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Nelson Leirner:<br />
Ser ou Não Ser Artista?<br />
Por Arthur Dantas . Colaborou Tiago Moraes<br />
Imagens Cia de Foto e Divulgação<br />
Nelson Leirner é, sem sombra de dúvida, um dos mais<br />
importantes e influentes artistas brasileiros dos últimos<br />
cinqüenta anos. Sua obra está exposta ou passou por todos<br />
os grandes museus e galerias em nosso país. Ela se baseia em dois<br />
pilares: o primeiro, um caráter intrinsecamente público e<br />
participativo, que rompe com certa aura contemplatória do<br />
objeto artístico, contestando de um lado a sociedade estabelecida<br />
(baseada no autoritarismo da ditadura ou da alienação do consumo,<br />
por exemplo), e, do outro, faz uma crítica acirrada e<br />
perene ao mercado/sistema das artes; o segundo, seu caráter<br />
mobilizador, fazendo com que público, artistas e críticos tomem<br />
partido e posição diante de suas obras. Aos 76 anos, Leirner é um<br />
eterno enfant terrible das artes plásticas brasileiras.<br />
Sua história particular é curiosa. Seu pai, o industrial Isai<br />
Leirner, foi um dos grandes mecenas das artes no país e teve papel<br />
ativo em instituições artísticas durante a década de 1950. Sua<br />
mãe, Felicia Leirner, foi uma escultora de carreira longa e<br />
produtiva. Dessa forma, o que poderia ser um problema – se tornar<br />
artista –, em sua família era o caminho mais do que natural.<br />
Meu pai morreu muito cedo, em 1962. Ele me apoiava<br />
muito. Minha família era muito gozada. No geral, para a<br />
sociedade, todo mundo queria ver o filho numa profissão<br />
liberal – querer um filho artista era um absurdo. Tanto que<br />
a FAAP (faculdade onde lecionou de 1975 até 1996) era<br />
chamada de faculdade ‘espera marido’, porque tinha<br />
muitas mulheres e todas lindas (risos). Elas iam estudar<br />
artes para esperar um marido. Entre nós, professores, [a<br />
FAAP] também era conhecida assim. No meu caso, foi<br />
diferente: meus pais me empurraram para as artes.<br />
Aconteceram coisas comigo que não aconteceram para<br />
ninguém. Quando o [crítico polonês Ryzard] Stanilavski<br />
veio aqui – ele era presidente da AICA (Associação<br />
Internacional dos Críticos de Arte) –, meu pai havia<br />
marcado uma exposição para mim na galeria São Luís, que<br />
era a melhor de São Paulo, e quem escreveu o catálogo foi<br />
o próprio Stanilavski.