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Você falava que precisa do caos para compor, mas como você<br />

aprimorou sua habilidade de composição, desde a época em que você<br />

começou a ouvir e a se interessar por música?<br />

Praticamente tudo veio como fruto da audição de muita música, da<br />

mesma forma que alguém pode aprender a escrever lendo muito. Minha<br />

mãe ouvia uma estação de rádio que tocava música clássica de manhã,<br />

e durante a tarde e a noite ela ouvia Nina Simone, Jimmy Cliff, Bob<br />

Marley, George McCrae… Rock Your Baby, do George McCrae, rolava<br />

direto no toca-discos. Quando eu era muito criança, essas foram minhas<br />

maiores influências.<br />

Depois descobri o Hendrix e o Funkadelic. Eu era muito fã de punk rock<br />

e de toasting do começo do dancehall: Yellow Man, Charlie Chaplin,<br />

esses caras. Acho que consegui usar essa diversidade quando comecei a<br />

usar samplers, um bom tempo depois, porque toquei em muitas bandas<br />

antes... Quando comecei a usar samplers, eu estava escutando muita<br />

coisa orquestral, e também John e Alice Coltrane, e Pharoah Sanders.<br />

As músicas deles são estruturadas em movimentos, como música<br />

clássica, e é justamente por isso que, especialmente nos meus primeiro<br />

e segundo discos, algumas músicas são arranjadas dessa forma.<br />

Por André Maleronka e Arthur Dantas . Tradução Rodrigo Brasil<br />

Fotos Fernando Martins<br />

Daria um filme: jovem mestiço, dividido entre o punk rock e o rap, as ruas e a universidade, descobre, na ficção científica e nas teorias<br />

intelectuais radicais, enredo e metáforas para sua própria vida, e, no sampler, o poder de síntese necessário pra dar sentido a ela.<br />

MC e produtor, o estadunidense Mike Ladd, infelizmente, fez uma rápida passagem pelo Brasil, se apresentando para uma audiência restrita.<br />

Pra quem pôde conferir seu universo sonoro balançado e conturbado, ficou muito claro que o conceito que batiza seu segundo álbum, Welcome<br />

to the After Future, é o plano diretor de sua produção. Com uma atitude tipicamente pós-moderna, usa análises dialéticas e liberdade semântica<br />

– não é a palavra post (pós) dos teóricos sua escolha, e sim a pedestre after: após, depois – para definir como soa: a partir de um arcabouço<br />

acadêmico, arquiteta resultados simples. O balanço de Ladd – mesmo em suas digressões pelo som instrumental de timbres orgânicos e<br />

construções largamente eletrônicas debitárias do free jazz – pode ser cru ou cozido, mas é sempre saboroso.<br />

Sua música move-se a partir do enfrentamento entre disparidades e descompassos – de alguma maneira, conceitos caros tanto à ficção<br />

científica como aos estudos de Teoria Crítica. Sua afiliação à linhagem do afro-futurismo via a agenda política do Black Arts Movement – uma<br />

transposição dos ideais Black Power liderada pelo poeta, dramaturgo e ativista Amiri Baraka durante os anos 1960 e 70 –, apresentada em uma<br />

trilogia (inacabada) de álbuns que descrevem uma guerra entre os personagens Infesticons e Majesticons – o bem e o mal musical,<br />

respectivamente –, pode parecer contraditória: um amálgama de materialismo e fantasia, tipicamente pós-moderno. É a contradição da capa<br />

de ... After Future, sua melhor obra até agora: uma distopia expressa com postes emaranhados em estranhas ligações elétricas, estatais e<br />

privadas. É uma utopia de caos impensável no Primeiro Mundo e cena cotidiana no Terceiro. “Estou considerando passar um tempo aqui, seria<br />

ótimo para compor”, disse Ladd, impressionado pela quantidade de material que produziu durante sua passagem por São Paulo. Além de<br />

ambiente de trabalho ideal, a capital paulista sintetiza suas previsões para o futuro do bom som, como ele declara na entrevista a seguir.<br />

O seu background é da cena punk hardcore. Por qual motivo você<br />

escolheu o rap como meio de expressão?<br />

O interessante é que eu estava sempre fazendo os dois ao mesmo<br />

tempo. Eu e meu amigo Troy começamos a rimar assim que o hip-hop<br />

chegou a Boston, uns dois anos depois de chegar a Nova York, mais ou<br />

menos em 1981. Eu fazia freestyle, porque nunca conseguia lembrar as<br />

letras dos caras. Quando a gente tinha 12 anos, o Troy inventou uma<br />

parada que era mais ou menos assim (cantarola): “When I was a little<br />

boy I read the comics/ Then I gave my money to Reaganomics/ Now<br />

that I’m poor I live in a shack/ Please Mr. Reagan won’t you give my<br />

money back?” Era muito legal (risos). Eu também era baterista de uma<br />

banda punk. Eu cresci em um lugar muito peculiar, chamado<br />

Cambridge, em Boston. Era um lugar com muitas universidades e<br />

estações de rádio muito boas, muita gente andava de skate, [havia]<br />

uma cena grande de ska, uma cena grande de reggae porque a<br />

[gravadora] Trojan tinha uma sede lá, uma cena enorme de punk rock<br />

e uma cena de rap. E em Cambridge as coisas funcionavam de forma<br />

particular, era diferente de Boston. Então foi meio lógico ter todas<br />

essas influências juntas.<br />

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