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Clóvis Ricardo Montenegro de Lima Maria Nélida Gonzalez ... - Ibict

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Ou seja, a natureza é forte <strong>de</strong>mais e está pronta para rebater qualquer<br />

argumento cético que possa ser apresentado (cf. T 657). Está claro que o<br />

pensamento humeano, repetindo MacIntyre, representou uma subversão do<br />

pensamento da sua época. No entanto, sua filosofia tem uma contraparte<br />

positiva: “a filosofia moral, ou ciência da natureza humana po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> duas<br />

maneiras diferentes, cada uma <strong>de</strong>las possuidora <strong>de</strong> um mérito peculiar e capaz<br />

<strong>de</strong> contribuir para o entretenimento, instrução e reforma da humanida<strong>de</strong>” (E 5).<br />

O que nos interessa mais propriamente para os objetivos <strong>de</strong> nossa<br />

investigação é como, segundo a filosofia moral <strong>de</strong> Hume, utilizando um<br />

método experimental, po<strong>de</strong>mos estabelecer valores, princípios, critérios e<br />

a discriminação e justificação <strong>de</strong> conteúdos morais a partir <strong>de</strong> sentimentos<br />

presentes na natureza humana? Essa é a principal dificulda<strong>de</strong>, conforme as<br />

interpretações prece<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> sua filosofia moral: como respon<strong>de</strong>r tal questão<br />

sem recair em um ceticismo normativo, um emotivismo, um relativismo<br />

axiológico ou em um naturalismo <strong>de</strong>scritivista (moralida<strong>de</strong> psicologizada)?<br />

Como resposta a essas questões, inicialmente, atribuímos à filosofia<br />

<strong>de</strong> Hume a seguinte a concepção <strong>de</strong> naturalismo moral: os fundamentos da<br />

moralida<strong>de</strong> com um sistema <strong>de</strong> valores constituem-se, unicamente, em nossa<br />

natureza humana. Ou melhor, os sentimentos humanos são a base para os<br />

julgamentos normativos. Escreve o filósofo escocês na Primeira Investigação:<br />

A natureza moldou a mente humana <strong>de</strong> tal forma que, tão logo certos<br />

caracteres, disposições e ações façam seu aparecimento, ela experimenta<br />

[sente] <strong>de</strong> imediato o sentimento [feels the sentiment] <strong>de</strong> aprovação ou <strong>de</strong><br />

con<strong>de</strong>nação, e não há emoções que sejam mais essenciais que essas<br />

para sua estrutura e constituição (E 102) 13 .<br />

Para o filósofo escocês, a hipótese mais provável é que a “moralida<strong>de</strong><br />

é algo real, essencial e fundado na natureza”. Por isso é possível<br />

13 Ao longo <strong>de</strong>sta segunda parte <strong>de</strong> nossa investigação, vamos registrar em vários momentos a utilização,<br />

pelos tradutores das edições brasileiras do Tratado e das Investigações, dos termos “sentir” [to feel]<br />

e “experimentar” [to experience] como sinônimos. Muitas vezes, os tradutores irão acrescentar o termo<br />

“experimentar” sem o mesmo constar no texto original <strong>de</strong> Hume (Exemplos: T 118, trad. p. 149; T<br />

469, trad. p. 508; T 577, trad. p. 617; T 608-609, trad. p. 648; E 20, trad. p. 37). A nossa suspeita é que<br />

o texto original <strong>de</strong> Hume é mais direto, sem a necessida<strong>de</strong> do acréscimo do termo “experimentar” para<br />

se referir ao que “sentimos <strong>de</strong> forma imediata” (feeling). Mas isso po<strong>de</strong>ria ser objeto <strong>de</strong> discussão em<br />

outro momento.<br />

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