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+QUEM SOMA . Bruno Kaskata . Por Renato Silva<br />
100<br />
vezes eu me sinto um alien<br />
por trabalhar de maneira tão “Às<br />
solitária.” Essa frase não deveria<br />
soar estranha, se não fosse extraída da<br />
fala de Bruno “Kaskata” Lancellotti, jornalista<br />
formado pela Faculdade Casper Líbero<br />
de São Paulo, 30 anos – treze dos quais dedicados<br />
a promover o ska no país – e dono do<br />
selo Radiola Records.<br />
Por tudo que realizou em sua curta trajetória,<br />
chega a espantar essa carga de decepção<br />
naquele que é o responsável por<br />
agradáveis surpresas no que se refere ao<br />
lançamento no Brasil de artistas emblemáticos<br />
ligados à música jamaicana, e, para a<br />
nossa alegria, da vinda de muitos desses ao<br />
país. Numa dessas manhãs sufocantes de céu<br />
por entre os tons de cinza e marrom, sou<br />
convidado a me sentar num aconchegante<br />
sofá de sua casa, onde vive com a mãe. Sou<br />
recebido com a simplicidade com a qual o Sr.<br />
“Kaskata” conduz o seu trabalho.<br />
Conversamos sobre o surgimento do ska no<br />
Brasil e também sobre o fato de artistas bra-<br />
sileiros terem feito versões do gênero na<br />
Jovem Guarda. “O ska pintou por aqui acidentalmente<br />
nos anos sessenta, e a geração<br />
da Jovem Guarda não tinha idéia de que<br />
‘Shame e Scandal’, regravada por Renato e<br />
seus Blue Caps ou ‘My Boy Lollypop’ na versão<br />
da Wanderléia eram ska e rocksteady.”<br />
Questiono uma possível responsabilidade dos<br />
Paralamas do Sucesso em divulgar de fato o<br />
ska no país. “Não, não! O ska de fato foi<br />
divulgado no início dos anos noventa”, afirma,<br />
categórico. Sem deixar espaço para<br />
réplicas, continua: “Toda a informação que<br />
saiu dos Estados Unidos, da Europa, chegou<br />
aqui na mesma época em que chegava à<br />
América Latina, e havia três grandes bandas<br />
no continente com um som influenciado pelo<br />
ska: o Desordem Público da Venezuela, os<br />
Fabulosos Cadilacs da Argentina e os Paralamas.<br />
No caso do Paralamas, aqui se<br />
vendeu como rock brasileiro e não importava<br />
se era punk ou o que seja. A única banda<br />
brasileira que marcava essas características<br />
na época era o Kongo, do Rio.”<br />
Bruno não faz rodeios quando se trata de<br />
suas escolhas e trabalhos, um cara “sem<br />
ideinhas”, como disse Frederico Finelli, dono<br />
da Submarine Records, num elogio que acaba<br />
sendo retribuído pelo amigo quando perguntado<br />
sobre quem no Brasil faz um trabalho<br />
sério e independente. “Um exemplo de cara<br />
sério, que trabalha com integridade. Um cara<br />
que sabe muito bem trabalhar no equilíbrio<br />
entre o que pode e gostaria de fazer e o que<br />
pode realizar, diz Kaskata.”<br />
A Radiola Records, selo do qual é o dono e<br />
que trabalha com o ska e todas as suas vertentes,<br />
é um exemplo de profissionalismo<br />
dentro do mercado independente. Tocando a<br />
empreitada juntamente com Rodrigo Cerqueira,<br />
que integra o grupo Firebug, Bruno<br />
sabe escolher aqueles que quer representar<br />
em sua gravadora, em que a música jamaicana<br />
é o foco. “Meu sonho é poder um dia<br />
organizar melhor a Radiola, estabelecer metas<br />
e cumpri-las de maneira que eu não me<br />
canse tanto.” O mercado independente do<br />
país apresenta resultados pouco gratifican-