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envolver, ir nos bailes e dançar. Tinha também os clipes no Fantástico, no<br />
programa do Tio Sam. Quando você se envolve, as coisas começam a vir<br />
até você, a informação etc. Tudo isso ainda ali na Zona Norte. Era uma<br />
época que tinha muito baile na casa dos amigos – o pessoal reunia os<br />
aparelhos de som pra tocar, normalmente na sala da casa das pessoas – o<br />
pessoal no bairro fazia e eu ainda não podia ir (risos). O tempo passou e fui<br />
ganhando mais liberdade. Entrei no ginásio em 84 e conheci o Edi Rock – era<br />
época do break. Tinha um vídeo do Chic, da música “Hangin’” (do álbum<br />
Tongue in Chic, de 1982) que tinha um moleque dançando break e eu pirei<br />
com aquilo. Comecei a trocar idéia com o Edi Rock sobre fazer umas<br />
festinhas e comprei um aparelho de som 3 em 1 da Sony para mim. Aí<br />
fizemos uma equipe chamada Bill Black – que era o nome do DJ do Kurtis<br />
Blow. A gente tinha uns amigos com caixa acústica e começamos a fazer<br />
sucesso ali na nossa área, fazendo festa em escola, nas casas. As pessoas<br />
dançavam na sala e a gente colocava os aparelhos no quarto, nem<br />
participávamos da festa. A gente olhava pela fechadura pra ver se o povo<br />
tava dançando (risos). Era louco. E o DJ no quarto tinha regalias – o povo<br />
te trazia bolo, refrigerante. E assim a coisa foi evoluindo e o hip-hop<br />
começou a chegar. Já ia nas festas da Chic Show, no Clube da Cidade e era<br />
aquela febre das equipes de baile.<br />
O Edi Rock era DJ também?<br />
Era. Ele que me ensinou as coisas mais básicas, a mixar, a fazer scratch. Ele<br />
sacou essas coisas antes do que eu. Avançando um pouco na história, teve<br />
o [rapper old school americano] Kool Moe Dee, que a Chic Show trouxe. Eu<br />
“A gente tinha uns amigos<br />
com caixa acústica e<br />
começamos a fazer sucesso<br />
ali na área nossa, fazendo<br />
festa em escola, nas casas.<br />
As pessoas dançavam na<br />
sala e a gente colocava os<br />
aparelhos no quarto, nem<br />
participávamos da festa.<br />
A gente olhava pela<br />
fechadura pra ver se o povo<br />
tava dançando (risos).<br />
Era louco. E o DJ no quarto<br />
tinha regalias – o povo te<br />
trazia bolo, refrigerante.<br />
E assim a coisa foi evoluindo<br />
e o hip-hop começou<br />
a chegar.”<br />
queria ter ido no [show do rapper no ginásio do] Palmeiras, mas fui cortar<br />
o cabelo sozinho pra economizar dinheiro e ir na estica, só que meu cabelo<br />
ficou todo torto e fiquei com vergonha de ir (risos). Tinha o lance da<br />
vaidade, de ir com a melhor roupa que você tinha etc. Daí eu dei um jeito<br />
de cortar o cabelo direito e eu fui no domingo no clube House – eu já tava<br />
com esse lance de ser DJ nessa época. Lá, eu vi o DJ do Kool Moe Dee<br />
tocando um som do Tim Maia, “Você Mentiu”. Quando chegou no refrão, ele<br />
repetiu aquilo até virar outro som. Na hora, eu pensei: “Hã? É isso! É isso<br />
que eu quero fazer! (risos)”.<br />
Quais eram as referências que vocês tinham nessa época?<br />
Eu achava o som do Kurtis Blow louco. O primeiro cara que eu vi e ouvi<br />
mixar foi um DJ que tocava na festa da [equipe de som paulistana]<br />
Sideral. O Grandmaster Flash – ele tinha lançado uma mixtape chamada<br />
As Aventuras de Grandmaster Flash (KL Jay se refere ao álbum The<br />
Adventures of Grandmaster Flash, de 1982), misturando Chic com<br />
Blondie etc. Eu nunca tinha visto ninguém fazer ao vivo, porque nas<br />
festinhas nas casas era quase tudo com fita cassete. E em alguns lugares<br />
o DJ tocava de costas para o público – no Rio, por exemplo. Eu também<br />
ia nas lojas da 24 de maio e os caras gravavam as fitas pra mim, porque<br />
não tinha dinheiro para comprar os vinis. A gente tocava de fita mesmo.<br />
Numa domingueira no Sideral eu vi o DJ mixando [a música] “Martin<br />
Luther King” do Hurt-M-Badd com outra, e achei fantástico. Aquilo pra<br />
mim era mágica. Sei lá, eu vejo o Romário jogar, o Robinho, aquilo é<br />
mágica também (risos).<br />
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