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SOUTH CENTRAL TOUR Conte um pouco sobre o projeto South Central. Quantos meses você passou viajando e quantos países você visitou? Por que você decidiu viajar pela América Central e pela América do Sul? A turnê South Central foi uma história mais pessoal para mim, uma busca pelo crescimento como ser humano e artista. Essa foi a primeira turnê em que não tive vontade de pintar nem de pendurar minhas setas. Para mim o mais importante dessa viagem foi conhecer novos lugares e experimentar novos estilos [de pintura]. Foram quase 24 meses para organizar meus contatos e definir quais lugares eu queria visitar e onde queria pintar. E foi também a turnê mais longa que já fiz até hoje: seis meses viajando! Tive a oportunidade de visitar e pintar em treze cidades de onze países diferentes. Escolhi explorar as Américas Central e do Sul porque esses lugares trazem muitas possibilidades, é uma área ainda não muito explorada e com poucas leis e restrições contra o graffiti. Os Estados Unidos e a Europa já têm diversas leis estabelecidas contra o graffiti, além de [haver] muita rivalidade entre os artistas de rua. Por outro lado, nesses lugares é muito fácil ter acesso às melhores tintas e aos melhores materiais. Já nas Américas Central e do Sul é muito mais difícil conseguir material como latas de spray, rolos e tinta, e por isso achei que seria uma viagem atrativa e desafiadora. Eu fiquei sabendo que você passou por situações delicadas nessa turnê, como ser esfaqueado no Equador e ser roubado na Argentina. Conte algumas histórias dessa tour. Infelizmente, esses problemas realmente aconteceram. Meu amigo El Tono, artista de Madrid, também estava em Buenos Aires quando eu estava lá. Nós saímos juntos para pintar em uma área meio perigosa, estávamos pintando ilegalmente, sem permissão, à luz do dia, e já estávamos lá há umas duas horas. Dois garotos, de 18 ou 19 anos, se aproximaram e disseram que estavam armados e que iam roubar a gente. Nós não acreditamos e continuamos pintando, mas os dois sacaram as armas e apontaram para as nossas cabeças e mandaram a gente entregar nosso dinheiro, câmeras e qualquer outro objeto de valor ou eles nos matariam. Percebi que ambos estavam bem tensos e com medo, mas eles estavam armados e poderiam nos matar. Foi uma situação desagradável, porque infelizmente naquele dia nós dois estávamos com nossas câmeras, e geralmente não levo minha câmera quando saio para pintar, então eles levaram as duas câmeras e mais uns cem dólares. Na outra situação, eu estava em Quito, no Equador, quando três viciados em cocaína vieram correndo pela rua, e um deles enfiou uma faca no meu braço! Enquanto a faca estava enfiada no meu braço, os outros dois caras enfiavam as mãos no meu bolso procurando por dinheiro. Ainda bem que esses caras só levaram doze dólares! Na real, essas situações são parte do que eu faço, de pintar ilegalmente e andar por lugares perigosos sozinho à noite. Tenho muita sorte de nada pior ter acontecido, e vejo essas situações como parte de um aprendizado. Por que nessa turnê você decidiu se concentrar em pintar grandes murais, especialmente murais tipográficos? Essas pinturas maiores foram uma transição progressiva do projeto anterior, da brincadeira com as palavras e as setas. Trabalhei nesse projeto anterior por uns quatro anos e queria evoluir, ter mais palavras e poder me expressar melhor em meus trabalhos. Decidi então priorizar as pinturas porque muita gente me conhece pelas minhas instalações de setas móveis e eu queria mostrar que também sei pintar. Gosto de me sentir um artista completo, e pintar esses grandes murais foi um passo importante para mim. Como foi o itinerário dessa viagem? Você planejou tudo antes ou foi para um país e deixou a coisa fluir? Como você viaja de um país para outro? Avião, ônibus, trem? Comecei a organizar essa turnê em 2006, enquanto fazia a Sign Language Tour. Comecei a fazer uma lista de amigos que eu tinha na América Central e do Sul e sondar se eu poderia ficar na casa deles, perguntar quais cidades era legal para pintar. Finalmente, em outubro de 2007, iniciei essa turnê pelo Rio de Janeiro. Quando cheguei ao Rio, eu tinha uma lista de vinte cidades e dezoito países que queria visitar e nos quais pretendia pintar. No decorrer da viagem, você vai gostando mais de alguns lugares e acaba ficando mais do que o planejado, tira outra cidade do roteiro original etc. Mas, no final, fiquei bem satisfeito com a quantidade de lugares visitados e a quantidade de lugares onde tive a oportunidade de pintar. Ao contrário da Europa, [nas Américas Central e do Sul] eu viajei muito de ônibus e de avião, nunca de trem. Entre os países que você visitou nessa turnê, de quais você gostou mais? Por quê? Essa pergunta é difícil, porque gostei de conhecer muitos países, por diferentes motivos. Eu diria que meus três países preferidos foram o Brasil, a Argentina e o México. Curti muito os três, porque são muito diferentes [entre si], além de carregarem muita cultura e serem lugares onde tenho grandes amigos. São Paulo é uma cidade incrível, com aquele tamanho todo e uma quantidade absurda de pichação e graffiti em todas as ruas. Buenos Aires tem todo um clima europeu e é cheia de energia. A Cidade do México tem muito graffiti tradicional e a comida é incrível. Todos esses motivos, somados ao fato de eu ter grandes amigos em todas essas cidades, tornaram essa experiência toda inesquecível. E sobre o Brasil? Você esteve em São Paulo e Rio, certo? Do que você mais gostou por aqui? E o que você odiou? Você chegou a fazer contato com artistas da cena de arte urbana local? Eu gostei muito do clima de praia no Rio e também da ótima comida. Em Sampa eu amei aquele monte de pichações, os graffitis e a vida noturna. A única coisa que odiei em Sampa foi o trânsito. Às vezes eu levava de duas a quatro horas atravessando a cidade para ir pintar um lugar. Isso foi bem desgastante e nem um pouco legal. Eu conheci muitos artistas em Sampa – amigos como o 2501, Highgraff, Prozak, Ciro, Não e Boleta, para citar apenas alguns. 67