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Controlando o aquecimento global. - Fundação Visconde de Cairu

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CONTROLANDO O<br />

AQUECIMENTO GLOBAL<br />

COMO REDUZIR EM 30% AS EMISSÕES DE<br />

GASES ESTUFA ATÉ 2030<br />

SAMUEL VIDAL


Índice<br />

Capítulo 1: O <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

Capítulo 2: A origem das emissões <strong>de</strong> gases estufa<br />

Capítulo 3: As dificulda<strong>de</strong>s para substituir a matriz<br />

energética fóssil<br />

Capítulo 4: As previsões internacionais acerca das<br />

emissões mundiais <strong>de</strong> CO2 e do aumento da temperatura<br />

da Terra nos próximos anos<br />

Capítulo 5: Como reduzir em 30% as emissões mundiais<br />

<strong>de</strong> gases estufa até 2030<br />

Capítulo 6: A viabilida<strong>de</strong> política da proposta da<br />

Mckinsey<br />

Capítulo 7: O setor <strong>de</strong> carbono terrestre: silvicultura e<br />

agricultura<br />

Capítulo 8: A redução <strong>de</strong> emissões na Amazônia<br />

Capítulo 9: O sequestro geológico <strong>de</strong> CO2<br />

Capítulo 10: Fontes energéticas limpas<br />

Capítulo 11: Eficiência Energética


Capítulo 12: Conclusão


Capítulo 1: O <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

O planeta Terra corre sério risco <strong>de</strong> sofrer nas próximas décadas<br />

um aumento <strong>de</strong> temperatura que provocará mudanças climáticas<br />

expressivas e que ameaçará a existência humana. O fenômeno é<br />

conhecido como <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. O livro busca <strong>de</strong>finir o que é esse<br />

fenômeno e apontar soluções com viabilida<strong>de</strong> temporal e econômica<br />

para o problema. O título “<strong>Controlando</strong> o Aquecimento Global” se<br />

refere à tentativa <strong>de</strong> se limitar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> em 2°C, valor<br />

consi<strong>de</strong>rado seguro pelos cientistas para que as mudanças climáticas<br />

sejam brandas. Uma redução <strong>de</strong> 30% das emissões <strong>de</strong> gases estufa até<br />

2030, e a continuação <strong>de</strong>sse ritmo <strong>de</strong> redução nas décadas seguintes,<br />

permitirá que os níveis <strong>de</strong> gases estufa se estabilizem num patamar que<br />

possa garantir o controle do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> <strong>de</strong>ntro dos 2°C <strong>de</strong><br />

aumento. Essa curva <strong>de</strong> redução foi <strong>de</strong>fendida pelos cientistas do quarto<br />

Painel Internacional <strong>de</strong> Mudanças Climáticas <strong>de</strong> 2007, o IPCC 1.<br />

Inicialmente precisamos enten<strong>de</strong>r o aumento do efeito estufa, o<br />

causador do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. O efeito estufa é um fenômeno natural<br />

do planeta Terra, que consiste na retenção pela atmosfera <strong>de</strong> uma parte<br />

do calor gerado pela radiação solar. Essa retenção <strong>de</strong> calor é feita pelos<br />

gases do efeito estufa (GEE). Entre eles se <strong>de</strong>stacam o vapor d'água<br />

(H2O), o dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2) e o metano (CH4). O termo estufa se<br />

refere à retenção <strong>de</strong> calor do sol similar a retenção provocada pelo vidro<br />

numa estufa <strong>de</strong> plantas. O efeito estufa é responsável pelo <strong>aquecimento</strong><br />

natural do planeta. Esse fenômeno climático é provavelmente o mais<br />

importante para a manutenção da vida na Terra. Sem ele a temperatura<br />

média do globo seria <strong>de</strong> -18°C, contra os 15°C atuais. O gran<strong>de</strong><br />

problema que estamos enfrentando é o aumento artificial <strong>de</strong>sse<br />

fenômeno <strong>de</strong>vido à influência do homem. O crescimento econômico nos<br />

últimos dois séculos da nossa socieda<strong>de</strong> foi incentivado pela Revolução<br />

Industrial com a queima intensiva <strong>de</strong> combustíveis fósseis e com o uso<br />

do solo em larga escala (agropecuária e <strong>de</strong>smatamento). O elemento<br />

químico carbono presente no petróleo, gás natural e carvão, na queima<br />

1 O IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) foi estabelecido em<br />

1988 pela organização Metereológica Mundial e o Programa das Nações<br />

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para fornecer informações científicas,<br />

técnicas e sócio-econômicas relevantes para o entendimento das mudanças<br />

climáticas.


<strong>de</strong>sses combustíveis, passou a ser lançado na atmosfera na forma <strong>de</strong><br />

dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2), um dos gases que provocam o efeito estufa.<br />

As concentrações <strong>de</strong> CO2 passaram <strong>de</strong> 280ppm (partes por milhão) para<br />

377ppm ao longo do século XX. Esse aumento <strong>de</strong> concentração já<br />

causou uma elevação média <strong>de</strong> 0,8°C na temperatura da Terra e já está<br />

provocando mudanças climáticas sérias. O aumento da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

CO2 também aumenta o efeito estufa provocado pelo vapor d’água. Se<br />

você esquenta um pouco que seja o ar, ao adicionar a ele uma<br />

quantida<strong>de</strong> extra <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono, esse ar então reterá muito mais<br />

vapor d'água. Esta quantida<strong>de</strong> extra <strong>de</strong> vapor d'água age como um gás<br />

do efeito estufa e aquece o ar ainda mais, quase dobrando o efeito que<br />

esses gases produziriam se agissem sozinhos 2 . Se as emissões <strong>de</strong> gases<br />

do efeito estufa se mantiverem nos níveis atuais, calcula-se que haverá<br />

um aumento mínimo <strong>de</strong> 5°C na temperatura média da Terra, variação<br />

similar à ocorrida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a última era glacial até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

O aumento da temperatura do globo po<strong>de</strong> provocar alterações<br />

climáticas drásticas que ameaçarão a nossa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, o nosso<br />

padrão sócio-econômico e até mesmo a nossa existência. As principais<br />

conseqüências serão:<br />

1- Aumento do nível dos oceanos. Com o aumento da temperatura no<br />

mundo, está em curso o <strong>de</strong>rretimento das calotas polares. Ao aumentar o<br />

nível da águas dos oceanos, po<strong>de</strong> ocorrer, futuramente, a submersão <strong>de</strong><br />

muitas cida<strong>de</strong>s litorâneas. A subida do mar <strong>de</strong>verá inclusive inundar<br />

países inteiros. Tuvalu, com apenas 9 mil habitantes, é atualmente um<br />

dos menores dos cinco países localizados em atóis, e que em breve<br />

<strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> existir. Os outros são: Kiribati, irmã <strong>de</strong> Tuvalu no mesmo<br />

grupo <strong>de</strong> atóis, com uma população <strong>de</strong> 78 mil habitantes; as ilhas<br />

Marshal, com 58 mil; a pequena Tokelau (2 mil habitantes, um território<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da Nova Zelândia); e as Maldivas, o maior e mais<br />

<strong>de</strong>nsamente povoado <strong>de</strong> todos os grupos insulares com 268 mil<br />

habitantes. Somado à população <strong>de</strong>slocada das áreas litorâneas <strong>de</strong> outras<br />

ilhas, que não constituem atóis, isso já totaliza cerca <strong>de</strong> meio milhão <strong>de</strong><br />

pessoas que repentinamente divorciadas da sua cultura e <strong>de</strong> suas<br />

origens, terão <strong>de</strong> procurar novos lares 3 ;<br />

2 Gabrielle Walker e Sir David King. Como combater o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e<br />

manter as luzes acesas. Página 24, 2008.<br />

3 Mark Lynas. Seis graus: o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e o que você po<strong>de</strong> fazer para<br />

evitar uma catástrofe. Página 60, 2008.


2- Crescimento e surgimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sertos. O aumento da temperatura<br />

provoca a morte <strong>de</strong> várias espécies animais e vegetais, <strong>de</strong>sequilibrando<br />

vários ecossistemas. As florestas <strong>de</strong> países tropicais como Brasil, Congo<br />

e Indonésia, po<strong>de</strong>m se "savanizar" e savanas po<strong>de</strong>m se tornar áreas<br />

<strong>de</strong>sérticas. Isso afetará a produção <strong>de</strong> alimentos prejudicando<br />

principalmente as populações mais pobres que não po<strong>de</strong>rão pagar por<br />

alimentos mais caros e escassos. Os conflitos por água e alimentos<br />

aumentarão;<br />

3- O <strong>de</strong>sequilíbrio nos ecossistemas trará novas pragas e doenças para o<br />

convívio humano. Um exemplo é a malaria. Ela é transmitida por<br />

mosquitos, que em temperatura quentes toleráveis amadurecem mais<br />

rápido e se multiplicam. A umida<strong>de</strong> também ajuda a espalhar a doença.<br />

As mudanças climáticas levarão a malária para o norte e para as regiões<br />

montanhosas se outros fatores ecológicos não impedirem 4 . Situações<br />

como essa po<strong>de</strong>m se multiplicar;<br />

4- Aumento <strong>de</strong> furacões, tufões e ciclones. O aumento da temperatura<br />

faz com que ocorra maior evaporação das águas dos oceanos,<br />

potencializando estes tipos <strong>de</strong> catástrofes climáticas. Os furacões tipo 4<br />

e 5(os furacões <strong>de</strong> maior intensida<strong>de</strong>) só se formam quando a água do<br />

mar atinge <strong>de</strong>terminada temperatura elevada;<br />

5- Ondas <strong>de</strong> calor. As regiões <strong>de</strong> temperaturas amenas têm sofrido com<br />

as ondas <strong>de</strong> calor. No verão europeu, tradicionalmente, muitas famílias<br />

saem para viajar <strong>de</strong> férias e <strong>de</strong>ixam os parentes idosos sozinhos em casa.<br />

Muitos idosos acabaram morrendo <strong>de</strong>vido aos picos <strong>de</strong> temperatura<br />

nunca vistos em algumas cida<strong>de</strong>s européias, como ocorreu em 2003. O<br />

forte calor na Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Reino Unido<br />

em 2003 provocou 35 mil mortes 5. Esse fenômeno ten<strong>de</strong> a se intensificar<br />

cada vez mais;<br />

6- Degelo do permafrost, os solos permanentemente congelados da<br />

Região Ártica. Estima-se que cerca <strong>de</strong> 500 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />

4 Kirstin Dow e Thomas E. Downing. O Altas da Mudança Climática – O<br />

Mapeamento Completo do Maior Desafio do Planeta. Página 61, 2006.<br />

5 Kirstin Dow e Thomas E. Downing. O Altas da Mudança Climática – O<br />

Mapeamento Completo do Maior Desafio do Planeta. Página 21, 2006.


carbono estejam encerradas nesses solos 6. Esse processo expõe ao ar<br />

várias camadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos animais e outros tipos <strong>de</strong> matéria orgânica<br />

<strong>de</strong>ixados pelas criaturas que habitavam a tundra no passado. Isso<br />

propicia a <strong>de</strong>composição por bactérias <strong>de</strong>ssa matéria orgânica, que<br />

acabam "arrotando" dióxido <strong>de</strong> carbono e metano para atmosfera, dois<br />

gases causadores do efeito estufa. O efeito estufa inicial causado pelas<br />

emissões dos combustíveis fósseis e do <strong>de</strong>smatamento gerará, portanto<br />

uma reação em ca<strong>de</strong>ia. Então po<strong>de</strong>remos assistir a formação <strong>de</strong> uma<br />

bomba <strong>de</strong> calor que aquecerá o planeta <strong>de</strong> uma forma incontrolável no<br />

longo prazo.<br />

Todas essas previsões têm feito a comunida<strong>de</strong> internacional se<br />

movimentar. Nos anos 70 e 80 as primeiras reuniões e conferências<br />

governamentais sobre mudanças climáticas ocorreram. Mas o tema só se<br />

tornou central na agenda dos países na década <strong>de</strong> 90. Em 1990, o<br />

primeiro informe com base na colaboração científica <strong>de</strong> nível<br />

internacional foi o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança<br />

Climática, em inglês), on<strong>de</strong> os cientistas advertiram que para estabilizar<br />

os crescentes níveis <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2) – o principal gásestufa<br />

– na atmosfera, seria necessário reduzir as emissões <strong>de</strong> 1990 em<br />

60%. Dois anos <strong>de</strong>pois, mais <strong>de</strong> 160 governos assinam a Convenção<br />

Marco sobre Mudança Climática na ECO-92, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. O objetivo era evitar interferências antropogênicas perigosas no<br />

sistema climático. Isso <strong>de</strong>veria ser feito rapidamente para po<strong>de</strong>r proteger<br />

as fontes alimentares, os ecossistemas e o <strong>de</strong>senvolvimento social.<br />

Também foi incluída uma meta para que os países industrializados<br />

mantivessem suas emissões <strong>de</strong> gases estufa, em 2000, nos níveis <strong>de</strong><br />

1990. Em 1997 é assinado no Japão o Protocolo <strong>de</strong> Kyoto, um novo<br />

componente da Convenção ocorrida na ECO-92. O acordo internacional<br />

foi assinado por representantes <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 160 países. O objetivo do<br />

Protocolo é reduzir a concentração dos gases causadores do efeito estufa<br />

(GEE) na atmosfera. Por isso, os países industrializados se<br />

comprometeram a reduzir as emissões <strong>de</strong> GEE a media combinada <strong>de</strong><br />

5,2% em relação aos níveis <strong>de</strong> 1990, durante o período a partir do ano<br />

<strong>de</strong> 2008 até 2012. Para os países em <strong>de</strong>senvolvimento, como o Brasil, o<br />

protocolo não previu compromissos <strong>de</strong> reduções <strong>de</strong> GEE.<br />

6 Mark Lynas. Seis graus: o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e o que você po<strong>de</strong> fazer para<br />

evitar uma catástrofe. Página 182, 2008.


Dentro do Protocolo surgiu um dispositivo chamado <strong>de</strong><br />

mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento limpo, ou simplesmente MDL, que<br />

permite aos países <strong>de</strong>senvolvidos compensarem suas emissões <strong>de</strong> gases<br />

causadores do efeito estufa por meio <strong>de</strong> projetos que diminuam as<br />

emissões <strong>de</strong> países em <strong>de</strong>senvolvimento. Essencialmente, para ser<br />

aprovado, o projeto precisa efetuar mudanças reais, mensuráveis e <strong>de</strong><br />

longo prazo para a mitigação da mudança do clima. O exigente processo<br />

<strong>de</strong> aprovação inclui dois critérios fundamentais: adicionalida<strong>de</strong> e<br />

sustentabilida<strong>de</strong>. O primeiro requer que o proponente comprove que seu<br />

projeto é realmente importante para <strong>de</strong>sacelerar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>,<br />

<strong>de</strong>monstrando como era a situação sem o MDL e como passa a ser com<br />

ele. Para ser elegível, é preciso ainda que haja contribuição efetiva para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável local, promovendo benefícios sócioeconômicos.<br />

O poluidor compra créditos <strong>de</strong> carbono das empresas que<br />

fazem o projeto <strong>de</strong> MDL. Exemplos <strong>de</strong> MDL são projetos <strong>de</strong><br />

reflorestamento, <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> biogás em aterros sanitários e <strong>de</strong> energia<br />

eólica. Uma empresa poluidora da Alemanha que teria um custo muito<br />

elevado para diminuir a sua poluição no seu próprio país compra<br />

créditos <strong>de</strong> carbono <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> reflorestamento no Brasil, capaz<br />

<strong>de</strong> absolver CO2 da atmosfera por um custo muito menor.<br />

O Protocolo <strong>de</strong> Kyoto tem sua importância histórica, apesar das<br />

críticas. Os governos do mundo ratificaram uma legislação que criava<br />

metas <strong>de</strong> redução para os gases do efeito estufa. No entanto, o maior<br />

poluidor do planeta, os Estados Unidos, não ratificou o Protocolo. Esse<br />

veto limitou bastante a abrangência, juntamente com a não inclusão <strong>de</strong><br />

metas para os países emergentes como Brasil, China e Índia. Os países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento crescem economicamente num ritmo mais<br />

acelerado do que os países ricos e nos próximos 20 anos se tornarão o<br />

gran<strong>de</strong> grupo poluidor do planeta. No cumprimento das metas, os países<br />

do Leste Europeu estão atingindo as metas com folga, já que em 1990<br />

eles ainda eram países socialistas com uma indústria muito poluente, e<br />

durante a transição para o capitalismo nos anos 90 tiveram quedas<br />

severas nas suas economias. A maioria dos <strong>de</strong>mais países está tendo<br />

dificulda<strong>de</strong>s para cumprir as metas. Entre esses países que apresentam<br />

dificulda<strong>de</strong>s, alguns como a Alemanha e o Reino Unido estão próximos<br />

da meta <strong>de</strong>vido a soluções interessantes. A Alemanha investiu pesado<br />

em energia eólica, e o Reino Unido vem aumentando a participação das<br />

usinas a gás natural menos poluentes. Alguns grupos ambientalistas<br />

criticam os projetos <strong>de</strong> MDL, afirmando que se trata <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> os


icos pagarem para poluir. Discordo <strong>de</strong>ssa idéia, pois se há um resultado<br />

concreto (diminuição <strong>de</strong> emissão ou absolvição <strong>de</strong> carbono), ele <strong>de</strong>ve<br />

ser incentivado. É claro que os projetos <strong>de</strong> MDL são paliativos, não são<br />

a solução final, mas são uma parcela da solução.<br />

A maioria absoluta da comunida<strong>de</strong> científica concorda que o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> é causado pelo homem. No total, o relatório IPCC<br />

afirma que mais <strong>de</strong> 29 mil dados <strong>de</strong> observação espalhados em 75<br />

estudos mostram mudanças significativas em sistemas físicos e<br />

biológicos em todo o mundo. E 90% <strong>de</strong>sses dados são exatamente o que<br />

se esperaria <strong>de</strong> um cenário <strong>de</strong> <strong>aquecimento</strong>. E mais: as regiões em que<br />

as alterações estão acontecendo coinci<strong>de</strong>m com as regiões em que um<br />

maior <strong>aquecimento</strong> foi registrado 7. Com isso, a discussão central hoje é<br />

a viabilida<strong>de</strong> econômica ou não da diminuição <strong>de</strong> emissões dos gases do<br />

efeito estufa (GEE). O ex-presi<strong>de</strong>nte americano Bush não ratificou o<br />

Protocolo <strong>de</strong> Kyoto afirmando que ele diminuiria a lucrativida<strong>de</strong> das<br />

empresas americanas. Alguns países em <strong>de</strong>senvolvimento não aceitam<br />

metas <strong>de</strong> redução dos GEE, por afirmarem que o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

vem sendo intensificado pelas emissões lançadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Revolução<br />

Industrial no século XVIII pelos países que atualmente são ricos. Então<br />

argumentam que se os países ricos poluíram para se <strong>de</strong>senvolver, os<br />

países emergentes também tem esse direito, <strong>de</strong>vendo haver metas <strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> poluição apenas para os países ricos. De fato, estima-se que<br />

cerca <strong>de</strong> 1/3 do CO2 emitido ao longo dos últimos 200 anos ainda está<br />

concentrado na atmosfera, sendo responsável por boa parte do efeito<br />

estufa atual. No entanto, a responsabilida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> todos nós, pois com o<br />

aumento da participação na poluição <strong>global</strong> por parte dos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, qualquer acordo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> metas <strong>de</strong> poluição sem<br />

a presença <strong>de</strong>sses países, não conterá o <strong>aquecimento</strong> planetário. A<br />

maioria dos governantes do mundo discursa a favor do meio-ambiente e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m verbalmente metas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões no longo prazo.<br />

No entanto, são árduos inimigos do planeta na prática, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo um<br />

suposto pragmatismo econômico e não aceitando metas <strong>de</strong> redução no<br />

curto prazo. Contra essa posição estão a comunida<strong>de</strong> científica, os<br />

ambientalistas e uma classe emergente <strong>de</strong> novos políticos, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />

uma transição rápida da nossa matriz energética viciada em carbono<br />

para uma matriz limpa e renovável. A pergunta principal é: Quanto<br />

7 Gabrielle Walker e Sir David King. Como combater o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e<br />

manter as luzes acesas. Página 50, 2008


dinheiro temos que gastar para estabilizar a temperatura do planeta ou<br />

mantê-la num patamar aceitável (até 2°C <strong>de</strong> aumento)? A resposta é<br />

controversa, pois cada especialista <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma forma diferente <strong>de</strong><br />

conter o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Mas todos convergem para a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investirmos entre 1 e 2% do PIB Mundial para evitar uma<br />

hecatombe climática e econômica no longo prazo. Parte do valor<br />

investido trará retorno econômico na forma <strong>de</strong> economia no consumo <strong>de</strong><br />

energia. Esse investimento é viável tecnicamente, mas evi<strong>de</strong>ntemente<br />

gerará uma pequena diminuição na taxa <strong>de</strong> crescimento econômico<br />

mundial no curto prazo, que os <strong>de</strong>fensores do aumento <strong>de</strong> riqueza a<br />

qualquer custo não querem abrir mão.


Capítulo 2: A origem das emissões <strong>de</strong> gases estufa<br />

O Quarto Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima<br />

(IPCC), <strong>de</strong> 2007, congregou os maiores especialistas do tema<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Segundo o painel, precisamos diminuir entre 50% e<br />

85% as nossas emissões <strong>de</strong> gases do efeito estufa até 2050, em relação<br />

às emissões <strong>de</strong> 2000. Dessa forma po<strong>de</strong>remos limitar o aumento <strong>de</strong><br />

temperatura do planeta em 2°C, limite consi<strong>de</strong>rado seguro pelos<br />

cientistas para que as conseqüências ambientais sejam brandas. Uma<br />

redução <strong>de</strong> 30% das emissões <strong>de</strong> gases estufa até 2030, e a continuação<br />

<strong>de</strong>sse ritmo <strong>de</strong> redução até 2050, é necessária para se atingir o objetivo.<br />

O primeiro passo é quantificar as emissões planetárias. Para isso<br />

usaremos os dados do IPCC <strong>de</strong> 2007. No ano <strong>de</strong> 2004 o mundo emitiu<br />

49 bilhões <strong>de</strong> toneladas equivalentes <strong>de</strong> CO2. O leitor po<strong>de</strong> perguntar: o<br />

que isso significa? Isso significa que o <strong>aquecimento</strong> provocado pela<br />

soma <strong>de</strong> todos os tipos <strong>de</strong> gases estufa emitidos no ano <strong>de</strong> 2004 equivale<br />

ao <strong>aquecimento</strong> provocado por 49 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2, levandose<br />

em conta o tempo que os diferentes gases permanecem na atmosfera.<br />

No gráfico seguinte temos a distribuição das emissões <strong>de</strong> GEE<br />

mundiais 8 :<br />

8 Fonte do gráfico: IPCC 2007, grupo <strong>de</strong> trabalho 3, capítulo I. O gráfico po<strong>de</strong><br />

ser encontrado no site em inglês: http://www.ipcc.ch/pdf/assessmentreport/ar4/wg3/ar4-wg3-chapter1.pdf


O gás metano (CH4) é o segundo gás estufa com maior<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emissões em toneladas equivalentes <strong>de</strong> CO2,<br />

representando 14,3% das emissões totais. Elas estão concentradas no<br />

setor <strong>de</strong> agricultura e no setor <strong>de</strong> resíduos. No setor agrícola as<br />

principais fontes emissoras são o arroto dos animais (ex. vacas, porcos)<br />

e o cultivo <strong>de</strong> arroz. No setor <strong>de</strong> resíduos os gran<strong>de</strong>s lançadores são os<br />

lixões das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Uma tonelada <strong>de</strong> metano emitida equivale a<br />

21 toneladas <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono, quanto ao nível <strong>de</strong> <strong>aquecimento</strong> da<br />

atmosfera. Muitos projetos <strong>de</strong> MDL <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões do gás<br />

metano queimam o gás e geram energia elétrica através do calor obtido<br />

da reação. A reação também gera dióxido <strong>de</strong> carbono, diminuindo o<br />

nível <strong>de</strong> poluição, já que como foi citado acima o <strong>aquecimento</strong> da<br />

atmosfera provocado pelo dióxido <strong>de</strong> carbono é menor do que o<br />

<strong>aquecimento</strong> provocado pelo metano. O óxido nitroso (N2O) é o terceiro<br />

gás estufa com maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emissões em toneladas equivalentes<br />

<strong>de</strong> CO2, representando 7,9% das emissões totais. Elas estão<br />

concentradas em sua maioria no setor agrícola, sendo lançadas<br />

principalmente pelos solos agrícolas, após o uso indiscriminado <strong>de</strong><br />

fertilizantes nitrogenados.<br />

Os gases-F representam apenas 1,1% das emissões totais em<br />

toneladas equivalentes <strong>de</strong> CO2. Elas estão concentradas principalmente<br />

no setor industrial. Em geral 1 tonelada <strong>de</strong>sses gases apresenta um<br />

potencial <strong>de</strong> <strong>aquecimento</strong> centenas <strong>de</strong> vezes ou até milhares <strong>de</strong> vezes<br />

maior do que 1 tonelada <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono. Como exemplo po<strong>de</strong>-se<br />

citar o SF6 (Hexafluoreto <strong>de</strong> enxofre), que tem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>aquecimento</strong> do planeta 22200 vezes maior que o CO2 e é usado como<br />

isolante térmico, condutor <strong>de</strong> calor e agente refrigerante. No mercado <strong>de</strong><br />

crédito <strong>de</strong> carbono, um MDL que evita o lançamento do SF6, po<strong>de</strong><br />

ven<strong>de</strong>r para uma empresa poluidora 1 tonelada <strong>de</strong> SF6 evitada por<br />

220000 9 dólares. Isso torna a transição para uma indústria limpa nesses<br />

setores altamente lucrativa. Não por acaso, 25% dos projetos redutores<br />

<strong>de</strong> emissões no período 2004-2005 foram <strong>de</strong> eliminação <strong>de</strong> HFCs 10 .<br />

9 Se evitarmos o lançamento <strong>de</strong> 1 tonelada <strong>de</strong> SF6, estaremos anulando 22200<br />

toneladas <strong>de</strong> CO2 emitidas ( 22200 x 10 dólares). Os 10 dólares se referem ao<br />

preço médio <strong>de</strong> 1 tonelada <strong>de</strong> CO2 evitada no mercado <strong>de</strong> créditos <strong>de</strong> carbono.<br />

10 Kirstin Dow e Thomas E. Downing. O Altas da Mudança Climática – O<br />

Mapeamento Completo do Maior Desafio do Planeta. Página 75, 2006.


As emissões mundiais <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2) são<br />

compostas basicamente da queima <strong>de</strong> combustíveis fósseis e do<br />

<strong>de</strong>smatamento. Temos 4 "torneiras" <strong>de</strong> carbono que precisam ser<br />

fechadas: gás natural, petróleo, carvão e <strong>de</strong>smatamento. As emissões <strong>de</strong><br />

CO2 foram responsáveis por 76,7% do <strong>aquecimento</strong> provocado pelos<br />

gases estufa lançados artificialmente em 2004. Isso evi<strong>de</strong>ncia que o<br />

nível <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> CO2 em quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toneladas emitidas em<br />

relação aos outros gases estufa é muito superior, já que mesmo sendo<br />

menos poluente por tonelada emitida, o CO2 é o gás estufa que mais<br />

influencia no <strong>aquecimento</strong> planetário. O <strong>de</strong>smatamento, concentrado nas<br />

florestas tropicais remanescentes, é incentivado pela expansão da<br />

agricultura e da pecuária em busca <strong>de</strong> novas terras baratas e pela<br />

exploração predatória <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Os combustíveis fósseis lançadores<br />

<strong>de</strong> CO2 respon<strong>de</strong>m por 56,6% das emissões totais <strong>de</strong> gases estufa e por<br />

81% da matriz energética mundial, sustentando a produção econômica<br />

mundial. Essa <strong>de</strong>pendência energética é incentivada pelos custos<br />

elevados das outras fontes <strong>de</strong> energia. O gráfico 11 abaixo nos mostra a<br />

participação <strong>de</strong> cada fonte primária na matriz energética mundial:<br />

Apesar da li<strong>de</strong>rança do petróleo, em relação aos outros dois<br />

combustíveis fósseis, não po<strong>de</strong>mos esquecer que o carvão mineral é<br />

mais poluente que o petróleo por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia, sendo as emissões<br />

11 Os dados estão na edição 2007 do “World Energy Outlook” da Agência<br />

Internacional <strong>de</strong> Energia. O relatório está no site em inglês:<br />

http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2007/weo_2007.pdf


totais dos 2 combustíveis muito próximas. O gás natural é o que<br />

apresenta menor quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emissões por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia e<br />

menor participação na matriz energética entre os três fósseis. Também é<br />

importante especificar quais tipos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s econômicas mais<br />

contribuem para o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. O gráfico abaixo nos mostra a<br />

participação dos principais setores da economia mundial nas emissões<br />

globais <strong>de</strong> gases <strong>de</strong> efeito estufa em 2004 12 :<br />

Esse gráfico não se refere apenas as emissões <strong>de</strong> CO2. As<br />

emissões da agricultura são compostas basicamente dos gases metano<br />

(CH4) e óxido nitroso (N2O). Na indústria uma parcela pequena das<br />

emissões é <strong>de</strong> óxido nitroso, gases-F e metano. As emissões dos setores<br />

<strong>de</strong> edifícios, <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> energia elétrica, <strong>de</strong> produção industrial e <strong>de</strong><br />

transportes são compostas na maioria <strong>de</strong> CO2 produzido pelos<br />

combustíveis fósseis. As emissões dos edifícios são li<strong>de</strong>radas pelo<br />

petróleo. Exemplos do uso do petróleo nesse setor são o cozimento <strong>de</strong><br />

alimentos e o <strong>aquecimento</strong> <strong>de</strong> água com o gás liqüefeito <strong>de</strong> petróleo<br />

(GLP). Os 7,9% <strong>de</strong> participação das emissões dos edifícios não<br />

computam as emissões provenientes do consumo <strong>de</strong> energia elétrica dos<br />

edifícios. Se adicionarmos as emissões provenientes do consumo <strong>de</strong><br />

energia elétrica nos edifícios (que estão incluídas na categoria<br />

“produção <strong>de</strong> energia“), as emissões dos edifícios chegam<br />

aproximadamente a 18% do total. O gás natural e o carvão mineral<br />

12 Fonte do gráfico: IPCC 2007, grupo <strong>de</strong> trabalho 3, capítulo I. O gráfico<br />

po<strong>de</strong> ser encontrado no site em inglês:<br />

http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/wg3/ar4-wg3-chapter1.pdf


li<strong>de</strong>ram as emissões <strong>de</strong> CO2 e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia produzida na<br />

geração <strong>de</strong> energia elétrica e <strong>de</strong> energia primária na indústria, os setores<br />

com as maiores emissões. Abaixo temos um gráfico com a participação<br />

<strong>de</strong> cada fonte na geração <strong>de</strong> energia elétrica mundial 13 :<br />

Origem da energia elétrica consumida pela economia mundial em 2005.<br />

(Agência Internacional <strong>de</strong> Energia, WEO-2007)<br />

A geração <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> através das fontes hidráulica e nuclear<br />

não libera gases estufa em quantida<strong>de</strong> significativa. Os lí<strong>de</strong>res carvão e<br />

gás são muito baratos e o carvão especificamente é abundante. O<br />

petróleo em contrapartida é caro e apresenta uma participação pequena<br />

<strong>de</strong> 6,6% do total e <strong>de</strong> 9,9% se contarmos apenas a geração com<br />

combustíveis fósseis. Sempre que se fala em fim do petróleo, se associa<br />

a sua substituição às fontes <strong>de</strong> energias renováveis como energia eólica<br />

e solar, mas essas fontes limpas estacionárias <strong>de</strong>verão substituir na<br />

maioria dos casos o carvão mineral e o gás natural. Quanto ao custo do<br />

petróleo, uma termelétrica a diesel por exemplo, gera energia muito<br />

mais cara do que uma similar a gás ou carvão. Então porque sendo tão<br />

caro, o petróleo é tão importante e valioso para o setor energético?<br />

Porque ele é o combustível portátil que sustenta o setor <strong>de</strong> transportes<br />

no mundo. Todos os processos econômicos atuais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> uma<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportes terrestres, marítimos e aéreos. O abastecimento do<br />

setor <strong>de</strong> transportes pelo carvão mineral, que é sólido, não é viável<br />

13 Os dados estão na edição 2007 do “World Energy Outlook” da Agência<br />

Internacional <strong>de</strong> Energia. O relatório está no site em inglês:<br />

http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2007/weo_2007.pdf


econômicamente na maioria dos casos, apesar <strong>de</strong> o carvão po<strong>de</strong>r<br />

tecnicamente ser transformado em combustível líquido. O combustível<br />

sintético do carvão aten<strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da <strong>de</strong>manda por gasolina e diesel da<br />

África do Sul, e com os altos preços do petróleo mundial, os<br />

combustíveis sintéticos <strong>de</strong> carvão estão se tornando competitivos em<br />

outras partes do mundo. A liquefação do carvão produz muito mais CO2<br />

do que o refinamento convencional do petróleo 14 . O gás natural<br />

necessita <strong>de</strong> uma gigantesca re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento para ser implantado,<br />

sendo mais viável para geração <strong>de</strong> energia próximo a reserva num lugar<br />

fixo. Temos abaixo um gráfico com a parcela <strong>de</strong> cada matriz no setor <strong>de</strong><br />

transportes 15 :<br />

Origem da energia consumida pelo setor <strong>de</strong> transportes da economia<br />

mundial em 2005. (AIE, WEO-2007)<br />

A li<strong>de</strong>rança do petróleo é avassaladora. O alto valor do petróleo<br />

acaba tornando o mercado <strong>de</strong> energia do petróleo superior<br />

economicamente ao mercado <strong>de</strong> energia do gás natural e do carvão<br />

mineral. Uma alternativa ao uso do petróleo no setor <strong>de</strong> transportes,<br />

seria usar um carro elétrico abastecido na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia elétrica com<br />

energia proveniente <strong>de</strong> uma termelétrica a carvão ou mesmo <strong>de</strong> uma<br />

usina hidrelétrica que é limpa. Um carro elétrico gasta em dinheiro até 3<br />

vezes menos para rodar do que um carro a gasolina, apresentando uma<br />

eficiência <strong>de</strong> 65% na conversão <strong>de</strong> energia contra 20% do carro a<br />

gasolina, que <strong>de</strong>sperdiça a maior parte da energia gerando calor. O<br />

problema é que as baterias tem uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> energética muito inferior<br />

14 Mark Lynas. Seis graus: o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e o que você po<strong>de</strong> fazer para<br />

evitar uma catástrofe. Página 251, 2008.<br />

15 Os dados estão na edição 2007 do “World Energy Outlook” da Agência<br />

Internacional <strong>de</strong> Energia. O relatório está no site em inglês:<br />

http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2007/weo_2007.pdf


a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um tanque <strong>de</strong> gasolina, o que diminui drasticamente a<br />

autonomia do carro elétrico, além do abastecimento que <strong>de</strong>mora<br />

algumas horas.<br />

O petróleo e o gás natural tem reservas comprovadas para<br />

aproximadamente mais 50 anos <strong>de</strong> consumo atual, enquanto o carvão<br />

mineral tem reservas para sustentar o consumo mundial atual por mais<br />

<strong>de</strong> 200 anos. O carvão mineral po<strong>de</strong> sustentar a matriz energética<br />

mundial no futuro, abastecendo os carros elétricos(com as limitações já<br />

citadas) através da energia proveniente das termelétricas, ou através do<br />

caro carvão líquido. No entanto ele é o combustível fóssil mais<br />

poluente, emitindo até 150% mais CO2 que o gás natural e 50% mais<br />

CO2 que o diesel, com a mesma energia gerada. O uso intensivo do<br />

carvão mineral acelerará mais ainda o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Temos<br />

portanto, duas crises no setor <strong>de</strong> energia. Uma crise ambiental, pois<br />

todos os setores <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da geração <strong>de</strong> energia fóssil, que aumenta o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, e uma crise econômica restrita ao setor <strong>de</strong><br />

transportes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do petróleo e que enfrenta a sua escassez.


Capítulo 3: As dificulda<strong>de</strong>s para substituir a matriz<br />

energética fóssil<br />

Vimos no capítulo passado que os combustíveis fósseis<br />

representam a expressiva participação <strong>de</strong> 56,6% nas emissões mundiais<br />

<strong>de</strong> gases estufa. Temos <strong>de</strong> lado um combustível caro e portátil, que<br />

representa a maior fatia do mercado <strong>de</strong> energia no mundo entre os<br />

fósseis, como o petróleo, e do outro lado o carvão mineral e o gás<br />

natural mais baratos e predominantemente não portáteis. Uma menor<br />

participação <strong>de</strong>ssa matriz energética fóssil é essencial para alcançarmos<br />

a meta <strong>de</strong> 30% <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> gases estufa até 2030. No entanto,<br />

existem muitas problemas que dificultam esse processo. O principal<br />

chama-se tempo. As termelétricas fósseis, por exemplo, possuem uma<br />

vida útil <strong>de</strong> até 40 anos, sendo portanto a substituição por novas usinas<br />

lenta. Além disso, as empresas do setor planejam investimentos com<br />

anos <strong>de</strong> antecedência, principalmente em pesquisa. No caso do<br />

transporte rodoviário, que representa a maioria das emissões do setor <strong>de</strong><br />

transportes, ocorre um cenário parecido. Os carros e caminhões novos<br />

têm uma vida útil <strong>de</strong> 20 anos. Temos uma infra-estrutura <strong>de</strong><br />

fornecimento (ex. postos <strong>de</strong> gasolina) <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo (diesel,<br />

querosene, gasolina) com vida útil longa. No parque industrial, o<br />

problema também se repete quanto ao tempo <strong>de</strong> vida útil. Um país que<br />

<strong>de</strong>cretasse o fechamento <strong>de</strong> todas termelétricas nos próximos 20 anos<br />

teria que arcar com os custos <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> novas usinas <strong>de</strong> geração<br />

<strong>de</strong> energia limpa, mais caras do que as usinas fósseis, e com os custos <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nização das empresas proprietárias das usinas e <strong>de</strong> seus respectivos<br />

acionistas. Uma proibição <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> novas usinas termelétricas<br />

também po<strong>de</strong> esbarrar nos lobbys políticos das empresas donas das<br />

gran<strong>de</strong>s jazidas <strong>de</strong> carvão, gás e petróleo, que não aceitam per<strong>de</strong>r<br />

bilhões <strong>de</strong> dólares em patrimônio na forma <strong>de</strong> reservas sem uma justa<br />

in<strong>de</strong>nização. Uma ponto dramático que piora a situação é o crescimento<br />

econômico acelerado acima <strong>de</strong> 7% ao ano da India e da China, com<br />

populações somadas <strong>de</strong> quase 2,5 bilhões <strong>de</strong> habitantes e que tem o<br />

carvão barato, o combustível mais poluente do mundo, como a principal<br />

fonte energética. Uma solução plausível seria os governos agirem nos<br />

mercados com incentivos para as empresas renováveis ou com a<br />

taxação <strong>de</strong> impostos sobre as termelétricas poluidoras, a fim <strong>de</strong> diminuir<br />

gradativamente no <strong>de</strong>correr dos próximos anos a participação das


termelétricas nas novas plantas <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica. No<br />

entanto não po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong> um <strong>de</strong>talhe: a elasticida<strong>de</strong> dos preços<br />

dos combustíveis fósseis, tanto no mercado <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia<br />

elétrica, quanto no mercado <strong>de</strong> transportes. Se as energias renováveis se<br />

tornarem mais baratas do que os combustíveis sujos através dos<br />

incentivos dos governos ou <strong>de</strong> avanços tecnológicos restará ainda aos<br />

fornecedores <strong>de</strong> combustíveis baixarem os preços para se manterem<br />

dominantes do mercado. Não se <strong>de</strong>ve subestimar a capacida<strong>de</strong> da<br />

indústria fóssil <strong>de</strong> reduzir os preços numa concorrência direta com as<br />

energias renováveis. Com a queda drástica do preço do petróleo na crise<br />

financeira <strong>de</strong> 2008, por exemplo, se reduziu o interesse do consumidor<br />

americano por carros híbridos. Essa redução não foi intencional, mas<br />

po<strong>de</strong> se tornar no futuro para manter a soberania do petróleo, por<br />

exemplo. O custo <strong>de</strong> exploração da maioria das jazidas <strong>de</strong> petróleo no<br />

mundo é muito inferior as valores <strong>de</strong> mercado do líquido. O valor <strong>de</strong><br />

mercado elevado só se justifica pela escassez <strong>de</strong> jazidas e pelo<br />

monopólio das jazidas em poucas mãos. Os preços são controlados pela<br />

OPEP, a Organização dos Países Exportadores <strong>de</strong> Petróleo. Uma<br />

fornecedora <strong>de</strong> petróleo por exemplo que lucra com um barril a 80<br />

dólares nos dias atuais, po<strong>de</strong> continuar lucrando com um barril a 40<br />

dólares e sofrendo expressivas taxações <strong>de</strong> impostos. Empresas extraem<br />

petróleo com sucesso econômico no longícuo Alasca americano com<br />

pesadas taxações <strong>de</strong> impostos.<br />

Apenas as leis do mercado não resolverão o problema. A solução<br />

passa inicialmente pelo incentivo governamental ao aumento da<br />

eficiência energética na indústria e na produção <strong>de</strong> energia elétrica,<br />

possibilitando uma diminuição na <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> combustíveis fósseis e<br />

consequentemente uma redução no aumento <strong>de</strong> emissões. Na produção<br />

<strong>de</strong> energia o incentivo às fontes limpas através <strong>de</strong> subsídios <strong>de</strong>ve ser<br />

acompanhada <strong>de</strong> uma forte regulação que possa impedir que os cartéis<br />

dos combustíveis fósseis imponham temporariamente preços<br />

artificialmente baixos para manter o domínio do mercado. Também se<br />

faz importante o incentivo a um mix <strong>de</strong> fontes limpas (eólica, solar,<br />

biomassa, nuclear, hidrelétrica), para que cada uma contribua no limite<br />

do seu potencial. Uma alternativa seria os governos criarem cotas<br />

estabelecendo que uma parcela consi<strong>de</strong>rável das novas plantas <strong>de</strong><br />

energia sejam obrigatoriamente <strong>de</strong> fontes energéticas limpas.


No setor <strong>de</strong> transportes é importante inicialmente a expansão <strong>de</strong><br />

tecnologias que já são viáveis economicamente hoje como o carro<br />

híbrido e o carro a álcool. O álcool é limpo e renovável porque o CO2<br />

emitido na combustão do carro é anulado pelo CO2 foi absolvido no<br />

crescimento da plantação <strong>de</strong> cana ou milho. Ele po<strong>de</strong> ser usado<br />

individualmente ou misturado numa proporção <strong>de</strong> até 24% 16 na<br />

gasolina. A melhor alternativa são os carros flex que po<strong>de</strong>m rodar com<br />

álcool e gasolina com um aumento mínimo dos custos <strong>de</strong> produção.<br />

Esses carros rodam com um combustível renovável e limpo e protegem<br />

o consumidor <strong>de</strong> um possível <strong>de</strong>sabastecimento do álcool, com a opção<br />

da gasolina. Os carros flex são sucesso no Brasil, constituindo a maioria<br />

absoluta da frota <strong>de</strong> carros novos. O álcool po<strong>de</strong> substituir<br />

a<strong>de</strong>quadamente até 20% da <strong>de</strong>manda mundial <strong>de</strong> gasolina. As limitações<br />

se referem a falta <strong>de</strong> terras para plantar cana-<strong>de</strong>-açúcar ou milho e<br />

abastecer a população mundial <strong>de</strong> alimentos simultaneamente. Além<br />

disso, o álcool não substitui o diesel usado nos caminhões, ônibus, trens<br />

e navios que tem motores com uma vida útil muito superior. O<br />

biodiesel, o substituto biológico do diesel, ainda tem um custo muito<br />

elevado. O carro híbrido tem um motor a gasolina e outro elétrico. O<br />

motor elétrico aproveita parte da energia <strong>de</strong>sperdiçada pelo motor a<br />

gasolina que é armazenada numa bateria (ex: energia dos freios).<br />

Quando o carro está parado num sinal ele funciona exclusivamente<br />

como o motor elétrico e quando se movimenta os dois motores po<strong>de</strong>m<br />

funcionar simultaneamente. Um carro híbrido tem uma diminuição <strong>de</strong><br />

consumo <strong>de</strong> gasolina entre 25% e 50%. Por outro lado ele é mais caro<br />

<strong>de</strong> se produzir que um carro exclusivamente a gasolina. Se estima que<br />

em até 8 anos esse custo extra se paga. Além da expansão das<br />

tecnologias viáveis, um caminho vigoroso <strong>de</strong> substituição gradual do<br />

petróleo no setor <strong>de</strong> transportes precisa incentivar melhorias <strong>de</strong><br />

eficiência energética e incentivar tecnologias que hoje ainda não são<br />

viáveis como os biocombustíveis <strong>de</strong> 2ª geração.<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> substituição da matriz fóssil,<br />

um ângulo interessante a ser avaliado é a posição dos países produtores<br />

<strong>de</strong> petróleo. O seleto grupo <strong>de</strong> países produtores <strong>de</strong> petróleo não quer<br />

abrir mão da prosperida<strong>de</strong> em nome do meio-ambiente. No caso do<br />

Brasil, um novo integrante do grupo, a socieda<strong>de</strong> comemorou as<br />

16 Proporção <strong>de</strong> álcool presente na gasolina brasileira.


<strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo na camada do pré-sal 17 , que tornaram o país<br />

dono <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 80 bilhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> reservas estimadas. A<br />

<strong>de</strong>scoberta acelerará o crescimento econômico do Brasil nas próximas<br />

décadas através da exportação do petróleo. A Petrobrás, a estatal <strong>de</strong><br />

petroleo do Brasil, projeta investimentos em gigantescas refinarias <strong>de</strong><br />

petroleo em estados pobres como Ceará, Pernambuco e Maranhão. Os<br />

governadores e as populações <strong>de</strong>sses estados vêem o refino do petróleo<br />

do pré-sal como a chegada <strong>de</strong>finitiva da prosperida<strong>de</strong> econômica. Se<br />

comemora o crescimento econômico mas se esquece dos bilhões <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> CO2 que os bilhões <strong>de</strong> barris <strong>de</strong> petróleo po<strong>de</strong>rão lançar<br />

nos próximos 40 anos. A paixão brasileira pelo petróleo também ocorre<br />

em outros países produtores. Por outro lado a questão das emissões<br />

passadas <strong>de</strong> gases estufa volta à tona. Os Estados Unidos cresceram<br />

economicamente com a ajuda do petróleo. A Noruega é atualmente o<br />

país mais rico da Europa <strong>de</strong>vido principalmente a exportação <strong>de</strong><br />

petróleo. Então por que a pobre Angola na África <strong>de</strong>veria parar <strong>de</strong><br />

exportar petróleo ou o Brasil não <strong>de</strong>veria explorar o pré-sal para<br />

melhorar os indicadores sociais <strong>de</strong> suas regiões pobres? A melhor<br />

opção é que os países produtores tenham liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e<br />

exportação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cada um assuma metas internas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões <strong>de</strong> gases estufa. O controle do volume <strong>de</strong> exportações e<br />

conseqüentemente <strong>de</strong> consumo dos países importadores ficaria a cargo<br />

dos países consumidores. Felizmente os países que representam a maior<br />

fatia da economia mundial (Estados Unidos, China, Japão, gran<strong>de</strong> parte<br />

da Europa Oci<strong>de</strong>ntal) são importadores <strong>de</strong> petróleo e por isso tem<br />

gran<strong>de</strong> interesse na redução do consumo. Um acordo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões <strong>de</strong> gases estufa ratificado por todos os países geraria uma<br />

redução no consumo do petróleo e uma redução natural e gradual no<br />

volume das exportações dos países produtores <strong>de</strong> petróleo sem severas<br />

imposições.<br />

As variáveis do problema da substituição da matriz fóssil citadas<br />

nesse capítulo apontam para a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma transição possível<br />

para uma matriz limpa, mas que precisa ser custeada por incentivos<br />

estatais e que precisa ser gradual para evitar custos econômicos<br />

excessivos. Os incentivos governamentais precisam <strong>de</strong> apoio político<br />

17 Camada que fica a até 7000 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> na plataforma<br />

marítima brasileira abaixo da camada <strong>de</strong> sal, on<strong>de</strong> foram encontradas<br />

recentemente vultuosas reservas <strong>de</strong> pétroleo e gás natural.


para sair do papel. No entanto, em geral os governos não estão dispostos<br />

a colaborar, trocando uma parte do crescimento econômico no curto<br />

prazo por sustentabilida<strong>de</strong> ambiental no longo prazo. Um presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

um país, com uma reeleição complicada, acredita que a troca<br />

investimentos na construção <strong>de</strong> estradas e geração <strong>de</strong> empregos por<br />

investimentos que evitem emissões <strong>de</strong> CO2, lhe tirará votos. Mudanças<br />

tecnológicas em direção a tecnologias mais limpas na maioria dos casos<br />

só são implementadas quando os custos são mínimos. Um exemplo<br />

disso é a tecnologia dos catalisadores em automóveis. Quando um carro<br />

realiza combustão ele lança basicamente CO2 e uma pequena fração <strong>de</strong><br />

monóxido <strong>de</strong> carbono (CO), enxofre e outros poluentes, frutos da<br />

combustão incompleta da gasolina. Essa pequena fração <strong>de</strong> gases são<br />

altamente venenosos e provocam todos anos milhares <strong>de</strong> mortes por<br />

doenças respiratórias no mundo. O catalisador evita a emissão <strong>de</strong>sses<br />

poluentes, tornando os carros até 40 vezes menos poluentes que nos<br />

anos 70. No entanto essa poluição se refere apenas aos gases que fazem<br />

mal diretamente a saú<strong>de</strong> do homem. O CO2, que é a maioria absoluta<br />

das emissões, não faz mal a saú<strong>de</strong> quando é lançado na atmosfera mas é<br />

responsável pelo <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Ele só representa um perigo a<br />

saú<strong>de</strong> em níveis altíssimos, geralmente só encontrados em ambientes<br />

fechados. Então é sempre importante discernir os gases venenosos<br />

(monóxido <strong>de</strong> carbono, enxofre e outros) causadores das doenças<br />

respiratórias, do CO2 que não faz mal à saú<strong>de</strong> mas interfere no clima.<br />

Os gases venenosos estão diminuindo gradativamente nas gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s por conta da frota com catalisadores, mas o CO2 está crescendo<br />

<strong>de</strong>vido ao aumento do número <strong>de</strong> veículos, sendo a emissão<br />

proporcional ao consumo <strong>de</strong> gasolina.<br />

Por último uma alternativa que po<strong>de</strong>ria inesperadamente mudar a<br />

rota provável <strong>de</strong> transição energética lenta seria um choque tecnológico<br />

que reduzisse drasticamente os custos da energia, que os tornasse mais<br />

baratos do que os custos <strong>de</strong> produção dos combustíveis fósseis. Quanto<br />

a esse choque, a fonte revolucionária mais promissora é a fusão nuclear,<br />

a energia das estrelas. A energia gerada pelo Sol, por exemplo, provém<br />

da fusão nuclear. A fusão nuclear é diferente da fissão nuclear, usada<br />

nas usinas atômicas convencionais. Tanto a fusão quanto a fissão<br />

baseiam-se em reações nucleares, não em reações químicas como a<br />

combustão. Uma reação química envolve apenas a eletrosfera dos<br />

átomos: os núcleos atômicos permanecem intocados. Já em uma reação<br />

nuclear, como a própria expressão indica, os núcleos atômicos


interagem e são transformados, em processos físicos que envolvem<br />

muito mais energia do que nas reações químicas. A diferença entre as<br />

duas formas básicas <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> energia nuclear é que, na fissão,<br />

núcleos pesados (como o dos átomos <strong>de</strong> urânio) são divididos em<br />

núcleos menores, enquanto na fusão núcleos leves (como o dos átomos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>utério) são soldados e formam um único núcleo mais pesado. A<br />

fusão nuclear tem vantagens importantes sobre a fissão, pois emite baixa<br />

poluição radioativa e possui baixo risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes. O problema é que<br />

um gerador <strong>de</strong> energia com fusão nuclear ainda não foi viabilizado<br />

tecnicamente e os especialistas acreditam que dificilmente isso será<br />

possível nas próximas décadas. A fusão nuclear ocorre apenas a<br />

temperaturas muito altas, nas quais a matéria se encontra em um estado<br />

conhecido como plasma (que não é líquido, sólido, nem gasoso). O<br />

controle da reação <strong>de</strong> fusão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do confinamento <strong>de</strong>sse plasma no<br />

interior <strong>de</strong> um reator, que possa transformar a energia gerada em alguma<br />

forma aproveitável economicamente. Este confinamento do plasma tem<br />

sido a principal dificulda<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento dos reatores <strong>de</strong> fusão.


Capítulo 4: As previsões internacionais acerca das<br />

emissões mundiais <strong>de</strong> CO2 e do aumento da temperatura<br />

da Terra nos próximos anos<br />

A Agência Internacional <strong>de</strong> Energia prevê em seus relatórios um<br />

aumento das emissões ligadas aos combustíveis fósseis até 2030. Eles<br />

são baseados no seu "World Energy Mo<strong>de</strong>l" (Mo<strong>de</strong>lo da Energia<br />

Mundial), um sofisticado mo<strong>de</strong>lo matemático <strong>de</strong> simulação do<br />

comportamento dos mercados mundiais <strong>de</strong> energia, com cerca <strong>de</strong> 16.000<br />

equações, que incorpora a extensiva base <strong>de</strong> dados da AIE sobre a<br />

produção, comércio e consumo mundiais <strong>de</strong> energia, além <strong>de</strong> estudos<br />

sobre o crescimento econômico mundial, investimentos no setor<br />

energético, novas tecnologias e políticas energéticas. A AIE projeta dois<br />

tipos <strong>de</strong> cenários: o cenário <strong>de</strong> referência e o cenário <strong>de</strong> políticas<br />

alternativas 18 . O primeiro é consi<strong>de</strong>rado o cenário mais provável. Nele a<br />

agência assume que haverá avanços tecnológicos tanto no consumo<br />

como na produção <strong>de</strong> energia e que estas mudanças serão incrementais,<br />

por conta das longas vidas úteis dos equipamentos <strong>de</strong> conversão<br />

envolvidos. Algumas tecnologias que hoje estão ainda em fase<br />

experimental <strong>de</strong>verão se difundir nas próximas três décadas. Assim<br />

como foi <strong>de</strong>fendido no capítulo anterior <strong>de</strong>ste livro, a AIE acredita que<br />

existe uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para substituir a matriz energética fóssil.<br />

A Agência adota como premissa em seu cenário <strong>de</strong> referência que a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia necessária para prover uma dada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

serviço <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong>verá continuar evoluindo no mesmo ritmo das<br />

últimas três décadas. No cenário <strong>de</strong> referência, entre 2004 e 2030,<br />

prevê-se um crescimento <strong>de</strong> 55% das emissões <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> carbono<br />

(CO2) relacionadas com a energia, isto é, uma taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong><br />

1,7% por ano. No cenário <strong>de</strong> políticas alternativas, a AIE simula o<br />

impacto <strong>de</strong> políticas que já estão sendo analisadas pelos governos,<br />

sobretudo dos países da OCDE, mas que ainda não tinham sido<br />

implementadas até 2004. As tendências no cenário <strong>de</strong> referência não são<br />

imutáveis. Os governos po<strong>de</strong>m tomar medidas mais vigorosas para<br />

alterar o curso do sistema energético, o <strong>de</strong>sviando para um caminho<br />

18 Os dois cenários estão na edição 2006 do “World Energy Outlook” da<br />

Agência Internacional <strong>de</strong> Energia. O relatório está no site em inglês:<br />

http://www.iea.org/textbase/nppdf/free/2006/weo2006.pdf


mais sustentável. No cenário <strong>de</strong> políticas alternativas, presume-se que os<br />

governos implementarão as políticas e medidas para melhorar a<br />

segurança energética e reduzir as emissões <strong>de</strong> CO2. Nele se prevê um<br />

crescimento <strong>de</strong> 29% nas emissões <strong>de</strong> CO2 em 2030, em relação a 2004.<br />

No Cenário <strong>de</strong> Políticas Alternativas os investimentos adicionais na<br />

geração <strong>de</strong> energia limpa e no aumento da eficiência energética são<br />

pagos com sobra pela economia <strong>de</strong> energia gerada. Usaremos como<br />

bússola o Cenário <strong>de</strong> Referência da AIE, on<strong>de</strong> as emissões aumentarão<br />

55% até 2030.<br />

Enquanto a AIE fez projeções do crescimento das emissões <strong>de</strong><br />

CO2 provenientes dos combustíveis fósseis se baseando em projeções<br />

econômicas, o IPCC fez projeções científicas sobre o impacto do<br />

crescimento das emissões <strong>de</strong> todos os gases estufa no clima. O 4°<br />

Relatório do IPCC <strong>de</strong> 2007 (o já citado Painel Intergovernamental <strong>de</strong><br />

Mudanças Climáticas) avaliou 177 cenários <strong>de</strong> estabilização das<br />

concentrações <strong>de</strong> gases do efeito estufa, e conseqüentemente da<br />

temperatura. Eles foram agrupados em 6 categorias, <strong>de</strong> acordo com os<br />

valores finais das concentrações <strong>de</strong> gases estufa e com os valores da<br />

temperatura após a estabilização. As 6 categorias 19 <strong>de</strong> estabilização são:<br />

19 Fonte da tabela: IPCC 2007, grupo <strong>de</strong> trabalho 3, capítulo III. A tabela<br />

po<strong>de</strong> ser encontrada no site em inglês:<br />

http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/wg3/ar4-wg3-chapter3.pdf


Categoria<br />

Aumento da<br />

temperatura<br />

<strong>global</strong> média<br />

acima dos<br />

níveis préindustriais<br />

(°C)<br />

Ano <strong>de</strong> pico<br />

das<br />

emissões <strong>de</strong><br />

CO2<br />

Mudança nas<br />

emissões<br />

globais <strong>de</strong><br />

gases estufa<br />

em 2050 em %<br />

das emissões<br />

<strong>de</strong> 2000<br />

Número<br />

<strong>de</strong><br />

cenários<br />

avaliados<br />

I 2,0 - 2,4 2000 - 2015 -85 a -50 6<br />

II 2,4 - 2,8 2000 - 2020 -60 a -30 18<br />

III 2,8 - 3,2 2010 - 2030 -30 a +5 21<br />

IV 3,2 - 4,0 2020 - 2060 +10 a +60 118<br />

V 4,0 - 4,9 2050 - 2080 +25 a +85 9<br />

VI 4,9 - 6,1 2060 - 2090 +90 a +140 5<br />

Segundo a comunida<strong>de</strong> científica, aumentos da temperatura<br />

acima <strong>de</strong> 2,4°C são reconhecidamente perigosos. A categoria I, que<br />

correspon<strong>de</strong> à faixa "pru<strong>de</strong>nte" <strong>de</strong> perturbação do sistema climático,<br />

exige que as emissões parem <strong>de</strong> crescer até 2015, e que em 2050 elas<br />

sejam entre 50% e 85% daquelas do ano 2000. Esqueceremos as outras<br />

categorias <strong>de</strong> estabilização e tomaremos como cenário <strong>de</strong> referência a<br />

categoria I. Nosso objetivo é reduzir em 30% as emissões anuais <strong>de</strong><br />

gases estufa em 2030, em relação aos níveis <strong>de</strong> 2005, começando a<br />

redução em 2010. Esse nível <strong>de</strong> redução até 2030 e a continuação <strong>de</strong>sse<br />

ritmo <strong>de</strong> redução até 2050 tem gran<strong>de</strong> potencial para atingir o objetivo<br />

final <strong>de</strong> estabilização climática pru<strong>de</strong>nte. Assim temos:


Categoria<br />

Aumento da<br />

temperatura<br />

<strong>global</strong> média<br />

acima dos<br />

níveis préindustriais<br />

(°C)<br />

Ano <strong>de</strong> pico<br />

das<br />

emissões <strong>de</strong><br />

CO2<br />

Mudança nas<br />

emissões<br />

globais <strong>de</strong><br />

gases estufa<br />

em 2050 em<br />

% das<br />

emissões <strong>de</strong><br />

2000<br />

Número <strong>de</strong><br />

cenários<br />

avaliados<br />

I 2,0 - 2,4 2000 - 2015 -85 a -50 6


Capítulo 5: Como reduzir em 30% as emissões mundiais<br />

<strong>de</strong> gases estufa até 2030<br />

Diante das dificulda<strong>de</strong>s apresentadas pelas previsões dos órgãos<br />

internacionais po<strong>de</strong>-se pensar que o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> dificilmente<br />

será controlado. No entanto existem várias alternativas para mudar o<br />

curso das emissões. A diminuição das emissões mundiais <strong>de</strong> gases<br />

estufa começará a ser explicada neste capítulo. A situação é:<br />

-Temos um cenário provável <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> CO2 no<br />

setor <strong>de</strong> energia da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 55% até 2030, em relação ao ano <strong>de</strong> 2004,<br />

segundo a AIE;<br />

- Mesmo no cenário <strong>de</strong> políticas alternativas, teremos um crescimento<br />

<strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> CO2 da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 29% até 2030, em relação ao ano <strong>de</strong><br />

2004, segundo a AIE;<br />

- Precisamos que as emissões parem <strong>de</strong> crescer até 2015, segundo o<br />

IPCC;<br />

- Em 2050 as emissões precisam ser entre 50% e 85% menores do que<br />

as emissões do ano 2000, segundo o IPCC;<br />

- Segundo as duas gran<strong>de</strong>s referências climáticas e energéticas do<br />

planeta (IPCC e AIE), estamos caminhando para não alcançar a<br />

estabilização do aumento <strong>de</strong> temperatura do planeta <strong>de</strong>ntro dos 2°C<br />

consi<strong>de</strong>rados seguros e brandos para o clima;<br />

-Esse cenário levará a humanida<strong>de</strong> a sofrer graves conseqüências<br />

ambientais e econômicas.<br />

A consultoria McKinsey e Company, referência mundial em<br />

consultoria empresarial, empreen<strong>de</strong>u um esforço <strong>global</strong> num estudo<br />

sobre as soluções técnicas existentes para controlar o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong> e o respectivo custo <strong>de</strong>ssas soluções. O estudo lançado no<br />

começo <strong>de</strong> 2009 se chama “Caminhos para uma economia <strong>de</strong> baixo<br />

carbono – versão 2” 20 . No estudo a consultoria estimou em 45,9 bihões<br />

<strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente emitidas pelo mundo em 2005. O valor<br />

é um pouco inferior aos 49 bilhões estimados pelo IPCC 2007 emitidos<br />

20 O estudo po<strong>de</strong> ser encontrado no site:<br />

http://www.mckinsey.com/clientservice/ccsi/pathways_low_carbon_econo<br />

my.asp


pelo mundo em 2004. A pequena diferença é justificada no estudo pelo<br />

uso <strong>de</strong> instituições distintas do IPCC como referência no cálculo das<br />

emissões. No entanto o importante é que os valores são bem próximos<br />

dos valores do IPCC 2007.<br />

A consultoria Mckinsey <strong>de</strong>senvolveu uma projeção <strong>de</strong> evolução<br />

<strong>de</strong> emissões entre 2005 e 2030 se baseando em previsões <strong>de</strong> instituições<br />

como a AIE. Nesse cenário, chamado <strong>de</strong> caso base, as emissões<br />

passarão <strong>de</strong> 46 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente emitidas em<br />

2005 para 70 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente em 2030, um<br />

crescimento <strong>de</strong> 52% nas emissões. Essa curva <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong><br />

emissões é consi<strong>de</strong>rada pelo estudo a mais provável projeção <strong>de</strong><br />

crescimento <strong>de</strong> emissões. Evi<strong>de</strong>ntemente, externalida<strong>de</strong>s não previstas<br />

pelo mo<strong>de</strong>lo da consultoria po<strong>de</strong>rão alterar a projeção <strong>de</strong> crescimento. O<br />

estudo abrangeu todas as emissões mundiais <strong>de</strong> gases estufa e não<br />

somente as emissões lançadas pelos combustíveis fósseis como foi feito<br />

pelos relatórios da AIE. O gráfico a seguir mostra a distribuição das<br />

emissões por setores econômicos em 2005 e a estimativa <strong>de</strong> emissões<br />

<strong>de</strong>sses setores segundo o caso base em 2030:


Além <strong>de</strong> projetar o caso base, a consultoria mapeou 200<br />

iniciativas, em 10 gran<strong>de</strong>s ativida<strong>de</strong>s econômicas, com potencial <strong>de</strong><br />

reduzir as emissões <strong>de</strong> 70 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente para<br />

32 bilhões <strong>de</strong> toneladas em 2030. Todas as iniciativas apresentam um<br />

custo inferior a 60 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente evitada. A<br />

diminuição <strong>de</strong> 38 bilhões <strong>de</strong> toneladas emitidas representa uma redução<br />

<strong>de</strong> 55% em relação ao caso base. Se compararmos com as emissões <strong>de</strong><br />

2005 teremos uma redução <strong>de</strong> 30%, passando <strong>de</strong> 46 bilhões para 32<br />

bilhões em 2030. Essa redução é tomada como referência no subtítulo<br />

do livro: “Como reduzir em 30% as emissões mundiais <strong>de</strong> gases estufa<br />

até 2030”. A proposta <strong>de</strong> redução ( linha marrom contínua) é explicitada<br />

no gráfico a seguir:


A Mckinsey também avaliou oportunida<strong>de</strong>s com custo entre 60 e<br />

100 euros, com potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 9 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />

CO2 equivalente. No entanto o foco do estudo foram as oportunida<strong>de</strong>s<br />

com custo inferior a 60 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente. No<br />

cenário on<strong>de</strong> essas iniciativas com custo inferior a 60 euros serão<br />

implementadas as emissões atingirão 32 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2<br />

equivalente em 2030. Nele o pico da concentração <strong>de</strong> gases estufa na<br />

atmosfera será <strong>de</strong> 510ppm e a estabilização dos gases estufa atingirá<br />

450ppm <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> CO2 equivalente. Nesse cenário a<br />

expectativa <strong>de</strong> aumento médio da temperatura do planeta segundo o<br />

IPCC é <strong>de</strong> 2°C. Esse valor é suficiente para evitar mudanças climáticas<br />

bruscas. No gráfico abaixo temos o potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 38<br />

bilhões <strong>de</strong> toneladas emitidas em 2030 em relação ao caso base dividido<br />

por setor econômico:<br />

Na proposta <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> emissões, as iniciativas <strong>de</strong>vem ser<br />

implementadas entre 2010 e 2030. Os investimentos incrementais<br />

necessários nas iniciativas crescerão gradualmente passando <strong>de</strong> 317<br />

bilhões <strong>de</strong> euros anuais no período 2011-2015 para 811 bilhões <strong>de</strong><br />

dólares anuais no período 2026-2030. Esses valores representariam um


acréscimo aos valores <strong>de</strong> investimentos normais estimados no caso base.<br />

O custo <strong>de</strong> investimento para construir uma usina solar, por exemplo, é<br />

mais elevado do que o custo <strong>de</strong> investimento para construir uma<br />

termelétrica a carvão. Esse investimento adicional, acima do valor <strong>de</strong><br />

construção da termelétrica é consi<strong>de</strong>rado como o investimento<br />

incremental na iniciativa citada. No entanto parte dos investimentos se<br />

pagará, pois iniciativas <strong>de</strong> incentivo à eficiência energética<br />

economizarão energia. O custo líquido médio das iniciativas durante o<br />

período 2011-2030 será aproximadamente 4 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2<br />

equivalente evitada. O custo líquido anual atingirá 150 bilhões <strong>de</strong> euros<br />

anuais em 2030. A consultoria também avaliou outros custos adicionais,<br />

como os custos transacionais e os custos dos programas <strong>de</strong><br />

implementação <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões. Os programas <strong>de</strong><br />

implementação po<strong>de</strong>m ser caros ou não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma escolhida<br />

pelos agentes. Um programa <strong>de</strong> incentivo à eficiência energética, por<br />

exemplo, po<strong>de</strong> ser implantado através <strong>de</strong> uma campanha educativa<br />

(forma cara e pouco intrusiva) ou através da imposição <strong>de</strong> uma<br />

legislação obrigatória (forma barata e muito intrusiva). Os custos<br />

adicionais foram avaliados entre 40 bilhões e 200 bilhões <strong>de</strong> euros em<br />

2030. Somando o custo líquido das iniciativas (150 bilhões <strong>de</strong> euros)<br />

com os custos adicionais (entre 40 bilhões e 200 bilhões <strong>de</strong> euros), o<br />

custo total é estimado entre 200 bilhões e 350 bilhões <strong>de</strong> euros anuais<br />

em 2030. A McKinsey estimou o PIB mundial em 60 trilhões <strong>de</strong> euros<br />

anuais em 2030 21 . Então o custo líquido total po<strong>de</strong> representar menos <strong>de</strong><br />

0,4% do PIB <strong>global</strong> em 2030, um valor muito baixo se compararmos<br />

com os prejuízos que o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> po<strong>de</strong> causar.<br />

O estudo da Consultoria McKinsey não é contraditório com os<br />

relátorios da AIE, que prevêem mesmo no cenário <strong>de</strong> políticas<br />

alternativas um aumento <strong>de</strong> 29% nas emissões <strong>de</strong> CO2 dos combustíveis<br />

fósseis. Além <strong>de</strong> o estudo da consultoria ser mais completo englobando<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abatimento baratas nas emissões <strong>de</strong> CO2 provenientes<br />

da silvicultura e nas emissões <strong>de</strong> outros gases estufa, ele assume que<br />

haverá um custo líquido para reduzir as emissões, enquanto no Cenário<br />

<strong>de</strong> Políticas Alternativas da AIE, os investimentos se pagarão tornando<br />

o custo líquido negativo. Outro ponto para se salientar é o fato que as<br />

21 No estudo da Mckinsey se utilizou uma taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> 1,5 dólar por<br />

euro. Além disso, todos os custos estão expressos em euros reais corrigidos<br />

pela inflação <strong>de</strong> 2005.


emissões <strong>de</strong> CO2 lançadas pelos combustíveis fósseis representaram<br />

56,6% do total <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases estufa lançadas em 2004, segundo<br />

o IPCC 2007. Os outros 43,6% não foram objeto <strong>de</strong> estudo da AIE.


Capítulo 6: A viabilida<strong>de</strong> política da proposta da<br />

Mckinsey<br />

No capítulo 4 se comentou sobre as previsões científicas do<br />

IPCC 2007 quanto ao impacto das emissões <strong>de</strong> gases estufa no clima<br />

<strong>global</strong>. A conclusão do Painel Intergovernamental é que as emissões<br />

precisam parar <strong>de</strong> crescer ate 2015 e a partir daí <strong>de</strong>clinar linearmente até<br />

serem entre 50% e 85% menores no ano 2050 em relação às emissões<br />

do ano 2000, para que se evitem mudanças climáticas perigosas. Por<br />

outro lado, a Agência Internacional <strong>de</strong> Energia e a Consultoria<br />

McKinsey, baseando-se em previsões populacionais e econômicas,<br />

afirmam que se nada for feito, a tendência é que as emissões <strong>de</strong> gases<br />

estufa cresçam enormemente entre 2005 e 2030. A Consultoria<br />

McKinsey propõe o investimento em 200 iniciativas para mudar essa<br />

situação, gerando um cenário <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases estufa capaz <strong>de</strong><br />

limitar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> <strong>de</strong>ntro dos 2°C seguros para o planeta.<br />

Temos então previsões científicas e econômicas sobre o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong>. Temos também uma proposta <strong>de</strong> controle do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

nos próximos 20 anos com um <strong>de</strong>terminado custo econômico. Agora a<br />

questão principal é respon<strong>de</strong>r a seguinte pergunta: Existe viabilida<strong>de</strong><br />

política para se implementar a proposta da Consultoria McKinsey que<br />

busca diminuir as emissões <strong>de</strong> gases estufa?<br />

A existência <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> política passa pelos custos<br />

econômicos <strong>de</strong> implementação. O custo líquido anual <strong>de</strong>ve representar<br />

menos <strong>de</strong> 0,4% do PIB <strong>global</strong> em 2030, um valor muito atrativo. No<br />

entanto a implementação das iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> gases estufa<br />

<strong>de</strong>mandará gran<strong>de</strong>s investimentos no período 2011-2030 que<br />

aumentarão gradativamente e atingirão 811 bilhões <strong>de</strong> euros em 2030, o<br />

que representa aproximadamente 1,35% do PIB <strong>global</strong> estimado em<br />

2030. Existem gran<strong>de</strong>s problemas à vista. Os políticos dos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>m preferir colocar a culpa do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

nos países <strong>de</strong>senvolvidos e não assumirem nenhum tipo <strong>de</strong> meta <strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> emissões, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>magogicamente que precisam<br />

combater a pobreza nos seus países. Os países <strong>de</strong>senvolvidos têm<br />

condições <strong>de</strong> custearem os investimentos nos seus próprios países, mas<br />

o custeio completo dos países em <strong>de</strong>senvolvimento por parte dos países


<strong>de</strong>senvolvidos nas iniciativas será muito difícil. Os países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>verão ter crescimento econômico mais rápido do<br />

que os países <strong>de</strong>senvolvidos nas próximas décadas e em 2030 po<strong>de</strong>rão<br />

representar mais <strong>de</strong> 50% da economia mundial. Dessa forma o<br />

financiamento das iniciativas feito exclusivamente pelos países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos está con<strong>de</strong>nado ao fracasso, já que um grupo <strong>de</strong> países<br />

com menor fatia da economia <strong>global</strong> teria que financiar a si e a outro<br />

grupo <strong>de</strong> países com a maior fatia da economia <strong>global</strong>. Os países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos já terão dificulda<strong>de</strong>s políticas para obter recursos a fim <strong>de</strong><br />

financiar as iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong>ntro dos seus próprios<br />

territórios, imagine financiar iniciativas mais dispendiosas em outros<br />

países. A solução <strong>de</strong>sse problema passa por uma responsabilida<strong>de</strong><br />

compartilhada quanto ao financiamento das iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. Os países <strong>de</strong>senvolvidos<br />

financiariam as iniciativas no seu próprio território e financiariam<br />

meta<strong>de</strong> dos recursos necessários nas iniciativas localizadas nos países<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento. Os países em <strong>de</strong>senvolvimento financiariam a<br />

outra meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos necessários nas iniciativas <strong>de</strong>ntro dos seus<br />

próprios territórios. Com a economia <strong>de</strong> dinheiro através dos ganhos <strong>de</strong><br />

eficiência energética e com o financiamento <strong>de</strong> apenas 50% dos recursos<br />

necessários nas iniciativas, o custo líquido total <strong>de</strong> se combater o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> seria negativo para os países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

ou seja, haveria ganhos econômicos reais ao invés <strong>de</strong> custos. Isso<br />

dissiparia a tese que afirma que os países em <strong>de</strong>senvolvimento ao<br />

combaterem o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, estão <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> combater a<br />

pobreza.<br />

Todas as 200 iniciativas distribuídas em 10 setores que visam<br />

reduzir as emissões <strong>de</strong> gases estufa são fundamentais para controlar o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> <strong>de</strong>ntro do limite <strong>de</strong> 2°C consi<strong>de</strong>rados seguros para o<br />

planeta. Entre elas po<strong>de</strong>mos apontar algumas “barganhas” no relatório<br />

da McKinsey, aquelas iniciativas e aqueles setores que apresentam<br />

maior potencial econômico <strong>de</strong> implementação e conseqüentemente <strong>de</strong><br />

apoio político. As 200 iniciativas po<strong>de</strong>m ser divididas 3 gran<strong>de</strong>s<br />

categorias: carbono terrestre, eficiência energética e suprimento <strong>de</strong><br />

energia <strong>de</strong> baixo carbono. As gran<strong>de</strong>s barganhas são o grupo <strong>de</strong><br />

iniciativas associadas ao carbono terrestre e o grupo <strong>de</strong> iniciativas<br />

associadas à eficiência energética. O carbono terrestre engloba os<br />

setores <strong>de</strong> agricultura e <strong>de</strong> silvicultura que apresentam baixo custo<br />

líquido total e que necessitam <strong>de</strong> baixo investimento. Exemplos <strong>de</strong>


iniciativas nesses setores são a recuperação <strong>de</strong> solos <strong>de</strong>gradados e o<br />

combate ao <strong>de</strong>smatamento tropical. Mais <strong>de</strong> 90% das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

abatimento estão localizadas nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. Os<br />

investimentos necessários do setor <strong>de</strong> silvicultura e <strong>de</strong> agricultura<br />

representarão apenas 5% dos investimentos totais durante o período<br />

2011-2030 e serão responsáveis aproximadamente por 31,5% da<br />

redução total anual (12 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente) <strong>de</strong><br />

emissões em 2030. O grupo <strong>de</strong> iniciativas associadas à eficiência<br />

energética está distribuído em sua maioria nos setores <strong>de</strong> edificações e<br />

<strong>de</strong> transporte. Exemplos <strong>de</strong> iniciativas nesses setores são a construção<br />

<strong>de</strong> edifícios que exigem menos climatização e o incentivo ao uso <strong>de</strong><br />

carros híbridos. As iniciativas <strong>de</strong> eficiência energética são aquelas que<br />

precisam dos maiores investimentos iniciais, mas no longo prazo esses<br />

investimentos são pagos pela economia <strong>de</strong> energia, apresentando custo<br />

líquido negativo. Elas têm potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 14 bilhões <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente anual em 2030, aproximadamente 37% do<br />

potencial total <strong>de</strong> 38 bilhões <strong>de</strong> toneladas. O terceiro grupo, associado<br />

ao suprimento <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> baixo carbono, engloba iniciativas que<br />

requerem em sua maioria alto nível <strong>de</strong> investimento e um alto custo<br />

líquido total. Exemplos <strong>de</strong>ssas iniciativas são as energias renováveis<br />

como a energia solar e a energia eólica e o seqüestro geológico <strong>de</strong><br />

carbono. Apesar do custo líquido alto, todas as iniciativas apresentam<br />

custo inferior a 60 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente evitada. As<br />

iniciativas estão concentradas principalmente nos setores energético e<br />

industrial e tem potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 12 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />

CO2 equivalente anual em 2030, 31,5% do potencial total. Então temos<br />

praticamente 70% da redução <strong>de</strong> emissões concentradas em iniciativas<br />

(carbono terrestre e eficiência energética) que possuem um potencial<br />

econômico extraordinário <strong>de</strong> implementação. A falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política<br />

<strong>de</strong> implementação <strong>de</strong>ssas iniciativas baratas representará uma falta <strong>de</strong><br />

conhecimento técnico dos governantes do mundo.<br />

O custo das iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões também po<strong>de</strong> ser<br />

avaliado por setor econômico. No gráfico a seguir temos a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investimento necessário nas iniciativas com potencial <strong>de</strong> abatimento<br />

dividido por setores econômicos em dois períodos diferentes, segundo o<br />

estudo da Mckinsey:


Nesse gráfico po<strong>de</strong>m-se evi<strong>de</strong>nciar em números alguns dados<br />

citados anteriormente como a baixa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos nos<br />

setores <strong>de</strong> agricultura e silvicultura e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

investimentos nos setores <strong>de</strong> edificação e transporte, on<strong>de</strong> a maioria das<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> eficiência energética está concentrada. Evi<strong>de</strong>ntemente<br />

que os investimentos em eficiência energética serão pagos pela<br />

economia <strong>de</strong> energia.<br />

Mesmo com o custo líquido total <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 0,4% do PIB <strong>global</strong><br />

para se controlar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, o senso comum <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

parcela dos políticos do mundo difere da avaliação que evitar o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> <strong>de</strong>scontrolado é viável. Sem os conhecimentos<br />

técnicos a<strong>de</strong>quados, muitos acreditam que controlar o <strong>aquecimento</strong><br />

exigirá vultosos investimentos que diminuirão fortemente o crescimento<br />

econômico e que estipular metas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões<br />

individualmente é uma atitu<strong>de</strong> típica <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> pragmatismo e visão<br />

realista do cenário econômico. Para eles, o mais inteligente é colocar a


culpa nos outros países, afirmar verbalmente que combatem o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> (sem combater <strong>de</strong> fato) e estipular metas <strong>de</strong> redução<br />

<strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> longo prazo que serão pagas por outros governantes. A<br />

mudança <strong>de</strong>ssas opiniões só ocorrerá se uma nova forma <strong>de</strong> “ven<strong>de</strong>r a<br />

idéia” do combate ao <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> for gerada. O estudo da<br />

Consultoria McKinsey tem gran<strong>de</strong> importância nessa mudança. Ele não<br />

representa um relatório conclusivo, já que trabalha com cenários que<br />

po<strong>de</strong>m não se confirmar, mas representa uma referência robusta<br />

importante a ser seguida, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r posicionamentos que<br />

coinci<strong>de</strong>m com outros estudos anteriores <strong>de</strong> combate ao <strong>aquecimento</strong><br />

planetário. Posicionamentos como a <strong>de</strong>fesa do incentivo às iniciativas <strong>de</strong><br />

eficiência energética, que por economizarem energia futuramente,<br />

geram ganhos econômicos líquidos ou como o discernimento que evitar<br />

o lançamento <strong>de</strong> CO2 provocado pelo <strong>de</strong>smatamento é mais barato do<br />

que investir em energias alternativas. Essas direções ajudam no<br />

momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir a forma <strong>de</strong> convencer os políticos e os governos a<br />

combaterem o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Alguns argumentos, não<br />

necessariamente ligadas ao estudo da McKinsey, são fundamentais para<br />

“ven<strong>de</strong>r a idéia” aos governantes mundiais:<br />

1- O custo líquido anual <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 0,4% do PIB <strong>global</strong> para<br />

combater o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> representará um peso econômico baixo<br />

nas economias nacionais em relação aos benefícios climáticos <strong>de</strong> longo<br />

prazo ocasionados pelas iniciativas;<br />

2- O custo das iniciativas po<strong>de</strong> ser encarado como um seguro contra<br />

catástrofes naturais financiado pelos governos. A indústria <strong>de</strong> seguros<br />

movimenta cifra bilionárias no mundo, sendo que gran<strong>de</strong> parte dos<br />

prêmios pagos se referem a eventos naturais como enchentes, furacões,<br />

incêndios e terremotos. Se os governos não combaterem o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong>, as companhias <strong>de</strong> seguros aumentarão os seus valores cobrados<br />

no longo prazo, tendo em vista que as catástrofes naturais terão maior<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecer. Isso significará um custo extra para a<br />

socieda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rá ser maior do que o custo das iniciativas;<br />

3- A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos necessários para custear as iniciativas<br />

representará um valor próximo <strong>de</strong> 1% do PIB <strong>global</strong> estimado no<br />

período 2011-2015 e aproximadamente 1,35% do PIB <strong>global</strong> no período<br />

2026-2030, um nível relativamente elevado. No entanto, as iniciativas<br />

<strong>de</strong> incentivo a eficiência energética, aquelas que precisam do maior


volume <strong>de</strong> investimentos, garantem benefícios imediatos a socieda<strong>de</strong>,<br />

proporcionais aos benefícios ocasionados por investimentos em<br />

iniciativas não ambientais. Os governos po<strong>de</strong>m subsidiar na forma <strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> impostos a fabricação <strong>de</strong> carros híbridos, tornando os seus<br />

preços iguais aos carros comuns. Com esse incentivo, os proprietários<br />

dos carros terão durante toda a vida útil do veículo a condição <strong>de</strong> andar<br />

gastando até meta<strong>de</strong> do combustível consumido por um carro comum.<br />

Esse benefício econômico é proporcional ao obtido caso o dinheiro<br />

fosse aplicado na construção <strong>de</strong> uma nova estrada, por exemplo. Assim<br />

como as iniciativas comuns, as iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões<br />

po<strong>de</strong>m gerar benefícios a socieda<strong>de</strong> e conseqüentemente benefícios<br />

eleitorais para os políticos;<br />

4- Com a responsabilida<strong>de</strong> compartilhada dos investimentos localizados<br />

nos países em <strong>de</strong>senvolvimento 22 , esses países menos ricos só<br />

financiarão 50% dos investimentos feitos no seu território, fazendo com<br />

que as iniciativas tenham um custo líquido negativo. Então ao invés <strong>de</strong><br />

representar um peso econômico, as iniciativas gerarão um pequeno<br />

aumento das taxas <strong>de</strong> crescimento econômico dos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento;<br />

5- As iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões po<strong>de</strong>m significar um seguro<br />

energético contra os altos preços dos combustíveis fósseis no futuro. O<br />

estudo da McKinsey assume um preço médio <strong>de</strong> 60 dólares o barril <strong>de</strong><br />

petróleo no período <strong>de</strong> redução, seguindo projeções da AIE. No entanto<br />

também foi avaliado o impacto do preço médio <strong>de</strong> 120 dólares o barril<br />

no custo das iniciativas. Nesse cenário haveria uma economia adicional<br />

<strong>de</strong> 700 bilhões <strong>de</strong> euros em 2030 (19 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2<br />

equivalente), tornando o custo total líquido das iniciativas negativo.<br />

Antes da crise mundial <strong>de</strong> 2008, houve uma gran<strong>de</strong> especulação no<br />

mercado internacional <strong>de</strong> petróleo, com os preços variando entre 50<br />

dólares e 150 dólares o barril num período inferior a um ano. O preço do<br />

petróleo é <strong>de</strong>finido pelo cartel da OPEP e não segue regras <strong>de</strong> mercado<br />

na fixação <strong>de</strong> preços. A concentração da maioria das reservas em poucos<br />

países e a esgotabilida<strong>de</strong> do combustível em poucas décadas favorecem<br />

essa <strong>de</strong>finição. Quando um país <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> continuar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

fortemente do petróleo no setor <strong>de</strong> energia, ele se sujeita ao humor da<br />

especulação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>res políticos instaurados em regimes instáveis como<br />

22 Proposta <strong>de</strong>fendida neste capítulo do livro


Arábia Saudita, Irã, Iraque, Venezuela, Nigéria e Líbia. No momento<br />

em que o petróleo sobe <strong>de</strong>mais, corre-se o risco <strong>de</strong> se sofrer choques<br />

econômicos que só po<strong>de</strong>rão ser aliviados em alguns anos através da<br />

introdução <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> eficiência energética, pois a infra-estrutura<br />

energética não consegue sobreviver no curto prazo sem petróleo, ou<br />

mesmo com menos petróleo. A primeira crise mundial do petróleo nos<br />

anos 70, por exemplo, incentivou os Estados Unidos a fabricarem carros<br />

mais econômicos. A prevenção <strong>de</strong> uma crise energética através da<br />

diminuição da <strong>de</strong>pendência dos combustíveis fósseis é a melhor<br />

alternativa para evitar choques econômicos. O investimento nas<br />

iniciativas <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> emissões po<strong>de</strong> cumprir esse papel. No<br />

entanto também há o outro lado da moeda. Se todas as iniciativas <strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> emissões forem implementadas, isso po<strong>de</strong> provocar um<br />

choque <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> oferta, reduzindo os preços do barril do petróleo.<br />

Há a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nesse cenário o cartel da OPEP tornar os preços<br />

do petróleo artificialmente baixos temporariamente, no momento em<br />

que se sentir ameaçado na posição <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r do mercado energético<br />

mundial. As empresas tomam <strong>de</strong>cisões econômicas com anos <strong>de</strong><br />

antecedência e num cenário <strong>de</strong> preço do petróleo muito baixo, po<strong>de</strong>m<br />

preferir continuar investindo em infra-estruturas que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do<br />

combustível fóssil, temendo per<strong>de</strong>r vantagens competitivas contra outras<br />

empresas do seu setor econômico no futuro. Nesse momento entra uma<br />

importante palavra para evitar esse processo: regulação. Quando um<br />

país tem uma infra-estrutura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do petróleo e acontece um<br />

choque <strong>de</strong> preços elevados, não há alternativa, senão suportar o choque<br />

econômico. Mas quando o preço baixa muito a melhor alternativa é<br />

evitar que as empresas do país tomem como referência esse valor que é<br />

temporariamente ilusório. Essa é uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> estratégia que evita a<br />

sedução por preços <strong>de</strong> petróleo baratos e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cisão está<br />

inteiramente nas mãos dos países consumidores. A regulação através da<br />

fixação <strong>de</strong> preços mínimos garante a implantação da infra-estrutura<br />

energética <strong>de</strong> baixo carbono sem que as empresas temam uma<br />

concorrência <strong>de</strong>sleal contra a infra-estrutura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do carbono. A<br />

consultoria McKinsey avaliou a influência do preço médio do petróleo a<br />

40 dólares o barril, no custo líquido das iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões. Em 2030 esse valor baixo do petróleo representaria um<br />

aumento <strong>de</strong> 4,5 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente no custo médio<br />

das iniciativas, pois apesar <strong>de</strong> o custo das iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões continuar o mesmo, ele ficaria mais caro quando comparado<br />

com a infra-estrutura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> carbono. Praticamente se dobraria o


preço da tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente evitada. Mas como sabemos o<br />

valor médio do petróleo a 40 dólares o barril é ilusório. Alguns analistas<br />

acreditam que o petróleo po<strong>de</strong> atingir mais <strong>de</strong> 200 dólares o barril nas<br />

próximas 2 décadas, se mantido o ritmo atual <strong>de</strong> crescimento do<br />

consumo. Portanto implementar as iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões<br />

representará um escudo contra ataques especulativos nos preços do<br />

petróleo, garantindo a estabilida<strong>de</strong> econômica dos países;<br />

6- O mesmo princípio que se aplica ao petróleo (citado no item anterior)<br />

se aplica ao gás natural. Os dois combustíveis fósseis têm reservas<br />

suficientes para suportar o consumo mundial atual por mais 50 anos<br />

aproximadamente. No entanto se o consumo continuar subindo esse<br />

tempo po<strong>de</strong> diminuir. A maioria das reservas mundiais está concentrada<br />

em poucos países. No caso do gás natural a Rússia, o Irã e o Qatar<br />

possuem mais <strong>de</strong> 50% das reservas mundiais. A forte <strong>de</strong>pendência do<br />

gás natural po<strong>de</strong> provocar no futuro um choque econômico causado pelo<br />

aumento do preço do combustível. A Europa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fortemente do gás<br />

natural russo. Se a Rússia resolver, por exemplo, aumentar o preço do<br />

gás natural no inverno (época em que a <strong>de</strong>manda energética aumenta),<br />

restará a Europa escolher entre pagar mais caro pelo gás ou literalmente<br />

congelar. A “Rússia sul-americana” é a Bolívia, o país mais pobre do<br />

continente e que possui as maiores reservas <strong>de</strong> gás natural. O Brasil<br />

sofreu no passado recente uma grave crise energética provocada por<br />

problemas <strong>de</strong> suprimento do gás natural boliviano. As iniciativas <strong>de</strong><br />

redução <strong>de</strong> emissões também têm o potencial <strong>de</strong> reduzir o risco <strong>de</strong> crises<br />

econômicas provocadas pelo mercado do gás natural;<br />

7- Cada vez mais políticos per<strong>de</strong>rão eleições se não investirem em<br />

iniciativas <strong>de</strong> combate ao <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Em 2005 o furacão<br />

Katrina <strong>de</strong>vastou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> New Orleans nos Estados Unidos. Esse<br />

evento prejudicou a popularida<strong>de</strong> do ex-presi<strong>de</strong>nte Bush, pois o furacão<br />

foi associado ao <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, e o ex-presi<strong>de</strong>nte era um árduo<br />

inimigo <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões. Nas eleições <strong>de</strong> 2008, o<br />

candidato republicano John Maccain per<strong>de</strong>u a eleição presi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong>vido principalmente a impopularida<strong>de</strong> do presi<strong>de</strong>nte Bush, do seu<br />

partido. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa impopularida<strong>de</strong> veio da sua posição<br />

ambiental e o furacão Katrina se tornou um símbolo <strong>de</strong>ssa posição. Na<br />

realida<strong>de</strong> provar que o furacão Katrina foi provocado pelo <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong> é cientificamente difícil. O cientificamente mais correto é<br />

associar uma série <strong>de</strong> mudanças climáticas distintas, que são explicadas


pelo <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e não associar somente um evento climático.<br />

No entanto a opinião pública reage a cada catástrofe natural histórica<br />

como um efeito do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, e para azar dos políticos essas<br />

catástrofes se tornarão cada vez mais freqüentes justamente por causa<br />

das mudanças climáticas. Por esse motivo os eventos naturais<br />

influenciaram as eleições da maior economia do mundo. Esse fenômeno<br />

eleitoral já aconteceu recentemente e vai acontecer novamente com mais<br />

força no futuro. O furacão Katrina acabou se tornando “o furacão<br />

Bush”. Os políticos que não aceitarem as iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

emissões terão que conviver com o ônus <strong>de</strong> terem sua popularida<strong>de</strong><br />

ameaçada por eventos naturais que não po<strong>de</strong>m ser controlados,<br />

configurando um verda<strong>de</strong>iro “terrorismo climático”.<br />

As iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong>verão ser custeadas<br />

pelos governos na forma <strong>de</strong> subsídios ou obtidas através <strong>de</strong> taxações <strong>de</strong><br />

empresas emissoras <strong>de</strong> gases estufa. Os incentivos governamentais<br />

precisam ser amparados por regulações <strong>de</strong> longo prazo que garantam<br />

segurança jurídica para os investidores. Outro ponto importante é a<br />

implementação <strong>de</strong> normas e padrões mínimos <strong>de</strong> eficiência energética<br />

em equipamentos. As iniciativas localizadas nos setores <strong>de</strong> silvicultura e<br />

agricultura, fortemente concentradas em países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

<strong>de</strong>vem proporcionar <strong>de</strong>senvolvimento econômico, <strong>de</strong>sincentivando<br />

práticas ambientalmente insustentáveis.<br />

O estudo da Consultoria McKinsey avaliou individualmente com<br />

aprofundamento as iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões dividindo-as em<br />

10 setores econômicos. No entanto nos capítulos seguintes utilizaremos<br />

a divisão explicitada no capítulo anterior: carbono terrestre,<br />

suprimento <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> baixo carbono e eficiência energética. Essa<br />

divisão também é abordada no estudo, mas sem aprofundamento. No<br />

capítulo 7 se abordará o setor <strong>de</strong> carbono terrestre. No capítulo 8 se<br />

comentará especificamente sobre a região amazônica, importante fonte<br />

<strong>de</strong> emissões do setor <strong>de</strong> carbono terrestre. As iniciativas <strong>de</strong> suprimento<br />

<strong>de</strong> energia <strong>de</strong> baixo carbono serão explicadas em 2 capítulos: os<br />

capítulos 9 e 10. No capítulo 9 se falará sobre o seqüestro geológico <strong>de</strong><br />

carbono, que torna as fontes emissoras <strong>de</strong> CO2 em fontes limpas através<br />

do envio do CO2 para o subsolo. No capítulo 10 se comentará sobre as<br />

principais fontes <strong>de</strong> energia limpas, distintas das fontes do capítulo 9, já<br />

que não há lançamentos <strong>de</strong> CO2 efetivos, nem mesmo para o subsolo.<br />

No capítulo 11 se comentará sobre um grupo <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> eficiência


energética. Esses 5 capítulos farão uma abordagem geral das principais<br />

formas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões (energia eólica, energia solar, energia<br />

nuclear, carros híbridos, combate ao <strong>de</strong>smatamento tropical, etc)<br />

focando nas potencialida<strong>de</strong>s e gargalos <strong>de</strong> cada tecnologia ou solução.<br />

Os dados do estudo da McKinsey ajudarão na abordagem, mas não<br />

serão a principal fonte <strong>de</strong> informação.


Capítulo 7: O setor <strong>de</strong> carbono terrestre: silvicultura e<br />

agricultura<br />

O setor <strong>de</strong> carbono terrestre engloba as emissões <strong>de</strong> gases estufa<br />

não ligadas ao consumo <strong>de</strong> combustíveis fósseis. Ele é composto <strong>de</strong> dois<br />

setores econômicos: a silvicultura e a agricultura. As emissões da<br />

silvicultura são compostas basicamente do <strong>de</strong>smatamento tropical, da<br />

<strong>de</strong>gradação da biomassa após o <strong>de</strong>smatamento, da drenagem <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

turfa e da queima <strong>de</strong> solos turfosos. As emissões da agricultura são<br />

compostas da ativida<strong>de</strong> agrícola propriamente dita (exemplo: emissões<br />

provenientes dos solos agrícolas) e também da pecuária (exemplo:<br />

fermentação entérica dos animais). O setor <strong>de</strong> carbono terrestre é o que<br />

provavelmente apresenta maior viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mitigação <strong>de</strong> emissões,<br />

pois tanto o custo líquido das iniciativas é baixo, quanto à necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investimentos. No entanto também existem dificulda<strong>de</strong>s como a<br />

fragmentação dos emissores e a concentração da maioria absoluta das<br />

emissões nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. Enquanto poucas empresas<br />

são responsáveis pelas emissões das termelétricas no mundo, milhões <strong>de</strong><br />

proprietários rurais são responsáveis pelas emissões do setor <strong>de</strong> carbono<br />

terrestre. Essa fragmentação <strong>de</strong>manda uma forte fiscalização<br />

acompanhada <strong>de</strong> incentivos <strong>de</strong> práticas sustentáveis, para que as<br />

iniciativas <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões tenham êxito. A redução das<br />

emissões nos países em <strong>de</strong>senvolvimento precisa ser financiada em<br />

parte pelos países <strong>de</strong>senvolvidos. Países como Brasil e Indonésia que<br />

li<strong>de</strong>ram as emissões do setor <strong>de</strong> silvicultura no mundo, não possuem<br />

apoio político interno para financiarem sozinhos as iniciativas. No caso<br />

brasileiro a consultoria McKinsey estimou em 17 bilhões <strong>de</strong> reais 23<br />

anuais o custo para zerar o <strong>de</strong>smatamento na Amazônia. Esses<br />

problemas não inviabilizam a redução <strong>de</strong> emissões no setor <strong>de</strong> carbono<br />

terrestre. Na maioria dos casos reduzir as emissões tem uma viabilida<strong>de</strong><br />

econômica muito alta, pois as práticas agrícolas e florestais predatórias<br />

geram um baixo ganho econômico em relação a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gases<br />

estufa gerado, se comparadas as ativida<strong>de</strong>s do setor <strong>de</strong> energia. A<br />

Consultoria McKinsey estima em 15 bilhões <strong>de</strong> euros anuais em 2015 e<br />

em 43 bilhões <strong>de</strong> euros anuais em 2030 a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos<br />

necessários para tornar o setor <strong>de</strong> silvicultura neutro em carbono em<br />

23 A quantia equivale a 5,5 bilhões <strong>de</strong> euros em valores <strong>de</strong> 2005


2030. Quanto ao setor agrícola a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos é<br />

consi<strong>de</strong>rada insignificante, já que a maioria das iniciativas é constituída<br />

<strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> práticas agrícolas, que po<strong>de</strong>m se tornar sustentáveis<br />

sem investimentos adicionais. Ao total com apenas 5% dos<br />

investimentos necessários em todas as iniciativas durante o período <strong>de</strong><br />

redução 2011-2030, o setor <strong>de</strong> carbono terrestre po<strong>de</strong> ser responsável<br />

por 31,5% das reduções totais em 2030, uma relação custo-benefício<br />

muito alta.<br />

O setor agrícola foi responsável por 14% das emissões mundiais<br />

<strong>de</strong> gases estufa em 2005, ou 6,2 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2<br />

equivalente. Os principais responsáveis são as emissões <strong>de</strong> metano<br />

provenientes da fermentação entérica por parte do animais (38% do<br />

total), a emissão <strong>de</strong> metano proveniente do cultivo <strong>de</strong> arroz (13% do<br />

total) e a emissão <strong>de</strong> óxido nitroso (N2O) dos solos agrícolas (37% do<br />

total). Temos, portanto três grupos bem <strong>de</strong>finidos que necessitam ter<br />

suas emissões reduzidas.<br />

As emissões <strong>de</strong> metano (CH4) através da fermentação entérica são<br />

oriundas <strong>de</strong> animais como vacas, ovelhas e cabras, que pertencem à<br />

classe dos ruminantes. Os ruminantes têm quatro estômagos e digerem<br />

seu alimento em seus estômagos ao invés <strong>de</strong> seus intestinos, como<br />

fazem os humanos. Os ruminantes comem o alimento, expelem-no<br />

como bolo alimentar para a boca e tornam a comê-lo.No rúmen, o<br />

primeiro estômago dos animais, ocorre a fermentação entérica do<br />

alimento ingerido através <strong>de</strong> um processo anaeróbico (sem a presença <strong>de</strong><br />

ar) realizado por bactérias. Nesse processo há a produção <strong>de</strong> metano. O<br />

metano produzido é posteriormente arrotado pelas narinas e pela boca<br />

dos animais. Também há produção <strong>de</strong> metano através da flatulência dos<br />

animais, mas em menor quantida<strong>de</strong> que o arroto. A redução das<br />

emissões lançadas pela fermentação entérica tem sido tentada através do<br />

uso <strong>de</strong> aditivos alimentares, pílulas e vacinas. Pesquisas com aditivos<br />

alimentares como gordura <strong>de</strong> coco, linhaça, sementes <strong>de</strong> girassol, alho e<br />

óleo <strong>de</strong> peixe tem obtido reduções entre 20% e 50% na geração <strong>de</strong><br />

metano através da inibição da proliferação <strong>de</strong> bactérias responsáveis<br />

pela produção do gás. Outra opção é o uso <strong>de</strong> pílulas. Cientistas na<br />

Alemanha <strong>de</strong>senvolveram uma pílula que acompanhada <strong>de</strong> uma dieta<br />

especial com algumas restrições alimentares é capaz <strong>de</strong> reduzir a<br />

emissão <strong>de</strong> metano através da conversão do gás em glicose. Por último,


vacinas contra bactérias metanogênicas estão sendo <strong>de</strong>senvolvidas, mas<br />

ainda não estão disponíveis comercialmente.<br />

As plantações <strong>de</strong> arroz também são ambientes propícios para a<br />

liberação <strong>de</strong> metano na atmosfera. O arroz é cultivado em áreas alagadas<br />

e com gran<strong>de</strong> presença <strong>de</strong> matéria orgânica. Esse ambiente pobre em<br />

oxigênio favorece a <strong>de</strong>composição da matéria orgânica por bactérias<br />

anaeróbicas produtoras <strong>de</strong> metano. O gás po<strong>de</strong> ser liberado através <strong>de</strong><br />

bolhas <strong>de</strong>ntro da água até a atmosfera quando se encontra em altas<br />

concentrações, mas o principal responsável pelas emissões é o<br />

transporte difuso pelo aerênquima, um tecido vascular presente nas<br />

plantas <strong>de</strong> arroz. O aerênquima permite a circulação <strong>de</strong> ar no interior da<br />

planta, levando o oxigênio da atmosfera até as raízes. Essa circulação <strong>de</strong><br />

ar facilita a liberação do metano. As plantas <strong>de</strong> arroz facilitam até 10<br />

vezes mais o escape <strong>de</strong> metano para a atmosfera 24 em comparação com<br />

solos inundados sem cultivo <strong>de</strong> arroz. Fatores como a temperatura, a<br />

radiação solar, o tipo <strong>de</strong> adubação, a espécie <strong>de</strong> arroz e o nível <strong>de</strong><br />

inundação influenciam na produção <strong>de</strong> metano. O metano resultante do<br />

cultivo <strong>de</strong> arroz irrigado po<strong>de</strong> reduzir-se significativamente<br />

introduzindo alterações nos sistemas <strong>de</strong> irrigação e drenagem ou através<br />

do uso <strong>de</strong> fertilizantes. Cerca <strong>de</strong> 50% do total das terras <strong>de</strong>dicadas no<br />

mundo aos arrozais é irrigada. O arroz irrigado libera mais metano do<br />

que o arroz <strong>de</strong> sequeiro. A drenagem <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> arroz irrigado em<br />

momentos específicos durante o ciclo <strong>de</strong> cultivo po<strong>de</strong> reduzir<br />

drasticamente as emissões <strong>de</strong> metano sem diminuir os rendimentos da<br />

colheita. Outras opções técnicas para reduzir as emissões <strong>de</strong> metano<br />

consistem em agregar sulfato <strong>de</strong> sódio ou carboneto <strong>de</strong> cálcio aos<br />

fertilizantes com base em uréia, ou substituir a uréia por sulfato <strong>de</strong><br />

amônio como fonte <strong>de</strong> nitrogênio para os cultivos <strong>de</strong> arroz.<br />

A principal origem das emissões <strong>de</strong> óxido nitroso (N2O)<br />

advindas dos solos agrícolas é a aplicação indiscriminada <strong>de</strong><br />

fertilizantes nitrogenados sintéticos nos cultivos. As emissões ocorrem<br />

<strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>snitrificação a partir do nitrogênio mineral. A <strong>de</strong>snitrificação<br />

consiste na redução microbiana dos nitratos (N3O) às formas<br />

intermediárias <strong>de</strong> nitrogênio e então às formas gasosas (NO, N2O e N2)<br />

que são perdidas para a atmosfera. As emissões <strong>de</strong> óxido nitroso<br />

24<br />

http://w3.ufsm.br/ppgcs/congressos/CBCS_Gramado/Arquivos%20trabalho<br />

s/Efluxo%20<strong>de</strong>%20metano_Fabio%20G..pdf


originadas do setor agrícola po<strong>de</strong>m minimizar-se com novos<br />

fertilizantes e práticas <strong>de</strong> fertilização. Aumentando-se a eficiência com a<br />

qual os cultivos utilizam o nitrogênio, é possível reduzir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fertilizantes necessária para produzir uma <strong>de</strong>terminada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

alimento ou reduzir as emissões <strong>de</strong> N2O lançada por uma <strong>de</strong>terminada<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fertilizante. As principais práticas que aumentam a<br />

eficiência no uso do nitrogênio são: ajuste <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> aplicação com<br />

base em estimativas precisas das necessida<strong>de</strong>s da cultura (ou seja,<br />

agricultura <strong>de</strong> precisão); uso <strong>de</strong> fertilizantes <strong>de</strong> liberação lenta ou<br />

controlada ou inibidores <strong>de</strong> nitrificação (que <strong>de</strong>saceleram processos<br />

microbianos que levam à formação <strong>de</strong> N2O); aplicação <strong>de</strong> nitrogênio<br />

quando a perda for menos provável, geralmente logo antes do consumo<br />

(melhor programação); ou aplicação do nitrogênio <strong>de</strong> forma mais<br />

precisa no solo, para torná-lo mais acessível às raízes.<br />

O setor agrícola também po<strong>de</strong> ajudar a mitigar as emissões <strong>de</strong><br />

CO2 através do seqüestro <strong>de</strong> carbono pelos solos. Os solos são um<br />

importante reservatório <strong>de</strong> carbono e <strong>de</strong>sempenham um importante<br />

papel no ciclo do carbono <strong>global</strong>. Historicamente, os solos per<strong>de</strong>ram<br />

muito carbono <strong>de</strong>vido à intervenção do homem, mas uma parte <strong>de</strong>sse<br />

carbono po<strong>de</strong> ser readquirido através <strong>de</strong> manejo aprimorado, retirando<br />

assim CO2 da atmosfera. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carbono orgânico no solo é o<br />

resultado do balanço entre dois processos: a) <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> resíduos<br />

(serapilheira e raízes) <strong>de</strong> plantas que originalmente obtiveram seu<br />

carbono do CO2 atmosférico através da fotossíntese; b) <strong>de</strong>composição<br />

dos resíduos <strong>de</strong>positados, resultando no lançamento <strong>de</strong> CO2 25 . O<br />

primeiro processo aumenta o carbono no solo enquanto o segundo<br />

diminui. Práticas agrícolas <strong>de</strong> baixa sustentabilida<strong>de</strong> ambiental como a<br />

aração excessiva, a gra<strong>de</strong>ação e os <strong>de</strong>smatamentos, aumentam a<br />

<strong>de</strong>composição do carbono orgânico, lançando CO2 para a atmosfera e<br />

diminuindo a fertilida<strong>de</strong> dos solos. Além disso, fatores como a<br />

fertilização ina<strong>de</strong>quada, a queima <strong>de</strong> restos culturais e o cultivo<br />

intensivo das terras, contribuem para o aumento <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>gradação dos<br />

solos. Práticas sustentáveis po<strong>de</strong>m restaurar tanto áreas <strong>de</strong> cultivos<br />

agrícolas quanto pastos <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> gado, reduzindo essas perdas e<br />

fixando carbono no solo. Os solos po<strong>de</strong>m ter sua fertilida<strong>de</strong> restaurada<br />

25<br />

http://www.cnpab.embrapa.br/pesquisas/fol<strong>de</strong>rs/fol<strong>de</strong>r_sequestro_carbono.p<br />

df


através da correção <strong>de</strong> nutrientes com fertilizantes, da aplicação <strong>de</strong><br />

adubos orgânicos, do cultivo com plantio direto e da retenção <strong>de</strong><br />

resíduos agrícolas. Solos mais férteis aumentam a produção agrícola e<br />

conseqüentemente aumentam a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restos culturais que<br />

acabam ficando no solo após a colheita. Para garantir que esse carbono<br />

dos restos culturais seja fixado no solo é preciso evitar a aração das<br />

terras. A terra arada por tratores no cultivo tradicional acelera a<br />

<strong>de</strong>composição da matéria orgânica porque <strong>de</strong>strói os agregados do solo<br />

que protegem a matéria orgânica da ação microbiana, gerando<br />

significativas emissões <strong>de</strong> CO2 para a atmosfera, que são ignoradas por<br />

não serem visíveis a olho nu como as queimadas. No plantio direto há o<br />

cultivo sobre a palha <strong>de</strong>ixada pela cultura anterior, sem a necessida<strong>de</strong> da<br />

remoção do solo através da aração. No plantio direto esse carbono que<br />

seria liberado para atmosfera pela aração da terra é fixado no solo.<br />

A expansão do setor agrícola também influencia as emissões do<br />

outro gran<strong>de</strong> setor econômico associado ao carbono terrestre: o setor <strong>de</strong><br />

silvicultura. O setor <strong>de</strong> silvicultura emitiu em 2005, segundo a<br />

consultoria McKinsey, 7,4 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente,<br />

sendo 5,4 bilhões provenientes do <strong>de</strong>smatamento e 2 bilhões<br />

provenientes da drenagem <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> turfa e da queima <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

turfa. Acredito que a melhor estimativa das emissões das áreas <strong>de</strong> turfa<br />

(drenagem e queima <strong>de</strong> solos) seja superior à apontada pela consultoria.<br />

Num estudo mais recente 26 e mais abrangente, realizado pelos mesmos<br />

pesquisadores que são citados na bibliografia do relatório da McKinsey,<br />

as emissões das áreas <strong>de</strong> turfa são estimadas em 3 bilhões <strong>de</strong> toneladas<br />

anuais.<br />

O <strong>de</strong>smatamento tropical é o gran<strong>de</strong> emissor do setor <strong>de</strong><br />

silvicultura, já que 88% das emissões do <strong>de</strong>smatamento são oriundas das<br />

florestas tropicais localizadas em países em <strong>de</strong>senvolvimento. No<br />

mundo todo o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong> florestas tropicais ocorre<br />

basicamente por três razões: a alta lucrativida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireira,<br />

a expansão irracional da agropecuária e a ausência do Estado. O Brasil,<br />

26 A publicação “Fact book for UN-FCCC policies on peat carbon emissions”<br />

com os dados po<strong>de</strong> ser encontrada no site www.wetlands.org, no link<br />

específico:<br />

http://<strong>global</strong>.wetlands.org/LinkClick.aspx?fileticket=mGqAyxnvFJw%3d&tabi<br />

d=56


o país com maior índice mundial <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento anual, é uma<br />

referência para a questão. O <strong>de</strong>smatamento <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada área em<br />

poucos meses oferece uma lucrativida<strong>de</strong> que só será obtida através da<br />

agropecuária num prazo <strong>de</strong> muitos anos. Com pouca fiscalização<br />

ambiental, esse filão é bem aproveitado pelas ma<strong>de</strong>ireiras ilegais.<br />

Depois vem a agropecuária. A agricultura <strong>de</strong> alta produtivida<strong>de</strong> está<br />

localizada nas terras mais caras e próximas das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. A<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a produção impulsiona a compra <strong>de</strong> terras mais<br />

distantes, on<strong>de</strong> se pratica uma agricultura menos intensiva, que <strong>de</strong>vido a<br />

isso se transfere para áreas ocupadas pela pecuária extensiva. A pecuária<br />

extensiva por sua vez inva<strong>de</strong> a floresta. O aumento da produção em<br />

áreas que praticam uma agricultura menos intensiva e o aumento da<br />

criação <strong>de</strong> gado extensiva também acelera essa invasão da floresta. O<br />

problema é que essa invasão é <strong>de</strong>snecessária. Existem terras já<br />

<strong>de</strong>smatadas suficientes pra multiplicar a criação <strong>de</strong> gado. Na Amazônia<br />

brasileira, se cria 0,7 bois por hectare em terras <strong>de</strong>smatadas, on<strong>de</strong> se<br />

po<strong>de</strong>ria criar 3 cabeças por hectare, sem uso <strong>de</strong> ração externa. No<br />

entanto isso não acontece. Gran<strong>de</strong> parte das áreas em processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>smatamento são terras públicas sem ocupação e controle on<strong>de</strong> quem<br />

<strong>de</strong>smata <strong>de</strong> forma predatória e ocupa a terra com gado bovino se torna<br />

dono. Conquistar uma terra <strong>de</strong> graça se torna um gran<strong>de</strong> estímulo para<br />

se <strong>de</strong>rrubar a floresta. Sai mais barato <strong>de</strong>smatar, do que investir na<br />

criação intensiva em terras já <strong>de</strong>smatadas. No entanto não é apenas a<br />

pecuária que é responsável pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento. Alguns<br />

cultivos agrícolas como a soja no Brasil e a palma na Indonésia também<br />

são responsáveis, com o agravante <strong>de</strong> serem ativida<strong>de</strong>s com maior<br />

lucrativida<strong>de</strong> por área do que a pecuária, dificultando a substituição por<br />

uma ativida<strong>de</strong> sustentável que precisa ter no mínimo o mesmo nível <strong>de</strong><br />

lucrativida<strong>de</strong>. A união do lucro da ativida<strong>de</strong> predatória com a falta <strong>de</strong><br />

intervenção estatal justifica plenamente o <strong>de</strong>smatamento tropical no<br />

mundo.<br />

O outro forte emissor <strong>de</strong> CO2 na atmosfera no setor <strong>de</strong><br />

silvicultura são as turfeiras. A turfa é um material orgânico <strong>de</strong> coloração<br />

preto-amarronzada composto por restos parcialmente <strong>de</strong>compostos <strong>de</strong><br />

vegetais, encontrado geralmente em pântanos e em áreas frias como as<br />

tundras. Em todos os ecossistemas terrestres, as plantas convertem CO2<br />

atmosférico em biomassa vegetal que após a morte se <strong>de</strong>compõem<br />

rapidamente sob a influência <strong>de</strong> oxigênio. Nas turfeiras, a planta morta<br />

fica molhada, num ambiente <strong>de</strong> baixo oxigênio on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>composição é


muito mais lenta. Há um equilíbrio entre o CO2 lentamente absolvido<br />

pela biomassa vegetal e o CO2 lentamente lançado pelas turfeiras. Se a<br />

turfeira entra em contato com o ar pela ação humana, esse equilíbrio é<br />

perdido e a turfeira acaba sendo <strong>de</strong>composta e lançada rapidamente para<br />

atmosfera na forma <strong>de</strong> CO2. Os solos turfosos representam 3% da<br />

superfície da Terra. Um estudo recente conduzido pela ONG Wetlands<br />

juntamente com a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Greifswald, concluiu que as<br />

emissões provenientes da turfa chegam a 3 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2<br />

anuais sendo que 2/3 estão concentradas em 4 países do Su<strong>de</strong>ste<br />

Asiático: Brunei, Indonésia, Malásia e Papua Nova Guiné. Entre as<br />

emissões do Su<strong>de</strong>ste Asiático, cerca <strong>de</strong> 600 milhões <strong>de</strong> toneladas são<br />

lançadas pela <strong>de</strong>composição dos solos <strong>de</strong> turfa drenados e outras 1,4<br />

bilhão <strong>de</strong> toneladas provém da queima <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> turfa 27 . A diminuição<br />

das emissões advindas do <strong>de</strong>smatamento tropical no Su<strong>de</strong>ste Asiático e<br />

das emissões advindas dos solos turfosos constituem um objetivo<br />

comum, pois a maioria das emissões dos solos turfosos na região são<br />

causados pelos incêndios florestais, com o objetivo <strong>de</strong> plantar palma e<br />

outros produtos agrícolas. Esses incêndios acabam se alastrando e<br />

queimando as camadas <strong>de</strong> solos turfosos riquíssimas em matéria<br />

orgânica. O cultivo <strong>de</strong> palma, um dos gran<strong>de</strong>s causadores dos incêndios,<br />

tem o objetivo <strong>de</strong> produzir biodiesel, que é vendido como um<br />

combustível limpo no mercado internacional, pois o CO2 lançado pelo<br />

combustível na queima foi absolvido pela planta no momento do<br />

cultivo. No entanto, está se cometendo um gran<strong>de</strong> crime ambiental na<br />

prática. Vão ser necessários <strong>de</strong>zenas ou até centenas <strong>de</strong> anos para que o<br />

CO2 absolvido pelo cultivo <strong>de</strong> palma compense o CO2 emitido pela<br />

queima dos solos turfosos e pela queima da floresta tropical.<br />

O ciclo <strong>de</strong> crimes ambientais e falta <strong>de</strong> presença do Estado, que<br />

causam as emissões do setor <strong>de</strong> silvicultura, po<strong>de</strong> ser revertido através<br />

<strong>de</strong> investimentos em práticas sustentáveis e atuação governamental em<br />

fiscalização. O problema é que as florestas tropicais remanescentes<br />

estão em áreas <strong>de</strong> países em <strong>de</strong>senvolvimento (Brasil, Indonésia e<br />

Congo são exemplos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>smatadores) on<strong>de</strong> a preocupação<br />

27 A publicação “Fact book for UN-FCCC policies on peat carbon emissions”<br />

com os dados po<strong>de</strong> ser encontrada no site www.wetlands.org, no link<br />

específico:<br />

http://<strong>global</strong>.wetlands.org/LinkClick.aspx?fileticket=mGqAyxnvFJw%3d&tabi<br />

d=56


principal dos governos é o crescimento econômico e a redução da<br />

pobreza, ficando o meio-ambiente num plano secundário. Não se<br />

controla o <strong>de</strong>smatamento porque não há ganho econômica imediato com<br />

isso, existindo áreas fora do controle estatal. Esses países alegam que os<br />

países ricos <strong>de</strong>smataram suas florestas para se <strong>de</strong>senvolverem e não<br />

po<strong>de</strong>m exigir moralmente metas <strong>de</strong> redução dos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, e que só <strong>de</strong>vem existir metas <strong>de</strong> redução para o<br />

consumo <strong>de</strong> combustíveis fósseis dos países ricos. Alguns países ricos<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que os governos dos países <strong>de</strong>smatadores precisam cumprir<br />

metas <strong>de</strong> redução. Nessa disputa todos estão errados, porque <strong>de</strong>vemos<br />

pensar como "nós" e não como "eu". Um país como o Brasil, que possui<br />

a 8ª economia do mundo, por exemplo, po<strong>de</strong> diminuir fortemente o<br />

<strong>de</strong>smatamento na Amazônia sem recursos externos. Por outro lado os<br />

países ricos também po<strong>de</strong>m contribuir com uma fração ínfima das suas<br />

riquezas. Essa disputa não po<strong>de</strong> impedir que o mundo aproveite uma das<br />

formas <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases estufa com melhor custobenefício.<br />

A solução passa pela já citada responsabilida<strong>de</strong><br />

compartilhada, on<strong>de</strong> os países <strong>de</strong>senvolvidos contribuem com 50% dos<br />

recursos financeiros necessários para financiar as iniciativas do setor <strong>de</strong><br />

silvicultura e os países em <strong>de</strong>senvolvimento contribuem com os outros<br />

50% necessários para financiar as iniciativas <strong>de</strong>ntro dos seus territórios.<br />

Iniciativas como o incentivo a práticas sustentáveis (exemplo: extração<br />

sustentável da ma<strong>de</strong>ira da floresta), gerarão ganhos econômicos que<br />

compensarão os investimentos feitos pelos países em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O fim do <strong>de</strong>smatamento tropical <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> mudança<br />

<strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> na exploração das florestas. Até hoje o <strong>de</strong>smatamento<br />

das florestas foi visto como fonte <strong>de</strong> progresso econômico inesgotável<br />

através da exploração da ma<strong>de</strong>ira e da conquista <strong>de</strong> novas terras para o<br />

cultivo agrícola. Diante do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, on<strong>de</strong> as emissões do<br />

setor <strong>de</strong> silvicultura são responsáveis por quase 20% do efeito estufa, da<br />

esgotabilida<strong>de</strong> das florestas e <strong>de</strong> outros papéis ambientais como a<br />

responsabilida<strong>de</strong> pela formação <strong>de</strong> chuvas, as florestas tropicais<br />

apresentarão um melhor custo-benefício no longo prazo para a<br />

socieda<strong>de</strong> se forem mantidas em pé. No curto prazo são necessárias<br />

alternativas para manutenção dos benefícios econômicos trazidos pela<br />

exploração predatória. Ao invés <strong>de</strong> se <strong>de</strong>smatar novas terras para<br />

expandir a pecuária extensiva, a melhor alternativa é aumentar a criação<br />

<strong>de</strong> gado nas mesmas terras. A exploração sustentável da ma<strong>de</strong>ira da<br />

floresta, on<strong>de</strong> é <strong>de</strong>smatada apenas a parcela da floresta que possui valor


comercial, po<strong>de</strong> substituir com sucesso o <strong>de</strong>smatamento predatório. A<br />

palavra chave <strong>de</strong>sse processo é COMPATIBILIZAÇÃO. Precisamos<br />

compatibilizar a preservação da floresta com a manutenção <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas lucrativas. Mesmo que essa compatibilização<br />

consiga ser implementada com sucesso na maioria dos países, parece<br />

pouco razoável que o mundo acabe completamente com o<br />

<strong>de</strong>smatamento, pois mesmo que os gran<strong>de</strong>s focos acabem o<br />

<strong>de</strong>smatamento ocorrerá difusamente com baixa intensida<strong>de</strong> em qualquer<br />

parte do globo. No entanto há um gran<strong>de</strong> aliado para zerar e até mesmo<br />

tornar negativa as emissões do setor <strong>de</strong> silvicultura: o reflorestamento.<br />

O reflorestamento em áreas <strong>de</strong>gradadas já vem sendo feito como forma<br />

<strong>de</strong> neutralizar as emissões <strong>de</strong> CO2. Enquanto uma floresta adulta e<br />

madura consome e emite uma quantida<strong>de</strong> similar <strong>de</strong> CO2, uma floresta<br />

jovem e em crescimento consome muito mais CO2 do que emite. Ela<br />

fixa carbono na forma <strong>de</strong> tronco, galhos, folhas e emite oxigênio para a<br />

atmosfera. Essa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir CO2 po<strong>de</strong> anular a emissão <strong>de</strong><br />

uma usina ou <strong>de</strong> um carro que lança CO2 em qualquer parte do mundo.<br />

No caso do setor <strong>de</strong> silvicultura, o reflorestamento po<strong>de</strong> neutralizar as<br />

pequenas emissões difusas por <strong>de</strong>smatamento ao redor do planeta.<br />

tropical.<br />

Para se reduzir as emissões do setor <strong>de</strong> silvicultura até se atingir<br />

emissões neutras ou negativas em 2030 basicamente 4 soluções<br />

precisam ser implementadas:<br />

1)Reflorestamento <strong>de</strong> matas tropicais<br />

O reflorestamento em áreas <strong>de</strong>gradadas já vem sendo feito como<br />

forma <strong>de</strong> neutralizar as emissões <strong>de</strong> CO2 como instrumento <strong>de</strong><br />

conscientização ambiental, Exemplos <strong>de</strong>se processo são as<br />

neutralizações <strong>de</strong> eventos, produtos e programas <strong>de</strong> televisão.<br />

Precisamos aumentar exponencialmente o tamanho das áreas <strong>de</strong><br />

reflorestamento <strong>de</strong> matas nativas. No mundo já existem áreas<br />

significativas <strong>de</strong> reflorestamento para fins comerciais como produção <strong>de</strong><br />

carvão vegetal, papel e ma<strong>de</strong>ira. No entanto essas áreas não <strong>de</strong>vem ser<br />

usadas como neutralizadores <strong>de</strong> outras emissões externas, pois o<br />

carbono sequestrado po<strong>de</strong> ser lançado posteriormente na atmosfera na<br />

queima <strong>de</strong> carvão vegetal por exemplo. O reflorestamento com espécies<br />

nativas além <strong>de</strong> neutralizar outras emissões reecria a biodiversida<strong>de</strong> que<br />

foi perdida no momento do <strong>de</strong>smatamento da área. O estudo da


McKinsey estima em 2,4 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente o<br />

potencial <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong> carbono em 2030 através do reflorestamento<br />

<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>gradadas e <strong>de</strong> áreas marginais <strong>de</strong> pastos e terras agrícolas.<br />

Para isso será necessário o plantio nos próximos 20 anos <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong><br />

3,3 milhões <strong>de</strong> km², configurando um sequestro aproximado médio por<br />

hectare <strong>de</strong> 7,2 toneladas anuais <strong>de</strong> CO2, o que equivale a um sequestro<br />

<strong>de</strong> 2 toneladas <strong>de</strong> carbono anuais. Existem regiões como a floresta<br />

amazônica que apresentam um potencial muito maior <strong>de</strong> sequestro <strong>de</strong><br />

CO2 por hectare. Um hectare reflorestado na Amazônia po<strong>de</strong> fixar entre<br />

6 e 9 toneladas <strong>de</strong> carbono por ano 28 . Outro ponto é que quando se<br />

refloresta uma <strong>de</strong>terminada área, esse seqüestro anual <strong>de</strong> carbono se<br />

mantém por 20, 30 anos, ou seja, enquanto a mata vai crescendo. Então<br />

o seqüestro <strong>de</strong> CO2 através do reflorestamento continuará por mais<br />

alguns anos após 2030.<br />

Alguns ambientalistas questionam se há terra suficiente para<br />

fazer reflorestamentos tão extensos e ao mesmo tempo aumentar a<br />

produção agrícola sem <strong>de</strong>smatar novas áreas. No mundo existem 25<br />

milhões <strong>de</strong> km² <strong>de</strong> área agricultáveis sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />

<strong>de</strong>smatamentos. Essa área <strong>de</strong>ve aumentar um pouco mais nas próximas<br />

2 décadas, mesmo no cenário <strong>de</strong> controle do <strong>de</strong>smatamento, já que a<br />

diminuição ocorrerá gradativamente ao longo dos anos. O<br />

<strong>de</strong>smatamento tropical, mesmo que num ritmo menor, gerará novas<br />

áreas para a produção agrícola. Dos 25 milhões <strong>de</strong> km², 14 milhões <strong>de</strong><br />

km² (56% do total) estão sendo usados para agricultura ou para pecuária<br />

e 11 milhões ainda po<strong>de</strong>m ser aproveitadas. Em 1960, a humanida<strong>de</strong><br />

usava uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra similar a atual para alimentar 3 bilhões<br />

<strong>de</strong> pessoas, com uma dieta <strong>de</strong> 2400 calorias diárias. Hoje essa<br />

quantida<strong>de</strong> terra é capaz <strong>de</strong> alimentar 6 bilhões <strong>de</strong> pessoas com uma<br />

dieta <strong>de</strong> 3000 calorias diárias. Uma gran<strong>de</strong> parte da população<br />

abandonou o campo e foi para a cida<strong>de</strong> nesse período, mas o aumento<br />

explosivo da produtivida<strong>de</strong> agrícola conseguiu quase que triplicar a<br />

produção, com menos trabalhadores e a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra. Nas<br />

próximas 4 décadas a taxa <strong>de</strong> crescimento populacional e a taxa <strong>de</strong><br />

crescimento da ingestão calórica serão menores. Por isso o aumento da<br />

28 Revista Scientific American Brasil, edição 6, novembro <strong>de</strong> 2002, versão<br />

eletrônica, reportagem “a Amazônia e o carbono Atmosférico”. A reportagem<br />

na íntegra está no site:<br />

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_amazonia_e_o_carbono_atmosfer<br />

ico_imprimir.html


produção agrícola não será tão gran<strong>de</strong> quanto foi no período 1960-2008.<br />

Através da continuação do aumento da produtivida<strong>de</strong> agrícola e <strong>de</strong> uma<br />

boa utilização dos 11 milhões <strong>de</strong> km² restantes <strong>de</strong> terras agricultáveis,<br />

po<strong>de</strong>remos entre 2011 e 2030 aumentar a produção agrícola, diminuir<br />

fortemente o <strong>de</strong>smatamento tropical e reflorestar gran<strong>de</strong>s áreas com<br />

espécies nativas.<br />

O reflorestamento <strong>de</strong> matas nativas tem potencial <strong>de</strong> neutralizar<br />

qualquer emissão em qualquer setor econômico, não somente as<br />

emissões residuais do <strong>de</strong>smatamento tropical. Uma excelente alternativa<br />

é a neutralização <strong>de</strong> combustível nos postos <strong>de</strong> gasolina. Sabe-se que 1<br />

litro <strong>de</strong> gasolina emite 2,3 kg <strong>de</strong> CO2 na atmosfera. A quantificação <strong>de</strong><br />

emissões <strong>de</strong> um consumidor <strong>de</strong> gasolina ou <strong>de</strong> um posto é muito mais<br />

fácil e precisa do que a quantificação <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> uma empresa que<br />

necessita <strong>de</strong> cálculos complexos e muitas vezes imprecisos. Existe uma<br />

empresa <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> combustível no Brasil que está realizando a<br />

neutralização do combustível consumido no posto <strong>de</strong> gasolina. Os<br />

postos Ipiranga, uma re<strong>de</strong> que é responsável pela distribuição <strong>de</strong> 14<br />

bilhões <strong>de</strong> litros <strong>de</strong> combustível no Brasil, criou um cartão <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

chamado cartão Ipiranga Carbono Zero 29 . O consumidor que abastece o<br />

carro com o cartão tem o seu combustível neutralizado, através do<br />

reflorestamento <strong>de</strong> matas nativas em 3 estados brasileiros (São Paulo,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, Paraná) . Inicialmente a distribuidora financiou o plantio<br />

<strong>de</strong> uma área suficiente para neutralizar 5 mil toneladas <strong>de</strong> CO2. Apenas<br />

uma pequena parcela <strong>de</strong> combustível da distribuidora está sendo<br />

neutralizada, referente exclusivamente ao combustível pago com o<br />

Ipiranga Carbono Zero, mas a idéia tem um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong><br />

ampliação. Fazendo uma comparação, os cartões <strong>de</strong> Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong><br />

tradicionais da re<strong>de</strong> Ipiranga oferecem um <strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> 4 centavos <strong>de</strong><br />

real por litro <strong>de</strong> combustível consumido, enquanto o Cartão Carbono<br />

Zero não oferece <strong>de</strong>scontos no combustível, somente o ganho ambiental.<br />

Isso evi<strong>de</strong>ncia que os consumidores po<strong>de</strong>m estar dispostos a trocar um<br />

pequeno ganho econômico pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar o clima do<br />

planeta. O programa <strong>de</strong> neutralização está sendo validado pela Bureau<br />

Veritas Certification, uma empresa certificadora presente em mais <strong>de</strong><br />

140 países. Veja a foto do cartão:<br />

29 O site do cartão é: http://www.cartaoipirangacarbonozero.com.br/


O custo <strong>de</strong> 4 centavos por litro que o consumidor paga é muito<br />

baixo, além <strong>de</strong> ser um valor próximo das estimativas do relatório da<br />

McKinsey. O estudo afirma que o custo médio para se evitar a emissões<br />

no período 2011-2030 no setor <strong>de</strong> silvicultura é <strong>de</strong> 9 euros por tonelada<br />

<strong>de</strong> CO2, o que equivale a um custo <strong>de</strong> 27 reais. São necessários a queima<br />

<strong>de</strong> 434 litros <strong>de</strong> gasolina para se emitir 1 tonelada <strong>de</strong> CO2. Aplicando-se<br />

o custo <strong>de</strong> 27 reais por tonelada evitada, o custo para se neutralizar 1<br />

litro <strong>de</strong> gasolina é <strong>de</strong> 6,2 centavos <strong>de</strong> real (27 : 434). No caso da<br />

gasolina brasileira o custo ainda é menor porque há uma adição <strong>de</strong> 24%<br />

<strong>de</strong> álcool, que tem suas emissões neutralizadas pelo crescimento da<br />

cana-<strong>de</strong>-açúcar. Um custo entre 4 e 6 centavos <strong>de</strong> real diante <strong>de</strong> um<br />

preço final da gasolina que ultrapassa 2 reais por litro no caso brasileiro<br />

é plenamente viável <strong>de</strong> ser pago pelo consumidor final até mesmo <strong>de</strong><br />

forma voluntária.<br />

2) Fortalecimento das instituições<br />

Combater o <strong>de</strong>smatamento tropical no mundo exige um<br />

aumento da participação estatal no controle do uso da terra. Sem<br />

presença dos governos, as áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento se tornam terras sem<br />

lei, on<strong>de</strong> quem <strong>de</strong>smata predatoriamente e posteriormente a ocupa se<br />

torna dono. Na Amazônia brasileira, por exemplo, menos <strong>de</strong> 10% das<br />

terras têm títulos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> claros. O primeiro passo é fazer a<br />

regularização fundiária, dando títulos <strong>de</strong> terra para os posseiros que já se<br />

estabeleceram a um <strong>de</strong>terminado tempo em regiões que foram<br />

<strong>de</strong>smatadas no passado e que hoje <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s<br />

agropecuárias. O segundo passo é a ocupação efetiva das gran<strong>de</strong>s áreas<br />

<strong>de</strong> florestas preservadas por parte dos governos e a posterior concessão<br />

<strong>de</strong>ssas terras para empresas que realizem a extração sustentável da


ma<strong>de</strong>ira. Outra opção é a transformação <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong> florestas<br />

preservadas em parques nacionais com gran<strong>de</strong> presença <strong>de</strong> guardas<br />

florestais na fiscalização. O importante é separar as áreas <strong>de</strong>smatadas<br />

das áreas preservadas, garantindo segurança jurídica para as terras e<br />

atraindo empresas formais e sérias para o campo. Impor que áreas<br />

<strong>de</strong>smatadas no passado sejam reflorestadas pelos posseiros com recursos<br />

próprios, como alguns ambientalistas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m, geraria um impacto<br />

econômico tão negativo que inviabilizaria no campo político a<br />

implementação das ações. Após o estabelecimento da regularização<br />

fundiária se faz necessário o investimento em recursos policiais e<br />

judiciários que garantirão a manutenção da segurança jurídica no<br />

campo.<br />

3)Monitoramento e fiscalização<br />

Um gran<strong>de</strong> aliado no combate do <strong>de</strong>smatamento tropical é o<br />

monitoramento via satélite das áreas efetivamente <strong>de</strong>smatadas. No<br />

entanto é preciso que agentes ambientais <strong>de</strong> campo efetivem na floresta<br />

a fiscalização. Os moradores das comunida<strong>de</strong>s locais também po<strong>de</strong>m<br />

ajudar no trabalho <strong>de</strong> fiscalização através <strong>de</strong> incentivos financeiros.<br />

Além dos agentes que combatem o <strong>de</strong>smatamento, se faz necessário o<br />

aumento <strong>de</strong> fiscais que controlem as ativida<strong>de</strong>s predatórias que se<br />

sustentam do <strong>de</strong>smatamento. Nesse processo é muito importante a<br />

rastreabilida<strong>de</strong> dos rebanhos e dos produtos agrícolas, garantindo a<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> que a produção não provenha <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>smatadas. A<br />

participação do consumidor nacional e internacional, exigindo a origem<br />

ambiental do produto, completa o monitoramento.<br />

4)Incentivos econômicos para ativida<strong>de</strong>s sustentáveis<br />

Simplesmente apertar as causas do <strong>de</strong>smatamento não resolve o<br />

problema. As ativida<strong>de</strong>s associadas ao <strong>de</strong>smatamento são fundamentais<br />

para o funcionamento das economias locais. Se faz necessário criar<br />

incentivos para que novas ca<strong>de</strong>ias produtivas sejam criadas e que as<br />

ca<strong>de</strong>ias tradicionais sejam aperfeiçoadas. O <strong>de</strong>smatamento predatório<br />

po<strong>de</strong> ser substituído pelo manejo sustentável da floresta através da<br />

concessão <strong>de</strong> uso para empresas privadas certificadas. Enquanto no<br />

<strong>de</strong>smatamento convencional se tira a ma<strong>de</strong>ira que a indústria precisa e<br />

se queima o resto da floresta, no <strong>de</strong>smatamento com manejo se retira<br />

apenas a ma<strong>de</strong>ira com valor comercial e se <strong>de</strong>ixa o resto da floresta<br />

quase intacta. Depois <strong>de</strong> alguns anos as árvores com valor comercial


crescem e po<strong>de</strong>m ser extraídas novamente. Essa alternativa resolve com<br />

sucesso a extração da ma<strong>de</strong>ira, mas as ativida<strong>de</strong>s agropecuárias almejam<br />

aumentar sua produção através do aumento das áreas <strong>de</strong> plantio. Para<br />

aumentar a produção sem precisar aumentar a área <strong>de</strong> produção é<br />

necessário principalmente tornar a pecuária mais intensiva (a ativida<strong>de</strong><br />

que mais ocupa terras) e reaproveitar áreas <strong>de</strong>gradadas. Um exemplo <strong>de</strong><br />

sucesso é o sistema <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>senvolvido na Embrapa (Empresa<br />

Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária) on<strong>de</strong> há uma integração entre<br />

lavoura e pecuária 30 . O produtor cria 3 bois por hectare ao invés da<br />

criação <strong>de</strong> 0,7 bois por hectare extensiva. A técnica consiste em plantar<br />

milho e outros grãos em uma área separada, para alimentar o rebanho. O<br />

gado ocupa menos pasto e as terras são adubadas pela alternância entre<br />

bois e lavoura. Além <strong>de</strong> reduzir os custos com a recuperação das áreas<br />

<strong>de</strong>gradadas, essa técnica aumenta os ganhos do produtor. A produção da<br />

pecuária po<strong>de</strong>rá crescer por décadas sem <strong>de</strong>smatamento ao mesmo<br />

tempo em que parte das áreas <strong>de</strong> pecuária é substituída pela produção<br />

agrícola <strong>de</strong> grãos como a soja. Outra forma <strong>de</strong> manter a floresta em pé é<br />

pagar uma espécie <strong>de</strong> bolsa-floresta para que proprietários <strong>de</strong> terra e<br />

ribeirinhos moradores da floresta conservem as matas. Por último é<br />

importante <strong>de</strong>sincentivar ativida<strong>de</strong>s predatórias através da proibição <strong>de</strong><br />

créditos governamentais e da maior taxação <strong>de</strong> impostos sobre essas<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

Diante do custo mais baixo para efetivar as soluções <strong>de</strong> mitigação<br />

<strong>de</strong> emissões no setor <strong>de</strong> Silvicultura em comparação com os setores<br />

econômicos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos combustíveis fósseis, a ONU estuda uma<br />

forma <strong>de</strong> incluir a preservação <strong>de</strong> florestas entre as categorias <strong>de</strong><br />

projetos <strong>de</strong> MDL em 2013, na próxima fase do Protocolo <strong>de</strong> Kyoto.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> crédito <strong>de</strong> carbono será chamado <strong>de</strong> Redd (Emissões<br />

Reduzidas do Desmatamento e da Degradação). As nações ricas<br />

comprariam créditos <strong>de</strong> carbono das comunida<strong>de</strong>s e regiões que<br />

evitassem o <strong>de</strong>smatamento ilegal a fim <strong>de</strong> cumprir suas metas<br />

obrigatórias <strong>de</strong> emissão. Um gran<strong>de</strong> risco é que se pague para preservar<br />

30<br />

Um estudo interessante sobre o Sistema integrado lavoura-pecuária po<strong>de</strong> ser<br />

encontrado no link:<br />

http://www.cpatu.embrapa.br/publicacoes_online/documentos-<br />

1/2008/diagnostico-e-mo<strong>de</strong>lagem-da-integracao-lavoura-pecuaria-naregiao-<strong>de</strong>-paragominas-pa/at_download/PublicacaoArquivo


uma <strong>de</strong>terminada área e que isso empurre o <strong>de</strong>smatamento para outras<br />

regiões, os chamados “vazamentos”. O importante é que não apenas se<br />

exija o cumprimento das iniciativas nos mol<strong>de</strong>s dos projetos <strong>de</strong> MDL<br />

tradicionais, mas que se exijam também metas nacionais <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>smatamento dos países recebedores dos créditos.<br />

Além <strong>de</strong> conter as emissões <strong>de</strong> CO2, a diminuição do<br />

<strong>de</strong>smatamento tropical po<strong>de</strong> evitar outro tipo <strong>de</strong> mudança climática.<br />

Graças a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evaporar enormes volumes <strong>de</strong> água, as florestas<br />

servem para manter fria e úmida a região que as abriga, revestindo-a<br />

com nuvens que refletem calor e trazem a chuva que as sustenta. Mais<br />

do que isso as gran<strong>de</strong>s florestas tropicais são parte do resfriamento do ar<br />

da Terra. O <strong>de</strong>smatamento já causou o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> 65% das<br />

florestas naturais. Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> computador prevêem que se 70% das<br />

árvores do planeta forem <strong>de</strong>rrubadas, o sistema regulador <strong>de</strong><br />

temperatura que elas proporcionam per<strong>de</strong>rá a sua eficiência 31 . Sem isso<br />

o <strong>aquecimento</strong> é inevitável. Outro serviço ambiental importante são os<br />

chamados “Rios Voadores” 32 , on<strong>de</strong> regiões que estão longe da floresta<br />

tropical, são beneficiadas com chuvas que se formam nas regiões<br />

florestais. No Brasil, as regiões Centro-Oeste e Su<strong>de</strong>ste, celeiros<br />

agrícolas do Brasil e do Mundo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m fortemente da Floresta<br />

Amazônica para formação <strong>de</strong> chuvas. Então o combate ao<br />

<strong>de</strong>smatamento também proporciona essa estabilização climática como<br />

bônus, aumentando ainda mais a sua importância.<br />

A socieda<strong>de</strong> <strong>global</strong> <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>cidir como usar o espaço terrestre<br />

racionalmente. Se nós precisamos <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

diferente (sustentável nas florestas tropicais restantes e nas áreas<br />

agrícolas) do mo<strong>de</strong>lo tradicional até hoje realizado, se os países<br />

<strong>de</strong>smatadores estão dispostos a receber dinheiro em troca <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo<br />

e se é mais fácil e barato mudar as ativida<strong>de</strong>s econômicas marginais que<br />

<strong>de</strong>stroem a floresta do que mudar as ativida<strong>de</strong>s econômicas principais<br />

do mundo para conter o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, se faz necessário que os<br />

países <strong>de</strong>senvolvidos e os países em <strong>de</strong>senvolvimento em conjunto<br />

paguem por essa preservação.<br />

31 Revista Aquecimento Global, Ano 1, nº 2, Editora Online, página 22.<br />

32 O termo se refere as correntes <strong>de</strong> ar que carregam umida<strong>de</strong> e vapor d'água


Capítulo 8: A redução <strong>de</strong> emissões na Amazônia<br />

Neste capítulo venho ressaltar a importância da Amazônia no<br />

cenário <strong>de</strong> reduções <strong>de</strong> gases estufa. As emissões da Amazônia<br />

obviamente estão incluídas no setor <strong>de</strong> silvicultura, abordado no<br />

capítulo anterior, mas a dimensão da floresta e das suas respectivas<br />

emissões merece uma análise mais específica. O Brasil <strong>de</strong>tém mais da<br />

meta<strong>de</strong> da área <strong>de</strong> florestas tropicais remanescentes do mundo, num<br />

total <strong>de</strong> 4,6 milhões <strong>de</strong> km², sendo que a maioria absoluta <strong>de</strong>ssas áreas<br />

está na Amazônia. Isso representa um patrimônio colossal <strong>de</strong><br />

biodiversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> climática e <strong>de</strong> recursos naturais não só<br />

para o Brasil, mas para o mundo inteiro. No entanto esse patrimônio<br />

vem sendo ameaçado nas últimas décadas. A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento<br />

brasileira atingiu uma média <strong>de</strong> 19 mil km² entre 1996 e 2005. O<br />

<strong>de</strong>smatamento brasileiro emitiu na média dos últimos anos 1,2 bilhão <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> CO2 anualmente, sendo 0,8 bilhão somente no bioma<br />

amazônico. O Brasil sozinho é responsável por 22% das emissões<br />

advindas do <strong>de</strong>smatamento no mundo.<br />

A <strong>de</strong>struição da floresta amazônica é realizada através <strong>de</strong> uma<br />

simbiose entre as ma<strong>de</strong>reiras e os pecuaristas. O processo começa com a<br />

extração da ma<strong>de</strong>ira. As ma<strong>de</strong>ireiras retiram apenas as árvores <strong>de</strong> valor<br />

comercial que estão dispersas na mata. Mas, para cada árvore retirada,<br />

outras 27 são danificadas. Com as estradas, uma ma<strong>de</strong>ireira predatória<br />

<strong>de</strong>grada 60% da floresta. Os pecuaristas, geralmente associados às<br />

ma<strong>de</strong>ireiras, <strong>de</strong>rrubam o que sobrou da mata e plantam capim para o<br />

gado. Criados livres no campo, sem ração, os bois precisam todo ano <strong>de</strong><br />

novas áreas <strong>de</strong>rrubadas para a formação <strong>de</strong> pasto. O pasto é abandonado<br />

em pouco tempo. Cerca <strong>de</strong> 30% das pastagens duram menos que cinco<br />

anos. Nas terras abandonadas, a floresta não se recupera porque o solo<br />

foi compactado pelos bois e empobrecido pelo fogo. Resta uma<br />

vegetação rala, com arbustos. Dos 72 milhões <strong>de</strong> hectares já <strong>de</strong>vastados<br />

na Amazônia, cerca <strong>de</strong> 56 milhões <strong>de</strong> hectares são ocupados por uma<br />

pecuária <strong>de</strong> baixa produtivida<strong>de</strong> e outros 16,5 milhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong><br />

áreas foram abandonados pelo empobrecimento do solo.<br />

Felizmente, a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento caiu fortemente na<br />

Amazônia Legal nos ano <strong>de</strong> 2008 e 2009. Em 2008 foram <strong>de</strong>smatados<br />

12,9 mil km² enquanto que em 2009 foram <strong>de</strong>smatados 7 mil km².No


entanto o <strong>de</strong>smatamento no ano <strong>de</strong> 2009 não po<strong>de</strong> ser utilizado como<br />

referência <strong>de</strong>finitiva. Ao contrário da indústria dos combustíveis fósseis,<br />

que apresenta pequenas variações <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> um ano para outro, o<br />

<strong>de</strong>smatamento tropical apresenta gran<strong>de</strong>s variações. Num ano <strong>de</strong> crise<br />

econômica como 2009 on<strong>de</strong> a economia mundial esteve em recessão, há<br />

pouca <strong>de</strong>manda por novas áreas para a agropecuária, enquanto num ano<br />

<strong>de</strong> vigoroso crescimento econômico há um gran<strong>de</strong> aumento na <strong>de</strong>manda<br />

por terras. Por isso os esforços precisam aumentar para que a redução<br />

continue. O Fundo Amazônia 33 po<strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> aliado nessa tarefa<br />

<strong>de</strong> redução permanente. Ele é um fundo criado pelo governo brasileiro<br />

que tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> captar doações para investimentos nãoreembolsáveis<br />

em ações <strong>de</strong> prevenção, monitoramento e combate ao<br />

<strong>de</strong>smatamento, e <strong>de</strong> promoção da conservação e do uso sustentável das<br />

florestas no bioma amazônico. Essas doações po<strong>de</strong>m vir <strong>de</strong> governos,<br />

instituições multilaterais, organizações não governamentais e empresas.<br />

O primeiro contrato do Fundo Amazônia foi celebrado em 2009 com o<br />

Governo da Noruega, on<strong>de</strong> foram doados US$ 100 milhões.<br />

A consultoria McKinsey, ciente da importância da Amazônia,<br />

realizou o mais abrangente estudo já feito para quantificar o custo <strong>de</strong> se<br />

zerar o <strong>de</strong>smatamento na região. No estudo “Caminhos para uma<br />

economia <strong>de</strong> baixa emissão <strong>de</strong> carbono no Brasil” 34 houve uma atenção<br />

especial para quantificar esse <strong>de</strong>safio. O custo total foi estimado em 17<br />

bilhões <strong>de</strong> reais (5,5 bilhões <strong>de</strong> euros) anuais nos próximos 20 anos.<br />

Desse valor 7,2 bilhões <strong>de</strong> reais se referem ao combate do<br />

<strong>de</strong>smatamento propriamente dito, investindo em iniciativas <strong>de</strong><br />

fortalecimento das instituições, <strong>de</strong> fiscalização, <strong>de</strong> monitoramento e <strong>de</strong><br />

incentivos econômicos a ativida<strong>de</strong>s sustentáveis. Outros 10 bilhões <strong>de</strong><br />

reais anuais foram estimados como necessários para criar empregos<br />

urbanos com maior valor agregado nas pequenas cida<strong>de</strong>s e aumentar o<br />

investimento em dimensões básicas como saú<strong>de</strong> e educação na região<br />

Amazônica e <strong>de</strong>ssa forma melhorar os índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho humano<br />

da população, trazendo esses índices para o patamar nacional. A<br />

McKinsey salientou que esse custo adicional po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como<br />

um gasto do País necessário para trazer os Estados do bioma Amazônia<br />

ao patamar da média nacional, ou incluído no balanço geral do custo <strong>de</strong><br />

33 http://www.fundoamazonia.gov.br/<br />

34 O estudo po<strong>de</strong> ser acessado no link:<br />

http://www.mckinsey.com.br/sao_paulo/carbono.pdf


edução do <strong>de</strong>smatamento. Acredito que os financiadores (governos,<br />

empresas) nacionais e internacionais do combate ao <strong>de</strong>smatamento na<br />

Amazônia <strong>de</strong>vem custear apenas os 7,2 bilhões <strong>de</strong> reais anuais iniciais.<br />

O investimento adicional <strong>de</strong> 10 bilhões <strong>de</strong> reais por ano para melhorar<br />

os indicadores sociais e econômicos da região não é imprescindível para<br />

se zerar o <strong>de</strong>smatamento. No custo inicial estimado <strong>de</strong> 7,2 bilhões <strong>de</strong><br />

reais anuais já estão incluídos investimentos em ativida<strong>de</strong>s sustentáveis<br />

no campo como a exploração sustentável da floresta, a pecuária<br />

intensiva sem ração externa e a concessão <strong>de</strong> bolsa-floresta para manter<br />

a floresta em pé, que po<strong>de</strong>rão substituir com sucesso a agropecuária e o<br />

<strong>de</strong>smatamento predatórios. Quanto aos empregos urbanos e a melhoria<br />

da saú<strong>de</strong> e da educação na região, eles <strong>de</strong> fato aceleram a redução do<br />

<strong>de</strong>smatamento porque absolvem mão-<strong>de</strong>-obra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

predatórias, mas po<strong>de</strong>m ser fomentados por investimentos na construção<br />

<strong>de</strong> hidrelétricas na região que não precisam <strong>de</strong> incentivos econômicos<br />

para se concretizarem.<br />

O Brasil precisa aumentar a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia<br />

elétrica para suprir o crescimento econômico das próximas décadas. A<br />

produção através das usinas hidrelétricas surge como a melhor<br />

alternativa, já que apresenta o menor custo econômico <strong>de</strong> produção,<br />

inferior ao custo dos combustíveis fósseis e das fontes alternativas.<br />

Além disso, a energia hidrelétrica elétrica representa uma forma <strong>de</strong><br />

obtenção <strong>de</strong> energia limpa. Apenas 25% do potencial hidrelétrico<br />

brasileiro está sendo aproveitado. A gran<strong>de</strong> maioria do potencial não<br />

aproveitado está localizado na Amazônia. O governo brasileiro tem<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s hidrelétricas na região,<br />

mas tem sofrido gran<strong>de</strong>s pressões ambientais que têm dificultado a<br />

implementação dos projetos, principalmente através <strong>de</strong> embargos<br />

judiciais. Os grupos ambientalistas afirmam que as hidrelétricas<br />

<strong>de</strong>struirão a biodiversida<strong>de</strong> das áreas alagadas e mudarão o curso natural<br />

dos rios. Por outro lado o Brasil quer a energia barata da Amazônia e os<br />

moradores da região querem os vultosos investimentos na construção<br />

das usinas. O investimento <strong>de</strong> 20 bilhões <strong>de</strong> reais nas usinas<br />

hidrelétricas <strong>de</strong> Jirau e Santo Antonio, por exemplo, mudarão o perfil<br />

econômico do estado <strong>de</strong> Rondônia localizado na Amazônia brasileira.<br />

Apesar dos possíveis impactos ambientais, temos que analisar<br />

prioritariamente a proporcionalida<strong>de</strong> entre os benefícios econômicos e<br />

os impactos ambientais. As hidrelétricas projetadas são usinas fios<br />

d'água, que apresentam lagos artificiais pequenos. Enquanto a usina <strong>de</strong>


Jirau, que será construída no rio Ma<strong>de</strong>ira, alagará 0,08 km² por cada<br />

MW gerado, a média nacional das usinas existentes é <strong>de</strong> 0,57 km²<br />

alagado por cada MW gerado. Mesmo esse pequeno alagamento<br />

proporcional gerará pesadas compensações ambientais (exemplo:<br />

reflorestamentos) que serão custeadas pelos construtores das<br />

hidrelétricas. Se compararmos o impacto ambiental das hidrelétricas<br />

com o impacto ambiental da pecuária extensiva na Amazônia, os valores<br />

chegam a ser ridículos. Enquanto 1 MW <strong>de</strong> energia po<strong>de</strong> abastecer uma<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 50 mil pessoas, inundando uma área <strong>de</strong> 8 hectares, nessa<br />

mesma área se cria apenas 5 cabeças <strong>de</strong> gado através da pecuária<br />

extensiva. Uma área centenas <strong>de</strong> vezes maior é necessária para que a<br />

pecuária forneça o mesmo resultado econômico das hidrelétricas. Tornase<br />

uma gran<strong>de</strong> ilusão acreditar que a humanida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> viver com<br />

impacto ambiental zero, que a Amazônia precisa virar um santuário<br />

virgem intocado. O que precisamos é <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas com BAIXO impacto ambiental. As hidrelétricas po<strong>de</strong>m se<br />

tornar na realida<strong>de</strong> protetoras da floresta amazônica gerando<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico nas zonas urbanas através dos<br />

investimentos <strong>de</strong> construção num momento inicial e posteriormente<br />

através dos ganhos dos estados amazônicos com os royalties e os<br />

impostos arrecadados no momento <strong>de</strong> funcionamento. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico po<strong>de</strong>rá absolver mão-<strong>de</strong>-obra que<br />

atualmente se encontra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alto impacto<br />

ambiental como o <strong>de</strong>smatamento predatório e a pecuária extensiva,<br />

enquanto a arrecadação <strong>de</strong> impostos e <strong>de</strong> royalties po<strong>de</strong>rá financiar a<br />

melhoria dos indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação da população que resi<strong>de</strong><br />

na Amazônia.<br />

Com o investimento <strong>de</strong> 7,2 bilhões <strong>de</strong> reais anuais, o equivalente<br />

a 2,4 bilhões <strong>de</strong> euros, o <strong>de</strong>smatamento da Amazônia brasileira cessará e<br />

a floresta será preservada para as futuras gerações. Temos nas próximas<br />

2 páginas um resumo das iniciativas propostas 35 pela McKinsey para a<br />

Amazônia com os respectivos custos <strong>de</strong> cada uma em euros, inclusive<br />

com as iniciativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico e social que foram<br />

consi<strong>de</strong>radas dispensáveis. Veja as iniciativas na próxima página:<br />

35 Essas iniciativas propostas estão no estudo “ Caminhos para uma economia<br />

<strong>de</strong> baixa emissão <strong>de</strong> carbono no Brasil”


Capítulo 9: O sequestro geológico <strong>de</strong> CO2<br />

O sequestro geológico <strong>de</strong> CO2 transforma as fontes fósseis em<br />

fontes <strong>de</strong> suprimento <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> baixo carbono. Ele consiste no<br />

princípio <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver ao subsolo o carbono retirado, que antes estava<br />

presente na forma <strong>de</strong> petróleo, carvão mineral e gás natural. O CO2<br />

emitido por termelétricas, refinarias e indústrias é capturado,<br />

transportado e armazenado em campos <strong>de</strong> petróleo antigos, camadas <strong>de</strong><br />

carvão, ou aquíferos salinos. As fontes fósseis que sequestram<br />

geologicamente o CO2 diferem das fontes limpas não emissoras <strong>de</strong> gases<br />

estufa porque produzem um passivo ambiental. O CO2 estocado precisa<br />

ser monitorado para se evitar possíveis vazamentos. A diminuição <strong>de</strong><br />

emissões via armazenamento geológico possibilitará uma transição<br />

ambientalmente segura no processo <strong>de</strong> substituição das fontes fosseis<br />

por fontes renováveis limpas.<br />

Com a temática do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> cada vez mais presente<br />

na socieda<strong>de</strong>, as indústrias sujas estão como "a fera acuada". Enquanto<br />

parte da opinião pública <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o fechamento <strong>de</strong>las, essas empresas<br />

procuram uma forma <strong>de</strong> se tornarem ambientalmente sustentáveis e bem<br />

vistas pela socieda<strong>de</strong>. O sequestro geológico é avaliado como única<br />

forma <strong>de</strong> sobrevivência no longo prazo. O armazenamento <strong>de</strong> líquidos e<br />

gases em reservatórios geológicos é uma ativida<strong>de</strong> exercida a décadas<br />

pela indústria do petróleo 36 . A injeção <strong>de</strong> CO2 em campos petrolíferos<br />

tem a função <strong>de</strong> extrair o petróleo <strong>de</strong> difícil extração. O CO2 injetado se<br />

dissolve no petróleo, diminuindo a sua viscosida<strong>de</strong> e aumentando a sua<br />

mobilida<strong>de</strong>, propiciando a extração <strong>de</strong> até 40% do petróleo não extraído<br />

<strong>de</strong> forma convencional. Essa tecnologia já é empregada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década<br />

<strong>de</strong> 60 nos Estados Unidos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 80 no Brasil. Então a<br />

tecnologia <strong>de</strong> armazenamento geológico <strong>de</strong> CO2 não foi inventada<br />

recentemente, apenas adaptada para a mitigação <strong>de</strong> emissões<br />

atmosféricas. O sequestro geológico <strong>de</strong> CO2 para essa finalida<strong>de</strong>, já foi<br />

<strong>de</strong>monstrado em projetos <strong>de</strong> pequena escala, que injetam menos <strong>de</strong> 10<br />

milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 por ano. O principal projeto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstração no mundo é o Sleipner, operado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996 pela<br />

36 Fonte: http://www.pucrs.br/cepac/download/CEPAC_FOLHETO.pdf<br />

O CEPAC é o Centro <strong>de</strong> Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento <strong>de</strong><br />

Carbono, localizada na PUCRS, estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Brasil.


petrolífera norueguesa StatoilHydro, que injeta CO2 separado <strong>de</strong> gás<br />

natural na formação Utsira, um aquífero salino situado a 900m abaixo<br />

do leito do Mar do Norte. O projeto In Salah, na Argélia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004<br />

injeta CO2 em um aquífero salino a 2km <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> abaixo da<br />

superfície do <strong>de</strong>serto do Saara. O que ainda falta é o uso comercial em<br />

massa do armazenamento geológico <strong>de</strong> CO2, mas a tecnologia já existe.<br />

Nos próximos anos haverá o amadurecimento comercial do processo.<br />

Veja a imagem 37 com a injeção <strong>de</strong> CO2 no subsolo:<br />

Fgfffg<br />

dgfgjfgjf<br />

O processo <strong>de</strong> sequestro geológico <strong>de</strong> CO2 começa com a<br />

captura do gás nas fontes estacionárias como indústrias e termelétricas.<br />

A captura é feita basicamente por 4 tipos <strong>de</strong> tecnologia: pós-combustão,<br />

pré-combustão, oxi-combustão e processos industriais. Na pós-<br />

37 A imagem está no site:<br />

http://www.pucrs.br/cepac/download/SemanaAca<strong>de</strong>micaQuimica_RSI.pps


combustão e nos processos industriais o CO2 é extraído dos gases <strong>de</strong><br />

exaustão. No processo <strong>de</strong> pré-combustão, o carbono é extraído da sua<br />

combustão antes da sua queima, sendo produzido o gás <strong>de</strong> síntese,<br />

composto por hidrogênio e monóxido <strong>de</strong> carbono. Depois o gás <strong>de</strong><br />

síntese reage com água para a transformação <strong>de</strong> CO (monóxido <strong>de</strong><br />

carbono) em CO2. No processo <strong>de</strong> oxi-combustão, o combustível é<br />

queimado com alto teor <strong>de</strong> oxigênio ao invés <strong>de</strong> ar, obtendo CO2<br />

praticamente puro como gás <strong>de</strong> exaustão 38 .<br />

Após a captura, o CO2 precisa ser comprimido e transportado<br />

até o seu local <strong>de</strong> injeção em formações geológicas apropriadas. O<br />

transporte <strong>de</strong> CO2 po<strong>de</strong> ser realizado através <strong>de</strong> carbodutos ou através <strong>de</strong><br />

navios tanques.<br />

O armazenamento geológico do CO2 po<strong>de</strong> ser feito <strong>de</strong> forma<br />

segura em três tipos <strong>de</strong> reservatórios: campos <strong>de</strong> petróleo, aqüíferos<br />

salinos e camadas <strong>de</strong> carvão. Os campos <strong>de</strong> petróleo são reservatórios<br />

geológicos, que abrigam petróleo e gás, que ficaram aprisionados<br />

naturalmente por milhões <strong>de</strong> anos. Muitos <strong>de</strong>sses reservatórios foram<br />

exauridos pelo consumo humano, e o espaço po<strong>de</strong> ser aproveitado para<br />

armazenamento <strong>de</strong> CO2. Segundo a Agência Internacional <strong>de</strong> Energia,<br />

os campos <strong>de</strong> petróleo do mundo po<strong>de</strong>m armazenar 1 trilhão <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> CO2. Os aqüíferos salinos consistem em reservatórios <strong>de</strong><br />

água subterrânea com alta salinida<strong>de</strong>, por vezes similar ou maior que a<br />

água do mar, e que não po<strong>de</strong>m ser usadas para consumo humano. A<br />

injeção <strong>de</strong> CO2 em aqüíferos salinos <strong>de</strong>ve ocorrer em profundida<strong>de</strong>s<br />

superiores a 800m, para que o CO2 esteja em estado supercrítico, isto é,<br />

um gás com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> similar a <strong>de</strong> líquidos. Esses reservatórios<br />

possuem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenar 10 trilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 no<br />

mundo. As camadas <strong>de</strong> carvão po<strong>de</strong>m aprisionar CO2 em seus espaços<br />

porosos, sendo o armazenamento preferencialmente realizado em<br />

camadas profundas, isto é, camadas cuja exploração convencional não é<br />

economicamente viável. Estima-se que 200 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2<br />

po<strong>de</strong>m ser armazenados em camadas <strong>de</strong> carvão no mundo inteiro. Veja a<br />

foto 39 <strong>de</strong> um aqüífero salino:<br />

38 Fonte: http://www.pucrs.br/cepac/download/CEPAC_FOLHETO.pdf<br />

39 Fonte: http://www.pucrs.br/cepac/download/CEPAC_FOLHETO.pdf


Fotomicrografia <strong>de</strong> uma rocha reservatório<br />

Após o armazenamento, vem a fase <strong>de</strong> monitoramento da<br />

eficiência com que a formação geológica é capaz <strong>de</strong> reter o CO2 e,<br />

portanto, evitar vazamentos para a superfície ou outras unida<strong>de</strong>s<br />

geológicas. Estima-se que o risco <strong>de</strong> operação <strong>de</strong> injeção <strong>de</strong> CO2 seja<br />

similar ao risco <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s da indústria do petróleo. Do ponto<br />

<strong>de</strong> vista geológico, a eficiência das formações para o aprisionamento <strong>de</strong><br />

fluidos po<strong>de</strong> ser atestada pela ocorrência natural <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> dióxido<br />

<strong>de</strong> carbono. O CO2 injetado em formações geológicas po<strong>de</strong> ser<br />

precisamente monitorado, medido e verificado periodicamente através<br />

<strong>de</strong> tecnologias já maduras e disponíveis comercialmente. Dentre as<br />

técnicas mais avançadas encontra-se a sísmica 4D, que permite a<br />

obtenção <strong>de</strong> uma imagem do sub-solo, on<strong>de</strong> é possível verificar<br />

diretamente a presença do CO2, acompanhar o eventual <strong>de</strong>slocamento<br />

do CO2 injetado através da rocha, bem como medir o volume<br />

armazenado. A prática <strong>de</strong> monitoramento constante do armazenamento<br />

permite antecipar o comportamento do CO2 em sub-superfície e<br />

eventualmente promover ações <strong>de</strong> remediação.<br />

Mesmo com todas as medidas preventivas, alguns críticos<br />

questionam a segurança do processo <strong>de</strong> armazenamento geológico,<br />

quanto à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vazamento. Eles afirmam que em 1986, 1700<br />

camaroneses morreram asfixiados <strong>de</strong>vido a uma erupção natural <strong>de</strong> CO2<br />

no lago Nyos. No entanto não se po<strong>de</strong> comparar as emissões naturais <strong>de</strong><br />

um lago <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma cratera <strong>de</strong> um vulcão, que se encontra na<br />

superfície, com o CO2 armazenado a quilômetros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> em


áreas propícias para o armazenamento. O inci<strong>de</strong>nte no Lago Nyos é na<br />

verda<strong>de</strong> mais parecido com a erupção <strong>de</strong> um vulcão, um fenômeno<br />

natural que não po<strong>de</strong> ser evitado pelo homem. O que mais garante<br />

segurança para o processo <strong>de</strong> armazenamento geológico <strong>de</strong> CO2 é a<br />

reativida<strong>de</strong> do gás no subsolo. Quando ele é lançado num aqüífero<br />

salino ou num campo <strong>de</strong> petróleo, começam a ocorrer reações químicas<br />

com as rochas porosas <strong>de</strong>sses locais. O reservatório passa a sofrer uma<br />

acidificação. O gás carbônico reage com os minerais presentes no<br />

aqüífero salino, formando carbonatos. Então o dióxido <strong>de</strong> carbono acaba<br />

se transformando em substâncias inofensivas e sólidas. Enquanto o lixo<br />

atômico po<strong>de</strong> levar <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos para se tornar<br />

inofensivo, o CO2 vai reagindo nas décadas seguintes ao<br />

armazenamento e se tornando inofensivo. Isso é um diferencial a favor<br />

do armazenamento geológico <strong>de</strong> CO2. A seguir temos a reação química<br />

que forma a calcita e alguns exemplos 40 <strong>de</strong> outros carbonatos que o CO2<br />

forma no subsolo:<br />

calcita<br />

CaCO 3<br />

dawsonita<br />

NaAl(CO 3)(OH) 2<br />

magnesita<br />

MgCO 3<br />

si<strong>de</strong>rita<br />

FeCO 3<br />

dolomita<br />

(Ca,Mg)CO 3<br />

ankerita<br />

Ca(Fe,Mg,Mn)(CO 3 ) 2<br />

40 A imagem está no site:<br />

http://www.pucrs.br/cepac/download/SemanaAca<strong>de</strong>micaQuimica_RSI.pps


A consultoria McKinsey estima que em 2030 o uso do seqüestro<br />

geológico <strong>de</strong> carbono nos setores energético e industrial tem o potencial<br />

<strong>de</strong> abater entre 3,3 e 4,1 bilhões <strong>de</strong> toneladas anuais <strong>de</strong> CO2 equivalente<br />

a um custo entre 30 e 45 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente evitada.<br />

O custo líquido estimado em 2030 é ligeiramente superior ao custo <strong>de</strong><br />

fontes limpas como a energia solar e a energia eólica. O seqüestro<br />

geológico po<strong>de</strong> ser muito útil para neutralizar emissões <strong>de</strong> usinas<br />

termelétricas já em funcionamento on<strong>de</strong> a opção <strong>de</strong> fechá-las<br />

significaria um gran<strong>de</strong> prejuízo financeiro, já que a vida útil da infraestrutura<br />

é longa. Apesar <strong>de</strong> adaptar uma usina em funcionamento para<br />

o seqüestro ser mais caro do que construir uma infra-estrutura <strong>de</strong><br />

seqüestro numa usina nova, esse custo não é o mais relevante. O custo<br />

<strong>de</strong> implementação do seqüestro geológico tanto em usinas novas quanto<br />

em usinas velhas é inferior a 10 euros por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente<br />

evitada. A maior parte dos custos se refere ao consumo <strong>de</strong> energia<br />

necessária para separação do dióxido <strong>de</strong> carbono dos <strong>de</strong>mais gases <strong>de</strong><br />

exaustão, po<strong>de</strong>ndo se requerer até 25% da eficiência final das plantas,<br />

um custo <strong>de</strong> manutenção do sistema. Outra boa opção é a associação<br />

entre fontes renováveis e fontes fósseis novas com seqüestro geológico<br />

<strong>de</strong> carbono. Fontes renováveis como o a energia solar e a energia eólica<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fatores naturais, por isso não funcionam com a mesma<br />

intensida<strong>de</strong> 24 horas por dia. Nos horários <strong>de</strong> menor vento incidindo nos<br />

aerogeradores, por exemplo, po<strong>de</strong>m-se ligar usinas termelétricas com<br />

seqüestro geológico <strong>de</strong> carbono, principalmente termelétricas a gás<br />

natural que po<strong>de</strong>m funcionar <strong>de</strong> forma flexível durante o dia com alta<br />

eficiência. Por fim termelétricas novas movidas a carvão com seqüestro<br />

geológico <strong>de</strong> carbono po<strong>de</strong>m ser uma boa opção para fornecer energia<br />

24 horas por dia com um baixo índice <strong>de</strong> emissões.<br />

O seqüestro geológico tem potencial para se tornar um<br />

importante passo na transição das fontes fósseis para as fontes<br />

renováveis limpas. Os combustíveis fósseis estão se esgotando,<br />

principalmente o petróleo e o gás natural. O estabelecimento da<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> do seqüestro geológico nas próximas décadas em<br />

gran<strong>de</strong>s fontes fósseis garantirá que uma parcela consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>sses<br />

combustíveis não lance CO2 na atmosfera. A solução i<strong>de</strong>al para<br />

controlar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> até 2030 e também nas décadas<br />

posteriores é aproveitar um mix <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s que inclui as fontes<br />

renováveis limpas e o seqüestro geológico <strong>de</strong> carbono.


Capítulo 10: Fontes energéticas limpas<br />

As energias limpas constituirão o futuro energético do planeta.<br />

Isso se <strong>de</strong>ve ao crescente aumento da <strong>de</strong>manda energética humana<br />

impulsionada pelo crescimento econômico, a esgotabilida<strong>de</strong> das fontes<br />

fósseis e a crise climática ocasionada pelas emissões humanas <strong>de</strong> gases<br />

estufa. A gran<strong>de</strong> dúvida se refere a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transição da matriz<br />

fóssil para a matriz limpa. O estudo da Consultoria McKinsey estimou o<br />

potencial <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões através do suprimento <strong>de</strong> energia <strong>de</strong><br />

baixo carbono em 12 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente anual em<br />

2030, implementando apenas iniciativas com custo inferior a 60 euros<br />

por tonelada <strong>de</strong> CO2 equivalente. Desse valor entre 3,3 e 4,1 bilhões <strong>de</strong><br />

toneladas po<strong>de</strong>rão vir <strong>de</strong> fontes fósseis com seqüestro geológico e<br />

aproximadamente 8 bilhões através <strong>de</strong> fontes limpas, que são o assunto<br />

<strong>de</strong>ste capítulo. A principal contribuição através das fontes limpas é o<br />

uso <strong>de</strong> energias renováveis (energia solar, eólica, geotérmica, biomassa)<br />

no setor <strong>de</strong> energia elétrica com um potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 4<br />

bilhões <strong>de</strong> toneladas anuais em 2030. Em segundo plano está o uso da<br />

energia nuclear no setor <strong>de</strong> energia elétrica com potencial <strong>de</strong> abatimento<br />

<strong>de</strong> 2 bilhões <strong>de</strong> toneladas anuais e o uso <strong>de</strong> biocombustíveis no setor <strong>de</strong><br />

transportes com potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 500 milhões <strong>de</strong> toneladas<br />

anuais. Salienta-se novamente que todas as contribuições são sempre um<br />

acréscimo ao caso base, ou seja, estima-se, por exemplo, um certo nível<br />

<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> biocombustíveis em 2030 sem incentivos e po<strong>de</strong>remos<br />

aumentar esse nível <strong>de</strong> consumo esperado através <strong>de</strong> incentivos<br />

financeiros. Esse acréscimo no caso dos biocombustíveis no setor <strong>de</strong><br />

transporte tem potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 500 milhões <strong>de</strong> toneladas<br />

anuais em 2030.<br />

As iniciativas <strong>de</strong> redução através das fontes energéticas limpas<br />

necessitam <strong>de</strong> maiores investimentos e apresentam maior custo líquido<br />

do que as iniciativas do setor <strong>de</strong> carbono terrestre (silvicultura e<br />

agricultura). Na comparação com as iniciativas <strong>de</strong> eficiência energética<br />

o investimento é menor, mas o custo líquido no longo prazo é maior, já<br />

que as iniciativas <strong>de</strong> eficiência energética economizam dinheiro através<br />

da economia <strong>de</strong> energia. Mesmo com custos maiores, as fontes<br />

energéticas limpas constituem um pilar fundamental no combate ao<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, pois além <strong>de</strong> um importante potencial <strong>de</strong><br />

abatimento <strong>de</strong> emissões entre 2011 e 2030, se olharmos no horizonte


além <strong>de</strong> 2030, os setores <strong>de</strong> carbono terrestre e <strong>de</strong> eficiência energética<br />

apresentam um potencial que atingirá um certo limite. A humanida<strong>de</strong><br />

continuará crescendo economicamente e consumindo energia e quando<br />

ela se tornar em algumas décadas muito eficiente no consumo <strong>de</strong><br />

energia, a única solução plausível será investir em fontes energéticas<br />

limpas para aumenta a geração <strong>de</strong> energia. A seguir temos as fontes<br />

energéticas limpas mais promissoras:<br />

10.1 Energia Eólica<br />

A energia eólica é a energia que provém do vento. Ela tem sido<br />

aproveitada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antigüida<strong>de</strong> para mover os barcos impulsionados<br />

por Parque velas Eólico, ou para na cida<strong>de</strong> fazer funcionar <strong>de</strong> Fortaleza, a engrenagem Brasil.<br />

<strong>de</strong> moinhos, ao mover<br />

as suas pás. Na atualida<strong>de</strong> utiliza-se a energia eólica para mover<br />

aerogeradores - gran<strong>de</strong>s turbinas colocadas em lugares <strong>de</strong> muito vento.<br />

Essas turbinas têm a forma <strong>de</strong> um cata-vento ou um moinho. Esse<br />

movimento através <strong>de</strong> um gerador produz energia elétrica. A energia<br />

eólica é renovável, limpa e amplamente distribuída <strong>global</strong>mente. Em<br />

alguns países, a energia elétrica gerada a partir do vento representa<br />

significativa parcela da <strong>de</strong>manda. Na Dinamarca ela já representa 25%<br />

da produção e aproximadamente 10% na Alemanha. Os avanços nos<br />

<strong>de</strong>senhos das turbinas reduziram os custos da eletricida<strong>de</strong>. No início dos


anos 80, a energia eólica custava cerca <strong>de</strong> US$ 0,30 por kWh. Já em<br />

2006, a energia eólica custava em média <strong>de</strong> US$ 0,04 a 0,10. Essa<br />

redução <strong>de</strong> custos propiciou o crescimento <strong>de</strong> 25% ao ano do mercado<br />

<strong>de</strong> energia eólica, tornando-a a energia renovável mais barata e a com<br />

maior participação na matriz energética mundial. No entanto a energia<br />

eólica ainda é mais cara que a energia fóssil, principalmente se<br />

comparada com o carvão. Os aerogeradores não consomem<br />

combustíveis, mas apresentam um custo <strong>de</strong> instalação inicial alto. Em<br />

2030 eles estarão mais baratos <strong>de</strong>vido aos ganhos aerodinâmicos e a<br />

redução <strong>de</strong> custos nos materiais através da nanotecnologia 41 . As usinas<br />

eólicas não produzem energia durante todo tempo nem com a mesma<br />

intensida<strong>de</strong> porque <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da velocida<strong>de</strong> dos ventos. Cientistas e<br />

empresários americanos encontraram uma solução criativa para superar<br />

esse gargalo. O excesso <strong>de</strong> energia obtido nos momentos <strong>de</strong> vento mais<br />

forte, alimenta enormes compressores <strong>de</strong> ar, que enviam ar comprimido<br />

para camadas <strong>de</strong> arenito a 1000 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>. Quando falta<br />

vento ou o consumo <strong>de</strong> energia aumenta muito (horário <strong>de</strong> pico), o arcomprimido<br />

armazenado é usado para gerar energia juntamente com<br />

uma fonte extra <strong>de</strong> gás natural. O ar-comprimido consegue elevar o<br />

rendimento da turbina movida a gás natural em até 60%, em relação a<br />

uma turbina que não usa o ar-comprimido. Outra a<strong>de</strong>quação inteligente<br />

da energia eólica está sendo projetada no Brasil. A maior parte da<br />

energia elétrica brasileira é gerada por usinas hidrelétricas, que barram<br />

rios muito volumosos como o São Francisco e o Paraná. Esses rios<br />

diminuem a vazão nos anos <strong>de</strong> baixa precipitação <strong>de</strong> chuvas, afetando a<br />

segurança energética do sistema. Justamente nesses anos se registra as<br />

maiores intensida<strong>de</strong>s dos ventos. Então haverá uma complementarida<strong>de</strong><br />

entre as duas fontes. Parques eólicos construídos nas regiões Nor<strong>de</strong>ste e<br />

Sul do Brasil evitarão que os lagos artificiais das hidrelétricas lancem<br />

muita água nas turbinas das usinas na estação seca, economizando água<br />

para geração <strong>de</strong> energia futura e água para consumo humano.<br />

41 A nanotecnologia é a aplicação da ciência em sistemas que tratam <strong>de</strong><br />

objetos mensurados em nanômetros. Um nanômetro (nm) é um bilionésimo<br />

<strong>de</strong> metro, ou um milionésimo <strong>de</strong> milímetro.


10.2 Energia solar<br />

A energia produzida pelo do Sol é lançada na Terra e po<strong>de</strong> ser<br />

captada e transformada em alguma forma utilizável pelo homem, seja<br />

diretamente para <strong>aquecimento</strong> <strong>de</strong> água ou ainda como energia elétrica<br />

ou mecânica. A energia solar é abundante e permanente, renovável a<br />

cada dia, não polui e nem prejudica o ecossistema. Ela soma<br />

características vantajosamente positivas para o sistema ambiental, pois o<br />

Sol, trabalhando como um imenso reator à fusão irradia na terra todos os<br />

dias um potencial energético extremamente elevado e incomparável a<br />

qualquer outro sistema <strong>de</strong> energia, sendo a fonte básica e indispensável<br />

para praticamente todas as fontes energéticas utilizadas pelo homem.<br />

A transformação da luz solar em energia elétrica, através do<br />

efeito fotovoltaico, é consi<strong>de</strong>rada a aplicação mais promissora da<br />

energia solar. Placa formadas <strong>de</strong> materiais semicondutores (como na<br />

foto acima) produzem eletricida<strong>de</strong> após a absorção da luz. Como o sol<br />

não brilha 24 horas por dia, para se ter abastecimento o dia inteiro, é<br />

preciso uma forma <strong>de</strong> armazenar o excesso <strong>de</strong> energia durante o dia em<br />

baterias. A energia solar tem potencial ilimitado <strong>de</strong> aproveitamento, é<br />

silenciosa e tem baixo custo <strong>de</strong> manutenção. No entanto, os custos para<br />

armazenar a energia na forma <strong>de</strong> baterias e os custos elevados para<br />

produzir placas solares tornam o custo <strong>de</strong> instalação muito elevado,<br />

mesmo tendo havido reduções importantes nas últimas décadas. A<br />

energia solar custa em média entre US$ 0,17 e US$0,32 por kWh <strong>de</strong><br />

energia gerado, um valor mais elevado que a energia eólica. A energia


solar é a solução i<strong>de</strong>al para áreas afastadas e ainda não eletrificadas, que<br />

estão longe da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia. Em 2030 a energia solar fotovoltáica<br />

<strong>de</strong>ve baratear consi<strong>de</strong>ravelmente, fruto do surgimento <strong>de</strong> novos<br />

materiais com maior eficiência na conversão da luz solar em energia<br />

elétrica. Quanto ao armazenamento para uso noturno, a solução passa<br />

pela construção <strong>de</strong> usinas que armazenem durante o dia o excesso <strong>de</strong><br />

energia na forma <strong>de</strong> ar-comprimido em cavernas 42 , <strong>de</strong> forma similar ao<br />

armazenamento do excesso <strong>de</strong> energia produzido por aerogeradores nos<br />

momentos <strong>de</strong> muito vento. A redução <strong>de</strong> custos aumentará imensamente<br />

a participação da energia solar nas próximas décadas.<br />

Outra forma <strong>de</strong> aproveitamento da energia solar muito difundida<br />

é o <strong>aquecimento</strong> <strong>de</strong> fluídos (líquidos ou gasosos) através do calor do sol.<br />

Coletores concentradores ou planos absolvem o calor do sol e o<br />

transmitem para reservatórios termicamente fechados. O calor é<br />

aproveitado para aplicações como água quente para banho, ar quente<br />

para secagem <strong>de</strong> grãos, ou <strong>aquecimento</strong>s <strong>de</strong> piscinas. Essa aplicação da<br />

fonte solar proporciona redução <strong>de</strong> gastos com energia elétrica e isso<br />

tem impulsionado o uso comercial da tecnologia. Geralmente os<br />

sistemas se pagam entre 2 e 5 anos após a implantação. O calor do sol<br />

também é utilizado para gerar energia elétrica. Coletores concentram o<br />

calor do sol, que aquece um fluído. O vapor do fluído move uma turbina<br />

gerando energia <strong>de</strong> forma similar a uma termelétrica convencional,<br />

apenas não usando combustíveis fósseis. Nessas usinas solares térmicas<br />

uma forma <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> energia, distinta do armazenamento <strong>de</strong><br />

ar-comprimido em cavernas, está sendo tentada. A usina PS10, próxima<br />

a Sevilla na Espanha, funciona com uma tecnologia engenhosa. Ela<br />

utiliza o calor dos raios solares, refletidos por espelhos e captados por<br />

uma torre receptora. Esse calor é usado para aquecer um fluido,<br />

geralmente sal liquefeito, que permanece estocado em um reservatório<br />

com alta temperatura, como café quente numa garrafa térmica 43 . Quando<br />

há <strong>de</strong>manda por eletricida<strong>de</strong>, o fluido é conduzido até um gerador, e o<br />

vapor que ele <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> move uma turbina, produzindo eletricida<strong>de</strong>. Por<br />

42 Revista Scientific American Brasil, edição 69, fevereiro <strong>de</strong> 2008,<br />

reportagem “Perspectivas para a energia solar”.<br />

43 Mais informações po<strong>de</strong>m ser encontradas no site da empresa <strong>de</strong>tentora da<br />

usina:<br />

http://www.abengoasolar.com/corp/web/es/nuestros_proyectos/plataforma_solu<br />

car/ps10/in<strong>de</strong>x.html


enquanto, ela consegue armazenar o calor produzido durante meia hora.<br />

Quando novas tecnologias já em <strong>de</strong>senvolvimento forem utilizadas, a<br />

nova geração <strong>de</strong> usinas térmicas como a PS10 será capaz <strong>de</strong> estocar o<br />

calor por até vinte horas. Veja a usina 44 :<br />

Usina PS10, em Sevilla na Espanha.<br />

44 A imagem está no link:<br />

http://www.abengoasolar.com/corp/export/sites/solar/resources/pdf/PS10.pdf


10.3 Biocombustíveis <strong>de</strong> 1ª geração e <strong>de</strong> 2° geração<br />

Os biocombustíveis são os combustíveis biológicos <strong>de</strong>rivados<br />

<strong>de</strong> produtos agrícolas e matéria orgânica, que não tem origem fóssil.<br />

Exemplos <strong>de</strong> biocombustíveis são o biodiesel, o álcool (já comentado<br />

anteriormente) e o biogás. Assim como os combustíveis fósseis, os<br />

biocombustíveis produzem CO2 quando geram energia. O diferencial é<br />

que o CO2 lançado foi seqüestrado no momento em que as plantas<br />

cultivadas estavam crescendo. A produção é praticamente neutra em<br />

carbono e renovável. Os principais biocombustíveis são o substituto<br />

biológico do diesel (biodiesel) e o substituto biológico da gasolina<br />

(álcool). O biodiesel, produzido através <strong>de</strong> plantas como soja, mamona,<br />

<strong>de</strong>ndê e pinhão manso, ainda é no mínimo 30% caro que o diesel fóssil.<br />

Quanto ao álcool, produzido com plantas como a beterraba, o milho e o<br />

trigo, a produção comercial só se sustenta através <strong>de</strong> fortes subsídios<br />

governamentais. O único biocombustível viável na atualida<strong>de</strong><br />

ambientalmente e economicamente é o álcool brasileiro proveniente da<br />

cana-<strong>de</strong>-açúcar, com um custo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> US$ 0,22 por litro. Um<br />

hectare <strong>de</strong> cana produz 7500 litros <strong>de</strong> álcool e necessita apenas <strong>de</strong> 1<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia fóssil para produzir 8,3 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia<br />

renovável. A maioria da frota brasileira <strong>de</strong> carros po<strong>de</strong> funcionar tanto<br />

com gasolina quanto com álcool. O baixo preço do álcool chega a<br />

pressionar os preços da gasolina para níveis mais baixos. Em países<br />

como os Estados Unidos e em alguns países europeus a taxa <strong>de</strong><br />

importação imposta ao etanol brasileiro evita que o consumo <strong>de</strong> álcool<br />

barato proveniente do Brasil se expanda.<br />

Todos os biocombustíveis citados até agora são conhecidos<br />

como biocombustíveis <strong>de</strong> 1ª geração. O principal problema <strong>de</strong>sses<br />

biocombustíveis é a falta <strong>de</strong> terras disponíveis para substituir todo o<br />

consumo <strong>de</strong> combustíveis fósseis do mundo. Teríamos que usar gran<strong>de</strong><br />

parte dos 25 milhões <strong>de</strong> km² <strong>de</strong> terras agricultáveis para produção <strong>de</strong><br />

biocombustíveis, gerando um gran<strong>de</strong> aumento do preço das terras e<br />

inflacionando o preço dos alimentos. Uma alternativa seria <strong>de</strong>smatar<br />

florestas para produzir biocombustíveis, mas o resultado ambiental seria<br />

<strong>de</strong>cepcionante. Se lançaria até 700 toneladas <strong>de</strong> CO2 na atmosfera ao se<br />

<strong>de</strong>smatar 1 hectare <strong>de</strong> floresta tropical e se evitaria apenas a emissão <strong>de</strong><br />

10,8 toneladas <strong>de</strong> CO2 por hectare/ano, ao se substituir a gasolina pelo<br />

álcool. No entanto, a limitação <strong>de</strong> terras não inviabiliza que os<br />

biocombustíveis <strong>de</strong> 1ª geração possam substituir a<strong>de</strong>quadamente até


20% do consumo mundial <strong>de</strong> combustíveis fósseis no setor <strong>de</strong><br />

transportes, sem gran<strong>de</strong>s pressões inflacionárias nos alimentos, e<br />

possam ter relevância na matriz energética futura.<br />

Os biocombustíveis <strong>de</strong> 2ª geração não competem fortemente por<br />

terras com a produção agrícola. Alguns apresentam uma altíssima<br />

produtivida<strong>de</strong> por hectare plantado, não necessitando <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s áreas<br />

<strong>de</strong> cultivo, enquanto outros utilizam restos agrícolas como matériaprima.<br />

Eles não apresentam os gargalos dos biocombustíveis <strong>de</strong> 1ª<br />

geração. Quando forem viabilizados comercialmente po<strong>de</strong>rão substituir<br />

todo o consumo mundial <strong>de</strong> combustíveis fósseis sem gran<strong>de</strong>s impactos<br />

ambientais, representando uma revolução energética. Os dois<br />

biocombustíveis <strong>de</strong> 2ª geração mais promissores são o biodiesel<br />

produzido a partir <strong>de</strong> algas e o etanol produzido a partir da celulose.<br />

O biodiesel das algas é produzido em tanques <strong>de</strong> água abertos<br />

ou fechados. Um hectare <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> algas po<strong>de</strong> produzir 90 mil<br />

litros <strong>de</strong> biodiesel por ano contra os 3 mil litros <strong>de</strong> biodiesel produzido<br />

através do pinhão manso, uma das plantas mais eficientes do mundo na<br />

produção <strong>de</strong> biodiesel convencional. O biodiesel a partir <strong>de</strong> algas não<br />

necessita <strong>de</strong> safras, po<strong>de</strong>ndo ser produzido todo dia, além <strong>de</strong> a produção<br />

po<strong>de</strong>r utilizar áreas <strong>de</strong> solos pobres e o consumo <strong>de</strong> água não potável. O<br />

fator terra afeta muito pouco o custo <strong>de</strong> produção.<br />

O etanol celulósico é produzido <strong>de</strong> uma forma diferente do<br />

etanol <strong>de</strong> 1ª geração. O etanol <strong>de</strong> 1ª geração da cana-<strong>de</strong>-açúcar é<br />

produzido a partir da sacarose. A cana é exprimida para tirar o caldo e<br />

esse caldo é levado para a fermentação. Nesse processo, um grupo <strong>de</strong><br />

microorganismos transforma o açúcar (sacarose) em etanol. No caso do<br />

etanol celulósico, se utiliza a celulose encontrada nas plantas para<br />

produzir álcool. A celulose é o recurso renovável mais abundante da<br />

terra. A celulose po<strong>de</strong> ser extraída <strong>de</strong> restos agrícolas como lascas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, grama, palha, folhas, caules e bagaços <strong>de</strong> frutas. Dessa forma<br />

não há competição entre a produção <strong>de</strong> alimentos e a produção <strong>de</strong><br />

combustível, pois numa mesma área que se produz laranja, por exemplo,<br />

po<strong>de</strong>-se extrair etanol celulósico proveniente das cascas e do bagaço das<br />

frutas no momento em que a fruta é processada para produção <strong>de</strong> suco<br />

engarrafado. O etanol celulósico po<strong>de</strong> ser extraído dos cultivos que já<br />

estão produzindo etanol <strong>de</strong> 1° geração como a cana-<strong>de</strong>-açúcar e o milho.<br />

Se aproveitando a celulose encontrada na palha, nas folhas e no bagaço


da cana-<strong>de</strong>-açúcar e a sacarose do caldo da cana, po<strong>de</strong>-se obter uma<br />

produção <strong>de</strong> 28 mil litros <strong>de</strong> etanol por hectare ao ano. Essa<br />

produtivida<strong>de</strong>, quase 4 vezes maior do que a obtida utilizando apenas o<br />

etanol da sacarose, diminui fortemente a competição por terras com o<br />

setor <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> alimentos. O processo <strong>de</strong> produção do etanol<br />

celulósico já foi viabilizado tecnicamente, mas o custo ainda é muito<br />

alto. Enquanto o etanol da sacarose custa US$ 0,22 por litro para ser<br />

produzido, o etanol da celulose, custa entre US$ 0,40 e US$ 0,60 por<br />

litro para ser produzido. Estima-se que quando o custo atingir US$ 0,30<br />

por litro, o álcool celulósico será viável comercialmente. Os custos mais<br />

altos se <strong>de</strong>vem ao alto custo das enzimas que são usadas no processo <strong>de</strong><br />

transformação da celulose em glicose. No momento está ocorrendo uma<br />

corrida tecnológica para baratear os custos <strong>de</strong>ssas enzimas, pois esse<br />

fator é chave para viabilizar o etanol celulósico. Após a transformação<br />

da celulose em glicose, outro açúcar, o processo é o mesmo do etanol da<br />

sacarose. A glicose é fermentada, obtendo-se álcool.<br />

Os especialistas afirmam que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 10 anos os<br />

biocombustíveis <strong>de</strong> 2ª geração se tornarão viáveis economicamente<br />

po<strong>de</strong>ndo ser adicionados gradativamente ao diesel ou a gasolina<br />

proveniente do petróleo, sem gran<strong>de</strong>s preocupações ambientais ou<br />

alimentares. Se essa previsão se confirmar, teremos nas próximas<br />

décadas uma redução significativa consumo <strong>de</strong> petróleo no setor <strong>de</strong><br />

transportes mundial e conseqüentemente <strong>de</strong> emissões líquidas <strong>de</strong> CO2.<br />

Po<strong>de</strong>remos ter em 2030, por exemplo, um típico carro <strong>global</strong> sendo flex<br />

e híbrido e fazendo 30 km/l. No setor <strong>de</strong> veículos pesados po<strong>de</strong>remos ter<br />

caminhões rodando com 50% <strong>de</strong> diesel fóssil e 50% <strong>de</strong> biodiesel. No<br />

entanto todas essas previsões precisam <strong>de</strong> inovações tecnológicas<br />

importantes para se concretizarem. Por esse motivo ainda é impreciso<br />

afirmar que os biocombustíveis <strong>de</strong> 2ª geração tomarão a dianteira no<br />

abastecimento mundial do setor <strong>de</strong> transportes.<br />

10.4 Energia proveniente do mar<br />

Os oceanos po<strong>de</strong>m fornecer milhares <strong>de</strong> vezes a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

energia que a humanida<strong>de</strong> consome. Uma abundância <strong>de</strong> energia<br />

renovável e limpa só comparável com a energia do sol e a energia dos<br />

ventos. O gran<strong>de</strong> problema é encontrar uma forma viável <strong>de</strong> aproveitar<br />

esse potencial comercialmente. Apesar <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> inventos


<strong>de</strong>senvolvidos, as formas <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> energia dos oceanos têm se<br />

mostrado ineficientes em relação ao rendimento e aos custos. As<br />

principais formas <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> energia dos oceanos são as ondas, as<br />

marés, as correntes marítimas e o calor dos oceanos.<br />

O calor do sol aquece os oceanos, principalmente nas zonas<br />

tropicais, criando uma diferença significativa <strong>de</strong> temperatura entre a<br />

superfície quente e o fundo do mar escuro e gelado. Essa diferença é<br />

capaz <strong>de</strong> gerar energia. O principal sistema <strong>de</strong> aproveitamento <strong>de</strong>sse<br />

gradiente <strong>de</strong> temperatura utiliza a amônia, uma substância que evapora<br />

com facilida<strong>de</strong>. As águas mornas da superfície do mar transformam a<br />

amônia em vapor, que movimenta uma turbina acoplada a um dínamo,<br />

gerando energia elétrica. Posteriormente o vapor da amônia é<br />

con<strong>de</strong>nsado pelo frio proveniente da água fria do fundo do mar, e em<br />

seguida a amônia líquida volta para o evaporador para começar um novo<br />

ciclo.<br />

As marés são criadas pelas forças gravitacionais que interagem<br />

entre a Terra, a Lua e o Sol, gerando variações dos níveis do mar no<br />

litoral durante o dia. Elas são mais previsíveis do que os ventos, o que<br />

representa uma gran<strong>de</strong> vantagem no aproveitamento energético. A<br />

forma <strong>de</strong> aproveitamento da energia das marés mais utilizada até hoje é<br />

através <strong>de</strong> barragens semelhantes às hidrelétricas. A barragem<br />

construída separa geralmente uma baia do restante do mar. Na maré alta,<br />

a água passa pela barragem através <strong>de</strong> uma turbina, gerando energia<br />

elétrica e enchendo o reservatório (a baia). Na maré baixa a baia, que se<br />

encontra cheia e num nível mais elevado que o mar é esvaziada e a água<br />

passa em sentido contrário ao do enchimento pela turbina gerando<br />

energia. Existem várias <strong>de</strong>ssas usinas no mundo, mas a única <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

porte e viável economicamente é a usina construída no estuário do rio<br />

Rance, no norte da França, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir 240 MW <strong>de</strong><br />

energia. As dificulda<strong>de</strong>s se referem à escassez <strong>de</strong> locais propícios para a<br />

construção, pois é preciso uma gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> maré e uma<br />

topografia a<strong>de</strong>quada para se obter energia com um custo<br />

comercialmente viável.<br />

As ondas oceânicas po<strong>de</strong>m ser criadas por uma série <strong>de</strong> fatores<br />

como a atração gravitacional, a ativida<strong>de</strong> submarina e a pressão<br />

atmosférica, mas sua origem mais comum é o vento. Apesar <strong>de</strong> existir<br />

inúmeras variantes <strong>de</strong> aproveitamento da energia das ondas, a maioria


usa o mesmo princípio on<strong>de</strong> a onda pressiona um corpo oco,<br />

comprimindo o ar ou um líquido que move uma turbina ligada a um<br />

gerador. A <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> se utilizar este processo na obtenção <strong>de</strong><br />

energia é que o fornecimento não é contínuo e apresenta baixo<br />

rendimento.<br />

As correntes marítimas são <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> massas <strong>de</strong> água<br />

oceânicas geradas pela inércia <strong>de</strong> rotação do planeta e pelos ventos, que<br />

se movimentam por todos os oceanos do mundo. As correntes são como<br />

rios oceânicos que transportam gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água. O<br />

aproveitamento é feito com turbinas semelhantes às turbinas eólicas. A<br />

utilização <strong>de</strong> turbinas para aproveitar tanto o <strong>de</strong>slocamento das correntes<br />

marítimas quanto o fluxo das marés (sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construir<br />

barragens) está sendo consi<strong>de</strong>rado pelos especialistas como a fonte mais<br />

promissora <strong>de</strong> energia proveniente do mar O custo da geração <strong>de</strong><br />

energia através <strong>de</strong> turbinas em locais propícios (Escócia, por exemplo) é<br />

próximo do custo <strong>de</strong> geração da energia eólica, com a vantagem <strong>de</strong> os<br />

fluxos oceânicos serem mais constantes e previsíveis que os ventos.<br />

Veja a figura da turbina marinha 45 :<br />

45 Fonte: www.marineturbines.com


10.5 Carro a Hidrogênio<br />

O uso do hidrogênio como combustível em carros apresenta<br />

teoricamente vantagens interessantes em relação aos combustíveis<br />

fósseis. O hidrogênio é o mais simples e mais comum elemento do<br />

Universo, sendo ilimitado e renovável. A queima <strong>de</strong> hidrogênio gera<br />

energia mecânica para movimentar os carros sem emitir poluentes e um<br />

<strong>de</strong>terminado volume <strong>de</strong> hidrogênio líquido pesa menos do que um<br />

volume semelhante <strong>de</strong> gasolina e produz quase três vezes mais potência.<br />

Um combustível limpo, ilimitado, leve e eficiente energeticamente<br />

po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado perfeito. No entanto, o hidrogênio não é uma<br />

fonte <strong>de</strong> energia como os combustíveis fósseis. O hidrogênio gasoso<br />

puro raramente ocorre na natureza, pois ele é um elemento químico<br />

muito reativo e está sempre procurando outro elemento para se<br />

combinar. Como não existe nenhuma reserva <strong>de</strong> hidrogênio puro no<br />

planeta, ele <strong>de</strong>ve ser extraído <strong>de</strong> outros compostos se tiver o propósito<br />

<strong>de</strong> ser usado como uma fonte <strong>de</strong> combustível. Nesse processo <strong>de</strong><br />

extração há um consumo consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> energia. Então é necessária<br />

uma fonte <strong>de</strong> energia primária que po<strong>de</strong> ser limpa (eólica, solar, etc) ou<br />

emissora <strong>de</strong> CO2. Já os combustíveis fósseis, são encontrados na<br />

natureza prontos para serem queimados no caso do gás natural ou<br />

necessitando apenas <strong>de</strong> refino no caso dos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo. Na<br />

prática, o hidrogênio combustível exerce um papel semelhante às<br />

baterias nos carros elétricos, acumulando energia proveniente <strong>de</strong> uma<br />

fonte primária <strong>de</strong> energia.<br />

As duas principais formas <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> hidrogênio<br />

combustível são a eletrólise da água e o uso <strong>de</strong> combustíveis fósseis. Na<br />

eletrólise a corrente elétrica é passada através da água para quebrá-la em<br />

hidrogênio e oxigênio. A reação é a seguinte:<br />

2H2O + eletricida<strong>de</strong> --> 2H2 + O2.<br />

O hidrogênio produzido na reação é usado como combustível.<br />

Na queima do hidrogênio para movimentar o carro, ocorre a reação<br />

reversa. O hidrogênio reage com o oxigênio, gerando energia elétrica,<br />

energia térmica (calor) e água. A energia elétrica move o carro e o único<br />

subproduto do motor é vapor <strong>de</strong> água, configurando uma queima limpa.<br />

Veja a reação química:<br />

2H2 + O2 --> 2 H2O + energia


Também é possível obter hidrogênio através do uso <strong>de</strong><br />

combustíveis fósseis. O petróleo e o gás natural contêm<br />

hidrocarbonetos, moléculas formadas por hidrogênio e carbono.<br />

Utilizando-se um dispositivo chamado reformador, ocorre-se a<br />

separação do hidrogênio do carbono <strong>de</strong> um hidrocarboneto. O carbono<br />

que sobra do reformador é lançado na atmosfera como dióxido <strong>de</strong><br />

carbono e o hidrogênio é posteriormente utilizado como combustível<br />

gerando vapor <strong>de</strong> água como subproduto. Essa forma <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

hidrogênio não é consi<strong>de</strong>rada ambientalmente correta <strong>de</strong>vido a emissão<br />

<strong>de</strong> CO2.<br />

A produção <strong>de</strong> hidrogênio via eletrólise é a única consi<strong>de</strong>rada<br />

viável ambientalmente, mas assim como os carros elétricos se faz<br />

necessário que a fonte primária que gerou a energia elétrica seja uma<br />

fonte não poluente. Precisa-se gerar energia elétrica através <strong>de</strong> usinas<br />

solares ou eólicas, por exemplo. Outros problemas são as dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> transporte e armazenamento do hidrogênio. A construção <strong>de</strong> postos<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> hidrogênio é extremamente cara, assim como o<br />

custo dos tanques <strong>de</strong> combustível nos carros. Isso se <strong>de</strong>ve as<br />

características do hidrogênio. Além <strong>de</strong> inflamável, o hidrogênio gasoso<br />

e mais leve e mais volumoso que o ar atmosférico, sendo que 1 grama<br />

<strong>de</strong> hidrogênio ocupa 10 vezes o espaço <strong>de</strong> 1 grama <strong>de</strong> ar atmosférico.<br />

Para não se construir um reservatório <strong>de</strong> abastecimento muito gran<strong>de</strong> se<br />

faz necessário armazenar o hidrogênio gasoso a uma altíssima pressão.<br />

Por isso o reservatório <strong>de</strong> combustível tem que ser muito resistente,<br />

tornando-se conseqüentemente caro. Uma alternativa é armazenar o<br />

hidrogênio no estado líquido, que ocupa 700 vezes menos espaço do que<br />

o hidrogênio gasoso, mas ele tem que ser armazenado numa temperatura<br />

<strong>de</strong> -253 graus centígrados para conservar o estado líquido. Essas<br />

temperaturas criogênicas também exigem tanques <strong>de</strong> combustível caros.<br />

A solução mais promissora é o armazenamento sólido, no qual o<br />

hidrogênio passa a fazer parte da estrutura atômica <strong>de</strong> um material,<br />

sendo liberado aos poucos, na medida necessária para alimentar o<br />

veículo. Já existem materiais especiais construídos que chegam a reter<br />

10% do seu peso em hidrogênio.<br />

O hidrogênio tem sido apresentado na mídia para o gran<strong>de</strong><br />

público como o combustível do futuro, que abastece foguetes espaciais e<br />

lança apenas água para a atmosfera. No entanto, ainda há a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> avanços tecnológicos imensos para que a produção do hidrogênio se


torne barata e possa ser usada em massa no setor <strong>de</strong> transportes. Os<br />

carros elétricos e suas baterias são uma opção muito mais barata que o<br />

carro a hidrogênio na atualida<strong>de</strong> e provavelmente continuarão sendo<br />

também nas próximas décadas.<br />

10.6 Carro elétrico<br />

O carro elétrico é movido por um motor elétrico abastecido por<br />

baterias. Como foi citado no capítulo 2, o carro elétrico tem uma<br />

eficiência <strong>de</strong> 65% na conversão <strong>de</strong> energia contra 20% do carro a<br />

gasolina, pois o motor a gasolina <strong>de</strong>sperdiça mais energia na forma <strong>de</strong><br />

calor. Por esse motivo se gasta menos dinheiro com energia elétrica num<br />

carro elétrico do que com combustível num carro a gasolina. No<br />

entanto, 50 quilos <strong>de</strong> gasolina têm muito mais <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> energética do<br />

que 50 quilos <strong>de</strong> bateria, ou seja, armazena muito mais energia com o<br />

mesmo peso. Então a autonomia do carro elétrico, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

quilômetros que o carro anda com tanque cheio, é bem menor do que a<br />

do carro a gasolina. Outro problema é a recarga <strong>de</strong>morada do carro<br />

elétrico. Enquanto um carro a gasolina é reabastecido em 3 minutos, um<br />

carro elétrico <strong>de</strong>mora horas para recarregar as baterias. Temos portanto<br />

dois gargalos na tecnologia do carro elétrico: a baixa autonomia e a<br />

recarga <strong>de</strong>morada.<br />

Nos últimos anos tem ocorrido uma corrida tecnológica para se<br />

obter baterias mais leves e baratas, que aumentariam a autonomia dos<br />

carros elétricos e diminuiriam os custos. Os aperfeiçoamentos<br />

tecnológicos obtidos na diminuição do peso das baterias dos carros<br />

híbridos, que já são produzidos comercialmente, estão sendo<br />

transferidos para a tecnologia do carro elétrico. Eles têm tornado o carro<br />

elétrico próximo da viabilida<strong>de</strong> comercial. A autonomia dos novos<br />

carros elétricos já aumentou bastante, mas ainda persiste o problema da<br />

recarga <strong>de</strong>morada. O engenheiro Shai Agassi, em parceria com o<br />

governo <strong>de</strong> Israel, tem <strong>de</strong>senvolvido um projeto revolucionário para<br />

resolver o problema da recarga <strong>de</strong>morada. A idéia é criar 500 mil postos<br />

<strong>de</strong> recargas convencionais <strong>de</strong> baterias no país, em lugares públicos<br />

como estacionamentos, e criar 200 pontos on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>rão trocar as<br />

baterias <strong>de</strong>scarregadas por outras previamente carregadas nos postos 46 .<br />

46 O site do projeto é: http://www.betterplace.com/


Ao invés <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> recarga convencional, a troca <strong>de</strong> baterias <strong>de</strong>morará<br />

poucos minutos. O governo <strong>de</strong> Israel preten<strong>de</strong> implantar o sistema em<br />

2011. Críticos afirmam que o projeto é viável em Israel, por se tratar <strong>de</strong><br />

um país pequeno com pouco mais <strong>de</strong> 20 mil km² <strong>de</strong> extensão e muito<br />

povoado, mas num país com baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, é inviável<br />

manter economicamente uma re<strong>de</strong> tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento com<br />

uma distância pequena <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> abastecimento para outro. Outra<br />

forma <strong>de</strong> resolver o problema da autonomia seria o abastecimento <strong>de</strong><br />

energia sem fio, chamado <strong>de</strong> witrycity. A tecnologia ainda está em fase<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, mas no futuro po<strong>de</strong>remos ter carros elétricos com<br />

pequenas baterias, que são abastecidos por pontos nas ruas e rodovias,<br />

que enviariam energia sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fios para uma antena do carro<br />

enquanto ele está em movimento.<br />

Provavelmente nas próximas décadas, com a escassez do<br />

petróleo e com novas tecnologias, o carro elétrico se tornará viável e<br />

terá participação importante no fornecimento energético do setor <strong>de</strong><br />

transportes. Mas para que o carro elétrico seja limpo ambientalmente, é<br />

necessário saber se a fonte primária que produz energia para abastecer a<br />

re<strong>de</strong> elétrica emite CO2 ou não. A geração <strong>de</strong> energia elétrica precisa vir<br />

<strong>de</strong> fontes renováveis e limpas como a energia solar ou eólica, ou <strong>de</strong><br />

usinas com fontes fósseis que tenham o CO2 emitido seqüestrado<br />

geologicamente.<br />

10.7 Energia nuclear e energia hidrelétrica<br />

Além das 6 tecnologias alternativas mais promissoras citadas<br />

acima, ainda temos as tradicionais energia nuclear e energia hidrelétrica,<br />

que representam 15,2% e 16% respectivamente da geração <strong>de</strong> energia<br />

elétrica mundial, segundo a Agência Mundial <strong>de</strong> Energia (AIE). Essas<br />

duas fontes praticamente não emitem CO2, mais pairam sobre elas<br />

outros problemas ambientais. As usinas hidrelétricas barram rios e criam<br />

gran<strong>de</strong>s lagos artificiais que inundam imensas áreas <strong>de</strong> florestas e<br />

obrigam milhares <strong>de</strong> famílias a <strong>de</strong>socuparem as suas moradias. As<br />

usinas que usam a fissão nuclear apresentam riscos relacionados aos<br />

vazamentos <strong>de</strong> radioativida<strong>de</strong> nas usinas ou ao armazenamento dos<br />

rejeitos nucleares, que po<strong>de</strong>m provocar danos à saú<strong>de</strong> humana. Diante<br />

dos riscos a sobrevivência humana que o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> po<strong>de</strong>


epresentar, parece razoável continuar aumentando a participação <strong>de</strong>ssas<br />

duas fontes <strong>de</strong> energia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que precauções necessárias sejam<br />

tomadas.<br />

As usinas hidrelétricas <strong>de</strong>vem ser construídas com lagos<br />

artificiais menores e também se <strong>de</strong>ve incentivar a construção <strong>de</strong><br />

pequenas centrais hidrelétricas, que provocam menos danos ambientais<br />

que as gran<strong>de</strong>s usinas e produzem energia com um preço competitivo.<br />

Como foi citado no capítulo 8, o Brasil (terceiro maior potencial<br />

hidrelétrico do mundo) apresenta a maior parte do potencial não<br />

explorado na Amazônia. A construção <strong>de</strong> usinas hidrelétricas tem sido<br />

muito criticada na região <strong>de</strong>vido a morte <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> plantas e<br />

animais pelos lagos artificiais numa região com uma biodiversida<strong>de</strong> tão<br />

rica. No entanto, as novas hidrelétricas construídas na região são usinas<br />

fios d'água, que apresentam lagos artificiais pequenos. Enquanto a usina<br />

<strong>de</strong> Jirau, que será construída no rio Ma<strong>de</strong>ira, alagará 0,08 km² alagado<br />

por cada MW gerado, a média nacional das usinas existentes é <strong>de</strong> 0,57<br />

km² alagado por cada MW gerado. No caso brasileiro, apenas 25% do<br />

potencial hidrelétrico <strong>de</strong> 260 gigawatts está sendo aproveitado, enquanto<br />

no mundo o aproveitamento é <strong>de</strong> 33% do potencial hidrelétrico. Uma<br />

parte do potencial hidrelétrico mundial esbarra nos altos custos e nos<br />

danos ambientais, mas tanto o Brasil quanto o mundo po<strong>de</strong>m no mínimo<br />

dobrar a geração <strong>de</strong> energia elétrica proveniente das hidrelétricas com<br />

viabilida<strong>de</strong> econômica e com danos ambientais mo<strong>de</strong>rados, como o<br />

exemplo da usina <strong>de</strong> Jirau.<br />

A geração <strong>de</strong> energia nuclear tradicional a partir da fissão dos<br />

átomos, explicada no capítulo 3 <strong>de</strong>ste livro, <strong>de</strong>ve ser incentivada nos<br />

países que já dominam a tecnologia nuclear para fins pacíficos, que<br />

representam a maioria absoluta da economia mundial. Uma expansão <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> energia elétrica através da fonte nuclear em novos países<br />

po<strong>de</strong>ria incentivar o aumento do número <strong>de</strong> países que dominam a<br />

tecnologia da bomba atômica e criar perigos <strong>de</strong>snecessários a segurança<br />

<strong>global</strong>. Apesar das críticas, a energia nuclear tem gerado uma fatia<br />

significativa da energia elétrica mundial a um custo competitivo, com<br />

poucos aci<strong>de</strong>ntes com morte nos últimos 50 anos. A França, país com a<br />

6º economia do mundo, gera 75% da sua energia elétrica através da<br />

fonte nuclear, com danos ambientais mínimos. Evi<strong>de</strong>ntemente que o<br />

passivo ambiental dos rejeitos nucleares, que po<strong>de</strong>rão representar um


isco ambiental por milhares <strong>de</strong> anos, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado, mas isso<br />

não torna a energia nuclear inviável ambientalmente.<br />

A energia hidrelétrica e a energia nuclear po<strong>de</strong>m ser importantes<br />

na transição da matriz energética fóssil para as fontes alternativas<br />

renováveis. As usinas das duas fontes energéticas, quando bem<br />

planejadas, geram danos ambientais mo<strong>de</strong>rados muito menores do que<br />

os causados pelos combustíveis fósseis. Os danos provocados a saú<strong>de</strong><br />

humana pelos fósseis diminuirão nas próximas décadas com a<br />

massificação dos catalisadores e com os testes para <strong>de</strong>tectar a emissão<br />

<strong>de</strong> gases venenosos nos automóveis e nas indústrias cada vez mais<br />

freqüentes, mas o problema do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> provocado pelo CO2<br />

persiste. O i<strong>de</strong>al é que uma parte das usinas <strong>de</strong> carvão e gás natural<br />

geradoras <strong>de</strong> energia elétrica seja substituída por usinas com seqüestro<br />

geológico <strong>de</strong> carbono, e que outra parte seja gradativamente substituída<br />

tanto pelas usinas nucleares e usinas hidrelétricas, com danos ambientais<br />

mo<strong>de</strong>rados e custos baixos, quanto por fontes alternativas renováveis,<br />

100% limpas e com um custo um pouco mais alto. A participação da<br />

energia hidrelétrica e da energia nuclear, que representam juntas 31,2%<br />

da geração <strong>de</strong> energia elétrica atual, po<strong>de</strong>rá aumentar ainda mais nas<br />

próximas décadas.


Capítulo 11: Eficiência Energética<br />

O aumento da eficiência energética busca diminuir o gasto <strong>de</strong><br />

energia na produção <strong>de</strong> bens e serviços. No cenário atual <strong>de</strong><br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>, a lógica é que se mantivermos o nosso padrão <strong>de</strong><br />

vida consumindo menos energia, estaremos conseqüentemente emitindo<br />

menos CO2. O IPCC <strong>de</strong> 2007 estimou que a eficiência energética seja o<br />

setor com maior potencial <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> CO2 até 2050. Há<br />

100 atrás a humanida<strong>de</strong> tinha poucos recursos tecnológicos e recursos<br />

naturais abundantes, o que tornava a lógica da eficiência energética<br />

inviável. Na atualida<strong>de</strong>, diante do consumo <strong>de</strong>senfreado <strong>de</strong> recursos,<br />

temos um mundo com recursos naturais limitados como alimentos, água<br />

e energia, e por outro lado tecnologia capaz <strong>de</strong> gerar conforto com a<br />

utilização <strong>de</strong> poucos recursos naturais. Esse cenário estimula a busca<br />

por soluções que economizem energia, pois se os recursos energéticos<br />

naturais são escassos, ou no mínimo <strong>de</strong> difícil extração, eles<br />

conseqüentemente são caros. O <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> provocado pelas<br />

emissões <strong>de</strong> CO2 da matriz energética torna o aumento da eficiência<br />

energética mais importante ainda.<br />

O maior símbolo da <strong>de</strong>fesa da eficiência energética contra as<br />

emissões <strong>de</strong> CO2 é o cientista americano Amory Lovins. Ele faz da sua<br />

casa, localizada a 2000 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> nos vales rochosos no estado<br />

do Colorado, um exemplo <strong>de</strong> como é possível viver com conforto,<br />

mesmo com pouco gasto energético. Em pleno inverno, on<strong>de</strong> a<br />

temperatura da região cai para 40 graus negativos, a sua casa consome o<br />

mínimo possível <strong>de</strong> energia. Ele utiliza arquitetura bioclimática para<br />

isolar termicamente a residência do ambiente externo e cultiva plantas<br />

tropicais em estufas, além <strong>de</strong> fazer uso <strong>de</strong> energias alternativas. Lovins é<br />

presi<strong>de</strong>nte e fundador do Rocky Mountain Institute 47 , uma fundação que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o uso da eficiência energética como solução para o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong>.<br />

Os ganhos <strong>de</strong> eficiência energética são possíveis em todos os<br />

tipos <strong>de</strong> produtos e construções. A gran<strong>de</strong> questão é saber se os preços<br />

mais altos <strong>de</strong> instalação inicial dos produtos eficientes serão<br />

compensados por ganhos maiores na redução <strong>de</strong> gastos com energia no<br />

futuro. Também é importante que o conforto obtido com o produto<br />

47 Site: www.rmi.org


tradicional seja igual ao obtido com o produto eficiente<br />

energeticamente. O consumidor quer saber se o ar-condicionado <strong>de</strong><br />

baixo consumo gela tão bem quanto o <strong>de</strong> alto consumo, por exemplo.<br />

Existem inúmeros setores produtivos que po<strong>de</strong>riam se tornar mais<br />

eficientes com incentivos governamentais. Muitas vezes os<br />

consumidores preferem produtos mais baratos e ineficientes<br />

energeticamente <strong>de</strong>vido ao investimento inicial menor, mas acabam<br />

pagando 3, 4 vezes mais energia durante a vida útil do produto e acabam<br />

per<strong>de</strong>ndo dinheiro <strong>de</strong>vido ao imediatismo. Se os governos diminuírem<br />

os impostos sobre os produtos eficientes e os tornarem tão baratos<br />

quanto os tradicionais, o consumidor escolherá sempre o produto mais<br />

eficiente. O valor perdido com os impostos será varias vezes<br />

compensado pelos ganhos obtidos com a redução <strong>de</strong> gastos com energia<br />

para a população. Além do benefício econômico para a socieda<strong>de</strong>,<br />

teremos o benefício ambiental <strong>de</strong> emitir menos gases estufa. Outra<br />

forma <strong>de</strong> incentivo governamental é a implantação legal <strong>de</strong> um nível<br />

máximo <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia para os produtos fabricados no país.<br />

A Consultoria McKinsey estima em 14 bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />

CO2 equivalente o potencial <strong>de</strong> redução das emissões através das<br />

iniciativas <strong>de</strong> aumento da eficiência energética em 2030. Sempre se<br />

salienta que esse potencial é um acréscimo ao caso base. Mesmo no<br />

cenário on<strong>de</strong> não haja incentivos econômicos para combater o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> (caso base) haverá ganhos <strong>de</strong> eficiência energética<br />

entre 2011 e 2030. O potencial da eficiência energética é maior do que o<br />

setor <strong>de</strong> carbono terrestre e do que o potencial do setor <strong>de</strong> fontes<br />

energéticas limpas. Ele correspon<strong>de</strong> a aproximadamente 37% do<br />

potencial <strong>de</strong> abatimento <strong>de</strong> 38 bilhões <strong>de</strong> toneladas previsto pela<br />

consultoria. A maioria absoluta das iniciativas tem custo líquido<br />

negativo. Po<strong>de</strong>mos afirmar que a implementação das iniciativas <strong>de</strong><br />

eficiência energética aumentará o crescimento econômico dos países no<br />

longo prazo. No entanto as iniciativas necessitam <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

investimentos iniciais. Esses altos investimentos são plenamente viáveis<br />

diante dos benefícios econômicos que a economia <strong>de</strong> energia gerará.<br />

A fim <strong>de</strong> facilitar a análise sobre as principais oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

aumento da eficiência energética haverá uma divisão em quatro<br />

categorias: construção <strong>de</strong> edificações sustentáveis, uso <strong>de</strong> aparelhos<br />

elétricos e luminárias <strong>de</strong> baixo consumo, produção <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong><br />

baixo consumo <strong>de</strong> combustível e fabricação <strong>de</strong> produtos industriais


com diminuição do consumo <strong>de</strong> energia. A seguir temos as categorias<br />

a serem analisadas:<br />

11.1 Construções <strong>de</strong> edificações sustentáveis<br />

As construções sustentáveis buscam reduzir os impactos<br />

ambientais tanto no momento <strong>de</strong> construção dos edifícios resi<strong>de</strong>nciais e<br />

comerciais, quanto no momento <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>les (vida útil). O maior<br />

impacto ambiental são as emissões <strong>de</strong> CO2 provocadas pelo consumo <strong>de</strong><br />

energia nesses dois momentos, que po<strong>de</strong>m ser reduzidas principalmente<br />

pelo aumento da eficiência energética. Se consi<strong>de</strong>rarmos as emissões <strong>de</strong><br />

gases estufa nos 2 momentos(construção e utilização dos edifícios), elas<br />

chegam a 40% das emissões mundiais totais <strong>de</strong> 49 bilhões <strong>de</strong> toneladas<br />

<strong>de</strong> CO2 equivalente 48 .<br />

No momento da construção, o cimento é o principal responsável<br />

pelas emissões <strong>de</strong> CO2. Cada 1 tonelada <strong>de</strong> cimento gera<br />

aproximadamente 1 tonelada <strong>de</strong> CO2. O cimento é constituído <strong>de</strong> 95%<br />

<strong>de</strong> clínquer e 5% <strong>de</strong> gipsita. A produção do clínquer é a gran<strong>de</strong> fonte<br />

emissora da produção. O calcário é a matéria-prima principal do<br />

clínquer, representando aproximadamente 80% da mistura rochosa que é<br />

complementada com argila e ferro. Na produção do clínquer ocorre a<br />

calcinação do calcário (carbonato <strong>de</strong> cálcio). O processo <strong>de</strong> <strong>aquecimento</strong><br />

do calcário <strong>de</strong>manda a queima <strong>de</strong> combustíveis, o que gera CO2.<br />

Quando o calcário (CaCO3) é calcinado e se transforma em óxido <strong>de</strong><br />

cálcio (OCa) a reação química também produz CO2. Então temos a<br />

produção <strong>de</strong> CO2 através <strong>de</strong>ssas duas formas. Muitas pesquisas têm sido<br />

<strong>de</strong>senvolvidas com o objetivo <strong>de</strong> reduzir a participação do clínquer no<br />

cimento, produzindo a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cimento <strong>de</strong>mandando<br />

menos energia, um típico aumento <strong>de</strong> eficiência energética. Materiais<br />

como cinzas das centrais termelétricas, cinzas do bagaço da cana-<strong>de</strong>açúcar,<br />

casca <strong>de</strong> arroz e resíduos da indústria <strong>de</strong> cerâmicas, po<strong>de</strong>m<br />

substituir até 40% do clínquer usado no cimento. O cimento é o<br />

elemento ligante do concreto, a substância mais usada pela socieda<strong>de</strong><br />

<strong>global</strong> nas construções. Uma forma <strong>de</strong> diminuir a <strong>de</strong>manda por cimento<br />

48 Tanto no IPCC 2007 quanto no relatório da McKinsey, as emissões das<br />

edificações lançadas pela fabricação dos materiais utilizados nas<br />

construções foram classificadas como emissões do setor industrial.


nas construções é reciclar o concreto presente em <strong>de</strong>molições ou restos<br />

<strong>de</strong> obras.<br />

Outro importante emissor <strong>de</strong> CO2 é o tijolo tradicional <strong>de</strong> argila,<br />

que é queimado para ser produzido. Uma alternativa é o tijolo <strong>de</strong> solocimento<br />

que é produzido sem queima. Se mistura 1 parte <strong>de</strong> cimento<br />

com 12 partes <strong>de</strong> solo, composto <strong>de</strong> areia e argila, e posteriormente a<br />

mistura é prensada. Quando se faz o assentamento do tijolo <strong>de</strong> solocimento,<br />

ao invés <strong>de</strong> usar a argamassa tradicional com cimento na<br />

composição, se utiliza uma cola especial. A utilização <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

proveniente <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> baixo impacto ou <strong>de</strong> reflorestamento<br />

também constitui uma alternativa interessante nas construções<br />

sustentáveis, pois quando as árvores cortadas crescem novamente,<br />

voltando a seqüestrar CO2.<br />

No momento da construção também se planeja formas <strong>de</strong> se<br />

diminuir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iluminação ou climatização durante a via útil<br />

da edificação, a fim <strong>de</strong> se economizar energia. O planejamento inclui a<br />

escolha dos materiais e da arquitetura do edifício. Os principais<br />

responsáveis pelo consumo <strong>de</strong> energia e pelas emissões <strong>de</strong> gases estufa<br />

nas edificações no momento <strong>de</strong> uso estão no gráfico 49 :<br />

49 O gráfico po<strong>de</strong> ser encontrado no link:<br />

http://www.mckinsey.com/clientservice/ccsi/pathways_low_carbon_econo<br />

my.asp<br />

Nesse gráfico a McKinsey incluiu as emissões indiretas das edificações (ex.<br />

consumo <strong>de</strong> energia elétrica).


A climatização e a iluminação são as utilida<strong>de</strong>s que apresentam o<br />

maior potencial <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> consumo através <strong>de</strong> uma construção<br />

planejada para se tornar eficiente energeticamente. O <strong>aquecimento</strong> <strong>de</strong><br />

água tem como melhor opção o uso <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> energia renovável,<br />

o aquecedor solar, e os aparelhos elétricos (televisão, computadores)<br />

não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m diretamente da construção para serem eficientes, por isso<br />

os aparelhos serão comentados no ítem 11.2 .<br />

A iluminação respon<strong>de</strong> por importantes 15% <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong><br />

gases estufa nas edificações. Elementos como pare<strong>de</strong>s internas claras e<br />

uma arquitetura que facilite a entrada da luz solar, aumentam a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> horas sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz artificial em residências e<br />

diminuem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz artificial durante o dia nos escritórios<br />

comerciais. Numa região fria, on<strong>de</strong> se precisa <strong>de</strong> iluminação e calor ao<br />

mesmo tempo, janelas transparentes no teto das residências permitem a<br />

entrada <strong>de</strong> luz e criam um efeito estufa interno, apresentando duas<br />

utilida<strong>de</strong>s. Em regiões quentes, a solução não é recomendada, pois


enquanto se aumenta a luminosida<strong>de</strong>, aumenta-se mais ainda o<br />

in<strong>de</strong>sejável calor. Uma solução para as regiões quentes são os Domus<br />

Prismáticos. Eles são compostos <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> micro prismas,<br />

localizados nos tetos das construções, que fragmentam a luz em micro<br />

raios, direcionando-os em todo ambiente interno e gerando um leve e<br />

agradável brilho natural <strong>de</strong> luz. Além disso, cerca <strong>de</strong> 75% do calor<br />

transmitido pelos raios infravermelhos, o espectro <strong>de</strong> luz responsável<br />

pela transmissão do calor, volta para atmosfera, mantendo-se o ambiente<br />

interno com uma temperatura agradável. O aumento da iluminação<br />

natural estimula favoravelmente o relógio biológico humano,<br />

aumentando a produtivida<strong>de</strong> no trabalho.<br />

A manutenção da temperatura interna (climatização) nas<br />

edificações constitui a principal forma <strong>de</strong> reduzir gastos com energia. A<br />

busca principal é o isolamento térmico da construção, evitando a<br />

transmissão do calor em locais quentes e a transmissão do frio em locais<br />

gelados. Dessa forma evitam-se gastos <strong>de</strong> energia com a calefação ou<br />

com a refrigeração do ambiente. Projetos <strong>de</strong> isolamento térmico po<strong>de</strong>m<br />

reduzir drasticamente a perda <strong>de</strong> calor e ajudar a <strong>de</strong>ter as mudanças<br />

climáticas. A <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> energia para <strong>aquecimento</strong> nos prédios<br />

existentes po<strong>de</strong> ser reduzida <strong>de</strong> 30% a 50%, em média. Em prédios<br />

novos, a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> energia para <strong>aquecimento</strong> po<strong>de</strong> ser reduzida <strong>de</strong><br />

90% a 95%, usando-se tecnologia e projetos amplamente disponíveis e<br />

competitivos 50 . Nas regiões frias as casas <strong>de</strong>vem ser construídas sobre<br />

pedras para se proteger do frio que vem do solo e precisam <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

grossas para isolar termicamente do frio externo do ar. Nas regiões<br />

quentes as construções <strong>de</strong>vem facilitar a entrada <strong>de</strong> ventilação, ser<br />

pintadas externamente com cores claras para refletir a luz solar e<br />

principalmente apresentarem um telhado que impeça a passagem do<br />

calor para o interior da residência ou edifício comercial. O alumínio é<br />

um excelente refletor da luz solar e conseqüentemente um excelente<br />

isolador térmico. Ele é usado em forma <strong>de</strong> telhas <strong>de</strong> alumínio ou em<br />

forma <strong>de</strong> folhas finas que cobrem as telhas convencionais. Outra<br />

maneira <strong>de</strong> combater o calor nos telhados é o resfriamento evaporativo,<br />

on<strong>de</strong> se utiliza uma irrigação periódica com água fria no telhado. A água<br />

fria retira o calor do telhado, evaporando em seguida. O telhado diminui<br />

<strong>de</strong> temperatura e transfere menos calor para o interior da edificação. Os<br />

50 Fonte: www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf


telhados ver<strong>de</strong>s também representam uma alternativa interessante <strong>de</strong><br />

climatização <strong>de</strong> casas ou edifícios. Eles constituídos <strong>de</strong> uma cobertura<br />

<strong>de</strong> grama ou <strong>de</strong> um jardim e são usados a milhares <strong>de</strong> anos, tornando a<br />

temperatura amena em locais quentes. Veja a imagem 51 :<br />

A vegetação absolve menos calor do que os telhados<br />

convencionais, e parte da pequena energia absolvida é perdida através<br />

do processo <strong>de</strong> evaporação da água da planta. O uso coletivo <strong>de</strong> telhados<br />

ver<strong>de</strong>s po<strong>de</strong> potencializar economia <strong>de</strong> energia e bem-estar climático<br />

numa cida<strong>de</strong> inteira. Em cida<strong>de</strong>s como Teresina, na região Nor<strong>de</strong>ste do<br />

Brasil, on<strong>de</strong> a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida é muito prejudicada pelo calor, o<br />

incentivo governamental ao uso <strong>de</strong> telhados ver<strong>de</strong>s teria gran<strong>de</strong> sucesso.<br />

Um exemplo prático da importância dos vegetais são as diferenças <strong>de</strong><br />

temperatura <strong>de</strong> até 6,0 C° entre áreas distintas das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s<br />

tropicais. Enquanto regiões ricas, cheias <strong>de</strong> jardins, apresentam<br />

temperaturas mais amenas, as regiões mais pobres, sem áreas ver<strong>de</strong>s,<br />

apresentam temperaturas mais altas.<br />

51 A imagem está no site: www.ecotelhado.com.br


11.2 Fabricação <strong>de</strong> aparelhos elétricos e luminárias <strong>de</strong> baixo<br />

consumo<br />

Os aparelhos elétricos e a iluminação são responsáveis juntos por<br />

35% das emissões <strong>de</strong> gases estufa nas edificações. No caso da<br />

iluminação uma construção bem planejada diminui a sua <strong>de</strong>manda,<br />

como vimos no ítem 11.1, mas não exclui a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iluminação<br />

mesmo que em menor intensida<strong>de</strong>. Nesse caso a alternativa para<br />

diminuir mais ainda o gasto <strong>de</strong> energia com iluminação é o uso <strong>de</strong><br />

luminárias <strong>de</strong> baixo consumo.<br />

A forma mais simples <strong>de</strong> aumentar a eficiência energética em<br />

aparelhos elétricos e eletrônicos é a imposição <strong>de</strong> marcos regulatórios<br />

fortes pelos governos. Os padrões <strong>de</strong> eficiência energética que são<br />

classificados como "A" pelas agências reguladoras <strong>de</strong>vem mudar<br />

freqüentemente. Como em quase todas as iniciativas <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong><br />

eficiência energética, um aumento no custo <strong>de</strong> aparelhos elétricos<br />

através da imposição <strong>de</strong> exigentes padrões <strong>de</strong> eficiência gerará uma<br />

economia <strong>de</strong> dinheiro várias vezes maior durante a vida útil do<br />

equipamento através da economia <strong>de</strong> energia. Essas exigências corrigem<br />

as compras ina<strong>de</strong>quadas dos consumidores, que muitas vezes escolhem<br />

aparelhos elétricos ineficientes mirando <strong>de</strong> forma míope apenas o preço<br />

<strong>de</strong> venda do produto. O uso da energia por utensílios domésticos como<br />

máquinas <strong>de</strong> lavar roupas, lava-louças, TVs e refrigeradores po<strong>de</strong> ser<br />

reduzido em 30% usando as melhores opções disponíveis no mercado, e<br />

em 80% com tecnologias avançadas. O uso da energia por aparelhos<br />

elétricos <strong>de</strong> escritório po<strong>de</strong> ser reduzido entre 50% a 75% através <strong>de</strong><br />

uma combinação <strong>de</strong> gestão energética e sistemas <strong>de</strong> computação<br />

eficientes 52 .<br />

O aumento <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>snecessárias nos aparelhos<br />

elétricos também tem incentivado o consumo ineficiente <strong>de</strong> energia nos<br />

últimos anos. As indústrias têm aumentado a fabricação dos aparelhos<br />

elétricos que consomem energia mesmo quando estão <strong>de</strong>sligados, no<br />

modo conhecido como standby. O modo standby mantém recursos<br />

<strong>de</strong>snecessários nos aparelhos eletrônicos como a marcação da hora. O<br />

consumo <strong>de</strong> energia no modo standby é baixo, mas como ocorre 24<br />

horas por dia po<strong>de</strong> representar um consumo total <strong>de</strong> energia maior do<br />

52 Fonte: www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf


que o consumo ocorrido pelo uso do aparelho. A Agência Internacional<br />

<strong>de</strong> Energia estima que o modo standby po<strong>de</strong> ser responsável por 1% das<br />

emissões mundiais <strong>de</strong> gases estufa, o que eqüivale as emissões <strong>de</strong> toda a<br />

indústria da aviação 53 . Em 1999, a AIE lançou a “iniciativa do watt<br />

único”, a fim <strong>de</strong> incentivar fabricantes a limitar o modo standby a um<br />

watt ou menos.<br />

Na iluminação os ganhos <strong>de</strong> eficiência energética passam pela<br />

substituição das lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes e fluorescentes por LEDs. Os<br />

LEDS são materiais semicondutores semelhantes aos usados nos chips<br />

<strong>de</strong> computador, que emitem luz quando percorridos por uma corrente<br />

elétrica. As lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes apresentam a pior eficiência<br />

energética, mas ainda representam uma fatia importante no uso <strong>de</strong><br />

luminárias. No Brasil, por exemplo, 50% das lâmpadas utilizadas ainda<br />

são incan<strong>de</strong>scentes. As lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes apresentam uma<br />

capacida<strong>de</strong> luminosa <strong>de</strong> apenas 12 lumens por watt. As lâmpadas<br />

fluorescentes fluorescentes são 5 vezes mais econômicas do que as<br />

lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes, apresentando uma capacida<strong>de</strong> luminosa <strong>de</strong> 60<br />

lumens por watt. Substituir todas as lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes do mundo<br />

por lâmpadas fluorescentes reduziria o consumo mundial <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong><br />

em 12%. As lâmpadas fluorescentes têm uma vida útil 10 vezes superior<br />

às incan<strong>de</strong>scentes. No entanto a melhor solução é a substituição <strong>de</strong> todas<br />

as lâmpadas incan<strong>de</strong>scentes e fluorescentes pelos LEDs. As lâmpadas<br />

com LED são mais econômicas do que as fluorescentes e apresentam<br />

maior vida útil, possuindo uma extraordinária capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 150 lumens<br />

por watt. Elas são mais caras do que as fluorescentes, mais vêm<br />

diminuindo <strong>de</strong> preço nos últimos anos e vem sendo utilizadas <strong>de</strong> modo<br />

crescente nas residências. No longo prazo as lâmpadas com LED<br />

possuem um custo líquido muito menor do que as lâmpadas<br />

fluorescentes. Por ultimo ainda há o potencial <strong>de</strong> diminuição da energia<br />

gasta com iluminação através do uso em massa <strong>de</strong> sistemas inteligentes<br />

como o sensor <strong>de</strong> presença. A iluminação <strong>de</strong> um corredor num prédio<br />

comercial, por exemplo, só é acionada quando o sensor <strong>de</strong>tecta a<br />

presença <strong>de</strong> uma pessoa.<br />

53 Fonte: www.iea.org/textbase/papers/2005/standby_fact.pdf


11.3 Fabricação <strong>de</strong> veículos com baixo consumo <strong>de</strong><br />

combustível<br />

No capítulo 10 foram citadas formas importantes <strong>de</strong> diminuição<br />

<strong>de</strong> emissões nos veículos como o uso <strong>de</strong> carros movidos a<br />

biocombustíveis e como o uso <strong>de</strong> carros elétricos que utilizam energias<br />

limpas como fontes primárias. Quanto ao aumento da eficiência<br />

energética em veículos, o assunto a ser tratado neste item, as<br />

oportunida<strong>de</strong>s se referem às tecnologias que tornam os carros mais<br />

econômicos. A fabricação <strong>de</strong> veículos mais eficientes diminuirá as<br />

emissões <strong>de</strong> CO2 para a atmosfera através do menor consumo <strong>de</strong><br />

combustível fóssil. O transporte rodoviário é responsável por 71% das<br />

emissões <strong>de</strong> gases estufa no setor <strong>de</strong> transportes, contribuindo com 5<br />

bilhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> CO2 equivalente emitidas anualmente. Os<br />

automóveis atuais consomem a meta<strong>de</strong> do que os automóveis similares<br />

<strong>de</strong> 30 anos atrás consumiam. O problema é que o mundo está mais rico<br />

e comprando automóveis muito maiores e confortáveis. Isso anulou os<br />

ganhos <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong> consumo, fazendo com que os carros atuais<br />

tenham um consumo médio similar aos <strong>de</strong> 30 anos atrás. De olho nisso<br />

os governos do mundo estão criando metas <strong>de</strong> consumo médio <strong>de</strong><br />

combustível para a frota inteira das montadoras.<br />

As tecnologias <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> consumo nos veículos se aplicam<br />

tanto ao trem <strong>de</strong> força dos veículos quanto à estrutura física. O trem <strong>de</strong><br />

força dos veículos po<strong>de</strong> ser mais eficiente através <strong>de</strong> ganhos técnicos<br />

nos motores e nas caixas <strong>de</strong> transmissão dos veículos. No entanto a<br />

forma <strong>de</strong> se conseguir os maiores ganhos <strong>de</strong> economia <strong>de</strong> combustível é<br />

a implantação <strong>de</strong> uma propulsão adicional elétrica ao trem <strong>de</strong> força<br />

movido a gasolina ou a diesel. O carro híbrido tem um motor a gasolina<br />

e outro elétrico. O motor elétrico aproveita parte da energia<br />

<strong>de</strong>sperdiçada pelo motor a gasolina (ex: energia dos freios) e armazena<br />

essa energia numa bateria. Quando o carro está parado num sinal ele<br />

funciona exclusivamente como o motor elétrico, o que evita consumo <strong>de</strong><br />

combustível, e quando se movimenta os dois motores po<strong>de</strong>m funcionar<br />

simultaneamente. O carro híbrido básico tem uma redução <strong>de</strong> consumo<br />

apenas com a ajuda da eficiência energética. Não se utiliza energia<br />

elétrica externa, não precisando portanto <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> energia elétrica complementar. Qualquer local do<br />

mundo está preparado para receber os carros híbridos. Um carro híbrido<br />

é entre 25% e 50% mais econômico que um carro comum. Um Toyota


Prius, por exemplo, é capaz <strong>de</strong> fazer 25 km/l na cida<strong>de</strong>, enquanto um<br />

carro do mesmo padrão faz 12km/l. Os avanços tecnológicos <strong>de</strong>vem<br />

tornar a diferença <strong>de</strong> custos em relação aos carros comuns bem menor e<br />

tornar a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fabricação dos carros híbridos menos<br />

onerosa para o consumidor. Evi<strong>de</strong>ntemente que os custos adicionais na<br />

aquisição dos carros híbridos serão compensados com gastos menores<br />

com combustível.<br />

Com a massificação dos carros híbridos, os automóveis<br />

fabricados em 2030 po<strong>de</strong>rão ter um consumo médio <strong>de</strong> 25 km/l. Com a<br />

inclusão <strong>de</strong> melhoras na estrutura física dos veículos que aumentam a<br />

eficiência energética, como a diminuição do peso e a melhora<br />

aerodinâmica dos veículos, os carros po<strong>de</strong>rão fazer 30 km/l.<br />

Basicamente, os carros gastam energia através das perdas por atrito,<br />

influenciadas pelo peso, e através da resistência do ar. O peso do veículo<br />

po<strong>de</strong> ser diminuído com o uso <strong>de</strong> materiais mais leves. Uma diminuição<br />

<strong>de</strong> peso dos veículos gera uma gran<strong>de</strong> economia <strong>de</strong> combustível. O uso<br />

do aluminío na carroceria e nas peças torna os carros mais leves e<br />

resistentes. Enquanto o típico carro americano tinha 40 quilos <strong>de</strong><br />

alumínio em 1974, em 2006, ele tinha em média 160 quilos. O alumínio<br />

é muito caro, principalmente por exigir muita energia na fabricação.<br />

Esse gasto energético inicial, gerará uma redução <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong><br />

energia muito maior durante a vida útil do veículo. Uma alternativa é<br />

reciclar o aluminío, que gasta apenas 10% da energia usada na<br />

fabricação para ser reciclado porque envolve o <strong>de</strong>rretimento do metal ao<br />

invés do processo tradicional <strong>de</strong> redução eletroquímica. Não é por acaso<br />

que em todo mundo as latinhas <strong>de</strong> refrigerante e cerveja compostas <strong>de</strong><br />

alumínio li<strong>de</strong>ram os índices <strong>de</strong> reciclagem. O incentivo governamental a<br />

um forte aumento do uso <strong>de</strong> alumínio nos carros ajudará o atendimento<br />

da meta <strong>de</strong> se fabricar carros que façam 30 km/l em 2030. Com o passar<br />

dos anos, os carros feitos <strong>de</strong> alumínio que acabarem a vida útil, terão o<br />

seu alumínio reciclado, diminuindo os custos <strong>de</strong> fabricação dos carros<br />

novos e gerando um ciclo virtuoso. Algumas empresas estão mirando<br />

mais a frente, adaptando materiais da era espacial super leves ao invés<br />

<strong>de</strong> focarem em materiais leves convencionais como o alumínio. Entre<br />

esses materiais super leves se <strong>de</strong>staca o produzido pela empresa<br />

Fiberforge 54 . Ela fabrica compostos <strong>de</strong> termoplástico avançado<br />

reforçado com fibra <strong>de</strong> vidro ou carbono. Outra forma <strong>de</strong> diminuição <strong>de</strong><br />

54 http://www.fiberforge.com/


consumo é a fabricação <strong>de</strong> carros com melhor coeficiente aerodinâmico,<br />

afim <strong>de</strong> que se diminua a resistência do ar. Os governos <strong>de</strong>vem exigir<br />

níveis mínimos <strong>de</strong> coeficientes aerodinâmicos para cada categoria <strong>de</strong><br />

carros novos. Um exemplo <strong>de</strong> veículo super eficiente eficiente é o<br />

Loremo, carro fabricado pela empresa do mesmo nome. Ele faz 67<br />

quilômetros com 1 litro <strong>de</strong> combustível e é um carro tão funcional<br />

quanto um automóvel comum do seu porte, transportando 4 pessoas 55 . O<br />

carro é feito com materiais leves e pesa apenas 450 kilos, além <strong>de</strong><br />

apresentar um excelente coeficiente aerodinâmico <strong>de</strong> 0,20. O motor é<br />

movido a diesel e o carro chega a 160km/h <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> máxima. Veja<br />

a foto do Loremo:<br />

Nos próximos 20 anos se prevê um aumento proporcionalmente<br />

maior nas emissões do setor <strong>de</strong> transportes em relação aos outros setores<br />

econômicos <strong>de</strong>vido a previsão <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> quase 100% na quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> veículos no mundo. Construir veículos mais eficientes juntamente<br />

com o aumento da participação <strong>de</strong> fontes limpas como os<br />

biocombustíveis evitará que essa explosão <strong>de</strong> emissões ocorra.<br />

55 O site da empresa é: www.loremo.com


11.4 Fabricação dos produtos industriais com diminuição do<br />

consumo <strong>de</strong> energia<br />

Os processos industriais geram emissões diretas e indiretas. As<br />

emissões diretas ocorrem na própria planta industrial (ex. produção <strong>de</strong><br />

ferro gusa com a queima <strong>de</strong> carvão) e as emissões indiretas ocorrem<br />

essencialmente através do consumo <strong>de</strong> energia elétrica na indústria,<br />

sendo a produção da energia numa usina termelétrica externa. Nas<br />

emissões indiretas através do consumo <strong>de</strong> energia elétrica, inúmeros<br />

ganhos <strong>de</strong> eficiência energética têm ocorrido, principalmente com a<br />

ajuda da informatização das fábricas. Um exemplo <strong>de</strong>sse aumento <strong>de</strong><br />

eficiência é o uso <strong>de</strong> motores <strong>de</strong> alto rendimento com controle<br />

eletrônico <strong>de</strong> partida, velocida<strong>de</strong> e freqüência. Aproximadamente 65%<br />

do consumo <strong>de</strong> eletricida<strong>de</strong> industrial <strong>de</strong>stina-se a impulsionar sistemas<br />

<strong>de</strong> motores elétricos 56 em máquinas como bombas, compressores e<br />

ventiladores. Um motor que opera <strong>de</strong> modo contínuo e flexível em<br />

velocida<strong>de</strong>s relativamente baixas usa muito menos energia do que um<br />

motor que liga e <strong>de</strong>sliga em uma velocida<strong>de</strong> muito alta 57 . No entanto,<br />

esses ganhos não avançam mais rapidamente <strong>de</strong>vido a gran<strong>de</strong> vida útil<br />

(superior a 30 anos) <strong>de</strong> aparelhos obsoletos energeticamente, mas que a<br />

substituição custa caro. Existem cal<strong>de</strong>iras funcionando há mais <strong>de</strong> 50<br />

anos e motores há mais <strong>de</strong> 30 anos. Substituir equipamentos significa, às<br />

vezes, alterar todo o projeto <strong>de</strong> um processo ou <strong>de</strong> uma planta industrial.<br />

Isso implica em investimentos com um tempo <strong>de</strong> retorno financeiro<br />

longo. As gran<strong>de</strong>s indústrias normalmente apresentam capital aberto e<br />

alegam que os investimentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m dos acionistas. A melhor forma<br />

<strong>de</strong> se obter ganhos cada vez maiores <strong>de</strong> eficiência energética na<br />

indústria é a imposição <strong>de</strong> marcos regulatórios pelos governos que<br />

estabeleçam consumos <strong>de</strong> energia cada vez menores na fabricação dos<br />

produtos juntamente com incentivos financeiros governamentais para<br />

mudanças estruturais nas indústrias.<br />

A diminuição das emissões diretas dos processos industriais<br />

através do aumento da eficiência energética tem gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong><br />

implementação. Os setores industriais que apresentam as maiores<br />

56 Fonte: www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf<br />

57 Gabrielle Walker e Sir David King.Como combater o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e<br />

manter as luzes acesas. Página 110, 2008


emissões são os setores químico, si<strong>de</strong>rúrgico e petrolífero. O setor<br />

cimenteiro também po<strong>de</strong>ria ser incluído grupo, mas resolvi explicá-lo no<br />

ítem 11.1 (Construções <strong>de</strong> edificações sustentáveis), por estar<br />

intimamente associado às edificações. A maioria das iniciativas se refere<br />

a processos técnicos específicos <strong>de</strong> cada indústria, mas existem<br />

alternativas que se aplicam as 3 principais indústrias como a<br />

manutenção preventiva <strong>de</strong> equipamentos, a otimização <strong>de</strong> processos <strong>de</strong><br />

gestão e logística e a co-geração. Na co-geração o calor gerado pelos<br />

gases <strong>de</strong> um forno si<strong>de</strong>rúrgico, por exemplo, é reaproveitado para gerar<br />

energia elétrica. Essa energia elétrica po<strong>de</strong> abastecer a própria indústria<br />

ou po<strong>de</strong> ser vendida para um consumidor externo. Uma fonte <strong>de</strong> calor é<br />

usada eficientemente para duas funções ao invés <strong>de</strong> uma só. Quanto à<br />

diminuição <strong>de</strong> emissões diretas através da melhoria dos processos<br />

específicos <strong>de</strong> cada indústria po<strong>de</strong>mos citar:<br />

a) Indústria química – Otimização <strong>de</strong> catalisadores. Os catalisadores são<br />

aquelas substâncias que aceleram a velocida<strong>de</strong> das reações químicas. O<br />

aumento da velocida<strong>de</strong> das reações diminui a necessida<strong>de</strong> da queima <strong>de</strong><br />

combustíveis fósseis;<br />

b) Indústria petrolífera – redução do “flaring”. O “flaring” é a queima<br />

<strong>de</strong> gás natural em poços <strong>de</strong> petróleo. Quando o petróleo bruto é trazido à<br />

superfície, vem com ele também o gás natural. Este gás po<strong>de</strong> ser<br />

transportado por gasodutos e vendido, ou po<strong>de</strong> ser reinjetado no próprio<br />

campo. Entretanto, em áreas que não dispõem <strong>de</strong> infra-estrutura ou<br />

mercados, este gás associado é usualmente liberado na atmosfera,<br />

queimado ou não. Embora a queima <strong>de</strong> gás natural seja um método<br />

seguro e efetivo <strong>de</strong> eliminar o excesso <strong>de</strong> gás associado à produção <strong>de</strong><br />

petróleo (a liberação <strong>de</strong>ste gás, em gran<strong>de</strong> parte metano, sem queimá-lo,<br />

é muito mais nociva do ponto <strong>de</strong> vista ambiental), o "flaring" <strong>de</strong>sperdiça<br />

uma valiosa fonte <strong>de</strong> energia e emite dióxido <strong>de</strong> carbono. A construção<br />

<strong>de</strong> infra-estrutura para o uso do gás, o acesso a novos mercados<br />

consumidores e o estabelecimento <strong>de</strong> marcos regulatórios que<br />

estimulem o uso racional do combustível são fundamentais para a<br />

redução do “flaring”.


Capítulo 12: Conclusão<br />

Nós faremos inicialmente uma recapitulação. Ao longo do livro<br />

foram avaliadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mitigação do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

sob os ângulos científico, econômico e político, apresentando dados <strong>de</strong><br />

estudos realizados por instituições que são referências mundiais no<br />

tema. Essa avaliação começou com as previsões científicas do IPCC<br />

2007 sobre o impacto que as nossas emissões futuras <strong>de</strong> gases estufa<br />

trarão ao clima da Terra. Posteriormente mostramos estudos importantes<br />

da Agência Internacional <strong>de</strong> Energia e da Consultoria McKinsey sobre<br />

as estimativas <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong> gases estufa até 2030. Também foi<br />

apresentada a proposta <strong>de</strong> mitigação <strong>de</strong> emissões da consultoria<br />

McKinsey que tem o objetivo <strong>de</strong> reduzir em 30% as emissões <strong>de</strong> gases<br />

estufa lançadas em 2005 até o ano <strong>de</strong> 2030. A proposta a ser<br />

implementada no período 2011-2030 po<strong>de</strong> controlar o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong>, limitando o aumento da temperatura da Terra em 2°C. O nível <strong>de</strong><br />

viabilida<strong>de</strong> política da proposta foi avaliado. Posteriormente os três<br />

principais grupos <strong>de</strong> mitigação <strong>de</strong> emissões foram abordados focando<br />

nos potenciais e gargalos <strong>de</strong> cada iniciativa. Os capítulos explicaram<br />

com aprofundamento o título do livro: “<strong>Controlando</strong> o <strong>aquecimento</strong><br />

<strong>global</strong> - como reduzir em 30% as emissões <strong>de</strong> gases estufa até 2030”.<br />

No entanto essa proposta se refere apenas a um caminho técnico que a<br />

humanida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> seguir ou po<strong>de</strong> não seguir. Não adianta provar que o<br />

custo líquido para controlar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> é baixo e viável <strong>de</strong> ser<br />

implementado, se a socieda<strong>de</strong> e os governantes não se convencerem<br />

disso. Por isso é tão importante que as informações corretas sejam<br />

disseminadas e que se procurem formas a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> financiamento das<br />

iniciativas.<br />

Quanto à disseminação correta da informação é fundamental que<br />

as pessoas saibam que as florestas tropicais, por exemplo, po<strong>de</strong>m ser<br />

salvas com uma quantida<strong>de</strong> muito pequena <strong>de</strong> investimento em relação<br />

as suas rendas. Com um volume <strong>de</strong> investimento que cresce<br />

gradativamente e atinge 0,07% do PIB <strong>global</strong> estimado em 2030 esse<br />

objetivo po<strong>de</strong> ser alcançado. Também é importante que as pessoas<br />

saibam que a implementação <strong>de</strong> iniciativas <strong>de</strong> aumento da eficiência<br />

energética as tornará mais ricas ao invés <strong>de</strong> diminuírem as suas rendas<br />

como muitos pensam. Os sete argumentos apresentados no capítulo 6


<strong>de</strong>ste livro para se “ven<strong>de</strong>r a idéia” do combate ao <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

aos governantes mundiais representam informações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia. A<br />

socieda<strong>de</strong> na forma <strong>de</strong> ONGs, associações <strong>de</strong> classe, cidadãos, políticos<br />

e partidos políticos tem gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> realizar a missão <strong>de</strong><br />

informar.<br />

Quanto ao financiamento das iniciativas é preciso que os<br />

governos cumpram essa missão com a contribuição dos cidadãos na<br />

forma <strong>de</strong> impostos. A contribuição espontânea e direta dos<br />

consumidores para financiar as iniciativas é muito difícil. Se um<br />

consumidor tiver que escolher entre um carro híbrido, 20% mais caro,<br />

mas que economizará combustível, e um carro comum ele<br />

provavelmente escolherá um carro comum vislumbrando a economia no<br />

curto prazo. Apesar <strong>de</strong> existirem pessoas engajadas com a causa<br />

ambiental, que trocam um ganho econômico por um ganho ambiental<br />

difuso para socieda<strong>de</strong>, a maioria das pessoas só respon<strong>de</strong> as causas<br />

ambientais se tiverem estímulos econômicos. Isso se agrava pelo fato <strong>de</strong><br />

a maioria dos impactos ambientais negativos do <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

ainda não estarem acontecendo. Por outro lado uma gran<strong>de</strong> parte dos<br />

cidadãos do mundo está disposta a contribuir através <strong>de</strong> impostos com<br />

1% das suas rendas para financiar iniciativas que combaterão o<br />

<strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> e que trarão benefícios econômicos futuros como a<br />

economia <strong>de</strong> energia que compensarão a maioria dos impostos pagos. A<br />

disposição <strong>de</strong> contribuir dos cidadãos, mesmo que com uma pequena<br />

fatia das suas rendas, precisa ser aproveitada pelos governos. Essa é a<br />

forma mais a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> se obter recursos para financiar as iniciativas.<br />

A nossa socieda<strong>de</strong> apresenta cada vez mais uma economia <strong>de</strong> serviços<br />

baseada em setores como saú<strong>de</strong>, educação e tecnologia da informação,<br />

setores que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> muitos recursos físicos e<br />

conseqüentemente não lançam muito gases estufa. Então é mais fácil<br />

diluir o custo <strong>de</strong> investimento das iniciativas entre os setores <strong>de</strong> alta<br />

emissão (minoria da economia) e os setores <strong>de</strong> baixa emissão (maioria<br />

da economia) do que esperar que os consumidores troquem produtos<br />

mais baratos por produtos mais caros em nome da consciência<br />

ambiental. Os custos são os mesmos, mas as abordagens são diferentes.<br />

Uma isenção <strong>de</strong> impostos para carros híbridos para que tenham o<br />

mesmo preço <strong>de</strong> carros convencionais po<strong>de</strong> ser compensada com um<br />

pequeno aumento <strong>de</strong> impostos em todos os setores econômicos. Como<br />

complemento po<strong>de</strong>mos ter aumentos <strong>de</strong> impostos para setores<br />

poluidores a fim <strong>de</strong> incentivar o uso <strong>de</strong> tecnologias limpas, assim como


uma boa regulação estatal para incentivar o aumento da eficiência<br />

energética. Por fim os consumidores conscientes têm muita importância,<br />

pois aquilo que faltar em termos <strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> políticas pelos<br />

governos po<strong>de</strong> ser complementado pelas iniciativas individuais<br />

espontâneas como trocar o carro por transporte coletivo, fazer coleta<br />

seletiva <strong>de</strong> lixo e comprar apenas produtos ambientalmente sustentáveis.<br />

Gran<strong>de</strong> parte da escolha do clima que teremos nas próximas<br />

décadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões políticas. No final do ano <strong>de</strong> 2009<br />

tivemos a COP 15 58 , uma reunião entre governantes do mundo em<br />

Copenhague na Dinamarca on<strong>de</strong> se discutiu o que faremos para<br />

combater as mudanças climáticas nas próximas décadas. Na conferência<br />

poucos resultados concretos foram alcançados. Essa conferência e<br />

outras conferências posteriores nos próximos anos serão fundamentais<br />

para <strong>de</strong>cidir o rumo que a socieda<strong>de</strong> e os governos tomarão. Muitos<br />

analistas acreditam que o ponto <strong>de</strong> controlar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>,<br />

diante dos relatórios científicos mais recentes, já passou. Outros acham<br />

que não conseguiremos nos <strong>de</strong>sviciar da nossa matriz energética suja.<br />

Esse pessimismo não é compartilhado por mim. Acredito que diante do<br />

bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> informações na mídia sobre o tema <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong><br />

nos últimos anos e diante dos estudos técnicos que os tomadores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões políticas têm nas mãos, alertando sobre os perigos das<br />

catástrofes climáticas futuras, ocorrerá uma MUDANÇA. A pressão<br />

ambiental será muito mais forte nas próximas duas décadas por parte da<br />

socieda<strong>de</strong> organizada do que foi nas duas décadas anteriores, e isso<br />

provavelmente modificará a estimativa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> emissões <strong>de</strong><br />

gases estufa. No entanto é uma gran<strong>de</strong> incógnita saber se essa mudança<br />

será suficiente para controlar o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong>. Nesse processo <strong>de</strong><br />

mudança qualquer atitu<strong>de</strong> favorável conta, mesmo que o objetivo final<br />

<strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> temperatura <strong>global</strong> <strong>de</strong>ntro do limite <strong>de</strong> 2°C não seja<br />

alcançado. Quanto menos gases estufa lançarmos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

aumento final da temperatura do planeta, menos mudanças climáticas<br />

teremos. Os três conselhos básicos que eu sugiro ao leitor para ajudar<br />

nesse esforço coletivo são: consumir produtos com o maior nível <strong>de</strong><br />

sustentabilida<strong>de</strong> ambiental possível, disseminar informar corretas sobre<br />

o <strong>aquecimento</strong> <strong>global</strong> às pessoas do seu convívio social e votar em<br />

políticos que tenham compromisso com a diminuição das mudanças<br />

climáticas.<br />

58 O en<strong>de</strong>reço eletrônico oficial da Conferência é: www.en.cop15.dk


A Terra, o mundo azul on<strong>de</strong> vivemos, é o único lugar do universo<br />

que propicia a sobrevivência da humanida<strong>de</strong>. Nós precisamos agir agora<br />

para que ela continue nos fornecendo o clima estável dos últimos<br />

milhares <strong>de</strong> anos que garantiu o florescimento da nossa civilização. Essa<br />

<strong>de</strong>cisão provará que somos verda<strong>de</strong>iramente racionais.

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