baixar em PDF - Coleção Aplauso - Imprensa Oficial
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Capítulo V<br />
Assim Caminha o Ator de Um Hom<strong>em</strong> Indignado<br />
Walmor Mito Chagas<br />
A chegada das imagens da televisão foi um golpe. Eu vivi o século 20, o século das<br />
revoluções e fui cada vez mais me sentindo parecido como um professor de latim.<br />
Eu vi nesses últimos 50 anos a televisão, subliminarmente d<strong>em</strong>ocrática e grátis, provocar<br />
esse tsunami cultural, que me fez sentir o professor de um latim que não faz<br />
mais parte do currículo.<br />
(trecho de Um Hom<strong>em</strong> Indignado)<br />
Walmor Chagas transpôs do teatro para a televisão sua persona e a atitude que<br />
dela gerou, uma espécie de espetáculo subjacente de sua própria vida. Acrescenta<br />
refinada ironia ao tipo reservado, racional e não-conformista que montara, como a<br />
se divertir com o espetáculo de virar celebridade na mídia das massas.<br />
Ajudou-lhe muito o lay-out adotado anos antes, para o show de moda da Rhodia,<br />
Momento 68, sob comando de Lívio Rangan (diretor da Gang Publicidade; show<br />
que é marco na história da nascente indústria fashion do País, e que tinha ainda no<br />
elenco Rita Lee, Gilberto Gil, Leni Dale, Caetano Veloso e Raul Cortez). Em Labirinto,<br />
Flávio Império redefine esse lay-out, humanizando-o. Isso permitirá a Walmor uma<br />
espécie de domínio do t<strong>em</strong>po físico, sobrepondo-se ao envelhecimento do corpo. E,<br />
por mais duas décadas, permanece mito da maturidade perene, produto vendável<br />
como ator, no universo consumista que a TV instaura no País.<br />
De fato, a televisão já surgira b<strong>em</strong> no início de sua carreira: os teleteatros, ao vivo<br />
e preto-e-branco. E ainda aquela frustrada tentativa de se criar um programa <strong>em</strong><br />
torno do casal classe-média (à la Lucille Ball Show) tendo Vera Nunes como partner.<br />
Era ainda uma televisão de tal forma periclitante – tudo feito às pressas e na marra,<br />
tecnicamente incipiente e de produção quase miserável –, que Walmor se recusou a<br />
participar dela. Até mesmo quando Cacilda tentou o Teatro Cacilda Becker (1969),<br />
uma série de seis programas que, <strong>em</strong> vez de ir<strong>em</strong> diretamente ao ar, seriam filmados<br />
<strong>em</strong> 16 mm, n<strong>em</strong> assim ele topou.<br />
Mas, <strong>em</strong> 1970, Walmor faz sua primeira telenovela, As Bruxas, de Ivani Ribeiro. Novamente<br />
a impressão de horror à mídia é o que sobra da experiência. Entretanto,<br />
nos descaminhos de Hamlet e no trabalho que deu produzir Labirinto, Walmor começou<br />
a criar e falar numa metáfora que b<strong>em</strong> simplifica o impacto das telenovelas:<br />
Enquanto a gente de teatro e de cin<strong>em</strong>a fica nuns barquinhos indo a pique, vê passar<br />
ao largo aquele transatlântico luxuoso, todo iluminado e <strong>em</strong> festa – a televisão.<br />
Corrida do Ouro, de Gilberto Braga, 1974, um ano após Labirinto, marca sua estréia<br />
na Rede Globo de Televisão. Segu<strong>em</strong>-se O Grito (75), Locomotivas (77), Coração<br />
Alado (81), Final Feliz (82), Eu Prometo (83), o maior êxito de Janete Clair Selva de<br />
Pedra <strong>em</strong> segunda versão (85), Mandala (87), Sex Appeal e Sonho Meu (93).<br />
Cena do espetáculo Labirinto<br />
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