panicum<br />

miliaceum and Setaria italica. Vicia faba var. minor was the only pulse identified, almost<br />

exclusive from one fire structure. The presence of horsbean could possibly be related to<br />

field-crop rotation practices.<br />

The analysis of the charred wood fragments, from the excavated fire places, was used<br />

to infer the community’s strategies for collecting fire-wood, related to wood selection patterns<br />

or different gathering areas. The main xylomorphic types recovered were Pinus pinaster,<br />

Quercus pyrenaica, Q. faginea, Q. suber, Arbutus une<strong>do</strong> and Fraxinus angustifolia. The<br />

scrubs are represented by Cistus sp., Leguminosae and Erica spp.<br />

This palaeoethnobotanic study of wood charcoal, seeds and fruits contributed strongly<br />

to a better understanding of this settlement, allowing some insights to certain aspects of its<br />

population daily life, namely the agricultural practises and food processing techniques.<br />

8


Agradecimentos<br />

Os agradecimentos são sempre uma parte ingrata de qualquer estu<strong>do</strong> desta<br />

natureza. As pessoas e entidades às quais eu dirijo estes agradecimentos são aquelas que<br />

contribuíram de forma directa para a concretização desta tese, mas também aquelas que<br />

ajudaram de forma indirecta, através de contributos para a minha formação enquanto<br />

profissional e investiga<strong>do</strong>r e até como pessoa. Parece-me, agora, discutível qual destas<br />

componentes terá maior relevância num capítulo de agradecimentos de uma tese de<br />

mestra<strong>do</strong>..<br />

Agradeço, então, à Faculdade de Ciências da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, e, em especial,<br />

a toda a organização <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> em Ecologia da Paisagem e Conservação da Natureza,<br />

encabeçada pelo Professor Doutor Barreto Caldas e Prof. Dr. João Honra<strong>do</strong>, que me<br />

acolheram e me formaram, durante o ano lectivo de 2005-2006.<br />

Ao Instituto Português de Arqueologia, em especial ao Laboratório de Paleoecologia<br />

e Arqueobotânica (Programa CIPA), representa<strong>do</strong>s pelos Prof. Dr. José Mateus e Prof. Dra.<br />

Paula Queiroz, que me aceitaram como colabora<strong>do</strong>r e aprendiz.<br />

À Associação Terras Quentes – Associação de Defesa <strong>do</strong> Património Arqueológico<br />

<strong>do</strong> Concelho de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros, em especial ao seu presidente, o meu colega<br />

Mestre Carlos Mendes, pelo apoio e pela oportunidade de encetar este projecto numa jazida<br />

arqueológica <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> concelho.<br />

À Paula Queiroz, orienta<strong>do</strong>ra deste trabalho bem como de quase toda a minha<br />

formação em Paleobotânica. Agradeço a paciência e a disponibilidade demonstradas<br />

durante o longo tempo de laboratório desta tese, sempre superiores ao que me parecia licito<br />

exigir.<br />

Ao Prof. Dr. José Pissarra, co-orienta<strong>do</strong>r deste estu<strong>do</strong>, pelo apoio que sempre<br />

disponibilizou, pelas soluções que forneceu e a pertinência <strong>do</strong>s conselhos que deu.<br />

Um agradecimento especial também para o José Mateus, que, com a Paula Queiroz,<br />

me recebeu de braços abertos no laboratório disponibilizan<strong>do</strong>-se sempre a ajudar, a<br />

aconselhar ou, simplesmente a trocar ideias – conversas que tanto acrescentaram à minha<br />

formação nesta área tão específica que é a Paleobotânica.<br />

À Dra. Cristiana Vieira, pela preciosa e inestimável ajuda disponibilizada para a<br />

elaboração <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> estatístico apresenta<strong>do</strong> neste trabalho.<br />

Ao Prof. Dr. João Honra<strong>do</strong> pelo apoio e incentivo na fase final da tese, e pelo ânimo<br />

que me conseguiu incutir para que no futuro prossiga com este tipo de estu<strong>do</strong>s.<br />

9


À Prof. Dra Stefanie Jacomet e à Prof. Dra. Isabel Figueiral que, em vários contactos<br />

via Internet não se coibiram a responder às minhas dúvidas e ajudar sempre que<br />

necessário.<br />

De igual mo<strong>do</strong>, agradeço ao Prof. Dr. Carlos Fabião pela sua constante<br />

disponibilidade, úteis conselhos e bibliografia; e também, ao Prof. Dr. Amílcar Guerra, por<br />

uma conversa muito esclarece<strong>do</strong>ra. Acabaram por me esclarecer muitas dúvidas,<br />

permitin<strong>do</strong>-me poupar algum tempo precioso.<br />

À Dra. Helena Barranhão pelo apoio, amizade e companheirismo <strong>do</strong>s últimos quatro<br />

anos, espelha<strong>do</strong> perfeitamente no nosso trabalho de campo em conjunto no Sector B da<br />

Terronha de Pinhovelo; pela forma como pacientemente suportou o meu constante<br />

entusiasmo pelo trabalho desta tese.<br />

À Dra. Lúcia Miguel, pela amizade que começou há muitos anos, pelo<br />

companheirismo revela<strong>do</strong> no trabalho da Terronha de Pinhovelo e pelo entusiasmo<br />

contagiante face à proto-história e mun<strong>do</strong> castrejo, que aguçaram o meu interesse pelo<br />

trabalho que tínhamos em conjunto.<br />

A to<strong>do</strong>s os elementos <strong>do</strong> CIPA, pelo seu espírito de interdisciplinariedade, e em<br />

especial ao Dr. José António, meu colega no laboratório, pessoa sempre disponível para<br />

sugestões e esclarecer dúvidas.<br />

A to<strong>do</strong>s os colegas de mestra<strong>do</strong> pelo companheirismo e pelo apoio mútuo que se<br />

gerou durante o ano curricular.<br />

Um agradecimento especial ao Dr. Miguel Abrantes, meu colega neste mestra<strong>do</strong>,<br />

com quem tive conversas muito forma<strong>do</strong>ras e com quem partilhei dúvidas, sempre com um<br />

importante feedback.<br />

A to<strong>do</strong>s os colegas de trabalho da Associação Terras Quentes com quem durante<br />

catorze meses partilhei um espaço e muitas ideias.<br />

À minha família, aos meus pais, meu irmão e sua família, aos meus avós (um beijo<br />

com muitas saudades para o Avô Vicente, tristemente faleci<strong>do</strong> durante este mestra<strong>do</strong>). E<br />

dificilmente se explica uma dedicatória ou agradecimento à família em poucas linhas, pelo<br />

que me vou coibir de fazê-lo. To<strong>do</strong>s certamente sabem o que penso deles.<br />

À minha outra família, o Sr. Alexandre Gaspar, a Sra. Leonor Gaspar e à Ana<br />

Gaspar, que durante tantos meses me acolheram em sua casa e me ajudaram de todas as<br />

formas que sabiam e podiam. Pelos serões a conversar, pela óptima comida e pela calorosa<br />

e muito paciente forma como me receberam, um agradecimento muito especial.<br />

10


No final agradeço à pessoa sem a qual eu não estaria, certamente, a apresentar este<br />

estu<strong>do</strong>. Agradeço a paciência e compreensão, o apoio constante, a motivação, a partilha, os<br />

conselhos e a sua presença nos tempos mais complica<strong>do</strong>s. Para além de agradecer,<br />

dedico-lhe esta tese que tem tanto dela. À Rita Gaspar, por tu<strong>do</strong>.<br />

11


ÍNDICE<br />

I. INTRODUÇÃO 17<br />

II. ENQUADRAMENTOS 18<br />

1. Paleoetnobotânica: conceitos de base 18<br />

1.1. A conservação de macrorrestos 19<br />

1.1.1. A combustão 20<br />

1.1.1.1. Efeitos sobre as estruturas vegetais 20<br />

1.1.2. Fenómenos pós-deposicionais 22<br />

1.2. Antracologia e Carpologia como Paleoetnobotânica 22<br />

1.2.1. Antracologia 22<br />

1.2.2. Potencial e limitações: entre a Paleoecologia e a Paleoetnobotânica 23<br />

1.2.3. Carpologia 28<br />

2. Enquadramento <strong>do</strong> Nordeste transmontano nos estu<strong>do</strong>s paleobotânicos <strong>do</strong> Noroeste<br />

peninsular 31<br />

2.1. Antracologia e carpologia no Nordeste transmontano 33<br />

3. O perío<strong>do</strong> romano no Nordeste transmontano 35<br />

3.1. Território rural e agricultura 37<br />

3.2. Terronha de Pinhovelo: historial de investigação 39<br />

III. OBJECTIVOS E MÉTODOS 41<br />

1. Objectivos 41<br />

2. Méto<strong>do</strong>s 43<br />

2.1. A intervenção arqueológica 43<br />

2.2. O estu<strong>do</strong> paleoetnobotânico 44<br />

2.2.1. Amostragem e recuperação de fitoclastos 44<br />

2.2.2. Meto<strong>do</strong>logia laboratorial e análise de da<strong>do</strong>s 47<br />

2.2.3. Nomenclatura e descrições 49<br />

2.2.4. Descrição <strong>do</strong>s tipos xilotómicos 51<br />

2.2.5. Descrição <strong>do</strong>s frutos e sementes 58<br />

2.2.5.1. Espécies selvagens e leguminosas cultivadas 58<br />

2.2.5.2. Milhos 60<br />

2.2.5.3. Trigos 61<br />

13


2.2.5.4 Cevadas 64<br />

2.3. Recolha de da<strong>do</strong>s etnobotânicos e ecológicos 65<br />

2.4. Arqueologia Espacial e análise eco-territorial 66<br />

IV. RESULTADOS 69<br />

1. A Terronha de Pinhovelo 69<br />

1.1. Contexto biogeográfico, paisagístico e geológico 69<br />

1.1.1. O território imediato 71<br />

1.2 Implantação da jazida: aspectos estratégicos 77<br />

1.3. Intervenções arqueológicas programadas 80<br />

1.3.1. Sector B 81<br />

1.3.2. Sector A 86<br />

1.3.3. Outras áreas 87<br />

1.3.4. Enquadramento cronológico 88<br />

2. Estu<strong>do</strong> paleobotânico 90<br />

2.1. Os contextos amostra<strong>do</strong>s 90<br />

2.2. Antracologia: análise de da<strong>do</strong>s 97<br />

2.2.1. Amostras de flutuação - LAB. 98<br />

2.2.2. As recolhas manuais – RM 104<br />

2.3. Carpologia: análise de da<strong>do</strong>s 105<br />

2.3.1. Espécies silvestres 105<br />

2.3.1.1. Distribuição pelas amostras 105<br />

2.3.2. Favas 107<br />

2.3.3. Milhos 107<br />

2.3.4. Trigos e cevada 108<br />

2.3.4.1. Distribuição das cariopses pelas amostras 108<br />

2.3.4.2. Biometria de cariopses 117<br />

2.3.4.3. Distribuição de espiguetas pelas amostras 135<br />

2.3.4.4. Biometria de espiguetas 135<br />

2.4. Etnobotânica da Terronha de Pinhovelo 138<br />

2.4.1. Cereais: usos e costumes 141<br />

2.4.2. As favas 146<br />

14


V. DISCUSSÃO 147<br />

1. Aspectos de natureza morfo-tipológica 147<br />

2. Distribuição de macro-restos vegetais no Sector B 153<br />

3. Estratégias de recolha de combustível 157<br />

4. Estruturas arqueológicas: possibilidades interpretativas 160<br />

5. As práticas de produção agrícola: uma aproximação 164<br />

6. O território antigo 166<br />

7. A Terronha de Pinhovelo nos estu<strong>do</strong>s regionais de paleobotânica 171<br />

8. Fronteiras interpretativas <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s paleoetnobotânicos 173<br />

VI. CONCLUSÃO 175<br />

VII. BIBLIOGRAFIA 177<br />

ANEXOS<br />

I. Cariopses de cereais: da<strong>do</strong>s biométricos<br />

1.1. Triticum aestivum<br />

1.2. Triticum compactum<br />

1.3. Triticum dicoccum<br />

1.4. Triticum spelta<br />

1.5. Triticum monococcum<br />

II. Espiguetas de cereais: da<strong>do</strong>s quantitativos<br />

2.1. Amostra V3<br />

2.2. Amostra IV20<br />

2.3. Amostra IV21<br />

2.4. Amostra IV24<br />

2.5. Amostra IV50<br />

2.6. Amostra IV63<br />

2.7. Amostra IV65<br />

2.8. Amostra IV66<br />

2.9. Amostra IV70<br />

2.10. Amostra III71<br />

15


2.11. Amostra III95<br />

III. Espiguetas de cereais: largura de base de glumas<br />

3.1. Triticum spelta<br />

3.2. Triticum dicoccum<br />

3.3. Triticum monococcum<br />

IV. Log de PCA e RDA<br />

4.1. Da<strong>do</strong>s das PCA das figuras 4.8. e 4.9.<br />

4.2. Da<strong>do</strong>s das RDA das figuras 4.10. e 4.11.<br />

4.3. Da<strong>do</strong>s das PCA das figuras 4.12. e 4.13.<br />

4.4. Da<strong>do</strong>s das PCA das figuras 4.18. e 4.19.<br />

4.5. Da<strong>do</strong>s das PCA das figuras 4.21. e 4.22.<br />

V. Antracologia: ilustração de tipos xilotómicos<br />

VI. Frutos e sementes: ilustração de tipos morfológicos<br />

VII. Antracologia: ecologia das espécies<br />

VIII. Carpologia: ecologia das espécies<br />

IX. Da<strong>do</strong>s etnobotânicos<br />

9.1. Uso medicinal e veterinário<br />

9.2. Uso alimentar<br />

9.3. Propriedades e uso de madeiras<br />

9.4. Uso como combustível<br />

X. Terronha de Pinhovelo: planta <strong>do</strong> Sector B<br />

16


I. INTRODUÇÃO<br />

A presente dissertação de mestra<strong>do</strong>, corresponde ao estu<strong>do</strong> especializa<strong>do</strong> em<br />

paleobotânica enquadra<strong>do</strong> no programa de pesquisa arqueológica que o autor tem vin<strong>do</strong> a<br />

desenvolver desde o ano de 2004, ano em que se iniciaram as intervenções arqueológicas<br />

programadas na Terronha de Pinhovelo.<br />

O projecto de paleobotânica iniciou-se na segunda das três campanhas que<br />

decorreram na jazida, quan<strong>do</strong> foi possível delinear uma estratégia de estu<strong>do</strong> que implicou a<br />

aquisição de equipamento básico para a recolha <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. Desde o início que este estu<strong>do</strong><br />

contou com o apoio <strong>do</strong> Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica <strong>do</strong> Instituto<br />

Português de Arqueologia para o tratamento laboratorial <strong>do</strong>s materiais, graças à<br />

disponibilidade demonstrada pelos seus responsáveis (Paula Queiroz e José Mateus).<br />

A escavação arqueológica na Terronha de Pinhovelo, em especial <strong>do</strong> Sector B,<br />

afigurou-se como o local ideal para encetar o estu<strong>do</strong> paleobotânico, que se desejava<br />

principiar com a fase da recolha de macro-restos vegetais em contexto de escavação. Isto<br />

porque o autor assumia um papel de direcção científica <strong>do</strong>s trabalhos, em conjunto com<br />

outros colegas, poden<strong>do</strong> assim adequar os trabalhos de escavação às tarefas de recolha de<br />

amostras e macro-restos especificamente direccionadas para o estu<strong>do</strong> em vista. Felizmente,<br />

a jazida respondeu favoravelmente, fornecen<strong>do</strong> contextos arqueológicos adequa<strong>do</strong>s e de<br />

significativo interesse.<br />

Desde ce<strong>do</strong> que um estu<strong>do</strong> desta natureza assumia uma urgência evidente face às<br />

características <strong>do</strong> próprio sítio arqueológico. De facto, um povoa<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong> em pleno<br />

mun<strong>do</strong> rural romano só se poderá compreender verdadeiramente com, pelo menos, um<br />

vislumbre da sua componente económica primordial, a agricultura e a pastorícia. Os estu<strong>do</strong>s<br />

arqueozoológicos escapam, porém, ao âmbito deste trabalho.<br />

Era claro, também, logo nas fases de preparação deste estu<strong>do</strong>, que diversas<br />

adversidades iriam surgir, não só em termos logísticos como também científicos.<br />

Dificuldades inerentes a Trás-os-Montes, região rural na qual são muito recentes e esparsos<br />

os investimentos na área da investigação científico-cultural. A falta de conhecimentos<br />

prévios acerca das realidades locais e regionais assumiu-se como um problema muito<br />

importante e difícil de contornar, revelan<strong>do</strong>-se ao nível <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s arqueológicos e<br />

agudizan<strong>do</strong>-se no que aos estu<strong>do</strong>s paleobotânicos dizia respeito.<br />

Perante este enquadramento pareceu-nos mais sensato definir como objectivo<br />

primordial a compreensão <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> em questão e a forma como as comunidades que<br />

nele habitaram se relacionavam com o meio que as envolvia.<br />

17


II. ENQUADRAMENTOS<br />

1. Paleoetnobotânica: conceitos de base<br />

Paleobotânica, Arqueobotânica, Paleoetnobotânica e Paleoecologia são<br />

designações distintas com significa<strong>do</strong>s diversos, embora inúmeras vezes usadas como<br />

sinónimos. Deste mo<strong>do</strong>, e na medida que se afirma a realização de um estu<strong>do</strong> numa destas<br />

áreas, reveste-se de particular interesse a sua definição.<br />

Jane Renfrew (1973, p.1) definiu Paleoetnobotânica como “the study of the remains<br />

of plants cultivated or utilized by man in ancient times, which have survived in archaeological<br />

contexts”. Coloca assim a ênfase nas relações entre os seres humanos e os vestígios de<br />

origem vegetal enquanto subprodutos das suas actividades num determina<strong>do</strong> local e num<br />

da<strong>do</strong> momento. Assume-se, assim, que a presença <strong>do</strong>s mesmos num contexto arqueológico<br />

é passível de ser explicada por aspectos sócio-culturais e funcionais (Espino, 2004). Alguns<br />

autores partem da assunção de que o termo Paleoetnobotânica corresponde unicamente ao<br />

estu<strong>do</strong> de frutos e sementes arqueológicas (Marinval, 1999). Compreenden<strong>do</strong>-se esta<br />

posição no contexto da generalização <strong>do</strong> termo, após a utilização <strong>do</strong> mesmo por J. Renfrew<br />

(1973) na sua obra centrada exclusivamente em sementes e frutos, a verdade é que nem a<br />

definição da autora (vide supra) nem a etimologia da palavra apontam nesse senti<strong>do</strong>. Uma<br />

visão mais lata deste conceito inclui outro tipo de restos, nomeadamente os teci<strong>do</strong>s<br />

lenhosos, e em última análise qualquer tipo de restos botânicos. É este o termo de<br />

abordagem e os seus pressupostos teóricos segui<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong> aqui apresenta<strong>do</strong>.<br />

O termo “Arqueobotânica” é frequentemente entendi<strong>do</strong>, numa posição de base<br />

etimológica, como o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vestígios vegetais recolhi<strong>do</strong>s em escavações arqueológicas.<br />

Esta postura quase inócua surge amiúde independente de uma posição teórica face ao<br />

tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s a obter nesse mesmo estu<strong>do</strong>, assumin<strong>do</strong> assim escasso valor<br />

epistemológico. De facto, dadas as limitações a nível interpretativo potenciadas pelo tipo e<br />

local de recolha, a Arqueobotânica, como definida acima, confunde-se repetidas vezes com<br />

a própria Paleoetnobotânica (Mateus, 1996). Outros autores, porém, assumem uma<br />

perspectiva mais aglutina<strong>do</strong>ra e arrojada <strong>do</strong> conceito “Arqueobotânica” enveredan<strong>do</strong> por<br />

aproximações às transformações da envolvente <strong>do</strong>s locais de habitação das comunidades<br />

humanas em análise, ou seja, a reconstituição <strong>do</strong>s paleo-ambientes locais e <strong>do</strong>s processos<br />

que lhes são inerentes (Badal et al., 2003; Espino, 2004). Parece, contu<strong>do</strong>, que esta<br />

abordagem conceptual se integra mais no <strong>do</strong>mínio da Paleoecologia, disciplina que atenta à<br />

compreensão e reconstituição imagética de paisagens e territórios antigos entendi<strong>do</strong>s numa<br />

perspectiva dinâmica e alargada. Não obstante, o material de origem arqueológica não se<br />

assume nesta disciplina como único, nem primordial, objecto de estu<strong>do</strong> (Mateus, 1996).<br />

18


Já o termo “Paleobotânica” poderá (e será, no presente estu<strong>do</strong>) ser entendi<strong>do</strong> de<br />

forma igualmente inócua, mas globalizante ao ponto de extravasar a realidade arqueológica,<br />

de mo<strong>do</strong> a incluir os três conceitos aqui discuti<strong>do</strong>s.<br />

O estu<strong>do</strong> Paleoetnobotânico aqui apresenta<strong>do</strong> centra-se na análise <strong>do</strong>s macrorestos<br />

(ou macro-fosseis) vegetais (fitoclastos e fitodiásporas) encontra<strong>do</strong>s num contexto<br />

arqueológico e sedimentar que não potencia a conservação de materiais botânicos sem a<br />

sujeição destes a uma combustão incompleta (vide infra).<br />

Será demonstrada a inevitabilidade de assumir aqui a realização de um estu<strong>do</strong> de<br />

ín<strong>do</strong>le Paleoetnobotânica, dada a natureza particular <strong>do</strong>s contextos de estu<strong>do</strong>.<br />

1.1. A conservação de macrorrestos<br />

São várias as formas de conservação de teci<strong>do</strong>s lenhosos e carporrestos e de<br />

preservação <strong>do</strong>s seus vestígios em sítios arqueológicos, das quais salientamos, na<br />

bibliografia existente (Buxo, 1997 e 1990; Marinval, 1999; Piqué, 2006), os seguintes:<br />

- Carbonização, ou seja, a substituição <strong>do</strong>s elementos orgânicos por carbono<br />

(fossilização) e o consequente afastamento <strong>do</strong>s mesmos <strong>do</strong>s ciclos de degradação<br />

biológica (não mecânica).<br />

- Existência de condições anaeróbicas, o que acontece em meios satura<strong>do</strong>s<br />

de água, naturais ou artificialmente cria<strong>do</strong>s (por vezes dentro <strong>do</strong>s locais de<br />

ocupação humana).<br />

- Existência de condições extremas, de aridez, frio ou gelo.<br />

- Contacto com elementos químicos inibi<strong>do</strong>res da actividade bacteriana, por<br />

exemplo, alguns metais (Piqué, 2006).<br />

- Mineralização <strong>do</strong>s carporestos Através da formação de depósitos de sílica<br />

que, após a morte e decomposição da planta, se conservam enquanto esqueletos<br />

de sílica, replican<strong>do</strong> a morfologia das superfícies vegetais (Buxo, 1997; 1990).<br />

Contu<strong>do</strong>, nem todas as espécies possuem capacidade de mineralização (Marinval,<br />

1999).<br />

- Impressão de sementes, folhas e ramos em argilas (e.g. de recipientes ou<br />

barro de revestimento).<br />

No caso da Terronha de Pinhovelo, nosso caso de estu<strong>do</strong>, como na maioria das<br />

jazidas arqueológicas em locais secos de clima mediterrânico, caracteriza<strong>do</strong>s por ambientes<br />

sedimentares oxigena<strong>do</strong>s, as únicas evidências paleobotânicas conservadas e passíveis de<br />

identificação encontravam-se carbonizadas. De facto, as escassas impressões vegetais<br />

19


identificadas em argilas cozidas, constituídas somente por marcas de ramagens, não<br />

permitiam qualquer identificação taxonómica.<br />

1.1.1. A combustão<br />

A combustão é uma reacção química que exige a presença de combustível e<br />

oxigénio e pode ocorrer de forma natural ou artificial. Processa-se em quatro principais fases<br />

que se sucedem de acor<strong>do</strong> com o aumento da temperatura (Chabal, et al., 1999; Badal et al,<br />

2003; Allué, 2002):<br />

1. Desidratação – até aos170ºC<br />

2. Torrefacção – até aos 270ºC<br />

3. Carbonização ou pirólise (inicio da fase exotérmica) – até aos 500ºC<br />

4. Combustão completa<br />

Nas duas primeiras fases, o material vegetal seca e dá-se uma perda de 35% <strong>do</strong><br />

peso, em forma de vapor de água, gás carbónico e outros componentes orgânicos. É<br />

entendi<strong>do</strong> que, se a combustão for interrompida na torrefacção, os frutos e sementes<br />

conservarão a sua morfologia externa, possibilitan<strong>do</strong>, assim, a sua identificação botânica<br />

(Badal et al, 2003).<br />

Num senti<strong>do</strong> estrito, a combustão compreende somente as duas fases finais. A<br />

carbonização (pirólise) é uma reacção térmica que conduz à formação de brasas,<br />

implican<strong>do</strong> a degradação química da celulose e da lignina, enquanto que a fase seguinte<br />

corresponde a uma reacção oxidante que conduz à formação de cinzas e poderá acontecer<br />

sem a presença de chamas. A interrupção da combustão no final da terceira fase, seja por<br />

cessar a alimentação de oxigénio ou pela perda de temperatura, conduz à formação de<br />

carvões (por calcinação) que, desta forma, mantêm a estrutura anatómica e morfologia<br />

básica <strong>do</strong> material vegetal original (Chabal, et al., 1999; Badal et al, 2003; Allué, 2002).<br />

1.1.1.1. Efeitos sobre as estruturas vegetais<br />

Embora tanto a torrefacção como a carbonização <strong>do</strong>s restos vegetais não<br />

impossibilite a sua identificação taxonómica, a verdade é que algumas alterações são<br />

produzidas quer nos frutos e sementes quer nos teci<strong>do</strong>s lenhosos.<br />

20


No caso das madeiras as deformações são tanto macro como microscópicas e<br />

dependerão da temperatura a que os teci<strong>do</strong>s lenhosos foram submeti<strong>do</strong>s, das<br />

características da madeira e <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong> de conservação (Allué, 2002). De acor<strong>do</strong> com<br />

Schweingruber (apud Piquet, 1999), a carbonização de madeiras implica uma perda de 70 a<br />

80% de substância, provocan<strong>do</strong> assim uma contracção de 7 a 13% longitudinalmente e de<br />

12 a 25% radial ou tangencialmente. Às paredes celulares resta somente 1/5 a 1/4 da<br />

espessura inicial.<br />

Com a carbonização é normal surgirem, de igual mo<strong>do</strong>, fissuras e deformações nos<br />

teci<strong>do</strong>s. Verifica-se também a contracção ou colapso das células (em especial se a madeira<br />

se encontrasse seca aquan<strong>do</strong> da carbonização), a redução da massa e fragmentação, e o<br />

arre<strong>do</strong>ndamento. As fissuras, normalmente desenvolvidas no plano transversal a partir <strong>do</strong>s<br />

poros e raios, são causadas nas primeiras fases da combustão, quan<strong>do</strong> gazes e vapor de<br />

água se volatilizam de forma repentina. Este factor poderá funcionar de forma mais marcada<br />

em determinadas espécies (Allué, 2002).<br />

Experiências realizadas por Bazile-Robert e também por Rossen e Olson (citadas<br />

por Piquet, 1999) com diversas espécies de madeiras demonstraram a existência de<br />

distintos comportamentos com carácter específico durante a combustão. Esses traduzem-se<br />

em diferentes perdas de massa que poderão, de forma significativa, conduzir à<br />

sobrerepresentação ou subrepresentação de tipos xilotómicos nos espectros antracológicos.<br />

As alterações da combustão sobre os carporestos foram também alvo de alguns<br />

estu<strong>do</strong>s centra<strong>do</strong>s, principalmente, nas transformações provocadas sobre as dimensões nos<br />

cereais. Desta forma, é incontestável que as dimensões e peso de cereais carboniza<strong>do</strong>s não<br />

são passíveis, de uma forma linear, de serem compara<strong>do</strong>s com cereais frescos (Ferrioa, et<br />

al., 2004).<br />

Tendencialmente, a combustão parcial provoca a diminuição <strong>do</strong> peso e <strong>do</strong><br />

comprimento <strong>do</strong>s grãos e o aumento relativo da largura e espessura (o efeito nesta medida<br />

não é, contu<strong>do</strong>, consensual entre várias experiências). Além disso, as alterações<br />

provocadas variam nas diferentes espécies e também consoante a intensidade e o tipo de<br />

fogo a que são sujeitos os cereais.<br />

Numa experiência com fogo real, Ferrioa et al. (2004) concluíram que a diminuição<br />

<strong>do</strong> peso é pouco significativa quan<strong>do</strong> as temperaturas a que os grãos são sujeitos não<br />

ultrapassam os 200º C. Porém, o peso reduz drasticamente quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong>s a<br />

temperaturas de 250º C. Por outro la<strong>do</strong>, a mesma experiência demonstrou que as alterações<br />

são mais marcadas nos grãos de trigo <strong>do</strong> que nos de cevada.<br />

Tellez e Ciferri (1954), numa experiência em estufa, demonstraram também a<br />

existência de alterações discordantes ao nível da espessura entre distintas espécies <strong>do</strong><br />

21


género Triticum. Do mesmo mo<strong>do</strong>, concluem que os grãos assumem formas<br />

tendencialmente mais arre<strong>do</strong>ndadas que a original e o sulco ventral perde profundidade.<br />

1.1.2. Fenómenos pós-deposicionais<br />

Um <strong>do</strong>s principais fenómenos pós-deposicionais que condiciona a conservação<br />

(potencian<strong>do</strong>-a) <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s lenhosos é a própria combustão. Haven<strong>do</strong> já explora<strong>do</strong> o tema<br />

resta perceber como após essa combustão parcial as estruturas vegetais já fossilizadas<br />

poderão sofrer novos processos de desgaste.<br />

Vários agentes físico-químicos e mecânicos agem de forma complementar sobre<br />

os restos vegetais integra<strong>do</strong>s nos sedimentos. Destes salientamos o pisoteio, a pressão <strong>do</strong><br />

peso <strong>do</strong> próprio peso <strong>do</strong> sedimento, as grandes alterações de temperaturas atmosféricas e<br />

ao nível <strong>do</strong> solo e processos de pe<strong>do</strong>génese como a carbonatação (Allué, 2002).<br />

Acrescente-se, embora seja difícil a sua detecção, o efeito <strong>do</strong>s agentes sedimentares na<br />

remobilização <strong>do</strong>s restos vegetais.<br />

Por fim, outro factor determinante poderá ser a afectação directa por acções<br />

perturba<strong>do</strong>ras sobre o solo, tanto antrópicas como animais. Entre as acções <strong>do</strong> Homem<br />

inclui-se a escavação arqueológica, a recolha de amostras e a flutuação ou crivagem <strong>do</strong>s<br />

sedimentos.<br />

1.2. Antracologia e Carpologia como Paleoetnobotânica<br />

1.2.1. Antracologia<br />

O estu<strong>do</strong> de madeiras carbonizadas – antracologia – consiste na identificação<br />

botânica <strong>do</strong>s fitoclastos através <strong>do</strong> reconhecimento das suas características anatómicas a<br />

um nível microscópico. A identificação <strong>do</strong>s taxa realiza-se com base em comparações com<br />

colecções de referência e atlas de anatomia (Schweingruber, 1990a, 1990b; Vernet, et al.,<br />

2001). A consulta de estu<strong>do</strong>s detalha<strong>do</strong>s sobre a xilotomia de grupos taxonómicos<br />

particulares, onde o valor de diagnóstico de características xilomorfológicas é avalia<strong>do</strong><br />

constituiu também um precioso auxiliar na identificação.<br />

Na sua fase inicial de desenvolvimento, na primeira metade <strong>do</strong> Século XX, a<br />

morosidade <strong>do</strong>s processos inerentes ao estu<strong>do</strong> microscópio <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s lenhosos<br />

carboniza<strong>do</strong>s (devi<strong>do</strong> ao uso de microscopia óptica de transmissão e necessidade de<br />

22


ealização de cortes finos em material previamente impregna<strong>do</strong>) dificultou a afirmação da<br />

antracologia enquanto prática científica na área da Paleobotânica. A proliferação destes<br />

estu<strong>do</strong>s, a partir da década de 70 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, operou-se com a generalização de<br />

processos analíticos mais simples que passavam pela fragmentação manual <strong>do</strong>s fitoclastos<br />

e a sua observação ao microscópio óptico de luz reflectida. Estes procedimentos<br />

permanecem repletos de actualidade, apesar de, hoje, também se utilizarem<br />

complementarmente diversas outras meto<strong>do</strong>logias e equipamentos de microscopia<br />

(Figueiral, Mosbrugger, 2000).<br />

Ainda que o incremento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s antracológicos se tenha verifica<strong>do</strong> pela sua<br />

associação a investigações de ín<strong>do</strong>le arqueológica, estes não se encontram limita<strong>do</strong>s à<br />

recolha e análise de materiais provenientes de sítios arqueológicos. Pesquisas de âmbito<br />

antracológico têm-se centra<strong>do</strong> também em contextos de fogos, de origem natural ou<br />

antrópica, detecta<strong>do</strong>s em paleosolos ou perfis de solo – Pe<strong>do</strong>-antracologia – nem sempre<br />

associa<strong>do</strong>s directamente a níveis de ocupação humana (Uzquiano, 1997; Figueiral e<br />

Mosbrugger, 2000). Estas estão, contu<strong>do</strong>, fora <strong>do</strong> âmbito <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<br />

1.2.2. Potencial e limitações: entre a Paleoecologia e a Paleoetnobotânica<br />

Os já menciona<strong>do</strong>s avanços meto<strong>do</strong>lógicos alcança<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>s<br />

antracológicos, em especial no Sul da Europa, nas décadas de 60 e 70 visaram vários<br />

aspectos, incluin<strong>do</strong> a recolha de amostras nos trabalhos de campo. Na realidade, o uso de<br />

amostragens de maior dimensão e a optimização de méto<strong>do</strong>s de recolha sistemática, como<br />

a flutuação de sedimentos, hoje extravasam os limites das estruturas arqueológicas, nas<br />

quais a presença de fitoclastos sen<strong>do</strong> mais evidente era, anteriormente, mais valorizada.<br />

No plano teórico-meto<strong>do</strong>lógico coexistem abordagens distintas, com diferentes<br />

objectivos e níveis de abrangência, pretenden<strong>do</strong> definir as capacidades e limitações <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s antracológicos. Duas posições opõem-se com a principal divergência na atribuição<br />

de diferentes valências <strong>do</strong>s contextos de estu<strong>do</strong> ao nível da reconstrução das paisagens e<br />

fitocenoses antigas. A principal questão consiste na avaliação e quantificação <strong>do</strong>s vectores<br />

de dispersão, transporte e deposição responsáveis pela presença <strong>do</strong>s macrorrestos vegetais<br />

nos sítios arqueológicos, salientan<strong>do</strong>-se ou menosprezan<strong>do</strong>-se a selecção antrópica como<br />

factor enviesante <strong>do</strong> panorama obti<strong>do</strong> pela análise quantitativa <strong>do</strong>s macrorrestos. Não<br />

obstante, mantém-se o principio segun<strong>do</strong> o qual a ecologia das espécies manteve-se<br />

inalterada desde tempos antigos até à actualidade e que, nessa base, é possível o<br />

estabelecimento de comparações entre ambas as realidades (presente e passa<strong>do</strong>).<br />

Não escamotean<strong>do</strong> a existência de um potencial paleoecológico na análise de<br />

carvões recolhi<strong>do</strong>s em sítios arqueológicos, parece claro, porém, que este é<br />

23


ecorrentemente exacerba<strong>do</strong> de forma errónea. A posição mais usualmente a<strong>do</strong>ptada apoiase<br />

na distinção entre carvões concentra<strong>do</strong>s em estruturas ou derrubes e aqueles dispersos<br />

nos sedimentos arqueológicos. Os primeiros devem traduzir um único momento de selecção<br />

de combustível/material de construção, tratan<strong>do</strong>-se assim de uma amostra não aleatória da<br />

vegetação lenhosa presente, limitan<strong>do</strong>-se a interpretação paleoecológica à constatação da<br />

presença de determina<strong>do</strong>s elementos florísticos e adequan<strong>do</strong>-se, assim, a interpretações<br />

paleoetnográficas, para as quais a sincronia <strong>do</strong>s macrorrestos recolhi<strong>do</strong>s demonstra ser<br />

uma valência (Figueiral, 1994).<br />

Por seu turno, os materiais dispersos deveriam supostamente fornecer espectros<br />

mais completos da paleovegetação envolvente da jazida arqueológica. Estes<br />

corresponderiam a acumulações de vários (potencialmente muitos) momentos singulares,<br />

espelhan<strong>do</strong> diversos momentos de recolha de combustível e limpeza da área de habitação.<br />

Segun<strong>do</strong> alguns autores a recolha sucessiva de madeira atenuaria o factor selecção<br />

aumentan<strong>do</strong> a possibilidade de, entre os carvões dispersos, se encontrarem representadas<br />

todas as espécies lenhosas da envolvência <strong>do</strong> habitat e nas proporções directas, ou não –<br />

aqui variam as interpretações – face à composição paisagística (Chabal, et al., 1999;<br />

Figueiral, 1994). Refira-se a este propósito que em termos estatísticos uma amostra<br />

composta por uma sucessão de gestos selectivos não passa a ser uma amostra aleatória,<br />

por maior que seja a acumulação de gestos incluí<strong>do</strong>s, pelo que a assumpção de que todas<br />

as espécies lenhosas da flora regional estariam representadas numa amostra resultante<br />

dum acumular de gestos de recolha de combustível e de limpeza da área não tem qualquer<br />

sustentabilidade estatística.<br />

Diversos autores sustentam que a obtenção de material lenhoso para alimentar<br />

estruturas de combustão seguiria o princípio <strong>do</strong> mínimo esforço segun<strong>do</strong> o qual, de forma<br />

aleatória e não selectiva, seriam recolhi<strong>do</strong>s ramos caí<strong>do</strong>s, secos, privilegian<strong>do</strong>-se os<br />

materiais mais próximos <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>, independentemente das suas características<br />

específicas. Desta forma, todas as espécies lenhosas seriam recolhidas na medida da sua<br />

abundância (apud Allué, 2002; Espino, 2004 e Piqué, 2006). Do mesmo mo<strong>do</strong> que<br />

entendem o universalismo da recolha de madeira morta, independentemente da espécie,<br />

pressupõem também que a exploração da madeira far-se-ia em meios associa<strong>do</strong>s a outras<br />

actividades como a agricultura e a pastorícia, por uma questão de poupança de tempo e<br />

esforço o que supostamente deveria garantir um reflexo fiel <strong>do</strong> território de exploração<br />

(Chabal, et al, 1999).<br />

Deste mo<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os autores já referi<strong>do</strong>s, para se obter material adequa<strong>do</strong> a<br />

uma reconstituição paleoambiental bastaria realizar uma correcta amostragem e recolha no<br />

campo. Esta pressupõe o conhecimento das condições de deposição, a distinção clara entre<br />

24


material disperso e concentra<strong>do</strong> e a recolha manual e separada de fragmentos de maiores<br />

dimensões (Chabal, et al., 1999; Figueiral, 1994; Vernet, 1999).<br />

Assume-se com este tipo de abordagem que é possível obter uma imagem de um<br />

fácies local da paleovegetação – o território de exploração de madeira de um habitat antigo<br />

– revestin<strong>do</strong>-se esta de um carácter complementar face às séries regionais resultantes de<br />

estu<strong>do</strong>s polínicos (Figueiral, 1994).<br />

A contestação a esta visão optimista <strong>do</strong> potencial paleoecológico da antracologia<br />

arqueológica passa pela negação <strong>do</strong>s princípios que a fundamentam.<br />

O primeiro ponto fundamental centra-se no factor humano que antecede a<br />

presença das espécies vegetais no registo antracológico. Estu<strong>do</strong>s etnográficos demonstram<br />

que as comunidades rurais têm sóli<strong>do</strong>s conhecimentos de base empírica acerca das<br />

propriedades das madeiras enquanto material de construção e combustível. A escolha de<br />

materiais lenhosos poderia depender dessas propriedades, tal como da articulação entre<br />

necessidades da comunidade, disponibilidade no meio e ainda de factores de ordem<br />

cultural. Deste mo<strong>do</strong>, a sua presença na jazida dificilmente seria correlacionável quantitativa<br />

e estruturalmente, de forma directa, com a biomassa existente (Piqué, 2006; Allué, 2002;<br />

Mateus et al., 2003). De igual mo<strong>do</strong>, a ausência de um elemento no registo antracológico<br />

nunca poderá significar a sua inexistência na paisagem envolvente <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>.<br />

Saliente-se que a imagem paleopaisagística poderá ser deturpada pela maior<br />

representatividade <strong>do</strong>s elementos de mais fácil recolecção, segun<strong>do</strong> o já referi<strong>do</strong> princípio<br />

<strong>do</strong> mínimo esforço.. De facto, é possível questionar até que medida os elementos de mais<br />

fácil recolha são sempre aqueles que existem em maior abundância na paisagem e a melhor<br />

caracterizam. A recolha poderá privilegiar a madeira morta e a vegetação arbustiva pelas<br />

suas propriedades combustíveis, porém, nada garante que nesses elementos estejam<br />

incluí<strong>do</strong>s, de forma proporcional face à sua abundância e papel na paisagem, to<strong>do</strong>s os<br />

componentes relevantes da mesma.<br />

De acor<strong>do</strong> com Vernet (1999), uma das limitações da antracologia é o facto de<br />

representar uma abordagem essencialmente diacrónica. Na verdade, o espectro<br />

representa<strong>do</strong> pelos fitoclastos dispersos não pode correctamente ser posiciona<strong>do</strong> num<br />

momento bem delimita<strong>do</strong>, antes num intervalo de tempo correntemente inquantificável. Ao<br />

mesmo tempo nem sempre são perceptíveis os processos de transporte de deposição<br />

responsáveis pela incorporação <strong>do</strong>s carvões nos depósitos arqueológicos. Deste mo<strong>do</strong>, os<br />

carvões, ou parte destes, poderão não ser sincrónicos <strong>do</strong>s momentos de ocupação<br />

identifica<strong>do</strong>s na jazida e até resultar de incêndios regionais e, assim, respeitar a outra lógica<br />

interpretativa (Mateus, et al., 2003).<br />

Ao mesmo tempo que é difícil conhecer o perío<strong>do</strong> de formação <strong>do</strong> conjunto<br />

antracológico, é impossível quantificar as alterações paisagísticas ocorridas durante o<br />

25


perío<strong>do</strong> de formação <strong>do</strong> depósito em questão (por exemplo, uma fase de ocupação humana<br />

de várias décadas). Na verdade, os fitoclastos que surgem no referi<strong>do</strong> depósito teriam uma<br />

representatividade (face a essa paisagem) distinta em cada uma das diferentes fases de<br />

alteração dessa mesma paisagem, todas elas contemporâneas da formação <strong>do</strong> depósito.<br />

Considera-se, assim, que as proporções que Chabal et al. (1999) dizem identificar<br />

frequentemente no registo antracológico - 20% das espécies representam 80% da biomassa<br />

à semelhança <strong>do</strong>s padrões ecológicos actuais - poderão estar truncadas à partida. Essa<br />

ideia sai realçada quan<strong>do</strong> Vernet (1999) acrescenta que esses números poderão não se<br />

verificar em ecossistemas desequilibra<strong>do</strong>s. Como tal, parece-nos ser estranho identificar<br />

essas proporções no registo antracológico em determina<strong>do</strong>s contextos cronológicos e<br />

culturais que implicam a existência de uma paisagem bastante antropizada. Saliente-se que,<br />

segun<strong>do</strong> o princípio <strong>do</strong> menor esforço, acima menciona<strong>do</strong>, o território primordial de<br />

exploração para obtenção de combustível relaciona-se com as demais actividades de<br />

subsistência da comunidade, num espaço de efectiva proximidade face ao povoa<strong>do</strong>. Esse<br />

espaço é exactamente o mais perturba<strong>do</strong> e afasta<strong>do</strong> das proporções naturais que os<br />

autores sustentam ser passíveis de identificar através da análise <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s lenhosos.<br />

Em suma, é falacioso afirmar que os carvões dispersos representam um panorama<br />

temporal mais alarga<strong>do</strong> (ainda por mais difícil de quantificar) e depois proceder à sua<br />

análise como se de um momento único se tratasse. Parece claro que, embora faça senti<strong>do</strong> a<br />

nível meto<strong>do</strong>lógico e mesmo interpretativo a distinção entre carvões dispersos e<br />

concentra<strong>do</strong>s, a selecção antrópica encontra-se inerente a ambos, deven<strong>do</strong> incluir-se na<br />

sua interpretação (Uzquiano, 1997). Dada a natureza <strong>do</strong>s factores que condicionam o<br />

registo antracológico, a percepção <strong>do</strong> seu significa<strong>do</strong> passa primordialmente pela<br />

compreensão da jazida e da sua envolvência (idem, 1997).<br />

Por fim, os processos a que são sujeitas as estruturas vegetais até se tornarem<br />

parte <strong>do</strong> registo arqueológico poderão igualmente condicionar a sua interpretação,<br />

condicionan<strong>do</strong> a já problemática correlação entre a quantidade de material carboniza<strong>do</strong> e o<br />

número de indivíduos representa<strong>do</strong>s. O processo de fragmentação depende de factores que<br />

não são controláveis, tais como as propriedades de cada espécie, as condições em que<br />

ocorreu a sua carbonização e ainda diversos processos pós-deposicionais. (Allué, 2002).<br />

Mesmo Chabal, et al. (1999) referem que a redução da massa com o fogo poderá não ser<br />

proporcional em todas as espécies. De facto, como já fizemos notar (vide supra), essas<br />

diferenças poderão afectar de forma muito significativa os espectros antracológicos.<br />

26


Os estu<strong>do</strong>s antracológicos nos sítios arqueológicos, no entanto e apesar <strong>do</strong>s<br />

argumentos acima expostos, são de grande importância e constituem fonte de informação<br />

com muitas possibilidades interpretativas.<br />

Ao nível das interpretações etnográficas são diversas as linhas de investigação.<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio que existe uma selecção humana das madeiras de acor<strong>do</strong> com os fins<br />

a que se destinam, o que pressupõe um conhecimento profun<strong>do</strong> das matérias-primas, tornase<br />

determinante tentar aceder ao processo inerente a essa escolha.<br />

As madeiras seriam escolhidas de acor<strong>do</strong> com determinadas propriedades, tais<br />

como a rigidez, elasticidade e plasticidade (Chabal, et al., 1999). Naturalmente seria distinto<br />

o esforço despendi<strong>do</strong> na obtenção de matérias-primas para construção ou para mero<br />

combustível para alimentar estruturas de combustão de âmbito <strong>do</strong>méstico se bem que não<br />

seriam de desprezar as propriedades calóricas <strong>do</strong>s diferentes tipos de lenha. No entanto, a<br />

compreensão <strong>do</strong> processo de escolha está condicionada, à partida, pelas limitações quanto<br />

à definição <strong>do</strong>s espectros locais e regionais da vegetação. Ou seja, não se aceden<strong>do</strong> de<br />

forma mais completa aos padrões paisagísticos da envolvência <strong>do</strong>s povoamentos humanos<br />

só de forma esboçada se poderá compreender as contingências da escolha de matériasprimas<br />

nesse contexto assim como a gestão <strong>do</strong> meio.<br />

Independentemente desta limitação, é possível associar espécies a actividades e a<br />

capacidades tecnológicas. Tal define o enquadramento <strong>do</strong>s carvões no campo <strong>do</strong>s<br />

artefactos antrópicos e, como tal, passíveis de interpretações eminentemente arqueológicas<br />

(Mateus et al., 2003).<br />

Não obstante, existe um potencial paleoecológico nas análises antracológicas que<br />

começa pela simples nomeação da sua presença na paisagem ou região envolvente. Afinal<br />

os fitoclastos relacionam-se com a vegetação mas não de forma directa e a sua análise<br />

deve realizar-se com muitas precauções. Assim, é possível reconhecer componentes de<br />

unidades de vegetação embora sem perceber o seu peso na constituição da paisagem. É<br />

neste ponto que divergem as abordagens paleoetnobotânicas e arqueobotânicas<br />

tradicionais (Piquet, 1999). Nas primeiras, e embora se assuma que a disponibilidade no<br />

meio ambiente condiciona de forma marcante a escolha de combustíveis, não se entendem<br />

as frequências relativas de um conjunto de carvões enquanto reflexo das proporções<br />

encontradas nas paleopaisagens. Pressupõe-se a existência de uma escolha antrópica<br />

consciente assim como de vários outros factores enviesantes.<br />

Contu<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> a escolha de materiais lenhosos condicionada por factores de<br />

ordem sócio-económica, em conjunto com a disponibilidade no meio, a dimensão<br />

etnográfica condiciona, à partida, a interpretação paleoecológica. Como P. Uzquiano (1997,<br />

p. 152) refere, será principio basilar que “el estudio de las relaciones hombre-medio debe<br />

27


preceder a la Discusión Paleoecológica, de cara a evaluar mejor las aportaciones de la<br />

Antracología en el terreno de la Paleoecología”.<br />

1.2.3. Carpologia<br />

Apesar de existirem (escassos) estu<strong>do</strong>s anteriores, remontam aos anos 40 os<br />

trabalhos <strong>do</strong> Eng. Pinto da Silva, ainda hoje uma referência nesta área, que constituíram o<br />

verdadeiro debutar da investigação na área da Carpologia em Portugal (Mateus e Queiroz,<br />

1993). Nas décadas seguintes este investiga<strong>do</strong>r assumiria um papel preponderante<br />

multiplican<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s e as espécies identificadas (ver síntese em Silva, 1988). Porém, o<br />

forte incremento que esta disciplina sofreu na década de 90 e até à actualidade no<br />

Mediterrâneo Ocidental, nomeadamente em Espanha e França, não foi convenientemente<br />

acompanha<strong>do</strong> pela formação de novos investiga<strong>do</strong>res dessas áreas em Portugal.<br />

As análises carpológicas, aqui entendidas num âmbito alarga<strong>do</strong>, incidem sobre<br />

diferentes tipos de estruturas vegetais, nomeadamente, frutos e infrutescências, sementes,<br />

tegumentos, pedúnculos, espigas, espiguetas, glumas e segmentos de raquis (Marinval,<br />

1999; Buxo, 1997). A carpologia em sítios arqueológicos é entendida como um estu<strong>do</strong><br />

paleoetnobotânico por excelência. Tal deve-se, especialmente a duas razões. Por um la<strong>do</strong>,<br />

a detecção desses macrorrestos está intimamente relacionada com os mo<strong>do</strong>s de confecção<br />

e estratégias de armazenagem que lhes são inerentes. Por outro, a presença <strong>do</strong>s indícios<br />

carpológicos numa jazida resulta de uma recolha que, claramente, não se processa de<br />

forma aleatória, pressupon<strong>do</strong> uma forte selecção e frequentemente implican<strong>do</strong> o seu cultivo<br />

e gestão prévios.<br />

A recolha de frutos e sementes por parte de comunidades antigas cumpria<br />

objectivos específicos: a alimentação, a preparação de fármacos e drogas, a produção têxtil<br />

e artesanal, a obtenção de combustível (e.g. o azeite), a ornamentação, a realização de<br />

rituais e a troca/comércio. Não obstante, é frequente a presença de sementes de espécies<br />

daninhas que acompanham os cultivos, assim como de espécies existentes na envolvência<br />

das habitações ou recolhidas como combustível.<br />

Numa análise mais imediata, é possível estabelecer algumas linhas de<br />

investigação para além da óbvia tentativa de compreender qual a utilização dada a cada<br />

componente botânico encontra<strong>do</strong> em escavação, bem como os processos de escolha,<br />

tratamento e valorização desses produtos pelas sociedades antigas (ver Marinval, 1999 e<br />

Buxo, 1997):<br />

- Compreensão da selecção, consumo e mo<strong>do</strong> de preparação de alimentos<br />

vegetais, selvagens e cultiva<strong>do</strong>s, e assim deduzir diversos aspectos das paleo-<br />

28


dietas em articulação com os demais da<strong>do</strong>s arqueológicos (zooarqueológicos,<br />

análises de fitolitos, entre outros),.<br />

- Aproximação às diferentes fases e gestos relaciona<strong>do</strong>s com as actividades<br />

agrícolas, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto que determina<strong>do</strong> tipo de evidência, como as<br />

cariópses de cereais, implica um determina<strong>do</strong> conjunto de actividades que,<br />

relacionan<strong>do</strong>-se com as capacidades tecnológicas de cada comunidade de um<br />

determina<strong>do</strong> espaço e tempo (implican<strong>do</strong> um conhecimento arqueológico e<br />

histórico de base), permite uma recriação imagética de gestos.<br />

- Conhecimento <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de gestão <strong>do</strong>s territórios e ecossitemas<br />

envolventes de cada paleoocupação humana, de acor<strong>do</strong> com modelos de<br />

organização e hierarquização <strong>do</strong> território, teóricos e predefini<strong>do</strong>s (Mateus, 1990),<br />

e implican<strong>do</strong> conhecimentos de base ecológica e etnográfica. Em última análise,<br />

poder-se-á, esboçar a localização de campos de cultivo e relacionar grupos<br />

floristicos diferentes com a geomorfologia da zona de estu<strong>do</strong> (Buxo, 1997).<br />

- Estu<strong>do</strong> de determina<strong>do</strong>s aspectos relaciona<strong>do</strong>s com práticas cultuais,<br />

relaciona<strong>do</strong>s com oferendas e depósitos funerários.<br />

Num âmbito mais alarga<strong>do</strong>, que extravasa cada sítio arqueológico, os estu<strong>do</strong>s<br />

carpológicos foram extremamente relevantes para a percepção, em diversas áreas<br />

geográficas, <strong>do</strong> processo de <strong>do</strong>mesticação de espécies ou da recepção de influências,<br />

tecnologias e conhecimentos exógenos que lograram modificar as comunidades humanas,<br />

assim como a paisagem, de forma marcante. Por outro la<strong>do</strong>, têm si<strong>do</strong> obtidas informações<br />

acerca da própria evolução das espécies vegetais, em função da sua selecção e cultivo (os<br />

cereais são o caso mais marcante).<br />

Por fim, e apesar de também as interpretações carpológicas serem fortemente<br />

tributárias <strong>do</strong> contexto arqueológico (Marinval, 1999) não se pode deixar de salientar que a<br />

carpologia poderá ter um papel relevante ao nível das interpretações paleoecológicas,<br />

sempre como complemento qualitativo (Buxo, 1997), e sempre na estreita relação com o<br />

contexto arqueológico em questão, isto é, o seu território de exploração. É referente a este<br />

espaço, em especial na sua componente mais imediata (os espaços “adjacente” e “próximo”<br />

<strong>do</strong> modelo de Mateus, 1990), que se obtêm informações relativas a parte da composição<br />

florística que acompanha os campos de cultivo (daninhas de culturas) e estruturas rurais<br />

(comunidades ruderais).<br />

A articulação desta disciplina com sistemas de informação geográfica, da<strong>do</strong>s<br />

etnográficos, ecológicos e paleoecológicos, poderá propiciar ao nível de uma reconstrução<br />

imagética, informações referentes aos territórios de exploração e paisagem<br />

agrícola/humanizada, informações essas de ín<strong>do</strong>le marcadamente paleoecológica na<br />

29


medida em que contribuem para a compreensão das paisagens antigas como complexos<br />

mosaicos onde factores antrópicos e naturais se articulam.<br />

É necessário, contu<strong>do</strong>, prudência no que respeita à interpretação de da<strong>do</strong>s<br />

referentes a estes vestígios botânicos. Contingências de natureza arqueológica prendem-se<br />

com as especificidades de cada contexto escava<strong>do</strong> e a relatividade da sua expressão ao<br />

nível da compreensão da jazida no seu to<strong>do</strong> (raramente totalmente escavada). Outras<br />

limitações devem-se à selectividade <strong>do</strong> processo de conservação desses mesmos vestígios,<br />

a carbonização. Uma conservação diferencial de macrorrestos carboniza<strong>do</strong>s privilegia as<br />

sementes maiores e as que dispõem de pericarpos lenhosos (Buxo, 1997).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, e sen<strong>do</strong> talvez o aspecto mais relevante, a conservação dependerá<br />

igualmente das distintas manipulações culinárias de cada fruto ou semente, potencian<strong>do</strong><br />

desproporcionalidades (e ausências por não conservação) na listagem carpológica (idem,<br />

1997). Outras desproporcionalidades poderão advir de diferenças biológicas entre espécies.<br />

Assim, numa interpretação carpológica é determinante conhecer a biologia de cada espécie,<br />

em especial a sua diasporologia, e incluir esses da<strong>do</strong>s na análise de valores numéricos, na<br />

medida que poderão existir grandes discrepâncias na quantidade de sementes produzidas<br />

pelas espécies identificadas no contexto arqueológico (Badal, et al., 2003).<br />

30


2. Enquadramento <strong>do</strong> Nordeste transmontano nos estu<strong>do</strong>s paleobotânicos <strong>do</strong><br />

Noroeste peninsular<br />

Apesar de os primeiros estu<strong>do</strong>s paleoecológicos realiza<strong>do</strong>s em Portugal datarem já<br />

de há algumas décadas, a verdade é que esta temática tem ti<strong>do</strong> uma evolução lenta no<br />

nosso país. Como consequência deste facto, não existem séries orgânicas estudadas no<br />

Nordeste Transmontano. Deste mo<strong>do</strong>, a única forma de compreender, ainda que de forma<br />

sucinta, a evolução <strong>do</strong> coberto vegetal desta região ao longo <strong>do</strong> Holocénico, é recorrer aos<br />

abundantes contextos galegos já conheci<strong>do</strong>s. Trata-se, porém, de um tema que não será<br />

aqui aborda<strong>do</strong> de forma sistemática.<br />

Um modelo basea<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s de macro-restos vegetais provenientes de<br />

contextos arqueológicos transmontanos foi apresenta<strong>do</strong> por Isabel Figueiral e M. Jesus<br />

Sanches (1998-1999 e 2003) com vista à compreensão da evolução da paisagem durante a<br />

Pré-história, até à Idade <strong>do</strong> Ferro. Embora consideremos abusiva a interpretação linear<br />

realizada sobre a evidência arqueobotânica em questão, o facto de incidir essencialmente<br />

sobre contextos anteriores ao perío<strong>do</strong> cronológico que se encontra no âmbito deste estu<strong>do</strong><br />

torna inapropriada, aqui, uma crítica mais aprofundada.<br />

Interessa, porém, reter uma conclusão remetida pelas autoras: aquan<strong>do</strong> da<br />

chegada <strong>do</strong>s romanos à região, esta já esta se encontrava grandemente privada das suas<br />

florestas. Ou seja, a paisagem encontrava-se fortemente antropizada em virtude das<br />

pressões verificadas a partir da pré-história recente (Figueiral e Sanches, 2003).<br />

De facto, as séries polínicas <strong>do</strong> noroeste peninsular colocam no Neolítico o início<br />

da capacidade de alteração de ecossistemas por parte <strong>do</strong> Homem. Embora se denote uma<br />

crescente visibilidade das actividades de desflorestação desde tempos mais antigos, em<br />

especial as Idades <strong>do</strong> Bronze e Ferro, o perío<strong>do</strong> onde estas foram mais marcantes terá<br />

correspondi<strong>do</strong> à fase de ocupação romana (Muñoz Sobrino, et al, 2005; Desprat, et al.,<br />

2003).<br />

Desprat e colabora<strong>do</strong>res (2003) sustentam que durante a Segunda Idade <strong>do</strong> Ferro<br />

o impacto humano sobre a paisagem terá si<strong>do</strong> pouco visível pelo que os momentos<br />

anteriores à presença romana deverão ter si<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong>s por alternantes fases de<br />

desflorestação e recuperação que tendencialmente despiram vastas áreas florestais,<br />

deixan<strong>do</strong> outras quase intactas (Muñoz Sobrino, et al, 2005, 2004, 1997).<br />

Sustentan<strong>do</strong> esta possibilidade, nas montanhas de Ancares, na zona central da<br />

Galiza, quan<strong>do</strong> surgem os primeiros indícios de agricultura na região (pólen de cereal) em<br />

31


5320±60 BP (4325-4286 BC) 1 não se verificam alterações nas percentagens de pólen<br />

arbóreo (AP) (Muñoz Sobrino, et al., 1997).<br />

Será, no entanto, a partir de 3500 BP (cerca de 1870 BC – Idade <strong>do</strong> Bronze) que<br />

verificar-se-á em Ancares uma diminuição genérica da vegetação arbórea, acompanhada de<br />

um aumento muito significativo da representação de pólen de cereal. Contu<strong>do</strong>, se tal<br />

comportamento <strong>do</strong>s valores de AP se traduziu numa redução <strong>do</strong> pólen de Quercus, a<br />

verdade é que se regista uma expansão <strong>do</strong>s valores de Betula que atingem mesmo o auge<br />

da sua representatividade. Este da<strong>do</strong> foi interpreta<strong>do</strong> como uma evidência <strong>do</strong> bom esta<strong>do</strong><br />

das florestas de montanha aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> forte declínio <strong>do</strong>s carvalhais, resultante da<br />

antropização das suas áreas bio-climáticas mais favoráveis (Muñoz Sobrino, et al., 1997).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, no Lago de Sanabria, os da<strong>do</strong>s polínicos demonstram que a partir<br />

de 3050±79BP (1491-1479 BC) o aumento de representatividade <strong>do</strong> pólen de cereal é<br />

acompanha<strong>do</strong> de uma diminuição de Betula e <strong>do</strong> tipo Pinus sylvestris, e <strong>do</strong> acréscimo <strong>do</strong>s<br />

valores <strong>do</strong> tipo Quercus robur (Muñoz Sobrino et al., 2004). A sua associação a um<br />

acréscimo muito significativo da presença de carvão indicia a abertura de pastagens de<br />

montanha.<br />

Verificam-se, deste mo<strong>do</strong>, distintos comportamentos regionais, traduzíveis em<br />

diferentes registos polínicos. De facto, mesmo no último terço <strong>do</strong> Holocénico, perío<strong>do</strong> que<br />

nos interessa particularmente para perceber o enquadramento paisagístico encontra<strong>do</strong><br />

pelos romanos aquan<strong>do</strong> da conquista <strong>do</strong> território, identificaram-se regionalmente diferentes<br />

níveis de antropização da paisagem. Estas diferenças articulam-se com os padrões<br />

clisseriais, tal como foi verifica<strong>do</strong> nas montanhas de Ancares (Muñoz Sobrino, et al., 1997)<br />

onde foi detectada uma fase de diminuição nos valores de AP entre 3090±35BP (1432-1288<br />

Cal BC) e 2070±25BP (171-37 Cal BC).<br />

Este último intervalo de tempo marca o início de uma fase que se prolonga até<br />

1250±50 BP (668-884 Cal AD), sen<strong>do</strong> transversal a to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> da presença romana, na<br />

qual se verifica uma alternância entre momentos de recuperação e recuo das florestas, na<br />

qual a Betula apresenta valores altos (Muñoz Sobrino, et al., 1997). Não obstante, desta<br />

fase resultam alterações paisagísticas sem precedentes, com um marca<strong>do</strong> declínio da<br />

vegetação de porte arbóreo em virtude <strong>do</strong> incremento das práticas agro-pastoris (Muñoz<br />

Sobrino, et al, 2005).<br />

Sen<strong>do</strong> perceptível que a desflorestação não foi um processo contínuo, dever-se-á<br />

ter em conta que as oscilações na constituição da paisagem articulam-se igualmente com<br />

factores climáticos. Para um perío<strong>do</strong> que coincidiu sensivelmente com a Idade <strong>do</strong> Ferro<br />

existem da<strong>do</strong>s que permitem supor a existência de uma fase de arrefecimento, conhecida<br />

como “Iron Age Cold Epoch” (975-250 Cal BC). Seguin<strong>do</strong>-se a esta dever-se-á ter verifica<strong>do</strong><br />

1 As datações encontram.se calibradas a 2 sigma, recorren<strong>do</strong> ao programa Calib501.<br />

32


um momento de melhoramento das condições climáticas, o “Roman Warm Period” (250 Cal<br />

BC – 450 Cal AD). Este terá si<strong>do</strong> segui<strong>do</strong> de mais um perío<strong>do</strong> de agravamento climático na<br />

Alta Idade Média (500-1000 AD) (Muñoz Sobrino, et al, 2005). No entanto, nem sempre é<br />

perceptível o papel <strong>do</strong>s factores climáticos nas alterações paisagísticas, face à visibilidade<br />

da pressão antrópica em tempos proto-históricos e romanos.<br />

Em suma, é evidente a falta de uma série temporal mais fina que permita perceber<br />

a evolução <strong>do</strong> coberto vegetal ao longo da extensa ocupação romana <strong>do</strong> NW peninsular. É<br />

claro, porém, que a paisagem se encontrava profundamente antropizada aquan<strong>do</strong> da<br />

chegada <strong>do</strong>s exércitos à região, denotan<strong>do</strong>-se ainda assim evidências geográfica e<br />

topograficamente heterógeneas.<br />

2.1. Antracologia e carpologia no Nordeste transmontano<br />

Embora sejam relativamente abundantes as recolhas paleobotânicas efectuadas em<br />

jazidas pré-históricas o mesmo não acontece com o perío<strong>do</strong> cronológico aqui em estu<strong>do</strong> – a<br />

época romana. Para este ponto, serão ti<strong>do</strong>s em conta unicamente os da<strong>do</strong>s referentes à<br />

Idade <strong>do</strong> Ferro e perío<strong>do</strong> romano.<br />

O único contexto da Idade <strong>do</strong> Ferro com da<strong>do</strong>s arqueobotânicos publica<strong>do</strong>s é o<br />

povoa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Crasto de Palheiros, Murça. Trata-se de um povoa<strong>do</strong> calcolítico rodea<strong>do</strong> de<br />

estruturas monumentais, nomeadamente taludes pétreos que, após uma longa fase de<br />

aban<strong>do</strong>no, terá si<strong>do</strong> reocupa<strong>do</strong> durante a Idade <strong>do</strong> Ferro, isto é, no 1º milénio a.C. Deste<br />

perío<strong>do</strong> foram escavadas diversas estruturas corresponden<strong>do</strong> a duas fases de ocupação<br />

(Figueiral, Sanches, 2003):<br />

C. Palheiros – Fase III.1:<br />

Cereais<br />

- Identificaram-se grãos de Panicum miliaceum e de Hordeum vulgare<br />

var. vulgare.<br />

C. Palheiros – Fase III.2: Abundantes quantidades de macro-restos foram preservadas<br />

por um incêndio que terá condena<strong>do</strong> o sítio.<br />

Cereais<br />

- São frequentes os grãos de Triticum dicoccum e Hordeum vulgare var.<br />

vulgare, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> os primeiros. São escassos os fragmentos de<br />

espiguetas, bases de glumas e ráquis.<br />

33


- Presença abundante de Panicum miliaceum testemunhan<strong>do</strong> a<br />

armazenagem das cariopses em espigas.<br />

Legumes<br />

- Sementes de Vicia faba var. minor são muito abundantes.<br />

Frutos<br />

- Fragmentos de medronho (Arbutus une<strong>do</strong>), de Pinus pinea.<br />

Espécies silvestres<br />

- Silene, Bromus, Galium e Cistaceae.<br />

No que respeita aos da<strong>do</strong>s antracológicos, foram identificadas nas duas fases da<br />

Idade <strong>do</strong> Ferro tipos xilotómicos como Quercus perenifolia, Quercus caducifolia, Quercus<br />

suber, Arbutus une<strong>do</strong>, Pinus pinaster/pinea, Rosaceae Maloidea, Rhamnus<br />

alaternus/Phillyrea e Pistacia (só na fase III.1). Encontram-se, assim, representadas<br />

espécies das florestas e matos mediterrânicos, ainda hoje comuns na região.<br />

De igual mo<strong>do</strong>, surgiram espécies e tipos xilotómicos característicos de etapas de<br />

sucessão ecológicas pouco desenvolvidas, tais como Leguminosae, Erica e Cistaceae, e<br />

ainda, embora só na fase III.2, Daphne gnidium e Labiataea tipo Thymus. Por outro la<strong>do</strong><br />

contam-se entre as espécies ripícolas, Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia e Sambucus,<br />

identifica<strong>do</strong>s exclusivamente em níveis da fase III.2.<br />

O único contexto devidamente divulga<strong>do</strong> com vestígios paleobotânicos de cronologia<br />

romana é o de Casinhas de Nª Senhora, Passos-Mirandela (Figueiral, Sanches, 1998-<br />

1999). Trata-se de um conjunto de abrigos com pintura esquemática pré-histórica, junto <strong>do</strong>s<br />

quais foram identifica<strong>do</strong>s macro-restos que, após a realização de uma datação absoluta, se<br />

concluiu serem <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> romano, não se excluin<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong> a possibilidade de serem um<br />

pouco mais antigos (séculos IV a.C. – II d.C.). Trata-se, assim, de um contexto de difícil<br />

interpretação e por isso, de fraca relevância e, mesmo, fiabilidade.<br />

Para além de uma semente de Triticum aestivum globiforme (Triticum compactum)<br />

identificaram-se carvões de Arbutus une<strong>do</strong>, Erica sp. e Erica arborea e Leguminosae. Em<br />

menores quantidades contaram-se fragmentos de Quercus caducifolia, Quercus suber,<br />

Quercus perenifolia, Quercus sp, Hedera helix, Rosaceae Maloidea, Fraxinus angustifolia,<br />

Pinus pinaster, Pinus pinaster/pinea, Pinus sylvestris, Juniperus sp e Cistus sp.<br />

34


3. O perío<strong>do</strong> romano no Nordeste transmontano<br />

A conquista <strong>do</strong> Norte da Península Ibérica só se verificou com as incursões de<br />

Augusto em cerca 27-25 a.C. (Reden<strong>do</strong>r, 2002). A região aqui em estu<strong>do</strong> terá si<strong>do</strong><br />

enquadrada na Civitas Zoelarum, <strong>do</strong> Conventus Asturum. A elevação deste populus a civitas<br />

ter-se-á verifica<strong>do</strong>, possivelmente, por volta de 73-74 d.C. aquan<strong>do</strong> da concessão <strong>do</strong> ius<br />

Latii aos populi <strong>do</strong> Noroeste (Alarcão, 2003), não existin<strong>do</strong> concordância no que respeita à<br />

categoria administrativa que era detida anteriormente pelos Zoelae – gentilitas ou gens (vide<br />

Lemos, 1993 e Alarcão, 2003).<br />

Segun<strong>do</strong> F. Sande Lemos a primeira importante fase de romanização data da dinastia<br />

Júlio-Claudiana, de que se salienta o início da construção da Via XVII entre Bracara Augusta<br />

e Asturica Augusta (que passa no extremo Norte <strong>do</strong> actual concelho de Mace<strong>do</strong> de<br />

Cavaleiros) durante o reina<strong>do</strong> de Augusto (Lemos, 1993). Contu<strong>do</strong>, como se percebe na<br />

generalidade da bibliografia, terá si<strong>do</strong> com os Flávios que se aprofun<strong>do</strong>u a integração da<br />

região no império, nomeadamente pela via económica, traduzida por exemplo pela presença<br />

muito abundante de Terra Sigillata.<br />

No entanto, dada a escassez de trabalhos arqueológicos na região em questão, pouco<br />

se sabe acerca <strong>do</strong>s Zoelae. Crê-se que a sede da Civitas localizava-se na Torre Velha de<br />

Castro de Avelãs, elevação sobranceira à depressão de Bragança, visto aí ter si<strong>do</strong> recolhida<br />

uma inscrição dedicada ao deus Aernus pela Or<strong>do</strong> zoelarum. Em torno, da sede, ou seja ao<br />

longo da depressão de Bragança multiplicam-se os povoa<strong>do</strong>s e estabelecimentos rurais,<br />

essencialmente de pequenas dimensões, só ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> identificadas três villae em to<strong>do</strong> o<br />

Trás-os-Montes Oriental (Lemos, 1993).<br />

De igual mo<strong>do</strong>, existem modelos teóricos que delimitam as fronteiras <strong>do</strong> território deste<br />

povo, salientan<strong>do</strong> os de Jorge Alarcão (1988) e F. Sande Lemos (1993), este último reven<strong>do</strong><br />

com poucas alterações o modelo anterior. Não interessan<strong>do</strong> aqui centrarmo-nos nesta<br />

questão, refira-se somente que o núcleo <strong>do</strong> território posicionar-se-ia entre as cadeias<br />

montanhosas de Montesinho, Nogueira e Bornes. Esta última serra deverá ter constituí<strong>do</strong>,<br />

segun<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is investiga<strong>do</strong>res, o limite Sul <strong>do</strong> território Zoelae.<br />

É, no entanto, ao nível da caracterização da economia e subsistência que se denota<br />

de forma mais marcada a escassez de informações. Para além de genéricos apontamentos<br />

de autores latinos acerca <strong>do</strong>s “povos das montanhas”, existem abundantes conjuntos de<br />

da<strong>do</strong>s arqueológicos referentes ao Noroeste Peninsular, porém essencialmente para a<br />

Galiza e Minho, zonas cultural e biogeograficamente distintas <strong>do</strong> Nordeste transmontano, e<br />

onde houve maior investimento a nível de investigação.<br />

A referência mais clara, por parte de um autor latino, acerca <strong>do</strong>s Zoelae é a de Plínio,<br />

o Velho. Este autor refere que o linho <strong>do</strong>s Zoelae era exporta<strong>do</strong> para a Península Itálica<br />

35


onde era utiliza<strong>do</strong> para o fabrico de redes de caça (Guerra, 1995). Já Estrabão (III, 3, 7),<br />

refere que “en los <strong>do</strong>s tercios del año, los montañeses se nutren de bellotas, que secan y<br />

pelan molién<strong>do</strong>las luego para hacer pan, que guardan para consumirlo en lo sucesivo”<br />

(Garcia-Belli<strong>do</strong>, 1993). A afirmação de Estrabão deverá ser entendida à luz <strong>do</strong> tempo em<br />

que foi escrita, isto é, durante a fase de consolidação da conquista <strong>do</strong> território, quan<strong>do</strong> o<br />

autor pretendia enaltecer o papel civiliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s romanos (Fabião, 1992). Não obstante, as<br />

inúmeras intervenções realizadas em castros na Galiza demonstraram que as bolotas eram<br />

efectivamente um recurso muito utiliza<strong>do</strong> em tempos pré-romanos e que continuaram a sê-lo<br />

após a conquista, não se revestin<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, de um papel basilar para a subsistência<br />

destas comunidades (Ramil-Rego, et al., 1996; Rodriguez Lopez, et al., 1993; Ramil-Rego,<br />

1993).<br />

Efectivamente, diversos estu<strong>do</strong>s carpológicos e arqueozoológicos têm demonstra<strong>do</strong> o<br />

carácter eminentemente agro-pastoril da economia proto-histórica e romana <strong>do</strong> Noroeste<br />

peninsular, na qual a produção cerealífera apresentava particular relevância, em especial o<br />

trigo. É aponta<strong>do</strong> um pre<strong>do</strong>mínio de Triticum aestivum, Triticum compactum e Triticum<br />

dicoccum. O Panicum miliaceum, Setaria italica, Avena sativa e Hordeum vulgare seriam<br />

cultivos secundários. É ainda apontada a presença de leguminosas, em especial Vicia faba<br />

e em menor medida Pisum sativum, Brassica sp. e Sinapis (Ramil-Rego et al., 1996;<br />

Rodriguez Lopez, et al. 1993). No que respeita à produção de castanha, apesar de ser<br />

conheci<strong>do</strong> o incremento que esta cultura teve em época romana, este amplo conhecimento,<br />

que advém <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s polínicos, não é acompanha<strong>do</strong> por um registo paleocarpológico em<br />

jazidas arqueológicas que o possa <strong>do</strong>cumentar de forma mais pormenorizada.<br />

É presumível que a nova ordem económica romana no Noroeste peninsular tenha<br />

conduzi<strong>do</strong> a significativas alterações no que respeita aos volumes e mesmo propósitos de<br />

produção, entran<strong>do</strong> esta região numa economia cada vez mais mercantil, na qual o<br />

abastecimento de merca<strong>do</strong>s regionais teria especial relevância. Ao mesmo tempo, um<br />

aumento de produções seria necessário para pagar o devi<strong>do</strong> tributo ao Esta<strong>do</strong> romano.<br />

Saliente-se, a este respeito, que noutras áreas geográficas se encontram bem<br />

<strong>do</strong>cumentadas evidentes alterações no sistema agrícola. Menciona-se a título de exemplo a<br />

área carpetana onde desde a época de Augusto, e pelo menos até ao século III, houve um<br />

incremento no cultivo da vinha, a tal ponto que no ano 92 d.C. o impera<strong>do</strong>r Domiciano terá<br />

proibi<strong>do</strong>, possivelmente com pouco efeito, o cultivo da vinha em terrenos de cereal,<br />

decretan<strong>do</strong> mesmo o seu arranque parcial (Hurta<strong>do</strong> Aguña, 2001). Nas regiões peninsulares<br />

mais meridionais, nomeadamente a Bética, as alterações terão si<strong>do</strong> mais profundas, de<br />

mo<strong>do</strong> a fomentar um acréscimo de produções de cereal e vinho com vista à sua exportação.<br />

No que respeita à exploração de ga<strong>do</strong>, existem marcadas diferenças entre as<br />

realidades pré-romanas e romanas no registo arqueológico <strong>do</strong> Noroeste peninsular,<br />

36


nomeadamente nos contextos galegos. Em todas as fases crono-culturais o ga<strong>do</strong> mais<br />

importante é o vacum, sen<strong>do</strong> que o esforço de romanização conduziu à afirmação <strong>do</strong> ga<strong>do</strong><br />

porcino face ao ovi-caprino enquanto segunda preferência. Denota-se, porém, que em<br />

épocas de crise, como o Baixo-Império, há um retorno ao ga<strong>do</strong> ovi-caprino e uma<br />

diminuição da frequência de ga<strong>do</strong> porcino (Fernández Rodriguez, 2003).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os conjuntos arqueozoológicos <strong>do</strong>cumentam um aumento muito<br />

significativo na dimensão <strong>do</strong>s animais. De facto, a altura <strong>do</strong>s animais de criação <strong>do</strong>méstica<br />

aumenta claramente, como sinal da importação de animais, possivelmente directamente da<br />

zona central da Península Itálica. Trata-se porém, de uma realidade mais visível nos meios<br />

urbanos e nas grandes villae.<br />

A introdução de animais com fins alimentares e outros encontra-se bem <strong>do</strong>cumentada<br />

também pela recolha em jazidas arqueológicas de vestígios osteológicos de gansos, gatos,<br />

cães de pequenas dimensões (animais de companhia) e até dromedários. A continuação da<br />

presença de animais selvagens inclusive em contextos urbanos testemunha a persistência<br />

das actividades de caça, embora cada vez menos para suprir necessidades básicas<br />

(Fernández Rodriguez, 2003).<br />

No entanto, particular ênfase deve ser da<strong>do</strong> à exploração mineira que terá constituí<strong>do</strong><br />

a actividade económica de maior interesse para os romanos no NW peninsular. De facto, a<br />

riqueza em diversos metais, <strong>do</strong>s quais salientamos o estanho, o ouro, a prata, o chumbo e o<br />

ferro terá molda<strong>do</strong> a paisagem em diversos senti<strong>do</strong>s, condicionan<strong>do</strong> de forma significativa a<br />

distribuição <strong>do</strong> povoamento e da rede viária e ainda motivan<strong>do</strong> intensas actividades de<br />

desflorestação (Lemos, 1993).<br />

3.1. Território rural e agricultura<br />

Não é expectável encontrar no Nordeste Transmontano a dicotomia cidade-villae<br />

característica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> romaniza<strong>do</strong>. De facto, sabemos hoje que a ocupação <strong>do</strong> território<br />

não seguiu um modelo único na totalidade <strong>do</strong> império, verifican<strong>do</strong>-se assim uma certa<br />

heterogeneidade de acor<strong>do</strong> com diferentes variáveis, tais como a morfologia e ecologia, o<br />

fun<strong>do</strong> indígena de cada região, os estímulos recebi<strong>do</strong>s e a intervenção estatal (Carvalho,<br />

2006). De facto, à semelhança de outras áreas rurais montanhosas (vide o exemplo da<br />

Cova da Beira em Carvalho, 2006) não existiria no território transmontano uma estruturação<br />

de tipo centuriatio, esperan<strong>do</strong>-se uma repartição territorial mais desordenada, adaptan<strong>do</strong>-se<br />

à topografia e aos traça<strong>do</strong>s pré-existentes. Certo é que, embora não haja centuriação, a<br />

existência de novos tipos de habitat rural em época romana indica que algumas terras foram<br />

seccionadas alteran<strong>do</strong>-se os modelos de organização da paisagem (Lemos, 1993).<br />

37


Deste mo<strong>do</strong>, apesar de o sistema de organização <strong>do</strong> espaço rural ter sofri<strong>do</strong><br />

importantes modificações com a conquista romana, afasta-se um pouco <strong>do</strong> ideal latino<br />

segun<strong>do</strong> o qual grandes e luxuosas explorações agrícolas abastece<strong>do</strong>ras de amplos centros<br />

urbanos (e dependentes destes) estruturavam as paisagens. De facto, somente três villae<br />

são mencionadas para to<strong>do</strong> Trás-os-Montes Oriental (Lemos, 1993).<br />

Não obstante, um conceito é generaliza<strong>do</strong>: as pequenas unidades uni-familiares<br />

(Casais rurais) localizadas perto de férteis terrenos agrícolas. Estes casais seriam muito<br />

abundantes em to<strong>do</strong> o Nordeste Transmontano, conjuntamente com outros<br />

estabelecimentos de maior dimensão (Povoa<strong>do</strong>s Romanos) também de fundação romana 2 .<br />

Saliente-se que prospecções arqueológicas realizadas em torno da sede da Civitas<br />

Zoelarum permitiram identificar uma importante concentração destes estabelecimentos<br />

rurais (Lemos, 1993).<br />

Ao mesmo tempo subsistiam inúmeros povoa<strong>do</strong>s fortifica<strong>do</strong>s e outros aglomera<strong>do</strong>s<br />

indígenas, sen<strong>do</strong> ainda pouco claro o mo<strong>do</strong> como se enquadravam no modelo económico e<br />

social <strong>do</strong> império. Tal deve-se, em parte, à concentração <strong>do</strong>s esforços interpretativos acerca<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> rural romano nos estabelecimentos de carácter uni-familiar. Estes, em especial<br />

nestas áreas montanhosas, interiores e com pouco estimulo urbano orientariam as<br />

produções essencialmente para a sua própria subsistência e algum, escasso, comércio<br />

(Carvalho, 2006).<br />

Mais difícil é pensar no papel desempenha<strong>do</strong> pelos povoa<strong>do</strong>s indígenas romaniza<strong>do</strong>s,<br />

fortifica<strong>do</strong>s ou não. Acreditamos, contu<strong>do</strong>, que também estes destinariam a maior parte das<br />

suas produções agrícolas ao consumo e troca no próprio povoa<strong>do</strong>, prolongan<strong>do</strong> assim os<br />

modelos de auto-suficiência proto-históricos. Efectivamente, a escolha <strong>do</strong> local de<br />

implantação <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> obedeceria a critérios que assegurariam o acesso a uma grande<br />

variedade de recursos (Fernández-Posse e Sánchez-Palencia, 1998). Deste mo<strong>do</strong>, parece<br />

justificável que, como sustenta F. S. Lemos (1993), no território <strong>do</strong>s Zoelae em época<br />

romana os aglomera<strong>do</strong>s indígenas controlassem os melhores solos agrícolas.<br />

Tal não impediria, bem pelo contrário, a existência de relações comerciais com outros<br />

estabelecimentos, inclusive com as recém criadas unidades uni-familiares, numa óptica de<br />

abertura e de algum dinamismo e complementaridade económica mais característicos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> romano. Realmente, a integração nas rotas comerciais proporcionada pela rede<br />

viária e pela paz romana facilitaria a troca e venda de bens, tanto produtos agrícolas<br />

(produções para venda ou meros excedentes) como artesanato e utensílios de diversas<br />

ordens.<br />

2 A designação “Casal rural” é entendida aqui como sinónimo de “Quinta”, outro terno comum na bibliografia.<br />

Para considerações mais aprofundadas acerca destas nomenclaturas deve ser consultada a obra de F. S. Lemos<br />

(1993), aqui seguida.<br />

38


3.2. Terronha de Pinhovelo: historial de investigação<br />

A primeira intervenção arqueológica na Terronha de Pinhovelo data de 1997. Até<br />

então, a jazida encontrava-se mencionada em inúmeras obras, referências essas<br />

sintetizadas por F. Sande Lemos (1993). Salientamos, contu<strong>do</strong>, a primeira menção à<br />

existência de uma povoação romana no local denomina<strong>do</strong> de Terronha de Pinhovelo, que se<br />

encontra na célebre obra <strong>do</strong> Abade de Baçal, Francisco Manuel Alves (1934). Este autor<br />

centra-se no estu<strong>do</strong> das epígrafes que diz aí terem si<strong>do</strong> recolhidas assinalan<strong>do</strong> também a<br />

presença de materiais arqueológicos à superfície entre os quais uma moeda de Sexto<br />

Pompeio.<br />

A intervenção de 1997 deu-se num contexto de arqueologia preventiva pois<br />

encontrava-se projectada a edificação no local de um troço <strong>do</strong> Itinerário Principal 2, que<br />

implicaria a destruição de grande parte da elevação e, consequentemente, <strong>do</strong> sítio<br />

arqueológico. Os resulta<strong>do</strong>s da escavação ditaram o desvio da via e a salvaguarda da<br />

jazida. Incidin<strong>do</strong> no flanco oriental da elevação, a intervenção decorreu sob a direcção <strong>do</strong><br />

Mestre Pedro Sobral de Carvalho, permitin<strong>do</strong> a detecção de inúmeras estruturas e<br />

artefactos arqueológicos de significativo valor patrimonial (Carvalho et al., 1997).<br />

Dos vestígios encontra<strong>do</strong>s destaca-se um talude pétreo cuja cronologia é, segun<strong>do</strong> os<br />

autores, pouco clara. Esta estrutura monumental apresenta 9m de largura máxima e terá,<br />

possivelmente, deti<strong>do</strong> funções defensivas. A<strong>do</strong>çadas ao talude definiram-se vários<br />

compartimentos de cariz <strong>do</strong>méstico.<br />

Entre as diversas habitações visíveis no local assumem-se como particularmente<br />

relevantes um compartimento com evidências estruturais e faunísticas que conduziram à<br />

sua interpretação enquanto espaço de abate e desmanche de animais; e um outro<br />

compartimento que terá si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> enquanto área de moagem, ten<strong>do</strong> aí si<strong>do</strong> recolhi<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is elementos de mó circular intactos.<br />

As escavações permitiram ainda a recolha de inúmeros pesos de tear e moedas assim<br />

como abundante cerâmica importada, nomeadamente Terra Sigillata. Estas evidências<br />

permitiram posicionar a ocupação romana <strong>do</strong> local entre os séculos I e IV/V d.C. (Carvalho<br />

et al., 1997).<br />

Já os vestígios pré-romanos são escassos e de difícil interpretação, a descrição <strong>do</strong>s<br />

mesmos parece apontar para a possibilidade da presença romana no local ter si<strong>do</strong><br />

responsável pela destruição de grande parte das evidências de ocupações anteriores. A<br />

inserção cronológica das mesmas foi então considerada problemática, enquadran<strong>do</strong>-se na<br />

Idade <strong>do</strong> Ferro ou <strong>do</strong> Bronze. Ao nível artefactual salienta-se a descoberta de um vaso<br />

quase intacto, de filiação castreja, assim como cerâmicas não decoradas, de pastas<br />

grosseiras e com coloração negra. Por fim, a presença de frequentes carvões conduziu<br />

39


mesmo à identificação de um possível episódio violento conecta<strong>do</strong> com o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong><br />

local. É sobre estes vestígios que assenta a ocupação romana (Carvalho et al., 1997).<br />

Saliente-se que perante estes resulta<strong>do</strong>s, os investiga<strong>do</strong>res responsáveis pela primeira<br />

intervenção na Terronha de Pinhovelo consideraram a jazida, ao contrário de F. Sande<br />

Lemos (1993), um castro da Idade <strong>do</strong> Ferro romaniza<strong>do</strong>. Sande Lemos, embora basea<strong>do</strong><br />

em meras prospecções de superfície, havia denomina<strong>do</strong> o sítio de Povoa<strong>do</strong> Romano, isto é,<br />

um povoa<strong>do</strong> aberto de fundação romana 3 , explicitamente não consideran<strong>do</strong>-o um castro e<br />

não colocan<strong>do</strong> a hipótese de uma pré-existência proto-histórica.<br />

Com o início <strong>do</strong> Projecto Terras Quentes, promovi<strong>do</strong> pela associação epónima, esta<br />

jazida foi novamente intervencionada, desta vez dentro de uma estratégia de valorização e<br />

continuidade. Três campanhas foram realizadas nos verões de 2004, 2005 e 2006 cujos<br />

resulta<strong>do</strong>s serão descritos adiante (Capítulo IV).<br />

3 O autor considera, contu<strong>do</strong>, a possibilidade de atribuir a denominação Povoa<strong>do</strong> Romano a locais habita<strong>do</strong>s em<br />

tempos pré-romanos desde que esse fun<strong>do</strong> indígena não tenha ti<strong>do</strong> influência ao nível da estruturação <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong> após a conquista <strong>do</strong> mesmo.<br />

40


III. OBJECTIVOS E MÉTODOS<br />

1. Objectivos<br />

As escavações arqueológicas realizadas na Terronha de Pinhovelo enquadraram-se<br />

num projecto de investigação vasto e ambicioso que impunha uma abordagem lata a to<strong>do</strong> o<br />

concelho de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros, nomeadamente no que às antigas ocupações humanas<br />

dizia respeito. A primeira fase <strong>do</strong> Projecto Terras Quentes, promovi<strong>do</strong> pela Associação<br />

Terras Quentes teve a duração de quatro anos e decorreu entre os anos de 2003 e 2006.<br />

Neste projecto, para além da Terronha de Pinhovelo, foram intervencionadas várias jazidas<br />

abrangen<strong>do</strong> um lato espectro temporal.<br />

A intervenção na Terronha de Pinhovelo inseria-se num objectivo mais vasto de<br />

compreender a evolução <strong>do</strong>s modelos de ocupação <strong>do</strong> espaço na região desde a Préhistória<br />

aos nossos dias, com principal ênfase para o perío<strong>do</strong> romano. Desta época<br />

pretendia-se uma mais fiel caracterização das paleo-comunidades da região, a<br />

compreensão das formas de povoamento e as continuidades e rupturas com as fases protohistóricas.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, no caso específico da Terronha de Pinhovelo existia, em acréscimo, um<br />

objectivo premente de valorização museológica da jazida e <strong>do</strong>s conjuntos artefactuais nela<br />

encontra<strong>do</strong>s.<br />

Objectivos mais concretos e específicos existiam no projecto de investigação <strong>do</strong> sítio<br />

Terronha <strong>do</strong> Pinhovelo. Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> princípio que estávamos perante uma comunidade rural<br />

de um fun<strong>do</strong> eminentemente indígena, embora romanizada, com o decorrer <strong>do</strong>s trabalhos<br />

assumiu-se a vontade de compreendê-la <strong>do</strong> ponto de vista territorial-agrícola e<br />

paleoetnográfico. Para tal afigurava-se como determinante perceber que plantas eram<br />

consumidas e colocar possibilidades interpretativas acerca <strong>do</strong> seu tratamento pela paleocomunidade<br />

(cultivo, colheita, confecção), as escolhas de combustível, os ritmos da vida<br />

anual destas comunidades, a articulação com o seu território físico envolvente e a<br />

identificação de elementos e unidades de vegetação da envolvência <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> (da<strong>do</strong>s<br />

paleoecológicos). Tornava-se necessária a realização de um estu<strong>do</strong> paleoetnobotânico,<br />

onde se almejava uma melhor compreensão da jazida, esclarecen<strong>do</strong> a funcionalidade de<br />

determinadas estruturas e averiguan<strong>do</strong> o seu conteú<strong>do</strong> de origem vegetal. Ao mesmo tempo<br />

pretendia-se compreender de forma mais adequada as comunidades que a habitaram<br />

tentan<strong>do</strong> aceder ao seu quotidiano, os seus ciclos, a sua alimentação e mesmo a sua<br />

economia.<br />

41


Por fim, desejava-se realizar uma primeira abordagem experimental à recolha de<br />

materiais vegetais carboniza<strong>do</strong>s na jazida e também, numa perspectiva teórico-prática,<br />

compreender melhor as possibilidades e limitações de um estu<strong>do</strong> desta natureza.<br />

42


2. Méto<strong>do</strong>s<br />

A primeira fase de aquisição de da<strong>do</strong>s passou necessariamente pela realização de<br />

uma escavação arqueológica.<br />

Para alcançar os objectivos propostos havia que incorporar nas meto<strong>do</strong>logias<br />

arqueológicas modelos de recolhas de macro-fosseis vegetais. Estes seriam alvo de<br />

estu<strong>do</strong>s específicos, desde a sua identificação à contabilização de unidades e análises<br />

globais. Desta forma, o conjunto de meto<strong>do</strong>logias específicas a seguir podem dividir-se nos<br />

seguintes parâmetros:<br />

1) Estu<strong>do</strong> arqueológico: escavação em área;<br />

2) Estu<strong>do</strong> arqueobotânico: recolha de campo, análise laboratorial (identificação e<br />

biometria), análise de da<strong>do</strong>s;<br />

3) Estu<strong>do</strong> paleoetnobotânico e paleoecológico: pesquisas de da<strong>do</strong>s ecológicos,<br />

etnobotânicos e eco-territoriais;<br />

4) Análise espacial e eco-territorial<br />

2.1. A intervenção arqueológica<br />

Os trabalhos arqueológicos seguiram os pressupostos meto<strong>do</strong>lógicos defini<strong>do</strong>s por<br />

Edward Harris (1991). Deste mo<strong>do</strong>, a Unidade Estratigráfica (U.E.) constituiu-se como a<br />

unidades básica de registo, traduzin<strong>do</strong>-se em depósitos, estruturas negativas ou positivas e<br />

interfaces. As U.E. foram removidas pela ordem inversa à da sua deposição, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

delimitadas todas as interfaces identificadas.<br />

O registo das U.E. incluiu a descrição das suas características e inter-relações físicas<br />

bem como a representação gráfica e fotográfica <strong>do</strong>s seus interfaces em planos individuais<br />

ou de conjunto. Desta forma, a análise estratigráfica conduziu à elaboração de uma matriz<br />

de Harris.<br />

Cada área de escavação deteve a sua própria sequência numérica de U.E., inician<strong>do</strong>se<br />

todas na [1]. Em texto distinguem-se pela referência ao respectivo sector (e.g. B[1], A[1]).<br />

As interfaces de destruição das estruturas positivas obtiveram o mesmo número de U.E. que<br />

a própria estrutura a que se referem segui<strong>do</strong> da letra a (e.g. à estrutura B[10] corresponde a<br />

interface de destruição B[10a]).<br />

Como o estu<strong>do</strong> paleoetnobotânico se centra somente no Sector B, na análise <strong>do</strong>s<br />

macro-restos vegetais as referências às amostras far-se-ão com a referência à fase de<br />

ocupação. Assim, a titulo de exemplo, as amostras da U.E. B[65] são referidas como IV65,<br />

as da B[71] como III71.<br />

43


2.2. O estu<strong>do</strong> paleoetnobotânico<br />

2.2.1. Amostragem e recuperação de fitoclastos<br />

Numa escavação arqueológica a recolha de carvões e sementes deve ser encarada<br />

como um processo rotineiro, a par da recolha de outros artefactos. No entanto, as suas<br />

singularidades exigem estratégias distintas (Martínez, et al., 2003).<br />

Estão longamente descritas na bibliografia as correctas meto<strong>do</strong>logias de campo que<br />

visam a recolha de macro-restos vegetais (veja-se, em especial, Martínez, et al., 2003;<br />

Badal et al.. 2003; Buxo, 1997 e 1990) Esta recolha deverá constituir uma amostragem com<br />

valor representativo para o tipo de estu<strong>do</strong> que se almeja realizar. Como Badal et al. (2003)<br />

referem, os vestígios arqueológicos são sempre parciais pois representam somente uma<br />

parte <strong>do</strong> que foi utiliza<strong>do</strong>. Dessa parte só se conservaram os mais resistentes ou os que<br />

foram deposita<strong>do</strong>s num contexto que facilitou a sua conservação. Da parte conservada nem<br />

sempre se escava tu<strong>do</strong>. Por isso, a parte recolhida e a porção estudada – caso seja<br />

impossível o seu estu<strong>do</strong> integral – devem ser representativas <strong>do</strong> conjunto.<br />

Para além da recolha fortuita ou pontual existem méto<strong>do</strong>s sistemáticos <strong>do</strong>s quais se<br />

salientam:<br />

- Recolha integral <strong>do</strong> depósito<br />

- Recolha localizada<br />

- Amostragem intervalada<br />

- Amostragem em coluna estratigráfica<br />

- Amostragem probabilística ou aleatória<br />

- Amostras de volumes constantes por estrato<br />

- Amostragem por estimativa<br />

Martínez, et al. (2003) aconselham a articulação de uma amostragem por estimativa<br />

com a recolha integral <strong>do</strong> sedimento de alguns contextos. A amostragem por estimativa<br />

pressupõe a recolha e flutuação inicial de um volume constante de terra, como teste,<br />

dependen<strong>do</strong> a continuação da recolha da riqueza em macro-fosseis verificada.<br />

Contu<strong>do</strong>, como salientam os autores, a aplicação deste modelo implica a presença de<br />

uma pessoa que se dedique ao tratamento e recolha de amostras, e ainda infra-estruturas<br />

que garantam a execução da tarefa. O volume de sedimento que deve ser analisa<strong>do</strong> é<br />

demasia<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> e só uma máquina de flutuação permite o tratamento das amostras em<br />

tempo útil <strong>do</strong> decorrer <strong>do</strong>s restantes trabalhos de campo.<br />

Na impossibilidade de criar estas condições, o critério mínimo passa pela recolha de<br />

amostras de forma sistemática em to<strong>do</strong>s os estratos que visivelmente apresentem macrorestos<br />

vegetais (Martínez, et al., 2003).<br />

44


Na Terronha de Pinhovelo desde o início da intervenção arqueológica houve a<br />

preocupação de assimilar os ecofactos aos artefactos arqueológicos “comuns”. Como tal<br />

recolheram-se manualmente os carvões e sementes visíveis em plenos trabalhos de campo,<br />

recolhen<strong>do</strong>-se inclusive amostras de sedimento das estruturas identificadas. Porém,<br />

somente a partir da segunda campanha de trabalhos se esboçou um projecto que integrava<br />

a amostragem sistemática de contextos sedimentares com vista à obtenção de da<strong>do</strong>s<br />

paleobotânicos.<br />

Diversos factores condicionaram este projecto, destacan<strong>do</strong>-se a inexistência de infraestruturas<br />

básicas para a sua execução (colunas de crivos adequadas e material de<br />

laboratório) e o facto de o responsável pelo mesmo, o signatário, se encontrar<br />

impossibilita<strong>do</strong> de se dedicar de forma constante ao mesmo, visto acumular funções de<br />

direcção técnica e científica <strong>do</strong>s trabalhos, participan<strong>do</strong> nestes de forma activa e com<br />

diversas tarefas.<br />

Desta forma, optou-se pela continuação da recolha manual <strong>do</strong>s materiais visíveis,<br />

encontra<strong>do</strong>s de forma isolada e dispersa nos depósitos. Ao mesmo tempo, aproximan<strong>do</strong>-nos<br />

<strong>do</strong>s modelos acima descritos, realizaram-se recolhas integrais <strong>do</strong> sedimento de estruturas<br />

de combustão e a amostragem pontual em estratos com significativa presença de macrofosseis.<br />

Foram também realizadas amostragens por estimativa em determina<strong>do</strong>s contextos, a<br />

partir da terceira campanha quan<strong>do</strong> já se dispunha de uma coluna de crivos. Contu<strong>do</strong>, a<br />

morosidade <strong>do</strong> sistema e o facto de este não se encontrar no local de escavação<br />

impossibilitou a generalização desta abordagem.<br />

Naturalmente, a estratégia passou por uma distinção clara entre carvões<br />

concentra<strong>do</strong>s, em estruturas ou depósitos, e carvões dispersos.<br />

Por fim, é possível afirmar que na fase actual <strong>do</strong>s trabalhos da Terronha de Pinhovelo<br />

não se dispõe de uma superfície de escavação suficientemente grande (proporcionalmente<br />

à dimensão da jazida e face ao tipo e cronologia <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>) para conseguir uma<br />

amostragem notável. Assim, salientam-se as possibilidades abertas pelo estu<strong>do</strong> das áreas<br />

de combustão nomeadamente nos seus aspectos etnobotânicos.<br />

A recuperação de macro-restos vegetais aquan<strong>do</strong> das intervenções arqueológicas na<br />

Terronha de Pinhovelo procedeu-se de três formas:<br />

- Recolha manual <strong>do</strong>s fitoclastos visíveis em escavação<br />

- Crivagem a seco da totalidade <strong>do</strong>s sedimentos no campo, durante os trabalhos,<br />

recolhen<strong>do</strong>-se manualmente os macro-fosseis<br />

- Flutuação de sedimentos (amostragem por estimativa, amostragem pontual, e<br />

recolha integral de determina<strong>do</strong>s contextos)<br />

45


Os materiais paleobotânicos recolhi<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>is primeiros méto<strong>do</strong>s são identifica<strong>do</strong>s<br />

como Recolhas Manuais (RM), traduzin<strong>do</strong>-se a nível de inventário da seguinte forma:<br />

TP.RM.0000.<br />

De entre os processos de recuperação de fitoclastos, a flutuação de sedimentos surge,<br />

de forma inequívoca em toda a bibliografia arqueobotânica, como aquele que permite uma<br />

mais eficaz recolha de ecofactos. Na Terronha de Pinhovelo, não dispon<strong>do</strong> de um mais<br />

sofistica<strong>do</strong> sistema de flutuação que permitisse, de forma mais célere, tratar grandes<br />

quantidades de sedimentos (como descrito por R. Buxo), optou-se por um sistema manual<br />

bastante eficaz, a “flutuação manual simples” (Buxo, 1997).<br />

Este procedimento consiste em depositar o sedimento num recipiente que, de seguida,<br />

é cheio de água. Ao mesmo tempo procede-se à agitação manual <strong>do</strong> sedimento, de forma a<br />

desagregar torrões de terra e desprender os macro-fosseis de menor densidade permitin<strong>do</strong><br />

que surjam à superfície. Decanta-se, então, o liqui<strong>do</strong> para uma coluna de quatro crivos, com<br />

malhas de 2mm, 1mm, 0.5mm e 0.25mm. Este procedimento repete-se sucessivamente até<br />

não se verificar a deposição de qualquer macro-resto nas malhas das peneiras.<br />

Dada a grande abundância de amostras recolhidas no campo e a lentidão <strong>do</strong><br />

processo, bem como o escasso tempo disponível para o seu tratamento laboratorial,<br />

procedeu-se a uma sub-amostragem. Desta forma, cada amostra recolhida em sacos de<br />

plástico pesaria em média cerca de 10KG. De cada uma destas realizaram-se, para a<br />

flutuação, sub-amostragens de 1Kg ou 2Kg, dependen<strong>do</strong> da riqueza em fitoclastos de cada<br />

contexto. Procurou-se sempre garantir uma boa representatividade das mesmas. No quadro<br />

3.1 encontram-se expostos os valores percentuais e totais de cada amostra e sub-amostra.<br />

O restante sedimento de cada amostra que<strong>do</strong>u-se armazena<strong>do</strong> para estu<strong>do</strong>s<br />

posteriores ou para confirmação de da<strong>do</strong>s, caso seja necessário. Após a flutuação, o refugo<br />

da mesma foi recolhi<strong>do</strong> e guarda<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a permitir, através da sua triagem,<br />

averiguações acerca da eficácia <strong>do</strong> processo.<br />

O conteú<strong>do</strong> de cada malha <strong>do</strong>s crivos foi recolhi<strong>do</strong> em separa<strong>do</strong> de forma a facilitar os<br />

trabalhos laboratoriais. A sua inventariação seguiu a seguinte denominação: TP.Lab.0000.<br />

46


U.E.<br />

Peso<br />

Amostra<br />

Subamostra<br />

Percentagem<br />

sub-amostra<br />

V3 59,61 9 15,10<br />

V4 6,19 1 16,16<br />

V9 5,13 1 19,49<br />

IV11 8,94 2 22,37<br />

IV20 49,21 10 20,32<br />

IV21 10,9 4 36,70<br />

IV22 7,98 2 25,06<br />

IV24 1,57 1 63,69<br />

IV50 12,23 2 16,35<br />

IV63 9,1 2 21,98<br />

IV65 84,52 12 14,20<br />

IV66 66,29 6 9,05<br />

IV70 22,56 6 26,60<br />

III71 4,95 2 40,40<br />

III82 3,41 1 29,33<br />

III95 13,99 3 21,44<br />

Quadro 3.1 – Peso (em Kg) das amostras e subamostras<br />

e percentagem de sedimento estudada<br />

2.2.2. Meto<strong>do</strong>logia laboratorial e análise de da<strong>do</strong>s<br />

A observação de sementes e demais carporrestos foi realizada à lupa binocular e o<br />

diagnóstico efectuou-se por comparação morfológica com elementos actuais, com recurso à<br />

carpoteca em montagem no Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica <strong>do</strong> IPA e a atlas<br />

da especialidade (Berggren, 1981).<br />

Para a identificação de grãos e espiguetas de cereais foi utiliza<strong>do</strong> o guia de S. Jacomet<br />

e colabora<strong>do</strong>res (2006) e ainda as obras generalistas de R. Buxo (1997) e J. Renfrew (1973)<br />

nas quais se definem os parâmetros descritivos genéricos. Foi contabilizada a totalidade <strong>do</strong>s<br />

exemplares intactos e aqueles de maiores dimensões da totalidade das amostras<br />

estudadas. Os fragmentos de dimensões muito reduzidas, que somente se podiam<br />

pressupor pertencer a sementes não foram contabiliza<strong>do</strong>s.<br />

Para a classificação e tratamento estatístico de da<strong>do</strong>s biométricos <strong>do</strong>s grãos,<br />

espiguetas e glumas de cereais foram ti<strong>do</strong>s em conta diversos parâmetros métricos. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, para as sementes calculou-se o comprimento (C), largura (L), espessura (E), e ainda<br />

os índices C/L, C/E, L/E, L/C*100 e E/L*100. Desta forma pretendia-se apreender as<br />

variabilidades existentes aos nível das proporções <strong>do</strong>s grãos em cada realidade<br />

arqueológica bem identificada assim como na totalidade <strong>do</strong> conjunto arqueobotânico e<br />

comparar com as chaves já existentes na bibliografia.<br />

No que respeita aos elementos das espiguetas foram segui<strong>do</strong>s, com valor<br />

diagnosticante os parâmetros de S. Jacomet (2006) completa<strong>do</strong>s por descrições de obras<br />

47


especificas direccionadas para estu<strong>do</strong>s em jazidas arqueológicas (Murphy, 1989; Van der<br />

Veen, 1987). Sempre que possível foi calculada a largura da base das glumas para<br />

comparações biométricas. Limitamo-nos a este parâmetro por ser o único que se conseguiu<br />

obter de forma sistemática entre as diferentes espécies identificadas.<br />

Para a realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> antracológico, os fragmentos de carvão de dimensões<br />

superiores a 2mm foram secciona<strong>do</strong>s manualmente segun<strong>do</strong> as três secções de<br />

diagnóstico: transversal, radial e tangencial. A observação foi realizada com recurso ao<br />

microscópio óptico de luz reflectida.<br />

As imagens SEM (microscopia electrónica de varrimento), <strong>do</strong> tipo Fieldemission, foram<br />

realizadas no Centro de Materiais da <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> (CEMUP), com recurso a um<br />

equipamento FEI, Quarta 400F.<br />

A identificação taxonómica foi realizada com recurso aos atlas anatómicos de F.<br />

Schweingruber (1990a; 1990b) e Vernet et al. (2001) ten<strong>do</strong>-se recorri<strong>do</strong> ainda a estu<strong>do</strong>s<br />

específicos para a identificação de fragmentos de género Quercus (Van Leeuwaarden, in<br />

prep.) e Erica (Queiroz, Van der Burgh, 1989) e à colecção de referência de cortes<br />

histológicos em montagem no Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica <strong>do</strong> IPA.<br />

Quanto à unidade de medida, distinguem-se as abordagens da carpologia e da<br />

antracologia. No primeiro caso, o indivíduo é a unidade fundamental para contabilização,<br />

distinguin<strong>do</strong>-se claramente os elementos intactos ou aproximadamente intactos daqueles<br />

fragmenta<strong>do</strong>s. No caso especifico da espécie Vicia faba var. minor foi calcula<strong>do</strong> o numero<br />

mínimo de sementes com base na identificação <strong>do</strong> hilo.<br />

Para as análises antracológicas optou-se, neste estu<strong>do</strong>, pela utilização <strong>do</strong> nº de<br />

fragmentos como unidade de medida. Esta opção partiu de pesquisas a várias abordagens<br />

meto<strong>do</strong>lógicas descritas na bibliografia, e não de qualquer experimentação concreta.<br />

Estu<strong>do</strong>s comparativos têm demonstra<strong>do</strong> que o uso da massa, peso ou <strong>do</strong> nº de fragmentos<br />

oferecem resulta<strong>do</strong>s equivalentes (Uzquiano, 1997; Badal et al., 2003). Acrescente-se que o<br />

último apresenta uma maior rapidez de análise, sen<strong>do</strong> assim mais vantajoso para estu<strong>do</strong>s<br />

desta natureza. De qualquer mo<strong>do</strong>, as limitações que se considera existir na análise<br />

numérica linear <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s lenhosos carboniza<strong>do</strong>s (vide supra) relativiza a escolha da<br />

unidade de medida, evidencian<strong>do</strong> o enfoque em aspectos qualitativos para os quais é mais<br />

significativa a indicação de presença de cada taxon.<br />

Seguin<strong>do</strong> este princípio a análise estatística realizada sobre os vestígios<br />

antracológicos fez-se segun<strong>do</strong> factores de presença-ausência nas amostras, sem incluir<br />

comparações da frequência de fragmentos. Este tipo de análise encontra inúmeros<br />

problemas, como se encontra bem exposto por Raquel Piqué i Huerta (1999), sen<strong>do</strong> claro<br />

48


que se apresenta mais eficaz para a comparação de contextos recolhi<strong>do</strong>s integralmente,<br />

sen<strong>do</strong> dúbia no que respeita a contextos parcamente amostra<strong>do</strong>s. Porém, parece evidente<br />

que o estu<strong>do</strong> estatístico recorren<strong>do</strong> ao número de carvões identifica<strong>do</strong>, de cada espécie,<br />

apresenta também essa mesma condicionante, entre outras mais.<br />

As análises estatísticas foram efectuadas somente sobre recolhas de referência Lab.,<br />

ten<strong>do</strong>-se cingi<strong>do</strong>, no caso <strong>do</strong>s materiais carpológicos, aos diversos tipos morfológicos de<br />

cereais, excluin<strong>do</strong> as espécies silvestres.<br />

Para a obtenção de gráficos de medidas de dispersão, em especial no estu<strong>do</strong> de<br />

cariopses e glumas de cereais, foram utiliza<strong>do</strong>s os programas SPSS 12.0 e o Excel<br />

(Win<strong>do</strong>ws XP, 2002). Optou-se por soluções gráficas de tipo Boxplot, histogramas, gráficos<br />

circulares (pie-charts) e quadros (com Média, Desvio-padrão, Mínimo e Máximo).<br />

A análise multivariada <strong>do</strong>s parâmetros Ecologia, Porte, Frequência de espécies e<br />

Biometria foi realizada com recurso ao programa CANOCO 4.52 (ter Braak & Šmilauer,<br />

2003). Como tal, foram efectuadas análises indirectas de gradiente (PCA - Principal<br />

Component Analysis) de forma a perceber a distribuição das espécies através da análise da<br />

sua quantidade nas amostras (no caso <strong>do</strong>s cereais), ou da sua presença ou ausência nestas<br />

(no caso <strong>do</strong>s carvões) e averiguar a possível existência de padrões de semelhança e<br />

dissemelhança entre amostras, apontan<strong>do</strong> os factores que mais contribuem para esse<br />

efeito. Através <strong>do</strong> mesmo tipo de análise indirecta de gradiente testaram-se ainda as<br />

classificações taxonómicas de cariopses através <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s biométricos disponíveis.<br />

Foram também realizadas análises directas de gradiente (RDA – Redundancy<br />

Analysis) com recurso ao mesmo programa, CANOCO 4.52, de mo<strong>do</strong> a averiguar os<br />

padrões de distribuição das amostras segregadas pelas variáveis explicativas, como sejam<br />

a ecologia e o porte.<br />

2.2.3. Nomenclatura e descrições<br />

A nomenclatura das espécies identificadas segue a proposta da Flora Ibérica.<br />

Contu<strong>do</strong>, no que respeita às espécies de cereais cultiva<strong>do</strong>s, por omissão na Flora Ibérica da<br />

grande parte <strong>do</strong>s cultivos que nos interessavam, segue-se a proposta de Zohary e Hopf<br />

(2000). Esta opção por uma obra específica da área da paleobotânica e não da sistemática<br />

botânica convencional poderá parecer discutível. Contu<strong>do</strong>, deve-se fazer notar que esta<br />

área científica, em articulação com estu<strong>do</strong>s genéticos, tem si<strong>do</strong> responsável pela revisão e<br />

sistematização de conhecimentos referentes às espécies e variantes cultivadas <strong>do</strong> género<br />

Triticum através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da sua origem e evolução. A obra já clássica de Zohary e Hopf<br />

49


faz na sua terceira edição, de 2000, uma revisão acerca deste tema. De qualquer forma, a<br />

menção a espécies de cereais far-se-á sempre de forma abreviada.<br />

No que respeita à descrição de sementes e folhas foram seguidas obras genéricas de<br />

anatomia botânica, guias florísticos e ainda bibliografia específica de Arqueobotânica. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, para a descrição das sementes e folhas de espécies selvagens foi de particular<br />

utilidade o atlas anatómico de sementes e frutos, de Berggren (1981). Recorreu-se ainda a<br />

diversos volumes da Flora Ibérica (Castroviejo, et al., 1990, e outras) e a Flora Europaea<br />

(Tutin et al., 1976), Nova Flora de Portugal (Franco, 1984) e Flora de Portugal (Coutinho,<br />

1939). As medidas apresentadas são de exemplares não carboniza<strong>do</strong>s.<br />

A descrição das cariopses e espiguetas de cereais realizou-se com o auxílio de obras<br />

específicas dessa área da arqueobotânica, salientan<strong>do</strong>-se as obras de S. Jacomet (2006),<br />

R. Buxo (1997) e J. Renfrew (1973) e diversos estu<strong>do</strong>s de jazidas (Murphy, 1989; Van der<br />

Veen, 1987). As medidas apresentadas correspondem a exemplares carboniza<strong>do</strong>s.<br />

De forma a garantir uma descrição mais adequada recorreu-se igualmente a<br />

dicionários e glossários tais como os de Font Quer (1985) e Harris e Harris (2004).<br />

Os termos utiliza<strong>do</strong>s na descrição <strong>do</strong>s tipos xilotómicos seguem a terminologia <strong>do</strong><br />

Committee on Nomenclature da International Association of Wood Anatomists (1964), na<br />

sua tradução portuguesa de M. Ferreirinha (1958) 4 . Contu<strong>do</strong>, nos termos que definem o tipo<br />

de porosidade é utilizada a proposta de A. Carvalho (1954-55) 5 .<br />

Acrescente-se ainda que o uso <strong>do</strong> termo “poros agrupa<strong>do</strong>s” surge de forma a englobar<br />

ambos os conceitos de “poros múltiplos” e “poros em cadeia”, frequentemente associa<strong>do</strong>s<br />

nas mesmas espécies.<br />

De resto, as descrições apresentadas efectuaram-se com base nos atlas anatómicos<br />

utiliza<strong>do</strong>s para o diagnóstico <strong>do</strong>s exemplares em estu<strong>do</strong>, assim como na observação da<br />

colecção de referência <strong>do</strong> Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica <strong>do</strong> Instituto<br />

Português de Arqueologia.<br />

4<br />

As diferenças entre os <strong>do</strong>is volumes são subtis, apresentan<strong>do</strong>-se a publicação oficial <strong>do</strong> comité com uma<br />

tradução portuguesa da responsabilidade de investiga<strong>do</strong>res brasileiros. Por exemplo, essa versão propõe a<br />

utilização <strong>do</strong> termo “poro solitário”, invés de “poro isola<strong>do</strong>” de Ferreirinha (1958) e Albino Carvalho (1954-55),<br />

para além de óbvias diferenças de acentuação.<br />

5<br />

Esta opção traduz-se unicamente na substituição <strong>do</strong>s termos porosidade “anelar” e “subanelar” por “em anel” e<br />

“semi-difusa”.<br />

50


2.2.4. Descrição <strong>do</strong>s tipos xilotómicos<br />

T- Secção transversal<br />

Tn – Secção tangencial<br />

R – Secção radial<br />

Hedera helix L. ARALIACEAE<br />

T: Porosidade semi-difusa. Poros múltiplos (também poros em cadeia) maioritariamente em<br />

fiadas tangenciais.<br />

Tn: Raios com 4 a 8 células de largura, raramente mais estreitos; raios altos (com até 5mm<br />

de altura).<br />

R: Raios homogéneos (raramente heterogéneos). Perfurações simples. Pontuações<br />

radiovasculares grandes.<br />

Alnus glutinosa (L.) Gaertn. BETULACEAE<br />

T: Porosidade semi-difusa. Poros isola<strong>do</strong>s ou em múltiplos de 2 a 8 (principalmente 3-4),<br />

dispostos em fiadas radiais.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s (raramente bisseria<strong>do</strong>s) compri<strong>do</strong>s. Raios agrega<strong>do</strong>s. Pontuações<br />

intervasculares bem visíveis e abundantes.<br />

R: Raios homogéneos, raramente heterogéneos. Placas de perfuração escalariformes.<br />

Corylus avelana L. BETULACEAE<br />

T: Porosidade difusa a semi-difusa. Poros isola<strong>do</strong>s ou agrupa<strong>do</strong>s (com pre<strong>do</strong>mínio de poros<br />

múltiplos) em fiadas radiais. Raios agrega<strong>do</strong>s visíveis.<br />

Tn: Raios uniseria<strong>do</strong>s (raramente bi- e trisseria<strong>do</strong>s) com 10 a 25 células de altura.<br />

R: Raios maioritariamente heterogéneos, raramente homogéneos. Vasos com<br />

espessamentos espirala<strong>do</strong>s finos. Placas de perfuração escalariformes com 5 a 10<br />

barras.<br />

Cistus sp. CISTACEAE<br />

T: Porosidade semi-difusa. Poros pequenos e frequentes, maioritariamente isola<strong>do</strong>s.<br />

Tn: Raios uni- e bisseria<strong>do</strong>s (raramente trisseria<strong>do</strong>s). Espessamentos espirala<strong>do</strong>s visíveis e<br />

frequentes. Pontuações intervasculares frequentes.<br />

R: Raios heterogéneos. Perfurações simples.<br />

51


Arbutus une<strong>do</strong> L. ERICACEAE<br />

T: Porosidade semi-difusa, com inicio de anel de crescimento visível. Poros isola<strong>do</strong>s ou em<br />

grupos de 2 a 6, dispostos em fiadas radiais.<br />

Tn: Raios com 1 a 4 células de largura. Espessamentos espirala<strong>do</strong>s muito abundantes e<br />

espessos.<br />

R: Raios heterogéneos. Perfurações simples, raramente escalariformes.<br />

Erica arborea L. ERICACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 80µm, isola<strong>do</strong>s ou em raros<br />

múltiplos radiais ou tangenciais.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s com até 11 células de altura. Raios bisseria<strong>do</strong>s frequentes. Raios<br />

multisseria<strong>do</strong>s com até 8 células de largura e 40 células de altura.<br />

R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples. Pontuações intervasculares muito<br />

pequenas e abundantes.<br />

Erica australis L. ERICACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 50µm, isola<strong>do</strong>s ou em raros<br />

múltiplos (pares) radiais ou tangenciais.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s com até 8 células de altura. Raios multisseria<strong>do</strong>s com até 8 células<br />

de largura (raios com menos de 3 células de largura raros) e 35 células de altura.<br />

R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples.<br />

Nota: A separação entre os tipos xilomórficos Erica australis e E. arborea é bastante ténue.<br />

A dimensão máxima <strong>do</strong>s poros e a abundância de raios bisseria<strong>do</strong>s são os principais<br />

critérios de diagnóstico utiliza<strong>do</strong>s na distinção entre os <strong>do</strong>is tipos.<br />

Erica scoparia L. ERICACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 60µm, isola<strong>do</strong>s ou em raros<br />

múltiplos (pares) radiais ou tangenciais.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s com até 10 células de altura (usualmente 3-4 células de altura).<br />

Raios multisseria<strong>do</strong>s com até 4 células de largura e 20 células de altura.<br />

R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples.<br />

52


Erica umbellata L. ERICACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros com um diâmetro máximo de 45µm, maioritariamente isola<strong>do</strong>s.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s com até 4 células de altura. Raios bi- e trisseria<strong>do</strong>s (raramente<br />

tetrasseria<strong>do</strong>s), com até 20 células de altura.<br />

R: Raios heterogéneos. Placas de perfuração simples.<br />

Nota: A distinção entre os tipos Erica umbellata e E. scoparia é difícil. E. umbellata<br />

apresenta poros menores e raios geralmente mais estreitos, com 2 ou 3 células de<br />

largura (em E. scoparia são frequentes os raios com 4 células de largura).<br />

Quercus coccifera tipo FAGACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros pouco frequentes, isola<strong>do</strong>s dispostos em longas fiadas radiais.<br />

Raios multisseria<strong>do</strong>s pouco frequentes.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s abundantes. Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos.<br />

R: Raios homogéneos, forma<strong>do</strong>s por células prostradas. Pontuações intervasculares e<br />

radiovasculares grandes. Perfurações simples.<br />

Nota: A distinção entre os tipos xilomórficos Q. coccifera e Q. suber é difícil, particularmente<br />

em fragmentos de pequena dimensão nos quais não é visível uma potencial zona de<br />

porosidade semi-difusa, característica <strong>do</strong> Q. suber.<br />

Quercus ilex tipo FAGACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros abundantes, isola<strong>do</strong>s, dispostos radialmente em fiadas largas.<br />

Raios multisseria<strong>do</strong>s muito grandes frequentes.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s abundantes. Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos.<br />

R: Raios homogéneos, forma<strong>do</strong>s por células prostradas. Pontuações intervasculares e<br />

radiovasculares grandes. Perfurações simples.<br />

Nota: A distinção entre Q. ilex e os restantes Quercus de folha perene é difícil em<br />

fragmentos de pequenas dimensões. Os poros em Q. ilex apresentam-se tipicamente<br />

em fiadas radiais largas, sem zonas de porosidade semi-difusa. A presença ocasional<br />

de zonas de porosidade semi-difusa em indivíduos atípicos, tal como observa<strong>do</strong> em<br />

alguns exemplares da xiloteca <strong>do</strong> LPA, torna impossível a separação destes casos <strong>do</strong><br />

tipo Q. suber.<br />

53


Quercus faginea tipo FAGACEAE<br />

T: Porosidade semi-difusa ou em anel. Poros. Concentração de poros grandes no início da<br />

camada de crescimento, forman<strong>do</strong> um anel descontínuo e distribuin<strong>do</strong>-se em<br />

conjuntos com disposição aproximadamente triangular. Poros diminuin<strong>do</strong> de dimensão<br />

ao longo da camada de crescimento.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s abundantes. Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos.<br />

R: Raios homogéneos, forma<strong>do</strong>s por células prostradas. Pontuações intervasculares e<br />

radiovasculares grandes. Perfurações simples.<br />

Nota: A distinção entre os tipos Q. faginea e Q. pyrenaica é particularmente difícil. Apenas<br />

os Q. pyrenaica mais característicos, com uma única fiada de poros de Primavera, são<br />

claramente diferencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Q. faginea que apresenta tipicamente uma transição<br />

menos abrupta para o lenho de Verão, com prolongamentos de poros de dimensãos<br />

considerável. O tipo xilomórfico Q. faginea deverá, assim, incluir exemplares Q.<br />

pyrenaica menos característicos.<br />

Quercus pyrenaica tipo FAGACEAE<br />

T: Porosidade em anel, com uma (mais raramente duas) fiadas de poros grandes no inicio<br />

da camada de crescimento. Poros de Verão pouco ou moderadamente frequentes.<br />

Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos frequentes.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s abundantes. Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos.<br />

R: Raios homogéneos, forma<strong>do</strong>s por células prostradas. Pontuações intervasculares e<br />

radiovasculares grandes. Perfurações simples.<br />

Nota: A distinção entre os tipos Q. pyrenaica e Q. robur foi já tentada por outros autores<br />

(Vernet, et al., 2001), mas as características anatómicas em que se baseia a distinção<br />

proposta no trabalho referi<strong>do</strong> são insuficientes, dada a variabilidade existente entre as<br />

duas espécies, para permitir uma diferenciação credível. A separação entre estas duas<br />

espécies, com base na anatomia das suas madeiras não é, por ora, atingível pelo que<br />

o tipo xilotómico Q. pyrenaica aqui considera<strong>do</strong> inclui ambas. Deverá incluir ainda<br />

certamente Q. faginea menos característicos.<br />

Quercus suber tipo FAGACEAE<br />

T: Porosidade difusa ou semi-difusa. Anéis de crescimento pouco visíveis. Poros dispostos<br />

em longas fiadas radiais, com <strong>do</strong>is a quatro poros maiores no inicio <strong>do</strong> anel de<br />

crescimento. Poros diminuin<strong>do</strong> gradualmente de dimensão ao longo <strong>do</strong> lenho tardio<br />

(diminuição por vezes difícil de visualizar).<br />

54


Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s abundantes. Raios multisseria<strong>do</strong>s muito largos.<br />

R: Raios homogéneos, forma<strong>do</strong>s por células prostradas. Pontuações intervasculares e<br />

radiovasculares grandes. Perfurações simples.<br />

Nota: A distinção entre os tipos Q. suber e Q. coccifera não é simples e inequívoca e faz-se<br />

essencialmente pela existência em Q. suber de uma zona semi-difusa, por vezes<br />

pouco evidente, com 2-3 poros de maiores dimensões nas fiadas radiais de poros e<br />

uma zona sem poros no final da camada de crescimento. Estas mesmas<br />

características permitem distinguir também os tipos Q. suber e Q. ilex, este último<br />

apresentan<strong>do</strong> fiadas radiais de poros mais largas. A variabilidade da largura das fiadas<br />

radiais e disposição <strong>do</strong>s poros de maiores dimensões em ambas as espécies torna<br />

difícil, por vezes, a sua distinção, pelo que o tipo Q. suber deverá incluir exemplares<br />

atípicos de Q. ilex.<br />

Quercus perenifolia FAGACEAE<br />

Este grupo xilotómico inclui fragmentos que apresentam uma porosidade difusa, com os<br />

quais não foi possível efectuar uma identificação mais detalhada. Inclui Q. coccifera, Q.<br />

ilex e Q. suber.<br />

Quercus subgenus Quercus Oersted FAGACEAE<br />

Este grupo xilotómico inclui fragmentos que apresentam uma porosidade em anel, com os<br />

quais não foi possível efectuar uma identificação mais detalhada. Inclui Q. faginea, Q.<br />

pyrenaica e Q. robur.<br />

Juglans regia L. JUGLANDACEAE<br />

T: Porosidade difusa. Poros maioritariamente isola<strong>do</strong>s ou em grupos radiais de 2 a 4 poros.<br />

Tn: Raios com 1 a 6 células de largura (frequentemente 3 a 4) e 15 a 30 células de altura.<br />

R: Raios homogéneos e heterogéneos. Perfurações simples.<br />

Cytisus/Genista/Ulex LEGUMINOSAE<br />

T: Porosidade difusa ou semi-difusa. Grupos de 2 a 10 poros com orientação tangencial ou<br />

oblíqua, alternan<strong>do</strong> com bandas de teci<strong>do</strong> de suporte com fibras espessas.<br />

Parênquima paratraqueal abundante. Raios largos.<br />

55


Tn: Raios com 1 a 10 células de largura (principalmente 3 a 5). Raios multisseria<strong>do</strong>s muito<br />

altos, até 600µm de altura. Espessamentos espirala<strong>do</strong>s espessos muito frequentes.<br />

R: Raios homogéneos ou ligeiramente heterogéneos. Perfurações simples.<br />

Nota: Este tipo xilotómico abrange um grande número de espécies, incluídas em pelo<br />

menos três géneros de leguminosas. A grande variabilidade morfológica patenteada<br />

não permite uma identificação ao nível da espécie.<br />

Fraxinus angustifolia Valh OLEACEAE<br />

T: Porosidade em anel. Poros de Verão isola<strong>do</strong>s ou em pares radiais, mais raramente em<br />

conjuntos de três poros. Parênquima paratraqueal vasicêntrico (nem sempre<br />

claramente visível). Parênquima apotraqueal em bandas (frequentemente difícil de ver)<br />

no lenho tardio.<br />

Tn: Raios com 1 a 4 células de largura (maioritariamente 2 a 3), curtos (com 10 a 15 células<br />

de altura), normalmente fusiformes.<br />

R: Raios homogéneos, raramente heterogéneos. Pontuações abundantes. Perfurações<br />

simples.<br />

Pinus pinaster Aiton PINACEAE<br />

T: Madeira sem vasos. Presença de canais de resina. Anéis de crescimento visíveis.<br />

Transição mais ou menos abrupta entre o lenho inicial e o lenho tardio.<br />

Tn: Raios curtos, com até 10 células de altura. Raios com canais resiníferos presentes.<br />

R: Raios heterocelulares. Células marginais <strong>do</strong>s raios com paredes finas e fortemente<br />

denteadas. Campos de cruzamento radiovascular com cerca de 3 a 4 perfurações<br />

pequenas, aproximadamente circulares, simples, de tipo pinóide. Traqueí<strong>do</strong>s com<br />

grandes pontuações intervasculares circulares e areoladas, unisseriadas.<br />

Sorbus sp. ROSACEAE, MALOIDEAE<br />

R: Porosidade difusa. Poros com até 60µm de diâmetro, abundantes e isola<strong>do</strong>s, por vezes<br />

múltiplos (com até 5 poros).<br />

Tn: Raios bisseria<strong>do</strong>s, frequentemente também unisseria<strong>do</strong>s (raros trisseria<strong>do</strong>s).<br />

Espessamentos espirala<strong>do</strong>s finos e raros.<br />

T: Raios homogéneos e heterogéneos.<br />

56


Prunus spinosa L. ROSACEAE, PRUNOIDEAE<br />

R: Porosidade difusa a semi-difusa. Poros pouco frequentes, até 50µm de diâmetro, em<br />

múltiplos radiais (com até 6 poros), alguns múltiplos tangenciais no início da camada<br />

de crescimento (2 a 3 poros). Raios largos.<br />

Tn: Raios multisseria<strong>do</strong>s com até 8 células de largura (principalmente 4 a 6), com até<br />

550µm de altura. Raios unisseria<strong>do</strong>s curtos e pouco frequentes. Espessamento<br />

espirala<strong>do</strong> frequente e bem visível.<br />

T: Raios heterogéneos. Perfurações simples.<br />

Nota: Tipo morfológico difícil de distinguir de Prunus mahaleb, P. lusitanica (ambos com<br />

raios mais estreitos e curtos) e P. <strong>do</strong>mestica (com poros mais abundantes e múltiplos<br />

radiais com menos poros).<br />

Rosa sp. ROSACEAE, SPIRAEOIDEAE<br />

T: Porosidade em anel. Poros abundantes, isola<strong>do</strong>s ou agrupa<strong>do</strong>s tangencialmente.<br />

Transição entre lenho inicial e lenho tardio abrupta. Raios largos.<br />

Tn: Raios unisseria<strong>do</strong>s e raios multisseria<strong>do</strong>s com 5 a 20 células de largura. Raios altos, até<br />

10mm. Espessamentos espirala<strong>do</strong>s finos.<br />

R: Raios heterogéneos. Perfurações simples.<br />

Ulmus minor Miller ULMACEAE<br />

T: Porosidade em anel. Lenho inicial com uma a três fiadas de poros. No lenho tardio os<br />

poros surgem em grupos dispostos de forma tangencial a oblíqua, em bandas de 2 a 4<br />

poros rodea<strong>do</strong>s de células de parênquima paratraqueal alternadas com bandas de<br />

teci<strong>do</strong> de suporte.<br />

Tn: Raios multisseria<strong>do</strong>s, com 3 a 6 células de largura (raramente menores ou maiores).<br />

Altura <strong>do</strong>s raios entre 30 a 50 células. Vasos com espessamento espirala<strong>do</strong><br />

conspícuo.<br />

R: Raios homogéneos ou ligeiramente heterogéneos. Perfurações simples.<br />

57


2.2.5. Descrição <strong>do</strong>s frutos e sementes<br />

2.2.5.1. Espécies selvagens e leguminosas cultivadas<br />

cf. Aquilegia sp. RANUNCULACEAE<br />

Semente (descrição de Aquilegia vulgaris): oboval; vista transversal sub-quadrangular; faces<br />

laterais convexas. Margem adaxial com quilha mais larga na base da semente;<br />

margem abaxial arre<strong>do</strong>ndada. Comprimento: 2,1-2,8mm; largura: 1,1-1,6mm;<br />

espessura: 1-1,3mm.<br />

Anthemis cotula L. COMPOSITAE<br />

Cipsela: turbina<strong>do</strong>, ligeiramente contraídas no ápice. Dimensão: (1-) 1,3-1,8mm. Com 8 a 11<br />

costas tuberculadas ou verruculosas; sem papilho.<br />

Brassica sp. CRUCIFERAE<br />

Semente: esferoidal. Hilo circular a elíptico. Comprimento: 1-3,1mm; largura: 1-2,8mm.<br />

Cerastium sp. CARYOPHYLLACEAE<br />

Semente: género com sementes de grande variabilidade formal. Podem apresentar uma<br />

forma quase circular, oval, obovada e até triangular, varian<strong>do</strong> o grau de assimetria.<br />

Comprimento: 0,35-1,6mm; largura: 0,3-1,7mm; espessura: 0,3-0,9mm. Testa com<br />

ornamentação papilosa bem visível e saliente.<br />

Cistus sp. CISTACEAE<br />

Semente: Globoso-poliédrica. Cerca de 1-2mm de diâmetro. Rugosa.<br />

Erica sp. (exclui E. scoparia) ERICACEAE<br />

Folha: inteira, de margens revolutas cobrin<strong>do</strong> a totalidade da página inferior. Secção: página<br />

superior côncava. Comprimento: 1,3-9mm; largura: 0,3-0,8mm.<br />

58


Erica scoparia L. ERICACEAE<br />

Folha: inteira, de margens revolutas cobrin<strong>do</strong> apenas 2/3 da página inferior. Secção: página<br />

superior bicôncava. Comprimento: 3,5-10mm; largura: 0,6-1,1mm.<br />

Euphorbia helioscopia tipo EUPHORBIACEAE<br />

Semente: Sub-oval. Comprimento: 1,5-2,3mm; largura: 1,2-1,7mm. Ornamentação<br />

alveolada-reticulada.<br />

Nota: Tipo pouco caracteriza<strong>do</strong>. Na colecção de referência <strong>do</strong> LPA só Euphorbia pterococca<br />

Brot. e Mercurialis annua L. se assemelham com o tipo aqui descrito. Apresentam,<br />

contu<strong>do</strong>, diferenças tanto ao nível da dimensão como da ornamentação. E.<br />

amygdaloydes , muito comum no PNM-N, contém sementes lisas, por isso distintas da<br />

aqui apresentada.<br />

Gramineae Indeterminada - Lolium sp. GRAMINEAE<br />

Cariopse: oblonga, canaliculada, com extremidade inferior arre<strong>do</strong>ndada ou ligeiramente<br />

apontada, e extremidade superior truncada. Comprimento: 2,36-3,04mm; largura: 0,95-<br />

1,25mm. Encontrada com vestígios da lema e pálea.<br />

Polygonum aviculare L. POLYGONACEAE<br />

Aquénio: Oval (a losângico) com ápice triangular e ângulos obtusos. Trigonal. Comprimento:<br />

1,2-2,7mm; largura: 0,8-1,6mm; espessura: 0,6-1,3mm. Costa estreita mas saliente.<br />

Polygonum sp. lenticular POLYGONACEAE<br />

Aquénio: Oval ou elíptico, curta, com ápice curto e aponta<strong>do</strong>. Bifaceta<strong>do</strong>. Comprimento: 1,7-<br />

3mm; largura: 1,5-3mm; espessura: 0,5-1,5mm.<br />

Nota: Na área <strong>do</strong> PNM-N encontram-se, com sementes desta morfologia, as espécies<br />

Polygonum lapathifolium e P. persicaria.<br />

Portulaca oleracea L. PORTULACACEAE<br />

Semente. Sub-circular a oval. Comprimento: 0,6-1,2mm; largura até 1,1mm; espessura:<br />

cerca de 0,6mm. Testa ornamentada com tubérculos ou papilas, especialmente<br />

visíveis nas faces laterais.<br />

59


Quercus sp. FAGACEAE<br />

Glande: Oval a elíptico, por vezes apontada no ápice. Comprimento: 15-30mm; largura: 10-<br />

20mm. Testa rugosa com nervuras longitudinais por vezes profundas. Surge quase<br />

sempre fragmenta<strong>do</strong> longitudinal e lateralmente.<br />

Rumex crispus tipo POLYGONACEAE<br />

Aquénio: Oval ou oval-losângica, com ápice curto e aponta<strong>do</strong>. Trifacetada com la<strong>do</strong>s planos<br />

ou ligeiramente convexos. Com costa quase linear ou ligeiramente mais larga no<br />

centro. Comprimento: 1,3-2,7mm; largura: 0,8-1,7mm.<br />

Nota: Na área <strong>do</strong> PNM-N encontram-se, inseri<strong>do</strong>s neste grupo morfológico: Rumex crispus<br />

L., R. acetosa L., R. bucephalophorus L., R. conglomeratus Murray, R. obtusifolius L. e<br />

R. pulcher L. Estas espécies incluem-se no que Berggren (1981) denomina de Rumex<br />

subgenus Lapathum, com excepção de R. bucephalphorus, não descrito pela autora, e<br />

R. acetosa, espécie epónima de um subgenus que julgamos ser de difícil distinção<br />

face ao aqui descrito.<br />

Sambucus ebulus L. CAPRIFOLIACEAE<br />

Semente: oval. Comprimento até 3mm, largura até 2,1mm, espessura até 1,2mm. Testa<br />

rugosa.<br />

Vicia faba var. minor LEGUMINOSAE<br />

Semente: oblonga a sub-arre<strong>do</strong>ndada, com formas muito variáveis. Secção arre<strong>do</strong>ndada.<br />

Hilo lanceola<strong>do</strong>, de dimensões variáveis. Comprimento: 6-13mm; largura: até 6mm.<br />

2.2.5.2. Milhos<br />

Panicum miliaceum L.<br />

Cariopse: oval. Dimensão de grão carboniza<strong>do</strong>: 1,3-2,2mm. Escutelo largo atingin<strong>do</strong>, no<br />

máximo, metade <strong>do</strong> comprimento <strong>do</strong> grão.<br />

60


Setaria italica (L.) P. Beauv.<br />

Cariopse: arre<strong>do</strong>ndada. Dimensão de grão carboniza<strong>do</strong>: 1,1-1,7mm. Escutelo estreito<br />

atingin<strong>do</strong> 2/3 <strong>do</strong> comprimento <strong>do</strong> grão.<br />

2.2.5.3. Trigos<br />

Triticum aestivum (Triticum aestivum/durum)<br />

Tipo morfológico que inclui: Triticum aestivum subsp. vulgare (Vill) Mackey/ Triticum<br />

turgidum conv. durum (Desf.) Mackey/ Triticum turgidum conv. turgidum (L.) Mackey<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): oval. Extremidades arre<strong>do</strong>ndadas a aplanadas (extremidade superior<br />

raramente apontada). Área <strong>do</strong> embrião é profunda.<br />

Perfil: Linha <strong>do</strong>rsal arre<strong>do</strong>ndada de forma aproximadamente simétrica; por vezes com uma<br />

saliência convexa. Linha ventral convexa, por vezes plana. Máxima espessura<br />

aproximadamente na zona central.<br />

Secção: Simetricamente arre<strong>do</strong>ndada. Sulco ventral largo e profun<strong>do</strong>.<br />

É consensual a impossibilidade da distinção entre as diferentes espécies de trigo nu<br />

englobadas neste tipo morfológico (Buxo, 1997; Buxo et al., 1997; Jacomet, 2006; Zohary e<br />

Hopf, 2000). Na bibliografia surgem várias designações, ten<strong>do</strong>-se generaliza<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s<br />

peninsulares a designação Triticum aestivum/durum de R. Buxo (1997).<br />

A fim de facilitar a sua leitura, no presente trabalho usaremos Triticum aestivum como<br />

uma abreviatura de Triticum aestivum/durum ou Triticum aestivum/turgidum (outra<br />

designação possível).<br />

Triticum compactum<br />

Triticum aestivum subsp. compactum (Host) Mackey<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong> ou ligeiramente oval. Extremidades arre<strong>do</strong>ndadas a<br />

aplanadas. Área <strong>do</strong> embrião profunda.<br />

Perfil: Linha <strong>do</strong>rsal arre<strong>do</strong>ndada de forma aproximadamente simétrica. Linha ventral<br />

convexa, por vezes plana. Máxima espessura aproximadamente na zona central.<br />

Secção: Simetricamente arre<strong>do</strong>ndada. Sulco ventral largo e profun<strong>do</strong>.<br />

61


Triticum dicoccum<br />

Triticum turgidum L. subsp. dicoccum (Schrank) Thell.<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): Frequentemente estreito; extremidade superior ligeiramente apontada,<br />

mas também por vezes arre<strong>do</strong>ndada. Extremidade inferior (onde está o embrião)<br />

quase sempre apontada.<br />

Perfil: Linha <strong>do</strong>rsal convexa, por vezes fortemente marcada. Linha ventral ligeiramente<br />

côncava ou plana. Parte mais espessa perto <strong>do</strong> embrião ou a meio <strong>do</strong> grão. Cavidade<br />

<strong>do</strong> embrião frequentemente assimétrica.<br />

Secção: Arre<strong>do</strong>ndada, por vezes um pouco angulosa. Sulco ventral estreito e profun<strong>do</strong>.<br />

ESPIGUETA<br />

Gluma aproximadamente recta, com um ângulo na base. Entrenó estreito em relação à<br />

largura da espigueta. Ângulo entre as glumas muito aberto. Secção da gluma (antes da<br />

base): maciça, rectangular (menos espessa que T. monococcum mas mais maciça que<br />

T. spelta). Quilha primária visível. Quilha secundária visível. Com nervuras<br />

longitudinais visíveis.<br />

Largura da base da gluma: 0,7-(0,92)-1,1mm<br />

Triticum monococcum<br />

Triticum monococcum L. subsp. monococcum<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): estreito, aponta<strong>do</strong> nas extremidades.<br />

Perfil: Com curvatura marcadamente convexa, semelhante em ambas as faces. Parte mais<br />

espessa <strong>do</strong> grão normalmente ao centro.<br />

Secção: Angulosa. Parte <strong>do</strong>rsal de aspecto aponta<strong>do</strong> mas com parte mais alta arre<strong>do</strong>ndada.<br />

Sulco ventral estreito e profun<strong>do</strong>.<br />

ESPIGUETA<br />

Gluma com curvatura marcada. Entrenó largo em relação à largura da espigueta. Ângulo<br />

entre as glumas fecha<strong>do</strong> (menos de 90º). Secção da gluma (antes da base): muito<br />

maciça, arre<strong>do</strong>ndada (mais espessa que T. dicoccum e T. spelta). Quilha primária<br />

muito visível. Quilha secundária muito visível. Normalmente sem nervuras longitudinais<br />

visíveis.<br />

Largura da base da gluma: 0,45-(0,65)-0,9<br />

62


Triticum spelta<br />

Triticum aestivum subsp. spelta (L.) Thell.<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): Oval frequentemente com la<strong>do</strong>s quase paralelos. Extremidade<br />

superior arre<strong>do</strong>ndada a aplanada. Extremidade inferior aplanada, frequentemente<br />

apontada.<br />

Perfil: Linha <strong>do</strong>rsal simetricamente arre<strong>do</strong>ndada mas muito aplanada; linha ventral muito<br />

aplanada.<br />

Secção: Simetricamente arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>. Sulco ventral estreito e profun<strong>do</strong>.<br />

ESPIGUETA<br />

Gluma com curvatura marcada. Entrenó um pouco largo em relação à largura da espigueta.<br />

Ângulo entre as glumas variável. Secção da gluma (antes da base): pouco maciça,<br />

arre<strong>do</strong>ndada a aproximadamente rectangular (menos espessa mas normalmente mais<br />

larga que T. monococcum e T. dicoccum). Quilha primária visível a pouco visível.<br />

Quilha secundária muito pouco visível. Com nervuras longitudinais muito visíveis e<br />

profundas.<br />

Largura da base da gluma: 1,1-(1,28)-1,4mm (medidas de S. Jacomet, 2006).<br />

Os valores da largura da base da gluma, acima apresenta<strong>do</strong>s, nem sempre são confirma<strong>do</strong>s<br />

em diversos contextos, onde as medidas testemunham uma maior variabilidade deste<br />

parâmetro. Esta variabilidade é mencionada por Van der Veen (1987) que apresenta<br />

diferentes valores de distintas jazidas arqueológicas <strong>do</strong> Centro e Norte da Europa:<br />

0,45- (0,95) -1,44mm; 0,95- (1,06) -1,44mm; 0,57- (1,0) -1,17mm.<br />

Triticum monococcum Triticum dicoccum Triticum spelta<br />

Triticum aestivum<br />

Triticum compactum<br />

C 4,5 - 7,1 3,5 - 6,1 4,7 - 8,4 3,4 - 7,0<br />

L<br />

E<br />

C/L<br />

C/E<br />

L/E<br />

L/C*100<br />

1,0 - 3,0<br />

(raramente > 2,5)<br />

1,6 - 3,1<br />

(raramente < 2,3)<br />

1,6 - 2,58<br />

(raramente < 2)<br />

1,77 - 2,5<br />

(raramente < 2)<br />

0,69 - 1,2<br />

(principalmente < 1)<br />

37,8 - 46,2<br />

(3)<br />

2,0 - 4,1 2,2 - 4,7<br />

1,5 - 3,4 1,7 - 3,3 2,0 - 4,0<br />

1,57 - 2,04<br />

(principalmente ± 2)<br />

1,57 - 2,5<br />

(principalmente 2 - 2,3)<br />

1,5 - 2,45<br />

2,1 - 3,09 (tipicos<br />

>2,5)<br />

1,07 - 1,73<br />

(T. compactum 65-70)<br />

Quadro 3.2. – Parâmetros biométricos de cariopses de Triticum spp. segun<strong>do</strong> S. Jacomet e<br />

colabora<strong>do</strong>res (2006).<br />

63


2.2.5.4 Cevadas<br />

Hordeum vulgare<br />

Hordeum vulgare L. subsp. vulgare<br />

CARIOPSE<br />

Forma (plano <strong>do</strong>rsal): semi-oval, com extremidades aplanadas.<br />

Perfil: semi-oval a ligeiramente aplana<strong>do</strong>. Ponto mais largo aproximadamente ao centro.<br />

Visíveis vestígios de lema e pálea.<br />

Secção: Angulosa, com laterais achatadas ou pouco arre<strong>do</strong>ndadas. Sulco ventral largo a<br />

muito largo e profun<strong>do</strong>.<br />

Jacomet e colabora<strong>do</strong>res (2006) propõem alguns elementos para a distinção entre<br />

cevada de seis carreiras e cevada de quatro carreiras a partir da morfologia da cariopse,<br />

contu<strong>do</strong> durante o presente estu<strong>do</strong> não foram considera<strong>do</strong>s critérios suficientes para um<br />

diagnóstico seguro:<br />

Hordeum hexastichum L. (cevada de seis carreiras)<br />

Grão mais arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>: curto e largo.<br />

Índice Comprimento/Largura: menor que 1,8.<br />

Hordeum tetrastichum Körn (cevada de quatro carreiras)<br />

Grão estreito e mais oval.<br />

Índice Comprimento/Largura: maior que 1,8.<br />

A distinção entre estas duas cevadas pode ser conseguida através das lemas e <strong>do</strong><br />

ráquis (Jacomet, 2006; Buxo, 1997).<br />

Também se assume que não é possível uma distinção entre Hordeum vulgare L.<br />

subsp. vulgare (cevada de seis ou quatro carreiras) e Hordeum distichum (cevada de duas<br />

carreiras ) com base na morfologia da cariopse, apesar de R. Buxo (1997) apresentar a<br />

assimetria ou simetria <strong>do</strong> sulco central como elemento diagnosticante. Para o referi<strong>do</strong> autor,<br />

em H. vulgare o sulco ventral encontrar-se-ia desvia<strong>do</strong> <strong>do</strong> eixo central conferin<strong>do</strong> um<br />

aspecto mais assimétrico ao grão, enquanto que em H. distichum seria recto. Contu<strong>do</strong>,<br />

como referem Jacomet (2006) e Hubbard (1992), embora em H. distichum só existem grãos<br />

simétricos, em H. vulgare verifica-se uma proporção de <strong>do</strong>is grãos assimétricos para cada<br />

grão simétrico. Tal impossibilita o uso deste critério morfológico como elemento de distinção<br />

entre as cevadas em questão, permitin<strong>do</strong> apenas identificar os grãos assimétricos como H.<br />

vulgare.<br />

Em amostras de dimensão significativa a contabilização <strong>do</strong>s diferentes tipos<br />

morfológicos de cariopses existentes poderá determinar uma probabilidade estatística da<br />

64


presença de uma ou outra espécie. Desta forma, se existir uma quantidade de grãos<br />

simétricos superior aos assimétricos é provável que a amostra inclua grãos de H. distichum.<br />

2.3. Recolha de da<strong>do</strong>s etnobotânicos e ecológicos<br />

A pesquisa de da<strong>do</strong>s etnobotânicos referentes às espécies identificadas no estu<strong>do</strong><br />

carpológico e antracológico foi realizada na bibliografia da especialidade. Privilegiou-se, não<br />

obstante, as referências centradas na região em questão e áreas limítrofes, isto é, Trás-os-<br />

Montes e Alto Douro, tais como os trabalhos de Ana Carvalho (2005), José Ribeiro (2003),<br />

Ribeiro, Monteiro e Silva (2000) e as várias referências da obra organizada por Frazão-<br />

Moreira e Fernandes (2005). Acrescente-se algumas obras genéricas acerca de plantas<br />

medicinais e aromáticas (Juscafresa, 1995; Vasconcellos, 1949) e ainda uma referência<br />

específica de uma região bem distinta da transmontana, o Alentejo (Salgueiro, 2005), cuja<br />

inclusão foi assumida como a demonstração de um conhecimento geral das propriedades de<br />

diversas plantas em distintas regiões.<br />

A pesquisa respeitante às práticas agrícolas tradicionais privilegiou as referências<br />

bibliográficas, tanto de arqueologia como de antropologia.<br />

Esporadicamente foram acrescentadas informações relevantes através <strong>do</strong> contacto<br />

directo com as comunidades de agricultores locais actuais. Esse contacto visava a obtenção<br />

de informações respeitantes à gestão <strong>do</strong> território agrícola e o seu relacionamento e<br />

distanciamento face ao núcleo urbano, no entanto não se puderam ignorar da<strong>do</strong>s referentes<br />

tanto aos gestos inerentes às práticas agrícolas como às propriedades específicas de<br />

algumas espécies e a sua adequabilidade para determinadas funções. Não se tratan<strong>do</strong> de<br />

estu<strong>do</strong>s executa<strong>do</strong>s de forma sistemática, estes da<strong>do</strong>s não estão incluí<strong>do</strong>s nos respectivos<br />

quadros mas somente no texto.<br />

Os da<strong>do</strong>s ecológicos referentes às espécies identificadas no estu<strong>do</strong> arqueobotânico<br />

foram recolhi<strong>do</strong>s em obras da especialidade, das quais salientamos a tese de <strong>do</strong>utoramento<br />

de Carlos Aguiar, centrada no Parque Natural das Serras de Montesinho e Nogueira (PNM-<br />

N). Apesar <strong>do</strong> PNM-N se tratar de uma área geográfica e ecologicamente um pouco distinta<br />

da envolvência da Terronha de Pinhovelo, a obra de C. Aguiar é o estu<strong>do</strong> ecológico e<br />

fitossociológico mais aprofunda<strong>do</strong> acerca de uma área próxima ao local aqui em estu<strong>do</strong> e,<br />

naturalmente, uma obra de referência. Sempre que foi considera<strong>do</strong> necessário<br />

complementar as informações obtidas foram consultadas outras obras de referência<br />

(nomeadamente a Flora Ibérica editada por Castroviejo et al.).<br />

65


2.4. Arqueologia Espacial e análise eco-territorial<br />

Trata-se de um procedimento comum e, a nosso ver erróneo, encarar cada jazida<br />

arqueológica como uma entidade científica sem uma prévia existência à sua descoberta.<br />

Qualquer sítio arqueológico deve ser estuda<strong>do</strong> enquanto um espaço de vivências reais<br />

e não meramente como um objecto científico quase desumano, culturalmente e socialmente<br />

descontextualiza<strong>do</strong>. O local que actualmente designamos por Terronha de Pinhovelo antes<br />

de se tornar num elemento patrimonial de valor científico e cultural, isto é, um sítio<br />

arqueológico, foi uma povoação. Como tal, detinha um ambiente quotidiano próprio e era<br />

habita<strong>do</strong> por pessoas reais.<br />

Este local de habitação estava ainda incluí<strong>do</strong> num território paisagístico particular que,<br />

embora hoje obedeça a ritmos e pressões distintos, no passa<strong>do</strong> era frequenta<strong>do</strong> e explora<strong>do</strong><br />

pelos membros da comunidade da Terronha de Pinhovelo. Tentar compreender essa<br />

comunidade estudan<strong>do</strong> exclusivamente o local onde esta habitava e exercia alguns ofícios<br />

é, por certo, limita<strong>do</strong>r. Tal limitação torna-se mais evidente quan<strong>do</strong> se trata de uma<br />

comunidade que, à partida, deduzimos ser eminentemente rural, pratican<strong>do</strong> uma economia<br />

de subsistência e conectada com actividades agro-pastoris.<br />

Compreender hoje esse espaço <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> é tarefa difícil e deve passar por<br />

diferentes fases. Em primeiro lugar deve-se delimitar (teoricamente) o espaço da<br />

comunidade e devem ser identificadas as suas principais e actuais características (entre<br />

outras, a geologia, ecologia e a actual utilização <strong>do</strong>s recursos disponíveis). Em seguida, e<br />

na falta de sequências polínicas que providenciassem paleo-imagens regionais, devem ser<br />

analisadas as evidências dessa paisagem recolhidas no local de habitação a ser<br />

intervenciona<strong>do</strong>. Naturalmente que compreender o território antigo não implica,<br />

necessariamente, caracterizá-lo por completo.<br />

De facto, os da<strong>do</strong>s que detemos são usualmente fragmentários e limita<strong>do</strong>s mas<br />

fornecem uma base de estu<strong>do</strong> que pode ser completada com outros meios, nomeadamente<br />

as abordagens de ín<strong>do</strong>le etnográfica. Os da<strong>do</strong>s assim obti<strong>do</strong>s visam uma abordagem<br />

centrada na apropriação <strong>do</strong> espaço pelas comunidades humanas.<br />

No âmbito da Arqueologia Espacial, a tentativa de percepção <strong>do</strong> espaço explora<strong>do</strong><br />

pela comunidade da Terronha de Pinhovelo em época romana foi realizada através da<br />

Análise de Territórios de Exploração, procuran<strong>do</strong>-se deduzir quais as distâncias que cada<br />

comunidade está disposta a percorrer para adquirir os seus bens essenciais. Parte-se <strong>do</strong><br />

princípio (difícil de comprovar), de que uma povoação localiza-se num local sensivelmente<br />

central face aos recursos que necessita para a sua subsistência (Vilaça, 1995; Fernandez<br />

Martinez, Ruiz Zapatero, 1984).<br />

66


Segun<strong>do</strong> a bibliografia, para as comunidades de agricultores deduz-se que a área 1km<br />

em re<strong>do</strong>r da povoação deveria ser alvo de uma exploração intensiva. Essa exploração e<br />

consequente alteração paisagística deveriam diminuir de forma aproximadamente<br />

concêntrica face ao centro habitacional (Fernandez Martinez, Ruiz Zapatero, 1984).<br />

Contu<strong>do</strong>, o tempo de percurso ganha uma maior preponderância <strong>do</strong> que a distância<br />

geográfica (1km em terreno montanhoso pode traduzir-se numa distância impraticável para<br />

a manutenção e rentabilização de campos a agrícolas e respectivas produções). Como tal,<br />

foram elabora<strong>do</strong>s cálculos que permitissem ultrapassar essa questão.<br />

Segun<strong>do</strong> a fórmula de Naismith, calculan<strong>do</strong> que em terreno plano 10km correspondem<br />

a 2 horas de marcha acrescenta-se 30 minutos extra por cada variação de altitude de 300m.<br />

Em termos práticos numa carta militar 1:25 000 1cm corresponde a 3 minutos e cada curva<br />

de nível de 50m equivale a um extra de 5 minutos (Davidson, Bailey, 1984).<br />

Naturalmente, este é um modelo teórico e susceptível de inúmeras críticas (veja-se, a<br />

titulo de exemplo Fernandez Martinez, Ruiz Zapatero, 1984). Contu<strong>do</strong>, deve ser encara<strong>do</strong><br />

unicamente como uma ferramenta de trabalho que permite uma aproximação à realidade já<br />

de si demasia<strong>do</strong> complexa para ser perceptível unicamente através <strong>do</strong>s vestígios<br />

arqueológicos recolhi<strong>do</strong>s em escavação.<br />

De mo<strong>do</strong> a complementar estas possibilidades foi realizada uma pesquisa etnográfica<br />

com entrevistas nas aldeias em re<strong>do</strong>r da jazida arqueológica e, potencialmente, na área de<br />

captação de recursos da antiga povoação romana.<br />

As entrevistas realizadas a habitantes das aldeias mais próximas <strong>do</strong> sítio arqueológico<br />

para além de terem proporciona<strong>do</strong> uma melhor percepção <strong>do</strong> potencial agrícola <strong>do</strong>s terrenos<br />

da região permitiram também perceber alguns aspectos da organização <strong>do</strong>s trabalhos<br />

agrícolas por parte das sociedades rurais tradicionais.<br />

Desta forma, foi possível chegar à possibilidade de os terrenos agrícolas se<br />

localizarem a uma distância preferencial de 30-40 minutos face à povoação, e a uma<br />

distância máxima de uma hora.<br />

Estes conceitos já generaliza<strong>do</strong>s na bibliografia arqueológica devem, quanto a nós, ser<br />

conecta<strong>do</strong>s com um modelo que traduz de forma aproximada a complexidade desta<br />

organização concêntrica da envolvência das povoações rurais. Desenvolvi<strong>do</strong> por José<br />

Mateus (Mateus, 1990 e 2004; Mateus et al., 2003) este modelo de zonação eco-territorial<br />

identifica cinco unidades, os territórios Doméstico, Adjacente, Próximo, Periférico e Remoto.<br />

Trata-se de um modelo ecológico onde o grau de eco-artefactualização <strong>do</strong> território é dita<strong>do</strong><br />

essencialmente pela recorrência cíclica (de diferentes comprimentos de onda) de gestos de<br />

afeiçoamento de maior ou menor irreversibilidade na sucessão ecológica. Estas cinco<br />

67


unidades desenvolvem-se de forma centrípeta e correspondem a uma decrescente<br />

afectação e artefactualização da paisagem por parte das comunidades humanas:<br />

- Doméstico (casa): zona de eco-artefactualização profunda, de acesso e<br />

utilização diária. Captura da natureza, tanto de animais e plantas como <strong>do</strong>s<br />

próprios recursos hídricos.<br />

- Adjacente (horta): zona de eco-artefactualização intensiva, de acesso e uso<br />

semanal onde <strong>do</strong>minam as biocenoses culturais, em solos altera<strong>do</strong>s e<br />

trabalha<strong>do</strong>s. A paisagem encontra-se repartida e moldada em tesselas por<br />

sebes e muros.<br />

-Próximo (campo): zona de eco-artefactualização extensiva, de acesso e uso<br />

mensal, onde se verificam sistemas de pousio, queimada e estrumação. A<br />

paisagem encontra-se repartida e a propriedade delimitada de forma menos<br />

marcante. O ambiente físico sofre escassa modelação.<br />

- Periférico (charneca): zona de eco-artefactualização limitada, de acesso e uso<br />

sazonal. Área de carácter semi-natural, onde são geridas e favorecidas<br />

determinadas populações. Zona de pastoreio e caça.<br />

- Remoto (mata natural): zona sem eco-artefactualização (ou onde esta é quase<br />

nula), de acesso e utilização esporádica e efémera. Área de carácter<br />

natural.<br />

De qualquer forma, as três primeiras áreas, Doméstica, Adjacente e Próxima serão<br />

privilegiadas nesta abordagem, da<strong>do</strong> serem com maior probabilidade as que se encontram<br />

mais fortemente representadas nos vestígios paleobotânicos em análise. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

visto ser claro que as povoações antigas não viviam isoladas, devemos considerar que os<br />

territórios Periféricos de umas poderiam ser os territórios Próximos de outras comunidades,<br />

de outras povoações o que exige um estu<strong>do</strong> arqueológico regional mais aprofunda<strong>do</strong>.<br />

68


IV. RESULTADOS<br />

1. A Terronha de Pinhovelo<br />

1.1. Contexto biogeográfico, paisagístico e geológico<br />

Administrativamente, a pequena elevação conhecida na bibliografia como Terronha de<br />

Pinhovelo e, localmente, também como Terronho ou Terronho de Pinhovelo localiza-se no<br />

distrito de Bragança, concelho de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros, junto ao limite Sul da freguesia de<br />

Amen<strong>do</strong>eira. Deve parte <strong>do</strong> seu nome à aldeia de Pinhovelo, antiga vila que se encontra no<br />

pequeno vale a Oeste e que é facilmente observada na íntegra a partir da jazida<br />

arqueológica. Corresponde às seguintes coordenadas geográficas:<br />

Latitude: 41º 32’ 31’’<br />

Longitude: 02º 08’ 33’’ W Greenwich<br />

Alt.: 693m<br />

A inexistência da respectiva folha da Carta Geológica de Portugal dificulta seriamente<br />

a caracterização da zona em estu<strong>do</strong>. Existem, contu<strong>do</strong>, alguns estu<strong>do</strong>s que focaram<br />

contextos mais abrangentes ou zonas próximas àquela aqui estudada.<br />

Num destes estu<strong>do</strong>s, Quadra<strong>do</strong>, et al. (1964) inserem esta região no que denominam<br />

de série transmontana. Esta série caracteriza-se pela presença de xisto epidótico,<br />

associan<strong>do</strong>-se-lhe quartzo, clorite, moscovite e calcite. O quartzo apresenta-se “em<br />

lentículas mais ou menos estiradas, de textura engrenada” exibin<strong>do</strong> “fenómenos de<br />

tectonização” (Quadra<strong>do</strong>, e tal, 1964).<br />

Já Maria Ribeiro (1991) refere a confluência na região de uma “Unidade <strong>do</strong>s Xistos<br />

Verdes e quartzo-filádicos” e um “Complexo Vulcano-Silicioso” onde para além das<br />

formações vulcânicas, contam-se formações constituídas por material sedimentar.<br />

A região transmontana é usualmente subdividida, <strong>do</strong> ponto de vista bioclimático em<br />

cinco regiões: Terra Fria de Alta Montanha, Terra Fria de Montanha, Terra Fria de Planalto,<br />

Terra de Transição e Terra Quente. Do mesmo mo<strong>do</strong>, a região divide-se em cinco <strong>do</strong>mínios<br />

fitogeográficos: o sub-atlântico, oro-atlântico, pirenaico-cantábrico ou leonês, iberomediterrâneo<br />

e sub-mediterrâneo. Só os últimos três estão presentes no Nordeste<br />

transmontano (Agroconsultores e Coba, 1991).<br />

A povoação romana da Terronha de Pinhovelo localiza-se numa zona de contacto<br />

entre as regiões naturais de Bragança e Bornes-Sabor, isto é, entre a Terra de Transição<br />

(entre 400/500m e 600/700m) e a Terra Fria de Planalto (entre 600/700m e 900/1000m).<br />

69


Figura 4.1. – Localização da Terronha de Pinhovelo na CMP (folhas 63, 64, 77, 78) e delimitação <strong>do</strong><br />

território teórico de 30 minutos<br />

70


A jazida arqueológica encontra-se a uma cota máxima de 693m, sen<strong>do</strong> sombreada a<br />

Norte pelo alto das Raposeiras com altitude de 726m e <strong>do</strong>minada a SW, depois <strong>do</strong> vale da<br />

aldeia de Pinhovelo, pela Serra de Pinhovelo, ou de Palas, a 775m.<br />

A Região de Bornes-Sabor é <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> carvalho-negral (Quercus pyrenaica), <strong>do</strong><br />

carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e da azinheira (Quercus ilex subsp. ballota). Conta<br />

também com a presença de zimbros (Juniperus oxicedrus) e com frequentes povoamentos<br />

de sobreiros. Os matos são <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s por esteva (Cistus ladanifer), rosmaninho (Lavandula<br />

pedunculata), tomilho (Thymus mastichina), trovisco (Daphne gnidium) e menos<br />

frequentemente por urzes (Erica australis) e carqueja (Chamaespartium tridentatum). A<br />

agricultura é <strong>do</strong>minada pelo olival, o centeio e o trigo, o milho e a batata. Contam-se ainda<br />

os soutos, pomares (macieiras e cerejeiras) e vinha.<br />

A Região de Bragança é <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s carvalhais de carvalho-negral, e <strong>do</strong> castanheiro<br />

(Castanea sativa). São abundantes os povoamentos de pinheiros (Pinus pinaster) e<br />

vi<strong>do</strong>eiros (Betula celtiberica). Na zona Oriental, fora da área de estu<strong>do</strong>, a azinheira é muito<br />

abundante. Os matos são <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelas urzes (Erica australis e Erica tetralix),<br />

Chamaespartium tridentatum, Halimium allyssoides, Calluna vulgaris, Rosa canina, Rosa<br />

micrantha, giestas (Cytisus spp. e Genista spp.) e tojos (Ulex spp.) Pre<strong>do</strong>mina a agricultura<br />

<strong>do</strong> centeio e trigo.<br />

A Terronha de Pinhovelo encontra-se numa região com os seguintes da<strong>do</strong>s climáticos<br />

(valores de 1951-1980) (Agroconsultores e Coba, 1991):<br />

- Temperatura média anual de 12 a 14ºC;<br />

- Temperatura máxima média anual de 18ºC<br />

- Temperatura mínima média anual de 7ºC<br />

- Precipitação média anual de 600mm<br />

- Classificação climática de Thornthwaite: moderadamente húmi<strong>do</strong><br />

1.1.1. O território imediato<br />

A escolha <strong>do</strong> território ao alcance de trinta minutos como base de estu<strong>do</strong> segue as<br />

propostas existentes na bibliografia da especialidade, já mencionada anteriormente.<br />

Considera-se aqui que os trinta minutos de caminhada definiriam o território mais<br />

comummente explora<strong>do</strong> e, por isso, provavelmente mais representa<strong>do</strong> nas amostras de<br />

macro-restos recolhidas em escavação. Não obstante, parece-nos claro que a comunidade<br />

que habitava na Terronha de Pinhovelo de mo<strong>do</strong> algum circunscrevia as suas actividades<br />

produtivas e mesmo de lazer ao território aqui defini<strong>do</strong>.<br />

71


De mo<strong>do</strong> a averiguar a validade <strong>do</strong>s modelos de arqueologia espacial foram realizadas<br />

entrevistas nas aldeias da proximidade. A generalidade das pessoas entrevistadas referiu<br />

que os terrenos cultiva<strong>do</strong>s se localizavam, na sua maioria, a uma distância não superior a<br />

trinta minutos de caminhada. Contu<strong>do</strong>, embora sejam casos raros, havia também quem<br />

tivesse terrenos mais distantes, a quarenta minutos e até a uma hora de caminhada.<br />

Também a delimitação <strong>do</strong>s próprios territórios foi testada, ten<strong>do</strong>-se efectua<strong>do</strong> <strong>do</strong>is<br />

percursos de meia hora a partir <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>. Estes privilegiaram a utilização de caminhos e<br />

trilhos, invés de percursos em linha recta, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto que em tempos antigos a<br />

circulação também seria efectuada desta forma (embora certamente não por estes<br />

caminhos), contornan<strong>do</strong> campos cultiva<strong>do</strong>s e outros obstáculos. Os percursos, para<br />

Noroeste e Sul permitiram ultrapassar o território teórico apresenta<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong> em<br />

menos de 500m, pelo que não se considera suficiente para inviabilizar a proposta aqui<br />

apresentada. Saliente-se, mais uma vez, que não se pretende delimitar territórios concretos<br />

de cariz administrativo mas somente áreas de exploração preferencial.<br />

O território de meia hora de caminhada da Terronha de Pinhovelo caracteriza-se por<br />

ser bastante acidenta<strong>do</strong> (ver figura 4.1.). A Norte surge imponente a elevação das<br />

Raposeiras, seguida de uma zona aplanada e depois de um vale profun<strong>do</strong> que delimita o<br />

território de 30 minutos, aí e a Nordeste e Este (na verdade o cálculo coloca o limite<br />

imediatamente na outra margem da Ribeira de Travanca).<br />

A Oeste e Noroeste e Su<strong>do</strong>este a Serra de Pinhovelo ou Serra das Palas, mais<br />

elevada que a TP quebra-lhe a visibilidade e constitui-se como um limite físico transponível<br />

mas que exige esforço e tempo. Antecede-lhe o fértil vale onde se localiza a actual aldeia de<br />

Pinhovelo. Este vale prolonga-se para Norte, permitin<strong>do</strong> contornar a elevação referida, em<br />

direcção à aldeia de Vale Pradinhos.<br />

É a Sul e Sudeste de TP que são encontradas as principais aberturas deste território<br />

para a região. A Sul contorna-se facilmente a elevação das Fragas <strong>do</strong> Ginso, entre estas e a<br />

serra <strong>do</strong> Facho, até ao vale da ribeira de Travanca e à depressão de Mace<strong>do</strong>. A Sudeste,<br />

antes da referida elevação, uma zona de fácil circulação através <strong>do</strong> actual bairro de<br />

Travanca permite chegar às zonas mais planas que caracterizam a depressão de Mace<strong>do</strong>.<br />

Os limites <strong>do</strong> território de 30 minutos fazem-se na ribeira de Travanca, a Sudeste, e junto às<br />

Fragas <strong>do</strong> Ginso e início da serra <strong>do</strong> Facho, a Sul.<br />

A região sumariamente descrita acima encontra-se, hoje em dia, visivelmente<br />

antropizada. De facto, não foram encontradas áreas onde a acção <strong>do</strong> Homem não tivesse<br />

altera<strong>do</strong> significativamente a paisagem. A forma como as comunidades mais recentes têm<br />

utiliza<strong>do</strong> estes terrenos aparece caracterizada no mapa da figura 4.2.<br />

72


Neste mapa, as cores traduzem a presente ocupação <strong>do</strong>s solos, seja com formações<br />

naturais ou cultivos, cuja descrição muito breve se encontra na legenda. As letras<br />

correspondem a espécies que são encontradas em zonas cuja representação em cor não<br />

traduz a sua presença. Por exemplo, terá um significa<strong>do</strong> ecológico diferente que uma área<br />

representada com a cor amarela (campos de cereais aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s) esteja rodeada de<br />

carvalhos-negrais ou de sobreiros e azinheiras. Os números representam outras formações<br />

de pequena extensão e sem representatividade em mapa, como bordas de caminho ou<br />

galerias ripícolas.<br />

Dominam claramente os terrenos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s onde erve<strong>do</strong>s secos e charnecas<br />

crescem, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sobreirais, olivais e soutos de castanheiros. São também abundantes<br />

as áreas de giestais. É, assim, fácil perceber que nas últimas décadas os trabalhos<br />

agrícolas tornaram-se mais raros e os campos foram sen<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> quer à<br />

emigração e migração que roubaram mão-de-obra e conduziram a um níti<strong>do</strong> envelhecimento<br />

na classe de agricultores da região, quer ainda à falta de rentabilidade para os pequenos<br />

produtores, da<strong>do</strong> o preço da mão-de-obra e o preço de escoamento <strong>do</strong>s produtos. Como<br />

consequência, são muito raros os campos de cereal ainda semea<strong>do</strong>s na zona.<br />

Mas há cerca de cinco décadas as coisas eram bastante diferentes. As informação<br />

adquiridas entre os habitantes locais permitem perceber que a área envolvente da aldeia de<br />

Pinhovelo possui terrenos muito férteis e de elevada produtividade. Em tempos antigos a<br />

economia da terra era baseada essencialmente no cultivo <strong>do</strong> cereal, principalmente o trigo.<br />

Cultivava-se cereal em quase todas as terras: junto ao rio, em zonas aplanadas, nas<br />

encostas, no topo das elevações, e até entre os sobreiros <strong>do</strong>s monta<strong>do</strong>s da serra que<br />

sombreia a aldeia a Oeste.<br />

O trigo era o cereal mais cultiva<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> centeio. A cevada era plantada<br />

ocasionalmente. Desta forma, os melhores terrenos eram para o trigo. O centeio, menos<br />

exigente, era planta<strong>do</strong> no topo das encostas. De qualquer forma, foi-me referi<strong>do</strong> que os<br />

terrenos suportavam os <strong>do</strong>is cereais. Nos anos de pousio plantava-se a batata.<br />

O olival ocupava uma área diminuta <strong>do</strong>s terrenos disponíveis mas os subsídios<br />

atribuí<strong>do</strong>s ao plantio da oliveira vieram mudar bastante a paisagem transmontana. De facto,<br />

os entrevista<strong>do</strong>s foram unânimes a referir que os terrenos de olival de hoje eram quase na<br />

sua totalidade campos de cereal.<br />

Actualmente, os sobreiros são uma fonte de rendimento muito importante. Foi me dito<br />

na aldeia que a cortiça, retirada em cada nove anos, consiste no produto mais rentável para<br />

os agricultores e silvicultores de Pinhovelo.<br />

75


Por entre o complexo mosaico resultante de trabalhos agrícolas passa<strong>do</strong>s e presentes<br />

é possível vislumbrar alguns da<strong>do</strong>s relevantes no que respeita à distribuição da vegetação<br />

natural na paisagem. Com alguma frequência os únicos da<strong>do</strong>s foram adquiri<strong>do</strong>s nas<br />

margens de caminhos ou ribeiras, limites de propriedades e zonas possivelmente<br />

aban<strong>do</strong>nadas há mais tempo.<br />

Parte da própria elevação da TP, em especial a actual plataforma principal onde<br />

decorreram os trabalhos arqueológicos, foi outrora um campo de cereal, estan<strong>do</strong> <strong>do</strong>mina<strong>do</strong><br />

por um pequeno pra<strong>do</strong>. Na sua borda abundam as estevas e as giestas-brancas e giestasamarelas,<br />

as espécies de giestas mais frequentes em toda a região. Nas zonas onde o<br />

terreno se encontra coberto de pedras, não sen<strong>do</strong> apto para o cultivo, <strong>do</strong>minam o carvalhocerquinho,<br />

e a azinheira, contan<strong>do</strong>-se também o freixo, raros pilriteiros, e um único<br />

castanheiro.<br />

A Norte, a elevação das Raposeiras é <strong>do</strong>minada por um amplo giestal. Entre este,<br />

ocorrem frequentes carvalhos-cerquinho, em especial na vertente Sul e no topo da<br />

elevação. Na plataforma Norte deste monte surgem alguns carvalhos-negral, rarean<strong>do</strong> os<br />

anteriores enquanto que na encosta Oeste e Su<strong>do</strong>este encontra-se um amplo campo<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>. No limite Nordeste das Raposeiras e além desta elevação, junto ao vale,<br />

continuam os campos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, surgin<strong>do</strong> também a maior área de pinhal deste<br />

território.<br />

Nos fun<strong>do</strong>s e partes mais baixas das encostas <strong>do</strong> quadrante Noroeste <strong>do</strong>minam as<br />

charnecas, identifican<strong>do</strong>-se frequentes freixos, sobreiros, azinheiras, carvalhos-cerquinho e<br />

giestas (que aqui não se constituem como formações extensas mas estão também nos<br />

limites de propriedades <strong>do</strong>minadas por gramíneas). Foi nesta zona que se identificaram as<br />

últimas searas ainda em exploração.<br />

Junto a Pinhovelo localizam-se, como é natural, as hortas, mas também os antigos<br />

campos de cereal, olivais e pomares onde <strong>do</strong>mina a cerejeira, sen<strong>do</strong> mais rara a nogueira.<br />

A serra de Pinhovelo ou de Palas <strong>do</strong>mina toda a área Oeste <strong>do</strong> território de trinta<br />

minutos de TP. O sobreiral é, aqui, a formação pre<strong>do</strong>minante. O sobreiro encontra-se em<br />

quase to<strong>do</strong>s os pontos da encosta, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong>, inclusive, a única árvore a subsistir nas áreas<br />

<strong>do</strong>s soutos, certamente devi<strong>do</strong> à sua importância económica.<br />

O Quercus pyrenaica surge sub-representa<strong>do</strong> na paisagem actual desta região e tal é<br />

particularmente notório na serra de Palas. Quase no topo, o carvalho-negral surge<br />

sombrea<strong>do</strong> pelo sobreiral de altitude como uma espécie minoritária, frequentemente num<br />

esta<strong>do</strong> arbustivo ou como pequena árvore. Por outro la<strong>do</strong>, na formação arbustiva<br />

identificada no mapa pela cor azul-clara, o Q. pyrenaica surge entre giestas, estevas,<br />

pinheiros bravos, azinheiras e carvalhos-cerquinho, mas naturalmente só na metade<br />

superior da encosta.<br />

76


Na parte Sul <strong>do</strong> território pre<strong>do</strong>minam os campos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, com erve<strong>do</strong>s e<br />

charnecas, os olivais e um mato baixo de giestas e rosmaninho com ocasionais sobreiros e<br />

azinheiras. Este último, assim como os olivais, prolongam-se para Este, para o termo de<br />

Travanca. De resto, a zona Este é <strong>do</strong>minada por uma ampla área pouco arborizada, onde<br />

pequenos sobreiros, azinheiras, carvalhos-cerquinho e freixos coexistem com giestas,<br />

estevas e rosmaninho.<br />

Embora não tenham si<strong>do</strong> detectadas zonas de medronhais, esta espécie foi<br />

identificada, entre azinheiras, nas encostas Oeste e Sul <strong>do</strong> próprio sítio arqueológico.<br />

Por fim, no que à vegetação ribeirinha diz respeito, o freixo é claramente a espécie<br />

<strong>do</strong>minante. É acompanhada, nas galerias ripícolas, pelo ulmeiro e, em menor medida, pelo<br />

choupo-negro. Com o freixo surgem frequentemente os sobreiros e carvalhos-cerquinho que<br />

aí se refugiam, nos limites <strong>do</strong>s lameiros.<br />

Por fim, refira-se que existem, no território de trinta minutos, abundantes fontes de<br />

abastecimento de água. Para além das frequentes linhas de água da região, algumas<br />

sazonais, regista-se uma bica de água entre o sopé NE da Terronha e o sopé de<br />

Raposeiras, ou seja, a cerca de cinco minutos <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>. Acrescenta-se ainda<br />

que elementos da população local mencionaram a existência de uma fonte no próprio<br />

cabeço da Terronha, junto ao actual Sector A. Esta estaria já destruída e soterrada pelo que<br />

não é possível comprovar a sua presença. Porém, as constantes diferenças da vegetação<br />

<strong>do</strong> local durante o perío<strong>do</strong> de Verão parecem confirmar a informação.<br />

1.2. Implantação da jazida: aspectos estratégicos<br />

A escolha da elevação actualmente conhecida como Terronha de Pinhovelo para o<br />

estabelecimento de uma povoação em tempos, pelo menos, proto-históricos ter-se-á devi<strong>do</strong><br />

à possibilidade de satisfação, a partir deste local, de exigências respeitantes a duas<br />

condições básicas de existência: defesa e subsistência. Uma estratégica posição de<br />

<strong>do</strong>mínio paisagístico e facilidade de defesa aliava-se à existência de água e de terrenos<br />

férteis em extensão suficiente para permitir a auto-suficiência da comunidade.<br />

De um ponto de vista geo-estratégico o posicionamento desta ocupação humana neste<br />

local permitia um controlo visual significativo sobre a depressão de Mace<strong>do</strong>. Este vale,<br />

localiza<strong>do</strong> a Este da Terronha de Pinhovelo, é parte integrante da grande falha Manteigas-<br />

Vilariça-Sanábria, importante acidente tectónico que marca bem a paisagem. Esta terá<br />

constituí<strong>do</strong> uma parcela particularmente fértil assim como um corre<strong>do</strong>r de circulação<br />

privilegia<strong>do</strong> de orientação aproximada Sul-Norte que atravessa grande parte <strong>do</strong> centro-<br />

77


interior <strong>do</strong> país (a Beira Alta) e toda a região de Trás-os-Montes Oriental. Na zona de<br />

estu<strong>do</strong>, este vale é ladea<strong>do</strong> a Este pela Serra de Bornes e a Oeste por um conjunto de<br />

pequenas elevações que se posicionam ligeiramente a Sul da Serra da Nogueira. Uma<br />

destas elevações é a Terronha de Pinhovelo.<br />

De facto, em frente da Terronha de Pinhovelo, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> grande vale, a Serra<br />

de Bornes <strong>do</strong>mina, de forma indiscutível, a paisagem. Neste acidente orográfico localiza-se<br />

o povoa<strong>do</strong> da Fraga <strong>do</strong>s Corvos onde foi identificada uma estrutura interpretada como<br />

muralha. Tal estrutura foi enquadrada, pelos investiga<strong>do</strong>res responsáveis, num momento da<br />

Idade <strong>do</strong> Ferro e/ou Bronze final, visto que as escavações arqueológicas que aí decorrem<br />

desde 2003 para além de materiais destes perío<strong>do</strong>s, descontextualiza<strong>do</strong>s por acções<br />

destrutivas no povoa<strong>do</strong>, somente colocaram a descoberto ocupações <strong>do</strong> Bronze Pleno. Por<br />

ora não se considera a possibilidade de a construção da dita estrutura defensiva se integrar<br />

nessa fase mais antiga de ocupação da elevação (Senna-Martinez, et al., 2006 e 2005).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, mais a Norte, mas também no extremo Este da depressão de Mace<strong>do</strong><br />

encontra-se o Castro de S. Marcos. Este pequeno cabeço nunca foi alvo de qualquer<br />

intervenção arqueológica para além de prospecção de superfície. Pressupõe-se tratar-se de<br />

um povoa<strong>do</strong> da Idade <strong>do</strong> Ferro (Mendes, 2005). A relevância desta referência deve-se ao<br />

facto de este povoa<strong>do</strong> se posicionar já além <strong>do</strong> limite Norte da Serra de Bornes, no ponto<br />

onde um vale se abre para Este, atravessan<strong>do</strong> o limite desta serra e abrin<strong>do</strong> o vale de<br />

Mace<strong>do</strong> à região Oriental <strong>do</strong> concelho de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros. Nesta zona, a par de<br />

vestígios históricos mais recentes, como a aldeia de Chacim, encontram-se diversos<br />

vestígios da ocupação romana e pré-romana <strong>do</strong> território <strong>do</strong>s Zoelae (Barranhão, Tereso,<br />

2006; Mendes, 2005).<br />

Ao conjunto destes três povoa<strong>do</strong>s, Fraga <strong>do</strong>s Corvos, Castro de S. Marcos e Terronha<br />

de Pinhovelo, juntam-se referências da tradição oral que apontam para a existência de<br />

ocupações pré-romanas noutros cabeços da região envolvente da Terronha e da depressão<br />

de Mace<strong>do</strong>.<br />

Desta forma, pode-se pressupor a existência de uma organização, de natureza ainda<br />

desconhecida, de vários povoa<strong>do</strong>s em torno deste vale, em época proto-histórica. Tal<br />

articula-se com a possibilidade apontada por quase to<strong>do</strong>s os autores, que se focaram no<br />

estu<strong>do</strong> das fronteiras territoriais e étnicas <strong>do</strong>s povos pré-romanos, de a serra de Bornes<br />

constituir o limite Sul <strong>do</strong> território <strong>do</strong>s Zoelae (vide supra). A confirmar-se esta possibilidade,<br />

a depressão de Mace<strong>do</strong> seria um ponto de entrada privilegia<strong>do</strong> para o mesmo, permitin<strong>do</strong><br />

contornar a serra de Bornes para depois, através <strong>do</strong>s diversos vales laterais, se poder<br />

aceder ao restante território.<br />

Tal como o Castro de S. Marcos controla uma dessas passagens laterais, para Este, a<br />

Terronha de Pinhovelo posiciona-se junto a <strong>do</strong>is pequenos vales que deveriam constituir<br />

78


zonas de passagem para as regiões a Noroeste. Esta elevação proporciona igualmente um<br />

amplo <strong>do</strong>mínio visual sobre o vale de Mace<strong>do</strong> constituin<strong>do</strong>-se, a par com a Fraga <strong>do</strong>s<br />

Corvos, como o povoa<strong>do</strong> fortifica<strong>do</strong> mais meridional <strong>do</strong> povo em questão.<br />

Apesar de a investigação arqueológica ser ainda incipiente, é possível, perante estas<br />

evidências arriscar a existência de uma organização de cariz defensivo a um nível regional.<br />

E é também (ainda que não apenas) neste prisma que se pode compreender a escolha da<br />

Terronha de Pinhovelo para o estabelecimento de uma comunidade humana.<br />

Também como estratégia defensiva, mas neste caso, especifica à própria povoação,<br />

terá contribuí<strong>do</strong> para a escolha da Terronha de Pinhovelo como local de habitação não só o<br />

facto de apresentar uma plataforma sensivelmente regular e alongada mas, principalmente,<br />

as suas condições naturais de defesa.<br />

A elevação apresenta a Oeste, orientadas para o vale da aldeia de Pinhovelo,<br />

escarpas abruptas que tornam muito difícil o acesso ao povoa<strong>do</strong> através desse ponto.<br />

A Sul, a Norte e a Este o acesso encontrar-se-ia facilita<strong>do</strong> pelo carácter mais ou<br />

menos suave <strong>do</strong> declive. Deste mo<strong>do</strong>, é possível que se tenha verifica<strong>do</strong> a construção de<br />

estruturas muralhadas a Norte, exactamente onde o declive é mais suave. No terreno, e<br />

através de fotografias aéreas é possível verificar a existência de <strong>do</strong>is alinhamentos pétreos<br />

alonga<strong>do</strong>s e significativamente largos, de orientação aproximadamente Este-oeste<br />

interpreta<strong>do</strong>s como derrubes de duas linhas de muralhas (Barranhão, Tereso, 2006). Estes<br />

terão si<strong>do</strong> reutiliza<strong>do</strong>s já em tempos recentes como local de despejo de pedras de limpeza<br />

<strong>do</strong>s terrenos para o seu uso agrícola. Até ao momento foi detectada em <strong>do</strong>is troços <strong>do</strong><br />

primeiro alinhameto a face Norte de uma estrutura 6 . Entre as duas possíveis linhas de<br />

muralha verificam-se inúmeras evidências de utilização <strong>do</strong> espaço por estas paleocomunidades.<br />

De resto, uma estrutura que acreditamos ter deti<strong>do</strong> várias funções, entre as quais uma<br />

função defensiva, contorna o povoa<strong>do</strong> a Sul e a Este. Trata-se de um talude pétreo. Este foi<br />

já intervenciona<strong>do</strong> em duas áreas de escavação, uma em cada flanco (Carvalho et al., 1997;<br />

Barranhão, Tereso, 2006). Porém, é no espaço entre as já referidas linhas de muralha que<br />

este talude terá cria<strong>do</strong> um maior desnível, de cerca de 5 metros. Nesse mesmo sítio, o<br />

resvalar de pedras, ou uma intervenção clandestina antiga terão exposto um pequeno troço<br />

da estrutura pétrea defensiva.<br />

Se to<strong>do</strong>s estes da<strong>do</strong>s sustentam a escolha desta elevação para o estabelecimento de<br />

uma povoação em época proto-histórica, não são totalmente aplicáveis na explicação da<br />

continuação da ocupação em época romana, quan<strong>do</strong> grande parte <strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>s fortifica<strong>do</strong>s<br />

6 Um <strong>do</strong>s troços foi, infelizmente, exposto primeiramente no Inverno de 2006/2007 como consequência de um<br />

acto de vandalismo, nomeadamente a abertura de uma cavidade no amontoa<strong>do</strong> pétreo. No entanto, a sua<br />

interpretação enquanto muralha necessita de confirmação através de futuras escavações arqueológicas<br />

programadas.<br />

79


da região são aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Nessa altura, outros argumentos terão dita<strong>do</strong> essa<br />

continuidade. Se não podemos aceder a aspectos históricos muito específicos <strong>do</strong> processo<br />

de conquista que poderiam explicar parcialmente este facto, podemos pressupor que<br />

factores económicos, nomeadamente os terrenos férteis que rodeiam o povoa<strong>do</strong>, poderão<br />

ter ti<strong>do</strong>, também, um papel importante na determinação da continuidade de ocupação <strong>do</strong><br />

local.<br />

1.3. Intervenções arqueológicas programadas<br />

As intervenções na Terronha de Pinhovelo, alvo deste estu<strong>do</strong>, decorreram em três<br />

campanhas de Verão nos anos de 2004, 2005 e 2006. Estas tiveram a duração de 5, 6 e 3<br />

semanas respectivamente.<br />

Os trabalhos de campo decorreram com a direcção técnico-cientifica <strong>do</strong> signatário, da<br />

Dra. Helena Barranhão, Dra. Lúcia Miguel e Mestre Carlos Mendes. As equipas de campo<br />

foram constituídas por inúmeros voluntários, na sua maioria estudantes universitários mas<br />

também estudantes das escolas locais e outras pessoas interessadas.<br />

Visto existirem já quatro publicações visan<strong>do</strong> esta jazida, para além de três relatórios<br />

técnicos, a descrição <strong>do</strong>s contextos arqueológicos efectuar-se-á de forma sumária e<br />

orientada para a natureza <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> aqui apresenta<strong>do</strong>.<br />

A escolha das áreas intervencionadas na Terronha de Pinhovelo seguiu distintos<br />

critérios, intentan<strong>do</strong> cumprir um único objectivo: a compreensão da jazida através de uma<br />

abordagem sumária a diversos pontos específicos desta.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, o Sector A foi implanta<strong>do</strong> no extremo Sul da plataforma principal <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong>, no início <strong>do</strong> desnível menciona<strong>do</strong> supra, de forma a compreender essa zona de<br />

transição na qual se colocava, de imediato, a possibilidade de serem detectadas estruturas<br />

defensivas semelhantes às que haviam si<strong>do</strong> encontradas nas escavações de emergência<br />

realizadas em 1997 por Pedro Sobral e colabora<strong>do</strong>res no flanco Este <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> (Carvalho,<br />

et al., 1997).<br />

Com o Sector B, no topo da plataforma principal, perto das escarpas e <strong>do</strong> que se cria<br />

ser uma linha de muralha, pretendia-se encetar uma abordagem àquela que se julgava ser a<br />

principal área <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>, ao mesmo tempo que se pretendia compreender a relação desta<br />

com a muralha e a escarpa. De igual mo<strong>do</strong>, seria possível avaliar o grau da destruição que<br />

os trabalhos agrícolas haviam provoca<strong>do</strong> sobre os vestígios arqueológicos, visto serem<br />

abundantes as pedras facetadas à superfície.<br />

80


O sector C localiza-se perto <strong>do</strong> ponto mais eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong> cabeço e a sua implantação<br />

deveu-se à presença de evidências que apontavam para a existência de uma estrutura<br />

negativa de consideráveis dimensões. Esta era tida na região como um forno de cozedura<br />

de cerâmica, o que parecia comprova<strong>do</strong> pela existência de inúmeros vestígios superficiais.<br />

Foram ainda realizadas as Sondagens 1 e 2, posicionadas numa área a Norte que<br />

julgamos exterior ao povoa<strong>do</strong>, com o intuito de libertar uma área para a construção de um<br />

futuro parqueamento de mo<strong>do</strong> a dinamizar e divulgar a jazida.<br />

Embora durante a primeira campanha (2004) se tenha opta<strong>do</strong> por esta estratégia de<br />

dispersão de esforços, em 2005 só os sectores A e B foram intervenciona<strong>do</strong>s. Em 2006<br />

apenas se investiu no Sector B, com novos alargamentos.<br />

1.3.1. Sector B<br />

No sector B foram identificadas seis fases de ocupação, todas elas romanas. Da<strong>do</strong> o<br />

esta<strong>do</strong> inicial da investigação algumas destas fases estão mal caracterizadas e a sua<br />

identificação enquanto momentos distintos da utilização deste espaço corresponde a uma<br />

interpretação que poderá ser revista com a continuação <strong>do</strong>s trabalhos de campo.<br />

Para facilitar a compreensão <strong>do</strong>s contextos, a leitura destas descrições deverá ser<br />

acompanhada pela observação da planta arqueológica <strong>do</strong> Anexo X. O Sector encontra-se,<br />

para fins descritivos, dividi<strong>do</strong> em Núcleo, Zona Este e Zona Norte.<br />

Fase I<br />

Zona Este: aquela que se supõe ser a fase de ocupação mais antiga <strong>do</strong> sector B<br />

corresponde à edificação de um compartimento de planta circular na zona Sudeste. A base<br />

deste era constituída pelo afloramento de xisto regulariza<strong>do</strong> (encontrava-se visivelmente<br />

pica<strong>do</strong> em considerável profundidade) e corta<strong>do</strong> neste registou-se um buraco de poste<br />

rectangular.<br />

O compartimento encontra-se corta<strong>do</strong> por estruturas rectilíneas posteriores e terá si<strong>do</strong><br />

coberto, já quan<strong>do</strong> também essas paredes mais recentes não se encontravam em uso, por<br />

um sedimento argiloso que regularizou a zona e permitiu, segun<strong>do</strong> cremos, a reutilização <strong>do</strong><br />

local para outros fins. Este sedimento assentava directamente no afloramento/base da<br />

estrutura.<br />

O posicionamento desta estrutura na sequência de ocupação da área é, assim,<br />

meramente conjectural visto não se encontrar associada a qualquer pacote sedimentar<br />

relaciona<strong>do</strong> com a sua fase de utilização, o que limita o estabelecimento de inter-relações<br />

81


estratigráficas e não permite a associação a conjuntos artefactuais que possibilitem a<br />

atribuição de cronologias.<br />

Fase II<br />

Núcleo: construção de uma parede (U.E. B[16]) aproximadamente no centro da área.<br />

Embora seja mais antiga que as restantes construções que a envolvem, a sua identificação<br />

enquanto fase isolada é problemática. Só a continuação <strong>do</strong>s trabalhos permitirá o<br />

esclarecimento desta questão.<br />

Fase III<br />

Núcleo: aproveitan<strong>do</strong> a parede B[16] enquanto limite Norte, foi construí<strong>do</strong> um<br />

compartimento rectangular de consideráveis dimensões o Ambiente II, utilizan<strong>do</strong><br />

afloramentos como alicerces. Encostada ao afloramento que delimita parcialmente este<br />

compartimento a Este registou-se uma estrutura de combustão. Esta é constituída por uma<br />

camada de argila cozida muito plana, sobre uma base de pequenas lajes de xisto, ladeada a<br />

Norte por pequenos e alonga<strong>do</strong>s elementos da mesma matéria-prima. Cobrin<strong>do</strong><br />

parcialmente a camada de argila cozida, e entre esta e o canto de afloramento a SE, foi<br />

escava<strong>do</strong> um pequeno depósito, a U.E. B[71], com abundantes carvões e também algumas<br />

sementes. Contu<strong>do</strong>, é possível que a construção <strong>do</strong> Ambiente I não tenha inutiliza<strong>do</strong> esta<br />

estrutura e o depósito [71] pertença à fase seguinte.<br />

Figura 4.3. – Sector B: área de combustão no Ambiente II, vista geral e pormenor (visto de<br />

Noroeste e Norte, respectivamente)<br />

Zona Este: é possível que, a Este <strong>do</strong> Ambiente II, esta fase se encontre traduzida na<br />

construção das paredes B[104] e B[107] que cortam a casa circular da Fase I forman<strong>do</strong> um<br />

canto de outra área edificada. Trata-se somente de uma hipótese visto não existirem, por<br />

82<br />

[71]<br />

[72]


ora, relações estratigráficas que permitam mais fielmente reconstruir a sequência de<br />

ocupação.<br />

Zona Norte: já a Norte, e também numa base hipotética, ter-se-á construí<strong>do</strong> um<br />

compartimento (Ambiente V) e, no seu interior, nomeadamente no canto Noroeste, uma<br />

estrutura de armazenagem rectangular com base de opus signinum e revestimento argiloso<br />

(Ambiente IV). Perto desta estrutura, no la<strong>do</strong> contrário da parede B[39] encontra-se um<br />

lajea<strong>do</strong> 7 .<br />

Fase IV<br />

Núcleo: cobrin<strong>do</strong> directamente parte da estrutura de combustão de argila<br />

anteriormente descrita, durante a Fase IV ter-se-á edifica<strong>do</strong> um novo compartimento (o<br />

Ambiente I) no interior <strong>do</strong> Ambiente II, sem que se tenha verifica<strong>do</strong>, no entanto, qualquer<br />

aproveitamento das suas paredes que permaneceriam intactas. Note-se que, à semelhança<br />

<strong>do</strong> Ambiente II, também este novo compartimento é aberto para Oeste, não se verifican<strong>do</strong> aí<br />

qualquer parede 8 . Neste foram registadas três estruturas de combustão:<br />

A primeira estrutura, a partir de Este, é constituída por um pequeno murete onde se<br />

encontra apoia<strong>do</strong> um empedra<strong>do</strong> quadrangular, regular, de xisto e quartzo (alguns <strong>do</strong>s quais<br />

queima<strong>do</strong>s) com argila cozida. Junto a esta um pequeno depósito escuro, a U.E. B[63], foi<br />

removi<strong>do</strong>.<br />

Pouco mais a Oeste definiram-se <strong>do</strong>is alinhamentos pétreos. Entre ambos encontravase<br />

a segunda área de combustão, evidenciada pelo depósito B[65], repleto de carvões e<br />

sementes carbonizadas. A base da estrutura é constituída por um depósito esbranquiça<strong>do</strong><br />

circunscrito a esta estrutura.<br />

O segun<strong>do</strong> alinhamento pétreo constitui o limite Oeste desta área de combustão e o<br />

limite Este de uma terceira estrutura constituída por uma cama de pedras, de xisto e<br />

quartzo, alongada e muito irregular que forma mesmo uma depressão na sua extremidade<br />

Sul no contacto com o afloramento. Cobrin<strong>do</strong> esta estrutura encontrava-se o depósito B[66],<br />

de coloração escura e repleto de carvões e sementes.<br />

Note-se que nestas três áreas de combustão foram muito escassos os restos<br />

faunísticos recolhi<strong>do</strong>s, to<strong>do</strong>s eles de muito pequenas dimensões.<br />

7 Á semelhança da parede B[16], é difícil a integração da parede B[39] na sequência de ocupação <strong>do</strong> Sector B,<br />

embora se perceba, de forma clara que esta, aparentemente com um forte papel estruturante na zona, é mais<br />

antiga que todas as construções circundantes. Neste momento é tenta<strong>do</strong>r colocar a parede B[39] na Fase II, com<br />

a B[16], mas as relações não são tão claras. Mais uma vez esbarramos com a natural escassez de da<strong>do</strong>s<br />

resultante <strong>do</strong> pouco desenvolvimento <strong>do</strong>s trabalhos no local.<br />

8 É provável que o Ambiente II tenha si<strong>do</strong>, na sua primeira fase de utilização, um compartimento fecha<strong>do</strong>. A<br />

presença de elementos pétreos de um possível fecho a Oeste, parcialmente postas a descoberto no final da 3ª<br />

campanha, aparentam apontar nesse senti<strong>do</strong>.<br />

83


[25]<br />

Figura 4.4. – Sector B: vista geral de Ambiente I, com três áreas de combustão (vista de Oeste)<br />

[65]<br />

Zona Este: nesta área construiu-se uma estrutura de difícil interpretação. Trata-se de<br />

uma área com inúmeros elementos pétreos, maioritariamente de xisto, finca<strong>do</strong>s no solo.<br />

Muitas dessas pedras apresentavam uma característica cor rosada que evidenciava terem<br />

si<strong>do</strong> sujeitas a fogo.<br />

Também nesta fase, tal como foi anteriormente descrito, o compartimento que detinha<br />

as paredes B[104] e B[107] encontrava-se destruí<strong>do</strong> e foi, conjuntamente com o que restava<br />

da casa circular, coberto por um sedimento argiloso alaranja<strong>do</strong> (B[46]), possivelmente um<br />

piso no qual se abriu uma vala. Esta encontrava-se cheia por um depósito muito escuro,<br />

U.E. B[11], e poderá ter si<strong>do</strong> utilizada enquanto área de combustão.<br />

Zona Norte: o lajea<strong>do</strong> anteriormente descrito encontrava-se inutiliza<strong>do</strong>. Nas<br />

proximidades, e sobre derrubes de uma fase anterior, foi edifica<strong>do</strong> um lajea<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong><br />

por lajes de xisto de grandes dimensões. Os ambientes IV e V mantinham-se em utilização 9 .<br />

9 Este da<strong>do</strong> parece claro, embora uma outra possibilidade possa ser colocada: a estrutura de armazenagem<br />

denominada de Ambiente IV poderia ter si<strong>do</strong> construída nesta Fase IV, sen<strong>do</strong> o compartimento no qual se<br />

encerra, o Ambiente V mais antigo. De facto, a estrutura de armazenagem aparenta cortar o piso de ocupação<br />

de terra batida, o que pressupõe a existência de <strong>do</strong>is momentos de construção distintos.<br />

84<br />

[66]


[95]<br />

[10]<br />

[91]<br />

[46]<br />

[6]<br />

[11]<br />

Figura 4.5. – Sector B: fase IV na metade Sul da<br />

Zona Este (visto de Oeste).<br />

Figura 4.6. – Sector B: estrutura de<br />

armazenagem (Amb. IV) com derrube [82]<br />

no interior (visto de Sul).<br />

Fase V<br />

Todas as estruturas encontravam-se destruídas e cobertas por sedimentos que se<br />

depositaram naturalmente (U.E. B[3] e B[4]). No canto Nordeste da zona Este uma estrutura<br />

negativa cortava o depósito [4] e encontrava-se cheia por um sedimento escuro a U.E. B[9].<br />

Contu<strong>do</strong>, a exiguidade da área deste contexto até agora escavada não permite avançar<br />

qualquer interpretação.<br />

Fase VI<br />

Utilização recente da área para trabalhos agrícolas que terão perturba<strong>do</strong> alguns<br />

contextos arqueológicos.<br />

85


1.3.2. Sector A<br />

Foram identificadas sete fases de ocupação/aban<strong>do</strong>no na área <strong>do</strong> Sector A. Algumas<br />

permanecem, porém, apenas parcamente conhecidas.<br />

Fase I<br />

O primeiro momento de ocupação identifica<strong>do</strong> até ao momento nesta área<br />

corresponde à edificação de <strong>do</strong>is taludes pétreos (Talude Norte e Talude Sul). Estas<br />

estruturas maioritariamente constituídas por blocos e calhaus de xisto, apresentam uma<br />

orientação Oeste-Este. Actualmente num avança<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de ruína, desconhece-se a<br />

cronologia da sua construção visto no presente momento <strong>do</strong>s trabalhos de campo não terem<br />

si<strong>do</strong> intervenciona<strong>do</strong>s depósitos associa<strong>do</strong>s à fase de construção destas estruturas.<br />

Fase II<br />

Nesta fase deu-se uma reestruturação <strong>do</strong> espaço entre os <strong>do</strong>is taludes supra<br />

menciona<strong>do</strong>s implican<strong>do</strong> a construção de uma estrutura negativa, semi-circular, em<br />

materiais perecíveis, com cerca de 2m de diâmetro. No seu interior encontrava-se o<br />

depósito A[34], visivelmente repleto de macro-fosseis vegetais e com um conjunto<br />

artefactual integrável na Idade <strong>do</strong> Ferro.<br />

Fase III<br />

Sobre os derrubes da fase anterior formaram-se depósitos com conjuntos artefactuais<br />

possivelmente integra<strong>do</strong>s na Idade <strong>do</strong> Ferro.<br />

Fase IV<br />

Trata-se da primeira fase de ocupação romana. Surge representada na plataforma<br />

superior, criada com a construção <strong>do</strong> Talude Norte. Esta fase foi exposta com a remoção<br />

<strong>do</strong>s contextos da fase seguinte mas não foi ainda alvo de intervenções pelo que pouco se<br />

conhece da mesma. São visíveis paredes de um compartimento, assim como diversos<br />

níveis de derrube.<br />

Fase V<br />

Também os mais significativos vestígios desta fase encontram-se por escavar,<br />

nomeadamente estruturas negativas interpretadas como áreas de combustão.<br />

86


Fase VI<br />

Após a utilização e inutilização das estruturas de combustão da fase anterior ter-se-á<br />

procedi<strong>do</strong> ao entulhamento da plataforma superior. Neste depósito de entulho foram<br />

escavadas seis estruturas negativas com formas e profundidades variáveis. Estas<br />

encontravam-se repletas de sedimento de coloração escura e carvões, enquanto que<br />

algumas ainda continham abundante fauna mamalógica, o que conduziu à sua interpretação<br />

enquanto estruturas de combustão.<br />

Fase VII<br />

Aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> sítio enquanto povoa<strong>do</strong> e afectação por trabalhos agrícolas recentes.<br />

Traduzi<strong>do</strong> nas camadas superficiais.<br />

Figura 4.7. – Sector A: <strong>do</strong>is taludes (visto de Sul)<br />

1.3.3. Outras áreas<br />

Para<br />

além <strong>do</strong>s sectores anteriormente descritos foram abertos mais um sector e duas<br />

sondagens.<br />

O Sector<br />

C, localiza<strong>do</strong> a Norte <strong>do</strong> Sector B, não forneceu até ao momento níveis<br />

arqueológicos<br />

estruturalmente relevantes. Um derrube com diversos níveis distintos foi<br />

detecta<strong>do</strong> sen<strong>do</strong> que a grande dimensão <strong>do</strong>s elementos pétreos parece indicar a existência<br />

nas proximidades de uma estrutura de consideráveis dimensões.<br />

87


De igual mo<strong>do</strong>, a recolha de abundantes fragmentos de telhas deformadas,<br />

característicos casos de acidentes de cozedura, indicia a presença próxima de uma<br />

estrutura<br />

de forno.<br />

No sopé da elevação<br />

adjacente à Terronha de Pinhovelo, na área a Norte <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>,<br />

foram abertas duas sondagens. As sondagens 1 e 2 posicionam-se numa zona que se crê<br />

exterior<br />

ao povoa<strong>do</strong>, mas na sua imediata proximidade.<br />

Enquanto que a Sond. 2 não forneceu quaisquer vestígios arqueológicos, na Sond. 1<br />

detectou-se a presença de escassos artefactos, entre os quais um fragmento de Terra<br />

Sigillata.<br />

1.3.4. Enquadramento cronológico<br />

Não é possível, no actual esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s conhecimentos, estabelecer uma correlação<br />

entre as fases de ocupação identificadas nos distintos sectores. É claro, porém, que a fase<br />

mais antiga até agora identificada em escavação corresponde à construção <strong>do</strong>s taludes <strong>do</strong><br />

Sector A, um momento de monumentalização <strong>do</strong> espaço e possivelmente de preparação<br />

para defesa <strong>do</strong> espaço. Este momento não se encontra ainda enquadra<strong>do</strong><br />

cronologicamente.<br />

Os níveis da Idade <strong>do</strong> Ferro estão representa<strong>do</strong>s pela edificação, sobre pedras<br />

derrubadas <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s<br />

taludes, de uma estrutura semi-circular em materiais perecíveis. A<br />

integração<br />

na Idade <strong>do</strong> Ferro foi realizada com base em estu<strong>do</strong>s tipológicos <strong>do</strong> material<br />

cerâmico associa<strong>do</strong>. Efectivamente, a quase totalidade <strong>do</strong>s recipientes apresentam fabricos<br />

manuais, sen<strong>do</strong> mais abundantes os potes de perfil em S de dimensões variadas, e ainda<br />

grandes recipientes de armazenagem de perfil recto. São mais frequentes os bor<strong>do</strong>s<br />

esvasa<strong>do</strong>s e os lábios rectos, enquanto que as superfícies são cuidadas, frequentemente<br />

brunidas, por vezes com engobes de tom bege. Dois fragmentos apresentam incisões<br />

lineares<br />

de Terra Sigillata Itálica (TSI) recolhi<strong>do</strong>s no Sector A. Tratam-se de <strong>do</strong>is bor<strong>do</strong>s<br />

de pr<br />

10 .<br />

No que respeita aos níveis romanos, as mais antigas evidências correspondem a <strong>do</strong>is<br />

fragmentos<br />

atos. Segun<strong>do</strong> Ana Silva (2007), um apresenta caneluras com decoração em guilhoché<br />

e um golfinho na parede externa, corresponden<strong>do</strong> à forma IX de Atlante ou forma 21 de<br />

Conspectus; o outro bor<strong>do</strong> de prato apresenta decoração em barbotina composta por uma<br />

dupla espiral (forma X, variante 24, de Atlante ou forma 20 de Conspectus). A inserção<br />

10 O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s contextos e materiais arqueológicos da Idade <strong>do</strong> Ferro foram da responsabilidade da Dra. Lúcia<br />

Miguel, responsável técnico-científico das intervenções realizadas no Sector A.<br />

88


cronológica destes fragmentos não é unívoca enquadran<strong>do</strong>-se entre o ano 10 a.C. e<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século II d.C.<br />

Contu<strong>do</strong>, estes artefactos foram recolhi<strong>do</strong>s em níveis de revolvimentos antigos, os já<br />

menciona<strong>do</strong>s<br />

entulhamentos de estruturas romanas da fase VI <strong>do</strong> Sector A, sen<strong>do</strong> assim de<br />

pouca utilidade para a compreensão da jazida.<br />

Um outro conjunto cerâmico também <strong>do</strong><br />

Sector A, desta feita de Terra Sigillata<br />

Hispânica<br />

proveniente de Tritium Magallum, testemunha uma fase posicionada entre a<br />

segunda metade <strong>do</strong> século I e finais de II ou inícios de III (Silva, 2007).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, na área até agora escavada no Sector B não se logrou atingir níveis<br />

muito profun<strong>do</strong>s pelo que só estão <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s contextos das fases de ocupação mais<br />

recentes, já <strong>do</strong> Baixo-Império. Apesar de a produção de alguns fabricos cerâmicos aqui<br />

detecta<strong>do</strong>s poder remontar ao século III, a verdade é que usualmente perduram para fases<br />

posteriores. A maioria das produções de Terra Sigillata, nomeadamente de Terra Sigillata<br />

Hispânica Tardia (TSHT) enquadra-se mesmo nos séculos IV e V d.C, <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> as formas<br />

Ritt. 8, Drag. 35, Drag. 15/17, Hisp. 5, Palol 9/11, Hisp. 83, Hisp. 7, Palol 4 e principalmente<br />

Drag. 37 (Silva, 2007). To<strong>do</strong>s os fragmentos decora<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s inserem-se nesta última<br />

forma.<br />

Não<br />

deixa de ser interessante notar que no Sector A a cerâmica TSHT é quase<br />

inexistente,<br />

enquanto que no Sector B assume praticamente a exclusividade entre a<br />

cerâmica fina importada (à excepção de escassos fragmentos de TSH). Trabalhos futuros<br />

deverão esclarecer as diferenças entre as duas áreas de escavação permitin<strong>do</strong> um mais<br />

preciso enquadramento cronológico das fases identificadas nos mesmos.<br />

Por fim, relembramos que a primeira intervenção realizada na Terronha<br />

de Pinhovelo,<br />

no seu<br />

flanco Este, havia exposto fases de ocupação enquadradas num espaço de tempo<br />

entre os séculos I e IV/V d.C. (Carvalho, et al., 1997).<br />

89


2. Estu<strong>do</strong> paleobotânico<br />

2.1. Os contextos amostra<strong>do</strong>s<br />

Descrevem-se em seguida as unidades estratigráficas amostradas para estu<strong>do</strong><br />

paleobotânico:<br />

TP.Lab. - Amostras resultantes da flutuação <strong>do</strong>s sedimentos:<br />

[3]<br />

Depósito argilo-arenoso, moderadamente duro, castanho amarela<strong>do</strong>/alaranja<strong>do</strong> claro; com<br />

xisto sub-anguloso e arre<strong>do</strong>nda<strong>do</strong>, até 20cm, ocasional; alguns nódulos de argila cozida,<br />

raízes ocasionais.<br />

As amostras tratadas foram recolhidas aquan<strong>do</strong> da definição da área de combustão<br />

caracterizada pelo depósito [66], estan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s a este. A restante, ampla, extensão <strong>do</strong><br />

depósito não foi amostrada.<br />

TSHT: séculos III-IV e IV-V.<br />

Fase: V.<br />

[4]<br />

Depósito arenoso, moderadamente duro/duro, castanho médio/escuro, com xisto anguloso e<br />

sub-rola<strong>do</strong>, até 20cm, frequente; com abundantes materiais arqueológicos; com raízes<br />

frequentes.<br />

A amostra foi recolhida na definição de uma estrutura composta por pedras fincadas, muitas<br />

delas queimadas (U.E.[93]) na área Este <strong>do</strong> Sector B. A restante, ampla, extensão <strong>do</strong><br />

depósito não foi amostrada.<br />

TSHT: séculos IV-V<br />

Fase: V.<br />

[9]<br />

Depósito castanho acinzenta<strong>do</strong> muito escuro, areno-argiloso e duro, com xisto menor que<br />

10cm, abundante; com raízes frequentes.<br />

Localiza<strong>do</strong> na área Este <strong>do</strong> Sector B, mais precisamente no canto NE. Encontra-se<br />

parcialmente defini<strong>do</strong>, corresponden<strong>do</strong>-lhe ainda uma área definida muito diminuta. Deverá<br />

90


encontrar-se a encher uma estrutura negativa que, nos trabalhos de campo julgou-se ser<br />

uma estrutura de combustão.<br />

Fase: V.<br />

[11]<br />

Depósito castanho acinzenta<strong>do</strong> muito escuro, areno-argiloso, moderadamente duro, com<br />

abundantes elementos pétreos, xisto, até 30cm; com raízes frequentes.<br />

Localiza<strong>do</strong> no canto SE da área de escavação este depósito enche uma estrutura negativa.<br />

Trata-se de um contexto que não está completamente defini<strong>do</strong> mas que poderá<br />

corresponder a uma estrutura de combustão.<br />

Fase: IV.<br />

[20]<br />

Derrube pétreo envolto num depósito castanho alaranja<strong>do</strong>, areno-argiloso, moderadamente<br />

duro, com frequentes nódulos de argila, com xisto sub-anguloso até 15cm, com raízes<br />

ocasionais.<br />

Depósito localiza<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> Ambiente I. Trata-se <strong>do</strong> derrube das paredes <strong>do</strong> mesmo,<br />

em conjunto com parte <strong>do</strong>s depósitos por este perturba<strong>do</strong>s. As amostras tratadas foram<br />

recolhidas aquan<strong>do</strong> da definição <strong>do</strong> depósito [65], sedimento de uma estrutura de<br />

combustão.<br />

TSHT: séculos III-V<br />

Fase: IV.<br />

[21]<br />

Depósito castanho alaranja<strong>do</strong>, argilo-arenoso, moderadamente duro, com xisto anguloso,<br />

até 10cm, escasso; com raízes escassas.<br />

Localiza<strong>do</strong> no canto SE <strong>do</strong> Ambiente II, abaixo <strong>do</strong> derrube pétreo <strong>do</strong> mesmo. Havia carvões<br />

concentra<strong>do</strong>s na parede Sul, junto ao canto, e também carvões dispersos pela pequena<br />

extensão deste confina<strong>do</strong> depósito.<br />

Fase: IV.<br />

91


[22]<br />

Depósito castanho alaranja<strong>do</strong> escuro, argilo-arenoso, moderadamente duro, com abundante<br />

fauna mamalógica (algumas porções de grande dimensão); com xisto anguloso até 10cm,<br />

escasso.<br />

Nível de aban<strong>do</strong>no, provavelmente associa<strong>do</strong> ao derrube [23] e à estrutura de combustão<br />

representada pelo depósito [71], no interior <strong>do</strong> Ambiente II. Depósito muito circunscrito.<br />

Fase: IV.<br />

[24]<br />

Depósito castanho amarela<strong>do</strong>/alaranja<strong>do</strong> claro, argilo-arenoso, moderadamente duro e cuja<br />

definição foi muito difícil de conseguir dada as grandes semelhanças com a UE [70].<br />

Depósito localiza<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> Ambiente II, possivelmente um nível de ocupação. Não é<br />

clara a associação à estrutura de combustão [71] mas é possivelmente contemporâneo de<br />

uma fase da sua utilização.<br />

Fase: IV.<br />

[50]<br />

Depósito castanho acinzenta<strong>do</strong> claro, areno-argiloso, muito duro, com xisto anguloso até<br />

5cm, frequente e quartzo sub-anguloso até 5cm, ocasional; com raízes ocasionais.<br />

Localiza<strong>do</strong> no exterior mas junto ao limite Oeste <strong>do</strong> Ambiente II, prolongan<strong>do</strong>-se para o<br />

Ambiente I, corresponde à regularização da zona para se constituir como piso. As amostras<br />

foram recolhidas a Oeste <strong>do</strong> Ambiente II.<br />

Fase: IV.<br />

[63]<br />

Depósito castanho médio-escuro, areno-argiloso, moderadamente duro.<br />

Pequeno depósito muito circunscrito, localiza<strong>do</strong> perto da estrutura de combustão [25], no<br />

Ambiente I. Recolhi<strong>do</strong> integralmente.<br />

Fase: IV.<br />

[65]<br />

Depósito castanho acizenta<strong>do</strong> médio com tonalidade por vezes amarelada, areno-argiloso,<br />

moderadamente duro, com pequenos nódulos de argila cozida, com raízes ocasionais.<br />

92


Ladea<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is alinhamentos pétreos, trata-se de uma das três áreas de combustão <strong>do</strong><br />

Ambiente I (a <strong>do</strong> meio). Recolhi<strong>do</strong> integralmente, bem como as terras da sua definição que<br />

ainda pertenciam ao depósito [20].<br />

Fase: IV.<br />

[66]<br />

Depósito castanho médio, por vezes castanho escuro, areno-argiloso, moderadamente duro,<br />

com alguns nódulos de argila cozida, com escasso cascalho de xisto até 5cm, com raízes<br />

ocasionais.<br />

Cobrin<strong>do</strong> uma base de lareira (um empedra<strong>do</strong> tosco) no limite Oeste <strong>do</strong> Ambiente I, trata-se<br />

<strong>do</strong> sedimento de uma estrutura de combustão. Recolhi<strong>do</strong> integralmente, bem como as terras<br />

da sua definição que ainda pertenciam ao depósito [3].<br />

Fase: IV.<br />

[70]<br />

Depósito castanho alaranja<strong>do</strong> médio a escuro, areno-argiloso, moderadamente duro, com<br />

xisto angulosos e sub-anguloso menor que 10cm, frequente; com raízes ocasionais e alguns<br />

fragmentos de telha no topo.<br />

Estenden<strong>do</strong>-se em grande parte <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Ambiente II é duvi<strong>do</strong>so se se trata de um<br />

nível de ocupação, sen<strong>do</strong> provável que seja o último nível de derrube deste compartimento.<br />

De qualquer forma, caracteriza-se pela presença de algumas concentrações de carvões e<br />

também pela existência de carvões dispersos pelo depósito. Foram recolhidas amostras<br />

pontuais que atestaram a riqueza em fitoclastos e permitiram a caracterização <strong>do</strong> depósito.<br />

Fase: IV.<br />

[71]<br />

Depósito castanho acinzenta<strong>do</strong> médio, areno-argiloso, moderadamente duro.<br />

Localiza<strong>do</strong> parcialmente sobre a base de argila [72] da estrutura de combustão <strong>do</strong> Ambiente<br />

II e entre esta e o afloramento a Este. Trata-se de um depósito diminuto com cerca de 4kg<br />

de sedimento que resulta da última utilização da referida estrutura. A amostra constitui uma<br />

recolha integral.<br />

Fase: III.<br />

93


[82]<br />

Depósito castanho acinzenta<strong>do</strong> médio-escuro, areno-argiloso, solto, com xisto anguloso até<br />

20cm, frequente; com raízes frequentes.<br />

Derrube ou entulhamento proposita<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ambiente IV, estrutura de armazenagem<br />

rectangular localizada no canto NW <strong>do</strong> compartimento/Ambiente V. Recolha pontual para<br />

verificar a riqueza em macro-restos.<br />

Fase: III.<br />

[95]<br />

Depósito castanho médio, por vezes castanho escuro, areno-argiloso, moderadamente duro,<br />

com xisto sub-anguloso menor que 20cm, escasso; com raízes ocasionais.<br />

Localiza<strong>do</strong> a Este da estrutura circular, encostan<strong>do</strong> a esta. Recolhas para averiguar a<br />

riqueza em macro-restos dispersos e recolha no interior de recipiente muito aberto, aí<br />

descoberto em bom esta<strong>do</strong> de conservação.<br />

Fase: III.<br />

TP.RM. - Amostras correspondentes a recolhas manuais:<br />

[5]<br />

Nível de derrube com sedimento castanho escuro, arenoso (a Norte) e alaranja<strong>do</strong> vivo,<br />

argilo-arenoso (a Sul). A zona de contacto não é muito perceptível. Com xisto abundante,<br />

por vezes maior que 15cm, com raízes ocasionais.<br />

Localiza<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> Ambiente II, a zona Sul deverá ser derrube <strong>do</strong> muro [14] (parede<br />

Norte <strong>do</strong> Ambiente I que tombou para o interior <strong>do</strong> compartimento que o ladeava), a área a<br />

Norte deverá ser derrube <strong>do</strong> muro [16] (parede Norte <strong>do</strong> Ambiente II).<br />

TSHT: séculos III- início de IV<br />

Fase: IV.<br />

[6]<br />

Derrube envolto num depósito castanho alaranja<strong>do</strong>, argilo-arenoso, moderadamente duro a<br />

solto, com xisto sub-anguloso e anguloso abundante, maior que 15cm; com raízes<br />

abundantes.<br />

94


Localiza<strong>do</strong> no espaço constrito <strong>do</strong> canto SE <strong>do</strong> Ambiente II, é a continuação <strong>do</strong> derrube [5]<br />

com o qual se estabeleceu uma relação de equivalência. Trata-se de um derrube pétreo<br />

com sedimento semelhante ao ligante de parede [12] (parede <strong>do</strong> Ambiente I) e a depósito<br />

[21] que se encontra coberto por [6].<br />

Fase: IV.<br />

[23]<br />

Derrube envolto num depósito castanho médio, areno-argiloso, moderadamente duro, com<br />

fauna mamalógica abundante; com xisto anguloso até 25cm abundante; com raízes<br />

escassas.<br />

Localiza<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> Ambiente II, trata-se de um nível de derrube das paredes deste<br />

mesmo compartimento. É um segun<strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mesmo derrube defini<strong>do</strong> pela U.E.[5],<br />

distingui<strong>do</strong> pela posição engana<strong>do</strong>ramente mais horizontal de alguns blocos pétreos.<br />

TSHT: século III- início de IV<br />

Fase: IV.<br />

[43]<br />

Derrube envolto num depósito castanho alaranja<strong>do</strong>, argilo-arenoso, duro; com xisto<br />

anguloso e sub-anguloso, por vezes maior que 15cm, frequente; com raízes frequentes.<br />

Localiza<strong>do</strong> na zona Norte <strong>do</strong> Sector B, entre o muro central e o corte Oeste, trata-se de um<br />

derrube pétreo.<br />

Fase: IV.<br />

[46]<br />

Depósito castanho amarela<strong>do</strong> e alaranja<strong>do</strong>, claro, areno-argiloso, moderadamente duro,<br />

com xisto sub-anguloso até 10cm, escasso; com raízes ocasionais.<br />

Coberto por [3] encontrava-se no interior <strong>do</strong> que restava <strong>do</strong> compartimento de planta<br />

circular, um possível nível de regularização para criai piso de ocupação (cobria o buraco de<br />

poste da cabana).<br />

Fase: III.<br />

[47]<br />

Depósito castanho amarela<strong>do</strong>, areno-argiloso, moderadamente duro a solto, com xisto<br />

anguloso até 40cm, muito abundante; com raízes de grandes dimensões muito abundantes.<br />

95


Nível de derrube <strong>do</strong> Ambiente V.<br />

TSHT: séculos III-IV, III-V e IV-V.<br />

Fase: IV.<br />

[49]<br />

Depósito castanho alaranja<strong>do</strong>, argilo-arenoso, duro, com abundante cerâmica de<br />

construção; com xisto anguloso até 15cm, escasso; com raízes ocasionais.<br />

Localiza<strong>do</strong> na zona Norte <strong>do</strong> Sector B, entre o muro central e o corte Oeste, trata-se de um<br />

derrube de telha<strong>do</strong>.<br />

Fase: III.<br />

[53]<br />

Derrube envolto em depósito castanho médio com pequenos nódulos amarela<strong>do</strong>s, argiloarenoso,<br />

duro, com xisto anguloso até 25cm, frequente; com raízes abundantes.<br />

Derrube pétreo localiza<strong>do</strong> no Ambiente V, coberto por [47].<br />

TSHT: séculos III-IV e IV-V.<br />

Fase: III.<br />

[68]<br />

Depósito castanho alaranja<strong>do</strong> escuro, argilo-arenoso, moderadamente duro, com xisto subanguloso<br />

até 15cm, escasso.<br />

Depósito muito circunscrito, semelhante a [22] mas sem contacto físico directo, poderá ser<br />

parte <strong>do</strong> derrube localiza<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> Ambiente II.<br />

Fase: IV.<br />

[86]<br />

Depósito castanho rosa<strong>do</strong>/alaranja<strong>do</strong> claro, areno-argiloso, duro, com escassa potência<br />

sedimentar, com xisto anguloso por vezes maior que 20cm, escasso; com raízes ocasionais.<br />

Localiza<strong>do</strong> no interior de Ambiente V, possível nível de base de derrube.<br />

Fase: III.<br />

96


2.2. Antracologia: análise de da<strong>do</strong>s<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> antracológico encontram-se representa<strong>do</strong>s nos quadros 4.1 e<br />

4.2, para as recolhas de flutuação e recolhas manuais, respectivamente.<br />

Espécie V3 V9 IV11 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV63 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 Total<br />

Alnus glutinosa 1 1<br />

Arbutus une<strong>do</strong> 3 1 8 16 15 2 1 24 3 73<br />

cf. Arbutus une<strong>do</strong> 1 1 2<br />

Cistus sp. 2 3 2 14 2 6 29<br />

cf. Cistus sp. 2 13 2 3 4 1 7 8 6 46<br />

Corylus avelana 1 1<br />

Cytisus/Genista/Ulex 1 4 1 2 8<br />

Erica arborea 2 1 3<br />

Erica arborea/australis/scoparia 1 2 3<br />

Erica australis/arborea 2 2<br />

Erica australis 2 1 3<br />

Erica scoparia 1 1<br />

Erica umbellata 2 1 1 4<br />

Erica cf. umbellata 1 1<br />

Erica scoparia/umbellata 1 3 4<br />

Erica sp. 1 1 2<br />

cf. Erica sp. 1 1 1 3<br />

cf. Erica arborea 8 8<br />

Fraxinus angustifolia 1 1 3 1 1 2 11 1 21<br />

cf. Fraxinus angustifolia 1 1 1 2 5<br />

Juglans regia 1 1<br />

Pinus pinaster 9 1 2 13 31 3 4 3 12 18 37 13 2 1 149<br />

Pinus sp. 3 3 1 7 2 1 17<br />

Quercus coccifera 2 2<br />

Quercus cf. coccifera 1 1 3 5<br />

Quercus ilex 8 3 1 2 14<br />

Quercus cf. ilex 2 2<br />

Quercus faginea 1 6 2 15 2 2 1 9 2 40<br />

Quercus cf. faginea 2 3 1 1 7<br />

Quercus pyrenaica (tipo) 7 7 11 14 2 29 5 1 17 1 94<br />

Quercus perenifolia 2 1 9 6 5 5 2 1 5 12 1 4 53<br />

Quercus suber 2 1 7 5 8 5 1 1 24 3 3 5 65<br />

Quercus suber/coccifera 5 1 3 2 2 4 1 2 2 1 5 1 29<br />

Quercus subgenus Quercus 1 5 13 20 4 1 1 27 6 6 3 1 88<br />

Quercus sp. 20 3 10 24 18 12 4 6 43 10 14 3 4 1 172<br />

cf. Quercus sp. 1 1<br />

Sorbus sp. 1 1<br />

Ulmus minor 2 2 4<br />

Casca 2 2 1 5<br />

Angiospermica 3 1 2 5 3 1 1 2 1 19<br />

Indetermina<strong>do</strong> 8 11 5 17 1 4 3 1 10 17 7 16 10 110<br />

Total 70 7 84 110 191 33 10 25 17 166 80 142 99 50 14 1098<br />

Quadro<br />

4.1. – Antracologia: resulta<strong>do</strong>s das recolhas de flutuação (Lab.)<br />

97


Espécie IV5 IV6 IV11 IV22 IV23 IV43 IV47 IV68 III46 III49 III53 III82 III86 III95 Total<br />

Alnus glutinosa 1 1<br />

Arbutus une<strong>do</strong> 10 1 2 1 20 1 5 5 1 46<br />

Cistus sp. 1 2 1 2 2 5 2 6 2 23<br />

cf. Cistus sp. 1 1 1 3<br />

Erica australis/arborea 3 3<br />

Erica australis 4 1 1 1 7<br />

Erica umbellata 1 2 3<br />

Erica scoparia 1 1 3 1 1 7<br />

Erica scoparia/umbellata 1 1<br />

Erica scoparia/australis 1 1<br />

cf. Erica sp. 2 2 4<br />

cf. Erica arborea 2 4 6<br />

Fraxinus angustifolia 2 2 5 14 7 4 34<br />

cf. Fraxinus angustifolia 1 1<br />

Hedera helix 1 1<br />

Leguminosae 1 1<br />

Pinus pinaster 10 4 20 32 1 4 2 9 1 6 89<br />

Pinus sp. 1 2 3<br />

Prunus spinosa 1 1<br />

Quercus coccifera 1 1<br />

Quercus ilex 1 6 1 1 1 1 11<br />

Quercus faginea 6 3 8 21 3 3 3 3 2 1 53<br />

Quercus pyrenaica (tipo) 2 2 12 7 2 2 1 3 1 5 1 8 46<br />

Quercus perenifolia 1 1 1 1 1 5<br />

Quercus suber 7 2 19 3 15 3 12 2 12 23 10 1 4 113<br />

Quercus suber/coccifera 2 1 1 4<br />

Quercus subgenus Quercus 2 7 3 2 2 3 2 3 24<br />

Quercus sp. 5 2 5 1 2 1 1 1 1 19<br />

Rosa sp. 1 1<br />

Sorbus sp. 2 2<br />

Angiospermica 6 4 1 11<br />

Indetermina<strong>do</strong> 1 2 4 2 1 5 1 16<br />

Total 24 30 73 27 76 25 97 16 34 53 52 14 6 14 541<br />

Quadro 4.2. – Antracologia: resulta<strong>do</strong>s das recolhas manuais (RM)<br />

2.2.1. Amostras de flutuação - LAB.<br />

A análise de da<strong>do</strong>s foi realizada segun<strong>do</strong> critérios de presença/ausência. É sabi<strong>do</strong> que<br />

a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de análises de material lenhoso disperso deverá ser realizada<br />

com bastante cautela, não conduzin<strong>do</strong> a interpretações ecológicas lineares. Assim, a<br />

ausência ou presença de espécies numa amostra não implicam um reflexo inequívoco da<br />

paisagem mas sim o resulta<strong>do</strong> de opções humanas espelhadas em determina<strong>do</strong>s depósitos<br />

de determina<strong>do</strong>s contextos. As interpretações derivadas das análises estatísticas deverão<br />

ser preferencialmente culturais e funcionais.<br />

Um conjunto de PCA e RDA foram obti<strong>do</strong>s de forma a detectar diferenças entre U.E. e<br />

identificar eventuais padrões na distribuição das espécies, ilustrativos da sua ecologia e<br />

porte. Desta forma, o RDA, que inclui os factores descritivos das espécies, não contemplou<br />

os tipos xilotómicos de identificação mais duvi<strong>do</strong>sa 11 .<br />

11 Refere-se “tipos xilotómicos” e não “espécies” pois alguns tipos xilotómicos não definem mais <strong>do</strong> que um<br />

género mas devem ser incluí<strong>do</strong>s na análise de mo<strong>do</strong> a conferir alguma leitura ao gráfico e garantir a<br />

representatividade de determinadas U.E.<br />

98


Os resulta<strong>do</strong>s da análise multivariada encontram-se expressos nos gráficos das figuras<br />

4.8 a 4.11. Nestes gráficos as amostras estão representadas por um código indican<strong>do</strong> a<br />

Fase e a unidade estratigráfica (ex. IV65); as espécies estão referidas pelos códigos<br />

indica<strong>do</strong>s no quadro 4.5 e as variáveis externas (ecologia e porte) pelos códigos referi<strong>do</strong>s<br />

nos quadros 4.3 e 4.4.<br />

Os PCA das figuras 4.8 e 4.9 salientam a existência de três principais grupos de<br />

amostras (U.E.):<br />

1. A amostra IV11, que deve a sua originalidade aos tipos xilotómicos Esu, Euc, Qc e<br />

Cy, ou seja tipos pouco frequentes na totalidade das amostras mas que se concentram<br />

nesta em particular.<br />

2. As amostras V9, IV24, IV50, IV63, e III95, constituem-se como amostras com pouca<br />

variabilidade específica, ou seja, com poucos tipos xilotómicos (as únicas com menos de<br />

dez). Na verdade o que serve de base a este grupo homogéneo é exactamente o facto de<br />

se estabelecer uma correlação negativa com a generalidade <strong>do</strong>s tipos xilotómicos.<br />

Salienta-se ainda a U.E. [63], cuja originalidade se deve à presença <strong>do</strong> único<br />

fragmento de Sorbus sp. de todas as amostragens de flutuação (Lab.). Deve ser referi<strong>do</strong>,<br />

contu<strong>do</strong>, que entre as amostras de IV11, de recolha manual (RM) da unidade estratigráfica<br />

IV11 (não incluídas na análise numérica), foi identifica<strong>do</strong> este mesmo tipo xilotómico.<br />

3. O último grupo inclui as restantes amostras, exactamente aquelas que detêm a<br />

maior quantidade de tipos xilotómicos identifica<strong>do</strong>s. A distinção de <strong>do</strong>is sub-grupos<br />

encontra-se determinada pela associação ao conjunto de V3, IV20, IV65, IV70 e III71 de<br />

tipos pouco comuns como Qcc, Ca, Um, Ag e cAu.<br />

É perceptível que as U.E. que têm menos variabilidade de espécies são aquelas que<br />

mais se destacam, agrupan<strong>do</strong>-se no conjunto 2, acima menciona<strong>do</strong>. Ou seja, quanto maior<br />

for a quantidade de tipos xilotómicos que detêm, menor é a originalidade das U.E. A única<br />

excepção é exactamente a amostra com mais tipos xilotómicos, a IV11, devi<strong>do</strong> às razões<br />

acima expostas.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os tipos Eas, Qp e Qsc, segui<strong>do</strong>s de Fa e Qf são elementos<br />

determinantes para a distinção e distribuição das amostras. A presença ou ausência nas<br />

U.E. <strong>do</strong>s elementos em questão apresenta-se como principal factor de<br />

semelhança/dissemelhança ao nível da composição florística das amostras.<br />

Por sua vez, os RDA das figuras 4.10. e 4.11. demonstram a existência de <strong>do</strong>is grupos<br />

de difícil distinção, isto é, com muitas semelhanças ao nível ecológico e de porte:<br />

99


1. Um conjunto de U.E. encontra-se relaciona<strong>do</strong> com o factor ecológico Bper (Bosques<br />

de perenifólias). Tal deve-se em parte à abundância de amostras com Quercus ilex e<br />

Quercus perenifolia e também a uma correlação negativa com a ecologia Rip (Vegetação<br />

ripícola). De facto, algumas U.E. das presentes neste grupo, [9], [24], [50], [63], [66], [82] e<br />

[95], são os únicos contextos nos quais não se verifica a presença de Fraxinus angustifolia,<br />

a espécie ripícola representada em mais amostras.<br />

2. Algumas amostras, nomeadamente V3, IV20, IV22 e IV70, apresentam-se<br />

conectadas com espécies de porte B (pequenas arvores a arbustos) e A (arbóreo) e também<br />

a formações de Bcad (Bosques de cadicifólias). Este carácter deve-se à sua associação a<br />

espécies como a azinheira, carvalho-cerquinho e Quercus perenifolia (tipos morfológicos<br />

associa<strong>do</strong>s ao porte A e B) e Carvalho-negral e Quercus subgenus Quercus (de formações<br />

Bcad).<br />

Este grupo 2 apresenta uma correlação negativa com os giestais, estevais e urzais de<br />

Erica scoparia, Erica umbellata e Erica australis, ou seja, com formações arbustivas.<br />

Uma breve análise quantitativa (RDA da figura 4.11.) demonstra que o Pinheiro bravo<br />

é a espécie presente num maior número de amostras. Na verdade, só se encontra ausente<br />

da amostra IV63. Como tal, Pinus pinaster surge associa<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os tipos xilotómicos<br />

identifica<strong>do</strong>s, com excepção de Sorbus sp., a única espécie exclusiva de IV63. Contu<strong>do</strong>,<br />

como foi já referi<strong>do</strong>, nas recolhas manuais (RM) surgem também fragmentos desta<br />

Rosaceae, nomeadamente em amostras da U.E. [11], aí associa<strong>do</strong>s a Pinus pinaster.<br />

É também evidente que as espécies arbustivas surgem em poucas amostras. Porém,<br />

poder-se-á supor que o facto deste RDA incluir maioritariamente casos de identificação<br />

específica terá conduzi<strong>do</strong> a uma sub-representação das urzes, as quais, em fragmentos de<br />

carvão de pequena dimensão é difícil de ir além de grupos xilotómicos mais amplos. A<br />

simples observação <strong>do</strong> quadro 4.1. demonstra que a inclusão <strong>do</strong>s tipos morfológicos mais<br />

amplos iria alterar pouco as leituras aqui expostas.<br />

Por fim deve ser referi<strong>do</strong> que os tipos xilotómicos Quercus ilex e Quercus perenifolia<br />

surgem associa<strong>do</strong>s usualmente a amostras onde <strong>do</strong>minam as espécies arbóreas (ver<br />

também quadro 4.3 onde após leitura atentada, este facto torna-se visível).<br />

100


-0.6 1.0<br />

Qp<br />

Qf<br />

QQ<br />

Fa<br />

Ci<br />

Qsc<br />

Au<br />

Qfc<br />

cCi<br />

Pi<br />

Eu<br />

Qcc<br />

IV21<br />

IV65<br />

Esu<br />

Ag<br />

Er<br />

cAu<br />

Ear<br />

Euc<br />

Qc<br />

Ca<br />

-1.0 0.6<br />

Cy<br />

cEar<br />

Eaa<br />

IV66<br />

Eas<br />

cFa<br />

III82<br />

Jr<br />

Qic Es<br />

Qpe<br />

Qs<br />

IV22<br />

Pp<br />

cEr<br />

IV11<br />

Qi<br />

IV20<br />

IV70 Um<br />

V3<br />

Ea<br />

So<br />

IV24<br />

IV50<br />

Figuras 4.8. – Antracologia: PCA com diferentes amostras e tipos<br />

morfológicos·<br />

III71<br />

IV63<br />

V9<br />

III95<br />

101<br />

-1.0 1.2<br />

IV65<br />

IV21<br />

IV20<br />

IV66<br />

IV11<br />

IV70<br />

III82<br />

V3<br />

III71<br />

-1.0 1.0<br />

Figura 4.9. – Antracologia: quantidades de tipos morfológicos por<br />

amostra (ver Quadros 4.4. e 4.5 para legenda)<br />

IV22<br />

IV50<br />

III95<br />

IV63<br />

V9<br />

IV24


-0.7 0.8<br />

Ear<br />

Rip<br />

So<br />

G<br />

Ag Ca<br />

Um Fa<br />

Jr<br />

Es<br />

Arb<br />

Ci<br />

Cy Eu<br />

Ea<br />

Qc<br />

Bcad<br />

-0.8 1.0<br />

IV63<br />

Bper<br />

Figura 4.10. – Antracologia: RDA com amostras, tipos morfológicos e variáveis<br />

explicativas<br />

A<br />

Qs<br />

Qi<br />

Qpe<br />

III95<br />

Qf<br />

IV20<br />

B<br />

IV24<br />

III71<br />

IV11<br />

V9<br />

Qp<br />

Au<br />

IV70<br />

IV65<br />

IV50<br />

IV21<br />

IV22<br />

V3<br />

III82<br />

IV66<br />

QQ<br />

Pp<br />

Pin<br />

-0.8 0.8<br />

102<br />

Ear<br />

Rip<br />

So<br />

G<br />

Fa<br />

Ag<br />

Jr<br />

Es<br />

Ca<br />

Um<br />

Arb<br />

Qc<br />

Eu Ea<br />

Cy<br />

Ci<br />

IV63<br />

Bcad<br />

Bper<br />

-0.8 1.0<br />

Figura 4.11. – Antracologia: RDA com quantidade de amostras nas<br />

quais se encontra cada tipo morfológico<br />

Qs<br />

A<br />

III95<br />

Qf<br />

Qpe<br />

Qi<br />

Qp<br />

IV20<br />

B<br />

IV24<br />

III71<br />

IV11<br />

V9<br />

IV70<br />

IV65<br />

IV50<br />

IV21<br />

Au<br />

IV22<br />

V3<br />

III82<br />

IV66<br />

QQ<br />

Pin<br />

Pp


Código Ecologia<br />

Arb Formações arbustivas<br />

Bcad Bosques de caducifólias<br />

Bper Bosques de perenifólias<br />

Pin Pinhal<br />

Rip Bosques/Galerias rípicolas<br />

Quadro 4.3. – Antracologia: variável Ecologia<br />

(legenda)<br />

Código Porte<br />

A Arbóreo<br />

B Pequenas árvores (a arbustos)<br />

G Arbustivo<br />

Quadro 4.4. – Antracologia: variável Porte<br />

(legenda)<br />

Espécie Codigo<br />

Arb<br />

Ecologia<br />

Bcad Bper Pin Rip A<br />

Porte<br />

B G<br />

Alnus glutinosa Ag 0 0 0 0 1 1 0<br />

Arbutus une<strong>do</strong> Au 0 0 1 0 0 1 1<br />

Cistus sp. Ci 1 0 0 0 0 0 0<br />

Corylus avelana Ca 0 0 0 0 1 1 0<br />

Cytisus/Genista/Ulex Cy 1 0 0 0 0 0 0<br />

Erica arborea Ear 1 1 0 0 1 0 0<br />

Erica australis Ea 1 0 0 0 0 0 0<br />

Erica scoparia Es 1 1 1 0 0 0 0<br />

Erica umbellata Eu 1 0 0 0 0 0 0<br />

Fraxinus angustifolia Fa 0 0 0 0 1 1 0<br />

Juglans regia Jr 0 0 0 0 1 1 0<br />

Pinus pinaster Pp 0 1 0 1 0 1 0<br />

Quercus coccifera Qc 1 0 1 0 0 1 0<br />

Quercus ilex Qi 1 0 1 0 0 1 1<br />

Quercus faginea Qf 1 1 1 0 0 1 1<br />

Quercus pyrenaica (tipo) Qp 0 1 0 0 0 1 0<br />

Quercus perenifolia Qpe 1 0 1 0 0 1 1<br />

Quercus suber Qs 0 0 1 0 0 1 0<br />

Quercus subgenus Quercus QQ 0 1 0 0 0 1 1<br />

Sorbus sp. So 0 1 0 0 1 0 0<br />

Ulmus minor Um 0 0 0 0 1 1 0<br />

Quadro 4.5. (1) – Antracologia: código de tipos morfológicos e atribuição de Ecologia e Porte<br />

Grupos xilotómicos Código<br />

cf. Arbutus une<strong>do</strong> cAu<br />

cf. Cistus sp. cCi<br />

Erica arborea/australis/scoparia Eas<br />

Erica australis/arborea Eaa<br />

Erica cf. umbellata Euc<br />

Erica scoparia/umbellata Esu<br />

Erica sp. Er<br />

cf. Erica sp. cEr<br />

cf. Erica arborea cEar<br />

cf. Fraxinus angustifolia cFa<br />

Pinus sp. Pi<br />

Quercus cf. coccifera Qcc<br />

Quercus cf. ilex Qic<br />

Quercus cf. faginea Qfc<br />

Quercus suber/coccifera Qsc<br />

Quercus sp. Qu<br />

cf. Quercus sp. cQu<br />

Quadro 4.5. (2) – Antracologia: código de tipos morfológicos<br />

103<br />

0<br />

0<br />

1<br />

0<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

1<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

1<br />

0


2.2.2. As recolhas manuais - RM<br />

Entre as inúmeras recolhas manuais efectuadas durante os trabalhos arqueológicos <strong>do</strong><br />

Sector B da Terronha de Pinhovelo foram seleccionadas algumas para análise neste estu<strong>do</strong>.<br />

Os critérios de selecção prenderam-se com as seguintes motivações:<br />

- Acrescentar da<strong>do</strong>s complementares para U.E. que forneceram poucos carvões nas<br />

amostras tratadas por flutuação e ao mesmo tempo comparar a eficácia <strong>do</strong>s diferentes tipos<br />

de recolha.<br />

- Averiguar realidades consideradas relevantes que não foram amostradas de forma<br />

sistemática para flutuação.<br />

Como é visível, comparan<strong>do</strong> os quadros 4.1. e 4.2., as U.E. [11], [22], [82] e [95],<br />

forneceram de um mo<strong>do</strong> geral menos tipos xilotómicos que as amostragens de flutuação<br />

das mesmas realidades. O caso mais evidente é a U.E. [82].<br />

De resto, as recolhas manuais de macro-restos vegetais forneceram somente três<br />

novos tipos xilotómicos face às recolhas por flutuação. Tratam-se de., Prunus spinosa,<br />

Hedera helix e Rosa sp e, com excepção deste último detecta<strong>do</strong> na U.E. [95], foram<br />

recolhi<strong>do</strong>s em contextos que não foram alvo de flutuações de sedimentos.<br />

Os derrubes <strong>do</strong> Compartimento/Ambiente II, U.E. [5], [6] e [23], são muito semelhantes<br />

entre si, apesar de a primeira apresentar algumas especificidades (Arbutus une<strong>do</strong>, Cistus sp<br />

e Prunus spinosa).<br />

Foram estudadas as amostras IV43] e III49, cujas posições estratigráficas se definem<br />

pelas suas relações físicas directas da seguinte forma na matriz de Harris:<br />

43<br />

49<br />

Apesar de se verificarem algumas semelhanças entre os <strong>do</strong>is contextos, existem<br />

também significativas diferenças, nomeadamente a presença de medronheiro e freixo na<br />

mais recente, e a identificação na mais antiga, o derrube [49], de Alnus glutinosa, Erica<br />

australis, Pinus pinaster, Q. coccifera e Q. ilex.<br />

Já as relações físicas directas das U.E. [47], [53] e [86] representam-se em matriz da<br />

seguinte forma:<br />

47<br />

53<br />

86<br />

104


As duas realidades mais recentes são quase iguais ao nível da composição florística.<br />

No que respeita ao depósito mais antigo, a U.E. [86], o facto de ter forneci<strong>do</strong> poucos<br />

carvões impossibilita comparações fiáveis.<br />

2.3. Carpologia: análise de da<strong>do</strong>s<br />

2.3.1. Espécies silvestres<br />

2.3.1.1. Distribuição pelas amostras<br />

V3 V9 IV11 IV20 IV21 IV22 IV50 IV63 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95<br />

Anthemis cotula 1<br />

cf. Aquilegia sp. 1<br />

Brassica sp. 1<br />

cf. Cerastium sp. 1<br />

Cistus sp. 1<br />

Erica scoparia -<br />

folhas<br />

3<br />

Erica sp. Folhas 2<br />

Euphorbia<br />

helioscopia tipo<br />

1<br />

Polygonum<br />

aviculare<br />

2 1 1<br />

Polygonum<br />

bifaceta<strong>do</strong><br />

1<br />

Portulaca<br />

oleraceae<br />

8 6 4 3 1<br />

Quercus sp. -<br />

frag<br />

Rumex crispus<br />

tipo<br />

5 1 1<br />

Sambucus cf.<br />

ebulus<br />

1<br />

Graminea<br />

cf.Lolium<br />

1 1 1 1 4 1 1<br />

Graminea cf.<br />

Lolium - frag<br />

2 4<br />

Graminea -<br />

ind.<br />

1 3<br />

Indetermina<strong>do</strong>s 1 1 1 1<br />

Fruto<br />

indetermina<strong>do</strong><br />

1<br />

Indetermina<strong>do</strong>s<br />

frags<br />

1 3 5 2 1 4<br />

Quadro 4.6. – Carpologia: espécies silvestres encontradas em Lab.<br />

105<br />

1<br />

1


Como é possível ver no Quadro 4.6, várias espécies silvestres só se encontram<br />

representadas num contexto e, ainda assim, em pequenas quantidades. A U.E. [70] foi o<br />

contexto que mais espécies silvestres forneceu no Sector B da Terronha de Pinhovelo,<br />

segui<strong>do</strong> de [3]. Estes <strong>do</strong>is contextos apenas têm em comum Portulaca oleraceae e Cf.<br />

Lolium.<br />

As duas espécies acima mencionadas, são exactamente aquelas que se encontram<br />

representadas num maior número de contextos, incluin<strong>do</strong> estruturas de combustão e<br />

depósitos dispersos. De igual mo<strong>do</strong>, são as espécies das quais foram encontradas mais<br />

sementes, salientan<strong>do</strong>-se as 22 sementes de beldroega.<br />

Salienta-se uma diferença importante entre as duas lareiras <strong>do</strong> Ambiente I (U.E. [65] e<br />

[66]), a ausência, na primeira, de qualquer gramínea selvagem. Embora as beldroegas<br />

sejam mais frequentes em contextos ruderais e hortícolas (ver quadro em Anexo VIII),<br />

Polygonum aviculare e Lolium sp. poderão resultar de contaminações durante a colheita<br />

cerealífera, visto ocorrerem frequentemente como infestantes desses contextos.<br />

No que respeita à lareira <strong>do</strong> Ambiente II (U.E. [71]), forneceu, a nível de espécies<br />

silvestres, um único fragmento identificável - parte de uma bolota. Entenden<strong>do</strong> que o<br />

depósito [22] se encontra associa<strong>do</strong> a [71], cobrin<strong>do</strong>-a parcialmente torna-se relevante notar<br />

aí uma grande presença de glandes de Quercus sp (ver recolhas manuais, Quadro 4.7.).<br />

Nenhuma bolota foi recuperada no Ambiente I, circunscreven<strong>do</strong>-se mesmo a sua<br />

ocorrência, entre as amostras provenientes de flutuação (Lab.), a contextos <strong>do</strong> Ambiente II.<br />

As recolhas manuais confirmam este pre<strong>do</strong>mínio (ver Quadro 4.7.), embora testemunhem<br />

também a presença destes futos em outras áreas <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>.<br />

U.E.<br />

Vicia faba<br />

inteira<br />

Vicia faba<br />

fragmentos<br />

Vicia faba<br />

TOTAL<br />

Quercus sp.<br />

fragmentos<br />

Quercus sp.<br />

metades<br />

IV6 1<br />

IV11 1 1<br />

IV22 32 2<br />

IV23 4 1<br />

III46 1 1<br />

III46 1 1 1<br />

III49 1 0<br />

T 3 5 4 34 2<br />

Quadro 4.7. – Carpologia: recolhas manuais de favas e bolotas<br />

106


2.3.2. Favas<br />

É evidente pela leitura <strong>do</strong> quadro 4.8 que as favas não se encontram<br />

homogeneamente distribuídas pelas amostras e pela área de escavação. De facto, das 60<br />

sementes recolhidas por flutuação, 47 foram recolhidas na área de combustão [65] e outras<br />

8 são provenientes de amostras <strong>do</strong> depósito [20]. Se tivermos em conta que as amostras<br />

recolhidas neste depósito correspondem a níveis de definição <strong>do</strong> depósito [65] então<br />

podemos assumir que todas as 55 sementes (91,7% <strong>do</strong> total de favas) pertencem a um<br />

mesmo contexto, uma estrutura de combustão <strong>do</strong> Ambiente I.<br />

Deve-se ainda referir que ten<strong>do</strong> em conta que só foi sub-amostra<strong>do</strong> 14,2% <strong>do</strong><br />

sedimento da U.E. [65], esta contaria, potencialmente, com um total de 331 favas.<br />

De resto, é relevante notar que a estrutura de combustão [66] que ladeia a [65] não<br />

forneceu qualquer semente inteira. De facto, este contexto forneceu unicamente fragmentos<br />

de fava muito pequenos que, por nenhum apresentar o hilo, não foram considera<strong>do</strong>s uma<br />

unidade. Esta diferença entre as duas estruturas é muito relevante e deverá ser passível de<br />

interpretações conjuntas com os da<strong>do</strong>s das restantes espécies.<br />

As recolhas manuais estudadas permitiram a detecção de 4 favas, distribuídas pelas<br />

U.E. [11], [23], e duas em [46].<br />

U.E. Frags. Inteiras u. frag. Total<br />

V3 4 1 0 1<br />

IV20 60 1 7 8<br />

IV21 6 0 2 2<br />

IV65 284 9 38 47<br />

IV66 18 0 0 0<br />

IV70 10 0 1 1<br />

III95 1 0 1 1<br />

T 383 11 49 60<br />

Quadro 4.8. – Carpologia: Vicia faba em amostras de flutuação (Lab.). Consideram-se unidades<br />

fragmentadas to<strong>do</strong>s os fragmentos com hilo, entendi<strong>do</strong>s, assim, como uma unidade efectiva<br />

2.3.3. Milhos<br />

Foram recuperadas algumas cariopses de milho nos contextos arqueológicos de TP.<br />

Enquanto que somente um grão foi identifica<strong>do</strong> como Setaria italica, treze foram<br />

classifica<strong>do</strong>s como Panicum miliaceum. Estes são, contu<strong>do</strong>, sempre minoritários face às<br />

outras espécies de cereal identificadas.<br />

Apenas os contextos das Fases III e IV forneceram grãos de milho, e se, por um la<strong>do</strong>,<br />

é possível deduzir a existência de uma certa concentração destes nos Ambientes I e II, por<br />

107


outro, a maior concentração <strong>do</strong> esforço de amostragem na área <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s<br />

compartimentos poderá ter enviesa<strong>do</strong> de forma marcada esta distribuição. De resto, foi<br />

identificada uma cariopse de milho-miú<strong>do</strong> no interior de um recipiente na U.E. [95], e outras<br />

duas na estrutura de armazenagem (Ambiente IV), localizadas na parte Este e Norte <strong>do</strong><br />

Sector respectivamente.<br />

Somente no interior da estrutura de armazenagem, na U.E. [82], o milho se encontra<br />

em quantidades semelhantes às <strong>do</strong>s restantes cereais (2 grãos), mas a diminuta quantidade<br />

de sementes aí recolhida não permite qualquer conclusão mais arrojada.<br />

De resto, todas as áreas de combustão <strong>do</strong>s compartimentos em questão forneceram<br />

grãos de milho, mas em percentagens muito pequenas face aos restantes cereais (4%). No<br />

cômputo geral das amostras o milho completa somente 2% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s cereais<br />

encontra<strong>do</strong>s.<br />

2.3.4. Trigos e cevada<br />

Setaria Panicum Panicum /<br />

U.E. italica miliaceum Setaria<br />

IV21 1 1/ 2<br />

IV22 1<br />

IV24 2<br />

IV65 1<br />

IV66 1 1<br />

IV70 2<br />

III71 2<br />

III82 2<br />

III95 1<br />

T 1 13 0<br />

Quadro 4.9. – Carpologia: milho em amostras de flutuação (Lab.)<br />

2.3.4.1. Distribuição das cariopses pelas amostras<br />

A quantidade de grãos de cereal encontra<strong>do</strong>s nas amostras estudadas é visível no<br />

quadro 4.10. Contu<strong>do</strong>, o facto de cada contexto ter si<strong>do</strong> amostra<strong>do</strong> e sub-amostra<strong>do</strong> de<br />

forma desigual condiciona a leitura desse mesmo quadro. Deste mo<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong> peso total<br />

<strong>do</strong>s sedimentos de cada U.E. recolhi<strong>do</strong>s no campo e da percentagem da sub-amostragem<br />

sobre a qual incidiu este estu<strong>do</strong> arqueobotânico (ver quadro 3.1) foi efectua<strong>do</strong> um cálculo de<br />

forma a perceber quais as potenciais quantidades de cereais presentes nos sedimentos<br />

recolhi<strong>do</strong>s (ver total no quadro 4.11). O estu<strong>do</strong> estatístico da distribuição das cariopses<br />

pelas amostras foi realiza<strong>do</strong> sobre os valores deste quadro e excluiu as três amostras que<br />

108


forneceram menos de uma dezena de sementes nas sub-amostras estudadas (V4, IV22 e<br />

III82).<br />

Ainda assim é necessário ter em conta que, se no caso das áreas de combustão [65],<br />

[66] e [71] foi recolhi<strong>do</strong> em escavação a totalidade <strong>do</strong> sedimento para sub-amostragem em<br />

laboratório e, por isso, o cálculo fornecerá um numero potencial de cariopses de to<strong>do</strong> o<br />

depósito, o mesmo não acontece com os restantes sedimentos. O número obti<strong>do</strong> nestes<br />

através <strong>do</strong> cálculo referi<strong>do</strong> demonstrará somente a riqueza das amostras recolhidas no<br />

campo que, por sua vez, são só uma parte da totalidade (não quantificada) <strong>do</strong> sedimento<br />

escava<strong>do</strong>.<br />

V3 V4 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 Total<br />

T. monococcum 0 0 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 0 3<br />

T. dicoccum 28 0 17 8 0 3 0 31 25 8 2 0 2 124<br />

T. cf. dicoccum 1 0 0 0 0 0 0 6 2 0 1 0 0 10<br />

T. dicoccum/aestivum 1 0 0 0 0 0 1 4 6 0 0 1 0 13<br />

T. dicoccum/spelta 1 0 0 1 0 0 0 0 4 0 0 0 0 6<br />

T. spelta 1 0 2 0 0 1 0 4 4 3 1 0 1 17<br />

T. cf. spelta 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1<br />

T. aestivum 24 0 10 1 1 2 0 24 20 7 1 0 0 90<br />

T. cf. aestivum 1 0 1 0 0 0 0 1 3 1 0 0 0 7<br />

T. aestivum/compactum 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 3<br />

T. compactum 14 0 6 8 0 0 0 16 10 6 1 0 1 62<br />

T. cf. compactum 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 2<br />

Triticum sp. 57 0 14 2 0 5 4 21 55 15 4 2 5 184<br />

H. vulgare 14 0 19 22 3 2 4 44 8 26 4 2 2 150<br />

Hordeum sp. 0 0 0 1 0 0 2 0 1 0 0 0 2 6<br />

Indetermina<strong>do</strong> 0 0 0 0 0 0 0 2 1 0 0 0 0 3<br />

Total 142 1 69 43 6 13 11 157 141 66 14 5 13 681<br />

Quadro 4.10. – Carpologia: cariopses de cereal em amostras de flutuação (Lab.). Número de<br />

cariopses contadas em cada amostra.<br />

V3 V4 IV20 IV21 IV22 IV24 IV50 IV65 IV66 IV70 III71 III82 III95 Total<br />

T. monococcum 0 0 0 0 8 0 0 0 11 0 0 0 0 19<br />

T. dicoccum 185 0 84 22 0 5 0 218 276 30 5 0 9 835<br />

T. cf. dicoccum 7 0 0 0 0 0 0 42 22 0 2 0 0 73<br />

T. dicoccum/aestivum 7 0 0 0 0 0 6 28 66 0 0 3 0 111<br />

T. dicoccum/spelta 7 0 0 3 0 0 0 0 44 0 0 0 0 54<br />

T. spelta 7 0 10 0 0 2 0 28 44 11 2 0 5 109<br />

T. cf. spelta 0 0 0 0 0 0 0 7 0 0 0 0 0 7<br />

T. aestivum 159 0 49 3 4 3 0 169 221 26 2 0 0 637<br />

T. cf. aestivum 7 0 5 0 0 0 0 7 33 4 0 0 0 55<br />

T. aestivum/compactum 0 6 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 0 20<br />

T. compactum 93 0 30 22 0 0 0 113 110 23 2 0 5 397<br />

T. cf. compactum 0 0 0 0 0 0 0 7 11 0 0 0 0 18<br />

Triticum sp. 378 0 69 5 0 8 24 148 608 56 10 7 23 1336<br />

H. vulgare 93 0 93 60 12 3 24 310 88 98 10 7 9 808<br />

Hordeum sp. 0 0 0 3 0 0 12 0 11 0 0 0 9 35<br />

Indetermina<strong>do</strong> 0 0 0 0 0 0 0 14 11 0 0 0 0 25<br />

Total 941 6 340 117 24 20 67 1106 1558 248 35 17 61 4539<br />

Quadro 4.11. – Carpologia: potenciais quantidades de cariopses de contextos amostra<strong>do</strong>s por<br />

flutuação (Lab.). Quantidades inferidas para cada amostra (número de grãos na totalidade da amostra<br />

recolhida).<br />

A principal diferença entre as diversas amostras no que respeita à presença de cereais<br />

é ao mesmo tempo a mais importante condicionante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da PCA da figura 4.12:<br />

109


a grande diferença na quantidade total de grãos que faz salientar as amostras V3, IV65 e<br />

IV65. Na verdade, o facto de as três U.E. em questão apresentarem bastante mais grãos<br />

que as restantes, origina uma PCA fortemente condicionada por este aspecto, com uma<br />

leitura difícil. A existência de uma correlação negativa de todas as outras amostras com<br />

todas as espécies deve-se a este factor.<br />

Denota-se, contu<strong>do</strong>, a existência de uma proximidade no conteú<strong>do</strong> das U.E. [3] e [66].<br />

Estas distinguem-se da U.E. [65] principalmente pela presença de T. dicoccum/spelta e T.<br />

monococcum, assim como de Hordeum sp. Por sua vez, IV65 deve a sua originalidade aos<br />

valores de T. cf. spelta , T. compactum/aestivum e Hordeum vulgare. Torna-se evidente que<br />

algumas das principais diferenças destes contextos residem principalmente nas cariopses<br />

para as quais houve significativos problemas em almejar uma identificação específica.<br />

A observação <strong>do</strong> gráfico da figura 4.14 permite perceber que a principal diferença entre<br />

as duas áreas de combustão, [65] e [66], encontra-se na grande abundância de grãos de<br />

cevada da amostra IV65 e na presença em IV66 de T. monococcum (ainda que em pequena<br />

quantidade) assim como de grãos de trigo cuja identificação não ultrapassou o género, da<strong>do</strong><br />

o seu o mau esta<strong>do</strong> de conservação. As restantes diferenças são de pequena importância e<br />

prendem-se, essencialmente, com a diferença na quantidade de grãos recolhi<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>is<br />

contextos.<br />

Há também, como é possível ler na figura 4.16, uma ligeira diferença entre a<br />

frequência de cariopses de trigo de semente nua ou semente vestida. Porém, não é muito<br />

significativa.<br />

110


-0.6 1.0<br />

IV_21<br />

IV_24<br />

IV_20<br />

IV_50<br />

III_71<br />

III_95<br />

-0.4 1.2<br />

Figura 4.12. – Carpologia: PCA com diferentes amostras e tipos morfológicos·de<br />

cariopses<br />

IV_70<br />

IV_65<br />

H<br />

Tsc<br />

Tca<br />

Hv<br />

V_3<br />

Tdc<br />

Tde<br />

Tm<br />

Tcc<br />

Ts<br />

IV_66<br />

Tda<br />

Tc<br />

Tac<br />

Td<br />

Ta<br />

T<br />

111<br />

-0.8 0.9<br />

III_71<br />

IV_24<br />

H<br />

IV_50<br />

III_95<br />

Tdc<br />

Tda<br />

IV_21<br />

Tde<br />

IV_70<br />

-0.6 1.0<br />

Ts<br />

Td<br />

Hv<br />

IV_20<br />

Figura 4.13 – Carpologia: PCA excluin<strong>do</strong> amostras com maior quantidade de<br />

cariopses<br />

Tc<br />

Tac<br />

T<br />

Ta


Quantidade<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

Tm Td Tdc Tda Tde Ts Tsc Ta Tac Tca Tc Tcc T Hv H I<br />

Tipo morfológico<br />

Figura 4.14. – Carpologia: comparação entre frequência de cariopses de IV65 e IV66<br />

112<br />

IV_65<br />

IV_66


No quadro 4.12. apresentam-se os códigos pelos quais se nomeiam os tipos<br />

morfológicos neste estu<strong>do</strong>.<br />

Tipo morfológico Código<br />

T. monococcum Tm<br />

T. dicoccum Td<br />

T. cf. dicoccum Tdc<br />

T. dicoccum/aestivum Tda<br />

T. dicoccum/spelta Tde<br />

T. spelta Ts<br />

T. cf. spelta Tsc<br />

T. aestivum Ta<br />

T. cf. aestivum Tac<br />

T. aestivum/compactum Tca<br />

T. compactum Tc<br />

T. cf. compactum Tcc<br />

Triticum sp. T<br />

H. vulgare Hv<br />

Hordeum sp. H<br />

Indetermina<strong>do</strong> I<br />

Quadro 4.12. – Carpologia: códigos de tipos morfológicos<br />

de cereais<br />

De forma a permitir uma melhor representação das restantes realidades, realizou-se<br />

uma PCA sem as três amostras com mais cariopses (figura 4.13). Contu<strong>do</strong>, o que ressalta<br />

de forma evidente é a inoperacionalidade e escassa utilidade <strong>do</strong> tratamento estatístico de<br />

amostras que, para além <strong>do</strong> escasso número de sementes, se caracterizam pela presença<br />

de demasiadas cariopses em mau esta<strong>do</strong> de conservação, sem uma classificação<br />

específica.<br />

De qualquer mo<strong>do</strong>, de forma sumária, é possível apontar a evidência de três principais<br />

grupos de amostras.<br />

O primeiro é constituí<strong>do</strong> pela amostra IV20, cuja maior diferença face às restantes U.E.<br />

aparenta ser a quantidade de cariopses identificadas.<br />

O segun<strong>do</strong> grupo é constituí<strong>do</strong> por IV21 e IV70, amostras <strong>do</strong> Ambiente II,<br />

apresentan<strong>do</strong> Triticum dicoccum/spelta (presente em IV21) e a cevada (muito abundante em<br />

IV70) como principais elementos discriminantes. Na verdade, como é possível perceber na<br />

figura 4.15, a cevada apresenta nestas U.E. níveis percentuais mais significativos que nas<br />

restantes amostras analisadas, assumin<strong>do</strong>-se como uma característica <strong>do</strong> grupo em<br />

questão.<br />

No último conjunto de da<strong>do</strong>s, as amostras III71, III95 e IV24 apresentam uma<br />

correlação negativa com a cevada, espécie pouco representada nas últimas duas amostras,<br />

enquanto que a U.E. [50] caracteriza-se pela correlação negativa com Triticum spp. Este<br />

113


facto é, contu<strong>do</strong> artificial, já que é fruto de não se ter logra<strong>do</strong> a identificação ao nível da<br />

espécie de qualquer cariopse de trigo desta amostra.<br />

Em suma, as únicas linhas de análise passíveis de seguir com os da<strong>do</strong>s em questão<br />

são a comparação entre duas estruturas de combustão <strong>do</strong> Ambiente I e a distinção e<br />

caracterização <strong>do</strong> Ambiente II, cuja interpretação é ainda uma incógnita.<br />

Recolhas manuais<br />

Foram recolhidas cariopses de cereal em algumas das amostras de recolha manual<br />

(Quadro 4.13). Destas salienta-se a U.E. [46], possível nível de piso que reaproveita o que<br />

restava das paredes de uma construção de planta circular. Neste depósito, possivelmente<br />

associa<strong>do</strong> à U.E. [11] foram identificadas sementes de cevada e trigo (maioritariamente<br />

identificadas apenas ao nível genérico).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a U.E. [11] cujas amostras tratadas por flutuação não forneceram<br />

qualquer cariopse intacta, conta em RM com escassas sementes, em especial de cevada.<br />

U.E. Nº Espécie L B H L/B L/H B/H B/L*100 H/B*1OO<br />

1 T. dicoccum 4,7 2,7 2,1 1,74 2,24 1,29 57,45 77,78<br />

IV11<br />

2H. vulgare<br />

3H. vulgare<br />

4H. vulgare<br />

5,9<br />

4,9<br />

2,9<br />

3,1<br />

2,5<br />

2,4<br />

2,03<br />

1,58<br />

2,36<br />

2,04<br />

1,16<br />

1,29<br />

49,15<br />

63,27<br />

86,21<br />

77,42<br />

IV23<br />

1T. aestivum<br />

2Triticum sp.<br />

5,1 3,2 2,5 1,59 2,04 1,28 62,75 78,13<br />

1T. aestivum 5 3,2 2,7 1,56 1,85 1,19 64,00 84,38<br />

2T. aestivum 5,2 3,3 2,9 1,58 1,79 1,14 63,46 87,88<br />

3 T. compactum 5 3,5 3 1,43 1,67 1,17 70,00 85,71<br />

4 T. compactum 4,8 3,5 2,6 1,37 1,85 1,35 72,92 74,29<br />

5 T. dicoccum<br />

6Triticum sp.<br />

7Triticum sp.<br />

8Triticum sp.<br />

5,7 3 2,6 1,90 2,19 1,15 52,63 86,67<br />

III46 9Triticum sp.<br />

10 Triticum sp.<br />

11 H. vulgare 5 2,3 1,8 2,17 2,78 1,28 46,00 78,26<br />

12 H. vulgare 5,5 3,2 2,1 1,72 2,62 1,52 58,18 65,63<br />

13 H. vulgare<br />

14 H. vulgare<br />

15 H. vulgare<br />

16 H. vulgare<br />

17 H. vulgare<br />

5,7 2,9 2,3 1,97 2,48 1,26 50,88 79,31<br />

III49 1 T. compactum 5,1 3,4 2,8 1,50 1,82 1,21 66,67 82,35<br />

Quadro 4.13. – Carpologia: quantidade e biometria de cereais de recolhas manuais<br />

114


Figura 4.15. – Carpologia: quantidade relativa de trigo e cevada de amostras com mais cariopses<br />

115


Figura 4.16. – Carpologia: proporções de trigos vesti<strong>do</strong>s e nus das amostras com mais cariopses<br />

116


2.3.4.2. Biometria de cariopses<br />

A classificação das cariopses de género Triticcum foi realizada de acor<strong>do</strong> com<br />

características morfológicas externas mas também seguin<strong>do</strong> os parâmetros biométricos de<br />

S. Jacomet (2006). Como tal, os gráficos apresenta<strong>do</strong>s servem objectivos descritivos (de<br />

tipos morfológicos e de U.E.) e, ao mesmo tempo, de averiguação da uniformidade <strong>do</strong>s<br />

parâmetros utiliza<strong>do</strong>s e confirmação da existência de diferentes tipos morfológicos.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, ainda que se tenha parti<strong>do</strong> de um preconceito (a identificação já realizada)<br />

o tratamento estatístico foi particularmente útil para a compreensão <strong>do</strong>s diferentes contextos<br />

e tipos morfológicos.<br />

Triticum spp.: distinção entre várias espécies através das cariopses<br />

Os boxplot da figura 4.17 (1 a 8) representam a comparação das diferentes espécies de<br />

Triticum no que respeita a cada um <strong>do</strong>s parâmetros biométricos considera<strong>do</strong>s. Se da leitura<br />

destes gráficos se torna evidente o eleva<strong>do</strong> nível de sobreposição apresenta<strong>do</strong> pelos<br />

parâmetros métricos simples (comprimento, largura e espessura), conferin<strong>do</strong>-lhes baixo valor<br />

discriminatório, já os índices biométricos usa<strong>do</strong>s apresentam menor sobreposição, o que<br />

reforça o seu uso no diagnóstico taxonómico das cariópses. Por outro la<strong>do</strong>, se observarmos<br />

os resulta<strong>do</strong>s da PCA realizada com os parâmetros biométricos das cerca de três centenas<br />

de trigos identifica<strong>do</strong>s na jazida (figuras 4.18 e 4.19, ver também o anexo I) onde a totalidade<br />

<strong>do</strong>s parâmetros é utilizada de forma multivariada na ordenação, verificamos uma dispersão<br />

sequencial das diferentes espécies de trigos, com os eixos de maior variância<br />

correspondentes precisamente aos índices C/L, L/C*100 e C/E, apresentan<strong>do</strong> zonas de<br />

sobreposição mínimas (cf. figura 4.19), o que parece confirmar a atribuição específica<br />

realizada e o valor diagnosticante <strong>do</strong>s parâmetros usa<strong>do</strong>s. Note-se no entanto que a<br />

dispersão da totalidade <strong>do</strong>s espécimens de trigo se representa de forma contínua,<br />

suceden<strong>do</strong>-se os diferentes tipos morfológicos ao longo <strong>do</strong>s eixos de variância, sem a<br />

formação de clusters morfológicos claramente individualiza<strong>do</strong>s – ocorre uma única mancha<br />

de dispersão total, se omitirmos a atribuição específica preconcebida. Este aspecto prendese<br />

certamente com a própria transição gradual da morfologia carpológica patenteada pelas<br />

próprias espécies de trigo.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s expostos permitem-nos constatar a presença em Terronha de Pinhovelo<br />

de distintas espécies de trigo.<br />

As cariopses de T. monococcum distinguem-se das restantes (com excepção de T.<br />

spelta) por serem mais compridas. São normalmente mais espessas e menos largas que as<br />

de T. spelta. Tal diferença traduz-se, inclusive em índices distintos de C/L, L/E, L.C*100 e<br />

117


E/L*100. T. monococcum caracteriza-se, assim, pelas suas proporções entre largura e<br />

comprimento, sen<strong>do</strong> a cariopse estreita face ao comprimento apresenta<strong>do</strong>.<br />

Na bibliografia a distinção entre T. spelta e T. dicoccum surge como uma tarefa<br />

complicada. S. Jacomet (2006) refere mesmo que, quan<strong>do</strong> os grãos de T. spelta são<br />

carboniza<strong>do</strong>s na espiga ou na espigueta não se distinguem <strong>do</strong>s de T. dicoccum. Foi possível,<br />

mesmo assim, classificar alguns grãos de T. spelta, quan<strong>do</strong> os valores métricos se<br />

enquadravam nos valores típicos desta espécie, afastan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s de T. dicoccum (ou seja<br />

os grãos eram mais compri<strong>do</strong>s, largos e, principalmente, apresentavam índices de C/L e C/E<br />

mais eleva<strong>do</strong>s). A leitura das PCAs confirma que o Comprimento <strong>do</strong>s grãos e a relação C/E<br />

são os argumentos biométricos que distinguem os <strong>do</strong>is tipos morfológicos defini<strong>do</strong>s pelo<br />

méto<strong>do</strong> de classificação, existin<strong>do</strong> ainda assim um eleva<strong>do</strong> nível de sobreposição (esse nível<br />

de sobreposição está sobrevaloriza<strong>do</strong> na PCA da figura 4.19 devi<strong>do</strong> à classificação como T.<br />

dicoccum de uma cariopse muito duvi<strong>do</strong>sa (visível na figura 4.18, e apresenta<strong>do</strong> como outlier<br />

no boxplot da figura 4.17 (5), com C/E muito eleva<strong>do</strong> (2,81) mas demasia<strong>do</strong> curta e espessa.<br />

Em suma, a distinção entre as cariopses das duas espécies em questão é difícil, poden<strong>do</strong><br />

somente ser feita ao nível <strong>do</strong>s grãos típicos.<br />

As cariopses de T. aestivum apresentam muitas semelhanças com as de T. dicoccum e<br />

T. compactum. Do ponto de vista da morfologia externa as cariopses são muito semelhantes.<br />

Embora se entenda que as extremidades <strong>do</strong>s grãos, assim como o perfil <strong>do</strong>rsal e ventral<br />

apresentam características próprias, a verdade é que estas são pouco variáveis.<br />

Contu<strong>do</strong>, o modelo de classificação de S. Jacomet (2006) baseia-se na relação entre<br />

características morfológicas e biométricas. A autora consegue esbater os níveis de<br />

sobreposição através <strong>do</strong> uso de diversas relações e índices métricos. Embora se admita a<br />

existência de uma certa artificialidade neste méto<strong>do</strong>, a verdade é que este representa<br />

tendências gerais relacionáveis com determinadas espécies identificadas pela morfologia<br />

externa da sua cariopse. Nas amostras aqui em estu<strong>do</strong>, estes parâmetros métricos<br />

evidenciam a existência de espécies distintas. A PCA demonstra que a Largura e o índice<br />

L/C*100, ambos com valores mais eleva<strong>do</strong>s para T. aestivum, e os índices C/L e C/E, com<br />

valores mais eleva<strong>do</strong>s para T. dicoccum são os elementos biométricos que melhor<br />

caracterizam as diferenças entre estes tipos morfológicos. Nos boxplot referentes a estes<br />

parâmetros é bem evidente que, embora haja um curto grau de sobreposição, são defini<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is grupos distintos (particularmente visível em C/L e L/C*100). No que respeita a T.<br />

compactum, as cariopses apresentam um plano esferoidal, mercê da sua relação entre<br />

Comprimento e Largura. São, assim, cariopses curtas face à largura que apresentam (esta<br />

largura é muito semelhante a T. aestivum). Deste mo<strong>do</strong>, os parâmetros mais eficazes para a<br />

sua distinção são L/C*100 e obviamente C/L.<br />

118


T. aestivum T. compactum T. dicoccum T. spelta Hordeum vulgare<br />

Comprimento 4,8 ± 0,45 (3,6-6,3) 4,4 ± 0,58 (1,8-5,5) 5 ± 0,52 (3,6-6) 5,6 ± 0,43 (5-6,3) 5,1 ± 0,58 (3,7-6,4)<br />

Largura 3 ± 0,28 (2,2-3,9) 3,2 ± 0,43 (1,3-4,2) 2,7 ± 0,29 (2-3,4) 2,9 ± 0,42 (2,1-3,7) 3 ± 0,41 (2-3,9)<br />

Espessura 2,6 ± 0,27 (1,9-3,3) 2,6 ± 0,32 (1,1-3,2) 2,3 ± 0,29 (1,5-3,2) 2,2 ± 0,22 (2-2,7) 2,3 ± 0,38 (1,5-3,3)<br />

C/L 1,6 ± 0,05 (1,52-1,71) 1,4 ± 0,08 (1,15-1,54) 1,8 ± 0,09 (1,67-2,05) 2 ± 0,17 (1,7-2,38) 1,7 ± 0,22 (1,22-2,62)<br />

C/E 1,9 ± 0,16 (1,48-2,23) 1,7 ± 0,13 (1,44-1,69) 2,1 ± 0,18 (1,71-2,81) 2,6 ± 0,1 (2,33-2,71) 2,3 ± 0,34 (1,63-3,67)<br />

L/E 1,2 ± 0,1 (0,97-1,4) 1,2 ± 0,09 (1-1,4) 1,2 ± 0,1 (0,96-1,5) 1,3 ± 0,09 (1,05-1,44) 1,3 ± 0,11 (1,04-1,55)<br />

L/C*100 62,3 ± 1,92 (58,5-66) 71,3 ± 4,44 (65,1-86,8) 54,8 ± 2,77 (48,8-66,7) 51,5 ± 4,33 (42-58,73) 59 ± 7,22 (38,2-64,5)<br />

E/L*100 85,3 ± 7 (71,4-103,6) 83,4 ± 6,43 (71,4-100) 86,2 ± 7,4 (66,7-103,9) 76,5 ± 6,23 (69,4-95,2) 76,2 ± 6,38 (64,5-96,6)<br />

Quadro 4.14. – Carpologia: síntese de da<strong>do</strong>s biométricos de cariopses de cereais<br />

119


Comprimento<br />

Largura<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

4,0<br />

3,0<br />

2,0<br />

1,0<br />

Ta<br />

Ta<br />

IV70<br />

IV66<br />

V3<br />

IV70<br />

Tc<br />

Tc<br />

V3<br />

V3<br />

V3<br />

V3<br />

Td<br />

Espécie<br />

Td<br />

Espécie<br />

Figura 4.17 (1 e 2) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre espécies<br />

120<br />

V3<br />

Tm<br />

Tm<br />

Ts<br />

Ts<br />

IV65


Espessura<br />

C/L<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

2,50<br />

2,25<br />

2,00<br />

1,75<br />

1,50<br />

1,25<br />

1,00<br />

Ta<br />

IV66<br />

IV65<br />

V3<br />

Ta<br />

Tc<br />

V3<br />

Tc<br />

IV65<br />

Td<br />

IV66<br />

IV65<br />

IV20<br />

V3<br />

Espécie<br />

Figura 4.17 (3 e 4) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre espécies<br />

121<br />

Td<br />

Espécie<br />

Tm<br />

Tm<br />

Ts<br />

Ts<br />

IV24<br />

IV65


C/E<br />

L/E<br />

3,00<br />

2,80<br />

2,60<br />

2,40<br />

2,20<br />

2,00<br />

1,80<br />

1,60<br />

1,40<br />

1,50<br />

1,40<br />

1,30<br />

1,20<br />

1,10<br />

1,00<br />

0,90<br />

Ta<br />

Ta<br />

IV65<br />

Tc<br />

Tc<br />

IV66<br />

Figura 4.17 (5 e 6) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre espécies<br />

122<br />

Td<br />

IV65<br />

Espécie<br />

Td<br />

IV65<br />

Espécie<br />

Tm<br />

Tm<br />

Ts<br />

Ts<br />

IV65


L/C*100<br />

E/L*1OO<br />

90,00<br />

80,00<br />

70,00<br />

60,00<br />

50,00<br />

40,00<br />

110,00<br />

100,00<br />

90,00<br />

80,00<br />

70,00<br />

60,00<br />

Ta<br />

Ta<br />

IV65<br />

Tc<br />

Tc<br />

IV65<br />

IV66<br />

Figura 4.17 (7 e 8) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre espécies<br />

123<br />

Td<br />

Espécie<br />

Td<br />

Espécie<br />

Tm<br />

Tm<br />

Ts<br />

Ts<br />

IV65<br />

IV65


-1.0 1.0<br />

L/E<br />

L/C*100<br />

L<br />

E<br />

-1.0 1.0<br />

Figura 4.18. – Carpologia:<br />

PCA com biometria de trigos<br />

Legenda; T. spelta ( ■) ; T. dicoccum (+); T. monococcum ( ◄); T. aestivum ( ○); T. compactum <br />

C/E<br />

C<br />

C/L<br />

E/L*1OO<br />

124<br />

-1.0 1.0<br />

L/E<br />

L/C*100<br />

L<br />

Tc<br />

E<br />

Ta<br />

-1.0 1.0<br />

Figura 4.19. – Carpologia: PCA combiometria de trigos<br />

C/E<br />

C<br />

Ts<br />

Td<br />

C/L<br />

Tm<br />

E/L*1OO


Triticum spp: biometria de cariopses, comparação entre as diferentes U.E.<br />

Uma série de oito boxplot (figura 4.20) foram produzi<strong>do</strong>s de forma a detectar diferentes<br />

biometrias de cada tipo morfológico nas diferentes U.E. O resulta<strong>do</strong> evidente é que não se<br />

encontraram diferenças significativas entre os contextos de escavação.<br />

Assinala-se uma diferença significativa respeitante à largura <strong>do</strong>s grãos de T. aestivum<br />

nas estruturas de combustão [65] e [66]. Embora dentro da margem de sobreposição a<br />

análise <strong>do</strong>s 50% de cada amostra demonstra uma clara diferença: a maioria das cariopses<br />

de T. aestivum de IV66 são maiores que as de IV65. Um comportamento que se verifica<br />

também nos parâmetros Comprimento, Largura e Espessura, embora de forma menos<br />

acentuada. No entanto, o facto de tal não se traduzir em diferenças significativas nas<br />

relações e índices calcula<strong>do</strong>s, ou seja, nas proporções <strong>do</strong> grão, certifica que se trata <strong>do</strong><br />

mesmo grupo morfológico.<br />

Os valores que a amostra IV21 apresenta, por vezes um pouco distintos das restantes,<br />

não são aqui considera<strong>do</strong>s relevantes, da<strong>do</strong> nos encontrarmos perante uma amostra com<br />

uma pequena quantidade de cariopses, tornan<strong>do</strong>-se pouco relevante a sua comparação<br />

com as áreas de combustão acima mencionadas.<br />

Comprimento<br />

8,0<br />

6,0<br />

4,0<br />

2,0<br />

0,0<br />

Ta<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Figura 4.20 (1) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre amostras<br />

125<br />

Td<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


Largura<br />

Espessura<br />

4,0<br />

3,0<br />

2,0<br />

1,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

Ta<br />

Ta<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Figura 4.20 (2 e 3) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre amostras<br />

126<br />

Td<br />

Td<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


C/L<br />

F<br />

i<br />

g<br />

u<br />

r<br />

a<br />

4<br />

.<br />

2<br />

0<br />

C/E<br />

(<br />

4<br />

e<br />

5<br />

)<br />

–<br />

C<br />

a<br />

r<br />

p<br />

o<br />

l<br />

2,50<br />

2,25<br />

2,00<br />

1,75<br />

1,50<br />

1,25<br />

1,00<br />

3,00<br />

2,80<br />

2,60<br />

2,40<br />

2,20<br />

2,00<br />

1,80<br />

1,60<br />

1,40<br />

Ta<br />

Ta<br />

105<br />

Tc<br />

113<br />

Espécie<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Figura 4.20 (4 e 5) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre amostras<br />

127<br />

Td<br />

Td<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


L/E<br />

L/C*100<br />

1,50<br />

1,40<br />

1,30<br />

1,20<br />

1,10<br />

1,00<br />

0,90<br />

90,00<br />

80,00<br />

70,00<br />

60,00<br />

50,00<br />

Ta<br />

Ta<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Tc<br />

Espécie<br />

Figura 4.20 (6 e 7) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre amostras<br />

128<br />

Td<br />

Td<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


E/L*1OO<br />

100,00<br />

90,00<br />

80,00<br />

70,00<br />

Ta<br />

Figura 4.20 (8) – Carpologia: da<strong>do</strong>s biométricos, comparação entre amostras<br />

Hordeum vulgare: biometria das cariopses e comparação entre as diferentes U.E.<br />

Tc<br />

Espécie<br />

A distinção de grupos morfológicos distintos de cevada foi tentada na PCA da figura<br />

4.21. Porém, a dispersão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s não parece indicar qualquer diferença ou<br />

agrupamento de da<strong>do</strong>s.<br />

À semelhança <strong>do</strong>s trigos, também para as cevadas foram realiza<strong>do</strong>s boxplot com vista<br />

à detecção, entre as várias U.E., de diferenças na biometria das cariopses (figura 4.23). Tal<br />

informação foi complementada por um novo gráfico da PCA (figura 4.22).<br />

No caso concreto de Hordeum vulgare não foram detectadas padrões significativos<br />

que distinguissem as diferentes realidades arqueológicas deste ponto de vista. Denota-se<br />

unicamente que a U.E. [65] é aquela que apresenta uma maior heterogeneidade entre as<br />

cariopses. Esta heterogeneidade traduz-se na maior amplitude <strong>do</strong>s valores biométricos das<br />

cariopses visíveis na generalidade <strong>do</strong>s boxplot, e também na representação da PCA da<br />

figura 4.22. Porém, deve-se salientar que trata-se <strong>do</strong> contexto arqueológico com maior<br />

quantidade de cereais mensuráveis, existin<strong>do</strong> uma significativa diferença quantitativa face<br />

às restantes amostras.<br />

129<br />

Td<br />

U.E.<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


-1.0 1.0<br />

-1.0<br />

C/L<br />

C/E<br />

E/L*1OO<br />

C<br />

Figura 4.21. – Carpologia:<br />

PCA com biometria de cevadas<br />

E<br />

L/E<br />

L<br />

L/C*100<br />

1.0<br />

-1.0 1.0<br />

C/L<br />

130<br />

C/E<br />

E/L*1OO<br />

C<br />

-1.0 1.0<br />

Figura 4.22. – Carpologia:<br />

PCA com biometria de cereais e amostras<br />

Legenda: IV21 (●); IV65 (+); IV66 (◄); IV70 (■)<br />

E<br />

L/E<br />

L<br />

L/C*100


Comprimento<br />

Largura<br />

6,5<br />

6,0<br />

5,5<br />

5,0<br />

4,5<br />

4,0<br />

4,0<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

IV21<br />

IV21<br />

IV65<br />

IV65<br />

Figura 4.23. (1 e 2) – Carpologia:<br />

biometria de cevadas, comparação de amostras<br />

131<br />

U.E.<br />

U.E.<br />

IV66<br />

IV66<br />

IV70<br />

IV70


Espessura<br />

C/L<br />

3,5<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

2,70<br />

2,40<br />

2,10<br />

1,80<br />

1,50<br />

1,20<br />

IV21<br />

IV21<br />

IV65<br />

29<br />

14<br />

IV65<br />

Figura 4.23. (3 e 4) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras<br />

132<br />

U.E.<br />

U.E.<br />

IV66<br />

39<br />

IV66<br />

50<br />

53<br />

IV70<br />

53<br />

IV70


L/E<br />

C/E<br />

1,60<br />

1,50<br />

1,40<br />

1,30<br />

1,20<br />

1,10<br />

1,00<br />

4,00<br />

3,50<br />

3,00<br />

2,50<br />

2,00<br />

1,50<br />

IV21<br />

IV21<br />

IV65<br />

29<br />

20<br />

IV65<br />

Figura 4.23. (5 e 6) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras<br />

133<br />

U.E.<br />

U.E.<br />

IV66<br />

IV66<br />

IV70<br />

53<br />

52<br />

IV70


L/C*100<br />

E/L*1OO<br />

100,00<br />

80,00<br />

60,00<br />

40,00<br />

20,00<br />

100,00<br />

90,00<br />

80,00<br />

70,00<br />

60,00<br />

IV21<br />

IV21<br />

14<br />

29<br />

IV65<br />

16<br />

IV65<br />

Figura 4.23. (7 e 8) – Carpologia: biometria de cevadas, comparação de amostras<br />

134<br />

U.E.<br />

U.E.<br />

39<br />

IV66<br />

IV66<br />

52<br />

53<br />

IV70<br />

IV70


2.3.4.3. Distribuição de espiguetas pelas amostras<br />

De entre os fragmentos de espiguetas, as glumas são os elementos mais comuns no<br />

registo arqueobotânico mas surgem também quantidades significativas de bases de<br />

espiguetas. O <strong>do</strong>mínio de T. spelta é evidente na generalidade das amostras, assim como a<br />

escassez de T. monococcum. T. dicoccum surge em menores quantidades que T. spelta<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> detecta<strong>do</strong> na quase totalidade <strong>do</strong>s contextos estuda<strong>do</strong>s.<br />

As amostras que apresentam maior quantidade de fragmentos de espiguetas, de<br />

acor<strong>do</strong> com os quadros no Anexo II são V3, IV20, IV21, IV65, IV66 e IV70.<br />

A presença das espiguetas nas U.E. [21] e [70] ([24], embora com menor quantidade)<br />

poderá ser um da<strong>do</strong> importante para a interpretação da funcionalidade <strong>do</strong> Ambiente<br />

II.<br />

Deve-se acrescentar que os sedimentos que foram alvo de flutuação nestes contextos<br />

são<br />

uma pequena parte (percentualmente não quantificada) da totalidade daqueles que<br />

foram<br />

escava<strong>do</strong>s, tratan<strong>do</strong>-se de depósitos que cobriam quase toda a área <strong>do</strong> compartimento em<br />

questão. Salienta-se a presença entre estas amostras de uma única base de espigueta<br />

atribuída a T. monococcum com reserva.<br />

Ainda no Ambiente II, a estrutura de combustão representada pelo depósito [ 71]<br />

forneceu escassos elementos de espiguetas.<br />

As áreas de combustão [65] e [66] <strong>do</strong> Ambiente I contam com significativas<br />

quantidades de espiguetas, com um evidente <strong>do</strong>mínio de T. spelta. Ainda assim, a U.E. [66]<br />

apresenta claramente maior número destes elementos de espiguetas. Esse número é tanto<br />

maior quanto se se tiver em consideração que a sub-amostragem realizada sobre esta U.E.<br />

é menor que a realizada sobre a área de combustão [65] (ver quadro 3.1).<br />

A interpretação das U.E. [3] e [20] só poderá ser realizada ten<strong>do</strong> em conta a<br />

especificidade das suas áreas amostradas, tema que surge evidencia<strong>do</strong> no capitulo IV.2.1.<br />

As diferentes quantidades das espiguetas recolhidas em ambos os depósitos poderão<br />

ser<br />

interpretadas exactamente pelas já referidas conexões com as áreas de combustão <strong>do</strong><br />

Ambiente I, acima descritas.<br />

2.3.4.4. Biometria de espiguetas<br />

É usualmente admiti<strong>do</strong> que o estu<strong>do</strong> das espiguetas é mais fiável <strong>do</strong> que o das<br />

cariopses para distinção entre as várias espécies de cereais. Os parâmetros morfológicos<br />

encontram-se descritos no capítulo III.2.2.5.3.<br />

135


O estu<strong>do</strong> biométrico das espiguetas encontradas na Terronha de Pinhovelo incidiu<br />

unicamente sobre a largura da base das glumas visto ser o único parâmetro que foi possível<br />

calcular de forma sistemática e em quantidades significativas nas amostras.<br />

Ainda assim, como tivemos já oportunidade de perceber, são escassos os elementos<br />

pertencentes a T. monococcum, e a sua disposição nos boxplot abaixo apresenta<strong>do</strong>s<br />

serve<br />

fins principalmente descritivos. Na verdade, T. spelta é a única espécie com suficientes<br />

quantidades de glumas para permitir a averiguação de diferenças entre as U.E.<br />

A figura 4.24 demonstra uma sobreposição significativa entre a largura das glumas<br />

de<br />

T. dicoccum e T. monococcum. Por outro la<strong>do</strong>, a maioria das glumas de T. spelta são,<br />

como<br />

se esperava, mais largas que as restantes. Contu<strong>do</strong>, o grau de sobreposição face a T.<br />

dicoccum é mais significativo <strong>do</strong> que o indica<strong>do</strong> por S. Jacomet (2006), o que foi<br />

compensa<strong>do</strong> pela observação da secção das glumas e pelas características das estrias<br />

que<br />

detêm.<br />

Largura<br />

1,60<br />

1,40<br />

1,20<br />

1,00<br />

0,80<br />

0,60<br />

Td<br />

Figura 4.24. – Carpologia: largura de base de glumas de espécies de trigo<br />

Triticum monococcum Triticum dicoccum Triticum spelta<br />

0,83 ± 0,12 (0,75 - 1) 0,86 ± 0,11 (0,75 - 1,05) 1,09 ± 0,17 (0,8 - 1,6)<br />

Quadro 4.16. – Carpologia: síntese de da<strong>do</strong>s biométricos de largura de glumas<br />

Tm<br />

Código<br />

136<br />

Ts<br />

Triticum spelta


No que respeita a T. spelta, é difícil estabelecer comparações entre contextos com<br />

números muito díspares de fragmentos de espiguetas, pelo que nos iremos cingir a V3,<br />

IV20, IV65 e IV66, amostras onde os fragmentos de espiguetas são mais frequentes.<br />

Entre estas amostras salienta-se IV66 por apresentar glumas maioritariamente mais<br />

robustas, as restantes três assemelham-se bastante entre si. As semelhanças entre IV20 e<br />

IV65 deve-se, certamente, ao facto de as amostras recolhidas na primeira U.E.<br />

corresponderem a níveis de definição da segunda.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, apesar de as amostras da U.E [3] terem si<strong>do</strong> recolhidas aquan<strong>do</strong> da<br />

definição de [66], o depósito em questão encontra-se disperso por uma área<br />

considerável,<br />

que inclui inclusive a definição da extremidade Noroeste de [65], talvez explican<strong>do</strong> desta<br />

forma as semelhanças com este contexto.<br />

Largura<br />

1,60<br />

1,40<br />

1,20<br />

1,00<br />

0,80<br />

IV20<br />

IV21<br />

IV24<br />

Figura 4.25. – Carpologia: largura de base de glumas de T. spelta em diversos contextos<br />

137<br />

IV65<br />

U.E.<br />

IV66<br />

IV70<br />

V3


2.4. Etnobotânica da Terronha de Pinhovelo<br />

A leitura <strong>do</strong>s quadros <strong>do</strong> Anexo IX permite perceber quais as diversas<br />

utilizações<br />

dadas<br />

pelas comunidades rurais recentes às diferentes espécies encontradas. Os da<strong>do</strong>s em<br />

questão foram adquiri<strong>do</strong>s na bibliografia actualmente disponível e remontam a várias<br />

gerações de conhecimentos acumula<strong>do</strong>s, pelo que remeter esses conhecimentos para<br />

tempos tão antigos é sempre problemático. Efectivamente, trata-se de um<br />

exercício<br />

arrisca<strong>do</strong><br />

e até desnecessário pois acaba por ser impraticável assegurar a sua<br />

demonstração.<br />

Não é conheci<strong>do</strong> com rigor o nível de cognição que as comunidades indígenas de<br />

época romana teriam <strong>do</strong> meio que os envolvia, nomeadamente <strong>do</strong>s recursos vegetais.<br />

Como tal, não é possível saber se estavam conscientes das propriedades das plantas, ou<br />

algumas partes destas, disponíveis na envolvência <strong>do</strong> seu habitat. Deduzimos, porém, que<br />

tal como nas sociedades rurais de tempos mais recentes, a estreita ligação que teriam com<br />

o meio envolvente assim como a sua dependência face a este, deveriam implicar um íntimo<br />

relacionamento com o mesmo e um conhecimento detalha<strong>do</strong> das diferentes propriedades e<br />

características de to<strong>do</strong>s os recursos disponíveis. Desta forma, um estu<strong>do</strong> etnobotânico<br />

apresenta-se com diversas valências para a interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s arqueobotânicos.<br />

No que respeita aos conhecimentos <strong>do</strong> potencial medicinal das plantas detectadas no<br />

estu<strong>do</strong> arqueobotânico, embora não se saiba que uso foi da<strong>do</strong> às espécies estudadas, para<br />

além da sua utilização como combustível, é possível que pelo menos parte das<br />

propriedades das espécies em questão fossem conhecidas. Contu<strong>do</strong>, como foi já<br />

menciona<strong>do</strong>, trata-se de uma possibilidade indemonstrável. O quadro <strong>do</strong> Anexo IX.9.1<br />

pretende evidenciar a existência de um potencial medicinal e veterinário muito significativo<br />

na envolvência <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>. Esse potencial seria certamente mais eleva<strong>do</strong> da<strong>do</strong> certamente<br />

não se encontrarem representa<strong>do</strong>s no registo arqueobotânico a totalidade das espécies<br />

existentes no meio.<br />

Note-se que existem contradições entre as diversas referências bibliográficas<br />

consultadas. Os casos mais notórios são Sambucus ebulus e Hedera helix, ora<br />

considera<strong>do</strong>s venenosos ora medicinais. Na verdade, a fronteira entre estas duas<br />

denominações é ténue e dependente <strong>do</strong> efeito deseja<strong>do</strong> com a aplicação<br />

da planta em<br />

questão. No caso específico da hera, existem até referências <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> clássico que<br />

apontam o carácter psico-activo desta planta que conduziu, inclusive, à sua utilização em<br />

cerimónias ligadas ao culto dionisíaco (Ruck, 1995).<br />

O potencial alimentar de determinadas plantas surge referi<strong>do</strong> no quadro <strong>do</strong> Anexo<br />

IX.9.2 que exclui as espécies inequivocamente cultivadas, como a faveira e os cereais.<br />

138


Distinguem-se, na alimentação humana, o consumo de frutos (consumo directo ou<br />

transforma<strong>do</strong> em aguardentes ou compotas) de árvores ou arbustos, ou de folhas de<br />

herbáceas consumidas em saladas ou sopas. Sen<strong>do</strong> indubitável o potencial alimentar de<br />

determinadas<br />

espécies silvestres, seria provável a sua comum utilização pela população<br />

romana de Terronha de Pinhovelo. Um caso paradigmático da utilização alimentar de<br />

plantas silvestres é a beldroega, da qual existem variantes cultivadas.<br />

No que respeita à alimentação animal há referências<br />

a diversos arbustos, folhas,<br />

pequenos<br />

ramos e até frutos (ver quadro <strong>do</strong> Anexo IX.9.2).<br />

Salienta-se que algumas espécies são referenciadas tanto para alimentação humana<br />

como para forragem para animais. São elas algumas das espécies consumidas em saladas<br />

e sopas pelo Homem, nomeadamente a beldroega,<br />

a azeda e a labaça-obtusa. Acrescentese<br />

ainda a bolota. Esta duplicidade deve-se essencialmente ao facto de nas sociedades<br />

recentes, questionadas nos estu<strong>do</strong>s etnobotânicos, o consumo <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s alimentos<br />

encontrar-se associa<strong>do</strong> a épocas de carestia nas quais a sua escolha era movida pela<br />

necessidade (Carvalho, Lousada, Rodrigues, 2001; Salgueiro, 2005).<br />

As comunidades rurais actuais demonstram um pleno conhecimento acerca das<br />

propriedades da madeira das diversas espécies existentes na envolvência das suas<br />

habitações. Esse conhecimento traduz-se numa escolha discriminada quan<strong>do</strong> é necessária<br />

matéria-prima para distintos fins. Tal facto foi comprova<strong>do</strong> nas entrevistas que efectuámos<br />

junto a Pinhovelo. O Sr. Amândio, pastor, agricultor e habitante <strong>do</strong> termo de Mace<strong>do</strong> de<br />

Cavaleiros para a Amen<strong>do</strong>eira, menciona claramente a escolha da madeira de freixo ou<br />

castanheiro para os cabos de ferramentas. A madeira de carvalho, não sen<strong>do</strong> considerada<br />

totalmente inapropriada era preterida por rachar mais facilmente.<br />

Nas escavações arqueológicas que decorreram na Terronha de Pinhovelo as madeiras<br />

carbonizadas recolhidas não se encontram associadas a níveis de incêndio de construções<br />

mas sim a estruturas de combustão, pelo que o quadro <strong>do</strong> Anexo IX.9.3 é unicamente<br />

indicativo de características reconhecidas actualmente para o uso das madeiras para<br />

diversos fins. É, assim, um indicativo de disponibilidade.<br />

Um<br />

caso mais problemático e particularmente relevante para o presente estu<strong>do</strong> é a<br />

escolha de combustível (a lenha). Trata-se da única funcionalidade comprovada<br />

para as<br />

espécies silvestres encontradas na Terronha de Pinhovelo.<br />

Os estu<strong>do</strong>s de etnobotânica, <strong>do</strong>s quais salientamos a tese de <strong>do</strong>utoramento de Ana<br />

Carvalho (2005) centrada no Parque Natural de Montesinho, mencionam claramente uma<br />

escolha consciente <strong>do</strong> combustível mediante as suas propriedades e os fins a que se<br />

destinam. A autora em questão salienta, de entre as espécies detectadas em carvões na<br />

139


Terronha de Pinhovelo, o uso preferencial da esteva, giestas, urzes (especialmente Erica<br />

australis, preterin<strong>do</strong> algumas ericaceas), freixo, azinheira e carvalho-negral.<br />

Na aldeia de Pinhovelo, a Sra. Iria Diamantina, habitante local, afirma que no passa<strong>do</strong><br />

a recolha de lenha realizava-se nas imediações da habitação, na encosta da serra de<br />

Pinhovelo. Privilegiava-se a madeira originária da limpeza das árvores, isto é, de práticas<br />

silvícolas, assim como as giestas e o carvalho. A falta de combustível disponível conduzia a<br />

que se cavasse as terras em busca de raízes de carvalhos e carvalhos novos.<br />

O Sr. Amândio, já menciona<strong>do</strong> acima, descreve uma situação semelhante, afirman<strong>do</strong><br />

que chegavam a encher carroças com os carvalhos pequenos e raízes. Estas últimas eram<br />

particularmente<br />

apreciadas. Para o efeito era explorada uma mancha de carvalhal existente<br />

a uma distância significativa (não explicitada) <strong>do</strong> núcleo habitacional. Este informante<br />

menciona a escolha preferencial de freixo e carrasco (azinheira), para além, obviamente, <strong>do</strong><br />

carvalho.<br />

Também o Sr. Orlan<strong>do</strong> Pinheiro, da Amen<strong>do</strong>eira, menciona estas três espécies,<br />

salientan<strong>do</strong> o freixo. Acrescenta ainda as giestas e o produto da limpeza <strong>do</strong>s sobreiros, à<br />

semelhança da informante de Pinhovelo.<br />

Por oposição, entre as espécies pouco apreciadas para lenha salientam-se, na<br />

bibliografia, algumas urzes, o amieiro, a aveleira e o pinheiro-bravo (Carvalho, 2005) .<br />

Salienta-se,<br />

contu<strong>do</strong>, a abundância de carvão de Pinus pinaster entre as amostras<br />

estudadas. Parece que o facto de se tratar de uma madeira que produz demasia<strong>do</strong> fumo<br />

não impediu a sua escolha para os contextos analisa<strong>do</strong>s.<br />

Parece claro, através da leitura <strong>do</strong> quadro <strong>do</strong> Anexo IX.9.4 que existe nas<br />

comunidades rurais uma clara consciência das propriedades e potencialidades de cada<br />

espécie enquanto combustível. Essas propriedades condicionam a sua escolha mediante os<br />

fins a que se destinam: fornos, forjas e lareiras normais. De igual mo<strong>do</strong>, a Sra. Iria<br />

Diamantina menciona a escolha de estevas e carvalho mais miú<strong>do</strong> para cozer o pão, por<br />

arderem lentamente. Para o mesmo fim, o Sr. Amândio, para além das estevas, acrescenta<br />

as giestas,<br />

por ambas fazerem boa brasa.<br />

Ana Carvalho (2005) menciona mesmo que determinadas comunidades no PNM<br />

realizavam uma gestão <strong>do</strong> corte das giestas (Genista florida) de forma a assegurar o<br />

abastecimento de combustível.<br />

Porém, nem sempre se procedia a uma selecção criteriosa da lenha. Um <strong>do</strong>s<br />

informantes, o Sr. Amândio, afirma que em épocas de escassez de lenha não havia<br />

selecção durante a recolha. De qualquer forma, o comportamento<br />

descrito, isto é, a procura<br />

de carvalhos novos e raízes, característicos de fases de escassez, é ainda assim selectivo.<br />

Contu<strong>do</strong>, não se pode caracterizar a priori a disponibilidade de combustível no meio<br />

envolvente da Terronha de Pinhovelo. Assim, mesmo pressupon<strong>do</strong> que os carvões<br />

140


dispersos<br />

nos sedimentos arqueológicos são o produto de escolhas efectuadas ao longo de<br />

perío<strong>do</strong>s de tempo de longa duração, essa escolha terá si<strong>do</strong> condicionada não só pela<br />

disponibilidade no meio mas também por aspectos sócio-económicos.<br />

2.4.1. Cereais: usos e costumes<br />

Na região de Trás-os-Montes o centeio e o trigo são,<br />

claramente, os cereais mais<br />

cultiva<strong>do</strong>s.<br />

Contu<strong>do</strong>, o pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> trigo deve ser recente (Pereira, 1996; Júnior, 1977).<br />

Vários autores mencionam que as melhores terras eram usualmente guardadas para o trigo,<br />

considera<strong>do</strong> um cereal mais exigente (Oliveira et al., 1976; Dias, 1953). O centeio, cultura<br />

não representada nas amostras da TP, era cultiva<strong>do</strong> nas encostas mais altas e topos de<br />

elevações.<br />

No conjunto bibliográfico consulta<strong>do</strong> surge referi<strong>do</strong> de forma clara que a cevada é um<br />

cereal secundário na generalidade <strong>do</strong>s contextos alvo de estu<strong>do</strong>s etnográficos.<br />

Secundário<br />

porque pouco cultiva<strong>do</strong> e porque a sua produção na actualidade é destinada essencialmente<br />

à alimentação<br />

<strong>do</strong> ga<strong>do</strong>. Como tal, as referências respeitantes à faina <strong>do</strong>s cereais<br />

usualmente centram-se exclusivamente no trigo e no centeio. Deste mo<strong>do</strong>, não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

obti<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s suficientes em relação às particularidades <strong>do</strong> processo de trabalho da<br />

cevada, cingimo-nos ao trigo. Seguem-se as descrições de J. Santos Júnior (1977), E. Veiga<br />

de Oliveira e colabora<strong>do</strong>res (1976), J. Dias (1953), B. Pereira (1996) e L. Peña-Chocarro<br />

(1999).<br />

O cultivo de cereais faz-se usualmente em regime extensivo, com um sistema de<br />

afolhamentos. A terra para lavoura divide-se em duas folhas, uma<br />

em cultura (a folha <strong>do</strong><br />

pão) e a outra em pousio (a contrafolha). Na sua maioria estes são bienais (os solos<br />

descansam um ano) mas podem ser de <strong>do</strong>is ou até cinco anos, dependen<strong>do</strong> das<br />

características <strong>do</strong>s solos e das necessidades a suprir (Oliveira, et al., 1976). Com o<br />

surgimento da batata, esta veio a alternar com os cereais num regime de rotação (Pereira,<br />

1996).<br />

Sementeira<br />

A sementeira realiza-se, normalmente no final de Setembro ou início de Outubro. É<br />

precedida pela lavra e pela estrumação. Esta última pode ocorrer no próprio dia da<br />

sementeira (Pereira, 1996) ou até um mês antes (Peña-Chocarro, 1999). A lavra pode ser<br />

precedida de uma gradagem.<br />

O lançamento da semente deve ser feito de mo<strong>do</strong> a cobrir ampla e homogeneamente<br />

o terreno.<br />

141


A esta actividade sucede-se uma outra lavra que cobre a semente. Invés de uma lavra<br />

pode ser preferida uma gradagem para cobrir a semente e ao mesmo tempo desterroar as<br />

leivas (Peña-Chocarro, 1999).<br />

Até à segada<br />

Entre a sementeira e a segada existem várias actividades indispensáveis a uma boa<br />

colheita. Assim, logo em Janeiro-Março há uma lavra, a decrua ou relvar, que tem de ser<br />

funda (Júnior, 1977).<br />

A lavra seguinte, a vima ou bima, realiza-se em Abril ou Maio e é feita de forma obliqua<br />

face à anterior. É acompanhada de uma gradagem <strong>do</strong> terreno que quebra os torrões.<br />

Ainda no mês de Maio faz-se a monda. Esta actividade consiste na limpeza <strong>do</strong> terreno<br />

e arranque das ervas daninhas. É feita à mão e usualmente por mulheres (Júnior, 1977).<br />

Porém, pode ser antecedida por duas fases de monda à enxada, antes <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong><br />

cereal, a primeira em Fevereiro-Março e a segunda no final de Março-início de Abril (Peña-<br />

Chocarro, 1999).<br />

Segada<br />

Por fim, a segada realiza-se em Junho (Júnior, 1977; Oliveira et al., 1976). Contu<strong>do</strong>,<br />

Peña-Chocarro (1999), no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> cultivo de Triticum dicoccum e T. spelta nas Astúrias,<br />

aponta como datas para a sua ceifa, o final de Agosto e início de Setembro.<br />

A segada na região transmontana era feita tradicionalmente com foice. Trata-se de um<br />

trabalho moroso e particularmente duro. As técnicas inerentes ao mesmo não são aqui<br />

aprofundadas, poden<strong>do</strong> ser consultadas na bibliografia.<br />

O colmo com as espigas era junto em molhos e o seu transporte era feito em carroças,<br />

directamente por burros ou mulas, ou mesmo pelos próprios sega<strong>do</strong>res.<br />

Debulha<br />

Não menos duro era o trabalho que se seguia à ceifa, a debulha. Para a região estão<br />

<strong>do</strong>cumentadas três técnicas principais para a debulha <strong>do</strong>s cereais: a malhada, o trilho e a<br />

debulha a pé de ga<strong>do</strong>, todas realizadas numa eira de terra batida (Júnior, 1977).<br />

A malhada era realizada com recurso ao malho ou mangual, utensílio que consiste<br />

num cabo compri<strong>do</strong> no topo <strong>do</strong> qual uma corda curta, ou couro, prendem uma outra haste<br />

de madeira menor. O malho era eleva<strong>do</strong> e desci<strong>do</strong> ritmicamente, baten<strong>do</strong> com força sobre o<br />

cereal. O cereal tem de ser vira<strong>do</strong><br />

regularmente, o que era normalmente feito por mulheres.<br />

O trilho era um tabuleiro relativamente grande, com proa levantada, puxada por<br />

animais, presos a um tirante. A face inferior <strong>do</strong> trilho era cravejada por lascas de quartzo ou<br />

sílex, ou ainda por lâminas de ferro. Ao passar sobre o cereal vai cortan<strong>do</strong> e trituran<strong>do</strong> a<br />

palha e as espigas (Júnior, 1977).<br />

142


A debulha a pé de ga<strong>do</strong> consistia somente no pisoteio <strong>do</strong>s cereais pelo ga<strong>do</strong>,<br />

normalmente cavalar (Pereira, 1996; Peña-Chocarro, 1999). O cereal tem de ser vira<strong>do</strong><br />

regularmente.<br />

Limpeza <strong>do</strong> trigo<br />

Ainda<br />

na eira com as pás, em dia de vento, o colmo e o cereal eram lança<strong>do</strong>s ao ar<br />

(padejar), de mo<strong>do</strong> a que o vento fizesse<br />

a palha cair afastada <strong>do</strong> grão que, mais pesa<strong>do</strong><br />

caía directamente na eira. Era um trabalho masculino. Os pedaços de espiga ou palha mais<br />

pesa<strong>do</strong>s<br />

que caíam com o grão eram removi<strong>do</strong>s de imediato pelas mulheres. Por vezes<br />

havia que esperar pacientemente pelo dia adequa<strong>do</strong> para o processo.<br />

De seguida, o grão era criva<strong>do</strong> e limpo, fican<strong>do</strong> prepara<strong>do</strong> para o armazenamento<br />

(Júnior, 1977).<br />

O trigo vesti<strong>do</strong><br />

O processamento <strong>do</strong>s trigos vesti<strong>do</strong>s implica, usualmente, outras actividades para<br />

além das acima descritas, após a sua colheita, em especial no que respeita à separação<br />

entre o grão, espiga e espiguetas. Este ponto apresenta-se como sen<strong>do</strong> especialmente<br />

relevante, não só devi<strong>do</strong> ao peso que estas espécies têm no conjunto carpológico da TP,<br />

mas também por descrever actividades que poderão implicar o uso de fogo, e que têm si<strong>do</strong><br />

utilizadas como justificação para o surgimento de macro-restos carboniza<strong>do</strong>s nas jazidas<br />

arqueológicas.<br />

Peña-Chocarro<br />

(1999) problematiza de forma aprofundada esta questão, em especial<br />

para o T. dicoccum e T. spelta, com uma investigação etnográfica realizada nas Astúrias, o<br />

único local ibérico onde estas espécies são ainda cultivadas de forma tradicional. Na<br />

exposição seguinte segue-se de perto este estu<strong>do</strong>.<br />

A autora estuda também T. monococcum, porém, a sua investigação etnográfica<br />

acerca <strong>do</strong> processamento desta espécie não permitiu uma descrição pormenorizada das<br />

suas especificidades por não ser, actualmente, utilizada para consumo humano.<br />

Naturalmente<br />

os processos inerentes a uma planta usada para forragem são mais simples.<br />

Contu<strong>do</strong>, a autora menciona haver ainda memória, na região andaluza, <strong>do</strong> seu consumo<br />

pelo Homem, mas somente em tempos de carestia. Nesse tempo, as espiguetas eram<br />

maceradas e depois crivadas para separar os fragmentos destas.<br />

Os trigos T. dicoccum e T. spelta são normalmente cultiva<strong>do</strong>s juntos, sen<strong>do</strong> também<br />

comuns<br />

os processos inerentes ao seu cultivo e preparação posterior a este.<br />

Por norma<br />

estas duas espécies têm processos de cultivo semelhantes aos descritos<br />

anteriormente, com a excepção de não serem estruma<strong>do</strong>s. Tal deve-se ao facto de<br />

143


crescerem<br />

demasia<strong>do</strong> e terem assim tendência a <strong>do</strong>brar até ao chão, por causa da chuva e<br />

vento primaveris.<br />

Nas Astúrias a sementeira destes cereais é realizada em Novembro, invés de<br />

Setembro. São semea<strong>do</strong>s<br />

com espigueta pois a remoção desta poderá afectar o embrião<br />

inibin<strong>do</strong><br />

a germinação. Estas espiguetas são escolhidas após a ceifa anterior,<br />

seleccionan<strong>do</strong>-se as maiores.<br />

A ceifa destes cereais<br />

nas Astúrias é realizada sem recurso à foice. São utilizadas as<br />

mesorias,<br />

<strong>do</strong>is paus de 50cm, de secção circular, juntos por uma pequena corda ou couro.<br />

O trabalho é realiza<strong>do</strong> por homens que seguram com uma mão cada um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is paus,<br />

abrin<strong>do</strong>-os<br />

sobre um conjunto de pés, fechan<strong>do</strong>-os com força e estenden<strong>do</strong>-os até à base<br />

das espigas, arrancan<strong>do</strong>-as <strong>do</strong> colmo. As mulheres e crianças apanham as espigas que<br />

caem no chão e arrancam as que restam no colmo. Em campos pequenos, as espigas<br />

podem ser arrancadas totalmente à mão. Porém, julgamos que a escolha desta técnica<br />

dever-se-á a uma opção cultural, mais <strong>do</strong> que a uma inerência das espécies em questão.<br />

A palha é depois cortada com uma gadanha.<br />

Nas Astúrias os agricultores queimam as espigas com a intenção de remover as<br />

aristas. A colheita é empilhada, fazen<strong>do</strong>-se uma fogueira perto desta pilha. Com uma<br />

forquilha ou instrumento semelhante pega-se em várias espigas e abanan<strong>do</strong><br />

por cima <strong>do</strong><br />

fogo, deixa-se cair as espigas para serem queimadas. As aristas queimam-se rapidamente e<br />

as glumas ficam parcialmente queimadas. Existem possibilidades de erro neste processo,<br />

porém a perda de grãos é diminuta.<br />

Os agricultores afirmam que este procedimento ajuda ao processo que se realiza de<br />

seguida, a maceração em almofariz ou pios de piar para descorticar e libertar o grão. Em<br />

suma , sujeitar as espigas ao fogo permite que estas, bem como as espiguetas, sejam mais<br />

facilmente<br />

quebradas. Não é, contu<strong>do</strong>, uma actividade indispensável para este efeito. Na<br />

verdade, vários autores (veja-se Nesbitt e Samuel, 1995) demonstraram através de<br />

arqueologia experimental que a passagem pelo fogo não tem grande utilidade<br />

para a<br />

descorticação<br />

<strong>do</strong> grão, bastan<strong>do</strong> para o efeito a maceração em almofariz.<br />

Peña-Chocarro descreve ainda uma prática com algumas semelhanças <strong>do</strong>cumentada<br />

para o século XVII na Escócia. O graddaning consistia em segurar as espigas pelo colmo,<br />

numa mão, e atear-lhes fogo. Logo de seguida batia-se-lhes com um pau, o que libertava os<br />

grãos das espigas e queimava as espiguetas. O grão ficava já seco e parcialmente tosta<strong>do</strong>,<br />

sen<strong>do</strong> depois padeja<strong>do</strong> e moí<strong>do</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong>, o contacto <strong>do</strong> grão com o fogo poderá acontecer noutras fases <strong>do</strong> tratamento<br />

<strong>do</strong>s cereais, <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s etnograficamente<br />

noutros locais. A secagem <strong>do</strong> grão é outra<br />

dessas actividades sen<strong>do</strong> necessária para a sua farinação. Esta necessidade advém,<br />

forçosamente, <strong>do</strong> seu prévio contacto com a água. Esse contacto poder-se-á dever a<br />

144


práticas<br />

de lavagem por sistema de flutuação, ou mesmo às práticas de maceração<br />

mencionadas acima. A secagem é feita ao sol mas em áreas geográficas húmidas poderá<br />

por vezes ser feita<br />

em fornos ou por contacto directo com o fogo<br />

Também Nesbitt e Samuel (1995) mencionam estas práticas e consideram que seria<br />

nesta fase que se verificaria a perda por carbonização <strong>do</strong>s grãos. A água era adicionada no<br />

almofariz de mo<strong>do</strong> a amolecer as espiguetas e facilitar a descorticação da cariopse.<br />

Por fim, os grãos poderão ter contacto com fogo já em fases de confecção. De facto,<br />

apesar de nas Astúrias estes cereais serem sempre consumi<strong>do</strong>s em forma de farinha, o<br />

mesmo não acontece na Turquia e na Alemanha, onde estas espécies<br />

de cereal vesti<strong>do</strong><br />

também<br />

são consumidas em grão inteiro, seja tosta<strong>do</strong>, no primeiro caso, ou sob a forma de<br />

sopas, no segun<strong>do</strong>.<br />

Na Turquia é consumida também a farinha de grão tosta<strong>do</strong>.<br />

O pão destes cereais é muito aprecia<strong>do</strong> nas Astúrias. Contu<strong>do</strong>, o pão de T. dicoccum é<br />

preteri<strong>do</strong> face ao de T. spelta por crescer menos e ser mais escuro. Já o remanescente da<br />

debulha é utiliza<strong>do</strong> para a alimentação de animais, como combustível e para o enchimento<br />

de colchões.<br />

A cevada<br />

Como foi já referi<strong>do</strong>, actualmente e há já várias décadas, o cultivo da cevada é ti<strong>do</strong><br />

como secundário na região em questão, não existin<strong>do</strong>, por isso, descrições pormenorizadas<br />

<strong>do</strong>s processos de<br />

produção que lhe são inerentes.<br />

Para além <strong>do</strong> seu uso para a produção de bebidas alcoólicas, a utilização de cevada<br />

para a confecção de papas na antiguidade surge <strong>do</strong>cumentada por Plínio (Renfrew, 1973).<br />

A mesma autora menciona o uso da cevada para a produção de pão, embora fosse<br />

preterida face ao trigo. Também a Pollenta é feita à base de cevada, acompanhada por<br />

milho-miú<strong>do</strong><br />

e milho-painço e, segun<strong>do</strong>, R. Buxo (2005), constituiu a base alimentar das<br />

classes mais pobres.<br />

Os milhos<br />

No que respeita ao milho-painço (Setaria italica) e milho-miú<strong>do</strong> ou milho-alvo (Panicum<br />

miliaceum) tratam-se de espécies referidas para a região transmontana,<br />

para tempos mais<br />

antigos (Aguiar, 2001). Santos Júnior (1977) refere o cultivo minoritário de milho burreiro,<br />

denominação<br />

regional para o milho-miú<strong>do</strong> ou painço, tidas pelo autor como a mesma<br />

espécie. Contu<strong>do</strong> as menções ao processamento <strong>do</strong>s mesmos são escassas.<br />

R. Buxo<br />

(1997)<br />

refere que a sementeira realiza-se na Primavera, e exige que as terras estejam<br />

145


lavradas com uma textura fina. Ao mesmo tempo têm o inconveniente de esgotarem<br />

demasia<strong>do</strong> o solo.<br />

Acrescente-se que como o grão é muito frágil, to<strong>do</strong>s os processos que sucedem à<br />

colheita devem ser realiza<strong>do</strong>s com muita cautela (Buxo, 1997). Os <strong>do</strong>is milhos podem ser<br />

cultiva<strong>do</strong>s em conjunto e confecciona<strong>do</strong>s isoladamente ou em mistura com farinha de trigos<br />

(Marinval, 1992).<br />

O uso de milho-miú<strong>do</strong> (Panicum miliaceum) para a confecção de papas surge<br />

<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> por Plínio, estan<strong>do</strong> testemunhada a perduração deste prática até aos tempos<br />

actuais no leste da Europa (antiga União Soviética). O mesmo autor clássico menciona o<br />

seu uso para fazer levedura para a confecção de bebidas (apud Renfrew, 1973).<br />

É também Plínio quem menciona o uso de milho-painço (Setaria italica) para o fabrico<br />

de pão, assim como de papas (apud Renfrew, 1973).<br />

2.4.2.<br />

As favas<br />

O cultivo das favas exige a presença de água em relativa abundância, sen<strong>do</strong> cultivada,<br />

geralmente, em conjunto com outras espécies hortícolas.<br />

Para além <strong>do</strong> uso da semente inteira em guisa<strong>do</strong>s e sopas, outros tipos de consumos<br />

surgem testemunha<strong>do</strong>s pelos autores clássicos. Deste mo<strong>do</strong>, vários usos são menciona<strong>do</strong>s<br />

por Plínio, para a farinha de fava ( lomentum), obtida por maceração em almofariz (apud<br />

Renfrew,<br />

1973). Essa farinha era acrescentada à farinha de trigo ou milho-painço para<br />

aumentar o peso <strong>do</strong>s pães para venda; era também utilizada para a confecção de papas<br />

utilizadas em sacrifícios aos deuses; e era ainda usada para fazer um puré especial, uma<br />

mistura de farinha de fava com peixe e especiarias.<br />

A produção de pão com farinha de leguminosas, incluin<strong>do</strong> farinha de fava, encontra-se<br />

atestada desde o Norte de África até à Índia.<br />

146


V. DISCUSSÃO<br />

1. Aspectos<br />

de natureza morfo-tipológica<br />

Um estu<strong>do</strong> desta natureza, inseri<strong>do</strong> num projecto académico, deve também ser um<br />

espaço<br />

de reflexão acerca das questões meto<strong>do</strong>lógicas que o tutelaram e condicionaram.<br />

Algumas considerações devem ser feitas acerca da morfologia de determina<strong>do</strong>s tipos<br />

xilotómicos e carpológicos, na esperança de contribuir, assim, para uma maior compreensão<br />

<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> e abrangência taxonómica que lhes é atribuí<strong>do</strong> neste trabalho. Salientam-se<br />

as questões referentes à anatomia das madeiras de Quercus spp. e de Erica spp., assim<br />

como às sementes <strong>do</strong> género Triticum.<br />

Anatomia de madeiras<br />

em Quercus spp.<br />

Foram distingui<strong>do</strong>s vários tipos xilotómicos de género Quercus: Q. coccifera, Q. ilex, Q.<br />

faginea, Q. pyrenaica, Q. suber, Q. perenifolia e Quercus subgenus Quercus.<br />

In<strong>do</strong> além das classificações que distinguem apenas <strong>do</strong>is grupos - espécies de folha<br />

caduca e espécies de folha perene, optámos pela definição de tipos morfológicos com base<br />

na distribuição <strong>do</strong>s poros no corte transversal (vide supra,<br />

ponto III.2.2.4). Note-se, no<br />

entanto,<br />

que a correspondência entre tipo morfológico e espécie botânica não é unívoca,<br />

varian<strong>do</strong> o número de espécies incluídas em cada tipo xilomorfológico (mais uma vez vide<br />

supra,<br />

ponto III.2.2.4).<br />

É discutível a utilidade <strong>do</strong> uso destes morfotipos quan<strong>do</strong> estes incluem características<br />

anatómicas de mais que uma espécie <strong>do</strong> mesmo género. Procuramos, porém, cumprir <strong>do</strong>is<br />

propósitos:<br />

- Corresponder a descrições mais detalhadas que permitam ir além da distinção<br />

entre<br />

porosidade em anel e porosidade difusa.<br />

- Restringir o leque de espécies botânicas provavelmente incluídas em cada tipo<br />

xilotómico considera<strong>do</strong>. Este princípio torna-se váli<strong>do</strong> na medida em que se<br />

assume que os padrões de distribuição de poros que caracterizam cada tipo são<br />

característicos, principalmente, da espécie que lhe dá o nome. Este trabalho<br />

segue uma proposta de classificação xilo-morfológica em elaboração por Wim<br />

van Leeuwaarden, à qual se juntou a consulta da bibliografia da especialidade.<br />

Refira-se, no entanto, que a questão da identificação das espécies de Quercus<br />

com base na anatomia da madeira é ainda uma questão em aberto, que terá no<br />

147


futuro de contar com a realização de uma pesquisa mais detalhada sobre a<br />

morfologia da madeira <strong>do</strong> género, onde se defina com rigor qual o valor<br />

diagnosticante de cada carácter morfológico na discriminação das diferentes<br />

espécies.<br />

Os <strong>do</strong>is últimos<br />

tipos morfológicos referi<strong>do</strong>s acima (Q. perenifolia e Quercus subgenus<br />

Quercus)<br />

correspondem a tipos xilotómicos de âmbito mais lato, onde se incluíram os<br />

fragmentos de Quercus menos característicos, que não puderam ser integra<strong>do</strong>s nos tipos<br />

descritos de âmbito taxonómico mais restrito.<br />

De entre as espécies de folha perene é usual, na bibliografia, distinguir o tipo<br />

Q. suber.<br />

No entanto,<br />

este tipo xilotómico é, com alguma frequência, difícil de distinguir de Q.<br />

coccifera pois o carácter semi-difuso <strong>do</strong> lenho de Q. suber e a densidade de raios<br />

multisseria<strong>do</strong>s nem sempre são possíveis de observar em fragmentos de carvão de muito<br />

reduzidas<br />

dimensões. No caso da Terronha de Pinhovelo, a ausência <strong>do</strong> carrasco nas<br />

paisagens actuais de Trás-os-Montes poderá, embora com algumas reservas, sugerir a sua<br />

exclusão <strong>do</strong> conjunto antracológico em questão. Foram, no entanto, classifica<strong>do</strong>s alguns<br />

pequenos<br />

fragmentos de carvão como Q. coccifera, já que as características morfológicas<br />

observadas correspondiam à descrição <strong>do</strong> tipo. Face<br />

às reduzidas dimensões <strong>do</strong>s<br />

fragmentos,<br />

a atenden<strong>do</strong> ao comentário exposto anteriormente, a probabilidade de se tratar<br />

de madeira de sobreiro não é de se excluir, pelo que não fica provada a presença de<br />

carrasco no território de Terronha de Pinhovelo durante a época romana.<br />

A observação na colecção de cortes histológicos <strong>do</strong> Laboratório de Paleoecologia e<br />

Arqueobotânica de vários espécimes de Q. suber e Q. ilex permitiu também perceber a<br />

dificuldade existente na distinção entre estas duas espécies, em especial por poderem<br />

existir zonas semi-difusas em algumas fiadas de poros em Q. ilex, embora não seja<br />

frequente.<br />

De igual forma, a madeira de sobreiro apresenta, por vezes, um maior número de<br />

poros <strong>do</strong> que aqueles que se considera característico<br />

deste tipo xilotómico.<br />

Não obstante a provável inclusão no conjunto de restos identifica<strong>do</strong>s como sobreiro de<br />

fragmentos atípicos de azinheira, é possível afirmar que o tipo xilotómico Q. suber deverá<br />

incluir, principalmente, fragmentos de carvão de madeira de sobreiro. Esta caracteriza-se<br />

por apresentar porosidade difusa a semi-difusa, normalmente com uma pequena zona<br />

desprovida de poros no final da camada de crescimento, e com alguns poros de maior<br />

dimensão no início <strong>do</strong> lenho de Primavera. Estes não existem, de forma tão evidente, na<br />

madeira de azinheira e carrasco. Por outro la<strong>do</strong>, na madeira de azinheira os poros são mais<br />

frequentes (vide supra, ponto III.2.2.4).<br />

No que se refere às espécies de folha caduca e marcescente distinguiram-se <strong>do</strong>is tipos<br />

xilotómicos, Q. pyrenaica e Q. faginea. A existirem exemplares de Q. robur nos conjuntos<br />

148


antracológicos estuda<strong>do</strong>s, estes não se reconheceram morfologicamente e estariam<br />

incluí<strong>do</strong>s em ambos os tipos aqui descritos, apesar de supostamente dever existir uma<br />

diferença significativa entre a dimensão <strong>do</strong>s poros <strong>do</strong> lenho de Primavera <strong>do</strong> carvalho-<br />

cerquinho e os <strong>do</strong> carvalho-alvarinho (Vernet et al.,<br />

2001).<br />

A característica que mais facilmente distingue o tipo Q. pyrenaica é o carácter muito<br />

abrupto<br />

da transição <strong>do</strong> lenho inicial para o lenho tardio, ou seja, nota-se a presença de um<br />

anel com uma fiada (por vezes duas) de poros grandes sem prolongamentos dendríticos de<br />

poros de dimensões intermédias face aos pequenos poros <strong>do</strong> lenho final. Verificam-se<br />

frequentemente poros de dimensões intermédias mas apenas inseri<strong>do</strong>s nas fiadas <strong>do</strong> anel<br />

inicial.<br />

O tipo xilotómico Q. faginea caracteriza-se por apresentar poros iniciais menores <strong>do</strong><br />

que os <strong>do</strong> tipo anteriormente descrito,<br />

e também pela existência de prolongamentos<br />

dendríticos <strong>do</strong>s poros de Primavera. Várias ilustrações de Q. pyrenaica presentes nos atlas<br />

anatómicos (por exemplo Schweingruber, 1990) apresentam estas mesmas características<br />

pelo que se assume a probabilidade <strong>do</strong> tipo<br />

Q. faginea incluir exemplares daquela espécie.<br />

Embora<br />

caracteristicamente os <strong>do</strong>is tipos xilotómicos apresentem claras diferenças ao<br />

nível da distribuição de poros no corte transversal, e a identificação de exemplares típicos<br />

não seja problemática, a constatação de que cada tipo morfológico poderá<br />

incluir<br />

exemplares<br />

de mais <strong>do</strong> que uma espécie só testemunha a grande variabilidade morfológica<br />

que caracteriza as madeiras deste género, tornan<strong>do</strong> muito difícil, quiçá impossível, a<br />

identificação de espécimes menos típicos. Refira-se mais uma vez a importância da<br />

realização de um estu<strong>do</strong> detalha<strong>do</strong> sobre esta questão.<br />

A acentuar esta dificuldade, vários estu<strong>do</strong>s demonstram a existência de variações ao<br />

nível da dimensão e distribuição<br />

de poros provocadas por diferentes factores: o local da<br />

árvore<br />

(tronco, pequenos ramos, raízes) de onde é extraída a madeira (veja-se o exemplo<br />

de Q. robur em Gasson, 1987); e as condições ambientais às quais o indivíduo foi sujeito ao<br />

longo <strong>do</strong> seu tempo de vida (veja-se o caso específico <strong>do</strong> efeito de condições de secura em<br />

exemplares<br />

de Q. ilex em Corcuera et al., 2004, de Q. suber em Leal, et al., 2007 e de Q.<br />

pyrenaica em Corcuera et al., 2006).<br />

Concluin<strong>do</strong>,<br />

a definição de tipos xilotómicos serve como base de dedução da maior<br />

probabilidade<br />

de representação de cada espécie pela identificação de características com<br />

significativo<br />

valor diagnosticante. Não exclui a possibilidade de erro mas permite uma base<br />

de análise mais eficaz.<br />

149


Anatomia de madeira em Erica spp.<br />

A identificação<br />

de espécies <strong>do</strong> género Erica através das características da sua<br />

madeira demonstrou ser também uma tarefa difícil apesar de existir já um estu<strong>do</strong> anatómico<br />

aprofunda<strong>do</strong><br />

(Queiroz e Van der Burgh, 1989). A dificuldade prende-se com o facto de<br />

algumas<br />

características diagnosticantes não serem observáveis em madeiras carbonizadas<br />

e outras só serem verdadeiramente perceptíveis em fragmentos de dimensões<br />

consideráveis.<br />

Assume-se como elemento primordial para<br />

a distinção de espécies deste género a<br />

largura<br />

<strong>do</strong>s raios plurisseria<strong>do</strong>s e a altura <strong>do</strong>s raios unisseria<strong>do</strong>s. Em menor medida, e de<br />

forma complementar, poderá ser utiliza<strong>do</strong> o diâmetro máximo <strong>do</strong>s poros no corte<br />

transversal.<br />

Vários fragmentos estuda<strong>do</strong>s, no entanto, não se enquadram facilmente num <strong>do</strong>s<br />

quatro tipos morfológicos identifica<strong>do</strong>s (Erica umbellata, E. scoparia, E. arborea e E.<br />

australis) apresentan<strong>do</strong> características que somente excluem duas, ou uma das espécies<br />

mencionadas. O resulta<strong>do</strong> é um conjunto pouco operacional de grupos xilotómicos. A<br />

principal causa é a dimensão <strong>do</strong>s fragmentos em questão que, na maioria <strong>do</strong>s casos, não<br />

permite observar de forma fiável os padrões referentes à dimensão <strong>do</strong>s raios no corte<br />

tangencial.<br />

Existe assim alguma fragilidade nos critérios usa<strong>do</strong>s na distinção <strong>do</strong>s tipos xilotómicos.<br />

De facto, a diferença entre E. umbellata e E. scoparia reside principalmente<br />

no facto de a<br />

segunda<br />

apresentar raios com quatro células de largura máxima, enquanto que os raios da<br />

primeira não apresentam mais <strong>do</strong> que três células de largura. Acrescente-se que os raios<br />

unisseria<strong>do</strong>s de ambos possuem alturas distintas e os poros, em corte transversal,<br />

apresentam uma ligeira diferença ao nível <strong>do</strong> seu diâmetro máximo (vide supra, ponto<br />

III.2.2.4). Porém, denota-se, em ambos os casos, um grande nível de sobreposição nas<br />

características avaliadas, tornan<strong>do</strong> difícil a identificação de inúmeros fragmentos<br />

de carvão.<br />

Existem também dificuldades para a distinção entre E. arborea e E. australis. Ambas<br />

as espécies apresentam raios mais largos que as restantes urzes presentes nas amostras<br />

estudadas. A distinção entre si faz-se principalmente pelo facto de os raios bisseria<strong>do</strong>s<br />

serem frequentes em E. arborea e raros em E. australis. O diâmetro máximo <strong>do</strong>s poros é<br />

ligeiramente superior na primeira espécie. No entanto, tal como nos casos anteriores, o grau<br />

de sobreposição das características anatómicas é bastante grande.<br />

Uma proposta para a solução desta questão seria a constituição de <strong>do</strong>is grupos<br />

xilotómicos de maior abrangência taxonómica:<br />

E. umbellata/scoparia e E. arborea/australis.<br />

Esta possibilidade deverá ser testada em futuros estu<strong>do</strong>s, ou na continuação deste,<br />

envolven<strong>do</strong> necessariamente um maior número de fragmentos de carvão.<br />

150


Anatomia carpológica em Triticum spp.<br />

Os da<strong>do</strong>s expostos no capítulo IV.2.3.4. demonstram um pre<strong>do</strong>mínio, entre os trigos<br />

vesti<strong>do</strong>s,<br />

de cariopses de T. dicoccum face a T. spelta e T. monococcum. As características<br />

morfológicas, traduzidas em determina<strong>do</strong>s parâmetros biométricos, foram a base deste<br />

estu<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, como foi já referi<strong>do</strong>, a distinção entre as diversas espécies não se fez sem<br />

dificuldades.<br />

O grau de sobreposição biométrica entre as cariopses de T. dicoccum e T. spelta é<br />

assinala<strong>do</strong><br />

por S. Jacomet (2006). A autora salienta que quan<strong>do</strong> as cariopses de T. spelta<br />

são submetidas<br />

ao fogo ainda na espigueta ou na espiga, a sua forma torna-se diferente da<br />

<strong>do</strong>s grãos típicos, aproximan<strong>do</strong>-se muito da morfologia e <strong>do</strong>s parâmetros biométricos de T.<br />

dicoccum.<br />

No caso <strong>do</strong>s macro-fosseis vegetais da Terronha de Pinhovelo, deve-se salientar a<br />

existência de uma forte discrepância entre os da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s pelas cariopses e os <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong><br />

das espiguetas. Os fragmentos de glumas e bases de espiguetas classifica<strong>do</strong>s como<br />

T. spelta são bastante mais abundantes que os de T. dicoccum. Toman<strong>do</strong> o exemplo <strong>do</strong>s<br />

contextos mais circunscritos, isto é, as áreas de combustão, nos quais a comparação entre<br />

proporções de grãos e espiguetas será mais fiável, esse facto torna-se evidente (ver figuras<br />

4.14. e Anexo II). Há, entre as cariopses, um <strong>do</strong>mínio evidente de T. dicoccum sobre T.<br />

spelta, tanto em IV65 como em IV66, <strong>do</strong>mínio que se inverte ao considerarmos as<br />

espiguetas.<br />

A própria quantidade, muito significativa, de fragmentos de espiguetas, assim como o<br />

registo de grãos ainda no interior das respectivas espiguetas sugere que muitas cariopses<br />

tenham si<strong>do</strong> submetidas a fogo antes da descorticação o que tem, como vimos, fortes<br />

implicações na sua morfologia.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, consideramos muito provável que nos resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s haja uma<br />

sobrevalorização da presença de grãos de T. dicoccum face aos de T. spelta, provocada por<br />

uma identificação errónea de cariópses,<br />

baseada em características morfológicas<br />

correspondentes<br />

à franja de sobreposição entre as espécies, especialmente quan<strong>do</strong> em<br />

presença de grãos de morfologia alterada pelo fogo. Essa sobrevalorização poderá<br />

conduzir a conclusões erróneas e só estu<strong>do</strong>s mais aprofunda<strong>do</strong>s acerca da morfologia das<br />

cariopses e os efeitos provoca<strong>do</strong>s pela combustão parcial<br />

destas poderão esclarecer esta<br />

questão.<br />

Uma situação semelhante foi detectada na jazida de Cortaillod/Sur les Rochettes-est,<br />

na<br />

Suiça, onde foi estudada maior quantidade de material (Akeret, 2005). Assim, à<br />

semelhança<br />

<strong>do</strong> que se verificou nessa jazida, e partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto assumi<strong>do</strong> em<br />

151


diversos estu<strong>do</strong>s carpológicos (Jacomet, 2006; Buxo, 1997) de que os fragmentos de<br />

espiguetas são elementos mais fiáveis para a classificação de cereais, assume-se que T.<br />

spelta<br />

seria, entre os trigos vesti<strong>do</strong>s presentes na Terronha de Pinhovelo, o cereal mais<br />

representa<strong>do</strong>.<br />

Também entre T. dicoccum e T. monococcum estão <strong>do</strong>cumentadas dificuldades de<br />

distinção ao nível das cariopses. A identificação de cariopses de “two-seeded” T.<br />

monococcum similares<br />

a T. dicoccum em jazidas <strong>do</strong> leste da Europa e Próximo-Oriente<br />

(Kroll,<br />

1992) poderá constituir uma base para dúvidas nas classificações. No estu<strong>do</strong> da<br />

jazida Feudvar, nos Balcãs, Helmut Kroll (1992) conseguiu no entanto estabelecer uma<br />

distinção entre as duas espécies não com base em parâmetros métricos, apesar de se<br />

verificar uma diferença significativa na espessura, mas sim noutros aspectos morfológicos.<br />

No caso da Terronha de Pinhovelo, as poucas cariopses de T. monococcum<br />

encontradas enquadram-se nos grãos típicos desta espécie e a escassez de fragmentos de<br />

espiguetas inseri<strong>do</strong>s neste tipo morfológico parece confirmar os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong><br />

das cariopses.<br />

152


2. Distribuição de macro-restos vegetais no Sector B<br />

Atenden<strong>do</strong><br />

ao facto de as amostras recolhidas não se distribuírem de forma<br />

equiparável<br />

pelas diversas fases de ocupação romana <strong>do</strong> Sector B da Terronha de<br />

Pinhovelo não se poderá de forma apropriada estabelecer uma comparação entre as fases<br />

representadas. Na verdade, como foi já referi<strong>do</strong>, os da<strong>do</strong>s disponíveis só permitem<br />

comparar as diferentes áreas de combustão (ver os pontos 4.2.2. e 4.2.3).<br />

A comparação entre as áreas de combustão serve propósitos eminentemente<br />

etnobotânicos. As áreas de combustão representadas pelos depósitos [65] e [66]<br />

encontram-se la<strong>do</strong>-a-la<strong>do</strong>, separadas por um pequeno murete, e correspondem a estruturas<br />

com algumas semelhanças entre si. Distinguem-se por [66] cobrir um pequeno e irregular<br />

empedra<strong>do</strong> com evidentes marcas de fogo, e [65] cobrir um depósito esbranquiça<strong>do</strong> de<br />

origem<br />

antrópica, circunscrito à zona da estrutura. O depósito [71] salienta-se por cobrir uma<br />

estrutura de combustão diferente, ou apenas melhor conservada que as anteriores: uma<br />

base de argila compacta e fina. Distingue-se também pela diferença de volume face aos<br />

outros <strong>do</strong>is depósitos. Ten<strong>do</strong> a U.E. [71] um volume muito menor que as restantes (ver<br />

Quadro III.3.1). Os três depósitos foram recolhi<strong>do</strong>s integralmente.<br />

Dar-se-á particular atenção à comparação entre estes três contextos, remeten<strong>do</strong>-se<br />

para segun<strong>do</strong> plano a área de combustão U.E. [11], pois esta última, ao contrário das<br />

anteriores, não foi recolhida integralmente, prolongan<strong>do</strong>-se, inclusive, para fora da área de<br />

escavação pelo<br />

que não se encontra ainda plenamente compreendida.<br />

Globalmente as três áreas de combustão não são muito diferentes <strong>do</strong> ponto de vista<br />

<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> antracológico e caracterizam-se pela presença pre<strong>do</strong>minante de madeira<br />

de Quercus spp., pinheiro, medronheiro e esteva, e pela ocorrência minoritária ou pontual de<br />

outros tipos xilotómicos, a maioria<br />

<strong>do</strong>s quais presente nas três estruturas (ver Quadro 4.1).<br />

Conforme<br />

foi já referi<strong>do</strong>, a exploração interpretativa das diferenças entre a quantidade de<br />

fragmentos de cada tipo identificada em cada contexto é sempre possível em termos<br />

estatísticos mas apresenta, na maioria das vezes, reduzi<strong>do</strong> valor científico, quer na<br />

reconstituição vegetacional quer etnobotânica, da<strong>do</strong>s os diferentes factores enviesantes já<br />

anteriormente comenta<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, e também como já explica<strong>do</strong>, a constatação de<br />

ausências de tipos em determina<strong>do</strong>s contextos se assume como factor de pouco significa<strong>do</strong><br />

interpretativo.<br />

Assim,<br />

e não sen<strong>do</strong> os elencos florísticos muito diferentes entre as estruturas de<br />

combustão<br />

consideradas, a sua comparação será baseada em alguns aspectos, que<br />

passaremos a descrever, cujo significa<strong>do</strong>, no entanto, se assume como de reduzi<strong>do</strong> valor<br />

interpretativo.<br />

153


O quadro 5.1. representa os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s para as áreas de combustão referidas<br />

no que respeita à presença/ausência de taxa na análise antracológica.<br />

Espécie IV65 IV66 III71<br />

Alnus glutinosa 0 0 0<br />

Arbutus une<strong>do</strong> 1 1 1<br />

Cistus sp. 1 1 1<br />

Corylus avelana 0 0 0<br />

Cytisus/Genista 0 0 0<br />

Erica arborea 0 0 0<br />

Erica arborea/australis/scoparia 1 0 0<br />

Erica australis 0 0 0<br />

Erica scoparia 0 0 0<br />

Erica umbellata 1 1 0<br />

Fraxinus angustifolia 1 0 1<br />

cf. Fraxinus angustifolia 0 1 0<br />

Juglans regia 0 0 0<br />

Pinus pinaster 1 1 1<br />

Quercus cf. coccifera 1 1 0<br />

Quercus ilex 0 0 0<br />

Quercus cf. ilex 0 1 0<br />

Quercus faginea 1 1 0<br />

Quercus cf. faginea 1 1 0<br />

Quercus pyrenaica (tipo) 1 1 1<br />

Quercus perenifolia 1 1 0<br />

Quercus suber 0 1 1<br />

Quercus suber/coccifera 1 1 1<br />

Quercus subgenus Quercus 1 1 1<br />

Sorbus sp. 0 0 0<br />

Ulmus minor 0 0 1<br />

Quadro 5.1. – Antracologia: comparação entre áreas de combustão. Os valores<br />

indica<strong>do</strong>s correspondem a presença (1) ou ausência (0) <strong>do</strong>s tipos referi<strong>do</strong>s,<br />

independentemente <strong>do</strong> número de fragmentos identifica<strong>do</strong>s.<br />

Refira-se em primeiro lugar a ausência, nas áreas de combustão, de várias espécies<br />

(células a cinzento claro no quadro 5.1), das quais de salientam o tipo Cytisus e várias<br />

urzes, algo frequentes noutros contextos (ver Quadros 4.1 e 4.2). A inexistência de espécies<br />

como Alnus glutinosa, Corylus avelana, Juglans regia e Sorbus sp. será porventura menos<br />

significativa visto todas estas terem si<strong>do</strong> recolhidas apenas pontualmente e em escassas<br />

amostras (no máximo duas), em to<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>.<br />

Entre as três áreas de combustão as principais diferenças ( algumas assinaladas no<br />

quadro 5.1 a cinzento escuro) apresentam-se de seguida (ver também os Quadros 4.1 e<br />

4.2):<br />

- IV65: presença maioritária de madeira de Quercus, salientan<strong>do</strong>-se os tipos<br />

decíduo/marcescentes; ausência de fragmentos claramente identifica<strong>do</strong>s como<br />

154


sobreiro, embora nesta amostra ocorra um grande número de fragmentos de<br />

Quercus de tipo específico não determina<strong>do</strong>.<br />

- IV66: maior quantidade de madeira de pinheiro; ausência de fragmentos<br />

claramente identifica<strong>do</strong>s como freixo, embora ocorram fragmentos assim<br />

identifica<strong>do</strong>s com reserva.<br />

- III71: ausência de qualquer espécie de urzes, ausência de carvalhocerquinho;<br />

registo único de Ulmus minor.<br />

Já nos da<strong>do</strong>s carpológicos se denotam divergências mais relevantes entre as duas<br />

estruturas de combustão [65] e [66]. As sementes mais abundantes nos três contextos<br />

pertencem a cereais. Apresentam-se as principais diferenças:<br />

- IV66: tem, no seu total bastantes mais sementes; tem um maior<br />

número de cariopses de trigo em mau esta<strong>do</strong> de conservação, identificadas<br />

apenas ai nível genérico; é o único destes contextos com cariopses de T.<br />

monococcum; conta com poucas cariopses de cevada; não contém unidades<br />

de favas (apenas ocorrem alguns pequenos fragmentos sem hilo); contém<br />

gramíneas silvestres.<br />

- IV65: tem quantidades muito significativas de cevada; apresenta<br />

grandes quantidades de favas; não conta com gramíneas silvestres.<br />

A estrutura de combustão III71, por seu la<strong>do</strong>, é muito diferente, apresentan<strong>do</strong> um<br />

número muito mais reduzi<strong>do</strong> de sementes (Quadro 4.11.). No que diz respeito aos cereais,<br />

as diferenças<br />

mais significativas entre IV66 e IV65 consistem numa maior frequência de<br />

cevada em IV65 e na ocorrência exclusiva de T. monococcum em IV66.<br />

Porém, as diferenças entre as duas áreas de combustão <strong>do</strong> Ambiente I ([65] e [66])<br />

tornam-se mais evidentes no que concerne à presença de favas. De facto, como foi já<br />

menciona<strong>do</strong> antes, quase todas as favas recolhidas neste estu<strong>do</strong> encontram-se associadas<br />

à área de combustão [65]. III71 não continha qualquer exemplar ou fragmento de fava,<br />

enquanto que IV66 forneceu somente alguns fragmentos de fava sem hilo, ou seja, não foi<br />

contabilizada qualquer unidade.<br />

No que respeita às espécies silvestres, IV66 e IV65 contam com a presença de plantas<br />

ruderais, sen<strong>do</strong> IV65 o único destes contextos que apresenta Lolium sp., Por outro la<strong>do</strong>, em<br />

III71 não foram recolhi<strong>do</strong>s restos de infestantes, ten<strong>do</strong> apenas ocorri<strong>do</strong> bolotas, sen<strong>do</strong>,<br />

aliás, a única área de combustão com glandes de Quercus sp.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, enquanto que IV66 e IV65 poderão incluir espécies infestantes de<br />

campos agrícolas e ruderais, III71 parece associar-se a meios distintos, traduzin<strong>do</strong>,<br />

155


possivelmente<br />

funcionalidades distintas para esta área de combustão (pelo menos na sua<br />

ultima utilização).<br />

Muitas<br />

outras espécies silvestres ocorrem nas outras amostras e não são encontradas<br />

nas áreas de combustão. Porém, a sua presença é sempre minoritária nos restantes<br />

contextos (usualmente uma só semente num só contexto) pelo que este facto acaba por não<br />

ser muito relevante.<br />

De<br />

resto, os restantes contextos contêm bastante menos espécies cultivadas <strong>do</strong> que<br />

as estruturas de combustão, facto resultante da diferente natureza <strong>do</strong>s mesmos.<br />

156


3. Estratégias<br />

de recolha de combustível<br />

A análise estatística<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s antracológicos apesar de não ter si<strong>do</strong> particularmente<br />

esclarece<strong>do</strong>ra<br />

visto os diferentes contextos assemelharem-se bastante ao nível de<br />

composição florística, permitiu ainda assim<br />

compreender alguns aspectos das estratégias de<br />

recolha de combustível,<br />

inerentes a cada contexto.<br />

Num primeiro nível de análise é possível afirmar<br />

que não há padrões que distingam<br />

claramente contextos de derrube, depósitos ou mesmo áreas de combustão.<br />

Alguns contextos arqueológicos evidenciam escolhas distintas de combustível. As U.E.<br />

[9], [24], [50], [63], [66], [82] e [95], já mencionadas anteriormente, assemelham-se pela sua<br />

associação maioritária aos bosques de perenifolias (condiciona<strong>do</strong>s<br />

em especial pela<br />

presença de Quercus<br />

perenifolia e Quercus ilex) e, principalmente, pelo facto de serem os<br />

únicos contextos<br />

sem Fraxinus angustifolia ou qualquer espécie ripícola. Repare-se que<br />

nestes contextos<br />

inclui-se uma área de combustão, a IV66 (apesar de não se mencionar<br />

IV65, como já se fez notar acima, a distinção entre ambas não é muito significativa).<br />

As U.E. [3], [20], [22] e [70] encontram-se associadas principalmente a bosques de<br />

caducifólias (principalmente pela presença de Quercus pyrenaica e Quercus subgenus<br />

Quercus), e por oposição,<br />

apresentam uma correlação negativa com as formações<br />

arbustivas, nomeadamente<br />

com os giestais, estevais e urzais.<br />

É visível que as espécies arbustivas surgem em poucas amostras, sen<strong>do</strong> mais notável<br />

a escassez<br />

de leguminosas e a preferência por estevas e urzes. A espécie presente em<br />

mais amostras é o pinheiro bravo, associan<strong>do</strong>-se a to<strong>do</strong>s os outros tipos xilotómicos<br />

identifica<strong>do</strong>s, sugerin<strong>do</strong> a sua presença nos diversos trajectos de recolha de combustível.<br />

Por fim, refira-se que apesar de as PCA sugerirem a individualização<br />

<strong>do</strong> contexto IV11,<br />

que é também um contexto único <strong>do</strong> ponto de vista estrutural, essa distinção é artificial da<strong>do</strong><br />

a principal discriminação se referir a grupos e tipos xilotómicos dúbios, nomeadamente Erica<br />

spp. e Quercus coccifera).<br />

Contu<strong>do</strong>, a interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s deve ser feita com as devidas cautelas. Com<br />

algumas excepções, a maioria das U.E. foram alvo de recolhas de sedimento cuja<br />

representatividade<br />

face à totalidade <strong>do</strong> depósito é desconhecida. Ao mesmo tempo, o<br />

significa<strong>do</strong> destes últimos contextos é distinto daqueles que proporcionam carvões<br />

concentra<strong>do</strong>s visto resultarem da repetição de gestos.<br />

As excepções, as U.E. cujo sedimento foi integralmente recolhi<strong>do</strong>, são as áreas de<br />

combustão<br />

e sedimentos próximos (nos quais de incluem [63]). Também a recolha de [22]<br />

foi quase integral.<br />

157


Saben<strong>do</strong> que as comunidades humanas conhecem aprofundadamente os recursos de<br />

que dispõem, as diferenças patenteadas pelos vários contextos poderão representar<br />

diferentes selecções de matéria lenhosa para distintos fins. A escassez de estruturas<br />

escavadas<br />

não permite aprofundar melhor esta possibilidade interpretativa.<br />

Exploran<strong>do</strong> a possibilidade da recolha de combustível encontrar-se associada aos<br />

trajectos percorri<strong>do</strong>s e espaços frequenta<strong>do</strong>s no decorrer das tarefas diárias, em especial os<br />

trabalhos agrícolas, então<br />

a realidade identificada na Terronha de Pinhovelo poderia traduzir<br />

esses<br />

diferentes trajectos. Note-se, no entanto, a relativa escassez em tipos xilomórficos<br />

associa<strong>do</strong>s a espécies arbustivas que provavelmente ocorreriam precisamente nos<br />

espaços<br />

mais antropiza<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s com a actividade agrícola, estan<strong>do</strong> os espectros<br />

antracológicos <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s por espécies arbóreas (carvalho, sobreiro, azinheira, pinheiro,<br />

freixo) que habitavam certamente as parcelas da paisagem de maior estabilidade ecológica,<br />

os territórios remotos e periféricos, mais afastadas das acções quotidianas da comunidade<br />

rural. Parece-nos assim evidente que a recolha de madeira para combustível constituía uma<br />

necessidade que transcendia em muito a recolha de troncos secos “mais à mão” durante os<br />

percursos realiza<strong>do</strong>s para outras tarefas.<br />

Se, como parece provável, a lenha disponível na área frequentada aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

trabalhos quotidianos não fosse suficiente, seria necessário recorrer a locais onde esta<br />

fosse mais abundante, o que implicaria um maior afastamento <strong>do</strong> núcleo habitacional. Essa<br />

deslocação propositada para a obtenção de combustível implicaria a recolha e corte<br />

intencional de recursos lenhosos, acentuan<strong>do</strong>-se, assim, a componente de selecção da<br />

actividade visto, como ficou demonstra<strong>do</strong>, existir um claro conhecimento das propriedades<br />

de cada madeira.<br />

O esforço de obtenção de material lenhoso seria tanto mais considerável quanto mais<br />

dura fosse a tarefa. Se as zonas mais florestadas fossem, como até recentemente, os<br />

montes mais eleva<strong>do</strong>s, a selecção seria uma forma de optimizar o esforço despendi<strong>do</strong>.<br />

O recurso às zonas mais elevadas como locais de obtenção de materiais lenhosos<br />

registava-se até recentemente nas aldeias de Travanca e Pinhovelo, nas imediações da<br />

jazida arqueológica. Actualmente esses locais coincidem com as zonas preferenciais <strong>do</strong><br />

pinheiro bravo (sub-espontâneo) e <strong>do</strong> carvalho-negral, espécies presentes na maioria das<br />

amostras estudadas.<br />

Parece-nos que os territórios preferenciais para a obtenção de combustível seriam o<br />

Periférico e o Remoto, visto o material lenhoso certamente escassear nos territórios<br />

Adjacente e Próximo. No século IV d.C. o grau de ocupação e utilização <strong>do</strong> solo seria<br />

bastante eleva<strong>do</strong>, e depressa o território Periférico de uma povoação coincidiria com o<br />

território Periférico ou até Próximo de outra. Francisco Sande Lemos (1993) coloca a<br />

hipótese de estes terrenos de exploração comum serem a principal fonte de conflitos<br />

158


durante a Idade <strong>do</strong> Ferro, até serem ocupa<strong>do</strong>s por unidades uni-familiares e novas<br />

povoações durante a paz romana.<br />

Desta forma, de mo<strong>do</strong> a assegurar o aprovisionamento de material lenhoso é possível<br />

que houvesse uma gestão <strong>do</strong>s locais de obtenção de combustível no território Periférico.<br />

Essa gestão poderia mesmo incidir especialmente sobre determinadas espécies, tal como<br />

foi detecta<strong>do</strong> por A. Carvalho (2005) no Parque Natural de Montesinho, neste caso<br />

verifican<strong>do</strong>-se<br />

a gestão de matos de Genista florida (Carvalho, 2005).<br />

159


4. Estruturas<br />

arqueológicas: possibilidades interpretativas<br />

Foram detectadas várias estruturas com materiais de origem vegetal durante os<br />

trabalhos arqueológicos. Entre elas contam-se uma estrutura de armazenagem,<br />

estruturas<br />

de combustão<br />

de diversas tipologias e ainda compartimentos. Procura-se precisar a<br />

funcionalidade de cada estrutura recorren<strong>do</strong> ao seu conteú<strong>do</strong> de macro-restos vegetais.<br />

A estrutura de armazenagem, o Ambiente IV, forneceu escassos materiais de origem<br />

vegetal. Foram recolhidas amostras da U.E. [82], o primeiro depósito encontra<strong>do</strong> no interior<br />

da estrutura e aquele que mais a preenchia, que continha poucas cariopses de cereais,<br />

entre as quais duas de Panicum miliaceum e alguns carvões que parecem evidenciar um<br />

incêndio. Porém o facto de se tratar de um nível de derrube ou de selagem intencional que<br />

poderá ter si<strong>do</strong> levada a cabo com sedimentos de outra origem, não permite com segurança<br />

afirmar que os materiais carboniza<strong>do</strong>s eram mesmo provenientes da estrutura<br />

O facto de este Ambiente IV se encontrar escava<strong>do</strong> no piso de um compartimento,<br />

apresentan<strong>do</strong> o fun<strong>do</strong> revesti<strong>do</strong> a opus signinum e as paredes de xisto revestidas a argila<br />

demonstra um grande esforço para a conservação<br />

<strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, com os da<strong>do</strong>s<br />

disponíveis<br />

não é possível deduzir o que era armazena<strong>do</strong> na referida estrutura.<br />

A estrutura negativa cheia pelo depósito [11] deverá tratar-se de uma área de<br />

combustão. Foi alvo de amostras tratadas por flutuação que forneceram inúmeros macrorestos<br />

vegetais, em especial carvões. De facto, foram escassas as sementes detectadas<br />

neste depósito, sen<strong>do</strong> as únicas cariopses de cereal provenientes de recolhas manuais.<br />

Não é possível<br />

uma melhor interpretação deste contexto que não foi ainda totalmente<br />

delimita<strong>do</strong><br />

em escavação e que se prolonga para lá da área de intervenção marcada.<br />

Parece pouco provável, porém, o seu relacionamento com o processamento de cereais.<br />

No Ambiente I foram definidas, sem margem para dúvidas, três áreas de combustão<br />

estruturadas.<br />

A primeira delas não tem qualquer depósito com macro-restos vegetais<br />

directamente associa<strong>do</strong>. Trata-se de um empedra<strong>do</strong> de xisto e quartzo (U.E. [25]) de forma<br />

aproximadamente quadrangular, com um murete associa<strong>do</strong>, no limite Este da estrutura (ver<br />

planta <strong>do</strong> Anexo X). Um pequeno depósito de coloração escura, U.E. [63], surgia nas suas<br />

imediações, cobrin<strong>do</strong> parcialmente algumas pedras <strong>do</strong> limite Su<strong>do</strong>este desta estrutura.<br />

Ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> integralmente recolhi<strong>do</strong>, forneceu muito poucos macro-fosseis e nenhuma<br />

cariopse de cereal. Caso se tratasse de um depósito de limpeza da estrutura, testemunharia<br />

uma actividade que ou não se relacionou com o tratamento de cereais ou decorreu sem<br />

conduzir à perda de qualquer grão.<br />

A segunda estrutura de combustão encontrava-se entre <strong>do</strong>is alinhamentos pétreos (um<br />

a Este e outro a Oeste). O depósito que constituía os vestígios da sua utilização foi<br />

160


denomina<strong>do</strong> de U.E. [65] e cobria uma base de terra dura e esbranquiçada, a U.E. [74] (ver<br />

planta <strong>do</strong> Anexo X).<br />

A terceira estrutura era limitada a Este pelo alinhamento de pedras [90], o mesmo que<br />

limita a estrutura anteriormente descrita. Um depósito escuro com abundantes carvões e<br />

sementes, a U.E. [66], cobria um empedra<strong>do</strong> irregular e grosseiro, a U.E. [87].<br />

Foram já estabelecidas comparações entre a composição de cada estrutura no que<br />

respeita a carvões e sementes, verifican<strong>do</strong>-se as diferenças mais relevantes ao nível <strong>do</strong>s<br />

carporestos recolhi<strong>do</strong>s. Parece claro que a função destas áreas de combustão, pelo menos<br />

no que respeita à sua última utilização, centrava-se no processamento de alimentos, em<br />

especial cereais e favas.<br />

Assim, perceber qual a funcionalidade das estruturas em questão implica compreender<br />

as actividades que pressupõem o contacto destes alimentos com o fogo (ver capítulo<br />

IV.2.4.1.).<br />

Embora não se exclua a possibilidade de as referidas estruturas terem si<strong>do</strong> utilizadas<br />

para a confecção de alimentos, a presença frequente de fragmentos de espiguetas parece<br />

apontar noutro senti<strong>do</strong>. Pressupõe-se que, na fase de confecção para alimentação, os grãos<br />

estejam já limpos e, embora seja possível algum erro na descorticação, dificilmente se<br />

encontrariam tantas espiguetas no momento de preparação <strong>do</strong> alimento.<br />

Coloca-se em alternativa a possibilidade de se tratarem de estruturas de apoio às<br />

fases iniciais <strong>do</strong> processamento <strong>do</strong>s cereais, como descritas por Peña-Chocarro (1999).<br />

Chamuscar as espiguetas directamente ao fogo, embora seja considera<strong>do</strong> por vários<br />

autores como uma prática de pouca utilidade para a descorticação <strong>do</strong>s grãos, está<br />

<strong>do</strong>cumentada na Galiza, na actualidade (Peña-Chocarro, 1999). A sua prática, não sen<strong>do</strong><br />

inteiramente explicada por questões funcionais, poderá talvez ser explicada por factores<br />

culturais específicos que, no momento, não nos é possível compreender com mais detalhe.<br />

De igual forma, as estruturas poderiam ter si<strong>do</strong> utilizadas como áreas de secagem de<br />

espiguetas e grãos após serem macera<strong>do</strong>s em almofariz, prática que deveria ser habitual no<br />

processamento de trigos vesti<strong>do</strong>s e que implicaria o uso de fogo. No entanto, esta<br />

explicação não encontra senti<strong>do</strong> no facto de cerca de metade <strong>do</strong>s grãos de trigo<br />

encontra<strong>do</strong>s em cada estrutura pertencerem a T. aestivum e T. compactum, isto é, trigos de<br />

grão nu, para os quais os gestos descritos não fariam muito senti<strong>do</strong>. De igual mo<strong>do</strong>, o facto<br />

de terem si<strong>do</strong> recolhidas abundantes favas (Vicia faba var. minor) numa das estruturas, no<br />

depósito [65], parece de difícil compreensão. No contexto referi<strong>do</strong> a fava é mesmo o macroresto<br />

vegetal mais abundante, pelo que compreender a funcionalidade desta estrutura<br />

implica saber que tipo de actividade poderá ser comum às várias espécies.<br />

As práticas de farinação <strong>do</strong> trigo podem incluir uma prévia e ligeira torrefacção <strong>do</strong><br />

grão. Como foi já menciona<strong>do</strong>, é consumida farinha de grão tosta<strong>do</strong> na Turquia. Por outro<br />

161


la<strong>do</strong>, podemos pressupor ser necessário secar as favas antes da sua trituração para<br />

obtenção de farinha (lomentum), utilizada para o fabrico de pão e sopas. De facto, o eleva<strong>do</strong><br />

grau<br />

de humidade desta leguminosa deveria prejudicar a sua transformação em farinha.<br />

Contu<strong>do</strong>, embora possam ser obtidas papas e até pão de mistura com as duas farinhas,<br />

seria provável que a farinação <strong>do</strong>s grãos de trigo e das favas fosse realizada em separa<strong>do</strong> e<br />

quan<strong>do</strong> os trigos vesti<strong>do</strong>s tivessem já si<strong>do</strong> descortica<strong>do</strong>s.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, nenhuma actividade que pressuponha o contacto com o fogo <strong>do</strong> grão e<br />

espiguetas de trigo, assim como das favas, parece explicar com clareza a realidade<br />

detectada nas duas áreas de combustão estudadas no Ambiente I.<br />

Porém, é possível que esta dificuldade interpretativa se deva a um erro de análise<br />

prévio à leitura <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s paleobotânicos de cada estrutura. O facto de cada um <strong>do</strong>s<br />

depósitos, U.E. [65] e [66], se encontrar associa<strong>do</strong> a uma estrutura de combustão foi sempre<br />

interpreta<strong>do</strong> como o resulta<strong>do</strong> de uma ultima utilização das mesmas. Colocan<strong>do</strong>-se<br />

a<br />

hipótese<br />

de estarmos perante evidências de mais <strong>do</strong> que uma actividade, qualquer uma <strong>do</strong>s<br />

gestos acima descritos poderá ter-se verifica<strong>do</strong> no local em momentos diferentes.<br />

Salientamos que a estrutura de combustão mais bem construída e delimitada, o<br />

empedra<strong>do</strong> quadrangular [25], não se encontra totalmente coberta por qualquer<br />

depósito,<br />

pressupon<strong>do</strong> que tenha si<strong>do</strong> sucessivamente limpa após as últimas utilizações. Alguns<br />

desses<br />

detritos poderão ter si<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong>s sobre as restantes estruturas localizadas nesse<br />

mesmo compartimento, ten<strong>do</strong> o aban<strong>do</strong>no da povoação dita<strong>do</strong> a conservação de uma<br />

imagem conjunta de vários momentos, possivelmente realiza<strong>do</strong>s num curto espaço de<br />

tempo, talvez realiza<strong>do</strong>s com a consciência da proximidade <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no.<br />

Em suma, várias actividades poder-se-ão ter realiza<strong>do</strong> nas estruturas de combustão <strong>do</strong><br />

Ambiente I, das quais salientamos:<br />

- Descorticação <strong>do</strong>s cereais vesti<strong>do</strong>s. A descorticação realizar-se-ía por maceração<br />

em almofariz<br />

e, de mo<strong>do</strong> a facilitar esta actividade, as espiguetas com grão poderiam ser<br />

sujeitas a fogo (originan<strong>do</strong> assim algumas perdas de grão e a carbonização das espiguetas)<br />

ou mergulhadas em água. A secagem de espiguetas e grãos, antes de serem peneira<strong>do</strong>s ou<br />

padeja<strong>do</strong>s, poderia ser feita ao sol ou, quan<strong>do</strong> as condições climatéricas ou a urgência da<br />

necessidade não o permitissem, com recurso ao fogo.<br />

- Secagem ou torragem. É uma actividade que poderá ser comum a grãos de cereal e<br />

às favas. Apesar de considerarmos que a secagem deveria facilitar a farinação da fava, a<br />

torrefacção <strong>do</strong>s grãos de cereal era uma actividade opcional, ainda que actualmente<br />

<strong>do</strong>cumentada para o fabrico de farinha e ainda para consumo directo. Poderia estar<br />

relacionada também com práticas de armazenagem.<br />

162


Assim, as actividades que poderão ter si<strong>do</strong> realizadas no Ambiente I encontram-se<br />

relacionadas, maioritariamente, com o processamento de cereais e favas, possivelmente<br />

numa fase prévia à da sua confecção para alimentação humana.<br />

escava<strong>do</strong> um pequeno depósito, U.E. [71], sobre uma estrutura de combustão<br />

constituída<br />

por<br />

No compartimento que ladeia este Ambiente I, nomeadamente o Ambiente II, foi<br />

uma base de argila sobre um empedra<strong>do</strong> de xisto. Nessa estrutura não foram<br />

encontradas escassas cariopses, pressupon<strong>do</strong> uma funcionalidade distinta, pelo menos na<br />

sua utilização final. Tal é também sugeri<strong>do</strong> pela detecção de bolotas no depósito [22],<br />

contexto relaciona<strong>do</strong> com a mesma estrutura. Contu<strong>do</strong>, a quantidade de macro-restos é<br />

pouco significativa e a listagem de espécies é demasia<strong>do</strong> heterogénea para permitir<br />

considerações<br />

mais aprofundadas.<br />

No que respeita aos fragmentos de bolotas (Quercus sp.), foram recolhi<strong>do</strong>s somente<br />

fragmentos de glandes e nenhum de cúpulas. O facto das duas partes <strong>do</strong> fruto<br />

apresentarem<br />

um comportamento semelhante face à combustão, poderá ser utiliza<strong>do</strong>, à<br />

semelhança <strong>do</strong> que acontece em outros estu<strong>do</strong>s, como uma demonstração da utilização das<br />

bolotas para consumo humano pois o seu uso como forragem não implicaria a remoção<br />

intencional das cúpulas (Ramil-Rego, et al., 1996). A presença das bolotas entre os<br />

carporestos da Terronha de Pinhovelo, pela sua relativa escassez, não pode ser utilizada<br />

como uma evidência clara de práticas silvícolas sen<strong>do</strong> natural que resulte apenas de<br />

práticas de recolecção.<br />

To<strong>do</strong> o Ambiente II, em especial os depósitos [70] e [21] que traduzem a sua ultima<br />

utilização, forneceu quantidades significativas de cariopses de cereal, embora bastante<br />

menos que as estruturas de combustão <strong>do</strong> Ambiente I. Esta diferença é perfeitamente<br />

justificada pela natureza <strong>do</strong>s contextos, ainda que seja discutível considerar as U.E. [21] e<br />

[70] depósitos dispersos visto encontrarem-se circunscritos ao interior de um compartimento,<br />

o Ambiente<br />

II. Este facto poderá explicar inclusive a evidente maior diversidade de espécies<br />

silvestres <strong>do</strong> Ambiente II. Os <strong>do</strong>is compartimentos são indissociáveis visto que, para além<br />

de se ladearem, ambos são abertos para Oeste, isto é, não apresentam qualquer parede<br />

nesse la<strong>do</strong> (ver planta no Anexo X). Deste mo<strong>do</strong>, aparentam, em planta, ser parte de uma<br />

mesma realidade que, no esta<strong>do</strong> actual <strong>do</strong>s trabalhos arqueológicos, não é possível<br />

interpretar de forma mais precisa. Os da<strong>do</strong>s arqueobotânicos não confirmam mas permitem<br />

colocar essa possibilidade, embora haja diferenças consideráveis entre os <strong>do</strong>is contextos.<br />

163


5. As práticas de produção agrícola: uma aproximação<br />

Para<strong>do</strong>xalmente, ainda que as práticas de monocultura se tenham generaliza<strong>do</strong> e<br />

assumi<strong>do</strong> um importante papel para impulsionar a economia agrícola, vários estu<strong>do</strong>s<br />

apontam que uma das principais inovações da agricultura romana foi a diversificação de<br />

cultivos (Buxo, 2005; Prevosti e Guitart, 2005). Contu<strong>do</strong>, nas amostras da Terronha de<br />

Pinhovelo<br />

até agora estudadas as únicas culturas das quais restaram vestígios carpológicos<br />

foram os cereais e as favas (Vicia faba var. minor). Entre os cereais destacam-se Triticum<br />

aestivum, T. spelta, T. compactum, T. dicoccum e Hordeum vulgare.<br />

Em menores<br />

quantidades<br />

detectaram-se T. monococcum, Panicum miliaceum e Setaria italica.<br />

Há que salientar que, sen<strong>do</strong> evidente a presença e importância <strong>do</strong> trigo, faltam <strong>do</strong>is<br />

elementos da tríade mediterrânica característica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> romano e identificada noutras<br />

regiões peninsulares (Prevosti e Guitart, 2005): a vinha e a oliveira. Apesar da<br />

especificidade <strong>do</strong>s contextos da Terronha de Pinhovelo aqui estuda<strong>do</strong>s poderem ter um<br />

papel importante nestes da<strong>do</strong>s, é evidente nos estu<strong>do</strong>s carpológicos <strong>do</strong> NW peninsular<br />

que<br />

estes <strong>do</strong>is elementos não são particularmente abundantes nesta área geográfica (Ramil-<br />

Rego et al., 1996), o que poderá testemunhar não só diferenças culturais significativas como<br />

também diferentes níveis de romanização e integração no império.<br />

O cultivo de diferentes espécies em conjunto nos mesmos terrenos poderia ser uma<br />

prática comum, tal como aparece atestada mais recentemente. Por outro la<strong>do</strong>, práticas de<br />

alternância seriam certamente uma opção estratégica para assegurar a qualidade <strong>do</strong>s solos.<br />

De facto, os diversos trigos vesti<strong>do</strong>s podem ser planta<strong>do</strong>s e até colhi<strong>do</strong>s<br />

em conjunto<br />

pois os processos que se seguem à segada são semelhantes para to<strong>do</strong>s (Peña-Chocarro,<br />

1999). Seguin<strong>do</strong> esta linha de raciocínio,<br />

poderemos pressupor que as variedades vestidas<br />

e nuas<br />

de trigo seriam cultivadas em separa<strong>do</strong>. Acrescente-se ainda que, segun<strong>do</strong> Marinval<br />

(1992), também as duas espécies de milho poderiam ser cultivadas juntas.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o registo das diferentes espécies de cereais e mesmo da fava sugere a<br />

existência de uma alternância de cultivos. Buxo e colabora<strong>do</strong>res (1995) colocam a<br />

possibilidade de ter existi<strong>do</strong> em épocas proto-históricas, na Catalunha, a um sistema de<br />

cultivo trienal, à base de trigo, cevada e leguminosas, que<br />

permitia manter a fertilidade <strong>do</strong>s<br />

solos.<br />

A verificar-se uma situação semelhante em época romana na região da Terronha de<br />

Pinhovelo, a leguminosa que participaria nesta rotatividade deveria ser a fava.<br />

A alternância entre cereais e outras espécies como estratégia de cultivo não constitui<br />

um comportamento estranho na região. Na região de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros, na qual se<br />

164


inclui<br />

a jazida arqueológica aqui em estu<strong>do</strong>, até recentemente a cultura <strong>do</strong>s cereais<br />

alternava com a da batata (Taborda, 1932) 12 .<br />

A recolha de cariopses de milho, apesar de minoritárias no conjunto<br />

carpológico, é um<br />

aspecto<br />

importante para a compreensão das estratégias agrícolas das populações que<br />

habitaram esta povoação durante o século IV. De facto, a importância da presença <strong>do</strong>s<br />

milhos reside no facto de, enquanto cereais de Primavera, o seu cultivo permitir compensar<br />

as más colheitas de Inverno (de trigo). Esta complementaridade entre cultivos é essencial<br />

para as comunidades camponesas e pressupõe a existência de uma grande variabilidade de<br />

cultivos (Fernandez-Posse e Sánchez-Palencia, 1998).<br />

Por fim, devem ser feitas algumas observações acerca da presença de sementes de<br />

Portulaca oleracea. Tratan<strong>do</strong>-se a horta de um espaço muito importante no território<br />

Adjacente,<br />

não se deve excluir a possibilidade de ter existi<strong>do</strong> uma gestão hortícola da<br />

beldroega, espécie ruderal da qual existem variedades cultivadas. Note-se porém que a<br />

beldroega consiste numa planta nitrófila que cresce espontânea e abundantemente nos<br />

espaços ruderaliza<strong>do</strong>s, pelo que, mesmo o seu consumo pela comunidade não implica o<br />

seu cultivo directo, poden<strong>do</strong> corresponder apenas a recolecção. As mesmas considerações<br />

poderão ser feitas acerca das espécies de Polygonum encontradas. As sementes de<br />

Portulaca surgem, para além de outros locais, nas áreas de combustão <strong>do</strong> Ambiente I, no<br />

entanto não é possível perceber se tal se deve a razões de ín<strong>do</strong>le culinária ou meramente à<br />

sua presença como espécie<br />

daninha em campos de cultivo, hortas ou espaços ruderais.<br />

De resto, o registo antracológico forneceu evidências da existência na paisagem de<br />

outras espécies que poderão ter si<strong>do</strong> alvo de uma exploração para fins alimentares,<br />

nomeadamente Arbutus une<strong>do</strong>, Corylus avellana, Prunus spinosa, Sorbus sp. e Juglans<br />

regia (esta última provavelmente cultivada no território explora<strong>do</strong> pela comunidade).<br />

Contu<strong>do</strong>, os vestígios detecta<strong>do</strong>s (a madeira carbonizada) não permitem certificar a recolha<br />

<strong>do</strong>s seus frutos. Seria ingénuo pensar que não existia uma exploração desses recursos em<br />

época romana, pois alguns <strong>do</strong>s frutos em questão apresentam eleva<strong>do</strong> valor proteico e<br />

calórico. É, no entanto, impossível saber se essa exploração implicou uma gestão efectiva<br />

das comunidades vegetais existentes na paisagem ou se se realizaram meras práticas de<br />

recolecção.<br />

12<br />

Esta situação foi confirmada nas inquirições realizadas à população residente nas aldeias próximas<br />

da Terronha de Pinhovelo.<br />

165


6. O território antigo<br />

Como foi menciona<strong>do</strong> nos capítulos introdutórios deste estu<strong>do</strong>, a mais imediata<br />

inferência paleoecológica fornecida pelo estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s macro-restos vegetais é a presença na<br />

envolvência <strong>do</strong> sítio arqueológico <strong>do</strong>s taxa identifica<strong>do</strong>s. Se, a sua maioria é originária de<br />

esforços quotidianos, pressupõe-se que não provêm de pontos muito distantes <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>.<br />

Ainda assim, e apesar de se estabelecer como base de estu<strong>do</strong> um território teórico de 30<br />

minutos, é inegável que a exploração territorial <strong>do</strong>s habitantes da Terronha de Pinhovelo,<br />

seria mais ampla. Ou seja, não é claro que os territórios Próximo e Periférico se limitassem<br />

ao território teórico de 30 minutos, embora acreditemos que pouco extravasasse esta<br />

realidade,<br />

em especial pelas características geomorfológicas <strong>do</strong>s limites Norte e Oeste.<br />

Foram identifica<strong>do</strong>s diversos tipos morfológicos com base no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s carvões,<br />

sementes e folhas, recolhidas em escavação no Sector B. Os quadros <strong>do</strong>s Anexos VII e VIII<br />

listam esses tipos morfológicos e a sua possível correspondência com as espécies<br />

botânicas. Se para muitos casos essa correspondência é imediata, em outros os macrorestos<br />

só permitiram uma identificação ao nível <strong>do</strong> género, ou até em grupos mais latos (por<br />

exemplo Cytisus/Genista/Ulex). Através da comparação com a realidade identificada por<br />

Carlos Aguiar (2001) no Parque Natural de Montesinho e Serra da Nogueira (PNM-N),<br />

tentou-se<br />

perceber quais as espécies presentes na região e qual a sua ecologia. Embora a<br />

realidade aqui analisada se encontre a Sul da área de estu<strong>do</strong> de C. Aguiar, a sua<br />

dissertação é o único estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong> de toda a metade Norte <strong>do</strong> Nordeste<br />

transmontano.<br />

Como é prática em qualquer estu<strong>do</strong> paleobotânico, analisa-se a realidade <strong>do</strong> passa<strong>do</strong><br />

por comparação com a ecologia que as espécies apresentam na actualidade, pressupon<strong>do</strong>se<br />

que o comportamento dessas espécies, assim como a sua anatomia, permanece<br />

inaltera<strong>do</strong>.<br />

Os referi<strong>do</strong>s quadros permitem, assim, perceber que ecologias presentes nas<br />

imediações <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> foram exploradas pelas comunidades em época romana,<br />

nomeadamente no século IV d.C., sem, no entanto, ser possível inferir qualquer indicação<br />

da extensão da sua presença no território.<br />

Os carvões estuda<strong>do</strong>s testemunham a presença de bosques ou galerias ripícolas<br />

compostas por Alnus glutinosa, Corylus avelana, Ulmus minor e Fraxinus angustifolia.<br />

Não<br />

se descarta,<br />

obviamente, a possibilidade de outras espécies estarem incluídas nesta<br />

realidade, algumas delas não representadas neste estu<strong>do</strong> e ainda outras detectadas em<br />

carvão ou semente, tais como a Erica arborea, Prunus spinosa, Sorbus sp. e Polygonum sp.<br />

(de aquénio lenticular).<br />

166


Na actualidade, as margens de ribeiras ou baixios húmi<strong>do</strong>s da zona envolvente <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong> e de toda a região são claramente <strong>do</strong>minadas pelo freixo. Atenden<strong>do</strong> ao facto de<br />

Fraxinus<br />

angustifolia ser de forma muito evidente a espécie ripícola que surge no maior<br />

número de amostras, ou seja, aquela que mais vezes se encontra representada sincrónica e<br />

diacronicamente na Matriz da jazida, é bastante provável que esta fosse a espécie<br />

<strong>do</strong>minante entre a vegetação ripícola em época romana, mesmo pesan<strong>do</strong> o facto de ser<br />

entendida pelas comunidades rurais actuais como uma madeira de recolha preferencial para<br />

lume.<br />

Embora não seja possível perceber qual o nível de conservação <strong>do</strong>s bosques ripícolas,<br />

parece<br />

pouco plausível que não tenha havi<strong>do</strong> uma exploração intensa <strong>do</strong>s férteis solos que<br />

existem junto às pequenas linhas de água que ladeiam a elevação da Terronha.<br />

A presença recorrente de Quercus pyrenaica, Quercus subgenus Quercus e Q. faginea<br />

poderá indicar a presença de bosques de caducifólias, ou seja, carvalhais <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelas<br />

espécies mencionadas. Porém, não é possível afirmar que estes se encontravam bem<br />

conserva<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> até um pouco descabi<strong>do</strong>, perante os da<strong>do</strong>s paleoecológicos existentes<br />

para o NW peninsular, pressupor a existência de carvalhais extensos nas imediações de um<br />

povoa<strong>do</strong> romano em pleno século IV d.C. É mais plausível que várias manchas de<br />

vegetação se tenham manti<strong>do</strong>, tal como hoje, nos locais não cultiva<strong>do</strong>s e nos limites de<br />

terrenos.<br />

Com um enquadramento semelhante, mas ocupan<strong>do</strong> posições diferentes, se<br />

encontrariam<br />

manchas de sobreirais e azinhais (possivelmente mistos), com medronheiros.<br />

Quercus suber é mesmo um <strong>do</strong>s tipos xilotómicos representa<strong>do</strong> em mais amostras.<br />

A distribuição da vegetação actual permite distinguir duas realidades com algumas<br />

diferenças importantes. No topo das elevações e metade superior das encostas encontramse<br />

Quercus pyrenaica, Q. faginea acompanha<strong>do</strong>s por Pinus pinaster (sub-espontâneo) e Q.<br />

suber, para além da presença minoritária de Q. ilex. Nas encostas mais baixas e nas<br />

posições edafo-xerófilas, <strong>do</strong>minam os sobreiros e azinheiras. Os medronheiros só são<br />

encontra<strong>do</strong>s nas encostas Sul e Su<strong>do</strong>este da própria elevação da Terronha de Pinhovelo.<br />

O facto de, segun<strong>do</strong> modelos actuais, neste local se delimitarem as Terras Frias e as<br />

Terras de Transição<br />

testemunha a convergência de duas realidades bioclimáticas distintas<br />

com disponibilidades de recursos diferentes. No entanto, face ao nível de antropização da<br />

paisagem na actualidade, que parece ter conduzi<strong>do</strong>, por exemplo à sub-representatividade<br />

de Q. pyrenaica, não é possível fazer uma analogia muito directa para tempos passa<strong>do</strong>s. Só<br />

é possível afirmar a presença de formações perenifólias e caducifólias na paisagem<br />

envolvente da Terronha de Pinhovelo no perío<strong>do</strong> romano.<br />

Nas amostras estudadas Pinus pinaster surge associa<strong>do</strong> a todas as espécies e<br />

somente está ausente de uma U.E. Trata-se de um da<strong>do</strong> que sugere a sua presença<br />

167


constante ao longo das fases III e IV da ocupação <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>. Ainda que seja hoje claro<br />

que esta espécie é efectivamente autóctone <strong>do</strong> território português, e era-o certamente em<br />

Terronha<br />

de Pinhovelo no perío<strong>do</strong> romano, não é possível perceber que preponderância<br />

teria na paisagem neste local e nesta época. As pequenas áreas de pinhal actualmente<br />

detectadas na zona são na sua totalidade plantações recentes. De resto, o pinheiro bravo<br />

surge amiúde de forma sub-espontânea na encosta e topo da serra de Pinhovelo, entre<br />

carvalhos-negral e carvalhos-cerquinho.<br />

As formações arbustivas que surgem representadas num maior número de amostras<br />

são os estevais (Cistus sp.) e os urzais (Erica spp.). As giestas (Cytisus/Genista/Ulex)<br />

encontram-se representadas em menor quantidade de amostras. Tal contrasta com a<br />

realidade actual. As urzes não parecem ter um papel muito significativo na caracterização da<br />

paisagem<br />

actual, enquanto que vastas áreas de giestais são encontradas na paisagem<br />

envolvente da Terronha de Pinhovelo. A esteva é abundante no território, frequentemente<br />

acompanhan<strong>do</strong> as giestas, e só raramente forman<strong>do</strong> verdadeiros estevais.<br />

O antagonismo Cistus/Erica poderá de certa forma espelhar a relação Terras de<br />

Transição/Terras Frias na realidade antracológica identificada, isto se tivermos em conta<br />

que mesmo Q. pyrenaica é tida como uma espécie comum às duas regiões.<br />

O pre<strong>do</strong>mínio das espécies cerealíferas, presentes mesmo em depósitos dispersos,<br />

indica-nos o nível de modelação da paisagem que se deveria verificar nesta época. Na<br />

verdade a presença de espécies ruderais, ou mesmo de plantas de contextos nitrofiliza<strong>do</strong>s e<br />

eutrofiza<strong>do</strong>s, assim<br />

como de infestantes de culturas, e as próprias culturas cerealíferas<br />

<strong>do</strong>cumentam<br />

um território Adjacente (horta) e Próximo (campo) profundamente molda<strong>do</strong>s e<br />

adequa<strong>do</strong>s à sua exploração e usufruto quotidiano pelas comunidades humanas.<br />

Em diálogos com os habitantes das aldeias circundantes da Terronha de Pinhovelo foi<br />

fácil perceber<br />

a importância que até há cerca de 40 anos a produção cerealífera, em<br />

especial<br />

<strong>do</strong> trigo, tinha para a economia das populações. De tal forma, que se cultivava<br />

cereal em quase to<strong>do</strong>s os terrenos, inclusive em algumas das encostas mais altas e topo de<br />

elevações, até na sombra <strong>do</strong>s sobreiros que não se cortavam por causa <strong>do</strong> aproveitamento<br />

da cortiça. Assim, um <strong>do</strong>s objectivos das inquirições<br />

à população, que era perceber quais os<br />

terrenos<br />

considera<strong>do</strong>s mais aptos para a plantação de cereal, não foi alcança<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>,<br />

to<strong>do</strong>s os inquiri<strong>do</strong>s mencionaram que o trigo exigia as melhores terras (embora a<br />

necessidade fizesse com que fosse planta<strong>do</strong> em quase to<strong>do</strong>s os locais), por oposição ao<br />

centeio que poderia ser planta<strong>do</strong> em solos menos profun<strong>do</strong>s e mais pobres.<br />

168


Figura 5.1. – Campo de cereal no termo de Pinhovelo, a NW da Terronha de Pinhovelo<br />

Ainda assim, é evidente que o topo de algumas elevações permaneceu incólume.<br />

Segun<strong>do</strong> habitantes locais, nesses locais recolhia-se alguma lenha, embora também aí<br />

escasseasse. Práticas de recolha de lenha deste tipo poderão ter si<strong>do</strong> uma realidade em<br />

tempos<br />

mais antigos. Na verdade, como foi já aponta<strong>do</strong>, conjugam-se com alguns <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, nomeadamente a frequência de amostras com Pinus pinaster, Quercus<br />

pyrenaica e Quercus subgenus Quercus. A associação de carvalho-cerquinho, azinheira<br />

e<br />

sobreiro<br />

às espécies acima mencionadas verifica-se hoje em dia nessas mesmas elevações,<br />

nomeadamente a Oeste da Terronha de Pinhovelo na serra de Palas, mas também a Norte,<br />

nas Raposeiras.<br />

Por fim, embora não se pretenda fazer reconstituições paisagísticas com este estu<strong>do</strong>,<br />

deseja-se vincular uma imagética de base etnográfica, na qual sobressaem espaços<br />

construí<strong>do</strong>s e escava<strong>do</strong>s, ou seja molda<strong>do</strong>s; com muros e vedações que delimitam espaços<br />

e propriedades;<br />

com pontes, caminhos e trilhos; com estruturas de apoio aos trabalhos<br />

agrícolas ou ao pasto de animais.<br />

Não se trata de uma imagem que se possa, na maioria <strong>do</strong>s casos, pormenorizar e<br />

atestar, mas não significa por isso que não se possa colocar a hipótese da sua existência<br />

dadas as características tecnológicas e sociais das comunidades em questão.<br />

169


Figura 5.2. – Aldeia de Pinhovelo e campos de cereais aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, vistos da<br />

Terronha de Pinhovelo<br />

170


7. A Terronha de Pinhovelo nos estu<strong>do</strong>s regionais de paleobotânica<br />

Os macro-restos vegetais recupera<strong>do</strong>s no Sector B da Terronha de Pinhovelo<br />

testemunham a importância <strong>do</strong> cultivo de cereais para a economia das populações deste<br />

povoa<strong>do</strong> em época romana. Tal encontra paralelos com a realidade identificada nos<br />

contextos arqueológicos escava<strong>do</strong>s mais a Norte, em território galego.<br />

Entre<br />

as espécies de cereais, usualmente aponta-se a existência de um <strong>do</strong>mínio, em<br />

toda a região, de Triticum aestivum e T. compactum entre os cereais hexaploides e de<br />

Triticum dicoccum entre os tetraploides (Ramil-Rego et al., 1996; Rodriguez Lopez, et al.,<br />

1993). Na Terronha de Pinhovelo, as cariopses destes tipos morfológicos também são as<br />

mais frequentes nas amostras analisadas, porém, no caso de T. dicoccum, existem maiores<br />

cautelas na interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s biométricos e morfológicos que sustentam a sua<br />

distinção face a T. spelta. Este último encontra-se pouco <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> na região, apesar de<br />

poder encontrar-se erroneamente sub-representa<strong>do</strong> face a T. dicoccum.<br />

Os milhos e a cevada são ti<strong>do</strong>s como cultivos secundários na região o que parece-se<br />

confirmar na Terronha de Pinhovelo. Não obstante, estan<strong>do</strong> os trabalhos de escavação<br />

ainda pouco desenvolvi<strong>do</strong>s, não se exclui a possibilidade de a especificidade <strong>do</strong>s contextos<br />

estuda<strong>do</strong>s poder condicionar esta leitura geral.<br />

O cultivo de favas também está <strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> para a região, sen<strong>do</strong> mesmo a<br />

leguminosa mais representativa (Ramil-Rego et al., 1996) pelo que a sua presença na<br />

Terronha de Pinhovelo, em especial na amostra IV65 <strong>do</strong> Ambiente I <strong>do</strong> Sector B, encontrase<br />

enquadrada cultural e cronologicamente.<br />

De igual mo<strong>do</strong> é conheci<strong>do</strong> o papel das bolotas na alimentação humana das<br />

comunidades proto-históricas NW peninsular, não como alimento primordial mas sim<br />

secundário e complementar<br />

de práticas agro-pastoris. Desta forma, a presença de bolotas<br />

na Terronha<br />

de Pinhovelo, bem como em outras jazidas romanas, deve ser considerada<br />

normal, após a desmistificação <strong>do</strong> eventual atraso tecnológico e cultural que anteriormente<br />

se atribuía ao seu uso para fins alimentares.<br />

No que respeita ao Nordeste<br />

transmontano, o único contexto arqueológico<br />

possivelmente<br />

romano com da<strong>do</strong>s arqueobotânicos publica<strong>do</strong>s é Casinhas de Nª Senhora.<br />

Neste encontrou-se uma semente de T. compactum e carvões de espécies, na sua maioria<br />

também presentes nas amostras da Terronha de Pinhovelo. As únicas excepções<br />

são Pinus<br />

sylvestris e Juniperus sp.<br />

Nos níveis da Idade <strong>do</strong> Ferro de Crasto de Palheiros, salientamos a identificação de<br />

significativas quantidades de Triticum dicoccum, Hordeum vulgare e Panicum miliaceum e<br />

uma ausência de grãos de variedades nuas de trigo. Tal traduz significativas diferenças face<br />

171


à realidade mais recente que foi estudada na Terronha de Pinhovelo. À semelhança <strong>do</strong> sítio<br />

aqui em estu<strong>do</strong>, surgem em Crasto de Palheiros abundantes sementes de Vicia faba var.<br />

minor .<br />

Ao<br />

nível antracológico as semelhanças face às espécies identificadas na Terronha de<br />

Pinhovelo continuam, embora também se encontrem algumas diferenças importantes na<br />

composição florística. Tratam-se, no entanto, de duas regiões bioclimáticas distintas, e de<br />

<strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s cronológicos também diferentes.<br />

172


8. Fronteiras interpretativas <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s paleoetnobotânicos<br />

Não interessa, neste capítulo, debater de forma aprofundada as possibilidades e<br />

limitações intrínsecas aos estu<strong>do</strong>s paleoetnobotânicos pois trata-se de uma tarefa levada a<br />

cabo nos capítulos introdutórios. De seguida expõem-se reflexões decorrentes unicamente<br />

<strong>do</strong> processo inerente ao estu<strong>do</strong> aqui apresenta<strong>do</strong>.<br />

A principal valência de um estu<strong>do</strong> desta natureza prende-se com a possibilidade de<br />

fazer aproximações às actividades económicas, principalmente agrícolas, <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>.<br />

Conhecen<strong>do</strong> as espécies cultivadas e os meios explora<strong>do</strong>s é possível aceder a um conjunto<br />

de gestos inerentes às actividades de exploração das mesmas. Obtém-se, assim, um<br />

vislumbre <strong>do</strong>s ritmos anuais e até quotidianos das comunidades que habitaram a povoação,<br />

o que permite alcançar uma maior humanização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s arqueológicos.<br />

Dentro <strong>do</strong> quotidiano insere-se a alimentação. A componente carpológica <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

paleoetnobotânico aqui apresenta<strong>do</strong> é uma valiosa fonte de informação para a<br />

reconstituição<br />

de determina<strong>do</strong>s aspectos das paleo-dietas.<br />

De igual mo<strong>do</strong>, se torna mais acessível a compreensão da organização espacial <strong>do</strong>s<br />

espaços de vivência das paleo-comunidades transforma<strong>do</strong>s numa jazida arqueológica, pois<br />

é possível através destes estu<strong>do</strong>s colocar hipóteses acerca <strong>do</strong> funcionamento de<br />

determinadas<br />

estruturas e até áreas <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>.<br />

É claro, então, que as aproximações a estas realidades paleo-económicas, alimentares<br />

e organizativas devem constituir-se como estu<strong>do</strong>s marcadamente interdisciplinares. Ainda<br />

assim, estes esbarram com importantes problemas, inerentes a qualquer estu<strong>do</strong><br />

comparativo<br />

com da<strong>do</strong>s de natureza etnográfica:<br />

- Os da<strong>do</strong>s etnográficos frequentemente reportam-se a realidades ecológicas,<br />

ambientais e culturais diferentes daquela que constitui a nosso objecto de<br />

análise, pelo que devem ser questiona<strong>do</strong>s e analisa<strong>do</strong>s com as devidas cautelas.<br />

- Frequentemente os da<strong>do</strong>s arqueológicos e arquebotânicos podem ser<br />

explica<strong>do</strong>s de forma viável por mais<br />

<strong>do</strong> que um exemplo etnográfico, como é o<br />

exemplo da carbonização das espiguetas de trigos vesti<strong>do</strong>s.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, assumimos que o princípio básico para qualquer interpretação<br />

arqueológica com base em da<strong>do</strong>s etnográficos é o de que o produto final é a colocação de<br />

hipóteses. Estas devem ser explicadas e bem sustentadas.<br />

Do ponto de vista das<br />

análises paleoecológicas é claro que a principal valência <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong><br />

aqui apresenta<strong>do</strong> é assinalar a presença de determinadas espécies num espaço<br />

parcamente delimita<strong>do</strong>: a envolvência <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> romano. A interpretação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

arqueobotânicos esbarra com uma limitação importante que é a natureza <strong>do</strong> seu objecto de<br />

173


estu<strong>do</strong>. De facto, os macro-restos vegetais encontra<strong>do</strong>s na Terronha de Pinhovelo são o<br />

produto de uma selecção feita no território que as paleo-comunidades tinham disponível.<br />

Contu<strong>do</strong>, sem uma imagem regional da paleo-vegetação, nunca iremos compreender o<br />

significa<strong>do</strong><br />

da selecção verificada.<br />

Assume-se que a componente selecção é a principal condicionante <strong>do</strong> espectro<br />

antracológico, ainda que a oferta existente no meio condiciona-se fortemente essa selecção.<br />

É fácil imaginar que para determinadas actividades seria dada mais importância à selecção<br />

de lenha, nomeadamente aquelas actividades para as quais as propriedades <strong>do</strong> combustível<br />

seriam mais relevantes de forma de garantir o seu sucesso e aquelas actividades às quais a<br />

comunidade atribuía maior relevância. Por exemplo, é natural pressupor que seria empregue<br />

mais cuida<strong>do</strong> na escolha de combustível para a cozedura de pão <strong>do</strong> que para lareiras<br />

<strong>do</strong>mésticas, ainda que o aquecimento durante o Inverno fosse crucial.<br />

No quadro <strong>do</strong> Anexo IX.9.4 é evidente que no Parque de Montesinho só algumas<br />

espécies foram claramente associadas com os fornos e forjas, pelo que, ainda que muitas<br />

mais fossem utilizadas, aquelas são as que a população considera adequadas e as<br />

preferidas, ou seja são as seleccionadas. Assim, a selecção mais <strong>do</strong> que uma preocupação<br />

premente das sociedades rurais é um comportamento inerente às mesmas.<br />

Embora os estu<strong>do</strong>s arqueobotânicos de ín<strong>do</strong>le paleoecológica se centrem<br />

principalmente em análises de madeiras fosseis, é evidente que não se deve escamotear o<br />

potencial <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s carpológicos para a compreensão das paisagens antigas. Sen<strong>do</strong> claro<br />

que em época romana, em especial num povoa<strong>do</strong> com uma pré-existência proto-histórica,<br />

os territórios Adjacente e Próximo se encontravam fortemente antropiza<strong>do</strong>s, conhecer as<br />

espécies que aí eram cultivadas é uma mais valia para a sua reconstituição imagética. Esta<br />

tarefa, embora possa ter subjacente uma base etnográfica ou iconográfica, só pode ser<br />

realizada com plena consciência da integração cronológica e capacidade tecnológica e<br />

organizativa da sociedade em estu<strong>do</strong>.<br />

Num âmbito arqueológico e pale-económico, uma das principais valência <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s<br />

paleoetnobotânicos é potenciar estu<strong>do</strong>s regionais e inter-regionais, permitin<strong>do</strong> compreender<br />

melhor a integração <strong>do</strong> contexto em estu<strong>do</strong> na região em que se encontra, e compreender a<br />

integração desta num plano geográfico mais vasto, por exemplo a Península Ibérica ou o<br />

Império Romano. Desta forma, são mais claros as grandes tendências de mudança, os<br />

processos de aculturação e integração económica das sociedades e regiões. Infelizmente,<br />

na Terronha de Pinhovelo, há ainda poucos contextos analisa<strong>do</strong>s pelo que é necessário<br />

assumir as limitações deste estu<strong>do</strong> e apresentar sempre as devidas cautelas.<br />

174


VI. CONCLUSÃO<br />

A Terronha de Pinhovelo foi habitada durante a Idade <strong>do</strong> Ferro e, aparentemente, to<strong>do</strong><br />

o perío<strong>do</strong> romano, até ao século V. Durante os trabalhos arqueológicos aí realiza<strong>do</strong>s foram<br />

recolhi<strong>do</strong>s macro-restos vegetais (carvões, frutos e sementes) para análise<br />

paleoetnobotânica. Esta incidiu unicamente sobre o Sector B, o mais extensamente<br />

escava<strong>do</strong><br />

e, ao mesmo tempo, alvo de um maior esforço de amostragem arqueobotânica.<br />

As amostras analisadas pertencem a Unidades Estratigráficas integradas nas fases III e IV,<br />

cronologicamente enquadradas nos séculos IV-V d.C.<br />

Foram defini<strong>do</strong>s vários objectivos visan<strong>do</strong> em especial a compreensão das estratégias<br />

territoriais e económicas, assim como das vivências <strong>do</strong> quotidiano das populações que<br />

habitaram esta povoação, tanto <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>s trabalhos agrícolas,<br />

como da<br />

alimentação<br />

e ainda da gestão e vivência <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> território regional. Alcançar estes<br />

objectivos passava, essencialmente, por compreender melhor determina<strong>do</strong>s contextos<br />

escava<strong>do</strong>s, colocan<strong>do</strong> hipóteses explicativas da sua funcionalidade<br />

a partir das suas<br />

características<br />

e <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong> em macro-fosseis vegetais.<br />

Foi possível perceber que os trigos Triticum aestivum/durum, T. compactum e T.<br />

spelta, assim como a cevada (Hordeum vulgare), foram os cereais mais consumi<strong>do</strong>s,<br />

segui<strong>do</strong>s de T. dicoccum e, em quantidade reduzida,<br />

T. monococcum, Panicum miliaceum e<br />

Setaria<br />

italica. Entre as espécies cultivadas salienta-se ainda a fava (Vicia faba var. minor),<br />

a única leguminosa da qual se detectaram sementes. Estas evidências poderão indicar<br />

práticas de alternância de cultivos entre cereais e leguminosas.<br />

A partir da análise antracológica podemos inferir a exploração de diferentes áreas<br />

ecológicas na<br />

estratégia de recolha de combustível por parte da população romana de<br />

Terronha de Pinhovelo. São explora<strong>do</strong>s os azinhais, os sobreirais e outros bosques e<br />

matagais de<br />

perenifólias (representa<strong>do</strong>s principalmente por Quercus ilex, Q. suber e Arbutus<br />

une<strong>do</strong>), as matas<br />

de caducifólias (com Q. pyrenaica e Q. faginea), os pinhais (com Pinus<br />

pinaster representa<strong>do</strong><br />

em quase todas as amostras, com uma única excepção); e os<br />

bosques higrófilos ribeirinhos (representa<strong>do</strong>s principalmente por Fraxinus<br />

angustifolia, e por<br />

ocorrências<br />

pontuais de Alnus glutinosa, Corylus avellana e Ulmus minor). Com menor<br />

frequência<br />

está também <strong>do</strong>cumentada a utilização de lenha proveniente de formações<br />

arbustivas, de maior grau de eco-artefactualidade, possivelmente corresponden<strong>do</strong> a lenha<br />

recolhida em áreas mais próximas <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>, eventualmente<br />

nos percursos realiza<strong>do</strong>s<br />

pelos habitantes para outras actividades, nomeadamente para o cultivo, a pastorícia ou o<br />

maneio <strong>do</strong>s campos. Assim, os urzais e giestais estão representa<strong>do</strong>s por madeira de várias<br />

espécies de Erica e lenho de Cytisus/Genista/Ulex, enquanto que os matos rasteiros e<br />

charnecas reflectem-se na presença de madeira de Cistus.<br />

175


Tornou-se claro que o potencial paleoecológico das análises antracológicas reside<br />

essencialmente na indicação da presença de determinadas espécies na envolvência <strong>do</strong><br />

povoa<strong>do</strong> romano sem indicações da sua importância relativa na caracterização da paisagem<br />

regional.<br />

No que respeita à interpretação das estruturas arqueológicas, em especial as áreas de<br />

combustão <strong>do</strong> Ambiente I, avançaram-se com algumas possibilidades interpretativas que<br />

apontam para a sua utilização nas fases de processamento de alimentos, prévias à sua<br />

confecção, ou o seu uso como locais de despejo de detritos decorrentes dessas tarefas.<br />

Não se exclui a possibilidade de as mesmas estruturas terem si<strong>do</strong> utilizadas para outros<br />

fins, limitan<strong>do</strong>-nos a interpretar os vestígios <strong>do</strong> que aparenta ser a sua última utilização.<br />

Ainda assim, existem diferenças significativas entre a composição das duas estruturas pois<br />

somente numa delas, [65], foram detectadas favas, ao mesmo tempo que apresentava<br />

quantidades<br />

mais significativas de cevada <strong>do</strong> que o depósito da outra, [66].<br />

Já a estrutura de combustão <strong>do</strong> Ambiente II, representada pelo depósito [71], forneceu<br />

quantidades mais reduzidas de macro-restos vegetais. Neste Ambiente II detectaram-se<br />

também restos de bolotas, testemunhan<strong>do</strong> o seu uso para alimentação humana. Este<br />

compartimento apresenta importantes diferenças estruturais face ao Ambiente<br />

I conten<strong>do</strong><br />

uma única área de combustão estruturada cuja construção data da fase III de ocupação da<br />

jazida. O Ambiente I data da fase seguinte, ten<strong>do</strong> a sua construção inutiliza<strong>do</strong> parte da<br />

estrutura de combustão <strong>do</strong> Ambiente II. Porém, não é claro qual a fase em que se integra a<br />

U.E. [71] pois é possível que a estrutura de combustão que cobria tenha si<strong>do</strong> utilizada na<br />

fase IV.<br />

O estu<strong>do</strong> efectua<strong>do</strong> a partir das escavações da Terronha de Pinhovelo demonstrou<br />

existir um eleva<strong>do</strong> potencial paleoetnobotânico nos estu<strong>do</strong>s de macro-restos vegetais, em<br />

especial quan<strong>do</strong> estes são marcadamente<br />

multidisciplinares, sen<strong>do</strong> evidente a sua utilidade<br />

para a compreensão das próprias jazidas arqueológicas e das paleo-comunidades que nelas<br />

habitaram.<br />

176


VII. BIBLIOGRAFIA<br />

AGROCONSULTORES<br />

E COBA (1991). Carta <strong>do</strong>s solos, carta <strong>do</strong> uso actual da terra e<br />

carta da aptidão da terra <strong>do</strong> nordeste de Portugal. Memórias. <strong>Universidade</strong> de Trás-os-<br />

Montes e Alto Douro.<br />

AGUIAR, C. (2001). Flora e vegetação da Serra da Nogueira e <strong>do</strong> Parque Natural de<br />

Montesinho. Lisboa: <strong>Universidade</strong> Técnica de Lisboa. ISA.<br />

AKERET,<br />

Ö. (2005). Plant remains from a Bell Beaker site in Switzerland, and the<br />

beginnings of Triticum spelta (spelt) cultivation in Europe. Vegetation History and<br />

Archaeobotany. 14, p. 279-286.<br />

ALARCÃO, J. (1988). O <strong>do</strong>mínio romano em Portugal. 3ª edição. Publicações Europa-<br />

América.<br />

ALARCÃO,<br />

J. (2003). A organização social <strong>do</strong>s povos <strong>do</strong> Noroeste e Norte da Península<br />

Ibérica nas épocas pré-romana e romana. Conimbriga. 42, p.5-115.<br />

ALLUÉ Martí, E. (2002) - Dinámica de la vegetación y explotación del combustible leñoso<br />

durante el Pleistoceno Superior y el Holoceno del Noreste de la Península Ibérica a partir del<br />

análisis antracológico. <strong>Tese</strong> de <strong>do</strong>utoramento apresentada à Universitat<br />

Rovira i Virgili.<br />

ALVES, F. (1934). Memórias archaeológico-históricas <strong>do</strong> Districto de Bragança. <strong>Porto</strong>: Typ.<br />

Empreza Guedes.<br />

BADAL, E.; CARRIÓN, Y.; RIVERA, D.; UZQUIANO, P. (2003). La Arqueobotânica en<br />

cuevas y abrigos: objectivos y méto<strong>do</strong>s de muestreo. In Buxó, R. e Piqué, R., dir., La<br />

recogida de muestras en arqueobotánica: objectivos y propuestas meto<strong>do</strong>lógicas. La gestión<br />

de los recursos vegetales y la transformación del paleopaisaje en el Mediterráneo<br />

occidental. Barcelona: Museo d’Arqueologia de Catalunya, p.19-29.<br />

BARRANHÃO, H.; TERESO, J. (2006). (2006) - A Terronha de Pinhovelo na ciuitas<br />

zoelarum: primeira síntese. Cadernos “Terras Quentes” 3. Associação Terras<br />

Quentes/Câmara Municipal de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros, p. 7-26.<br />

177


BERGGREN,<br />

G. (1981). Atlas of seeds and small fruits of Northwest-European plant species<br />

with morphological descriptions. Vol. 3. Salicaceae-Cruciferae. Swedish Museum of Natural<br />

History.<br />

BUXÓ,<br />

R. (1990). Meto<strong>do</strong>logía y técnicas para la recuperación de restos vegetales (en<br />

especial referencia a semillas y frutos) en yacimientos arqueológicos. (Cahier Noir, 5),<br />

Ajuntamento de Girona.<br />

BUXÓ, R. (1997). Arqueologia de las plantas. Barcelona: Crítica.<br />

BUXÓ, R. (2005). L’agricultura d’època romana: estudis arqueobotànics i evolució dels<br />

cultius a Catalunya. Cota Zero, 20, 108-120.<br />

CARVALHO,<br />

A. (1954-55). Madeiras de folhosas. Contribuição para o seu estu<strong>do</strong> e<br />

identificação. Separata de Boletim da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, Vol. 5, 2ª<br />

série (Vol. XX), Fasc. II. Lisboa.<br />

CARVALHO, A. (2005). Etnobotánica del Parque Natural de Montesinho. Plantas, tradición y<br />

saber popular en un territorio del Nordeste de Portugal. Tesis <strong>do</strong>ctoral. Madrid: Universidad<br />

Autónoma de Madrid.<br />

CARVALHO,<br />

A.; LOUSADA, J.; RODRIGUES, A. (2001). Etnobotânica da Moimenta da<br />

Raia. A importância das Plantas numa Aldeia Transmontana. 1º Congresso de Estu<strong>do</strong>s<br />

Rurais.<br />

Ambiente e usos <strong>do</strong> território. <strong>Universidade</strong> de Trás-os-Montes e Alto Douro.<br />

http://home.utad.pt/~des/cer/CER/DOWNLOAD/2014.PDF<br />

CARVALHO, P. (2006). Cova da Beira. Ocupação e exploração <strong>do</strong> território na época<br />

romana. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da <strong>Universidade</strong><br />

de<br />

Coimbra.<br />

CARVALHO, P.; FRANCISCO, J.; GOMES, F.; BOTELHO, I. (1997). Assentamento romano<br />

fortifica<strong>do</strong> da Terronha (Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros). Em Busca <strong>do</strong> Passa<strong>do</strong> 1994/1997. Lisboa:<br />

Junta Autónoma de Estradas.<br />

CASTROVIEJO, S.; AEDO, C.; BENEDÍ, C.; LAÍNZ, M.; MUÑOZ GARMENDIA, F.; NIETO<br />

FELINER, G.; PAIVA, J., eds. (1997). Flora iberica. Plantas vasculares de la Península<br />

178


Ibérica e Islas Baleares. Vol. 8, Haloragaceae-Euphorbiaceae. Madrid: Real Jardín Botánico,<br />

C.S.I.C.<br />

CASTROVIEJO, S.; AEDO, C.; CIRUJANO, S.; LAÍNZ, M.; MONTSERRAT, P.; MORALES,<br />

R.; MUÑOZ GARMENDIA,<br />

F.; NAVARRO, C.; PAIVA J.; SORIANO C., eds. (1993). Flora<br />

iberica.<br />

Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol. 3, Plumbaginaceae<br />

(partim)-Capparaceae. Madrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C.<br />

CASTROVIEJO,<br />

S.; AEDO, C.; GÓMEZ CAMPO, C.; LAÍNZ, M.; MONTSERRAT, P.;<br />

MORALES, R.; MUÑOZ GARMENDIA, F.; NIETO FELINER, G.; RICO. E.; TALAVERA, S.;<br />

VILLAR, L.; eds. (1993). Flora iberica. Plantas vasculares de la Península Ibérica e Islas<br />

Baleares. Vol. 4, Cruciferae-Monotropaceae.<br />

Madrid: Real Jardín Botánico, C.S.I.C.<br />

CASTROVIEJO, S.; LAÍNZ, M.; LÓPEZ GONZÁLEZ, G.; MONTSERRAT, P.; MUÑOZ<br />

GARMENDIA,<br />

F.; PAIVA, J.; VILLAR, L.,eds. (1986). Flora iberica. Plantas vasculares de la<br />

Península<br />

Ibérica e Islas Baleares. Vol. 1 (Lycopodiaceae-Papaveraceae). Madrid, Real<br />

Jardín Botánico, C.S.I.C.<br />

CASTROVIEJO,<br />

S.; LAÍNZ, M.; LÓPEZ GONZÁLEZ, G.; MONTSERRAT, P.; MUÑOZ<br />

GARMENDIA, F.; PAIVA, J.; VILLAR, L., eds.(1990). Flora Iberica. Plantas vasculares de la<br />

Península Ibérica e Islas Baleares. Vol 2, Platanaceae-Plumbaginaceae (partim). Madrid:<br />

Real Jardín Botánico, C.S.I.C.<br />

CHABAL, L.; FABRE, L.; TERRAL, J.-F.; THÉRY-PARISOT, I., (1999). L’anthracologie. In<br />

Bourquin-Mignot C.,<br />

Brochier J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval P.,<br />

Richard<br />

H., Terral J.-F., Théry-Parisot I., La botanique. Paris: Editions Errance, p. 43-104.<br />

COMMITTEE ON NOMENCLATURE INTERNATIONAL ASSOCIATION OF WOOD<br />

ANATOMISTS (1964). Multilingual glossary of terms used in wood anatomy. Verlagsanstalt<br />

Buchdruckerei Konkordia Winterthur.<br />

CORCUERA,<br />

L.; CAMARERO, J.; GIL-PELEGRÍN, E. (2004). Effects of severe drought on<br />

Quercus ilex radial growth and xylem anatomy. Trees. 18, p. 83-92.<br />

CORCUERA, L.; CAMARERO, J.; SISÓ, S.; GIL-PELEGRÍN, E. (2006). Radial-growth and<br />

Word-anatomical<br />

changes in overaged Quercus pyrenaica coppice stands: functional<br />

responses in a new Mediterranean landscape. Tress. 20, p. 91-98.<br />

179


CORREIA, H. (2005). Cicouro. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e<br />

Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 79-81.<br />

COSTA, M.; MONTE, T. (2005). Aldeia Nova. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org,<br />

Plantas e Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p.<br />

73-77.<br />

COUTINHO, A. (1939). Flora de Portugal (Plantas vasculares). 2ª edição, Lisboa.<br />

DAVIDSON, I.; BAILEY, G. (1984). Los yacimientos, sus territórios de explotacion y la<br />

topografia. Boletín del Museo Arqueológico Nacional,<br />

2. Madrid, p. 25-46.<br />

DESPRAT, S.; SANCHEZ GOÑI, M.; LOUTRE, M. (2003). Revealing climatic variability of<br />

the last three millennia in northwestern Iberia using pollen influx data. Earth and Planetary<br />

Science Letters. 213, p.63-78.<br />

DIAS, J. (1953). Rio de Onor. Comunitarismo agro-pastoril. <strong>Porto</strong>: Instituto de Alta Cultura.<br />

EDLIN,H. (1994[1969]). What wood is that? A Manual of Wood Identification. Stobart Davies<br />

Ltd.<br />

ESPINO, D. (2004) - La gestión del paisaje vegetal en la Prehistoria Reciente y Protohistoria<br />

en la Cuenca Media del Guadiana a partir de la Antracología. <strong>Tese</strong> de <strong>do</strong>utoramento<br />

apresenta<strong>do</strong> à Universidad de Extremadura.<br />

FABIÃO, C. (1992). A II Idade <strong>do</strong> Ferro. In Mattoso, J., dir., História de Portugal. 1. Circulo<br />

de Leitores, p.167-201.<br />

FERNANDES,<br />

J.; MARQUES, S.; SANTOS, C. (2001). Plantas aromáticas e medicinais -<br />

utilizações locais no Parque Natural <strong>do</strong> Douro Internacional (PNDI). 1º Congresso de<br />

Estu<strong>do</strong>s Rurais. Ambiente e usos <strong>do</strong> território. <strong>Universidade</strong> de Trás-os-Montes e Alto<br />

Douro.<br />

http://home.utad.pt/~des/cer/CER/DOWNLOAD/2015.PDF<br />

FERNÁNDEZ MARTINEZ, V.; RUIZ ZAPATERO, G. (1984). El análisis de territórios<br />

arqueológicos: una introducción crítica. Arqueología Espacial. 1. Teruel, p. 55-71.<br />

180


FERNÁNDEZ-POSSE, M.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F. (1998). Las comunidades campesinas<br />

en<br />

la cultura castreña. Trabajos de Prehistoria. 55 (2), p.127-150.<br />

FERNÁNDEZ RODRIGUEZ, C. (2003). Ganadería, caza y animals de compañía en la<br />

Galicia romana: estudio arqueozoológico. Brigantium. 15. Museo Arqueológico e Histórico.<br />

Castelo de San Antón. A Coruña.<br />

FERREIRINHA, M. (1958). Glossário Internacional <strong>do</strong>s termos usa<strong>do</strong>s em anatomia de<br />

madeiras. (Estu<strong>do</strong>s, Ensaios e Documentos, 46). Lisboa: Ministério <strong>do</strong> Ultramar.<br />

FERRIOA, J.; Alonsob, N.; Voltasa, J.; Araus, J. (2004) - Estimating grain weight<br />

in<br />

archaeological<br />

cereal crops: a quantitative approach for comparison with current conditions.<br />

Journal of Archaeological Science. 31, p.1635-1642.<br />

FIGUEIRAL, I. (1994). A Antracologia em Portugal: progressos e perspectivas. Trabalhos de<br />

Antropologia e Etnologia. 34 (3-4) (Actas <strong>do</strong> 1º Congresso de Arqueologia Peninsular. 4),<br />

<strong>Porto</strong>,<br />

p.427-448.<br />

FIGUEIRAL, I.; MOSBRUGGER, V. (2000). A review of charcoal analysis as a tool for<br />

assessing Quaternary and Tertiary environments: achievements and limits.<br />

Palaeogeography, Palaeoclimatology,<br />

Palaeoecology. 164, p.397-407.<br />

FIGUEIRAL,<br />

I.; SANCHES, M.J. (1998-1999). A contribuição da antracologia no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

recursos florestais de Trás-os-Montes e Alto Douro durante a Pré-história recente.<br />

Portugália, Nova Série, 19-20, p. 71-101.<br />

FIGUEIRAL,<br />

I.; SANCHES, M. J. (2003). Eastern Trás-os-Montes (NE Portugal) from the late<br />

Prehistory to the Iron age: the land and the people. In Fouache, E., ed., The Mediterranean<br />

World Environment and History. Elsevier, p. 315-329.<br />

FONT<br />

QUER, P. (1985). Diccionario de Botánica. Editorial Labor, S.A..<br />

FRANCO, J. (1984). Nova flora de Portugal (Continente e Açores).<br />

2. Clethraceae-<br />

Compositae.<br />

Lisboa.<br />

FRAZÃO-MOREIRA, A; FERNANDES, M, org, (2005). Plantas e Saberes. No limiar da<br />

Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT.<br />

181


GARCÍA Y BELLIDO, A. (1993). España y los españoles hace <strong>do</strong>s mil años según la<br />

Geografía de Strábon. 10ª edição. Colección Austral.<br />

GASSON, P. (1987). Some implications of anatomical variations in the wood of Pedunculate<br />

Oak (Quercus robur L.), including comparisons with common Beech (Fagus sylvatica L.).<br />

IAWA Bulletin, 8 (2), p. 149-166.<br />

GUERRA, A. (1995). Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Faculdade de<br />

<strong>Universidade</strong><br />

de Lisboa/Edições Colibri.<br />

Letras da<br />

HARRIS, E. (1991). Príncipios de estratigrafia arqueológica. Barcelona: Editorial<br />

Crítica.<br />

HARRIS, J.; HARRIS, M. (2004). Plant identification terminology. An Illustrated Glossary. 2 nd<br />

edition, Utah: Spring Lake Publishing.<br />

HURTADO<br />

AGUÑA, J. (2001). La economía del Área carpetana en la época republicana y<br />

alto imperial. Iberia: Revista de la Antigüedad, 4, p.71-86.<br />

JACOMET, S. and collaborators (2006). Identification of cereal remains from archaeological<br />

nd<br />

sites. 2 edition.<br />

http://pages.unibas.ch/arch/archbot/pdf/index.html<br />

JUSCAFRESA, B. (1995). Guia de la Flora Medicinal, Toxica, Aromatica y Condimenticia.<br />

Editorial Ae<strong>do</strong>s.<br />

JÚNIOR, J. (1977). A cultura <strong>do</strong>s cereais no leste transmontano. Trabalhos de Antropologia<br />

e Etnologia. 23 (1). <strong>Porto</strong>, p.41-159.<br />

KROLL, H. (1992). Einkorn from Feudvar, Vojvodina, II. What is the difference between<br />

emmer-like two-seeded einkorn and emmer? Review of Palaeobotany and Palynology. 73,<br />

p.181-185.<br />

LEAL, S.; SOUSA, V.; PEREIRA, H. (2007). Radial variation<br />

of vessel size and distribution in<br />

cork<br />

oak wood (Quercus suber L.). Wood Science and Technology. 41 (4), p.339-350.<br />

182


LEMOS, F. (1993). O povoamento romano em Trás-os-montes Oriental. <strong>Tese</strong> de<br />

Doutoramento em Pré-História e História da Antiguidade. Braga: <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> Minho.<br />

MARINVAL,<br />

P. (1992). Archaeobotanical data on millets (Panicum miliaceum and Setaria<br />

italica) in France. Review of Palaeobotany and Palynology. 73, p. 259-270.<br />

MARINVAL, P. (1999) – Les graines<br />

et les fruits: la carpologie. In : Bourquin-Mignot C.,<br />

Brochier<br />

J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval P., Richard H., Terral J.-F.,<br />

Théry-Parisot I. La botanique. Paris: Editions Errance, p. 105-137.<br />

MARTÍNEZ,<br />

N.; JUAN-TRESSERRAS, J.; RODRÍGUEZ-ARIZA, M.; BUENDÍA, N. (2003).<br />

Muestreo arqueobotánico de yacimientos al aire libre y en medio seco. In Buxó, R. e Piqué,<br />

R., dir., La recogida de muestras en arqueobotánica: objectivos y propuestas meto<strong>do</strong>lógicas.<br />

La gestión de los recursos vegetales y la transformación<br />

del paleopaisaje en el Mediterráneo<br />

occidental.<br />

Barcelona: Museo d’Arqueologia de Catalunya, p. 31-48.<br />

MATEUS, J. (1990) – A teoria da zonação <strong>do</strong> ecossistema territorial. In Gamito, T., ed.,<br />

Arqueologia Hoje I.<br />

Etno-Arqueologia. Faro: <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> Algarve, p.196-219.<br />

MATEUS, J. (1996) – Arqueologia da Paisagem e Paleoecologia. Al-madan. IIª Série, 5, p.<br />

96-108.<br />

MATEUS, J. (2004). Território Antigo. Património. Estu<strong>do</strong>s. 7. Lisboa: Instituto Português <strong>do</strong><br />

Património Arquitectónico, p.36-44.<br />

MATEUS,<br />

J.; QUEIROZ, P. (1993). Os estu<strong>do</strong>s de vegetação quaternária em Portugal;<br />

contexto, balanço de resulta<strong>do</strong>s, perspectivas. O Quaternário em Portugal. Balanço e<br />

perspectivas. Lisboa: Edições Colibri, p. 105-131.<br />

MATEUS,<br />

J.; QUEIROZ, P.; VAN LEEUWAARDEN, W. (2003). O Laboratório de<br />

Paleoecologia e Arqueobotânica – uma visita guiada aos seus programas,<br />

linhas de trabalho<br />

e perspectivas. In MATEUS, J.; MORENO-GARCÍA, M., eds., Paleoecologia Humana e<br />

Arqueociências. Um programa multidisciplinar para a arqueologia sob a tutela da Cultura<br />

(Trabalhos de Arqueologia.<br />

29). Lisboa: IPA, p.106-188.<br />

MENDES, C. (Coord.) (2005). Carta Arqueolológica <strong>do</strong> Concelho de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros.<br />

Campanha 1/2004.Cadernos “Terras Quentes”. 2. Edições<br />

ATQ/CMMC, p. 5-49.<br />

183


MUÑOS SOBRINO, C.; RAMIL-REGO, P.; GOMEZ-ORELLANA, L. (2004). Vegetation of the<br />

Lago de Sanabria area (NW Iberia) since the end of<br />

the Pleistocene: a palaeoecological<br />

reconstruction<br />

on the basis of two new pollen sequences. Vegetation History and<br />

Archaeobotany. 13, p. 1-22.<br />

MUÑOZ SOBRINO, C.; RAMIL-REGO,<br />

P.; GÓMEZ-ORELLANA, L.; DÍAZ VARELA, A.<br />

(2005).<br />

Palynological data on major Holocene climatic events in NW Iberia. Boreas. 34,<br />

p.381-400.<br />

MUÑOZ<br />

SOBRINO, C.; RAMIL-REGO, P.; RODRÍGUEZ GUITIÁN, M.(1997). Upland<br />

vegetation in the north-west Iberian peninsula after the last glaciation: forest history and<br />

deforestation<br />

dynamics. Vegetation History and Archaeobotany. 6, p.215-233.<br />

MUÑOS SOBRINO, C.; RAMIL-REGO,<br />

P.; RODRÍGUEZ GUITIÁN, M. (2001). Vegetation in<br />

the<br />

mountains of northwest Iberia during the last glacial-interglacial transition. Vegetation<br />

History and Archaeobotany, 10, p. 7-21.<br />

MURPHY,<br />

P. (1989). Carbonised neolithic plant remains from the Stumble, an intertidal site<br />

in the Blackwater Estuary, Essex, England. Circaea. 6 (1), p.21-38.<br />

NESBITT, M.; SAMUEL, D. (1995). From staple<br />

crop to extinction? The archaeology and<br />

history<br />

of the hulled wheats. In Padulosi, S; Hammer, K. e Heller, J., eds. Hulled Wheat.<br />

Proceedings of the First International Workshop on the Hulled Wheats.<br />

http://www.getcited.org/pub/103378711<br />

NIETO FELINER, G.; HERRERO, A.; JURY, S., eds. (2003). Flora iberica. Plantas<br />

vasculares de la Península Ibérica e Islas Baleares. Vol. 10, Araliaceae-Umbelliferae.<br />

Madrid:<br />

Real Jardín Botánico, C.S.I.C.<br />

OLIVEIRA, F.; QUEIROGA, F.; DINIS, A. (1991). O pão de bolota na cultura castreja. In<br />

Queiroga, F e Dinis A., eds, Paleoecologia e Arqueologia. 2. Vila Nova de Famalicão, p. 251-<br />

268.<br />

OLIVEIRA, E.; GALHANO, F.; PEREIRA, B. (1976). Alfaia Agrícola Portuguesa. Lisboa:<br />

Instituto<br />

de Alta Cultura.<br />

184


PREVOSTI I MONCLÚS, M.; GUITART I DURAN, J. (2005). Els estudis del món agrari romà<br />

a Catalunya: un estat de la quesito. Cota Zero. 20, p.41-52.<br />

PEREIRA, B. (1996). Alfaias agrícolas. In O voo <strong>do</strong> Ara<strong>do</strong>. Lisboa: Museu Nacional de<br />

Etnologia, p. 161-199.<br />

PEÑA-CHOCARRO, L. (1999). Prehistoric Agriculture in Southern Spain during the Neolithic<br />

and the Bronze Age. The application of ethnographic models. (BAR International Series<br />

818).<br />

PIQUÉ i Huerta, R. (1999). Producción y uso del combustible vegetal: una evaluación<br />

arqueologica. (Treballs d’Etnoarqueologia. 3).<br />

PIQUÉ i Huerta, R. (2006). Los carbones y las maderas de contextos arqueológicos y el<br />

paleoambiente. Ecosistemas. 2006/1.<br />

http://www.revistaecosistemas.net/articulo.asp?Id=407&Id_Categoria=2&tipo=portada<br />

QUADRADO, R.; MATOS ALVES, C.; MACEDO, J.; CRAMEZ, C.; RIBEIRO, A. (1964).<br />

Notas<br />

prévias sobre a Geologia de Trás-os-Montes Oriental. 5 – Sobre a Geologia da região<br />

de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros. Boletim da Sociedade Geológica de Portugal. 15 (3). Lisboa.<br />

QUEIROZ,<br />

P.; MATEUS, J.; PEREIRA, T.; MENDES, P. (2006). Santa Clara-a-Velha: o<br />

quotidiano para além da ruína : primeiros resulta<strong>do</strong>s da investigação paleoecológica e<br />

arqueobotânica [Texto policopia<strong>do</strong>]. Trabalhos <strong>do</strong> CIPA. 97. Lisboa.<br />

QUEIROZ, P.; VAN DER BURGH (1989). Wood Anatomy of Iberian Ericales. Revista de<br />

Biologia. 14. Lisboa, p. 95-134.<br />

RAMIL-REGO, P. (1993). Paleoethnobotánica de<br />

Galicia<br />

(N.O. Cantábrico). Munibe. 45, p. 165-174.<br />

yacimientos arqueológicos holocenos de<br />

RAMIL-REGO, P.; DOPAZO MARTINEZ, A.; FERNÁNDEZ ROGRIGUEZ, C. (1996).<br />

Cambios en las estrategias de explotación de los recursos vegetales en el Norte de la<br />

Península Ibérica. Férvedes. 3, p.169-187.<br />

REDENDOR,<br />

A. (2002). Epigrafia romana da região de Bragança. (Trabalhos de<br />

Arqueologia, 24). Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.<br />

185


REIS, T. (2005). Constantim. In Frazão-Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e Saberes.<br />

No limiar da Etnobotânica em Portugal. Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 83-85.<br />

RENFREW, J.M. (1973). Palaeoethnobotany. The prehistoric food plants of the Near East<br />

and Europe. New York: Columbia<br />

University Press.<br />

RIBEIRO, J.A. (2003). Património florístico duriense. Plantas bravias comestíveis ou<br />

condimentares e fruteiras silvestres. Douro. 16, p.71-105.<br />

RIBEIRO,<br />

J. A. (2005). Plantas bravias comestíveis e plantas condimentares. In Frazão-<br />

Moreira, A e Fernandes, M, org, Plantas e Saberes. No limiar da Etnobotânica em Portugal.<br />

Lisboa: Edições Colibri/IELT, p. 33-43.<br />

RIBEIRO,<br />

J. A.; MONTEIRO, A.; SILVA, M. (2000). Etnobotânica. Plantas Bravias,<br />

Comestíveis, Condimentares e Medicinais. 2ª Edição. Mirandela: João Azeve<strong>do</strong> Editor.<br />

RIBEIRO, M. (1991). Contribuição para o conhecimento estratigráfico e petrológico da região<br />

a SW de Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros (Trás-os-Montes Oriental). (Memórias <strong>do</strong>s Serviços<br />

Geológicos de Portugal, 30). Lisboa.<br />

RODRIGUEZ<br />

LOPEZ, C.; FERNANDEZ RODRIGUEZ, C.; RAMIL REGO, P. (1993). El<br />

aprovechamiento del Medio Natural en la cultura castreña del Noroeste Peninsular.<br />

Trabalhos de Antropología e Etnologia. 33 (1-2). <strong>Porto</strong>, p.285-305.<br />

RUCK, C. (1995). Gods and Plants in<br />

the Classical World. In Schultes, R., Siri von Reis,<br />

eds.,<br />

Ethnobotany. Evolution of a discipline. Chapman & Hall, p.131-143.<br />

SALGUEIRO, J. (2005). Ervas, Usos e Saberes. Plantas Medicinais no Alentejo e outros<br />

Produtos Naturais. Edições Colibri/Marca-ADL.<br />

SCHWEINGRUBER, F.H (1990) – Anatomy of European woods. Paul Haupt and Stuttgart<br />

Publishers<br />

SCHWEINGRUBER,<br />

F.H (1990b). Microscopic Wood Anatomy. Swiss Federal Institute for<br />

Forest, Snow and Landscape Research.<br />

SENNA-MARTINEZ,<br />

J. ; VENTURA, J.; CARVALHO, H. (2005). A Fraga <strong>do</strong>s Corvos<br />

(Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros): um sítio de habitat <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> Carrapatas” da primeira Idade <strong>do</strong><br />

186


Bronze em Trás-os-Montes Oriental. Cadernos “Terras Quentes”. 2. Edições ATQ/CMMC,<br />

p.61-81.<br />

SENNA-MARTINEZ, J.; VENTURA, J.; CARVALHO, H.; FIGUEIREDO, E. (2006). A Fraga<br />

<strong>do</strong>s Corvos (Mace<strong>do</strong> de Cavaleiros): Um sítio de Habitat da Primeira Idade <strong>do</strong> Bronze em<br />

Trás-os-Montes<br />

Oriental. A campanha 3 (2005). Cadernos Terras Quentes. Edições<br />

ATG/CMMC, p.61-85<br />

SILVA,<br />

A. (2007). A Terra Sigillata Hispânica Tardia de Terronha de Pinhovelo: o comércio e<br />

o povoamento. Cadernos Terras Quentes, 4. Associação Terras Quentes, p.6-50.<br />

SILVA, Pinto da (1988). A paleoetnobotânica na<br />

Arqueologia portuguesa. Resulta<strong>do</strong>s desde<br />

1931<br />

a 1987. In Queiroga, F. e Sousa, I., eds., Actas <strong>do</strong> Encontro “Paleoecologia e<br />

Arqueologia”. Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, p. 5-36.<br />

STRECHT, A.; LOPEZ, M.; BOTELHO, M; BOGAS, T. (2005). Pruôba (Póvoa). In Frazão<br />

Moreira,<br />

A.; Fernandes, M., org., Plantas e Saberes. No Limiar da Etnobotânica em Portugal.<br />

Lisboa: Edições Colibri. IELT, p. 99-101.<br />

TABORDA, V. (1932). Alto Trás-os-Montes. Estu<strong>do</strong> Geográfico. Coimbra: Imprensa<br />

<strong>Universidade</strong>.<br />

TÉLLEZ, R.; CIFERRI, F. (1954). Trigos arqueológicos de España. Madrid: Ministerio de<br />

Agricultura, Instituto Nacional de Investigaciones Agrarias.<br />

TER BRAAK, C,; SMILAUER, P. (2001). Canoco 4.52 for Win<strong>do</strong>ws. Wageningen,<br />

Netherlands.<br />

TUTIN, T.; HEYWOOD, V.; BURGES, N.; MOORE, D.; VALENTINE, D.; WALTERS, S.;<br />

WEBB, D. (1976). Flora europaea. Vol. 4. Plataginaceae<br />

to Compositae (and Rubiaceae).<br />

Cambridge<br />

University Press.<br />

UZQUIANO, P. (1997). Antracología y méto<strong>do</strong>s: implicaciones en la economía prehistórica,<br />

etnoarqueología y paleoecología. Trabajos de<br />

Prehistoria, 54, nº 1, p.145-154.<br />

VAN DER VEEN, M (1987). The plant remains. In Heslop, D., The Excavation of an Iron Age<br />

Settlement at Thorpe Thewles, Cleveland, 1980-1982. (CBA Research<br />

Report, 65). Lon<strong>do</strong>n,<br />

p.93-99.<br />

187<br />

da<br />

The


VAN LEEUWAARDEN, W. (in prep.). Some remarks on the identification of recent and fossil<br />

wood<br />

of endemic Portuguese species of the genus Quercus.<br />

VASCONCELLOS, J. de Carvalho e (1949). Plantas<br />

medicinais e aromáticas. Direcção<br />

Geral<br />

<strong>do</strong>s Serviços Agrícolas. Lisboa.<br />

VERNET, J-L (1999). Reconstructing vegetation and landscapes<br />

in the Mediterranean: the<br />

contribution<br />

of Anthracology. In Leveau, P.; Triment, F.; Walsh, K.; Barker, G., eds.,<br />

Environmental Reconstruction in Mediterranean Landscape Archaeology. (The Archaeology<br />

of Mediterranean Landscapes, 2). Oxbow books, p. 25-36.<br />

VERNET,<br />

J-L; OGEREAU, P.; FIGUEIRAL, I.; MACHADO YANES, C.; UZQUIANO, P.<br />

(2001). Guide d’identification des charbons de bois préhistoriques et récents. Sud-Ouest de<br />

l’Europe: France, Péninsule ibérique et îles Canaries. Paris: CNRS Editions.<br />

VILAÇA, R. (1995). Aspectos <strong>do</strong> povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais da<br />

Idade <strong>do</strong> Bronze. 1. (Trabalhos de Arqueologia, 9). IPPAR.<br />

ZOHARY,<br />

D.; HOPF, M. (2000). Domestication of Plants in the Old World. The origin and<br />

spread of cultivated plants in West Asia, Europe and the Nile Valley. 3 rd Edition. Oxford<br />

University Press.<br />

188

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!