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Revoltas dos Quebra-Quilos. Levantes contra a imposição do ...

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Como já foi exposto aqui, não pretendemos sugerir que a população se negaria a<br />

qualquer mudança, ou que a maioria das resistências populares possuiria um conteú<strong>do</strong><br />

conserva<strong>do</strong>r, sempre reivindican<strong>do</strong> a volta <strong><strong>do</strong>s</strong> antigos costumes. Apenas acreditamos que<br />

uma mudança desse porte deveria acontecer aos poucos, respeitan<strong>do</strong> os limites da população,<br />

sen<strong>do</strong> também necessária à conscientização sobre a sua importância e como ela ocorreria,<br />

para não gerar a desconfiança, a insatisfação e a resistência <strong>contra</strong> a mudança abrupta, como<br />

ocorreu na Revolta <strong>do</strong> <strong>Quebra</strong>-<strong>Quilos</strong>.<br />

A modernização que foi imposta era fruto da visão <strong><strong>do</strong>s</strong> próprios governantes, ou seja,<br />

da elite imperial, que importava e imitava os padrões europeus. A Revolta <strong>do</strong> <strong>Quebra</strong>-quilos<br />

aconteceu, acima de tu<strong>do</strong>, em nome <strong><strong>do</strong>s</strong> valores e <strong><strong>do</strong>s</strong> costumes, a partir <strong>do</strong> momento que os<br />

homens livres pobres perceberam a interferência direta <strong>do</strong> governo em seu cotidiano. Os<br />

revoltosos reagiam “<strong>contra</strong> um governo que feria seus valores, suas tradições, seus costumes<br />

seculares, corporifica<strong><strong>do</strong>s</strong> na Igreja, que lhes dava a medida <strong>do</strong> espírito, e no sistema de pesos,<br />

que lhes dava a medida das coisas.” (CARVALHO, 1998:113)<br />

Sem dúvida, é muito mais difícil para a população aban<strong>do</strong>nar o antigo sistema, uma<br />

vez que este fazia parte sua cultura, ou seja, das “normas de comportamento (...),<br />

historicamente produzidas por sucessivas gerações, assimila<strong><strong>do</strong>s</strong> e seleciona<strong><strong>do</strong>s</strong> pela<br />

comunidade humana que o transmite de geração em geração.” (CARDOSO, 2003: 44)<br />

Mesmo com toda dificuldade e com as divergências de quantidades <strong>do</strong> antigo sistema<br />

de pesos e medidas, dentro <strong>do</strong> próprio Brasil, as pessoas já estavam habituadas a ir aos<br />

merca<strong><strong>do</strong>s</strong> e feiras e comprar medidas de aguardente <strong>do</strong> reino, arrobas de toucinho ou açúcar e<br />

alqueires de batatinhas, e tinha a noção <strong>do</strong> quanto desses produtos iriam levar para casa. Com<br />

a mudança, a população fica perdida, pois agora os novos metros, quilos e litros equivaliam à<br />

quantidades diferentes, com nomes diferentes, e sem saber fazer a conversão para comprová-<br />

la, ficavam naturalmente desconfiadas. Pois, o uso que se fazia desse sistema pelos homens<br />

livres e pobres, é que legitimava sua existência.<br />

Nossa inquietação não se limita em saber se o sistema de pesos era ou não justo e<br />

legaliza<strong>do</strong>, mas sim analisar a relação que essas pessoas tinham com ele. Pois, como o sistema<br />

estava há muito instituí<strong>do</strong> e enraiza<strong>do</strong> no cotidiano das pessoas, podemos pensar que os

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