You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Introdução<br />
A história de uma nação não se conhece apenas pelos personagens e mártires que<br />
participaram ativamente de importantes fatos históricos mas também pela sua<br />
gastronomia .<br />
É a gastronomia, muitas vezes, que preserva a herança cultural recebida dos<br />
antepassados, explicada não somente por fatores geográficos e climáticos, mas também<br />
por hábitos,costumes e preferências locais.<br />
No Brasil, prevalecem as influências culinárias da tríade de formação do povo<br />
brasileira, composta por negros, portugueses e índios, facilmente observada em muitos<br />
dos pratos mais antigos e tradicionais de nossa Gastronomia.<br />
O que mais impressiona, ao viajar pela “ história Gastronômica Brasileira” é a<br />
riqueza de matérias-prima que a natureza oferece aliada à necessidade e criatividade de<br />
cada momento vivido, onde o homem, seja nativo ou estrangeiro procurou adaptar-se,<br />
na sua busca pela <strong>sobre</strong>vivência.<br />
Neste trabalho, o produto tema escolhido foi a mandioca, pela sua importância<br />
na alimentação desde o período anterior à colonização, como principal alimento<br />
indígena, sua substituição do trigo no período colonial até os dias de hoje.<br />
Da mandioca extraem subprodutos, como o beiju e a farinha.<br />
Neste trabalho, iremos documentar visita técnica realizada pelo grupo a um<br />
Engenho de Farinha., herança dos antepassados de importante tradição familiar, o<br />
“Engenho Andrade”.<br />
Porque a história de de um país não se conta somente pelos personagens que a<br />
fizeram, mas também pelo alimento que permitiu que ela se realizasse.
“A Alimentação Indígena” e o “Descobrimento”<br />
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, confundiram a mandioca com o<br />
inhame, conforme relatos históricos da carta de caminha de Pero Magalhães Gandavo<br />
(1576) e Gabriel Soares de Souza (1584), devido à semelhança entre os tubérculos.<br />
Ambos descreviam a mandioca, diariamente consumida, como raiz indispensável aos<br />
nativos e europeus recém – vindos, “Pão da Terra”, “Saborosa”, “substancial”.<br />
Com a colonização, muitos expõem, discutem registram detalhes do preparo da<br />
farinha, mingaus, beijus, caldos e bolos feitos com a rainha do Brasil: a mandioca.<br />
O que os portugueses não sabiam, é que sua utilização, na alimentação indígena<br />
era muito mais antiga que pudessem imaginar.<br />
A agricultura da mandioca tem mais ou menos dez mil anos de especialiozação e<br />
tecnologia de processamento, e durante esse tempo desenvolveram-se centenas de<br />
variedades.<br />
A mandioca vivia nos dois elementos inseparáveis da alimentação indígena: a<br />
farinha e os beijus.<br />
A farinha , produto essencial, acompanha todos os alimentos consumidos, entre<br />
carnes, peixes ou frutas. O beiju estava sempre presente nos momentos de caça, pesca,<br />
guerra e permutas, além de fornecer matéria – prima para produção de bebidas<br />
fermentadas chamadas de “Cauim”, também feitos com milho e frutas.<br />
Preparo do Cauim: Após cortadas em rodelas finas, a mandioca era fervida com<br />
água pelas mulheres em grandes vasilhas de barro, até que amolecessem. Eram então<br />
tiradas do forno esperava-se esfriar. Feito isso, as rodelas era mastigadas pelas<br />
mulheres, que jogavam- nas em outra vasilha, ao invés de engolir, usando-as para nova<br />
fervura, até que estivesse muito bem cozida, sob a forma de uma pasta.<br />
A pasta então, era colocada para fermentar em vasos de barro e quando espumae<br />
fermenta, os vasos eram cobertos e a bebida estava pronta para o consumo.<br />
Na Amazônia, na Costa Brasileira, em Santa Catarina, aglutinavam-se grupos<br />
com alimentação suprida pela mandioca, planta que produzia 7 toneladas de amido por<br />
hectare, por ano. E havia comida garantida pelos mandiocais por 3 anos: um em plantio,<br />
outro em crescimento e outro em produção, numa economia auto suficiente que<br />
congelou o modo de vida dessas populações a uma data equivalente a 5.000 a.c.<br />
Do liquido venenoso (mandioca brava), fermentado ao sol e fervido longamente<br />
fazia-se o tucupi, usado como caldo com batata- doce, carne, peixes e frutas, ou no<br />
tacacá ( até hoje herança indígena consumida no Norte do Brasil, também leva a goma<br />
de mandioca, pimenta, camarões , jambu).<br />
Da massa prensada, faziam-se os beijus, ( como pão ázimo) assados no forno de<br />
argila, os beijus cicas (torradinhos, o beiju com goma de tapioca.<br />
Do amido puro, decantado no tucupi, fazia-se a goma ou polvilho e as farinhas<br />
de tapioca para mingau.<br />
Da massa torrada e esfarelada farinhas de todas as cores, finas e grossas, usadas<br />
também nos tempos de Guerra, como ração fácil de carregar, que com água virava um<br />
pirão alimentício prático e fácil de fazer.<br />
Quando se mudavam de lugar como ocorreu com a chegada dos portugueses,<br />
todo mandiocal era transformada em farinha, sendo um alimento encontrado em<br />
quantidade, o que popularizou o uso da farinha, não só entre os índios, mas entre os<br />
europeus que aqui chegaram e os neobrasileiros.
Desde que chegaram, os portugueses perceberam a utilidade da mandioca, como<br />
provisão e recurso, ampliando seu cultivo.<br />
Também foi importante nos navios negreiros, onde não só figurava como moeda<br />
de troca mas como aporte nutricional na alimentação dos escravos.<br />
Os bandeirantes, ao seguir rumo a Oeste sempre deixavam um grupo de brancos<br />
e índios plantando mandioca e fazendo farinha pelo caminho.<br />
Diversas expedições Brasil – afora tinham na mandioca importante provisão<br />
entre os seus suprimentos, chamada “farinha- de- Pau” pelos colonizadores e “Farinha<br />
de Guerra” pelos indígenas.<br />
O 1º.Governador – Geral, Tomé de Souza, chegou a legislar <strong>sobre</strong> a mandioca,<br />
obrigando seu cultivo em 1549.<br />
O português carrega a mandioca para o continente africano desde os primeiros<br />
da colonização, não é a toa hoje a sua importância também na alimentação na África,<br />
onde foi plantada do Senegal à Guiné, na Nigéria, Gabão e Angola, desde o período<br />
colonial.<br />
A mandioca alcança as Índias e alastra-se em Java, tornando-se comum em<br />
1738, caindo no gosto também dos Asiáticos.<br />
O europeu, ao chegar no Brasil, até tentou plantar o trigo, mas devido às<br />
condições de solo e clima, isso não foi possível. Sorte sua poder encontrar um substituto<br />
tão rico e aclimatado, de origens tão remotas, como a <strong>Mandioca</strong>.<br />
A Bacia Tropical da Amazonas foi o centro da irradiação de cultivo de<br />
mandioca,estendendo-se para as Guianas e Venezuela, Haiti, Jamaica, Cuba e parte da<br />
Flórida e mesmo no séc XVI, o europeu já exportava mandioca, a raiz dos trópicos,<br />
soberana no cultivo popular onde nasceu.<br />
<strong>Mandioca</strong> Lenda Indígena Explica sua origem<br />
Tamanha a importância na cultura indígena, a origem da mandioca é explicada<br />
em uma lenda <strong>sobre</strong>natural.<br />
É a história de Mani, filha do cacique da tribo, foi concebida sem que tivesse um<br />
pai. O chefe da tribo furioso, condena a filha grávida a morte, mas em sonho é avisado<br />
para não executar a filha.<br />
A jovem, então da a luz a uma menina muito bela e branca, “Mani”, que com<br />
menos de um ano já falava fluentemente. Para a desgraça de todos, ao completar um<br />
ano, morre inesperadamente, sem sinais de sofrimento.<br />
Enterrada, do seu túmulo, nasce espontaneamente uma planta de folhas grandes<br />
e raízes grossas e fortes que fazem rachar a terra.<br />
Reconhecendo nas raízes que vinham da terra, a cor branca de Mani, a<br />
indiazinha falecida, os índios batizaram-na de “Manihoc” e dedicaram-se ao seu cultivo<br />
para sempre...<br />
Lenda colhida em Belém do Pará por Couto de Magalhães no ano de 92.
A <strong>Mandioca</strong> e seus Sub- Produtos no Período Pré Colonial<br />
1. Farinha: após colhida, descascada e ralada, era macerada no tipiti (espremedor de<br />
palha), aonde escorria o seu suco venenoso. A massa branca resultante era levada ao<br />
fogo, mexido e remexido até virar farinha.<br />
2. Polvilho: é a fécula da mandioca, obtido pela sedimentação de seu suco, também<br />
chamado de goma.<br />
Foi descoberto pelos índios.que se for usada em seguida é o polvilho doce ( ou<br />
goma fresca)<br />
Se o amido continuar fermentando por 15 ou 20 dias (sedimentação), passa a ser<br />
goma seca ou polvilho azedo.<br />
O polvilho deu origem ao beiju (espécie de panqueca), também é usado para o<br />
preparo de tapiocas e tacacá.<br />
3. Tapioca: goma, ainda úmida, espalhada em chapa, que estoura e produz grãos<br />
levíssimos, os índios consideravam “alimento dos deuses”<br />
4. Fubá “Carimã” no nordeste, é a massa obtida deixando as raízes de<br />
molho na água de 3 a 5 dias para fermentar prensadas e embaladas sob a forma de<br />
pequenas bolas. Usado para fazer bolos, mingau, angu e cuscuz.<br />
5. Tucupi: líquido amarelo que resulta do longo cozimento da manopueira ( líquido<br />
venenoso extraído da mandioca brava rico em ácido cianídrico), que evapora após a<br />
ebulição.<br />
6. Cauim: bebida indígena produzida pelo cozimento e fermentação via-saliva na boca<br />
das índias virgens.<br />
Atualmente os principais derivados da mandioca (a fécula e a farinha), além de<br />
largamente utilizados na indústria alimentícia , são usados na indústria cosmética,<br />
farmacêutica e até petrolífera.<br />
As folhas da mandioca são ricas em proteína e podem ser usado como ração<br />
animal.<br />
A farinha de mandioca e amido de mandioca são uma opção saudável para os<br />
celíacos (intolerantes ao glúten).<br />
A manipueira está sendo testada como defensivo natural para plantas, em<br />
substituição aos agrotóxicos químicos.
Os Tipos de <strong>Mandioca</strong><br />
<strong>Mandioca</strong> X Aipim<br />
As muitas variedades de mandioca podem ser agrupadas em dois tipos<br />
principais: a mandioca mansa, também chamada de doce, macaxeira ou aipim.<br />
É colhida de 7 a 14 meses após o plantio, menos fibrosa e mais fácil de cozinhar.<br />
Já a mandioca brava ou (amarga) é venenosa e possui alto teor de ácido<br />
cianídrico, nas folhas e raiz, não podendo ser consumida sem longo processamento. Os<br />
índios deram um salto cultural, ao domesticar a mandioca braba, conseguindo tirar seu<br />
veneno: após colhida, descascada e ralada, era macerada em “tipiti” (espécie de<br />
espremedor de palha), onde escorria seu suco venenoso.<br />
A massa branca resultante era levada ao fogo em grandes tachos, onde era<br />
remexida continuamente até virar farinha.<br />
Tucupi, O Caldo da <strong>Mandioca</strong><br />
Herança indígena, o tucupi foi usado durante 500 anos, especialmente no norte<br />
do Brasil, no Pará.<br />
Até chegar aos pontos de venda, o caldo passa por um trabalho desgastante: a<br />
mandioca é descascada, ensacada e prensada. O suco obtido é fervido várias vezes para<br />
perder o veneno. ( ácido cianídrico).<br />
Depois, passa por uma hora de repouso e quando sedimenta, é transferido para<br />
outro recipiente, onde ferve por mais 25 minutos e recebe temperos como chicória,<br />
alfavaca e também sal.<br />
O tucupi é usado em pratos tradicionais da cozinha paraense como: tacacá, pato<br />
no tucupi e maniçoba.<br />
A Farinha De <strong>Mandioca</strong><br />
Constitui um dos principais produtos da mandioca e seu uso é muito difundido<br />
pelo país.<br />
Caracteriza-se pelo seu alto valor energético, devido ao elevado teor de<br />
carboidrato, especialmente amido, além de conter alguns minerais como potássio,<br />
cálcio, fósforo, sódio e ferro em pequenas quantidades.<br />
A Produção Da Farinha<br />
A farinha de mandioca pode ser produzida tanto com mandiocas mansas como<br />
bravas.
A diferença é a quantidade de ácido cianídrico, sendo que, as bravas são mais<br />
produtivas, porém, necessitam prévio tratamento, podendo matar até mesmo os animais.<br />
A mandioca tem sua época certa para ser colhida, e o tempo depende da<br />
fertilidade, do clima e de sua espécie, podendo algumas variedades levar poucos meses<br />
e outras, alguns anos.<br />
O processo de produção da farinha aceita mandioca de qualidade inferior do que<br />
o aipim cozido à mesa , pois este , quando “enxuga” (mandioca ficando seca )<br />
desmancha durante a cocção.<br />
O Preparo da Farinha<br />
Para se fazer a farinha, pode-se faze-la tirando a casca e a entrecasca,<br />
produzindo uma farinha fina e branca, melhor aceita comercialmente.<br />
Mas pode –se faze-la também, tirando a casca e deixando a entrecasca. A<br />
produção é maior, a farinha mais escura e de melhor qualidade.<br />
Após descascada, a mandioca é lavada para retirar a terra e ralada,<br />
artesanalmente ou mecanicamente com um ralador comum, um desintegrados ou um<br />
ralador de tambor.<br />
A massa da mandioca ralada, normalmente é lavada para extrair o<br />
polvilho( amido puro), processo não obrigatório, mas comumente feito, sendo o<br />
polvilho um produto bem aceito, de bom preço, muito apreciado em diversas<br />
preparações.<br />
Quanto mais massa é lavada, a farinha resultante torna-se seca e pobre.<br />
Na preparação da farinha, a massa de mandioca é prensada, para retirar o<br />
máximo de umidade, facilitando o processo posterior de secagem.<br />
A massa após horas, tirada da prensa já seca, é passada numa peneira grossa, o<br />
que facilita a secagem e torna a farinha mais fina, e então a massa solta é colocada no<br />
forno para secagem, podendo este ser de chapa de ferro, ou mesmo de laje de pedra e<br />
barro, o calor provido por lenha de baixo da chapa e a massa remexida por pás<br />
mecânicas ou manualmente. Essa é a fase que exige maiores cuidados e experiência por<br />
parte do “farinheiro” para que o processo seja bem sucedido, como: atenção a<br />
quantidade por lote, intensidade do fogo, rapidez no mexer e o ponto certo da farinha,<br />
mantendo a massa sempre em movimento para não queimar.<br />
A Preparação do Polvilho<br />
Uma vez a massa ralada, adiciona-se boa quantidade de água para separação do<br />
polvilho(amido).<br />
A massa hidratada é então, coada, separando a parte mais grossa para a farinha e<br />
água com o polvilho, que pode ser retirado, sucessivamente, empobrecendo cada vez<br />
mais a farinha.<br />
A água com polvilho é mexida e deixada em descanso por várias horas.<br />
O processo de separação do polvilho e da água chama-se “decantação”, do<br />
polvilho então, retira-se a camada superficial, que contém as impurezas, para que o<br />
produto final fique mais branco e puro.
Os pedaços de polvilho são cortados e levados para secar, somente depois de<br />
secos podem ser embalados e armazenados.<br />
História da Formação Nacional “memória camponesa da Ilha de<br />
Santa Catarina”<br />
Florianópolis não tem mais agricultura e pesca artesanal. As atividades que<br />
foram a base da economia e garantiram a subsistência de várias família nas<br />
comunidades agro -pesqueiras quase não existem mais. Pois as regiões onde eram<br />
praticadas viraram balneários.<br />
Os lugarejos mais antigos da Ilha, que se formaram por imigrantes açorianos<br />
contavam com muitas peculiaridades, hoje praticamente extintas: os habitantes se<br />
dividiam-se entre o trabalho da roça e a pesca, as edificações de pau a pique, barreado a<br />
mão, a prática da policultura, como a cana, amendoim, milho, café, entre outros<br />
produtos, mas o predominante era a mandioca.<br />
O historiador Sergio Luiz Ferreira, ouviu Zenaide de Andrade de Souza, 71<br />
anos, moradora da praia de sambaqui e colheu um depoimento interessante, <strong>sobre</strong> o<br />
cotidiano das colheitas, relatado em seu livro, resumido abaixo:<br />
“ Quando me lembro das farinhadas de mandiocas, das colheitas de café, da<br />
cebola, milho e feijão, das fornadas de rosca de polvilho, parece que estou vivendo tudo<br />
de novo, numa época que o cansaço não atrapalhava, pois o trabalho era acompanhado<br />
de momentos de recreação.<br />
Para fazer a farinha, era preciso o engenho, bois e as pessoas. As farinhadas<br />
eram feitas no inverno, quando a mandioca estava mais consistente. Várias pessoas<br />
trabalhavam: o forneiro, o cevador, o emprensador, os raspadores de mandioca. Quanto<br />
mais ajudantes mais rápido terminava o serão. À tardinha já se ouvia o cantar, que vinha<br />
do carro do boi, carregado de mandioca. As mulheres já começavam a amolar suas<br />
faquinhas e preparar seus assentos com palha de bananeira. A animação tomava conta<br />
da vizinhança e o cheiro da farinha impregnava o ar.<br />
Os Engenhos da Ilha de Santa Catarina<br />
Até meados do século 20, Florianópolis tinha mais de 300 engenhos de farinha.<br />
Os engenhos representaram a fase do apogeu econômico vivido pela agricultura na ilha.<br />
A partir da década de 60, ocorreu a decadência, motivada por vários fatores, entre eles a<br />
especulação imobiliária e a queda no preço da farinha.<br />
Os açorianos que chegaram ao litoral catarinense, primeiro tentaram cultivar o<br />
trigo, que era principalmente fonte de alimento no Arquipélago dos Açores. Como o<br />
trigo não se aclimatou, acabaram adaptando-se ao alimento da terra , a mandioca. O<br />
método indígena de fazer a farinha era bastante rudimentar e pouco rentoso. Os<br />
açorianos, então, adaptaram a tecnologia dos moinhos de trigo à produção da farinha de<br />
mandioca.<br />
Do encontro das culturas indígena e açoriana surgiu o Engenho de Farinha.<br />
Visitar um engenho de farinha é viajar pela história, através da principal atividade
econômica da Ilha durante sua origem mais antiga. Atividade esta mais que secular,<br />
onde toda a família se reunia, auxiliada pelos vizinhos, na lida da farinhada, que ocorria<br />
nas noites de inverno, acompanhada de dança de roda e cantoria, até amanhecer.<br />
A Farinhada<br />
A farinhada começa quando os bois são cangados no carro para ir à roça trazer<br />
mandioca, já pronta para a colheita. As raízes são trazidas para dentro do engenho e<br />
começa-se a “tirada do capote”, ou seja, tirar a casca. Na raspagem da mandioca é que<br />
sucedem os causos e cantorias .<br />
Após raspada, a raiz é lavada e vai para o sevador, encarregado de sevar(ralar).<br />
A massa ralada , vai para a prensa dentro dos tipitis e fica prensando durante aa<br />
noite inteira, até saia a água e fique só a farinha. A massa então é desfeita e peneirada,<br />
indo daí para a torra. Terminando a torração vai pro paiol, para ser estocada e vendida.<br />
Durante os processos, ainda é retirado o polvilho(por decantação da água da mandioca).<br />
Antes de se tornar farinha faz-se beiju e cuscuz. Faz-se também iguarias da<br />
Culinária ilhoa, como “Mane Pança”(após torrada) “rosca de polvilho”, “ bolinho de<br />
graxa”, “coxinha de velha entre outras”, entre outras, além do pirão, o tradicional é<br />
sempre com farinha de mandioca...<br />
Vocabulário de Engenho<br />
Ao visitar um Engenho, tem-se contato com palavras pouco usadas e conhecidas<br />
em nosso dia-a-dia, segue abaixo algumas delas e seu significado:<br />
1) Almanjarra: madeira curva que liga o peão da roda curva à congalha.<br />
2) Andame: caminho onde o boi passa no trabalho no engenho, forrado com<br />
capim melado.<br />
3) Antrolhos: venda colocada no olho do boi para que ele rode no andame.<br />
4) Conga: suporte de madeira com dois rebaixos para juntar o boi no carro.<br />
5) Cangalha: canga colocada na almanjarra para que o boi trabalhe no andame.<br />
6) Fuso: parafuso de madeira que fará pressão na prensa.<br />
7) Hélice: pá do forno, que tem 2 pontas e 1 rodete embutido.<br />
8) Peão da Roda: é o mastro que segura a roda bolandeira.<br />
9) Prensa: Local onde se coloca os tipitis, para retirar a água da massa da<br />
mandioca.<br />
10) Roda Bolandeira: é a roda grande do engenho.<br />
11) Rodete: engrenagem de madeira em forma de dente com a finalidade de<br />
tocar o engenho.<br />
12) Sevador: encarregado de ralar a mandioca.<br />
13) Tipiti: cesta feita de taquaras, usado para colocar a massa da mandioca na<br />
prensa.
Em geral ,os engenhos de farinha são tocados por um único boi, diferente<br />
dos engenhos de açúcar, que normalmente são tocados por dois bois para moer a cana e<br />
retirar a garapa..<br />
Os Engenhos de Farinha estão Morrendo<br />
O que um dia foi a alavanca da economia no litoral catarinense e o ganha pão<br />
de muitos agricultores, está fadado a ficar apenas na memória da população.<br />
Os engenhos de farinha , movidos a tração animal, que no passado eram mais<br />
de 300, hoje não passam de uma dezena e os que estão funcionando, não possuem<br />
produção própria de mandioca ou estão movidos a energia elétrica.<br />
Em Florianópolis, desde 1666, sabe-se que havia lavouras e construções de<br />
engenhos, desde que se iniciou a colonização do Rio Vermelho, onde originou-se uma<br />
das três mais antigas freguesias da Ilha, fundada pelos açorianos em 1750. A localidade<br />
foi rica em engenhos de farinha e açúcar( ainda existentes na Costa da Lagoa) e<br />
próspera no cultivo da terra e da pesca.<br />
De acordo com dados do NEA/UFSC há hoje engenhos em Ratones, Vargem<br />
Grande, Lagoinha da Ponta das Cana, Ribeirão da Ilha, Tapera, Cacupé e Sertão do Peri.<br />
Açorianos se Adaptaram ao Uso da <strong>Mandioca</strong> no Litoral<br />
Catarinense<br />
O conhecido museólogo e pesquisador Gelci Coelho, o “Peninha”, criado ao<br />
lado do bruxólico e ilhéu Franklin Cascaes, e outro abnegado que luta pela preservação<br />
e faz mapeamento dos engenhos no litoral catarinense. Peninha recorda nostalgicamente<br />
a chegada dos açorianos em Florianópolis. Segundo ele, “eram basicamente lavradores,<br />
acostumados a plantar trigo e cevada, que adaptaram suas atafonas ( engenho de farinha<br />
de trigo o movido a energia eólica comum nos Açores), à produção da farinha de<br />
mandioca “ Aprenderam o cultivo do produto da terra, sua utilização como alimento,<br />
extração do polvilho, com qual produziam roscas, broas e outras iguarias.<br />
No final do século XVIII, com a fartura de mandioca plantada e a tecnologia que<br />
usavam em seus moinhos, tocados por apenas um boi, levou Nossa Senhora do Desterro<br />
(atual Florianópolis), a exportar excedentes tamanho o volume da produção, para o Rio<br />
de Janeiro e a província de São Pedro no Rio Grande do Sul.<br />
Engenho dos Andrade ainda faz Farinhada<br />
Cláudio Agenor Andrade é um dos abgenados que cultuam a tradição e a<br />
memória, mas não abandonou a atividade.
Ele é um dos 14 filhos do falecido Agenor José de Andrade, antigo líder<br />
comunitário, roceiro e proprietário do engenho, que foi reativado em junho do verão<br />
passado.<br />
Como numa viagem a o passado, Cláudio relembra os tempos em que subia o<br />
morro para a colheita da mandioca.<br />
Segundo ele os vizinhos, além de ajudar na colheita, emprestavam o boi. A lida<br />
começava cedo para as mulheres e crianças, que raspavam a mandioca, enquanto os<br />
homens acendiam o forno.<br />
O boi, só era cangado quando o calor estava no ponto, para não cansar<br />
inutilmente.<br />
Isso acontecia entre maio e julho, meses em que a mandioca estavam em<br />
melhores condições para preparo da farinha. Enquanto houvesse, sucedia-se o raspar,<br />
ralar, prensar, esfarelar, colocar no forno e deliciar-se as preparações.<br />
Nessa época, os Andrade chegavam a produzir 15 toneladas de farinha. O<br />
falecido pai criou os filhos na roça e na pesca.<br />
O terreno , onde os antepassados, os primeiros açorianos que aqui chegaram,<br />
plantavam a mandioca, hoje foi transformado em área de preservação permanente. Nele,<br />
Cláudio mora com seus familiares, e também pode-se encontra o Engenho de Farinha<br />
com 147 anos de existência e o Antigo Casarão, que data de 1860 e foi tombado como<br />
Patrimônio Histórico Nacional, bem como o engenho.
Desenvolvimento da Receita<br />
Conforme solicitado pelo Professor Vilmar, o grupo deveria apresentar como<br />
parte do trabalho, uma receita produzida pela equipe, utilizando o ingrediente escolhido,<br />
de forma original.<br />
Optou-se por fazer uma receita contemporânea, o “Muffin de <strong>Mandioca</strong> com<br />
Geléia de Pitanga”.<br />
O Muffin, doce de tradição americana, bolinho originalmente feito com trigo,<br />
que ganhou “ares de brasilidade” utilizando a massa de mandioca ralada, valorizando o<br />
produto nacional.<br />
A geléia de pitanga, por sua vez, produz uma mistura de sabores ao ser<br />
degustado junto ao muffin (doce – ácido) nessa versão contemporânea de nossa receita.<br />
Algumas Curiosidades <strong>sobre</strong> a Pitanga:<br />
Pitanga<br />
o Aspectos Gerais:<br />
Planta nativa do Brasil;<br />
Regiões de clima tropical e subtropical;<br />
Aroma e sabor exótico<br />
O fruto é uma baga e com casca fina e polpa macia, suculenta, aromática, doce<br />
ou agridoce, muito perfumada.<br />
A maturação do fruto ocorre 6 semanas após o início da floração.<br />
A diferença das pitangueiras, se dá pela forma, cor, tamanho, sabor do fruto, que<br />
varia do mais ácido ao doce, de laranja, vermelho ou quase negro.<br />
A palavra “pitanga” vem do tupi- guarani e quer dizer vermelho, o que nos faz<br />
pensar que os índios que aqui viviam a chamaram ao come-la...<br />
Na ciência sua definição é “Eugênia Unifloral, pertencente à família botânica “<br />
Myrtaceal”. Sua árvore com tronco irregular é bastante cultivada em pomares. Seu<br />
tronco é usado como madeira para fabricação de produtos agrícolas. Das suas folhas se<br />
faz um ótimo chá digestivo.<br />
O fruto pode ser consumido ao natural, fresco ou sob a forma de refrescos,<br />
sucos, sorvetes, doces, licores, vinhos ou geléias.<br />
A Composição 100g de Polpa fornece<br />
38 calorias<br />
0,3 proteína,<br />
10 mg cálcio<br />
20mg fósforo
2,3 mg de ferro<br />
0,03 mg de vitamina b12<br />
14 mg de vit C<br />
Clima e Solo: desenvolve-se bem em locais de clima quente e úmido, com boa<br />
distribuição de chuvas e alta umidade, em torno de 80%.<br />
A planta é altamente sensível ao frio e não suporta geada.<br />
Sua floração, branca e perfumada ocorre de agosto a novembro e o período de<br />
frutificação varia de outubro a janeiro.<br />
Encontra-se por toda parte no país, do Nordeste ao Rio Grande do Sul, sendo<br />
comum em regiões de restinga, quentes e úmidas e na Mata Atlântica brasileira do<br />
planalto desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul.<br />
Resultado dos Testes Realizados:<br />
1ª. Experiência:<br />
Massa de mandioca ralada crua: O muffin ficou com sabor agradável, porém a<br />
textura não ficou boa. A massa ficou muito espessa e pesada e não cresceu no forno.<br />
2ª. Experiência<br />
200gr de massa de mandioca ralada com 80% de farinha de trigo. Ficou bastante<br />
saboroso, porém, a textura também não ficou boa, massa muito espessa.<br />
3ª. Experiência<br />
Para 200g de mandioca ralada, foi acrescentado 15% de farinha de trigo. Foi o<br />
que apresentou maior resultado, em textura e sabor e onde obtivemos o melhor<br />
desenvolvimento da massa.<br />
A geléia de pitanga foi testada com 50% de polpa e 50% de açúcar, mas ficou<br />
muito doce, aliado a doçura do muffin.<br />
Então fizemos a geléia com 60% de polpa e 40% de açúcar, o que deixou muito<br />
saborosa e delicadamente àcida, promovendo uma mistura dos sabores doce e ácida, ao<br />
ser degustado.<br />
RECEITA<br />
Muffins à Là Engenho<br />
Mais ou menos 8 porções<br />
Ingredientes<br />
-180 gramas de mandioca ralada
- 20 gramas de farinha de trigo<br />
-100 ml de leite<br />
-100gramas manteiga derretida<br />
- 15 gramas de fermento químico em pó<br />
- Essência de baunilha QB<br />
- 1 unidade de ovo<br />
- Sal QB<br />
-100 gramas de geléia de pitanga<br />
Preparo<br />
Numa tigela grande, misture a farinha com o fermento e o sal. Em outra tigela, misture a<br />
manteiga com o ovo, a essência de baunilha, o açúcar e o leite ate ficar homogêneo.<br />
Junte a mistura de leite á farinha e mexa até combinar todos os ingredientes.Distribua<br />
em 8 forminhas. Leve ao forno pré-aquecido a 180 graus<br />
Para assar retire do forno e espere amornar. Ponha a geléia em um saco de confeitar e<br />
decore ou injete a geléia na massa assada.Se quiser, polvilhe confeitos coloridos <strong>sobre</strong> a<br />
geléia.<br />
Geléia de Pitanga<br />
- 1 litro de pitanga<br />
- meio litro de água<br />
- açúcar<br />
Preparo<br />
- Retire o caroço da pitanga e ferva com água.<br />
- Retire do fogo e passe na peneira sem a água, junte o açúcar no mesmo peso da<br />
pitanga.<br />
- Cozinhar até dar ponto.
Considerações Finais<br />
Foi bastante enriquecedora a pesquisa <strong>sobre</strong> a mandioca. Pudemos conhecer um<br />
pouco mais <strong>sobre</strong> sua história, que está intimamente ligada à história do Brasil e<br />
especialmente a de Florianópolis.<br />
Os Engenhos de mandioca marcaram o encontro das culturas Açoriana e<br />
indígena e representam significativamente a miscigenação que formou a Cultura e<br />
Gastronomia Nacionais.
Anexo – Visita técnica<br />
Entrevista – Engenho dos Andrade<br />
Como forma de enriquecer nosso trabalho e conhecer mais de perto a realidade<br />
retratada, o grupo foi visitar um legítimo Engenho de Produção de Farinha o “Engenho<br />
dos Andrade, em Santo Antônio de Lisboa.<br />
Segue a baixo entrevista com Cláudio Andrade, atual tocador do Engenho,<br />
herança de 147 anos de seus antepassados, os 1º. Açorianos que aqui chegaram em<br />
Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis.<br />
1- Cláudio, você pode contar para nós um pouco da história do engenho, como<br />
começou?<br />
R: Bom, a história do engenho Andrade se mistura à história do povoamento de<br />
Florianópolis.<br />
Sou descendente dos primeiros açorianos que aqui chegaram, sendo Desterro, o<br />
primeiro lugar a ser ocupado e então, foram se espalhando para outras regiões.<br />
Quando meus tataravôs aqui chegaram, em 1649, fundaram vilas e freguesias,<br />
sendo Santo Antônio de Lisboa uma das mais antigas. Nessa época, a ilha teve uma<br />
forte atividade rural, com prática da policultura e pesca artesanal. Os açorianos já<br />
praticavam, lá na ilhados Açores, o cultivo do trigo, e tinham conhecimento e<br />
tecnologia de engenho, os engenhos de atafona. Só que, o trigo não se aclimatou na<br />
ilha então, os açorianos adaptaram seus engenhos de Atafona (engenho de trigo)<br />
transformaram em engenhos de Cangalha( engenho de mandioca).<br />
2- Como era a atividade nos Engenhos nessa época?<br />
R: Nessa época a atividade era forte, o governo incentivava a produção. A<br />
atividade agrícola em geral, era pratica comum na ilha, plantava-se de tudo: café,<br />
açúcar, cebola, milho. Mas o principal era a mandioca. Só em Santo Antônio de<br />
Lisboa, havia mais de 70 engenhos, onde trabalhavam cerca de 15 pessoas, fora a<br />
vizinhança, que vinham em peso para ajudar. Deste período até a década de 60, os<br />
engenhos eram fundamentais na economia da Ilha e muita mandioca era cultivada,<br />
mais de 50 tipos diferentes. Também se fazia muito polvilho, hoje não mais. Minha<br />
mãe fazia polvilho.<br />
3- O que aconteceu que provocou o declínio da atividade ?<br />
R: Com certeza, foi o zoneamento da ilha se sua urbanização.<br />
A Ilha passou de rural para urbana e sofremos com a descaracterização da região<br />
e o declínio da Cultura Açoriana, em geral. Os açorianos viviam sem fronteiras,<br />
muito em contato uns com os outros, a própria atividade nos engenhos era um<br />
momento em que a comunidade se reunia e confraternizava.<br />
Com a urbanização tudo isso se perdeu.<br />
4- E no engenho Andrade, o que mudou? Quais as diferenças entre o processo<br />
antigo e o atual?<br />
R: Só mudou o volume de produção, as técnicas e equipamentos utilizados são<br />
os mesmos, técnicas bem antigas como coar o líquido da mandioca com ajuda dos<br />
“tipitis” indígenas. Algumas madeiras foram substituídas, devido ao apodrecimento,<br />
mas o engenho e o prédio são originais e as técnicas foram preservadas.
5- Fale <strong>sobre</strong> as etapas do processo de produção da farinha para nós?<br />
R: A mandioca chega no carro de boi. Então, a raiz é raspada, tirando-lhe a<br />
casca, é lavada e depois cevada ( significa ralar). O boi é colocado no engenho e vai<br />
girando, rodando as engrenagens. Forma-se uma massa compacta, que é prensada,<br />
de modo a espremer para que saia todo o líquido. Esse processo dura umas cinco<br />
horas. A massa então, já seca (sem água), sai em torrões, é desmanchada e<br />
peneirada. Aí vai para a torra (forneamento).<br />
A massa é mexida com a ajuda de uma hélice e dos forneiros. Nessa etapa é<br />
importante o cuidado com o ponto da farinha, para não deixar queimar.<br />
São cerca de 40 minutos de forno. Antigamente, forneavamos 24 horas<br />
seguidas, tamanho o volume de produção de mandioca, colhida aqui mesmo e<br />
trabalhávamos com revezamento.<br />
6- A mandioca utilizada atualmente vem de onde?<br />
R: Nós temos um fornecedor muito antigo, o “seu” Altino, de 88 anos. Ele<br />
afazia parte da história do engenho e produz mandioca desde menino, em sua<br />
propriedade no Ratones.<br />
7- Soubemos que o Engenho ficou um tempo parado. Quais as maiores<br />
dificuldades na sua reativação?<br />
R: Quando meu pai morreu, paramos durante pouco tempo, mas na verdade, ele<br />
nunca parou, fazíamos pequenas produções, mesmo que para consumo familiar. São<br />
147 anos de história de funcionamento. As maiores dificuldades, hoje, estão ligadas<br />
a questões ambientais e leis de preservação: muitas pessoas que faziam roças e<br />
viviam da terra não puderam mais cultiva- lãs, pois viraram área de preservação<br />
permanente. Também a substituição da madeira de lei, que não pode ser cortada e<br />
utilizada no engenho.<br />
8- Existem datas ou épocas específicas para se produzir a farinha?<br />
R: Sim é nos meses de abril a julho. Nessa época fazemos pelo menos 6 ou 7<br />
farinhadas atualmente. O final de setembro é o último período do ano, pois depois<br />
disso, devido ao clima, (verão chuvoso), na “Arrebentação” ( quando as plantas<br />
estão brotando), a mandioca tem de 70 a 80% de água e não se presta para fazer<br />
farinha. Outro momento bastante marcante é a festa do divino, onde a atividade é<br />
bastante reconhecida e valorizada pela sociedade.<br />
9- Vocês produzem mais de um tipo de farinha?<br />
R: A característica da farinha depende da mandioca utilizada. <strong>Mandioca</strong><br />
amarela produz uma farinha mais grossa. Se é mais branca, a farinha produzida é<br />
mais doce e fina. Além disso, sabemos que a farinha aqui do Sul, especialmente de<br />
Florianópolis é diferente do restante do país, porque tem mais concentração de<br />
polvilho. No Norte e Nordeste, é mais granulada e curtida na água. A diferenciação<br />
de nossa farinha se dá por influência açoriana, onde tentaram assemelha- lá ao<br />
trigo para utilizar na panificação.<br />
10- Qual o destino da farinha produzida pelo Engenho Andrade?<br />
R: É importante salientar que nosso objetivo não é comercial e sim, preservar a<br />
tradição. Na Festa do Divino, por exemplo, toda produção foi vendida aqui mesmo.
Não temos intenção de produzir em larga escala e competir com indústrias. Nosso<br />
processo é todo artesanal.<br />
11- Na sua opinião o que pode ser feito para incentivar essa atividade e o pequeno<br />
produtor?<br />
R: Criar o convívio, agregar os engenhos aos produtores de roças. Estamos<br />
oficializando uma Associação, que visa essa integração, temos contato com<br />
produtores de Ratones, Sul da ilha, Paulo Lopez.<br />
E a valorização da atividade, através de sua divulgação. A Ana Maria Braga<br />
já fez uma matéria em seu programa <strong>sobre</strong> o Engenho. Franklin Cascaes também é<br />
outro rastreador de Engenhos. O Nereu do Vale Pereira escreveu um excelente livro:<br />
“Engenhos da Ilha de Santa Catarina”. Historiadores do Rio de Janeiro, junto ao<br />
Embrapa, num movimento de exaltação do Slow Food, fizeram um inventário <strong>sobre</strong><br />
farinha de mandioca e preservação das técnicas utilizadas.<br />
12- Para concluir, o que o Engenho Andrade, representa para você, Cláudio,<br />
tataraneto dos açorianos que o criaram?<br />
R: Se você me fizesse essa pergunta há 10 anos atrás, com certeza a resposta<br />
teria um fundo mais emocional. Hoje, posso afirmar que o Engenho representa, não<br />
só minhas melhores lembranças do passado e da família, mas também, fundamental<br />
nas questões sociais e culturais, na preservação da Cultura Açoriana.<br />
As carreadas de boi e farinhada da Festa do Divino, motivaram a reativação<br />
de dois outros engenhos. O Engenho Andrade é o único que foi tombado como<br />
Patrimônio Histórico, pertencemos ao Terra Madre, um movimento onde estão<br />
inseridas 1600 comunidades do mundo todo que produzem de forma orgânica e<br />
artesanal, valorizando o que a terra oferece.<br />
O Engenho Andrade representa o amor à Florianópolis, simples e rural, e<br />
devolveu ao manézinho o sentimento do que é ser ilhéu.