Ana em Veneza

21
moderno de sua obra. Para o pensador alemÜo, a importáncia do poeta
francÑs consiste exatamente no fato de ele ter trazido ç tona esses seres
marginais para o mundo do progresso e da reproduÄÜo tÇcnica, tais
como a prostituta, o flÅneur, o trapeiro e o artista maldito.
A vestimenta Ç atribuàda por Baudelaire ao artista como sua
maior marca. A moda nÜo era apenas um privilÇgio da burguesia que o
poeta tanto execrava, mas representava toda a simbologia do carÉter do
homem moderno. O artista incorporava atravÇs de seu dandismo toda
sua condiÄÜo de ser “gauche”.
Quanto ç roupa, a pele do herâi moderno –
embora tenha passado o tempo em que os
pintores se vestiam de mamamouchi, e fumavam
em “piteiras” –, os ateliÑs e o mundo ainda estÜo
cheios de gente que desejaria poetizar Antony
com um manto grego ou uma veste meio rasgada.
E, no entanto, ela nÜo tem sua beleza e seu
charme autâctone, esta roupa tÜo criticada? NÜo Ç
ela a roupa necessÉria de nossa Çpoca, sofredora,
e carregando atÇ em seus ombros negros e
magros o sàmbolo de um luto perpÇtuo? Vede
bem que a roupa negra e a sobrecasaca tÑm nÜo
apenas sua beleza poÇtica, que Ç a expressÜo da
alma pÖblica; – um imenso desfile de coveiros,
coveiros polàticos, coveiros apaixonados,
coveiros burgueses. (BAUDELAIRE, 1995, p.
729)
Nesse ànterim, podemos perceber, pela descriÄÜo do narrador,
como a caracterizaÄÜo do personagem Alberto Nepomuceno condiz com
sua condiÄÜo de artista anteriormente descrita por Baudelaire, mostrando
o diÉlogo inicial do romance com aspectos concernentes ç prâpria
modernidade:
Alberto Nepomuceno jÉ tinha encanecido os
bastos cabelos castanhos, parcialmente cobertos
por um elegante, ainda que gasto, chapÇu de
feltro. A barba toda branca adicionava ao seu
rosto um ar entre sÉbio e vetusto. Vestia-se com
uma cerimoniosa casaca de casimira escura, um
colete com corrente de ouro ç mostra e a