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baixar em PDF - Coleção Aplauso - Imprensa Oficial

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54<br />

Até Walmor atirou-se um dia no centro da imensa roda, rolou, suspirou, chorou,<br />

cantou, tentou desestruturar-se, encontrar uma saída, exorcizar os fantasmas, mas<br />

tirando um coro f<strong>em</strong>inino – Marilena Ansaldi, Marília Pêra, Zezé Motta, Vivian Maar,<br />

que se ajoelharam e o envolveram nos colos como se foss<strong>em</strong> uma só Pietà, e choravam<br />

e afagavam-no... – nada mais aconteceu de tão extraordinário. Sobretudo,<br />

nenhuma proposta, individual ou coletiva, conseguia ser engendrada para surgir<br />

um espetáculo.<br />

Quase desistindo, Walmor partia para passear na noite com Odete Lara (também<br />

fazia parte do grupo). Ela, vestida <strong>em</strong> roupas ciganas (compradas na boutique de<br />

Leila Diniz, <strong>em</strong> Ipan<strong>em</strong>a, no Rio) e transparentes, descalça; ele trajando justíssimas<br />

pantalonas negras, sapatos pretos de verniz. Não havia <strong>em</strong> todo o Brasil casal mais<br />

estiloso e lindo: do apogeu de seus 40 anos desfilavam pela Galeria Metrópole, então<br />

o point chic e gay de São Paulo, sob olhares cobiçosos e invejosos.<br />

Não tardou, e pequenas tribos foram-se formando e digladiando-se no interior do<br />

grupo experimental – que nunca chegou a ter nome. Numa entropia cada vez mais<br />

impossível de ser contida por seus idealizadores – mesmo que na ioga aplicada pela<br />

jov<strong>em</strong> atriz Bri Friocca houvesse até gente levitando... – o Grupo-S<strong>em</strong>-Nome implodiu!<br />

Como golpe de misericórdia, deu-se a cena mais comum naqueles anos de repressão<br />

absoluta aos direitos do cidadão: por denúncia de vizinhos, à cata de subversivos, a<br />

polícia política invadiu o galpão alugado para os laboratórios e exercícios físicos (as<br />

sessões de psicodrama eram na clínica do próprio Gaudêncio). O estrondo foi impressionante,<br />

Myrian Muniz pôs-se exageradamente a gritar e todos riam, achando<br />

que a imensa porta sanfona, de metal, desabara de podre... Para terror de todos,<br />

atrás da porta literalmente arrancada, entrincheirados <strong>em</strong> meio à nuv<strong>em</strong> de poeira,<br />

surgiram os policiais. A turma mais assanhada, pega com uns cigarros de maconha<br />

nas mochilas, só foi possível soltá-los graças à intervenção de um delegado namorado<br />

do namorado da Marília Pêra <strong>em</strong> pânico (pouco t<strong>em</strong>po antes, a jov<strong>em</strong> atriz havia<br />

sido espancada <strong>em</strong> Roda Viva por grupo paramilitar de direita).<br />

Do ponto de vista psicanalítico, de certa forma deu certo: todos rumaram para suas<br />

casas, caíram dentro de suas vidas, encontraram suas próprias identidades. Mas não<br />

restou nada do grupo teatral, muito menos espetáculo experimental...<br />

Walmor Chagas, entretanto, escolheu um dos caminhos do labirinto: decide abandonar<br />

tudo, voltar ao torrão natal, quer viver como gente comum, gente-como-agente,<br />

gente normal doravante. Precisava parar, fazer um balanço da vida...<br />

Isso tudo aconteceu no século passado, antes do advento da peste. Findava a Idade<br />

de Ouro do Século 20. E, s<strong>em</strong> que ninguém percebesse, se inicia o processo de globalização<br />

do planeta.<br />

Com uma modelo, no show da Rhodia Momento 68

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