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baixar em PDF - Coleção Aplauso - Imprensa Oficial

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Capítulo II<br />

A Formação de Um Hom<strong>em</strong> Indignado<br />

Na infância, aprendi com um pai metodista, evangélico, e uma mãe católica de colégio<br />

de freira, que a vida é assim: um choque entre indivíduos com desejos diferentes.<br />

E cabe a cada um viver entre essas diferenças e tornar-se indiferente também.<br />

Foi o que fiz e s<strong>em</strong>pre vi todos fazendo o mesmo: cada um cuidando de si. Mas é<br />

essa indiferença que me v<strong>em</strong> incomodando nos últimos anos. Como ficar s<strong>em</strong>pre<br />

indiferente diante duma realidade que há mais de 70 anos me horroriza?<br />

Walmor Vocação Chagas<br />

(trecho de Um Hom<strong>em</strong> Indignado)<br />

Walmor de Souza Chagas nasce a 28 de agosto de 1930, <strong>em</strong> Porto Alegre, Rio Grande<br />

do Sul. Pelo sobrenome, de orig<strong>em</strong> açoriana na mais nobre tradição gaúcha. De<br />

Noé e Adylles, nasce <strong>em</strong> casa. A mãe, auxiliada pela parteira dona Marta, a mesma<br />

dos nascimentos dos irmãos; é o segundo numa família de cinco filhos, Antônio,<br />

Walmor, Sérgio, Jussara e Iara.<br />

A casa, um casarão português na Baixa de Porto Alegre, à Rua Santo Antônio, nº 36,<br />

a mesma <strong>em</strong> que passaria toda a infância, traquinando ladeira abaixo no seu carrinho<br />

rolimã de madeira e jogando bola, num campinho de futebol b<strong>em</strong> à esquina.<br />

A mesma casa na qual veria morrer bebezinho seu irmão Sérgio, aos seis meses de<br />

idade, revelando-lhe brutalmente o inexplicável.<br />

Consta nas lendas que toda cidade erguida <strong>em</strong> estuário de um rio é sagrada. Porto<br />

Alegre soergue-se às margens do deslumbrante estuário do rio Guaíba, cercada de<br />

ilhas verdejantes e pequenos rios que ali deságuam. Walmor associa sua vida s<strong>em</strong>pre<br />

à água. Embora seja do signo de Virg<strong>em</strong> (do el<strong>em</strong>ento terra), crê que sua essência é<br />

ligada à água. Sente o cheiro da água, rastreia a água, e, sabe-se tão imponderável<br />

quanto vital – como a água.<br />

Uma de suas primeiras e também mais estarrecedoras l<strong>em</strong>branças acontece ligada<br />

à água: no foz do rio Jacuí, quando encontra o rio Guaíba, há um sítio, até hoje de<br />

propriedade da família. E, nesse sítio, um ancoradouro. Ali, suicidou-se um primo.<br />

Em gesto absurdo, talvez de puro gozo, entre descaso e fastio, ou desespero, tirou a<br />

dentadura, descalçou os sapatos, após arrumá-los lado a lado, atirou-se à correnteza<br />

forte do rio. Desapareceu, enlouquecendo a todos, nos braços dalguma iara...<br />

Em plena era getulista, Porto Alegre engrandecia-se, cada vez mais culta e altaneira,<br />

pólo meridional da Nação.<br />

Ao cotidiano enfadonho de um garoto que freqüenta o Ginásio Rosário durante<br />

todo o 1º ciclo, para, como também de praxe, transferir-se no científico para o Colégio<br />

Júlio de Castilhos, juntava-se o irascível e rigoroso cotidiano dos pais. Casal e<br />

família que se cunhou <strong>em</strong> molde da mais rígida monogamia vitoriana. Além dos folguedos<br />

da Rua Santo Antônio, são as súbitas aparições da avó materna, dona Clara<br />

Teixeira de Souza, que incendiariam a fantasia do menino Walmor.<br />

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