Galeria Luisa Strina Falha . Madeira ajuntada e Dobradiças Foto Wagner Morales . Galeria Luisa Strina Mau Gênio . Andaimes e compensados de madeira Foto Edouard Fraipont . Galeria Luisa Strina Cruzamento . Compensado de Madeira
Gordon Matta-Clark, Richard Long, Michael Heizer, Robert Smithson e Walter de Maria não esculpiam objetos e nem realizavam projetos de arquitetura. Atuavam sobre os lugares. Esses projetos ambientais foram chamados de projetos para sítio específico (site-specific) ou, de acordo com a definição da crítica de arte Rosalind Krauss, a escultura no campo ampliado. Ao contrário de todos esses artistas, Renata não atua em lugares com a significação plena. Diferente desses pioneiros do site-specific, seu trabalho não é uma atuação que muda o sentido do lugar: ela parece falar de uma arquitetura sem sentido. Inclusive, de uma cidade que se movimenta quase sozinha, sem contar muito com a vontade de quem mora nela e nem se preocupar muito com o conforto e a alegria desses cidadãos. Muitas vezes ela trabalha em lugares que já foram uma coisa que se tornou outra e depois adquiriram uma terceira função. No Brasil, especialmente na cidade de São Paulo, vemos casas se transformarem em restaurantes por quilo, cinemas que se transformam em igrejas evangélicas, bairros e favelas que se transformam em avenidas e prédios de escritórios. Na instalação Atlas (2006), desenvolvida por Renata na Galeria Millan, em São Paulo, a oficina mecânica que ficava de frente para a galeria se espraia até ela, bem como a casa que se avizinhava à galeria toma conta da sua lateral. Muitas vezes, suas obras inventam situações em que as coisas da cidade parecem ter ganhado vida própria e se puseram a agir de forma autônoma, a fazer coisas sem explicação. Mexe-se de um lado e levanta- Foto Edouard Fraipont . Galeria Luisa Strina Febre . Carro, cesto de lixo modificado, rádios de carro se outro lá na frente, como na escultura Falha (2003), em que Renata cobriu o chão com madeira ajuntada por meio de dobradiças. Uma se mexia e deslocava as outras, como se o chão estivesse a se deslocar. Em 2003, a artista fez a intervenção Cruzamento, no Rio de Janeiro. Nesse trabalho, usava tábuas de compensado que davam um desnível à avenida e pareciam ter subido alguns milímetros do chão. Assim como em Febre (2004), instalado em uma rua de São Paulo, onde uma lixeira de rua engolia um automóvel – e cuspia o toca-fitas. A imaginação de Renata também fez com que víssemos, através de câmeras de vigilância, os andares superiores do edifício onde fica a Fundação Tomie Ohtake serem tomados por animais selvagens. Como se aqueles escritórios vazios tivessem se tornado o habitat natural de uma fauna silvestre. Nos trabalhos Atlas (2006) e Gentileza (2005) – onde Renata tenta fazer com que a galeria A Gentil Carioca se fundisse com os espaços da rua do Saara, onde ela se situa –, a artista mostra lugares que começam inclusive a se derreter, mudar as fronteiras e se fundir uns nos outros. Os espaços deixam de ser determinados por nós, passam a seguir orientações sobre as quais ninguém mais tem controle, ninguém mais determina, em uma espécie de racionalidade absurda. Nos trabalhos de Renata essa situação absurda tem algo de fantástico. Como uma força incontrolável, parece ser a mesma força incontrolável que cria, além da vontade de qualquer um, boa parte das agruras da nossa vida. Saiba Mais www.galerialuisastrina.com.br www.agentilcarioca.com.br 85