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onde era utiliza<strong>do</strong> para o fabrico de redes de caça (Guerra, 1995). Já Estrabão (III, 3, 7),<br />
refere que “en los <strong>do</strong>s tercios del año, los montañeses se nutren de bellotas, que secan y<br />
pelan molién<strong>do</strong>las luego para hacer pan, que guardan para consumirlo en lo sucesivo”<br />
(Garcia-Belli<strong>do</strong>, 1993). A afirmação de Estrabão deverá ser entendida à luz <strong>do</strong> tempo em<br />
que foi escrita, isto é, durante a fase de consolidação da conquista <strong>do</strong> território, quan<strong>do</strong> o<br />
autor pretendia enaltecer o papel civiliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s romanos (Fabião, 1992). Não obstante, as<br />
inúmeras intervenções realizadas em castros na Galiza demonstraram que as bolotas eram<br />
efectivamente um recurso muito utiliza<strong>do</strong> em tempos pré-romanos e que continuaram a sê-lo<br />
após a conquista, não se revestin<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, de um papel basilar para a subsistência<br />
destas comunidades (Ramil-Rego, et al., 1996; Rodriguez Lopez, et al., 1993; Ramil-Rego,<br />
1993).<br />
Efectivamente, diversos estu<strong>do</strong>s carpológicos e arqueozoológicos têm demonstra<strong>do</strong> o<br />
carácter eminentemente agro-pastoril da economia proto-histórica e romana <strong>do</strong> Noroeste<br />
peninsular, na qual a produção cerealífera apresentava particular relevância, em especial o<br />
trigo. É aponta<strong>do</strong> um pre<strong>do</strong>mínio de Triticum aestivum, Triticum compactum e Triticum<br />
dicoccum. O Panicum miliaceum, Setaria italica, Avena sativa e Hordeum vulgare seriam<br />
cultivos secundários. É ainda apontada a presença de leguminosas, em especial Vicia faba<br />
e em menor medida Pisum sativum, Brassica sp. e Sinapis (Ramil-Rego et al., 1996;<br />
Rodriguez Lopez, et al. 1993). No que respeita à produção de castanha, apesar de ser<br />
conheci<strong>do</strong> o incremento que esta cultura teve em época romana, este amplo conhecimento,<br />
que advém <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s polínicos, não é acompanha<strong>do</strong> por um registo paleocarpológico em<br />
jazidas arqueológicas que o possa <strong>do</strong>cumentar de forma mais pormenorizada.<br />
É presumível que a nova ordem económica romana no Noroeste peninsular tenha<br />
conduzi<strong>do</strong> a significativas alterações no que respeita aos volumes e mesmo propósitos de<br />
produção, entran<strong>do</strong> esta região numa economia cada vez mais mercantil, na qual o<br />
abastecimento de merca<strong>do</strong>s regionais teria especial relevância. Ao mesmo tempo, um<br />
aumento de produções seria necessário para pagar o devi<strong>do</strong> tributo ao Esta<strong>do</strong> romano.<br />
Saliente-se, a este respeito, que noutras áreas geográficas se encontram bem<br />
<strong>do</strong>cumentadas evidentes alterações no sistema agrícola. Menciona-se a título de exemplo a<br />
área carpetana onde desde a época de Augusto, e pelo menos até ao século III, houve um<br />
incremento no cultivo da vinha, a tal ponto que no ano 92 d.C. o impera<strong>do</strong>r Domiciano terá<br />
proibi<strong>do</strong>, possivelmente com pouco efeito, o cultivo da vinha em terrenos de cereal,<br />
decretan<strong>do</strong> mesmo o seu arranque parcial (Hurta<strong>do</strong> Aguña, 2001). Nas regiões peninsulares<br />
mais meridionais, nomeadamente a Bética, as alterações terão si<strong>do</strong> mais profundas, de<br />
mo<strong>do</strong> a fomentar um acréscimo de produções de cereal e vinho com vista à sua exportação.<br />
No que respeita à exploração de ga<strong>do</strong>, existem marcadas diferenças entre as<br />
realidades pré-romanas e romanas no registo arqueológico <strong>do</strong> Noroeste peninsular,<br />
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