21.04.2013 Views

deixis, tempo e narração - Repositório Aberto da Universidade do ...

deixis, tempo e narração - Repositório Aberto da Universidade do ...

deixis, tempo e narração - Repositório Aberto da Universidade do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

o simples uso <strong>da</strong> primeira pessoa era, até há bem pouco <strong>tempo</strong>,<br />

absolutamente interdito em escritos de ín<strong>do</strong>le científica, em<br />

que o "eu",acossa<strong>do</strong>, tinha que esconder-se por trás <strong>da</strong> impes­<br />

soali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> "se" ou <strong>da</strong> ambígua modéstia <strong>do</strong> "nós".<br />

A repressão <strong>do</strong> "eu" foi uma manifestação, entre<br />

outras, <strong>da</strong> procura de uma aparência de auster i<strong>da</strong>de considera­<br />

<strong>da</strong> condição indispensável <strong>da</strong> serie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> trabalho cien­<br />

tífico. Ora um outro poeta, Baudelaire, ensinou-nos que a<br />

austeri<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sábio é <strong>da</strong> mesma natureza que o fervor <strong>do</strong><br />

amante - e sol<strong>do</strong>u-os de forma indissociável ao embuti-los na<br />

estrutura rítmica de um belo alexandrino: "Les amoureux<br />

fervents et les savants austères /.../". A afectivi<strong>da</strong>de (não<br />

num senti<strong>do</strong> piegas, mas no senti<strong>do</strong> viril de força interior) é<br />

condição sine qua non <strong>da</strong> pesquisa científica. Usar a primeira<br />

pessoa corresponde a assumir essa afectivi<strong>da</strong>de juntamente com<br />

a responsabili<strong>da</strong>de acerca <strong>do</strong> que se afirma; mas corresponde<br />

sobretu<strong>do</strong>, e muito mais essencialmente, a assumir o conhe­<br />

cimento científico como algo vivo e vivi<strong>do</strong> (e, por isso,<br />

re lat ivo e precár io), como uma forma de conhecimento que,<br />

procuran<strong>do</strong> ser adequa<strong>do</strong> e para o poder ser maximamente tem<br />

que comportar uma "margem irredutível de desajustamento"(F.<br />

Gil, 1984, p.503). Neste senti<strong>do</strong>, subscrevo Lúcia Lepecki<br />

quan<strong>do</strong> afirma: "A primeira pessoa dá tono científico ao texto<br />

no aparente para<strong>do</strong>xo de o relativizar e subjectivizar."(L.<br />

Lepecki, 1986, p.14) e assumo, ao dizer "eu" desde o início <strong>do</strong><br />

7

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!